Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu trabalho

os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'
Michel Foucault 1926-1984
Michel Foucault
1926-1984

“É que o pensamento
que nos é contemporâneo

e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado

1

pela impossibilidade,

trazida à luz
por volta do fim do século XVIII,

de fundar as sínteses

[da empiricidade
objeto da operação] 

no espaço da representação

2

e pela obrigação

correlativa, simultânea,
mas logo dividida
contra si mesma,

de abrir o campo transcendental
da subjetividade e
 

de constituir
inversamente,
para além do objeto,

esses “quase-transcendentais”
que são para nós
a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;

Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
tópico I – As novas empiricidades

O problema está na coexistência de configurações de pensamento:

  • com a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação;
  • e simultaneamente, e no mesmo espaço,
    sem essa possibilidade, isto é, com a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação. 

O pensamento que chamamos ‘nosso’, aquele que tem ‘a nossa idade e geografia’ e com o qual ‘queiramos ou não, pensamos’, sim, tem a possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação. 

Esse é o pensamento cuja configuração corresponde ao depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. Trata-se da configuração de pensamento que se consolidou no início do século XIX.

Em contrapartida, a configuração de pensamento comum até o final do século XVIII, chamado de pensamento clássico, não tem essa possibilidade, ou apresenta a impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação.

Temos modelos que atestam essa contaminação

Esse “para além do objeto” autoriza a suposição de que a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação foi conseguida pelo pensamento; 

  • o que implica no posicionamento do apontador de início da visão que temos do que sejam operações antes da possibilidade da troca e portanto antes da disponibilidade dos objetos envolvidos nela.
  • implica ainda em que a fonte de valor na linguagem seja proveniente de fontes externas a ela, e tenham origem
    • nas designações primitivas;
    • na linguagem de uso.

Isso se confirma quando vemos o modelo constituinte composto proposto por Foucault para ser o modelo constituinte comum a todas as ciências humanas.

Ele é um modelo combinação dos pares constituintes das ciências da região epistemológica fundamental:

Vida (Biologia) par [função-norma];

Trabalho (Economia) par [conflito-regra];

Linguagem (Filologia) par [significação-sistema].