Alguns exemplos do pensamento na filosofia sobre condições de possibilidade do pensamento
“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.”
É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado
(1) pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses
no espaço da representação
(2) e pela obrigação
correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma, de abrir o campo transcendental da subjetividade e
de constituir inversamente, para além do objeto, esses “quase-transcendentais” que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As pedras de tropeço no caminho de Michel Foucault
As estruturas de operações nos modelos, quando:
(1) com essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação;
(2) e sem essa impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.

A estrutura requerida para levantar essa impossibilidade
O espaço geral do saber depois de aberto o campo transcendental da subjetividade e constituído, para além do objeto, os quase transcendentais
Vida,
Trabalho
e Linguagem.

O espaço geral do saber depois de cumprida essa obrigação
“Instaura-se
uma forma de reflexão
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado,
e com ele se articula.”

A Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura
As estruturas de operações nos modelos, quando:
(1) com essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação;
(2) e sem essa impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.

A estrutura requerida para modelar usando essa forma de reflexão
O espaço geral do saber depois de aberto o campo transcendental da subjetividade e constituído, para além do objeto, os quase transcendentais
Vida,
Trabalho
e Linguagem.

O espaço geral do saber depois de cumprida essa obrigação
E foi realmente necessário um acontecimento fundamental – um dos mais radicais, sem dúvida, que ocorreram na cultura ocidental, para que se desfizesse a positividade do saber clássico e se constituísse uma positividade de que, por certo, não saímos inteiramente.

O evento fundador da nossa modernidade no pensamento
As estruturas de operações nos modelos, quando:
(1) com essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação;
(2) e sem essa impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.

Autores de antes e de depois desse evento fundamental em nossa cultura
O mapa de opções para leitura do fenômeno ‘operações’ (em qualquer área):
duas visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.
- As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’;
- As alterações na linguagem em decorrência da incorporação das origens externas de valor atribuído à proposição em cada etapa das operações.
As duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ em função da disponibilidade dos objetos intervenientes em uma operação de troca.
Os pontos amarelos 1 e 2 marcam o posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ justamente no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca.
- o elemento central destas operações é ‘Processo’
- o ponto amarelo 1, no lado esquerdo da figura, representa o início de uma operação sob o pensamento clássico, que ocorre no interior do domínio do Discurso e da Representação, e no Circuito das trocas;
- com o pensamento formulado com o perfil de características do pensamento clássico tudo existe desde sempre e para sempre compondo o Universo;
- a operação funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas (a construção de representações novas está fora do escopo dessas operações) e por isso não são consideradas propriedades originais e constitutivas, o que coloca a noção de objeto fora desse espaço de empiricidades, junto com a noção de homem como sujeito dessas últimas operações de construção de representações novas.
- o ponto amarelo 2, no lado direito da figura, marca a inserção do ponto de início de leitura no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, porém, em um pensamento configurado com o perfil de características do pensamento moderno
- o elemento central desta operação é ‘Forma de produção’;
- o ponto amarelo 2, no lado direito da figura, representa o início de uma operação sob o pensamento moderno, que também ocorre no interior do domínio do Discurso e da Representação, e no Circuito das trocas;
- com o pensamento formulado com o perfil de características do pensamento moderno a articulação do pensamento com o impensado característica da forma de reflexão que orienta o pensamento, incorpora no próprio escopo do pensamento, a criação de novas representações;
- a operação transcorre na etapa de instanciamento de representação anteriormente construída, e pode funcionar tanto com propriedades não-originais e não-constitutivas (a construção de representações novas está fora do escopo dessas operações) como com propriedades sim-originais e sim-constitutivas), o que coloca a noção de objeto opcionalmente dentro ou fora desse espaço de empiricidades, junto com a noção de homem como sujeito dessas últimas operações de construção de representações novas.
O ponto vermelho marcado com 1 no lado direito da figura marca o posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da disponibilidade do objeto da operação – a de construção de representações novas – tratando portanto da permutabilidade futura desse objeto em uma eventual operação de troca.
- o ponto vermelho 1, no lado direito da figura, representa o início de uma operação sob o pensamento moderno, que ocorre agora no interior de dois domínios: no domínio do Pensamento e da Língua e no domínio do Discurso e da Representação, porém fora do Circuito das trocas;
- com o pensamento formulado com o perfil de características do pensamento moderno a articulação do pensamento com o impensado característica da forma de reflexão que orienta o pensamento, incorpora no próprio escopo do pensamento, a criação de novas representações;
- a operação transcorre na etapa de construção de representação nova, e tem como escopo a descoberta das propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, o que coloca a noção de objeto obrigatoriamente dentro desse espaço de empiricidades, junto com a noção de homem como sujeito dessas últimas operações de construção de representações novas.
As duas possibilidades carregamento de valor pela proposição formulada na(s) linguagem(ns) em função desses pontos de inserção do início de leitura de operações.
Quando nos pontos amarelos 1 e 2 no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca.
O pressuposto no LE da figura ‘a existência precede a distinção’ feita na operação vale também para a linguagem.
- ‘Processo’, o elemento central das operações no LE da figura sob o pensamento clássico é formulado com atividades, tasks encontrados no interior da categoria selecionada no Sistema de categorias, ou Quadro de simultaneidades escolhido, e o valor carregado à proposição formulada na linguagem é proveniente dessa origem interna à linguagem previamente existente nesse ambiente.
Quando no ponto vermelho 1 antes da disponibilidade de um dos objeto que possivelmente será levado a uma futura operação de troca.
- Esse ponto vermelho 1 marca o início da operação de construção de representação nova. Feita a consulta ao repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da linguagem, a resposta foi negativa quanto à capacidade do repositório no estado em que se encontra de dar suporte ao ‘impensado’;
- Disso decorre que a linguagem de ação ou de uso não pode fornecer representação que sirva ao objeto vislumbrado.
- Nesse caso, a origem de valor para as proposições formuladas pela linguagem deve necessariamente provir de fonte externa à linguagem: as designações primitivas.
O que não muda entre essas duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura
A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens
a proposição
como veículo portador de valor
A proposição é para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo
mais geral e mais elementar,
porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III – Teoria do verbo
Michel Foucault
a representação:
como o destino final do valor atribuído
(…) Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault
O que sim muda entre essas duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura
A origem do valor atribuído ao veículo de carregamento de valor para a representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes até representações com origens de valor distintas.
o que muda é a origem – interna ou externa à linguagem –
do valor atribuído à proposição e por ela carregado para a representação
o destino final do valor atribuído à proposição, a representação, pode ser
- representação já existente, a operação de construção da representação já foi realizada, o objeto já está disponível para uma troca,
(e a operação de troca imediata é possível)
- ou representação possível, pode ser construída, e o que a operação investiga é a permutabilidade futura do objeto
(a operação de troca imediata não é possível)
Sobre isso, a explicação de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação do valor, é a seguinte
“Valer, para o pensamento clássico,
é primeiramente valer alguma coisa,
poder substituir essa coisa num processo de troca.
A moeda só foi inventada,
os preços só foram fixados e só se modificam
na medida em que essa troca existe.
Ora, a troca é um fenômeno simples
apenas na aparência.
Com efeito, só se troca numa permuta,
quando cada um dos dois parceiros
reconhece um valor
para aquilo que o outro possui.
Num sentido, é preciso, pois,
que as coisas permutáveis,
com seu valor próprio,
existam antecipadamente nas mãos de cada um,
para que a dupla cessão e a dupla aquisição
finalmente se produzam.
Mas, por outro lado,
- o que cada um come e bebe,
aquilo de que precisa para viver
não tem valor
enquanto não o cede; - e aquilo de que não tem necessidade
é igualmente desprovido de valor
enquanto não for usado
para adquirir alguma coisa de que necessite.
Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação
- (atual [troca imediata]
- ou possível [permutabilidade]),
isto é,
- no interior da troca
[representação existente] - ou da permutabilidade
[representação possível].
… e prossegue Michel Foucault, indo diretamente ao ponto:
“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:
- leitura já dadas as condições de troca;
- leitura investiga a permutabilidade, isto é a criação de condições de possibilidade da troca
1 uma analisa o valor
no ato mesmo da troca,
no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;
- A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
toda a essência da linguagem
no interior da proposição;
no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;
2 outra analisa-o
como anterior à troca
e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.
- a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
- designações primitivas
- linguagem de ação ou raiz;
[no segundo caso] a outra forma de análise,
a linguagem está enraizada
fora de si mesma e como que
- na natureza, ou nas
- analogias das coisas;
a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor,
- antes da troca
- e das medidas recíprocas da necessidade.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault
O mapa de opções para leitura do fenômeno ‘operações’ (em qualquer área):
duas visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.
- As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’;
- As alterações na linguagem em decorrência da incorporação das origens externas de valor atribuído à proposição em cada etapa das operações.
As duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ em função da disponibilidade dos objetos intervenientes em uma operação de troca.
Os pontos amarelos 1 e 2 marcam o posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ justamente no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca.
- o elemento central destas operações é ‘Processo’
- o ponto amarelo 1, no lado esquerdo da figura, representa o início de uma operação sob o pensamento clássico, que ocorre no interior do domínio do Discurso e da Representação, e no Circuito das trocas;
- com o pensamento formulado com o perfil de características do pensamento clássico tudo existe desde sempre e para sempre compondo o Universo;
- a operação funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas (a construção de representações novas está fora do escopo dessas operações) e por isso não são consideradas propriedades originais e constitutivas, o que coloca a noção de objeto fora desse espaço de empiricidades, junto com a noção de homem como sujeito dessas últimas operações de construção de representações novas.
- o ponto amarelo 2, no lado direito da figura, marca a inserção do ponto de início de leitura no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, porém, em um pensamento configurado com o perfil de características do pensamento moderno
- o elemento central desta operação é ‘Forma de produção’;
- o ponto amarelo 2, no lado direito da figura, representa o início de uma operação sob o pensamento moderno, que também ocorre no interior do domínio do Discurso e da Representação, e no Circuito das trocas;
- com o pensamento formulado com o perfil de características do pensamento moderno a articulação do pensamento com o impensado característica da forma de reflexão que orienta o pensamento, incorpora no próprio escopo do pensamento, a criação de novas representações;
- a operação transcorre na etapa de instanciamento de representação anteriormente construída, e pode funcionar tanto com propriedades não-originais e não-constitutivas (a construção de representações novas está fora do escopo dessas operações) como com propriedades sim-originais e sim-constitutivas), o que coloca a noção de objeto opcionalmente dentro ou fora desse espaço de empiricidades, junto com a noção de homem como sujeito dessas últimas operações de construção de representações novas.
O ponto vermelho marcado com 1 no lado direito da figura marca o posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da disponibilidade do objeto da operação – a de construção de representações novas – tratando portanto da permutabilidade futura desse objeto em uma eventual operação de troca.
- o ponto vermelho 1, no lado direito da figura, representa o início de uma operação sob o pensamento moderno, que ocorre agora no interior de dois domínios: no domínio do Pensamento e da Língua e no domínio do Discurso e da Representação, porém fora do Circuito das trocas;
- com o pensamento formulado com o perfil de características do pensamento moderno a articulação do pensamento com o impensado característica da forma de reflexão que orienta o pensamento, incorpora no próprio escopo do pensamento, a criação de novas representações;
- a operação transcorre na etapa de construção de representação nova, e tem como escopo a descoberta das propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, o que coloca a noção de objeto obrigatoriamente dentro desse espaço de empiricidades, junto com a noção de homem como sujeito dessas últimas operações de construção de representações novas.
As duas possibilidades carregamento de valor pela proposição formulada na(s) linguagem(ns) em função desses pontos de inserção do início de leitura de operações.
Quando nos pontos amarelos 1 e 2 no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca.
O pressuposto no LE da figura ‘a existência precede a distinção’ feita na operação vale também para a linguagem.
- ‘Processo’, o elemento central das operações no LE da figura sob o pensamento clássico é formulado com atividades, tasks encontrados no interior da categoria selecionada no Sistema de categorias, ou Quadro de simultaneidades escolhido, e o valor carregado à proposição formulada na linguagem é proveniente dessa origem interna à linguagem previamente existente nesse ambiente.
Quando no ponto vermelho 1 antes da disponibilidade de um dos objeto que possivelmente será levado a uma futura operação de troca.
- Esse ponto vermelho 1 marca o início da operação de construção de representação nova. Feita a consulta ao repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da linguagem, a resposta foi negativa quanto à capacidade do repositório no estado em que se encontra de dar suporte ao ‘impensado’;
- Disso decorre que a linguagem de ação ou de uso não pode fornecer representação que sirva ao objeto vislumbrado.
- Nesse caso, a origem de valor para as proposições formuladas pela linguagem deve necessariamente provir de fonte externa à linguagem: as designações primitivas.
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:por exemplo,
- a do verde e da árvore,
- a do homem e da existência
ou da morte;é por isso
que o tempo dos verbos
não indica aquele [tempo]em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade
ou de simultaneidade
das coisas entre si.”

Verbo como processo
Capítulo 4 – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempopalavra entre palavras, preso às mesmas regras, obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância,
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é aquela do falado,
mas aquela desde onde se fala.Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”

Verbo como Forma de produção
Capítulo 4 – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
“Classificar,
portanto,
não será mais referir
o visível
a si mesmo,
encarregando um dos seus elementos
de representar todos os outros;”

Classificar no pensamento clássico
Capítulo 7 – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
“Será
num movimento
que faz revolver a análise,
reportar
o visível,
ao invisível,
como a sua razão profunda;
depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura
em direção aos sinais manifestos
[as “aparências”]que são dados à superfície dos corpos.”

Classificar no pensamento moderno
Capítulo 7 – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
“Antes do final do século XVIII o homem não existia. Não mais que a potência da vida, a fecundidade do trabalho ou a espessura histórica da linguagem. É uma criatura muito recente que a demiurgia do saber fabricou com suas mãos há menos de 200 anos (…)
Sem dúvida, as ciências naturais trataram o homem como de uma espécie ou de um gênero: a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, o testemunha. A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.
Mas
não havia consciência epistemológica
do homem como tal.

Ausência do homem no pensamento clássico
Capítulo 9 – O homem e seus duplos;
tópico II. O lugar do rei
“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis:
está, ao mesmo tempo,
(1) no fundamento de todas as positividades,
(2) presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
no elemento das coisas empíricas.”

Os dois papéis do homem no pensamento moderno
Capítulo 10 – As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes


“Assim o círculo se fecha.
Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos.
As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada.
Mas que são esses sinais?
Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,
que há aqui um caráter
no qual convém se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança?
Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo?
– É a semelhança.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica
(isto é, com uma similitude).
Contudo,
- não é a homologia que ele assinala,
pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo;
- trata-se de outra semelhança,
uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira.
Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança.
De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que
- o signo da simpatia resida na analogia,
- o da analogia na emulação,
- o da emulação na conveniência,
que, por sua vez, para ser reconhecida, requer
- a marca da simpatia…
A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”
“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
- (ela analisa por exemplo, para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome e a importância nova dos sistemas de flexão; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função);
ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades
- (a substituição do discurso pelas línguas, das riquezas pela produção);
estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras
- (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia);
enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável,
- mas um espaço feito de organizações, isto é, de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;
- mostrará que essas organizações são descontínuas, que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas são do mesmo nível enquanto outras traçam séries ou sequências lineares.
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades,a Analogia
e a Sucessão:
de uma organização a outra, o liame, com efeito,
- não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos,
- mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel)
- e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,
- não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação,
- mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia. (*)
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault
“As utopias consolam: é que, se elas não têm lugar real, desabrocham, contudo, num espaço maravilhoso e liso; abrem cidades com vastas avenidas, jardins bem plantados, regiões fáceis, ainda que o acesso a elas seja quimérico.”
“As heterotopias inquietam, sem dúvida porque solapam secretamente a linguagem, porque impedem de nomear isto e aquilo, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, porque arruínam de antemão a “sintaxe” e não somente aquela que constrói as frases

A sintaxe que autoriza a construção das frases
Prefácio
“Eis por que as utopias permitem as fábulas e os discursos: situam-se na linha reta da linguagem, na dimensão fundamental da fábula; as heterotopias (encontradas tão frequentemente em Borges) dessecam o propósito, estancam as palavras nelas próprias, contestam, desde a raiz, toda possibilidade de gramática; desfazem os mitos e imprimem esterilidade ao lirismo das frases..”
“As utopias consolam: é que, se elas não têm lugar real, desabrocham, contudo, num espaço maravilhoso e liso; abrem cidades com vastas avenidas, jardins bem plantados, regiões fáceis, ainda que o acesso a elas seja quimérico.”
História entendida como
“a coleta das sucessões de fatos
tais como se constituíram”resultando em um tempo calendário.
(a figura acima mostra
esse elemento organizador da história
– a coleta das sucessões de fatos
tais como se constituíram –
na organização da operação
sob o pensamento clássico.

história como a coleta da sucessão de fatos
Capítulo 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
História entendida como alterações no
“alterações no modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir do que elas podem ser afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis”
a figura acima mostra o mesmo elemento organizador da História – o modo de ser fundamental das empiricidades em suas alterações – atuando como elemento organizador das operações na etapa de Construção de representação nova.

A história como mudanças no modo de ser fundamental das empiricidades
Capítulo 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
“
Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber
para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história.”
O espaço geral dos saberes no segmento do espectro de modelos AQUÉM do objeto e sob o pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775

Espaço definido pelo Quadro de simultaneidades
Capítulo 3 – Representar;
tópico VI. Máthesis e Taxinomia
O espaço geral dos saberes no segmento do espectro de modelos DIANTE do objeto, composto pelos eixos e faces do Triedro dos saberes, composto pelos eixos e pelas faces do triedro

Espaço definido pelos eixos e faces do Triedro dos saberes
Capítulo 10 – As ciências humanas;
tópico I. O triedo dos saberes
II. A forma das ciências humanas
III. Os três modelos
O espaço geral dos saberes no segmento do espectro de modelos para ALÉM do objeto, composto pelos eixos, faces, e todo o espaço interior do Triedro

Espaço interior do Triedro dos saberes
Capítulo 10 – As ciências humanas;
tópico I. O triedo dos saberes
II. A forma das ciências humanas
III. Os três modelos
AQUÉM do objeto
sob Chronos
tempo Calendário (relativo)
Tempo calendário, característico dos sistemas relativos de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, criados pelos verbos em seu tratamento clássico.

Tempo em operações de instanciamento de representações no período clássico
Capítulo 3 – Representar;
tópico VI. Máthesis e Taxinomia
DIANTE do objeto
sob Kairós
tempo Absoluto
Tempo absoluto criado pelo sistema absoluto que funciona no interior do Lugar de nascimento do que é empírico, regido pelo deus Kairós

Tempo em operação de Construção de representação nova no período moderno
Capítulo 10 – As ciências humanas;
tópico I. O triedo dos saberes
II. A forma das ciências humanas
III. Os três modelos
para ALÉM do objeto
Chronos ou Kairós
novamente tempo calendário
Tempo absoluto 9ou relativo) em operações de instanciamento de representações no período moderno.

tempo em operação de instanciamento de representações no período moderno
Capítulo 10 – As ciências humanas;
tópico I. O triedo dos saberes
II. A forma das ciências humanas
III. Os três modelos
“As utopias consolam: é que, se elas não têm lugar real, desabrocham, contudo, num espaço maravilhoso e liso; abrem cidades com vastas avenidas, jardins bem plantados, regiões fáceis, ainda que o acesso a elas seja quimérico.”
“O trabalho é a medida real do valor permutável de toda mercadoria.”
Riqueza das Nações,
em citação feita por Michel Foucault

princípio monolítico de trabalho de Adam Smith
Capítulo 7 – Os limites da representação;
tópico II. A medida do trabalho
“A quantidade de trabalho necessária para a fabricação de uma coisa (ou para sua colheita, ou para seu transporte) e que determina o seu valor depende das formas de produção: segundo o grau de divisão no trabalho, a quantidade e a natureza dos instrumentos, o volume de capital de que dispõe o empresário e o que ele investiu nas instalações de sua fábrica, a produção será modificada; em certos casos será dispendiosa; em outros, o será menos.”
Obras completas de David Ricardo,
em citação feita por Michel Foucault

A história como mudanças no modo de ser fundamental das empiricidades
Capítulo 8 – Trabalho, vida e linguagem;
tópico II. Ricardo
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Origem de valor em operação sob o Princípio de Adam Smith
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Origem de valor da proposição em ooeração sob o princípio de trabalho de David Ricardo
“
Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber
para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história.”


“Assim o círculo se fecha.
Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos.
As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada.
Mas que são esses sinais?
Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,
que há aqui um caráter
no qual convém se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança?
Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo?
– É a semelhança.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica
(isto é, com uma similitude).
Contudo,
- não é a homologia que ele assinala,
pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo;
- trata-se de outra semelhança,
uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira.
Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança.
De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que
- o signo da simpatia resida na analogia,
- o da analogia na emulação,
- o da emulação na conveniência,
que, por sua vez, para ser reconhecida, requer
- a marca da simpatia…
A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”
“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
- (ela analisa por exemplo, para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome e a importância nova dos sistemas de flexão; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função);
ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades
- (a substituição do discurso pelas línguas, das riquezas pela produção);
estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras
- (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia);
enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável,
- mas um espaço feito de organizações, isto é, de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;
- mostrará que essas organizações são descontínuas, que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas são do mesmo nível enquanto outras traçam séries ou sequências lineares.
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades,a Analogia
e a Sucessão:
de uma organização a outra, o liame, com efeito,
- não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos,
- mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel)
- e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,
- não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação,
- mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia. (*)
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault
Tópico V. Psicanálise e etnologia, do Cap. 10 – As ciências humanas,
do livro As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
Espaços gerais dos saberes por segmento do espectro de modelos
pensamento clássico,
antes de 1775
pensamento moderno,
depois de 1825
Este último tópico do ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ vale como Um exercício de uso do modelo composto característico das ciências humanas,
uma combinação dos pares constituintes das ciências:
- da Vida (Biologia) [função-norma];
- do Trabalho (Economia) [função-norma];
- da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]
além do conhecimento do papel dessas duas ciências em nossa cultura.
“A psicanálise e a etnologia ocupam, no nosso saber, um lugar privilegiado.
Não certamente
- porque teriam, melhor que qualquer outra ciência humana, embasado sua positividade e realizado enfim o velho projeto de serem verdadeiramente científicas;
antes porque,
- nos confins de todos os conhecimentos sobre o homem, elas formam seguramente um tesouro inesgotável de experiências e de conceitos, mas, sobretudo, um perpétuo princípio de inquietude, de questionamento, de crítica e de contestação daquilo que, por outro lado, pôde parecer adquirido.
Ora, há para isto uma razão que tem a ver com o objeto que respectivamente cada uma se atribui, mas tem mais ainda a ver com a posição que ocupam e com a função que exercem no espaço geral da epistémê.
A psicanálise, com efeito, mantém-se o mais próximo possível desta função crítica acerca da qual se viu que era interior a todas as ciências humanas.
Dando-se por tarefa fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente,
a psicanálise avança na direção desta região fundamental onde se travam as relações entre a representação e a finitude.
Enquanto todas as ciências humanas
- só se dirigem ao inconsciente virando-lhe as costas, esperando que ele se desvele à medida que se faz, como que por recuos, a análise da consciência,
já a psicanálise
- aponta diretamente para ele, de propósito deliberado –
- não em direção ao que deve explicitar-se pouco a pouco na iluminação progressiva do implícito,
- mas em direção ao que está aí e se furta, que existe com a solidez muda de uma coisa, de um texto fechado sobre si mesmo, ou de uma lacuna branca num texto visível e que assim se defende.
Não há que supor que o empenho freudiano seja o componente de uma interpretação do sentido e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;
- seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
- a psicanálise se encaminha
em direção ao momento –inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem, a toda apreensão contínua em termos
- de significação,
- de conflito
- ou de função
– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
- ao contrário das ciências humanas que,
- retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
- permanecem sempre no espaço do representável,
- retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
- a psicanálise
- avança para transpor a representação, extravasá-la do lado da finitude
- e fazer assim surgir, lá onde se esperavam
- as funções portadoras de suas normas,
- os conflitos carregados de regras
- e as significações formando sistema,
- o fato nu de que pode haver
- sistema (portanto, significação),
- regra (portanto, oposição),
- norma (portanto, função).
E, nessa região onde a representação fica em suspenso, à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude, desenham-se as três figuras pelas quais
- a vida, com suas funções e suas normas, vem fundar-se na repetição muda da Morte,
- os conflitos e as regras, na abertura desnudada do Desejo,
- as significações e os sistemas, numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei. “
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. X – As ciências humanas;
tópico V – Psicanálise, etnologia
E foi realmente necessário um acontecimento fundamental – um dos mais radicais, sem dúvida, que ocorreram na cultura ocidental, para que se desfizesse a positividade do saber clássico e se constituísse uma positividade de que, por certo, não saímos inteiramente.

O evento fundador da nossa modernidade no pensamento
As estruturas de operações nos modelos, quando:
(1) com essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação;
(2) e sem essa impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.
