CapĆ­tulo I. Las Meninas

Las meninas, de Diego VelƔzquez, 1656;
óleo sobre tela; Museu do Prado,
Madrid, Espanha

I

O pintor estÔ ligeiramente afastado do quadro. Lança um olhar em direção ao modelo; talvez se trate de acrescentar um último toque, mas é possível também que o primeiro traço não tenha ainda sido aplicado. O braço que segura o pincel estÔ dobrado para a esquerda, na direção da palheta; permanece imóvel, por um instante, entre a tela e as cores, Essa mão hÔbil estÔ pendente do olhar; e o olhar, em troca, repousa sobre o gesto suspenso. Entre a fina ponta do pincel e o gume do olhar, o espetÔculo vai liberar seu volume. Não sem um sistema sutil de evasivas. 

Distanciando-se um pouco, o pintor colocou-se ao lado da obra na qual trabalha. Isso quer dizer que, para o espectador que no momento olha, ele estÔ à direita de seu quadro, o qual ocupa toda a extremidade esquerda. A esse mesmo espectador o quadro volta as costas: dele só se pode perceber o reverso, com a imensa armação que o sustenta. 

O pintor, em contrapartida, é perfeitamente visível em toda a sua estatura; de todo modo, ele não estÔ encoberto pela alta tela que, talvez, irÔ absorvê-lo logo em seguida, quando, dando um passo em sua direção, se entregarÔ novamente a seu trabalho; sem dúvida, nesse mesmo instante, ele acaba de aparecer aos olhos do espectador, surgindo dessa espécie de grande gaiola virtual que a superfície que ele estÔ pintando projeta para trÔs. 

Podemos vê-Io agora, num instante de pausa, no centro neutro dessa oscilação. Seu talhe escuro, seu rosto claro são meios-termos entre o visível e o invisível: saindo dessa tela que nos escapa, ele emerge aos nossos olhos; mas quando, dentro em pouco, der um passo para a direita, furtando-se aos nossos olhares, achar-se-Ô colocado bem em face da tela que estÔ pintando; entrarÔ nessa região onde seu quadro, negligenciado por um instante, se lhe vai tornar de novo visível, sem sombra nem reticência. 

Como se o pintor não pudesse ser ao mesmo tempo visto no quadro em que estÔ representado e ver aquele em que se aplica a representar alguma coisa. Ele reina no limiar dessas duas visibilidades incompatíveis. O pintor olha, o rosto ligeiramente virado e a cabeça inclinada para o ombro. 

Fixa um ponto invisível, mas que nós, espectadores, podemos facilmente determinar, pois que esse ponto somos nós mesmos: nosso corpo, nosso rosto, nossos olhos. 

O espetÔculo que ele observa é, portanto, duas vezes invisível: uma vez que não é representado no espaço do quadro e uma vez que se situa precisamente nesse ponto cego, nesse esconderijo essencial onde nosso olhar se furta a nós mesmos no momento em que olhamos. 

E, no entanto, como poderíamos deixar de ver essa invisibilidade, que estÔ aí sob nossos olhos, jÔ que ela tem no próprio quadro seu sensível equivalente, sua figura selada? 

Poder-se-ia, com efeito, adivinhar o que o pintor olha, se fosse possível lançar os olhos sobre a tela a que se aplica; desta, porém, só se distingue a textura, os esteios na horizontal e, na vertical, o oblíquo do cavalete. 

O alto retângulo monótono que ocupa toda a parte esquerda do quadro real e que figura o verso da tela representada reconstituiu, sob as espécies de uma superfície, a invisibilidade em profundidade daquilo que o artista contempla: este espaço em que nós estamos, que nós somos. 

Dos olhos do pintor até aquilo que ele olha, estÔ traçada uma linha imperiosa que nós, os que olhamos, não poderíamos evitar: ela atravessa o quadro real e alcança, à frente da sua superfície, o lugar de onde vemos o pintor que nos observa; esse pontilhado nos atinge infalivelmente e nos liga à representação do quadro. 

Aparentemente, esse lugar é simples; constitui-se de pura reciprocidade: olhamos um quadro de onde um pintor, por sua vez, nos contempla. Nada mais que um face-a-face, olhos que se surpreendem, olhares retos que, em se cruzando, se superpõem. E, no entanto, essa tênue linha de visibilidade envolve, em troca, toda uma rede complexa de incertezas, de trocas e de evasivas. 

O pintor só dirige os olhos para nós na medida em que nos encontramos no lugar do seu motivo. Nós, espectadores, estamos em excesso. Acolhidos sob esse olhar, somos por ele expulsos, substituídos por aquilo que desde sempre se encontrava lÔ, antes de nós: o próprio modelo. 

Mas, inversamente, o olhar do pintor, dirigido para fora do quadro, ao vazio que lhe faz face, aceita tantos modelos quantos espectadores lhe apareçam; nesse lugar preciso mas indiferente, o que olha e o que é olhado permutam-se incessantemente. Nenhum olhar é estÔvel, ou antes, no sulco neutro do olhar que traspassa a tela perpendicularmente, o sujeito e o objeto, o espectador e o modelo invertem seu papel ao infinito. 

E, na extremidade esquerda do quadro, a grande tela virada exerce aí sua segunda função: obstinadamente invisível, impede que seja alguma vez determinÔvel ou definitivamente estabelecida a relação dos olhares. A fixidez opaca que ela faz reinar num lado torna para sempre instÔvel o jogo das metamorfoses que, no centro, se estabelece entre o espectador e o modelo. 

Porque só vemos esse reverso, não sabemos quem somos nem o que fazemos. Somos vistos ou vemos? O pintor fixa atualmente um lugar que, de instante a instante, não cessa de mudar de conteúdo, de forma, de rosto, de identidade. 

Mas a imobilidade atenta de seus olhos remete a uma outra direção, que eles jÔ seguiram frequentes vezes e que breve, sem dúvida alguma, vão retomar: a da tela imóvel sobre a qual se traça, estÔ talvez traçado, desde muito tempo e para sempre, um retrato que jamais se apagarÔ.

 De sorte que o olhar soberano do pintor comanda um triângulo virtual, que define em seu percurso esse quadro de um quadro: 

  • no vĆ©rtice – Ćŗnico ponto visĆ­vel – os olhos do artista;Ā 
  • na base, de um lado, o lugar invisĆ­vel do modelo,Ā 
  • do outro, a figura provavelmente esboƧada na tela virada.Ā 

No momento em que colocam o espectador no campo de seu olhar, os olhos do pintor captam-no, constrangem-no a entrar no quadro, designam-lhe um lugar ao mesmo tempo privilegiado e obrigatório, apropriam-se de sua luminosa e visível espécie e a projetam sobre a superfície inacessível da tela virada. 

Ele vê sua invisibilidade tornada visível ao pintor e transposta em uma imagem definitivamente invisível a ele próprio. 

Surpresa que é multiplicada e tornada ainda mais inevitÔvel por um estratagema marginal. Na extremidade direita, o quadro recebe sua luz de uma janela representada segundo uma perspectiva muito curta; dela apenas se visualiza o vão; de sorte que o fluxo de luz que ela espalha largamente banha ao mesmo tempo, com a mesma generosidade, dois espaços vizinhos, entrecruzados, mas irredutíveis: 

  • a superfĆ­cie da tela, com o volume que ela representa (isto Ć©, o ateliĆŖ do pintor, ou a sala em que instalou seu cavalete),Ā 
  • e, Ć  frente dessa superfĆ­cie, o volume real que o espectador ocupa (ou entĆ£o o lugar irreal do modelo).Ā 

E, percorrendo a sala da direita para a esquerda, a vasta luz dourada impele ao mesmo tempo o espectador em direção ao pintor e o modelo em direção à tela; é ela também que, iluminando o pintor, torna-o visível ao espectador e faz brilhar como linhas de ouro, aos olhos do modelo, a moldura da tela enigmÔtica, onde sua imagem, transposta, vai se achar encerrada. 

Esta janela encantoada, parcial, apenas indicada, libera uma luz inteira e mista que serve de lugar-comum à representação. 

Ela equilibra, na outra extremidade do quadro, a tela invisĆ­vel:Ā 

  • assim como esta, virando as costas aos espectadores, se redobra contra o quadro que a representa e forma, pela superposição de seu reverso visĆ­vel sobre a superfĆ­cie do quadro que a contĆ©m, o lugar, para nós inacessĆ­vel, onde cintila a Imagem por excelĆŖncia;Ā 
  • assim a janela, pura abertura, instaura um espaƧo tĆ£o manifesto quanto o outro Ć© oculto; tĆ£o comum ao pintor, Ć s personagens, aos modelos, aos espectadores quanto o outro Ć© solitĆ”rio (pois ninguĆ©m o olha, nem mesmo o pintor).Ā 

Da direita, derrama-se por uma janela invisível o puro volume de uma luz que torna visível toda representação; 

à esquerda, estende-se a superfície que encobre, do outro lado de sua textura demasiado visível, a representação que ela contém. 

Inundando a cena (quero dizer, tanto a sala quanto a tela, a sala representada na tela e a sala onde a tela estÔ colocada), a luz envolve as personagens e os espectadores, impelindo-os, sob o olhar do pintor, em direção ao lugar onde seu pincel os vai representar. 

Esse lugar, porém, nos é recusado. 

Olhamo-nos olhados pelo pintor e tornados visíveis aos seus olhos pela mesma luz que no-lo faz ver. E, no momento em que vamos nos apreender transcritos por sua mão como num espelho, deste não podemos surpreender mais que o insípido reverso. O outro lado de um reflexo. 

Ora, exatamente em face dos espectadores – de nós mesmos – sobre a parede que constitui o fundo da sala, o autor representou uma sĆ©rie de quadros; e eis que, entre todas essas telas suspensas, uma dentre elas brilha com um clarĆ£o singular. Sua moldura Ć© mais larga, mais sombria que a das outras; uma fina linha branca, no entanto, a duplica interiormente, difundindo sobre toda a sua superfĆ­cie uma luz dificilmente determinĆ”vel; pois nĆ£o vem de parte alguma senĆ£o de um espaƧo que lhe seria interior.Ā 

Nessa luz estranha aparecem duas silhuetas e, acima delas, um pouco para trÔs, uma pesada cortina de púrpura. Os outros quadros só dão a ver algumas manchas mais pÔlidas no limite de uma noite sem profundeza. Esse, ao contrÔrio, abre-se para um espaço em recuo onde formas reconhecíveis se dispõem numa claridade que só a ele pertence. 

Entre todos esses elementos destinados a oferecer representações, mas que as contestam, as recusam, as esquivam por sua posição ou sua distância, esse é o único que funciona com toda a honestidade e que dÔ a ver o que deve mostrar. A despeito de seu distanciamento, a despeito da sombra que o envolve. 

Mas não é um quadro: é um espelho. 

Ele oferece enfim esse encantamento do duplo, que tanto as pinturas afastadas quanto a luz do primeiro plano com a tela irÓnica recusavam. 

De todas as representações que o quadro representa, ele é a única visível; mas ninguém o olha. Em pé ao lado de sua tela, a atenção toda absorvida pelo seu modelo, o pintor não pode ver esse espelho que brilha suavemente atrÔs dele. 

As outras personagens do quadro estĆ£o, na maioria, voltadas tambĆ©m elas para o que se deve passar Ć  frente – para a clara invisibilidade que margeia a tela, para esse Ć”trio de luz, onde seus olhares tĆŖm para ver aqueles que os vĆŖem, e nĆ£o para essa cavidade sombria pela qual se fecha o quarto onde estĆ£o representadas.Ā 

HÔ, com efeito, algumas cabeças que se oferecem de perfil: nenhuma, porém, suficientemente virada para olhar, no fundo da sala, esse espelho desolado, pequeno retângulo brilhante que nada mais é senão visibilidade, mas sem nenhum olhar capaz de apossar-se dela, tornÔ-Ia atual e comprazer-se no fruto, subitamente amadurecido, de seu espetÔculo. 

Ɖ preciso reconhecer que essa indiferenƧa só se iguala Ć  do espelho. Com efeito, este nada reflete daquilo que se encontra no mesmo espaƧo que ele: nem o pintor, que lhe volta as costas, nem as personagens no centro da sala. Em sua clara profundidade, nĆ£o Ć© o visĆ­vel que ele fita.Ā 

Na pintura holandesa, era tradição que os espelhos desempenhassem um papel de reduplicação: repetiam o que era dado uma primeira vez no quadro, mas no interior de um espaço irreal, modificado, estreitado, recurvo. Ali se via a mesma coisa que na primeira instância do quadro, porém decomposta e recomposta segundo uma outra lei. 

Aqui o espelho nada diz do que jÔ foi dito. Sua posição, entretanto, é quase central: sua borda superior estÔ exatamente sobre a linha que reparte em duas a altura do quadro, ocupa sobre a parede do fundo (ao menos sobre a parte visível desta) uma posição mediana; deveria, pois, ser atravessado pelas mesmas linhas perspectivas que o próprio quadro; poder-se-ia esperar que um mesmo ateliê, um mesmo pintor, uma mesma tela nele se dispusessem segundo um espaço idêntico; poderia ser o duplo perfeito. 

Ora, ele não faz ver nada do que o próprio quadro representa. Seu olhar imóvel vai captar à frente do quadro, nessa região necessariamente invisível que forma sua face exterior, as personagens que ali estão dispostas. 

Em vez de girar em torno de objetos visíveis, esse espelho atravessa todo o campo da representação, negligenciando o que aí poderia captar, e restitui a visibilidade ao que permanece fora de todo olhar. 

Mas essa invisibilidade que ele supera não é a do oculto: não contorna o obstÔculo, não desvia a perspectiva, endereça-se ao que é invisível ao mesmo tempo pela estrutura do quadro e por sua existência como pintura. 

O que nele se reflete é o que todas as personagens da tela estão fixando, o olhar reto diante delas; é, pois, o que se poderia ver, se a tela se prolongasse para a frente, indo mais para baixo, até envolver as personagens que servem de modelos ao pintor. Mas é também, jÔ que a tela se interrompe ali, dando a ver o pintor e seu ateliê, o que estÔ exterior ao quadro, na medida em que ele é quadro, isto é, fragmento retangular de linhas e cores, encarregado de representar alguma coisa aos olhos de todo espectador possível. 

No fundo da sala, ignorado por todos, o espelho inesperado faz brilhar as figuras que o pintor olha (o pintor e sua realidade representada, objetiva, de pintor trabalhando); mas também as figuras que olham o pintor (nessa realidade material que as linhas e as cores depositaram sobre a tela). 

Estas figuras são, uma e outra, igualmente inacessíveis, mas de modo diferente: a primeira, por um efeito de composição que é próprio ao quadro; a segunda, pela lei que preside à existência mesma de todo quadro em geral. 

Aqui, o jogo da representação consiste em conduzir essas duas formas de invisibilidade uma ao lugar da outra, numa superposição instĆ”vel – e em restituĆ­-Ias logo Ć  outra extremidade do quadro – a esse pólo que Ć© o mais altamente representado: o de uma profundidade de reflexo na reentrĆ¢ncia de uma profundidade de quadro.Ā 

O espelho assegura uma metÔtese da visibilidade que incide ao mesmo tempo sobre o espaço representado no quadro e sua natureza de representação; faz ver, no centro da tela, aquilo que, do quadro, é duas vezes necessariamente invisível. 

Estranha maneira de aplicar ao pé da letra, mas invertendo-o, o conselho que o velho Pachero dera, ao que parece, ao seu aluno, quando trabalhava no ateliê de Sevilha: 

ā€œA imagem deve sair da moldura.ā€

Ā 

Ā II

Mas talvez seja tempo de nomear enfim essa imagem que aparece no fundo do espelho e que o pintor contempla Ć  frente do quadro. Talvez valha a pena fixar de vez a identidade das personagens presentes ou indicadas, para nĆ£o nos atrapalharmos infinitamente nestas designaƧƵes flutuantes, um pouco abstratas, sempre suscetĆ­veis de equĆ­vocos e de desdobramentos: ā€œo pintorā€, ā€œas personagensā€, ā€œos espectadoresā€, ā€œas imagensā€.Ā 

Em vez de prosseguir sem fim numa linguagem fatalmente inadequada ao visĆ­vel, bastaria dizerĀ 

  • que VelĆ”squez compĆ“s um quadro; que nesse quadro ele se representou a si mesmo no seu ateliĆŖ, ou num salĆ£o do Escorial,Ā 
  • a pintar duas personagens que a infanta Margarida vem contemplar,Ā 
  • rodeada de aias,Ā 
  • de damas de honor,Ā 
  • de cortesĆ£osĀ 
  • e de anƵes;Ā 
  • que a esse grupo pode-se muito precisamente atribuir nomes: a tradição reconheceĀ 
  • aqui dona Maria Agustina Sarmiente,Ā 
  • ali, Nieto,Ā 
  • no primeiro plano, Nicolaso Pertusato, bufĆ£o italiano.Ā 

Bastaria acrescentar que as duas personagens que servem de modelo ao pintor não são visíveis, ao menos diretamente; mas que podemos distingui- Ias num espelho; que se trata, sem dúvida, 

  • do rei Filipe IVĀ 
  • e de sua esposa Mariana.Ā 

Esses nomes próprios constituiriam indícios úteis evitariam designações ambíguas; eles nos diriam, em todo o caso, o que o pintor olha e, com ele, a maioria das personagens do quadro. 

Mas a relação da linguagem com a pintura é uma relação infinita. Não que a palavra seja imperfeita e esteja, em face do visível, num déficit que em vão se esforçaria por recuperar. 

SĆ£o irredutĆ­veis uma ao outro:Ā 

  • por mais que se diga o que se vĆŖ,Ā 
    • o que se vĆŖ nĆ£o se aloja jamais no que se diz,Ā 
  • e por mais que se faƧa ver o que se estĆ” dizendo por imagens, metĆ”foras, comparaƧƵes,Ā 
    • o lugar onde estas resplandecem nĆ£o Ć© aquele que os olhos descortinam,Ā 
    • mas aquele que as sucessƵes da sintaxe definem.Ā 

Ora, o nome próprio, nesse jogo, não passa de um artifício: 

  • permite mostrar com o dedo, quer dizer, fazer passar sub-repticiamenteĀ 
    • do espaƧo onde se falaĀ 
    • para o espaƧo onde se olha,Ā 
  • isto Ć©, ajustĆ”-los comodamente um sobre o outro como se fossem adequados.Ā 

Mas, se se quiser manter aberta a relação entre a linguagem e o visível, se se quiser falar não de encontro a, mas a partir de sua incompatibilidade, de maneira que se permaneça o mais próximo possível de uma e de outro, é preciso então pÓr de parte os nomes próprios e meter-se no infinito da tarefa. 

Ɖ, talvez, por intermĆ©dio dessa linguagem nebulosa, anĆ“nima, sempre meticulosa e repetitiva, porque demasiado ampla, que a pintura, pouco a pouco, acenderĆ” suas luzes.Ā 

Ɖ preciso, pois, fingir nĆ£o saber quem se refletirĆ” no fundo do espelho e interrogar esse reflexo ao nĆ­vel de sua existĆŖncia.Ā 

De início, ele é o verso da grande tela representada à esquerda. O verso ou, antes, a face dianteira, pois que mostra de frente o que ela, por sua posição, esconde. 

Ademais, opõe-se à janela e a reforça. Como ela, é um lugar-comum ao quadro e ao que lhe é exterior. 

  • A janela, porĆ©m, opera pelo movimento contĆ­nuo de uma efusĆ£o que, da direita para a esquerda, agrega Ć s personagens atentas, ao pintor, ao quadro, o espetĆ”culo que contemplam;Ā 
  • jĆ” o espelho, por um movimento violento, instantĆ¢neo e de pura surpresa, vai buscar, Ć  frente do quadro, aquilo que Ć© olhado mas nĆ£o visĆ­vel, a fim de, no extremo da profundidade fictĆ­cia, tornĆ”-lo visĆ­vel mas indiferente a todos os olhares.Ā 

O pontilhado imperioso que estÔ traçado entre o reflexo e o que ele reflete corta perpendicularmente o fluxo lateral da luz. 

Enfim – e Ć© a terceira função desse espelho – ele pƵe em paralelo uma porta que, como ele, se abre na parede do fundo.Ā 

Também ela recorta um retângulo claro, cuja luz fosca não se irradia pela sala. Não passaria de uma placa dourada, não estivesse ela aberta para fora através de um batente esculpido, da curva de uma cortina e da sombra de vÔrios degraus. Aí começa um corredor; mas, em vez de se perder em meio à obscuridade, ele se dissipa num brilho amarelo, cuja luz, sem entrar, rodopia em tomo de si mesma e repousa. 

Sobre esse fundo, ao mesmo tempo próximo e sem limite, um homem destaca sua alta silhueta; ele é visto de perfil; com uma das mãos retém o peso de um cortinado; seus pés estão pousados sobre dois degraus diferentes; tem o joelho dobrado. Talvez vÔ entrar na sala; talvez se limite a espiar o que se passa no interior, contente de surpreender sem ser observado. 

Tal como o espelho, fixa o verso da cena: tanto quanto ao espelho, ninguém lhe presta atenção. 

Não se sabe donde vem; pode-se supor que, seguindo por incertos corredores, contornou a sala onde as personagens estão reunidas e onde trabalha o pintor; talvez estivesse, hÔ pouco, também ele à frente da cena, na região invisível que é contemplada por todos os olhos do quadro. Como as imagens que se distinguem no fundo do espelho, é possível que ele seja um emissÔrio desse espaço evidente e escondido. 

HÔ, no entanto, uma diferença: 

  • ele estĆ” ali em carne e osso; surgiu de fora, no limiar da Ć”rea representada; ele Ć© indubitĆ”vel – nĆ£o um reflexo provĆ”vel, mas uma irrupção.Ā 
  • O espelho, fazendo ver, para alĆ©m mesmo dos muros do ateliĆŖ, o que se passa Ć  frente do quadro, faz oscilar, na sua dimensĆ£o sagital, o interior e o exterior.Ā 

Com um pé sobre o degrau e o corpo inteiramente de perfil, o visitante ambíguo entra e sai ao mesmo tempo, num balancear imóvel. Ele repete, sem sair do lugar, mas na realidade sombria de seu corpo, o movimento instantâneo das imagens que atravessam a sala, penetram no espelho, nele se refletem e dele ressaltam como espécies visíveis, novas e idênticas. PÔlidas, minúsculas, essas silhuetas no espelho são recusadas pela alta e sólida estatura do homem que surge no vão da porta. 

Cumpre, no entanto, retomar do fundo do quadro em direção à frente da cena; é preciso abandonar esse circuito cuja voluta se acaba de percorrer. 

Partindo do olhar do pintor que, à esquerda, constitui como que um centro deslocado, distingue-se primeiro o reverso da tela, depois os quadros expostos, com o espelho no centro, a seguir a porta aberta, novos quadros, cuja perspectiva, porém, muito aguda, só deixa ver as molduras em sua densidade, enfim, à extremidade direita a janela, ou, antes, a fenda por onde se derrama a luz. 

Essa concha em hĆ©lice oferece todo o ciclo da representação: o olhar, a palheta e o pincel, a tela inocente de signos (sĆ£o os instrumentos materiais da representação), os quadros, os reflexos, o homem real (a representação acabada, mas como que liberada de seus conteĆŗdos ilusórios ou verdadeiros que lhe sĆ£o justapostos); depois, a representação se dilui: só se vĆŖem as molduras e essa luz que, do exterior, banha os quadros, os quais, contudo, devem em troca reconstituir Ć  sua própria maneira, como se ela viesse de outro lugar, atravessando suas molduras de madeira escura. E essa luz, vemo-la, com efeito, no quadro, parecendo emergir no interstĆ­cio da moldura; e de lĆ” ela alcanƧa a fronte, as faces, os olhos, o olhar do pintor que segura numa das mĆ£os a palheta e, na outra, o fino pincel…Ā 

Assim se fecha a voluta, ou melhor, por essa luz, ela se abre. Essa abertura não é mais, como no fundo, uma porta que se abriu; é a própria amplitude do quadro, e os olhares que por ela passam não são de um visitante longínquo. 

O friso que ocupa o primeiro e o segundo planos do quadro representa – se se incluir o pintor – oito personagens. Cinco delas, a cabeƧa mais ou menos inclinada, virada ou abaixada, olham na direção perpendicular do quadro.Ā 

O centro do grupo é ocupado pela pequena infanta, com seu amplo vestido cinza e rosa. A princesa vira a cabeça para a direita do quadro, enquanto seu busto e os grandes folhos do vestido pendem ligeiramente para a esquerda; o olhar, porém, dirige-se aprumado na direção do espectador que se acha em face do quadro. 

Uma linha mediana que dividisse a tela em duas alas iguais passaria entre os dois olhos da criança. Seu rosto estÔ a um terço da altura total do quadro. De sorte que aí reside, sem dúvida, o tema principal da composição; aí, o objeto mesmo dessa pintura. 

Como que para provÔ-lo e melhor sublinhÔ-lo, o autor recorreu a uma figura tradicional: ao lado da personagem principal, colocou outra, ajoelhada, que a olha. Como um ofertante em prece, como o Anjo saudando a Virgem, uma governanta de joelhos estende as mãos para a princesa. Seu rosto se recorta num perfil perfeito. EstÔ à altura do da criança. A aia olha para a princesa e só para ela. 

Um pouco mais à direita, outra dama de honor, voltada também para a infanta, ligeiramente inclinada acima dela mas com os olhos claramente dirigidos para a frente, lÔ onde jÔ olham o pintor e a princesa. 

Enfim, dois grupos de duas personagens: um, em recuo; outro, composto de anões, no primeiro plano. Em cada par, uma personagem olha em frente, a outra à direita ou à esquerda. Por sua posição e por sua proporção, esses dois grupos se correspondem e se emparelham: 

  • atrĆ”s, os cortesĆ£os (a mulher, Ć  esquerda, olha para a direita);Ā 
  • Ć  frente, os anƵes (o rapaz que estĆ” na extremidade direita olha para o interior do quadro).Ā 

Esse conjunto de personagens assim dispostas pode constituir, conforme a atenção que se dê ao quadro ou o centro de referência que se escolha, duas figuras. 

Uma seria um grande X;Ā 

  • no ponto superior esquerdo estaria o olhar do pintorĀ 
  • e, Ć  direita, o do cortesĆ£o;Ā 
  • na ponta inferior, do lado esquerdo, estĆ” o canto da tela representada de costas (mais exatamente, o pĆ© do cavalete);Ā 
  • do lado direito, o anĆ£o (com o calƧado deposto sobre o dorso do cĆ£o).Ā 

No cruzamento dessas duas linhas, no centro do X, o olhar da infanta.Ā 

A outra figura seria antes a de uma vasta curva;Ā 

  • suas duas pontas seriam determinadas pelo pintor Ć  esquerda e pelo cortesĆ£o Ć  direita – extremidades altas e recuadas;Ā 
  • o recĆ“ncavo, bem mais aproximado, coincidiria com o rosto da princesa e com o olhar que a aia lhe dirige.Ā 

Essa tênue linha desenha uma concha que, ao mesmo tempo, encerra e libera, no meio do quadro, a localização do espelho. 

HÔ, pois, dois centros que podem organizar o quadro, conforme a atenção do espectador divague e se prenda aqui ou ali. 

A princesa mantém-se de pé no meio de uma cruz de Santo André, que gira em torno dela com o turbilhão dos cortesãos, damas de honor, animais e bufões. 

Mas essa rotação é fixa. Fixa por um espetÔculo que seria absolutamente invisível se essas mesmas personagens, subitamente imóveis, não oferecessem, como que no vão de uma taça, a possibilidade de olhar no fundo de um espelho, o dúplice imprevisto de sua contemplação. 

No sentido da profundidade, a princesa se superpõe ao espelho; 

no da altura, é o reflexo que se superpõe ao rosto. Mas a perspectiva os torna muito próximos um do outro. 

Ora, cada um deles emana uma linha inevitÔvel; 

  • uma, saĆ­da do espelho, transpƵe toda a espessura representada (e mesmo alĆ©m dela, jĆ” que o espelho perfura a parede do fundo e faz nascer atrĆ”s dela um outro espaƧo);Ā 
  • a outra Ć© mais curta; vem do olhar da crianƧa e só atravessa o primeiro plano.Ā 

Essas duas linhas sagitais são convergentes, segundo um ângulo muito agudo, e o ponto de seu encontro, saindo da tela, se fixa à frente do quadro, mais ou menos lÔ de onde o olhamos. Ponto duvidoso, pois que não o vemos; ponto, porém, inevitÔvel e perfeitamente definido, pois que é prescrito por essas duas figuras mestras e confirmado ainda por outros pontilhados adjacentes que nascem do quadro e que também dele escapam. 

Que hÔ, enfim, nesse lugar perfeitamente inacessível, porquanto exterior ao quadro, mas prescrito por todas as linhas de sua composição? 

Que espetÔculo é esse, quem são esses rostos que se refletem primeiro no fundo das pupilas da infanta, depois dos cortesãos e do pintor e, finalmente, na claridade longínqua do espelho? 

Mas a questão logo se desdobra: 

  • o rosto que o espelho reflete Ć© igualmente aquele que o contempla;Ā 
  • o que todas as personagens do quadro olham sĆ£o tambĆ©m as personagens a cujos olhos elas sĆ£o oferecidas como uma cena a contemplar;Ā 
  • o quadro como um todo olha a cena para a qual ele Ć©, por sua vez, uma cena.Ā 

Pura reciprocidade que manifesta o espelho que olha e é olhado, e cujos dois momentos são desprendidos nos dois ângulos do quadro: 

  • Ć  esquerda a tela virada, pela qual o ponto exterior se torna puro espetĆ”culo;Ā 
  • Ć  direita o cĆ£o estirado, Ćŗnico elemento do quadro que nĆ£o olha nem se mexe, porque ele, com seus fortes relevos e a luz que brinca em seus pelos sedosos, só Ć© feito para ser um objeto a ser olhado.Ā 

O primeiro olhar lançado ao quadro nos ensinou de que é constituído esse espetÔculo-de-olhares. 

SĆ£o os soberanos.Ā 

Adivinhamo-los jÔ no olhar respeitoso da assistência, no espanto da criança e dos anões. Reconhecemo-los, no fundo do quadro, nas duas pequenas silhuetas que o espelho reflete. Em meio a todos esses rostos atentos, a todos esses corpos ornamentados, eles são a mais pÔlida, a mais irreal, a mais comprometida de todas as imagens; um movimento, um pouco de luz bastariam para fazê-los desvanecer-se. 

De todas as personagens representadas, elas são também as mais desprezadas, pois ninguém presta atenção a esse reflexo que se esgueira por trÔs de todo o mundo e se introduz silenciosamente por um espaço insuspeitado; na medida em que são visíveis, são a forma mais frÔgil e mais distante de toda realidade. 

Inversamente, na medida em que, residindo no exterior do quadro, se retiraram para uma invisibilidade essencial, ordenam em torno delas toda a representação; 

  • Ć© diante delas que as coisas estĆ£o, Ć© para elas que se voltam, Ć© a seus olhos que se mostra a princesa em seu vestido de festa;Ā 
  • da tela virada Ć  infanta e desta ao anĆ£o que brinca na extremidade direita, desenha-se uma curva (ou entĆ£o, abre-se o braƧo inferior do X) para ordenar em relação a eles toda a disposição do quadro e fazer aparecer, assim, o verdadeiro centro da composição, ao qual o olhar da infanta e a imagem no espelho estĆ£o finalmente submetidos.Ā 

Esse centro é simbolicamente soberano na sua particularidade histórica, jÔ que é ocupado pelo rei Filipe IV e sua esposa. 

Mas, sobretudo, ele o é pela tríplice função que ocupa em relação ao quadro. 

Nele vĆŖm superpor-se exatamenteĀ 

  • o olhar do modelo no momento em que Ć© pintado,Ā 
  • o do espectador que contempla a cenaĀ 
  • e o do pintor no momento em que compƵe seu quadro (nĆ£o o que Ć© representado, mas o que estĆ” diante de nós e do qual falamos).Ā 

Essas trĆŖs funƧƵes ā€œolhantesā€ confundem-se em um ponto exterior ao quadro: isto Ć©, ideal em relação ao que Ć© representado, mas perfeitamente real, porquanto Ć© a partir dele que se torna possĆ­vel a representação; nessa realidade mesma, ele nĆ£o pode deixar de ser invisĆ­vel. E, contudo, essa realidade Ć© projetada no interior do quadro – projetada e difratada em trĆŖs figuras que correspondem Ć s trĆŖs funƧƵes desse ponto ideal e real.Ā 

SĆ£o elas:Ā 

  • Ć  esquerda, o pintor com sua palheta na mĆ£o (autoretrato do autor do quadro);Ā 
  • Ć  direita o visitante, com um pĆ© sobre o degrau, prestes a entrar na sala; ele capta ao revĆ©s toda a cena, mas vĆŖ de frente o par real, que Ć© o próprio espetĆ”culo;Ā 
  • no centro, enfim, o reflexo do rei e da rainha, ornamentados, imóveis, na atitude de pacientes modelos. .

Tal reflexo mostra ingenuamente, e na sombra, aquilo que todos olham no primeiro plano. Restitui, como que por encanto, o que falta a cada olhar:Ā 

  • ao do pintor, o modelo que Ć© recopiado no quadro pelo seu duplo representado;Ā 
  • ao do rei, seu retrato que se completa nesse lado da tela que ele nĆ£o pode distinguir do lugar em que estĆ”;Ā 
  • ao do espectador, o centro real da cena, cujo lugar ele assumiu como que por intrusĆ£o.Ā 

Mas talvez essa generosidade do espelho seja simulada; talvez esconda tanto ou mais do que manifesta. O lugar onde impera o rei com sua esposa Ć© tambĆ©m o do artista e o do espectador: no fundo do espelho poderiam aparecer – deveriam aparecer – o rosto anĆ“nimo do transeunte e o de VelĆ”squez. Pois a função desse reflexo Ć© atrair para o interior do quadro o que lhe Ć© intimamente estranho: o olhar que o organizou e aquele para o qual ele se desdobra.Ā 

Mas, por estarem presentes no quadro, à direita e à esquerda, o artista e o visitante não podem estar alojados no espelho: 

do mesmo modo o rei aparece no fundo do espelho, na medida mesma em que não faz parte do quadro. 

Na grande voluta que percorria o perímetro do ateliê, desde o olhar do pintor, sua palheta e sua mão suspensa, até os quadros terminados, a representação nascia, completava-se para se desfazer novamente na luz; o ciclo era perfeito. 

Em contrapartida, as linhas que atravessam a profundidade do quadro são incompletas; falta, a todas, uma parte de seu trajeto. 

Essa lacuna Ć© devida Ć  ausĆŖncia do rei – ausĆŖncia que Ć© um artifĆ­cio do pintor. Mas esse artifĆ­cio recobre e designa um lugar vago que Ć© imediato: o do pintor e do espectador quando olham ou compƵem o quadro.Ā 

Ɖ que, nesse quadro talvez, como em toda representação de que ele Ć©, por assim dizer, a essĆŖncia manifestada,Ā 

  • a invisibilidade profunda do que se vĆŖ Ć© solidĆ”riaĀ 
  • com a invisibilidade daquele que vĆŖ – malgrado os espelhos, os reflexos, as imitaƧƵes, os retratos.Ā 

Em torno da cenaĀ 

  • estĆ£o depositados os signos e as formas sucessivas da representação;Ā 
  • mas a dupla relaçãoĀ 
    • da representação com o modelo e com o soberano,Ā 
    • com o autor e com aquele a quem ela Ć© dada em oferenda,Ā 
  • essa relação Ć© necessariamente interrompida.Ā 

Ela jamais pode estar toda presente, ainda quando numa representação que se desse a si própria em espetÔculo. 

Na profundidade que atravessa a tela, que a escava ficticiamente e a projeta para a frente dela própria, não é possível que a pura felicidade da imagem ofereça alguma vez, em plena luz, 

  • o mestre que representaĀ 
  • e o soberano representado.Ā 

Talvez haja, neste quadro de VelÔsquez, como que a representação da representação clÔssica e a definição do espaço que ela abre. 

Com efeito, ela intenta representar-se a si mesma em todos os seus elementos, com suas imagens, os olhares aos quais ela se oferece, os rostos que torna visĆ­veis, os gestos que a fazem nascer.Ā 

Mas aĆ­, nessa dispersĆ£o que ela reĆŗne e exibe em conjunto, por todas as partes um vazio essencial Ć© imperiosamente indicado: o desaparecimento necessĆ”rio daquilo que a funda – daquele a quem ela se assemelha e daquele a cujos olhos ela nĆ£o passa de semelhanƧa.Ā 

Esse sujeito mesmo – que Ć© o mesmo – foi elidido.Ā 

E livre, enfim, dessa relação que a acorrentava, a representação pode se dar como pura representação.

Ā 

Las meninas, Diego VelÔzquez, 1656; óleo sobre tela; Museu do Prado, Madrid, Espanha
Duas visƵes, duas leituras do fenƓmeno 'operaƧƵes':
sob o pensamento clƔssico, o de antes de 1775; (seta amarela)
sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
com duas amplitudes - abrangĆŖncias muito diferentes
]
Caos como um tipo de ordem instƔvel
em que as sequências temporais são muito complexas e revelam estruturas
que nos permitem melhor entender o mundo que nos cerca

Paleta de ideias ou elementos de imagem
presentes na configuração de pensamento clÔssico

O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

Proposição instanciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
designações primitivas inativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes e ativados; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
recuperada desde o Repositório para objeto desta operação
Proposição explicativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
Proposição enunciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção inexistentes; linguagem de ação ou raiz não contém a representação para essa empiricidade objeto
a proposição no pensamento clÔssico
ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca
a proposição no pensamento moderno: ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca
ECA-moderno
CaracterĆ­sticas do pensamento moderno
o de depois de 1825
ECA-ClƔssico
Caracterƭsticas do pensamento clƔssico
o de antes de 1775
homem no modelo de operaƧƵes do pensamento clƔssico, o de antes de 1775,
considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
como um gênero, ou uma espécie
os dois obstƔculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
caminho do Instanciamento da representação, com valor jÔ atribuído;
que tem inĆ­cio novamente no interior do Circuito das trocas
fontes de valor para a representação em construção: a) designações primitivas; b) linguagem de ação ou taiz.

Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da anÔlise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
do pensamento
funcionamento das operaƧƵes no pensamento clƔssico
Modelo de
Operação de produção
relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
e o sistema Input-Output
do LE da figura.
Modelo daĀ 
Organização de produção
Um modelo de organização sob o pensamento clÔssico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
mĆŗltiplos sistemas de categorias
Modelo de operaƧƵes
e de organização
Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
Modelo de  Operação
contƔbil-financeira
O modelo de operação
no sistema contƔbil-financeiro
Modelo da  Organização
ponto de vista financeiro
a organização no sistema contÔbil-financeiro

Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da anÔlise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
de operação do pensamento
O funcionamento das operaƧƵes no pensamento moderno
Modelo de
Operação de produção
relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e 'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'
Modelo daĀ 
Organização de produção
o modelo de organização 'Mapa da atividade semicondutores', da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
instanciamento de representação
O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
do movimento Reengenharia

O espaƧo interior do Triedro dos saberes – habitat das ciĆŖncias humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para alĆ©m do objeto

Assim, estes trĆŖs pares,

  • função e norma,
  • conflito e regra,
  • significação e sistema,

cobrem, por completo, o domĆ­nio inteiro do conhecimento do homem.Ā 

Mas, qualquer que seja a natureza da anƔlise e o domƭnio a que ela se aplica, tem-se um critƩrio formal para saber o que Ʃ

  • do nĆ­vel da psicologia,
  • da sociologia
  • ou da anĆ”lise das linguagens:Ā 

é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundÔrios que permitem saber em que momento

  • se ā€œpsicologizaā€ ou se ā€œsociologizaā€ no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou anĆ”lise sociológica.Ā 

Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

Só hÔ defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo XĀ  – As ciĆŖncias humanas;
Ā III. Os trĆŖs modelos
Michel FoucaultĀ 

O Triedro dos saberes: eixos e faces
espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
O interior ao Triedro dos saberes
o espaço das Ciências humanas

AquƩm do objeto

Não hÔ modelos constituintes nesta faixa do espectro, jÔ que nada é constituído na existência durante as operações;

  • o ponto de inserção na anĆ”lise do fenĆ“meno ‘operaƧƵes estĆ” no cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido na operação de troca.

Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.

Existem mĆŗltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inĆŗmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possĆ­veis de serem selecionadas.

Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

Diante do objeto

No eixo epistemológico fundamental – ciĆŖncias da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada Ć”rea do saber pode ser feita com um modelo constituinte especĆ­fico e próprio de cada uma delas:

  • em todas, o ponto de inserção na anĆ”lise do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ estĆ” antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existĆŖncia destes.

No que Foucault chama de ‘RegiĆ£o epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes sĆ£o compostos por pares constituintes, próprios a cada regiĆ£o do saber ou Ć”rea do conhecimento em que o modelo Ć© feito:

  • CiĆŖncias da vidaĀ (Biologia):


    função-norma
    ;

  • CiĆŖncias do trabalho (Economia):


    conflito-regra;

  • CiĆŖncias da Linguagem (Filologia):

    significação-sistema.

AlƩm do objeto

No campo das ciĆŖncias humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica.Ā 

Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

  • da Vida-(Biologia),
  • do Trabalho-(Economia)
  • e da Linguagem-(Filologia).

O Modelo constituinteĀ  de cada uma das CiĆŖncias Humanas – Ć© uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

  • CiĆŖncias da vidaĀ Ā (Biologia):
    função-norma;

    +
    CiĆŖncias do trabalho (Economia):

    conflito-regra;
    +
    CiĆŖncias da Linguagem (Filologia):
    significação-sistema.

Sob ciĆŖncias humanas como:

  • economia polĆ­tica;
  • sociologia,
  • psicologia e psicanĆ”lise

estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

- Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico:
pensamento moderno - caminho da Construção da representação
- Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clÔssico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades nĆ£o muda.

Encontra-seĀ 

  • sob o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775,
  • e tambĆ©m ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clÔssico
O Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
e onde se dÔ a articulação do pensamento do homem, com o impensado
O Circuito das trocas
as chaves horizontais amarelas
onde ocorrem operaƧƵes durante as quais o 'modo de ser fundamental'
não se altera

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clƔssico
não era
a harmonia visĆ­vel
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vĆŖ-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituƭram;

ela Ć©
o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.

[veja citação 2 à esquerda]

A referĆŖncia ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado Ć© uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou tĆ©cnica.

Qual serÔ a explicação para isso?

Por que praticamente ninguĆ©m fala no ‘Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

3assim também a História,
a partir do sƩculo XIX,
define o
lugar de nascimento
do que Ć© empĆ­rico,
lugar onde,
aquƩm
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel FoucaultĀ 

- Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico:
pensamento moderno - caminho da Construção da representação
- Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clÔssico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades nĆ£o muda.

Encontra-seĀ 

  • sob o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775,
  • e tambĆ©m ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clƔssico
não era
a harmonia visĆ­vel
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vĆŖ-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituƭram;

ela Ć©
o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.

[veja citação 2 à esquerda]

assim também a História,
a partir do sƩculo XIX,
define o
lugar de nascimento
do que Ć© empĆ­rico,
lugar onde,
aquƩm de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

A referĆŖncia ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado Ć© uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou tĆ©cnica.

Qual serÔ a explicação para isso?

Por que praticamente ninguĆ©m fala no ‘Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel FoucaultĀ 

QuestƵes/Perguntas

_thumb história do livro

A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,
Ā – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’ – subsĆ­dios para responder ao seguinte tipo de questƵes:

- Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico:
pensamento moderno - caminho da Construção da representação
- Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clÔssico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades nĆ£o muda.

Encontra-seĀ 

  • sob o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775,
  • e tambĆ©m ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clÔssico
O Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
e onde se dÔ a articulação do pensamento do homem, com o impensado
O Circuito das trocas
as chaves horizontais amarelas
onde ocorrem operaƧƵes durante as quais o 'modo de ser fundamental'
não se altera

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clƔssico
não era
a harmonia visĆ­vel
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vĆŖ-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituƭram;

ela Ć©
o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.

[veja citação 2 à esquerda]

A referĆŖncia ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado Ć© uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou tĆ©cnica.

Qual serÔ a explicação para isso?

Por que praticamente ninguĆ©m fala no ‘Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

3assim também a História,
a partir do sƩculo XIX,
define o
lugar de nascimento
do que Ć© empĆ­rico,
lugar onde,
aquƩm
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel FoucaultĀ 

QuestƵes/Perguntas

_thumb história do livro

A intenção com este estudo Ć© buscar no pensamento de Michel Foucault, Ā – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’ – subsĆ­dios para responder ao seguinte tipo de questƵes:

Os dois obstƔculos, as duas pedras de tropeƧo no caminho,
encontradas por Foucault durante seu trabalho no livro
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’

exemplos de modelos de operações e de organizações muito usados ainda hoje, mostrando esses dois obstÔculos presentes entre nós atualmente.

os dois obstƔculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
Michel Foucault
1926-1984

“Eis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico
que se impunhaĀ situar
– bem para alĆ©m das margens cronológicas dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo de certa
maneira moderna deĀ conhecer as empiricidades.

Ɖ que o pensamento que nos Ć© contemporĆ¢neo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado

1 pelaĀ impossibilidade,Ā 
trazida Ć  luz por voltaĀ 
do fim do século XVIII, 
deĀ fundar as sĆ­nteses
no espaço da representação:

2 e pela obrigação 
correlativa, simultânea, 

mas logo dividida contra si mesma,Ā 
deĀ abrir o campo transcendental da subjetividadeĀ e de constituir inversamente,Ā 
para além do objeto, 

esses ā€œquase-transcendentaisā€Ā 
que são para nós 
aĀ Vida, oĀ Trabalho, aĀ Linguagem.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;

CapĆ­tulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
tópico I – As novas empiricidades

no pensamento clƔssico
aquƩm do objeto
antes de 1775

no pensamento moderno
diante do objeto
depois de 1825

espaƧo interior
Triedro dos saberes
para alƩm do objeto
reservado Ć s
CiĆŖncias humanas

comparaƧƵes de diferentes configuraƧƵes de pensamento feitas por Michel Foucault
A impossibilidade
[no pensamento clƔssico,
LE da figura]
contra a sim-possibilidade
[no pensamento moderno,
LD da figura]
de fundar as sĆ­nteses
[da empiricidade objeto]
no espaço da representação.
o espaƧo interno do
Triedro dos saberes
- o habitat das ciĆŖncias humanas -
mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as CiĆŖncias Humanas

Os obstÔculos no caminho de Foucault 

aquƩm do objeto

diante do objeto

para alƩm do objeto

0 Foucault havia anteriormente identificado o perfil do pensamento no perĆ­odo clĆ”ssico, com uma configuração tal que a capacidade (ou a possibilidade – e mesmo a intenção) de fundar as sĆ­nteses – dos objetos de operaƧƵes cujas representaƧƵes resultassem dessas operaƧƵes – no espaƧo da representação nĆ£o era sequer cogitada:

  • em razĆ£o dos pressupostos adotados,

e principalmente, em razão 

  • do tipo de leitura feita do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ das trocas,Ā 
    • na leitura entĆ£o feita, o ponto de inĆ­cio do fenĆ“menoĀ  ‘operaƧƵes’, estava inserido no exato momento em que a troca tem todas as condiƧƵes para acontecer; (os dois objetos da troca – o dado e o obtido –Ā  tinham representaƧƵes disponĆ­veis e jĆ” carregadas de valor).

1 Michel Foucault relata a seguinte situação:

  • ele havia delineado um tipo de pensamento ‘com o qual queiramos ou nĆ£o pensamos’, um pensamento que segundo ele ‘tem a nossa idade e a nossa geografia’,
    • com a possibilidade de fundar as sĆ­nteses (da empiricidade objeto da operação) no espaƧo da representação;

para conseguir fundar as sínteses no espaço da representação,

  • foi necessĆ”rio alterar profundamente todos os pressupostos

e a leitura feita do que seja uma operação e a anÔlise de valor, exigiram:

  • o deslocamento do ponto de inserção da anĆ”lise desde o ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  • para um ponto antes da possibilidade da troca, quando os elementos que dĆ£o as condiƧƵes de efetivação dessa troca, ainda nĆ£o existissem,

incorporando à anÔlise, a operação de construção da representação nova. 

E ele havia percebido que esse pensamento com o qual queiramos ou não pensamos

  • estava muitoĀ contaminadodominado, mesmo –
    • justamente pela impossibilidade de fazer isso (essa fundação das sĆ­nteses do objeto da operação no espaƧo da representação), sendo esta impossibilidadeĀ  uma caracterĆ­stica do pensamento clĆ”ssico.

2 Ele percebia ainda uma obrigação a cumprir:

  • a de abrir o campo transcendental da subjetividade
    • e constituir, para alĆ©m do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.

Ele descobre que operações nos domínios das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem podem ser expressos completamente em cada domínio, por pares de modelos constituintes:

  • Vida(Biologia)
    • função-norma;
  • Trabalho(Economia)
    • conflito-regra;
  • Linguagem(Filologia)
    • significação sistema;

e que os modelos constituintes das Ciências humanas são sempre compostos por uma combinação desses três pares de modelos constituintes.

O Modelo constituinteĀ  de cada uma das CiĆŖncias Humanas – Ć© sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

  • CiĆŖncias da vidaĀ Ā (Biologia):
    [função-norma];

    +
    CiĆŖncias do trabalho (Economia):
    [conflito-regra];
    +
    CiĆŖncias da Linguagem (Filologia):
    [significação-sistema].

Podemos ver a atualidade dessa percepção de Foucault
com Exemplos de modelos para operaƧƵes e organizaƧƵes
construĆ­dos sobre estruturas de conceitos
uns que nĆ£o permitem, e outros que ao contrĆ”rio sim permitem
a fundação das sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação.

Veja isso aqui.

Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clÔssico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operaƧƵes e modelos de organizaƧƵes
com os respectivos tratamentos dados ao homem

homem no modelo de operaƧƵes do pensamento clƔssico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
como um gênero, ou uma espécie
homem no sistema de operaƧƵes do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papƩis:
1. raiz e fundamento de toda positividade
2. elemento do que Ć© empĆ­rico.

“Instaura-se
uma forma de reflexão
bastante afastada
do cartesianismo
e da anƔlise kantiana,
em que estÔ em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão
segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado,
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IXĀ  – O homem e seus duplos;
V. O cogito e o impensado
Michel FoucaultĀ 

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

“No pensamento clĆ”ssico,
aquele para quem
a representação existe,
e que nela se representa a si mesmo,
aĆ­ se reconhecendo
por imagem ou reflexo,
aquele que trama
todos os fios entrecruzados
da ā€œrepresentação em quadroā€ -,
esse [o ser do homem]
jamais se encontra lĆ” presente.

Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.

Sem dĆŗvida,
as ciĆŖncias naturais
trataram do homem comoĀ 

  • de uma espĆ©cie
  • ou de um gĆŖnero:Ā 

a discussão
sobre o problema das raƧas,
no sƩculo XVIII, o testemunha.
A gramƔtica e a economia,
por outro lado, utilizavam noƧƵes como as de necessidade,
de desejo,
ou de memória
e de imaginação.”

Mas não havia
consciência epistemológica

do homem como tal.

“Antes do fim do sĆ©culo XVIII,
o homem nĆ£o existia.”

“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papƩis:
estĆ”, ao mesmo tempo,

  • no fundamento
    de todas as positividades,
  • presente, de uma forma que nĆ£o se pode sequer dizer privilegiada,
    no elemento
    das coisas empĆ­ricas.

Esse fato
– e nĆ£o se trata aĆ­
da essĆŖncia em geral do homem,
mas pura e simplesmente
desse a priori histórico que,
desde o sƩculo XIX,
serve de solo quase evidente
ao nosso pensamento –
esse fato Ć©, sem dĆŗvida, decisivo
para o estatuto a ser dado
Ć s ā€œciĆŖncias humanasā€,
a esse corpo de conhecimentos
(mas mesmo esta palavra
Ć© talvez demasiado forte:
digamos,
para sermos mais neutros ainda,
a esse conjunto de discursos)
que toma por objeto o homem
no que ele tem de empĆ­rico.”

Ɖ possĆ­vel pensar as condiƧƵes em que se dĆ” a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espĆ©cie, ou gĆŖnero?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IX – O homem e seus duplos;
II. O lugar do rei
Michel FoucaultĀ 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo XĀ  – As ciĆŖncias humanas;
Ā I. O triedro dos saberes
Michel FoucaultĀ 

Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes de troca’ e respectivas possibilidades de anĆ”lise de valor que elas nos permitem fazer”

Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existĆŖncia dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexĆ£o que se instaura em nossa cultura.

O fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ (em qualquer Ć”rea): visƵes com duas abrangĆŖncias muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ – de qualquer tipo – e a anĆ”lise das diferentes origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes em função da inserção do ponto de inĆ­cio de leitura de ‘operaƧƵes’;Ā 

Duas visƵes, duas leituras do fenƓmeno 'operaƧƵes':
sob o pensamento clƔssico, o de antes de 1775; (seta amarela)
sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
com duas amplitudes - duas abrangĆŖncias muito diferentes

Note-se que as condiƧƵes para a ocorrĆŖncia da troca – a existĆŖncia simultĆ¢nea dos dois objetos de troca, o que Ć© dado e o que Ć© recebido – sĆ£o satisfeitas em duas situaƧƵes:

  • 1. no pensamento clĆ”ssico pelo posicionamento do ponto de inĆ­cio de leitura sob essa condição, quer dizer, a existĆŖncia prĆ©via do que Ć© dado e do que Ć© recebido;
  • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa prĆ©-condição no inĆ­cio do Instanciamento da representação, porĆ©m com a condição da execução anterior da Construção da representação, tambĆ©m incluĆ­da no escopo da operação.Ā 

Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as prĆ©-condiƧƵes para a ocorrĆŖncia da troca sĆ£o dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clĆ”ssico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

O que não muda entre essas duas possibilidades

A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

A proposição é para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo
mais geral e mais elementar,
porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IVĀ  – Falar;
tópico III – Teoria do verbo
Michel FoucaultĀ 

(…) Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
Ć© preciso que elas existam
jĆ” carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel FoucaultĀ 

O que simĀ muda entre essas duas possibilidades

A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

“Valer, para o pensamento clĆ”ssico,
Ć© primeiramente valer alguma coisa,
poder substituir essa coisa num processo de troca.

A moeda só foi inventada,
os preços só foram fixados e só se modificam
na medida em que essa troca existe.

Ora, a troca Ʃ um fenƓmeno simples
apenas na aparĆŖncia.

Com efeito, só se troca numa permuta,
quando cada um dos dois parceiros
reconhece um valor
para aquilo que o outro possui.

Num sentido, Ć© preciso, pois,
que as coisas permutƔveis,
com seu valor próprio,
existam antecipadamente nas mãos de cada um,
para que a dupla cessão e a dupla aquisição
finalmente se produzam.

Mas, por outro lado,

  • o que cada um come e bebe,
    aquilo de que precisa para viver
    não tem valor
    enquanto não o cede;
  • e aquilo de que nĆ£o tem necessidade
    Ć© igualmente desprovido de valor
    enquanto não for usado
    para adquirir alguma coisa de que necessite.

Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
Ć© preciso que elas existam
jĆ” carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação

  • (atual [troca imediata]
  • ou possĆ­vel [permutabilidade]),

isto Ć©, no interior

  1. da troca
    [representação existente]
  2. ou da permutabilidade
    [representação possível]
    .

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel FoucaultĀ 

O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior Ć  troca, na criação das condiƧƵes de troca

“DaĆ­ duas possibilidades simultĆ¢neas de leitura:

  1. leitura jƔ dadas as condiƧƵes de troca;
  2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

1 uma analisa o valor
no ato mesmo da troca,
no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;

  • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma anĆ”lise que coloca e encerra
    • toda a essĆŖncia da linguagem no interior da proposição;

3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto Ć©, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas Ć s outras; o verbo, tornando possĆ­veis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde Ć  troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preƧo pelo qual sĆ£o cedidas;

2 outra analisa-o
como anterior Ć  troca
e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.

  • a outra, a uma anĆ”lise que descobre essa mesma essĆŖncia da linguagem do lado das
    • designaƧƵes primitivas
    • linguagem de ação ou raiz;

4 a outra forma de anÔlise, a linguagem estÔ enraizada 

fora de si mesma e como que

    • na natureza, ou nasĀ  Ā 
    • analogias das coisas;

a raiz, o primeiro grito que dera nascimento Ć s palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde Ć  formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recĆ­procas da necessidade.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel FoucaultĀ 

Esta segunda leitura para ‘operaƧƵes’
– que orienta a anĆ”lise de valor
desde antes do momento da troca -,
não é possível sem a presença do homem
na estrutura dos modelos.

Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
mostrados nos modelos de operaƧƵes

Colocando o ponto de inserção de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ antes da existĆŖncia dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova.Ā Veja isso aqui.

As caracterƭsticas das duas configuraƧƵes do pensamento:

  • a do pensamento clĆ”ssico, de antes de 1775;
  • e a do pensamento moderno, de depois de 1825

caracterĆ­sticas de caracterĆ­sticas, ou caracterĆ­sticas de segunda ordem,
das configuraƧƵes do pensamento em cada caso.

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

_Estrutura IO-transformação
Os princĆ­pios organizadores
sob o pensamento clƔssico:
o de antes de 1775
'CarƔter' e 'Similitude'
Caracterƭsticas do pensamento clƔssico, o de antes de 1775
Os princƭpios organizadores desse espaƧo de empiricidades sob o pensamento moderno,
o de depois de 1825
'Analogia' e 'Sucessão'
CaracterĆ­sticas do pensamento moderno, o de depois de 1825

“Instaura-se
uma forma de reflexão
bastante afastada
do cartesianismo
e da anƔlise kantiana,
em que estÔ em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão
segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado,
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IXĀ  – O homem e seus duplos;
V. O cogito e o impensado
Michel FoucaultĀ 

“Assim o cĆ­rculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,Ā 

  • que hĆ” aqui um carĆ”terĀ 

no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo?Ā 

  • – Ɖ a semelhanƧa.Ā 

Ele significa na medida em que tem semelhanƧa com o que indica (isto Ʃ, com uma similitude).

Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediÔria da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia,Ā 
  • o da analogia na emulação,Ā 
  • o da emulação na conveniĆŖncia,Ā 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requerĀ 

  • a marca da simpatia…Ā 

A assinalação e o que ela designa sĆ£o exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem Ć© diferente; a repartição Ć© a mesma.”

De sorte que se vĆŖem surgir,
como princĆ­pios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

  • a AnalogiaĀ 
  • e a SucessĆ£o:Ā 

de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
não pode mais ser
a identidade de um
ou vƔrios elementos,
mas a identidade
da relação entre os elementos
(onde a visibilidade
não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizaƧƵes se avizinham
por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
localizações próximas
num espaço de classificação,
mas sim porque
foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
no devir das sucessƵes.
Enquanto, no pensamento clƔssico,
a seqüência das cronologias
não fazia mais que percorrer
o espaƧo prƩvio e mais fundamental
de um quadro
que de antemão apresentava
todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observƔveis simultaneamente
no espaço não serão mais que
as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clƔssica
distribuƭa num espaƧo permanente
as identidades
e as diferenças não-quantitativas
que separavam e uniam as coisas:
era essa a ordem
que reinava soberanamente,
mas a cada vez
segundo formas e leis
ligeiramente diferentes,
sobre o discurso dos homens,
o quadro dos seres naturais
e a troca das riquezas.

A partir do sƩculo XIX,
a História
vai desenrolar
numa sƩrie temporal
as analogias
que aproximam umas das outras
as organizaƧƵes distintas.

Ɖ essa História que,
progressivamente,
imporĆ” suas leis

  • Ć  anĆ”lise da produção,
  • Ć  dos seres organizados, enfim,
  • Ć  dos grupos linguĆ­sticos.

A História dÔ lugar
às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenƧas sucessivas.

Essa forma de reflexão surgida serÔ decorrência da segunda leitura do que seja uma operação de troca e portanto não pode prescindir do homem e do objeto?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo II – A prosa do mundo;
II. As assinalaƧƵes
Michel FoucaultĀ 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel FoucaultĀ 

os lugares onde ocorrem as operações: 

  • Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
    – operaƧƵes de Construção de representaƧƵes;
    • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades sim muda
  • Circuito onde ocorrem as trocas‘ ou Mercado
    – operaƧƵes de Instanciamento de representaƧƵes jĆ” existentes;
    • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades nĆ£o muda.
Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico:
pensamento moderno – caminho da Construção da representação
Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clÔssico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades nĆ£o muda.

Encontra-seĀ 

  • sob o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775,
  • e tambĆ©m ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, apenas no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico: lugar onde ocorrem operaƧƵes nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, e apenas no caminho da Construção da representação

O 'Circuito das trocas',
ou 'Mercado'
as chaves amarelas no LE da figura, lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clÔssico
O Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico - fora e antes do Mercado -
lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
e onde se dÔ a articulação
do pensamento do homem,
com o impensado
O Circuito das trocas
as chaves horizontais amarelas
no LD da figura, onde ocorrem operaƧƵes durante as quais
o 'modo de ser fundamental'
não se altera; é novamente o Mercado, agora no pensamento moderno

‘modo de ser fundamental das empiricidades’ Ć© o conceito chave aqui.

No pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775, pelos pressupostos adotados, Ć© impossĆ­vel definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades cuja definição escapa ao escopo destas operaƧƵes.

Estas operações transcorrem no interior do Circuito das trocas, a chave amarela horizontal, lugar onde não hÔ alteração no modo como as coisas se apresentam à operação.

No pensamento moderno, o de depois de 1825, pelos pressupostos adotados Ć© sim possĆ­vel definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades objeto da operação de Construção da representação que, se nova nesse domĆ­nio e ambiente, Ć© o próprio escopo destas operaƧƵes.

OperaƧƵes no caminho da Construção da representação transcorrem no interior do ‘Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’, as chaves coloridas verticais, em um espaƧo que engloba os lugaresĀ  desde onde se fala e do falado. O sucesso dessas operaƧƵes altera ‘o modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, e com isso, faz-se História.

No pensamento moderno, o de depois de 1825, em uma operação de Instanciamento de representação objeto cuja construção da representação foi anteriormente feita e incorporada ao Repositório, a representação objeto de Instanciamento é recuperada do Repositório.

Assim, a operação de Instanciamento nĆ£o altera o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto de instanciamento.

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clƔssico
não era
a harmonia visĆ­vel
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vĆŖ-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituƭram;

ela Ć©

o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaƧo do saber

para eventuais conhecimentos
e para ciĆŖncias possĆ­veis.

3 assim tambƩm
a História,
a partir do sƩculo XIX,
define o

lugar de nascimento
do que Ć© empĆ­rico,

lugar onde,
aquƩm
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

A referĆŖncia ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado Ć© uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou tĆ©cnica.

Qual serÔ a explicação para isso?

Por que praticamente ninguĆ©m fala no ‘Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel FoucaultĀ 

os princƭpios organizadores dos modelos de operaƧƵes que fazemos

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

_Estrutura IO-transformação
Os princĆ­pios organizadores
sob o pensamento clƔssico:
o de antes de 1775
‘CarĆ”ter’ e ‘Similitude’
Caracterƭsticas do pensamento clƔssico
o de antes de 1775

“Assim o cĆ­rculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,Ā 

  • que hĆ” aqui um carĆ”terĀ 

no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo?Ā 

  • – Ɖ a semelhanƧa.Ā 

Ele significa na medida em que tem semelhanƧa com o que indica (isto Ʃ, com uma similitude).

Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediÔria da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia,Ā 
  • o da analogia na emulação,Ā 
  • o da emulação na conveniĆŖncia,Ā 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requerĀ 

  • a marca da simpatia…Ā 

A assinalação e o que ela designa sĆ£o exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem Ć© diferente; a repartição Ć© a mesma.”

Os princƭpios organizadores desse espaƧo de empiricidades sob o pensamento moderno,
o de depois de 1825
'Analogia' e 'Sucessão'
CaracterĆ­sticas do pensamento moderno
o de depois de 1825

De sorte que se vĆŖem surgir,
como princĆ­pios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

  • a AnalogiaĀ 
  • e a SucessĆ£o:Ā 

de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
não pode mais ser
a identidade de um
ou vƔrios elementos,
mas a identidade
da relação entre os elementos
(onde a visibilidade
não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizaƧƵes se avizinham
por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
localizações próximas
num espaço de classificação,
mas sim porque
foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
no devir das sucessƵes.
Enquanto, no pensamento clƔssico,
a seqüência das cronologias
não fazia mais que percorrer
o espaƧo prƩvio e mais fundamental
de um quadro
que de antemão apresentava
todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observƔveis simultaneamente
no espaço não serão mais que
as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clƔssica
distribuƭa num espaƧo permanente
as identidades
e as diferenças não-quantitativas
que separavam e uniam as coisas:
era essa a ordem
que reinava soberanamente,
mas a cada vez
segundo formas e leis
ligeiramente diferentes,
sobre o discurso dos homens,
o quadro dos seres naturais
e a troca das riquezas.

A partir do sƩculo XIX,
a História
vai desenrolar
numa sƩrie temporal
as analogias
que aproximam umas das outras
as organizaƧƵes distintas.

Ɖ essa História que,
progressivamente,
imporĆ” suas leis

  • Ć  anĆ”lise da produção,
  • Ć  dos seres organizados, enfim,
  • Ć  dos grupos linguĆ­sticos.

A História dÔ lugar
às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenƧas sucessivas.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo II – A prosa do mundo;
II. As assinalaƧƵes
Michel FoucaultĀ 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel FoucaultĀ 

os lugares contidos dentro do ‘Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’:

  • o lugar ‘desde onde se fala
  • e o lugar ‘do falado‘;

consistentes com os blocos do ‘operar‘ e do ‘suporte ao operar‘ de Humberto Maturana

Esses dois lugares – o ‘desde onde se fala’ e o ‘do falado’ –
juntos delimitam o espaço onde se dÔ a articulação
do pensamento do homem com o impensado feita
no domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua
e sua ligação com o domínio do Discurso e da Representação

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clÔssico

Lugar desde onde se fala

Lugar do falado

são sub-espaços do Lugar de nascimento do que é empírico o que implica que o pensamento estÔ funcionando com o entendimento do pensamento moderno, o de depois de 1825, a coluna ao lado, portanto.

  • Lugar desde onde se fala nĆ£o pode ser delineado sob o pensamento clĆ”ssico pela falta da ideia e do elemento de imagem ‘homem’, aquele que fala, raiz e fundamento de toda positividade, e tambĆ©m da ideia do objeto resultado da articulação do pensamento com o impensado, feita pelo homem,;
  • e o Lugar do falado, analogamente, nĆ£o pode ser delineado no LE da figura.Ā 

todo o espaço  corresponde, no LE da figura, ao domínio todo em que ocorrem as operações sob o pensamento clÔssico, a saber, o domínio do Discurso e da Representação.

A leitura do que sejam Operações sob o entendimento no pensamento clÔssico pressupõe o ponto de inserção para anÔlise no exato cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca, cuja condição de possibilidade estÔ, desse modo, dada.

Lugar deste onde se fala:
ideias que formulam a proposição /
(sujeito e predicado do sujeito);
Lugar do falado:
ideias que dão suporte na experiência ao instanciamento da representação
no domĆ­nio e ambiente

Lugar do nascimento do que Ʃ empƭrico: espaƧo ocupado por:

  • Lugar desde onde se fala;
  • Lugar do falado

O Lugar de nascimento do que é empírico, como o nome sugere, estÔ situado antes do circuito das trocas, e em seu interior ocorre a construção de representação nova.

Essa visão do que sejam operações corresponde à leitura de operações, ou visão desse fenÓmeno como desde um ponto de inserção anterior à troca

Lugar desde onde se fala

As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidas na formulação da proposição estão contidas no espaço chamado de Lugar desde onde se fala:

  • sujeito: o homem na posição de raiz de toda positividade
  • predicado do sujeito
    • verbo: Forma de produção, o elemento central da operação de construção da representação;
    • atributo: a representação em construção, nas posiƧƵes extremas da operação de construção.

Esse espaƧo coincide com o espaƧo chamado por Humberto Maturana de ‘operar’, o retĆ¢ngulo vermelho na figura ao lado, parte do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico, mas no interior do domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua.

Lugar do falado

As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidos na sustentação da Forma de produção na experiência estão no lugar do falado:

  • elementos de suporte na experiĆŖncia Ć  Forma de produção, onde se encontram
    • processos, atividades, tasks

A operação de construção da representação escolhe os elementos de suporte na experiĆŖncia Ć  Forma de produção, que deve ser capaz de produzir quando implementada, uma instĆ¢ncia da representação com o operar vislumbrado – ou o mais próximo disso possĆ­vel. Humberto Maturana chama esse espaƧo de ‘suporte ao operar’, o retĆ¢ngulo amarelo na figura ao lado.Ā 

O Lugar do falado Ć© parte do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico, mas suas ideias – ou elementos de imagem – fazem parte do domĆ­nio do Discurso e da Representação.

“Ɖ preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,

ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,

preso Ć s mesmas regras,
obedecendo como elas
Ć s leis de regĆŖncia
e de concordância;


e depois,


em recuo em relação a elas todas,

numa região que

  • nĆ£o Ć©
    aquela do falado

  • mas aquelaĀ 
    donde se fala.

Ele estĆ” na orla do discurso,
na juntura entre

  • aquilo que Ć© dito

  • e aquilo que se diz,

exatamente lĆ” onde os signos
estĆ£o em via de se tornar linguagem.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

HĆ” correspondĆŖncias que precisam ser anotadas, entre elas:

  • no princĆ­pio dual de trabalho de David Ricardo
    • aquela atividade que estĆ” na origem do valor das coisasĀ 
    • tem suas ideias – ou seus elementos de imagem no lugar desde onde se fala
  • no LD – lado direito da figura 2 de Humberto Maturana
    • os dois blocos do ‘Explicar com Reformular’ em que Maturana divide suas explicaƧƵes
      • sobre o que acontecia com o ser vivo,
      • e o modo como ele o via no seu espaƧo de distinƧƵes
    • correspondem apropriadamente com o que Foucault chama respectivamente deĀ 
      • Lugar desde onde se fala eĀ 
      • Lugar do falado.

Processo e Mercado são os conceitos largamente utilizados;
e ao mesmo tempo não se ouve falar 

  • em Forma de produção
  • ou em Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico,
  • e menos ainda em Nexo da produção

como ideias – ou elementos de imagem – em modelos de operaƧƵes e organizaƧƵes

no pensamento clƔssico
aquƩm do objeto
antes de 1775

no pensamento moderno
diante do objeto
depois de 1825

espaƧo interior Triedro dos saberes
para alƩm do objeto
reservado Ć s CiĆŖncias humanas

AquƩm do objeto:
Processo

DianteĀ do objeto:
Forma de produção

AlƩm do objeto
Nexo da operação

o elemento central em operaƧƵes
no pensamento clƔssico
Processo
o elemento central em operaƧƵes
no pensamento moderno
Forma de produção
o Nexo da produção,
o elemento central do modelo de organização no formato SSS
  • Elemento central:
    • Processo

entendido sob o primeiro conceito de verbo explicado por Michel Foucault, como elemento gerador de um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, que o mais que faz é indicar a coexistência de duas representações.

  • caracterĆ­stica emergente:Ā 
    • fluxo
  • metĆ”foraĀ 
    • transformação Ćŗnica
  • Elemento central:
    • Forma de produção

entendida sob o segundo conceito de verbo explicado por Michel Foucault, tratado como um ser misto, inicialmente palavra entre palavras, preso às mesmas regras às mesmas regras, obedecendo como elas às mesmas leis de regência e concordância, e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado, mas aquela donde se fala.

  • caracterĆ­stica emergente:
    • permanĆŖncia
  • metĆ”fora
    • conversĆ£o ou duas transformaƧƵes
  • Elemento central:
    • Nexo da produção

a formulação para além do objeto associa o sistema cujo resultado é o produto, aquilo que se quer obter, com o instrumento imprescindível para obtê-lo.

  • propriedades emergentes:
    • simetria, simbiose e sinergia

Em um pensamento mĆ”gico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mĆ”gica de condĆ£o’ –Ā Ā Ć© possĆ­vel desejar algo e, sem mais nada, vĆŖ-lo surgir Ć  nossa frente depois do Plin!!!Ā 

Num ambiente de produção real, porĆ©m, nada Ć© produzido sem um instrumento com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS Ć© isso: a modelagem das operaƧƵes de produção do objeto desejado juntamente com as operaƧƵes de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fĆ”brica, subindo um nĆ­vel estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

o significado/tratamento atribuĆ­do ao que seja um ‘Verbo’;
para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

Ideias – ou elementos de imagem – centrais no LE e no LD da figura
Processo o elemento central no pensamento clƔssico
Forma de produção o elemento central no pensamento moderno, com as
designações primitivas e a linguagem de ação ou raiz

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

AquƩm do objeto

Conceito de Verbo 'Processo'
na configuração de pensamento
do perƭodo clƔssico, antes de 1775

Verbo como
Processo

“A Ćŗnica coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo,Ā 

  • a do verde
    e da Ɣrvore,

  • a do homem
    e da existĆŖncia

    ou da morte;Ā 

Ć© por isso que
o tempo dos verbos

não indica
aquele [tempo]

em que as coisas existiram
no absoluto,

mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”

Diante e AlƩm do objeto

Conceito de Verbo 'Forma de produção'
na configuração de pensamento
do perĆ­odo moderno, depois de 1825

Verbo como
Forma de produção

“Ɖ preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,

ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,

preso Ć s mesmas regras,
obedecendo como elas
Ć s leis de regĆŖncia
e de concordância;


e depois,


em recuo em relação a elas todas,

  • numa regiĆ£o que nĆ£o Ć©
    aquela do falado

  • mas aquela
    donde se fala.

Ele estĆ” na orla do discurso,
na juntura entre

  • aquilo que Ć© dito

  • e aquilo que se diz,

exatamente lĆ” onde os signos
estĆ£o em via de se tornar linguagem.”

Dadas as grandes diferenƧas entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, para o que seja um ‘Verbo’, e a total consistĆŖncia entre o segundo conceito/tratamento e ‘Forma de produção’

  • por que serĆ” que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

o significado/tratamento atribuĆ­do ao que seja um ‘Classificar’;
para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

AquƩm
do objeto

O conceito de 'Classificar'
no pensamento clƔssico
o de antes de 1775

‘Classificar’
no pensamento clƔssico

AquƩm do objeto,
isto Ć©,
no pensamento filosófico Classico
o de antes de 1775

nessa faixa do espectro de modelos
que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

Classificar
Ć© referir

  • o visĆ­vel
  • a si mesmo,

encarregando um dos elementos
de representar os outros.”

Diante e AlƩm
do objeto

O conceito de 'Classificar'
no pensamento moderno
o de depois de 1825

‘Classificar’
no pensamento moderno

Diante, e Além do objeto, 
isto Ć©,Ā 
no pesamento filosófico moderno,
o de depois de 1825

nessa faixa do espectro de modelosĀ 
que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

“Em um movimento
que faz revolver a anƔlise

Classificar
Ć© referir

  • o visĆ­velĀ 
  • ao invisĆ­velĀ 

– como a sua razĆ£o profunda -,Ā 

e depois,
alƧar de novo
dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus
sinais manifestos,
que são dados
Ć  superfĆ­cie dos corpos.”

Dadas as grandes diferenƧas entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, por que serĆ” que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

pares de modelos constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental

  • da Vida(Biologia) [função-norma],
  • do Trabalho(Economia) [conflito-regra]
  • e da Linguagem(Filologia) [significação-sistema]

e o modelo constituinte padrão, comum a todas das ciências humanas; um modelo composto por uma combinação entre esses três pares de modelos constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem

no pensamento clƔssico
antes de 1775
aquƩm do objeto

no pensamento moderno
depois de 1825
diante do objeto

no pensamento moderno
tambƩm depois de 1825
para alƩm do objeto

não hÔ modelos constituintes sob o pensamento clÔssico

O Triedro dos saberes: eixos e faces
espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
O interior ao Triedro dos saberes
o espaço das Ciências humanas

AquƩm do objeto

Não hÔ modelos constituintes nesta faixa do espectro, jÔ que nada é constituído na existência durante as operações;

Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.

Existem mĆŗltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inĆŗmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possĆ­veis de serem selecionadas.

Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

Diante do objeto

A modelagem em cada Ôrea do saber é feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

No que Foucault chama de ‘RegiĆ£o epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes sĆ£o compostos por pares constituintes, próprios a cada regiĆ£o do saber ou Ć”rea do conhecimento em que o modelo Ć© feito:

  • CiĆŖncias da vidaĀ (Biologia):


    [função-norma]
    ;

  • CiĆŖncias do trabalho (Economia):


    [conflito-regra];

  • CiĆŖncias da Linguagem (Filologia):

    [significação-sistema].

AlƩm do objeto

No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
da Vida
-(Biologia), do Trabalho-(Economia) e da Linguagem-(Filologia).

O Modelo constituinte  de cada uma das CiĆŖncias Humanas – Ć© sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

  • CiĆŖncias da vida  (Biologia):
    [função-norma];

    +
    CiĆŖncias do trabalho (Economia):
    [conflito-regra];

    +
    CiĆŖncias da Linguagem (Filologia):
    [significação-sistema].

Proposição: o bloco construtivo

  • padrĆ£o,
  • genĆ©rico
  • e fundamental

oferecido pela gramÔtica da língua para construção de representações.

Esse bloco construtivo ‘proposição’ carrega valor para as representaƧƵes, mas faz isso de ao menos dois modos diferentes e com duas visƵes distintas para o que sejam ‘operaƧƵes’.

“Valer, para o pensamento clĆ”ssico, Ć© primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preƧos só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

Ora, a troca é um fenÓmeno simples apenas na aparência.

Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutÔveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que

  • a dupla cessĆ£o
  • e a dupla aquisição

finalmente se produzam.

Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra,

  • Ć© preciso que elas existam jĆ” carregadas de valor;
    • e, contudo, o valor só existe no interior da representação
      (atual ou possĆ­vel), isto Ć©,
    • no interior da troca ou da permutabilidade.

“A proposição Ć©
para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento
sua forma,
ao mesmo tempo
mais geral
e mais elementar
porquanto,
desde que a decomponhamos,
não encontremos mais o discurso
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel FoucaultĀ 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. IV – Falar;
tópico: III – A teoria do verbo
Michel Foucault

no pensamento clƔssico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

a proposição no pensamento clÔssico
ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca

a toda a essĆŖncia da linguagem  encerrada – diretamente – na própria proposição;

junto com esse ‘encerramento’ vĆ£o as ideias – ou elementos de imagem – necessĆ”rios para a formulação da proposição, que assim, nĆ£o participam do modelo de operaƧƵes.

a proposição no pensamento moderno ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca

a descoberta da essência da linguagem  fora dela mesma, linguagem; a proposição formulada no modelo por suas ideias ou elementos de imagem presentes; inicialmente vazia, apenas um enunciado, é preenchida de valor a partir de duas fontes:

  • as designaƧƵes primitivas;
  • a linguagem de ação ou raiz

ambas assinaladas na figura.

“DaĆ­ duas possibilidades simultĆ¢neas de leitura:

1 uma analisa o valor

  • no ato mesmo da troca,

no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;

  • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma anĆ”lise que coloca e encerra toda a essĆŖncia da linguagem no interior da
    • proposição;

3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto Ć©, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas Ć s outras; o verbo, tornando possĆ­veis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde Ć  troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preƧo pelo qual sĆ£o cedidas;

2 outra analisa-o

  • como anterior Ć  trocaĀ 

e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.

  • a outra, a uma anĆ”lise que descobre essa mesma essĆŖncia da linguagem
    do lado das
    • designaƧƵes primitivas
    • linguagem de ação ou raiz;

4 a outra forma de anÔlise, a linguagem estÔ enraizada 

  • fora de si mesma e como que
    • na natureza, ou nasĀ  Ā 
    • analogias das coisas;

a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor,

  • antes da troca
  • e das medidas recĆ­procas da necessidade.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel FoucaultĀ 

Ideias – ou elementos de imagem – requeridos para a
Formulação da proposição, e valor carregado 

Ideias – ou elementos de imagem requeridos para formulação da proposição ausentes da estrutura do modelo de operação.

Valor carregado diretamente na proposição.

impossibilidade de formulação da proposição com ideias – ou elementos de imagem – requeridos, pela ausĆŖncia do homem em sua duplicidade de papĆ©is, e pela noção de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.

Proposição formulada com ideias ou elementos de imagem pertencentes à estrutura interna do modelo de operações;

Valor carregado pela proposição com origem fora da linguagem

  • designaƧƵes primitivas

a busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para a representação da empiricidade objeto no domínio e ambiente em que a operação acontece. 

  • linguagem de ação ou raiz

todo o conteúdo do Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, à disposição da construção de novas representações.

Os tipos de sistemas que dão suporte a operações,
em função da configuração do pensamento:

  • no pensamento clĆ”ssico: o sistema Input-Output, ou um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
  • no pensamento moderno: um sistema construĆ­do no interior do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico, lugar onde as empiricidades objeto das operaƧƵes adquirem ‘o ser que lhes Ć© próprio’.

no pensamento clƔssico
antes de 1775
verbo ‘Processo

no pensamento moderno
depois de 1825
verbo ‘Forma de produção

questão/pergunta

Operação clÔssica sob o conceito de Verbo 'Processo'
na configuração de pensamento
do perƭodo clƔssico, antes de 1775

“A Ćŗnica coisa
que o verbo afirma

é a coexistência de duas representações:
por exemplo,Ā 

  • a do verde
    e da Ɣrvore,

  • a do homem
    e da existĆŖncia

    ou da morte;Ā 

Ć© por isso
que o tempo dos verbos

não indica
aquele [tempo]

em que as coisas existiram
no absoluto,

mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”

Operação moderna sob o conceito de
Verbo 'Forma de produção'
na configuração de pensamento
do perĆ­odo moderno, depois de 1825

“Ɖ preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,

ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,

preso Ć s mesmas regras,
obedecendo como elas
Ć s leis de regĆŖncia
e de concordância;


e depois,


em recuo em relação a elas todas,

  • numa regiĆ£o que nĆ£o Ć©
    aquela do falado

  • mas aquela
    donde se fala.

Ele estĆ” na orla do discurso,
na juntura entre

  • aquilo que Ć© dito

  • e aquilo que se diz,

exatamente lĆ” onde os signos
estĆ£o em via de se tornar linguagem.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

O tipo de sistema

O conceito acima é explícito em fornecer uma descrição do tipo de sistema para operações sob o pensamento clÔssico.

Trata-se deĀ 

  • um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si;Ā 

uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

asdf

Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

O tipo de leitura

asdf

Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

asdf

Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

o tempo nas operações, em função dos sistemas
em cada segmento do espectro de modelos

no pensamento clƔssico
antes de 1775
aquƩm do objeto

no pensamento moderno
depois de 1825
diante e para alƩm do objeto

no pensamento moderno
tambƩm depois de 1825
diante e para alƩm do objeto

formulação reversível
e somenteĀ 
instanciamento
da representação;
deus Chronos

formulação irreversível
e operação de construção
da representação 
deus Kairós

formulação reversível
 e operação instanciamento
da representação
deus Chronos

pensamento clƔssico, o de antes de 1775
tempo calendƔrio no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada
pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação
pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

AquƩm do objeto

Diante ou para além do objeto

Nota: a existência precede as distinções feitas na operação.

Tempo na formulação e no instanciamento da representação:

  • formulação reversĆ­vel durante a formulação;
  • tempo calendĆ”rio, ou tempo relativo no sentido de que
    • dada a inserção calendĆ”rio de um evento (i) ou (f),
    • a posição calendĆ”rio do outro evento (f) ou (i) pode ser calculada com as propriedades aparentes disponĆ­veis antes e depois da operação;
  • irreversibilidades somente na etapa de instanciamento da representação

NĆ£o hĆ” nada que possa ser afirmado, posto, disposto e repartido no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e ciĆŖncias possĆ­veis e assim nĆ£o se pode falar em ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja.Ā 

Assim, no pensamento clĆ”ssico, nĆ£o Ć© possĆ­vel adotar esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, que Ć© compreendida como sucessĆ£o de fatos assim como se sucedem.

caminho da
Construção da representação
Nota: a existência se constitui com as distinções feitas na operação

Durante essa operação, a empiricidade objeto da operação, sim, muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domĆ­nio e ambiente em decorrĆŖncia da operação.

Tempo no caminho da Construção da representação, durante a formulação da representação:

  • formulação irreversĆ­vel durante a formulação;
  • tempo absoluto no sentido de que a empiricidade objeto ‘assume o ser que lhe Ć© próprio’ em decorrĆŖncia da operação, e entĆ£o:
    • dada a inserção calendĆ”rio de um evento (i) ou (f)
    • nĆ£o Ć© possĆ­vel o cĆ”lculo da inserção calendĆ”rio do outro evento (f) ou (i) a partir dessa inserção calendĆ”rio do evento anterior em virtude da nĆ£o disponibilidade das propriedades antes/depois da operação;
  • Ā irreversibilidades ocorrem na formulação da operação de construção da representação.

A empiricidade objeto da operação tem um novo ‘modo de ser fundamental’, isto Ć©, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e ciĆŖncias possĆ­veis’.

Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operaƧƵes,Ā sim, faz-se história.

Ā caminho do
Instanciamento da representação

Nota: a existência volta a preceder as distinções feitas na operação.
Ā 

Durante essa operação a empiricidade objeto nĆ£o muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domĆ­nio e ambiente em decorrĆŖncia da operação.

Tempo  no caminho do Instanciamento da representação previamente existente no Repositório e dele recuperada para a posição de empiricidade objeto na presente operação de instanciamento:

  • formulação volta a ser reversĆ­vel; (Ć© possĆ­vel descartar uma formulação de instanciamento e formular outra com novas escolhas, sem perdas;
  • tempo volta a ser tempo calendĆ”rio, ou tempo relativo;
  • irreversibilidades no caminho do Instanciamento da representação ocorrem em decorrĆŖncia do desencadeamento dos elementos de suporte na experiĆŖncia Ć  Forma de produção.

A empiricidade objeto da operação tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ com que foi recuperada do repositório, isto Ć©, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e ciĆŖncias possĆ­veis’ exatamente da mesma forma como havia sido acrescentada ao repositório.

Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da História, durante esse tipo de operaƧƵes nĆ£o se faz história.

Modelagem de operaƧƵes e organizaƧƵes organizadas pelo par sujeito-objeto, com operaƧƵes especƭficas e separadas para cada um desses pares, porƩm relacionadas:

Ā 

  • um modelo para a operação e organização para o objeto esperado pelo Cliente (Produto);
  • e um modelo para a operação e organizaçãoĀ  para o instrumento capaz de obter o Produto, bem como obter o objeto esperado pelo Acionista (BenefĆ­cios de toda espĆ©cie, Lucros)

Mapa geral das operações na disposição SSS

Modelagem para uma organização incluindo o objeto esperado de interesse do Cliente
e o instrumento capaz de obtê-lo, e também o objeto esperado de interesse do Acionista
identificando o nexo da produção

Argumento: a modelagem de operaƧƵes
organizada pelo par sujeito-objeto

Construção da estrutura de operaƧƵes na disposição SSS – SimĆ©trica, Simbiótica e SinĆ©rgica

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Cronologia bÔsica da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura ocidental entre os anos 1775-1825 segundo Michel Foucault.

  • fases e ponto de ruptura desse evento;
  • linha de tempo com as defasagens entre conquistas no pensamento e respectivo uso nas Ć”reas tĆ©cnicas;
  • alguns autores importantes de um e de outro lado desse evento;
  • ponto de entrada do homem em nossa cultura;
  • alguns autores citados como referĆŖncias em modelos sociais, econĆ“micos e polĆ­ticos
Michel Foucault
1926-1984

“E foi realmente necessĆ”rioĀ 
um acontecimento fundamental
– um dos mais radicais, sem dĆŗvida, 1
que ocorreram na cultura ocidental,
para que se desfizesse a positividade do saber clÔssico
e se constituĆ­sse uma positividade de que, por certo,
nĆ£oĀ saĆ­mos inteiramente.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prÔtica

cronologia bÔsica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prÔtica

O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

Ā “Ɖ somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirĆ£o um modo de ser que nĆ£o Ć© mais compatĆ­vel com o da representação.

Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as anĆ”lises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na Ć©poca de Jones ou de Anquetil-Duperron,

  • Ć© a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
    • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros,Ā 
    • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e deĀ articulação,Ā 
    • como chegam, pelo jogo das comparaƧƵes, a estabelecer uma ordem. “

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
Cap.VII – Os limites da representação
tópico I. A idade da história

Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciĆŖncias humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

  • autores clĆ”ssicos:
    • Adam Smith,
    • John Locke,Ā 
    • David Hume,Ā 
    • J. J. Rousseau,Ā 
    • Jeremy Bentham,Ā 
    • e J. M. Keynes (este, expressamente classificado por Foucault como nĆ£o moderno)
  • autores modernos:
    • David Ricardo
    • Sigmund Schlomo FreudĀ 
    • entre muitos outros.

Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

  • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
  • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
  • David Ricardo, economista, 1772-1823

Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da anÔlise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
do pensamento
funcionamento das operaƧƵes no pensamento clƔssico
Modelo de
Operação de produção
relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
e o sistema Input-Output
do LE da figura.
Modelo daĀ 
Organização de produção
Um modelo de organização sob o pensamento clÔssico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
mĆŗltiplos sistemas de categorias
Modelo de operaƧƵes
e de organização
Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
Modelo de  Operação
contƔbil-financeira
O modelo de operação
no sistema contƔbil-financeiro
Modelo da  Organização
ponto de vista financeiro
a organização no sistema contÔbil-financeiro

Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da anÔlise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
de operação do pensamento
O funcionamento das operaƧƵes no pensamento moderno
Modelo de
Operação de produção
relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e 'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'
Modelo daĀ 
Organização de produção
o modelo de organização 'Mapa da atividade semicondutores', da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
instanciamento de representação
O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
do movimento Reengenharia

O espaƧo interior do Triedro dos saberes – habitat das ciĆŖncias humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para alĆ©m do objeto

Assim, estes trĆŖs pares,

  • função e norma,
  • conflito e regra,
  • significação e sistema,

cobrem, por completo, o domĆ­nio inteiro do conhecimento do homem.Ā 

Mas, qualquer que seja a natureza da anƔlise e o domƭnio a que ela se aplica, tem-se um critƩrio formal para saber o que Ʃ

  • do nĆ­vel da psicologia,
  • da sociologia
  • ou da anĆ”lise das linguagens:Ā 

é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundÔrios que permitem saber em que momento

  • se ā€œpsicologizaā€ ou se ā€œsociologizaā€ no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou anĆ”lise sociológica.Ā 

Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

Só hÔ defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo XĀ  – As ciĆŖncias humanas;
Ā III. Os trĆŖs modelos
Michel FoucaultĀ 

O Triedro dos saberes: eixos e faces
espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
O interior ao Triedro dos saberes
o espaço das Ciências humanas

AquƩm do objeto

Não hÔ modelos constituintes nesta faixa do espectro, jÔ que nada é constituído na existência durante as operações;

  • o ponto de inserção na anĆ”lise do fenĆ“meno ‘operaƧƵes estĆ” no cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido na operação de troca.

Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.

Existem mĆŗltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inĆŗmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possĆ­veis de serem selecionadas.

Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

Diante do objeto

No eixo epistemológico fundamental – ciĆŖncias da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada Ć”rea do saber pode ser feita com um modelo constituinte especĆ­fico e próprio de cada uma delas:

  • em todas, o ponto de inserção na anĆ”lise do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ estĆ” antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existĆŖncia destes.

No que Foucault chama de ‘RegiĆ£o epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes sĆ£o compostos por pares constituintes, próprios a cada regiĆ£o do saber ou Ć”rea do conhecimento em que o modelo Ć© feito:

  • CiĆŖncias da vidaĀ (Biologia):


    função-norma
    ;

  • CiĆŖncias do trabalho (Economia):


    conflito-regra;

  • CiĆŖncias da Linguagem (Filologia):

    significação-sistema.

AlƩm do objeto

No campo das ciĆŖncias humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica.Ā 

Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

  • da Vida-(Biologia),
  • do Trabalho-(Economia)
  • e da Linguagem-(Filologia).

O Modelo constituinteĀ  de cada uma das CiĆŖncias Humanas – Ć© uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

  • CiĆŖncias da vidaĀ Ā (Biologia):
    função-norma;

    +
    CiĆŖncias do trabalho (Economia):

    conflito-regra;
    +
    CiĆŖncias da Linguagem (Filologia):
    significação-sistema.

Sob ciĆŖncias humanas como:

  • economia polĆ­tica;
  • sociologia,
  • psicologia e psicanĆ”lise

estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

A descrição feita por Michel Foucault de duas possibilidades
de posicionamento do pensamento com relação a valor

“Valor, para o pensamento clĆ”ssico, Ć© primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preƧos só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

Ora, a troca é um fenÓmeno simples apenas na aparência.

Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutÔveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que a dupla cessão e a dupla aquisição finalmente se produzam.

Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra, é preciso que elas existam jÔ carregadas de valor; e, contudo, o valor só existe no interior da representação (atual ou possível), isto é, no interior da troca ou da permutabilidade.

Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

  1. uma analisa o valor no ato mesmo da troca, no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  2. outra analisa-o como anterior à troca e como condição primeira para que esta ossa ocorrer.

Os dois pontos de partida distintos adotados pelo pensamento para anƔlise de valor

1. a primeira possibilidade de leitura

A anƔlise de valor no ato mesmo da troca,
no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido

2. a segunda possibilidade de leitura

A anƔlise de valor como anterior Ơ troca
e como condição primeira para que esta possa ocorrer.

A primeira dessas duas leituras corresponde a uma anÔlise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da proposição;

  • no [neste] primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto Ć©, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas Ć s outras; o verbo, tomando possĆ­veis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde Ć  troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preƧo pelo qual sĆ£o cedidas;

a outra, [corresponde] a uma anĆ”lise que descobre essa mesma essĆŖncia da linguagem do lado das designaƧƵes primitivas – linguagem de ação ou raiz(*);

  • na outra [nesta] forma de anĆ”lise, a linguagem estĆ” enraizada fora de si mesma e como que na natureza ou nas analogias das coisas; a raiz, o primeiro grito que dera nascimento Ć s palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde Ć  formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recĆ­procas da necessidade.

Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho do Instanciamento da representação

Propriedades das operaƧƵes e organizaƧƵes modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento clƔssico, antes de 1775

Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho da Construção da representação

ReflexƵesImaginativas

Reflexões imaginativas no espaço-tempo das Permanências e dos Fluxos

com a licenƧa de Augusto de Franco pelo enxerto (quase parƔfrase) feito sobre o tƭtulo de um de seus trabalhos.

  • O espĆ­rito com que estou escrevendo e pistas sugestivas de espaƧo para mudanƧas

  • InfluĆŖncias, inspiraƧƵes, a plataforma adotada para exposição de ideias
  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, de 1966, a nossa Cartilha; cujo autor, Michel Foucault, merece o tĆ­tulo de Engenheiro de Produção emĆ©rito
  • O fenĆ“meno das das operaƧƵes; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia, dos modelos; MetĆ”foras adequadas para modelos de operaƧƵes; Propriedades emergentes em função das configuraƧƵes do pensamento
  • Unanimidades em conceitos, seja pelo uso, seja pelo desuso:
  • Alguns (7) exemplos de modelos descritivos da produção e de organizaƧƵes, existentes;
  • A visĆ£o SSS – SimĆ©trica, Simbiótica e SinĆ©rgica, para organizaƧƵes de qualquer tipo: modelagem simultĆ¢nea do objeto esperado, e do instrumento necessĆ”rio para obter esse objeto
  • InfluĆŖncias e inspiraƧƵes;
  • Plataforma adotada para exposição de ideias;
  • Imaginação e Conceituação: funƧƵes humanas reversĆ­veis entre ocorrĆŖncias espacio-temporais – imagens – textos;
  • Os caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana Romesin;
  • Nosso roteiro e nossa inspiração.Ā 

Influências e inspirações

1 a influĆŖncia de VilĆ©m Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’:Ā 

uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

textos ↔ imagens ↔ e ocorrĆŖncias espacio-temporais;Ā 

e ainda, não menos importante

    • as imagens tradicionais, as imagens tĆ©cnicas, as classes de abstraƧƵes que usamos cotidianamente;
VilƩm-Flusser-Portrait-008
VilƩm Flusser
1920-1991

2 as sugestƵes de Humberto Maturana nos livros: Cognição, CiĆŖncia e Vida cotidiana; EmoƧƵes e Linguagem na Educação e na PolĆ­tica; ‘De mĆ”quinas e de seres vivos’:

objeƧƵes e propostas de mudanƧa feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das crĆ­ticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

Humberto Maturana
1928-

3 a influĆŖncia especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’:

a descoberta de duas pedras de tropeƧo durante seu trabalho nesse livro, a saber:

    • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
    • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para alĆ©m do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
Michel Foucault
1926-1984

Roteiro e inspiração

Veja aqui os seguintes pontos:

  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’ tal como visto por seu autor, Michel Foucault;
  • A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ contada por Michel Foucault no PrefĆ”cio desse livro, associada a imagens;
  • O espaƧo a ser ocupado pelo estudo em estilo de arqueologia realizado no ‘As palavras e as coisas’;
  • A descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura, posicionada por Michel Foucault entre os anos de 1775 e 1825;
  • O que exatamente Foucault via quanto ao que acontecia com as formas de
  • A forma de reflexĆ£o que se instaura em nossa cultura e os dois perfis de conceitos caracterĆ­sticos das duas configuraƧƵes do pensamento;Ā 
  • pensamento em nossa cultura e a modos distintos de absorver o mundo;
  • O espectro de modelos com trĆŖs segmentos – AQUƉM, DIANTE e para ALƉM do objeto, traƧado a partir dessa visĆ£o e da forma de reflexĆ£o que se instaura em nossa cultura, por Michel Foucault
  • As duas opƧƵes alternativas para a visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’, com diferentes abrangĆŖncias, e as respectivas duas origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes; as correspondentes duas configuraƧƵes de funcionamento da própria linguagem e do pensamento, e os modelos resultantes em cada caso.
  • Conceitos homĆ“nimos mas com significados diferentes entre o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775, e o moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault;
  • A anĆ”lise das riquezas: (riquezas: um domĆ­nio, solo e objeto da “economia” na idade clĆ”ssica, segundo Michel Foucault);

Veja esses pontos a seguir:

O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, na visĆ£o de Michel Foucault

“Ora, esta investigação arqueológica mostrou duas grandes descontinuidades na epistĆ©mĆŖ da cultura ocidental:

  • aquela que inaugura a idade clĆ”ssica (por volta dos meados do sĆ©culo XVII)
  • e aquela que, no inĆ­cio do sĆ©culo XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

A ordem,
sobre cujo fundamento pensamos,
não tem o mesmo modo de ser
que a dos clƔssicos.

Por muito forte que seja a impressão que temos de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,

  • por mais que pensemos que a classificação de Lineu, mais ou menos adaptada, pode de modo geral continuar a ter uma espĆ©cie de validade,
  • que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do sĆ©culo XIX,
  • que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias anĆ”lises com as de Cantillon,
  • que o propósito da GramĆ”tica geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em BauzĆ©e) nĆ£o estĆ” tĆ£o afastado de nossa atual linguĆ­stica 

 – toda esta quase-continuidade ao nĆ­vel das idĆ©ias e dos temas nĆ£o passa, certamente, de um efeito de superfĆ­cie; no nĆ­vel arqueológico, vĆŖ-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciƧa na curva dos sĆ©culos XVIII e XIX.

Não que a razão tenha feito progressos;

  • mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; Ć© que foi profundamente alterado.

Se a história natural de Tournefort, de Lineu e de Buffon tem relação com alguma coisa que não ela mesma,

  • nĆ£o Ć© com a biologia, a anatomia comparada de Cuvier ou o evolucionismo de Darwin,
  • mas com a gramĆ”tica geral de BauzĆ©e, com a anĆ”lise da moeda e da riqueza tal como a encontramos em Law, em VĆ©ron de Fortbonnais ou em Turgot.

Os conhecimentos chegam talvez a se engendrar; as ideias a se transformar e a agir umas sobre as outras (mas como? até o presente os historiadores não no-lo disseram);

  • uma coisa, em todo o caso, Ć© certa:
    • a arqueologia,
      • dirigindo-se ao espaƧo geral do sabe!;
      • a suas configuraƧƵes
      • e ao modo de ser das coisas que aĆ­ aparecem,
    • define sistemas de simultaneidade, assim como a sĆ©rie de mutaƧƵes necessĆ”rias e suficientes para circunscrever o limiar de uma positividade nova.

Assim, a anÔlise pÓde mostrar a coerência que existiu, durante toda a idade clÔssica, entre

  • a teoria da representação e as
    • da linguagem,
    • das ordens naturais,
    • da riqueza e do valor:

Ɖ esta configuração que, a partir do sĆ©culo XIX, muda inteiramente;

  • a teoria da representação desaparece como fundamento geral de todas as ordens possĆ­veis;
  • a linguagem, por sua vez, como quadro espontĆ¢neo e quadriculado primeiro das coisas, como suplemento indispensĆ”vel entre a representação e os seres, desvanece-se;
  • uma historicidade profunda penetra no coração das coisas, isola-as e as define na sua coerĆŖncia própria.

Impõe-lhes formas de ordem que são implicadas pela continuidade do tempo;

  • a anĆ”lise das trocas e da moeda cede lugar ao estudo da produção,
  • a do organismo toma dianteira sobre a pesquisa dos caracteres taxinĆ“micos;
  • e, sobretudo, a linguagem perde seu lugar privilegiado e torna-se, por sua vez, uma figura da história coerente com a espessura de seu passado.

Na medida, porƩm, em que as coisas giram sobre si mesmas,

  • reclamando para seu devir nĆ£o mais que o princĆ­pio de sua inteligibilidade
  • e abandonando o espaƧo da representação,

o homem,
por seu turno, entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.

Estranhamente, o homem – cujo conhecimento passa, a olhos ingĆŖnuos, como a mais velha busca desde Sócrates – nĆ£o Ć©, sem dĆŗvida, nada mais que uma certa brecha na ordem das coisas, uma configuração, em todo o caso, desenhada pela disposição nova que ele assumiu recentemente no saber:

DaĆ­ nasceram todas as quimeras dos novos humanismos, todas as facilidades de uma “antropologia “, entendida como reflexĆ£o geral, meio positiva, meio filosófica, sobre o homem.

Contudo, Ć© um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que

  • o homem nĆ£o passa de uma invenção recente, uma figura que nĆ£o tem dois sĆ©culos, uma simples dobra de nosso saber;
  • e que desaparecerĆ” desde que este houver encontrado uma forma nova.”

“VĆŖ-se que esta investigação responde um pouco, como em eco, ao projeto de escrever uma história da loucura na idade clĆ”ssica; ela tem, em relação ao tempo, as mesmas articulaƧƵes, tomando como seu ponto de partida o fim do Renascimento e encontrando, tambĆ©m ela, na virada do sĆ©culo XIX; o limiar de uma modernidade de que ainda nĆ£o saĆ­mos.

Enquanto, na história da loucura,

  • se interrogava a maneira como uma cultura pode colocar sob uma forma maciƧa e geral a diferenƧa que a limita,Ā 

trata-se aquiĀ Ā 

  • de observar a maneira como ela experimenta a proximidade das coisas, como ela estabelece o quadro de seus parentescos e a ordem segundo a qual Ć© preciso percorrĆŖ-los.

Trata-se, em suma, de uma história da semelhança:

  • sob que condiƧƵes o pensamento clĆ”ssico pĆ“de refletir, entre as coisas, relaƧƵes de similaridade ou de equivalĆŖncia que fundam e justificam as palavras, as classificaƧƵes, as trocas?
  • A partir de qual a priori histórico foi possĆ­vel definir o grande tabuleiro das identidades distintas que se estabelece sobre o fundo confuso, indefinido, sem fisionomia e como que indiferente, das diferenƧas?

A história da loucura
seria a história do Outro

– daquilo que, para uma culturaĀ Ā 
Ć© ao mesmo tempo
interior e estranho,
a ser portanto excluĆ­do
(para conjurar-lhe o perigo interior),
encerrando-o porƩm
(para reduzir-lhe a alteridade);

a história da ordem das coisas
seria a história do Mesmo
Ā 

– daquilo que, para uma cultura,
Ć© ao mesmo tempo
disperso e aparentado,
a ser portanto distinguido por marcas
e recolhido em identidades.

E se se pensar que a doença é, ao mesmo tempo, 

  • a desordem, a perigosa alteridade no corpo humano e atĆ© o cerne da vida,Ā 

mas também 

  • um fenĆ“meno da natureza que tem suas regularidades, suas semelhanƧas e seus tipos –

vê-se que lugar poderia ter uma arqueologia do olhar médico.

Da experiência-limite do Outro às formas constitutivas do saber médico e, destas, à ordem das coisas e ao pensamento do Mesmo, o que se oferece à anÔlise arqueológica 

  • Ć© todo o saber clĆ”ssico,Ā 
  • ou melhor; esse limiar que nos separa do pensamento clĆ”ssico e constitui nossa modernidade.

Nesse limiar apareceu pela primeira vez esta estranha figura do saber que se chama homem e que abriu um espaço próprio às ciências humanas.

Tentando trazer Ć  luz esse profundo desnĆ­vel da cultura ocidental, Ć© a nosso solo silencioso e ingenuamente imóvel que restituĆ­mos suas rupturas, sua instabilidade, suas falhas; e Ć© ele que se inquieta novamente sob nossos passos.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
PrefƔcio

Veja essa história em uma animação abaixo. Esta animação relaciona o texto de Foucault com as estruturas de operações sob as duas configurações do pensamento, a do clÔssico, de antes de 1775, e a do moderno, depois de 1825.

Provavelmente você vai se sentir mais confortÔvel se antes de ver esta figura, visualizar o funcionamento das operações nesses dois casos.

A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’,
de Michel Foucault, contada por ele mesmo

1 – A ideia que deu origem ao livro ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas

que pode ser vista junto com outras animações  mais, nesta pÔgina:

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no PrefÔcio

Se quiser ver o funcionamento das operações no pensamento clÔssico e no moderno (usando os critérios de Foucault para essa identificação, veja a pÔgina seguinte:

Funcionamento das operações para as configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Essa história estĆ” contada por Foucault no PrefĆ”cio do ‘As palavras e as coisas’, e estĆ” aquiĀ  no inĆ­cio desta apresentação pela ideia de sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estĆ£o representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operaƧƵes em dois perfis que podem ser associados Ć s configuraƧƵes do pensamentoĀ  nos perĆ­odos de antes e de depois de um evento ao qual Foucault dĆ” o status de ‘evento fundador da nossa modernidade’ – uma descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825 -, tendo o pensamento clĆ”ssico, antes de 1775, e o moderno, depois de 1825:

  • o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clĆ”ssico;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfĆ­cies ordenadas que tornam para nós sensata a profusĆ£o dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prĆ”tica milenar do Mesmo e do Outro;
  • associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operaƧƵes)
  • o texto da EnciclopĆ©dia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clĆ”ssico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso.
  • Que coisa Ć© impossĆ­vel pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que nĆ£o convĆ©m:
    • seria a utilização de um grande nĆŗmero de ordens possĆ­veis na dimensĆ£o sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham,
    • porque arruĆ­nam de antemĆ£o a sintaxe
      • e nĆ£o somente a sintaxe que constrói as frases
      • tambĆ©m aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operaƧƵes, e tambƩm modelos de organizaƧƵes.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do PrefÔcio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

Este estudo em estilo de arqueologia feito por Michel Foucault no
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’,
tem como tema:

  • nĆ£o propriamente produƧƵes de pensamento formuladas e configuradas,Ā 
  • e ainda menos, produƧƵes do pensamento jĆ” em funcionamento – com seus sucessos e insucessos, e submetidas a possĆ­veis desvirtuamentos;Ā 
  • mas o tema inerente a esse estilo em arqueologia Ć© quais sĆ£oĀ 
    • as condiƧƵes de possibilidade no pensamento nas quais esta ou aquela produção do pensamento – teoria, modelo ou sistema – pode ser formulada.Ā 

Enquanto com inventividade e laivos de criatividade conseguimos criar infinidades de formulações sobre um mesmo perfil de condições de possibilidade do pensamento, que acabam muitas vezes sendo combinações lineares de formulações anteriores, mesmo com muita criatividade e toda a inventividade possível os conjuntos determinantes de condições de possibilidade não proliferam do mesmo modo.

A anÔlise, compreensão e utilização
de produƧƵes do pensamento
– teorias, modelos e sistemas –
tomadas quando jĆ” formuladas e configuradas,
Ć© extremamente (mais) difĆ­cil;
e ainda tanto mais o serĆ”,
se o conhecimento consciente
das respectivas condiƧƵes de possibilidade
no pensamento não se verificar.
Essas dificuldades se agravarão
se a produção do pensamento objeto de anÔlise
estiver em pleno uso em um ambiente,
influindo sobre ele – e dele recebendo influĆŖncias
– que certamente incidirĆ£o sobre a anĆ”lise.

O excertoĀ da Cartilha, o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, –Ā abaixo selecionadoĀ descreve o que Ć© esse estudo em estilo de arqueologia realizado por Foucault, e como sĆ£o as operaƧƵes no antes e no depois desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento, a descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825, descrita por ele.

Você pode ver agora a nossa interpretação do que conseguimos apreender desse texto, ou primeiro ler o texto original e depois ver esta animação:

A idade da história em três tempos:
uma descrição de Foucault, do que seja sua arqueologia das ciências humanas

o que tambƩm pode ser visto na pƔgina seguinte:

A idade da história em três tempos: uma descrição de Foucault do que seja a sua arqueologia das ciências humanas.

PoderÔ ser útil ver também o funcionamento das operações

Funcionamento das operações em função das configurações do pensamento de antes de 1775 e de depois de 1825, datas limites da ocorrência desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento. 

AVISO: tudo o que se segue neste trabalho depende da distinção estabelecida entre os dois modos de ver ‘operaƧƵes’ correspondentes Ć s duas configuraƧƵes do pensamento, expressas nas animaƧƵes acima
a partir do texto de Foucault abaixo.

Diz Foucault:Ā 

“A arqueologia, essa,
deve percorrer o acontecimento
segundo sua disposição manifesta;

ela dirÔ como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
(ela analisa por exemplo,Ā 

                      • para a gramĆ”tica, o desaparecimento do papel maior atribuĆ­do ao nome
                        e a importância nova dos sistemas de flexão; 

                      • ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do carĆ”ter Ć  função);Ā 

ela analisarÔ a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

                      • (a substituição do discurso pelas lĆ­nguas,Ā 

                      • das riquezas pela produção);Ā 

estudarÔ o deslocamento das positividades umas em relação às outras

                    • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciĆŖncias da linguagem e a economia);Ā 

enfim e sobretudo, mostrarƔ que o espaƧo geral do saber

                      • nĆ£o Ć© mais o das identidades e das diferenƧas, o das ordens nĆ£o-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma mĆ”thĆŖsis do nĆ£o-mensurĆ”vel,Ā 

                      • mas um espaƧo feito de organizaƧƵes, isto Ć©,
                        de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;

mostrarÔ que essas organizações são descontínuas,
que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas,
mas que algumas são do mesmo nível
enquanto outras traçam séries ou sequências lineares. 

De sorte que se vĆŖem surgir,
como princƭpios organizadores desse espaƧo de empiricidades,

a Analogia e a Sucessão:


de uma organização a outra,

o liame, com efeito,
•  nĆ£o pode mais ser
a identidade de um ou vƔrios elementos,
•  mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel)
e da função que asseguram;

ademais, se porventura essas organizaƧƵes se avizinham

por efeito de uma densidade
singularmente grande
de analogias,
↓ nĆ£o Ć© porque ocupem localizaƧƵes próximas

num espaço de classificação,
↑ mas sim porque foram formadas
uma ao mesmo tempo que a outra
e uma logo após a outra

no devir das sucessões. 

Enquanto, no pensamento clÔssico, 

                • a sequĆŖncia das cronologias nĆ£o fazia mais que percorrer o espaƧo prĆ©vio e mais fundamental de um quadro que de antemĆ£o apresentava todas as suas possibilidades,Ā 

doravanteĀ 

                • as semelhanƧas contemporĆ¢neas
                  e observƔveis simultaneamente no espaƧo
                  não serão mais que as formas depositadas e fixadas

                  de uma sucessão que procede
                  de analogia em analogia.Ā 

A ordem clÔssica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas. 

A partir do sƩculo XIX,
a História vai desenrolar numa série temporal
as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas. 

Ɖ essa História que, progressivamente, imporĆ” suas leis

                      • Ā Ć  anĆ”lise da produção,Ā 

                      • Ć  dos seres organizados, enfim,Ā 

                      • Ć  dos grupos linguĆ­sticos.Ā 

A História
dÔ lugar às organizações analógicas,

assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades

e das diferenƧas sucessivas.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

Veja isto emĀ 

A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825,
segundo o pensamento de Michel Foucault

ou ainda na seguinte pƔgina

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault

De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:

  • antes de 1775 – pensamento clĆ”ssico ou idade clĆ”ssica do pensamento, com modelos com a (im)possibilidade de fundar as sĆ­nteses da empiricidade objeto da operação, no espaƧo da representação;
  • depois de 1825 – pensamento moderno ou a nossa modernidade no pensamento, com modelos com a possibilidade de fundar as sĆ­nteses da empiricidade objeto da operação, no espaƧo da representação.

Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dÔ o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.

Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clÔssico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clÔssica.

Michel Foucault vĆŖ o pensamento que nos Ć© contemporĆ¢neo – e com o qual queiramos ou nĆ£o pensamos – muito dominado por:

  • uma impossibilidade – a de fundar as sĆ­nteses do objeto das operaƧƵes de pensamento, no espaƧo da representação;
  • e uma obrigação ainda nĆ£o cumprida – a de abrir o campo transcendental da subjetividade e constituir, para alĆ©m do objeto, esses quase-transcendentais que sĆ£o para nós a Vida, o Trabalho e a Linguagem.

e aparentemente ele imputa a esse domĆ­nio do nosso pensamento por essas questƵes, o tempo e dificuldades em acrĆ©scimo que precisou enfrentar em seu trabalho no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’.

Impossibilidade X Possibilidade
de fundar as sĆ­nteses (da empiricidade objeto)
no espaço da representação

A impossibilidade [no pensamento clƔssico, antes de 1775]
contra a sim-possibilidade [no pensamento moderno, depois de 1825]
de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação.

A obrigação cumprida:
os quase-transcendentais
Vida, Trabalho e Linguagem constituĆ­dos

A classe de modelos das ciĆŖncias humanas: um modelo composto pelos trĆŖs pares constituintes
da Vida(Biologia) [função-norma]
do Trabalho (Economia) [conflito-regra]
da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

Veja o que ele diz, o mesmo texto colocado em duas animações e no excerto abaixo em seu original, que têm a finalidade de reunir as ideias em elementos de imagem que compõem duas estruturas diferentes, nos dois lados de uma mesma imagem:

ā€œEis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para alĆ©m das margens cronológicas
dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.Ā 

Ɖ que o pensamento que nos Ć© contemporĆ¢neoĀ 
e com o qual, queiramos ou não, pensamos, 
se acha ainda muito dominadoĀ 

  • pelaĀ impossibilidade,
    trazida Ơ luz por volta do fim do sƩculo XVIII,
    de fundar as sĆ­nteses
    no espaço da representação.

  • e pelaĀ obrigaçãoĀ 
    correlativa, simultânea,
    mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir oĀ campoĀ transcendental
    da subjetividadeĀ 
    e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas (Cartilha);
CapĆ­tulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades
de Michel Foucault

as animaƧƵes acima tambƩm podem ser vistas nesta pƔgina

Os dois obstƔculos, as duas pedras de tropeƧo, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,

com especial destaque para o segundo obstÔculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.

E o funcionamento das operaƧƵes tanto no pensamento clƔssico, o de antes de 1775, como no moderno, depois de 1825, usando o critƩrio de Foucault, pode ser visto na seguinte pƔgina:

Ā 

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faƧa um ato de fƩ no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com trĆŖs segmentos, que decorre dessa visĆ£o, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinƧƵes entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’:Ā 

Como se vĆŖ pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capĆ­tulo 7 de um trabalho em dez capĆ­tulos, quando escreveu esse trecho Foucault jĆ” tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstĆ”culos, duas pedras de tropeƧo que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessĆ”rio para fazer esse livro; ele via:Ā Ā 

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação; 
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a deĀ abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e LinguagemĀ 

O espectro de modelos com trĆŖs segmentos: AQUƉM, DIANTE e ALƉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa anÔlise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com aĀ impossibilidadeĀ 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para alĆ©m do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTEĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade,Ā 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituĆ­dos, para alĆ©m do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • paraĀ ALƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sĆ­nteses dos objetos das operaƧƵes no espaƧo da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividadeĀ e foramĀ constituĆ­dos para alĆ©m do objeto, os ā€œquase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:Ā 
        estes, os modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas.Ā 

ā€œInstaura-se uma forma de reflexĆ£o,Ā 
bastante afastada do cartesianismo e da anÔlise kantiana, 
em que estÔ em questão,
pela primeira vez,Ā 
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento se dirige ao impensadoĀ 
e com ele se articula.ā€
Ā 

Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O ā€œcogitoā€ e o impensado

Veja isso associado a uma figura na qual os elementos de imagem escolhidos compõem uma estrutura que pode ser comparada com por exemplo, o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817 

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura
com esse perfil de conceitos do pensamento moderno, o de depois de 1825

Veja também o funcionamento das operações, especificamente no segmento DIANTE do objeto e na etapa da Construção da representação.

Nesse excerto da Cartilha, Foucault modela dinamicamente uma proposição que se ajusta a cada etapa da operação, coloca em cada proposição:

  • o ser do homem (o sujeito)
  • dirigindo-se ao objeto, o impensado,Ā  (atributo do predicado do sujeito).Ā 

Nota: Nessa forma de reflexĆ£o que se instaura, ‘o ser do homem’ nĆ£o se dirige ao intangĆ­vel, mas ao impensado! (que pode ser tambĆ©m intangĆ­vel, sem problemas)Ā  Muitas vezes o intangĆ­vel continua exatamente assim, intangĆ­vel, mesmo depois que o pensamento tenha dado um jeito no seu aspecto impensado.Ā  Ā 

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrÔrio do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.  

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e estÔ na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagensĀ 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

O espectro de modelos com trĆŖs segmentos: AQUƉM, DIANTE e ALƉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa anÔlise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com aĀ impossibilidadeĀ 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para alĆ©m do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTEĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade,Ā 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituĆ­dos, para alĆ©m do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • paraĀ ALƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sĆ­nteses dos objetos das operaƧƵes no espaƧo da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividadeĀ e foramĀ constituĆ­dos para alĆ©m do objeto, os ā€œquase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:Ā 
        estes, os modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas.Ā 

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Resumidamente, podemos ler operaƧƵes, as que ocorrem no circuito das trocas (Mercado) ou outras, de qualquer tipo –Ā  posicionando o ponto deĀ  inĆ­cio da leitura desse fenĆ“meno de duas maneiras diferentes:
  1. ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ colocado noĀ  cruzamento da disponibilidade entre dois objetos intervenientes na operação de troca: o que Ć© dado e o que Ć© recebido, testando as condiƧƵes de troca;
  2. ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ antes do cruzamento da disponibilidade entre os dois objetos – o que Ć© dado e o que Ć© recebido – e portantoĀ antes da disponibilidade de um dos objetos, testando desta vez a permutabilidade futura desse objeto e nĆ£o imediatamente as condiƧƵes de troca.

O carregamento de valor na proposição em cada caso:

  1. valor é carregado diretamente na proposição desde dentro do espaço da representação;
  2. valor é carregado na proposição desde fora do espaço da representação, com origens de valor externas ao espaço da representação, provenientes de:
    1. designaƧƵes primitivas;
    2. linguagem de ação ou raiz.

Operações inspiradas no Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, têm valor carregado na proposição diretamente de dentro do espaço da representação;

Operações calcadas no Princípio Dual de trabalho de David Ricardo têm valor carregado na proposição e por elas para as representações como no segundo caso acima.

As diferenƧas nas visƵes de ‘operaƧƵes’ decorrentes de diferenƧas no posicionamento do ponto de inĆ­cio de leitura do fenĆ“meno, podem ser vistas nas animaƧƵes que descrevem o funcionamento das operaƧƵes em cada caso:

Ā 
essas diferenƧas tambƩm podem ser vistas na pƔgina seguinte:
  • a animação correspondente ao pensamento clĆ”ssico posiciona o inĆ­cio da leitura de ‘operaƧƵes’ no cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido, pressupondo portanto, a disponibilidade desses dois objetos;
  • a animação correspondente ao pensamento moderno posiciona o inĆ­cio de leitura de ‘operaƧƵes’ antes desse ponto, quando ainda um dos objetos envolvidos em uma futura troca estĆ” indisponĆ­vel.
O texto de Foucault sobre essas duas alternativas de inserção do ponto de inĆ­cio da visĆ£o de ‘operaƧƵes’ estĆ” na pĆ”gina seguinte:
E essas mudanças estão refletidas no tópico 
‘Uma anatomia ou uma Cartografia de modelos de operaƧƵes em função da configuração do pensamento’
Ā 
Para entender melhor os elementos de imagem que representam a origem de valor para as proposições desde fora da linguagem e fora do espaço da representação: 
  • ‘designaƧƵes primitivas’
  • eĀ ‘linguagem de ação ou raiz’,Ā 
veja a figura seguinte.

Operação de Construção de representação nova, no caminho da Construção da representação
sob o pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825 segundo Michel Foucault;
mostrando a origem de valor nas proposiƧƵes externa Ơ linguagem:
a) designações primitivas e b) linguagem de ação e a função que desempenham na operação.
Ā 
Ā 
Se essa figura lhe parecer ‘poluĆ­da’, pense o seguinte:
  • ela mostra uma fotografia de um instante na operação de construção da representação nova;
    • a representação para o objeto dessa operação foi concluĆ­da;
    • os elementos de suporte na experiĆŖncia Ć  Forma de produção foram nada mais do que selecionados – encontrados e/ou desenvolvidos;
    • foi construĆ­do um objeto anĆ”logo ao vislumbrado para essa empiricidade objeto, representado na figura pela SucessĆ£o de analogias.
  • acaba de ser formulada uma proposição explicativa porque foi obtida sustentação na experiĆŖncia para todos os quesitos atribuĆ­dos ao objeto cuja representação aca acaba de ser construĆ­da.
  • as designaƧƵes primitivas, ao lado da linguagem de ação ou de uso sĆ£o as origens do valor atribuĆ­do a essa proposição.

Se a figura ainda lhe parecer confusa, e achar que vale a pena esclarece-la, veja novamente o Funcionamento das operaƧƵes.

Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clÔssico e sob o moderno. 

Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:

  • 0. os dois princĆ­pios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo;
    • diferenƧas na paleta de ideias ou elementos de imagem e suas estruturas;
    • comparaƧƵes entre os dois princĆ­pios feitas por Michel Foucault;
    • as duas diferentes origens de valor atribuĆ­do Ć  proposição pela distinta opção de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’.
  • 1. dois conceitos para o que seja um verbo;
  • 2. dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
  • 3. dois papĆ©is atribuĆ­dos ao homem;
  • 4. dois tipos de reflexĆ£o assumidos pelo pensamento;
  • 5. duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova;
  • 6. dois conceitos para História;
  • 7. dois espaƧos gerais do saber;
  • 8. dois conceitos para tempo: calendĆ”rio e absoluto;
  • 9. a proposição como bloco construtivo padrĆ£o fundamental e genĆ©rico para construção de representaƧƵes.
  • 10. Tabela de propriedades das duas configuraƧƵes do pensamento.

Veja abaixo as diferenƧas entre os dois princƭpios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, usando as palavras de Michel Foucault

AquƩm do objeto
Adam Smith, 1776

PrincĆ­pio monolĆ­tico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das NaƧƵes, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

PrincĆ­pio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

ComparaƧƵes entre os dois princƭpios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princĆ­pios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparaƧƵes entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

As duas diferentes origens de valor para a proposição, em função da configuração de pensamento adotada

Os elementos de imagem, as ideias, que permitem formular o modelo de operações baseado diretamente na linguagem e na representação
Os elementos de imagem, as ideias,
que permitem formular o modelo de operaƧƵes
desde fora da linguagem
a partir das designaƧƵes primitivas
– e da linguagem de ação ou de raiz(*)

Conceito de Verbo ‘Processo’ na configuração de pensamento
do perƭodo clƔssico, antes de 1775
Conceito de Verbo ‘Forma de produção’ na configuração
de pensamento do perĆ­odo moderno, depois de 1825

Processo
como verbo

Ā 

ā€œA Ćŗnica coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo,Ā 

          • a do verde
            e da Ɣrvore,

          • a do homem
            e da existĆŖncia

            ou da morte;Ā 

Ć© por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele [tempo]
em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.ā€

‘Forma de produção’
como verbo

ā€œĆ‰ preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
preso Ć s mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância;

e depois,


em recuo em relação a elas todas,

numa regiĆ£o que

          • nĆ£o Ć© aquela do falado

          • mas aquela donde se fala.

Ele estĆ” na orla do discurso,
na juntura entre

          • aquilo que Ć© dito

          • e aquilo que se diz,

exatamente lĆ” onde os signos
estĆ£o em via de se tornar linguagem.ā€

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar

Classificar, portanto,
não serÔ mais
referir o visĆ­vel
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;

SerĆ”
num movimento que faz revolver a anƔlise,
reportar o visĆ­vel,
ao invisĆ­vel,
como a sua razão profunda;
depois,
alƧar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparĆŖncias”]
que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault

pensamento clƔssico, antes de 1775
segmento AQUƉM do objeto

o homem estĆ” fora da paleta de ideias
no pensamento clƔssico, o de antes de 1775
era tratado como um gênero, ou uma espécie
do Sistema de Categorias

pensamento moderno, depois de 1825
segmento DIANTEĀ  do objeto

os dois papƩis do homem no pensamento moderno,
o de depois de 1825:
a) raiz e fundamento de toda positividade;
b) elemento do que Ć© empĆ­rico

O modo de ser do homem,
tal como se constituiu no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papƩis:
estĆ”, ao mesmo tempo,

  • no fundamento de todas as positividades,

  • presente, de uma forma que nĆ£o se pode sequer dizer privilegiada, no elemento das coisas empĆ­ricas.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cao. 10. As ciĆŖncias humanas;
tópico I. O triedro dos saberes

“Assim o cĆ­rculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,

que hĆ” aqui um
carƔter

no qual convƩm se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo?Ā 

– Ɖ a semelhanƧa.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude). 

Contudo,Ā 

  • nĆ£o Ć© a homologia que ele assinala,Ā 

pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; 

  • trata-se de outra semelhanƧa,Ā 

uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, Ć© patenteada por uma terceira.Ā 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediÔria da mesma semelhança. 

De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia,Ā 
  • o da analogia na emulação,Ā 
  • o da emulação na conveniĆŖncia,Ā 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requerĀ 

  • a marca da simpatia…Ā 

A assinalação e o que ela designa sĆ£o exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem Ć© diferente; a repartição Ć© a mesma.”

“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirĆ” como as configuraƧƵes próprias a cada positividade se modificaramĀ 

  • (ela analisa por exemplo, para a gramĆ”tica, o desaparecimento do papel maior atribuĆ­do ao nome e a importĆ¢ncia nova dos sistemas de flexĆ£o; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do carĆ”ter Ć  função);Ā 

ela analisarÔ a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

  • (a substituição do discurso pelas lĆ­nguas, das riquezas pela produção);Ā 

estudarÔ o deslocamento das positividades umas em relação às outras 

  • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciĆŖncias da linguagem e a economia);Ā 

enfim e sobretudo, mostrarÔ que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma mÔthêsis do não-mensurÔvel, 

  • mas um espaƧo feito de organizaƧƵes, isto Ć©, de relaƧƵes internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;Ā 
  • mostrarĆ” que essas organizaƧƵes sĆ£o descontĆ­nuas, que nĆ£o formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas sĆ£o do mesmo nĆ­vel enquanto outras traƧam sĆ©ries ou sequĆŖncias lineares.Ā 

Ā De sorte que se vĆŖem surgir,Ā 

como princĆ­pios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

a Analogia
e a Sucessão:

de uma organização a outra, o liame, com efeito, 

  • nĆ£o pode mais ser a identidade de um ou vĆ”rios elementos,
  • mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade nĆ£o tem mais papel)Ā 
  • e da função que asseguram;Ā 

ademais, se porventura essas organizaƧƵes se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,

  • nĆ£o Ć© porque ocupem localizaƧƵes próximas num espaƧo de classificação,
  • mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessƵes.Ā 

Enquanto, no pensamento clƔssico,

a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,

doravante

as semelhanças contemporâneas e observÔveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia.  (*)

Ā 

Ā 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

A sintaxe que autoriza
a construção das frases
A sintaxe que autoriza a manter juntas,
ao lado ou em frente umas das outras,
as palavras e as coisas

pensamento clƔssico,
de antes de 1775

pensamento moderno,
de depois de 1825

História entendida como

  • a coleta das sucessƵes de fatos
    tais como se constituĆ­ram.

História entendida como 

  • o modo de ser fundamental das empiricidades,

    Ā 

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,Ā 

    • postas,Ā 

    • dispostasĀ 

    • e repartidas no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis

Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituƭram;
ela Ć© o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaƧo do saber
para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.

Assim como a Ordem no pensamento clƔssico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico,
lugar onde,
aquƩm de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe Ć© próprio. 

As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

AquƩm do objeto

espaço geral do saber sob o pensamento filosófico clÔssico

Diante do objeto

o Triedro dos saberes
exceto as ciĆŖncias humanas

 Além do objeto

o espaƧo interno do Triedro dos saberes
– o habitat das ciĆŖncias humanas –
mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as CiĆŖncias Humanas

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

AquƩm do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clƔssico, o de antes de 1775
tempo calendƔrio no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

também Diante do objeto

formulação sim reversível
 e instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

A anÔlise das riquezas, junto com a gramÔtica geral e a história natural, no pensamento clÔssico- o de antes de 1775, são contrapostas à anÔlise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.

“Nem vida,
nem ciĆŖncia da vida
na Ʃpoca clƔssica;
tampouco filologia.

Mas sim
uma história natural,
uma gramƔtica geral.

Do mesmo modo,
não hÔ economia política

porque, na ordem do saber,
a produção não existe.


Em contrapartida,
existe, nos sƩculos XVII e XVIII,

uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem Ć© de ā€œnoçãoā€ que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econƓmicos

que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.

Trata-se antes de um domĆ­nio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,

que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.


Esse domĆ­nio,

solo e objeto da ā€œeconomiaā€ na idade clĆ”ssica,
Ć© o da riqueza.

 InĆŗtil colocar-lhe questƵes
vindas de uma economia de tipo diferente,

organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;

 inĆŗtil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,

com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A anĆ”lise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a anÔlise de riquezas do pensamento filosófico clÔssico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)

O mĆ­nimo que somos chamados a fazer Ć© esclarecer as razƵes pelas quais o conceito ‘riquezas’ Ć© tĆ£o largamente utilizado; e as razƵes pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao perĆ­odo clĆ”ssico.

Veja a seguir os pontos:

  • O funcionamento de operaƧƵes – do pensamento, as de produção, as de troca, antes e depois desse evento fundamental em nossa cultura, antes e depois dele;
  • As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessĆ”rias para cada operacionalidade;
  • Os domĆ­nios nos quais as operaƧƵes acontecem, em função da configuração do pensamento;
  • O tempo nas operaƧƵes em função da configuração do pensamento e da etapa da operação;
  • O lugar dado ao homem em cada configuração do pensamento;
  • Uma Anatomia ou uma Cartografia de modelos de operaƧƵes em função da configuração do pensamento;
  • Um verdadeiro manual para construção de modelos para qualquer ciĆŖncia humana, modelos nos quais o campo transcendental da subjetividade foi aberto e foram constituĆ­dos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, escrito pelo próprio Michel Foucault
  • MetĆ”foras adequadas para modelos de operaƧƵes respectivamente para cada configuração do pensamento;
  • Propriedades emergentes dos modelos de operaƧƵes e organizaƧƵes em função da configuração do pensamento utilizada.

Veja a relação entre cada formulação de operações e o respectivo perfil de características da configuração do pensamento adotada em cada formulação, na pÔgina: 

modelos de operações formuladas para cada configuração do pensamento

clƔssico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

condiƧƵes de possibilidade no pensamento

clƔssico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

veja também tópico seguinte, o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.

Note que a amplitude da visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ Ć© muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visĆ£o do fenĆ“meno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e tambĆ©m o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposiƧƵes explicativas da experiĆŖncia formuladas de acordo com as regras da lĆ­ngua; enquanto que sob o pensamento clĆ”ssico o fenĆ“meno Ć© visto apenas a partir da fase de instanciamento.

Veja que hÔ uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clÔssico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

Certifique-se dessa correspondĆŖncia visualizando as figuras feitas para os dois princĆ­pios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

a pÔgina que o link acima dÔ acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com

as duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ com as duas origens da essĆŖncia da linguagem (interna e externa), e correspondentes duas possibilidades de anĆ”lise de valor;

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ‘Trabalho’:
o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

AquƩm do objeto
Adam Smith, 1776

PrincĆ­pio monolĆ­tico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das NaƧƵes, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

PrincĆ­pio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

ComparaƧƵes entre os dois princƭpios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princĆ­pios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparaƧƵes entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

AquƩm do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clƔssico, o de antes de 1775
tempo calendƔrio no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

Diante do objeto

formulação sim reversível
e instanciamento de representação existente
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

ā€œO modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papƩis:
estĆ” ao mesmo tempo,

                      • noĀ fundamento de todas as positividades,
                      • presente, de uma forma que nĆ£o se pode sequer dizer privilegiada,
                        no elemento das coisas empĆ­ricas.ā€

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo X – As ciĆŖncias humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
Michel FoucaultĀ 

ā€œNa medida, porĆ©m,Ā 
em que as coisas
giramĀ 
sobre si mesmas,
reclamando para seu devir
não mais que
o princĆ­pio deĀ 
sua inteligibilidade
e abandonando o espaço da representação,
o homem,

por seu turno,
entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.ā€

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
PrefƔcio
Michel FoucaultĀ 

Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:

pensamento clƔssico, o de antes de 1775;

  • a leitura do fenĆ“meno ‘operação’Ā  Ć© feita a partir do ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido em uma operação de troca (todas as representaƧƵes sĆ£o prĆ©-existentes Ć  operação;
  • a formulação da representação Ć© reversĆ­vel; nĆ£o hĆ” construção de novas representaƧƵes, e a operação transcorreĀ  no caminho do Instanciamento da representação combinada entre duas representaƧƵes anteriores prĆ©-existentes;
    • nĆ£o hĆ” construção de representaƧƵes;Ā 
  • domĆ­nio: do Discurso e da Representação;
  • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (estrutura Input-Output)
  • elemento central: Processo
  • tempo: relativo ou tempo calendĆ”rio sob o deus Cronos
  • ordem: Quadro de simultaneidades com um Sistema de categorias. (pode ser mĆŗltipla, e de uso simultĆ¢neo).

pensamento moderno, o de depois de 1825;

  • a leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ Ć© feita em um ponto situado antes do cruzamentoĀ  do que Ć© dado e o que Ć© recebido em uma operação de troca; o pensamento Ć© capaz de construir representaƧƵes novas;
  • caminho da Construção da representação; formulação da representação irreversĆ­vel; operação ocorre no
    • Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico; com os subespaƧos:
      • Lugar desde onde se fala: domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua;
      • Lugar do falado: domĆ­nio do Discurso e da Representação.
    • elemento central: Forma de produção;
    • tempo: absoluto (nĆ£o relativo e nĆ£o calendĆ”rio) sob o deus Kairós;
    • ordem: Ćŗnica, dada pelas regras da gramĆ”tica da lĆ­ngua utilizada.
    • origens de valor
      • designaƧƵes primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório
    • caminho do Instanciamento da representação;
      • domĆ­nio do Discurso e da Representação;
        • Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório.

Veja isso tambƩm na seguinte pƔgina:

Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece, em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações.

Os domínios no interior dos quais transcorrem as operações, antes e depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

operação sob o pensamento clÔssico, antes de 1775

    • operação de construção da representação:
      • inexistente na leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ feita no pensamento clĆ”ssico
    • Operação de instanciamento ocorre no circuito das trocas (Mercado),
      • no interior do domĆ­nio do Discurso e da representação.

operação sob o pensamento moderno, depois de 1825

    • operação de Construção da representação transcorre no interiorĀ 
      do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico;

um lugar composto por dois blocos em dois domĆ­nios diferentes:

      • o domĆ­nio do Pensamento e da lĆ­ngua;
        • o Lugar desde onde se fala;
      • o domĆ­nio do Discurso e da representação.
        • o Lugar do falado.

Ā 

    • operação de Instanciamento de representação anteriormente construĆ­da
      • a operação de troca ocorre no Circuito das trocas (Mercado).
        • no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação

Um ‘manual’ para construção de modelos para ciĆŖncias humanas, por Michel Foucault

O espaƧo interior
do triedro dos saberes: o habitat das ciĆŖncias humanas
A classe de modelos das ciĆŖncias humanas: um modelo composto pelos trĆŖs pares constituintes
Uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram criados

Resumo MetƔfora adequada para operaƧƵes e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metĆ”fora adequada: transformação Ćŗnica Entradas ⇒ SaĆ­das
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: PermanĆŖncia
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

Visão da operação clÔssica
Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informaƧƵes

A. Pensamento filosófico clÔssico, o de antes de 1775

1.Ā  Ā Transformação Ćŗnica, de Entradas ⇒ SaĆ­das, sobre a estrutura Input-Output, ou um processamento de informaƧƵes

A metĆ”fora da transformação de Entradas  ⇒ SaĆ­das, sobre a estrutura Input-Output, que dĆ” lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si Ć© vĆ”lida aqui, e Ć© a famosa caixa preta.Ā 

Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência

Com a opção pela leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que Ć© dado com o que Ć© recebido na troca, essa metĆ”fora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e jĆ” carregada de valor diretamente atribuĆ­do Ć  proposição.

Toda a etapa da construção de representação nova estÔ fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.

Veja aqui em Conceitos homƓnimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho da Construção da representação
A metƔfora adequada Ơs operaƧƵes no caminho
da Construção de representação
para a empiricidade objeto

B. Pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825

1.  MetÔforas no caminho da Construção da representação:
uma Conversão, ou um par de transformações de mesmos sinais

Veja novamente pÔgina MetÔforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • ConversĆ£o, de pensamento nĆ£o articulado em representação.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

  • Primeira transformação:
    • [nĆ£o – sim] pensamento nĆ£o-articulado em pensamento sim-articulado;
  • Segunda transformação:
    • [sim – nĆ£o] representação nĆ£o-existente para representação sim-existente.

Ā 

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação
MetÔfora adequada para operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação:
uma Conversão ou um par de transformações com sinais trocados

2.  MetĆ”foras no caminho do Instanciamento da representação: outra ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes mas agora de sinais opostos

Veja novamente pÔgina MetÔforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • ConversĆ£o,
    • de uma disponibilidade de recursos 
    • para disponibilidade de objeto da produção.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

    • Primeira transformação: [nĆ£o – sim] Consumo, ou disponibilidade de recursos para indisponibilidade de recursos;
    • Segunda transformação: [nĆ£o – sim] Produção: indisponibilidade de objeto para disponibilidade de objeto.

Resumo MetƔfora adequada para operaƧƵes e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metĆ”fora adequada: transformação Ćŗnica Entradas ⇒ SaĆ­das
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: PermanĆŖncia
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

A.  Modelos de operações sob o pensamento clÔssico, o de antes de 1775

1.  Fluxo na etapa de instanciamento de representação anteriormente formulada reversivelmente

Veja em Funcionamento das operaƧƵes… a animação sob o tĆ­tulo AquĆ©m do objeto. Essa Ć© uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representaƧƵes existentes. O apontador de inĆ­cio da operação estĆ” no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.

Sob o pensamento clÔssico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:

  • O tipo de pensamento usado tem a impossibilidade de fundar as sĆ­nteses [do objeto das operaƧƵes] no espaƧo da representação – o primeiro obstĆ”culo vislumbrado por Foucault em seu trabalho;
  • Essa impossibilidade arrasta o ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ para o cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido na operação de troca, ou o ponto em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estĆ£o disponĆ­veis;
    • valor Ć© atribuĆ­do diretamente sobre a proposição;
  • A operação pode acontecer no Circuito das trocas jĆ” que os objetos envolvidos nesse tipo de operação estĆ£o disponĆ­veis; essa operação transcorre inteiramente em um domĆ­nio Ćŗnico, o domĆ­nio do Discurso e da representação.
  • História, nesse tipo de operaƧƵes, Ć© entendida como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituĆ­ram.
  • O tipo de propriedades possĆ­veis de serem consideradas na modelagem das operaƧƵes Ć© propriedades nĆ£o-originais e nĆ£o-constitutivas das coisas, que sĆ£o selecionadas para participar das operaƧƵes por suas propriedades consistentes com esse tipo, ou por ā€œaparĆŖnciasā€.
  • O elemento central desse modelo de operaƧƵes Ć© ā€˜Processo’, sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
  • Resta nesse modelo de operaƧƵes a contabilidade do que se aproxima de uma regiĆ£o do espaƧo em que ocorrem operaƧƵes, do que entra nessa regiĆ£o, do que fica nessa regiĆ£o ou que Sai dela. A anĆ”lise se restringe a esse Fluxo, pela total ausĆŖncia da noção de objeto definido pelas suas propriedades originais e constitutivas, e pela pressuposição de que tudo existe, desde sempre e para sempre prescindindo assim da noção de sujeito.

Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informaƧƵes
propriedade emergente FLUXO

1.  Permanência: no caminho da Construção da representação, em uma formulação irreversível.

Veja agora emĀ Funcionamento das operaƧƵes…Ā a animação sob o tĆ­tulo Diante do objeto. A operação modelada Ć© de formulação da representação para empiricidade objeto ainda nĆ£o representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponĆ­vel para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, estĆ” resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda estĆ” indisponĆ­vel. Para que ele esteja disponĆ­vel serĆ” necessĆ”rio o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recĆ©m criada. EntĆ£o, a aposta Ć© que essa representação permaneƧa em um repositório de proposiƧƵes explicativas formuladas de acordo com as regras da lĆ­ngua, de onde serĆ” selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.

  • O tipo de pensamento utilizado tem desta vez a possibilidade de fundar as sĆ­nteses [do objeto das operaƧƵes] no espaƧo da representação.
  • Essa possibilidade arrasta o ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ paraĀ antes do ponto de cruzamentoĀ entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido em uma operação de troca, ou para o ponto em que pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca nĆ£o estĆ” disponĆ­vel;
    • valor carregado pela proposição para a representação tem origem fora da representação e da linguagem:
      • nasĀ designaƧƵes primitivas;
      • naĀ linguagem de açãoĀ ou de uso.
  • A operação transcorre no, ā€˜ interior do ā€˜Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico: ā€œAssim como a Ordem no pensamento clĆ”ssico nĆ£o era a harmonia visĆ­vel das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaƧo próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim tambĆ©m a História, a partir do sĆ©culo XIX, define o lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico, lugar onde, aquĆ©m de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe Ć© próprio.ā€
  • História, nesse tipo de operação Ć© o ā€œmodo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas sĆ£o afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.ā€
  • O tipo de propriedades consideradas na modelagem de operaƧƵes Ć© propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, exatamente aquele objeto que falta para compor uma operação de troca.
  • O elemento central deste modelo de operaƧƵes agora Ć© a Forma de produção, em um sistema absoluto no qual ā€œaquĆ©m de toda cronologia estabelecida, ele [o objeto da operação, aquele que falta para compor a operação de troca] assume o ser que lhe Ć© próprio.
  • Nesse modelo de operaƧƵes a representação (projeto) daquele objeto que faltava para eventual operação de troca Ć© construĆ­da e dessa construção de nova representação surgem as propriedades sim-originais e sim-constitutivas que descrevem essa representação construĆ­da.

Propriedade emergente PERMANÊNCiA
no caminho da Construção da representação
metÔfora adequada Conversão

B.    Modelos de operações sob o pensamento moderno, depois de 1825

 2.  Fluxo: no caminho do Instanciamento da representação:

A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.

A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.

A empiricidade objeto serĆ” instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento nĆ£o muda.

Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e hÔ fluxos vÔrios, que são mostrados na pÔgina indicada.

A metƔfora adequada Ơs operaƧƵes
no caminho do Instanciamento da representação
propriedade emergente novmente FLUXO

Ā 

Veja a seguir os pontos:

  • Temos um samba de uma nota só (com trĆŖs ritmos):
    • unanimidades pelo uso dos conceitos:

Mercado‘, ‘Processo‘, ‘Riquezas;

  • quando poderĆ­amos ter uma sinfonia
    • eliminando a unanimidade pelo nĆ£o uso dos conceitos:

Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico‘, ‘Forma de produção‘ e ‘AnĆ”lise da produção‘;

As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso:

  • ā€˜Mercado’, ā€˜Processo’, ā€˜Riquezas’ conceitos de antes da descontinuidade epistemológica e portanto na idade clĆ”ssica, sĆ£o campeƵes de unanimidade pelo uso;
  • e os correspondentes conceitos do após a descontinuidade epistemológica e portanto da nossa modernidade no pensamento, campeƵes absolutos pelo nĆ£o-uso: ā€˜Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’, ā€˜Forma de produção’, ā€˜AnĆ”lise da produção unĆ¢nimes pelo nĆ£o uso.

“Assim como a Ordem no pensamento clĆ”ssico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico,
lugar onde, aquƩm de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe Ć© próprio.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.

Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico Ć© o lugar onde, “aquĆ©m de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empĆ­ricas] assume o ser que lhe Ć© próprio”.

Veja o modelo de operaƧƵes – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico‘ Ć© um lugar, mesmo, e nĆ£o o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.

Ɖ um lugar onde as empiricidades objeto de operaƧƵes tĆŖm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.

modo de ser fundamental de uma empiricidade Ć© aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.

Os detalhes estão a seguir:

ā€œCertamente, para Ricardo como para Smith,Ā 
o trabalho pode realmenteĀ 
medir a equivalĆŖncia das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:ā€

ā€œNa infĆ¢ncia das sociedades,Ā 
o valor permutÔvel das coisas 
ou a regra que fixa a quantidade que se deve darĀ 
de um objeto por outroĀ 
só depende da quantidade comparativa de trabalho 
que foi empregada na produção de cada um deles.ā€Ā 

A diferenƧa, porƩm, entre Smith e Ricardo estƔ no seguinte:

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisĆ”vel em jornadas de subsistĆŖncia, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessĆ”rios Ć  subsistĆŖncia);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    • Ā nĆ£o apenas porque este seja representĆ”velĀ  em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmente porque
      o trabalho como atividade de produção
      Ć© a fonte de todo valor”.

JÔ não pode este ser definido, como na idade clÔssica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras. 

O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto.Ā 
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou,Ā 
ou se, pelo menos, seu valor estÔ em proporção a esse trabalho, 
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante 
e permutÔvel sob todos os céus e em todos os tempos, 
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho.Ā 
E a melhor prova disso estĆ” em que o valor das coisasĀ 
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salÔrios 
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.ā€

Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros,Ā 
os valores realmente têm ainda um poder de representação. 
Extraem esse poder, porĆ©m, de outra parte –Ā 
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação 
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.

Enquanto no pensamento clÔssico 
o comércio e a troca 
servem de base insuperÔvel para a anÔlise das riquezas 
(e isso mesmo ainda em Adam Smith,Ā 
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),

desde Ricardo,Ā 
a possibilidade da troca estĆ” assentada no trabalho;Ā 
e a teoria da produção, doravante, 
deverÔ sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā 
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenÓmeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.

Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

Qualquer coisa para a qual for possĆ­vel estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação Ć  regiĆ£o onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como SaĆ­da. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade nĆ£o-original e nĆ£o-constitutiva, ou uma ā€œaparĆŖnciaā€. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas nĆ£o sĆ£o utilizadas.

Veja aqui duas coisas:

ā€œA Ćŗnica coisa que o verbo afirmaĀ 
é a coexistência de duas representações: 
por exemplo, a do verde e da Ôrvore, 
a do homem e da existĆŖncia ou da morte;Ā 
Ć© por isso que o tempo dos verbosĀ 
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, 
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.ā€Ā As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā Cap. IV – Falar; tópico III.Ā  A teoria do verbo

para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clĆ”ssica, veja na pĆ”gina sobre o funcionamento das operaƧƵes, as animaƧƵes sobre o tempo nos dois perĆ­odos, e associe o tempo ‘calendĆ”rio’ Ć  parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos.Ā 

“Nem vida, nem ciĆŖncia da vida na Ć©poca clĆ”ssica;Ā 
tampouco filologia.Ā 
Mas sim uma história natural, uma gramÔtica geral. 
Do mesmo modo, não hÔ economia política 
porque, na ordem do saber,Ā 
a produção não existe. 
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII, 
uma noção que nos permaneceu familiar, 
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial. 
Nem Ć© de ā€œnoçãoā€ que se deveria falar a seu respeito,Ā 
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econÓmicos 
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral: 
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada,Ā 
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,Ā 
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.

Esse domĆ­nio,Ā 
solo e objeto da ā€œeconomiaā€ na idade clĆ”ssica,Ā 
Ć© o daĀ riqueza.

Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente, 
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inĆŗtil igualmente analisar seus diversos conceitosĀ 
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram,Ā 
com alguma analogia de sentido),Ā 
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.”Ā 

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā 
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A anĆ”lise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a anÔlise de valor do pensamento filosófico anterior, o clÔssico, de antes de 1775.

Ā 

Veja novamente a animação central sob o tĆ­tulo ā€˜Diante do objeto’ na pĆ”gina

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenÓmeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação estÔ em desenvolvimento e que, futuramente, poderÔ ser levada ao circuito das trocas.

O Lugar de nascimento do que Ʃ empƭrico compreende dois sub-espaƧos:

  • o Lugar desde onde se fala, no interior do domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua;
  • e o Lugar do falado, no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação.

Ɖ parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaƧo das representaƧƵes, no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação.

Ɖ assim que funciona o Princƭpio Dual de trabalho de David Ricardo.

A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:

ā€œĆ‰ preciso, portanto,Ā 
tratar esse verbo como um ser misto,Ā 
ao mesmo tempoĀ 
palavra entre as palavras,Ā 
preso Ć s mesmas regras,Ā 
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; 
eĀ depois,Ā 
em recuo em relação a elas todas, 
numa região que não é aquela do falado 
mas aquela donde se fala.Ā 
Ele estĆ” na orla do discurso,Ā 
na juntura entre aquilo que Ć© ditoĀ 
e aquilo que se diz,Ā 
exatamente lĆ” onde os signosĀ 
estĆ£o em via de se tomar linguagem.ā€Ā 
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Ā Cap. IV – Falar; tópico III.Ā  A teoria do verbo

Veja agora que esse verbo estĆ” postado na regiĆ£o ‘desde onde se fala’, um sub-espaƧo do ‘Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico’, e no interior do domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua, onde a articulação com o impensado pode ter inĆ­cio para uma representação ainda nĆ£o existente, – e nĆ£o na regiĆ£o do falado, esta no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação. Foucault Ć© preciso a esse respeito: ‘Ele estĆ” na orla do discurso, na juntura…’

Veja a pƔgina

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith e o de David Ricardo, de 1817

Nessa mesma pÔgina, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.

A animação central da pĆ”gina Funcionamento… com o tĆ­tulo ā€˜Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda nĆ£o representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponĆ­vel em uma operação de troca jĆ” descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.

Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:

  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    não apenas porque este seja representÔvel em unidades de trabalho,
    mas primeiro e fundamentalmente
    porque o trabalho como atividade de produção
    Ć© ā€œa fonte de todo valorā€.

Tudo o que estĆ” representado na pĆ”gina Funcionamento… na animação central ā€˜Diante do objeto’ estĆ” completamente fora do pensamento que pensa operaƧƵes no cruzamento do que Ć© dado e o que Ć© recebido.

Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação estÔ fora do modo como operações são vistas como fenÓmeno.

Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.

O pensamento clÔssico, aquele que dispunha da História natural, da AnÔlise das riquezas e da GramÔtica geral, fazia a AnÔlise das riquezas.

O pensamento moderno efetua em seu lugar, a AnÔlise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clÔssico, a AnÔlise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.

  • modelos com estruturaĀ clĆ”ssica
    • o modelo descritivo de operaƧƵes de produção de Elwood S. Buffa;
    • o Diagrama FEPSC(SIPOC)/Six Sigma;
    • os modelos na visĆ£o contĆ”bil-financeira:
      • de operaƧƵes (DĆ©bito/CrĆ©dito)
      • e de organização (Ativo – Passivo – Resultados) ;

  • modelos com estruturaĀ moderna
    • o modelo descritivo de operaƧƵes de produção do Kanban;
    • o modelo expresso na Figura 7.1 – mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, de Michael Hammer;

  • modelos com estrutura moderna
    • o triedro dos saberes;
    • o espaƧo interior do triedro;
    • o uso dos pares de modelos constituintes, inclusive fora do domĆ­nio próprio.

Tópico V. PsicanĆ”lise e etnologia, do Cap. 10 – As ciĆŖncias humanas,
do livro As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas

Um exercĆ­cio de uso do modelo composto caracterĆ­stico das ciĆŖncias humanas,
uma combinação dos pares constituintes das ciências 

  • da Vida (Biologia) [função-norma];Ā 
  • do Trabalho (Economia) [função-norma];Ā 
  • da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

além do conhecimento do papel dessas duas ciências em nossa cultura.

“A psicanĆ”lise e a etnologia ocupam, no nosso saber, um lugar privilegiado.Ā 

NĆ£o certamenteĀ 

  • porque teriam, melhor que qualquer outra ciĆŖncia humana, embasado sua positividade e realizado enfim o velho projeto de serem verdadeiramente cientĆ­ficas;Ā 

antes porque,Ā 

  • nos confins de todos os conhecimentos sobre o homem, elas formam seguramente um tesouro inesgotĆ”vel de experiĆŖncias e de conceitos, mas, sobretudo, um perpĆ©tuo princĆ­pio de inquietude, de questionamento, de crĆ­tica e de contestação daquilo que, por outro lado, pĆ“de parecer adquirido.Ā 

Ora, hÔ para isto uma razão que tem a ver com o objeto que respectivamente cada uma se atribui, mas tem mais ainda a ver com a posição que ocupam e com a função que exercem no espaço geral da epistémê. 

A psicanÔlise, com efeito, mantém-se o mais próximo possível desta função crítica acerca da qual se viu que era interior a todas as ciências humanas.

Dando-se por tarefa fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente, 

a psicanÔlise avança na direção desta região fundamental onde se travam as relações entre a representação e a finitude. 

EnquantoĀ todas as ciĆŖncias humanas

  • Ā só se dirigem ao inconsciente virando-lhe as costas, esperando que ele se desvele Ć  medida que se faz, como que por recuos, a anĆ”lise da consciĆŖncia,Ā 

jÔ a psicanÔlise 

  • aponta diretamente para ele, de propósito deliberado –Ā 
    • nĆ£o em direção ao que deve explicitar-se pouco a pouco na iluminação progressiva do implĆ­cito,Ā 
    • mas em direção ao que estĆ” aĆ­ e se furta, que existe com a solidez muda de uma coisa, de um texto fechado sobre si mesmo, ou de uma lacuna branca num texto visĆ­vel e que assim se defende.Ā 

Não hÔ que supor que o empenho freudiano seja o componente de uma interpretação do sentido e de uma dinâmica da resistência ou da barreira; 

  • seguindo o mesmo caminho que as ciĆŖncias humanas,Ā 

mas com o olhar voltado em sentido contrÔrio, 

  • a psicanĆ”lise se encaminhaĀ 

em direção ao momento –inacessĆ­vel, por definição, a todo conhecimento teórico do homem, a toda apreensĆ£o contĆ­nua em termosĀ 

        • de significação,Ā 
        • de conflitoĀ 
        • ou de função

– em que os conteĆŗdos da consciĆŖncia se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.Ā 

Isto quer dizer que,Ā 

  • ao contrĆ”rio das ciĆŖncias humanas que,Ā 
    • retrocedendo embora em direção ao inconsciente,Ā 
      • permanecem sempre no espaƧo do representĆ”vel,Ā 
  • a psicanĆ”liseĀ 
    • avanƧa para transpor a representação,Ā extravasĆ”-la do lado da finitude
    • e fazer assim surgir, lĆ” onde se esperavamĀ 
      • as funƧƵes portadoras de suas normas,Ā 
      • os conflitos carregados de regrasĀ 
      • e as significaƧƵes formando sistema,Ā 
    • o fato nu de que pode haverĀ 
      • sistema (portanto, significação),Ā 
      • regra (portanto, oposição),Ā 
      • norma (portanto, função).Ā 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso, à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude, desenham-se as três figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funƧƵes e suas normas, vem fundar-se na repetição muda da Morte,Ā 
  • os conflitos e as regras, na abertura desnudada do Desejo,Ā 
  • as significaƧƵes e os sistemas, numa linguagem que Ć© ao mesmo tempo Lei. “

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. X – As ciĆŖncias humanas;
tópico V – PsicanĆ”lise, etnologia 

A figura da VisĆ£o SSS – SimĆ©trica, Simbiótica e SinĆ©rgica parte de duas ideias:

  • a ideia de que cada objeto demanda operação especĆ­fica para ele;
  • a ideia de que nĆ£o Ć© possĆ­vel a obtenção de um objeto (produto) sem dispor de um instrumento (laboratório, Ć”rea de desenvolvimento, fĆ”brica). Claramente nĆ£o temos acesso Ć  Varinha MĆ”gica de condĆ£o de Merlin, o Mago, instrumento habil para instanciar qualquer objeto.
    • pensar na obtenção do objeto sem o respectivo instrumento Ć© semelhante a pensar magicamente;
    • o pensamento conjunto dos dois objetos, o produto e a fĆ”brica, reduz a qualidade dos modelos de operaƧƵes;
    • a VisĆ£o SSS permite a modelagem do Nexo da produção.

Essa ideia estƔ embutida na Figura 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, basta analisar tendo em mente as condiƧƵes de possibilidade no pensamento daquela figura.

Veja tambƩm



  • Sistema Formulador – uma alteração no modelo de dados clĆ”ssico de um SDGP – Sistema Dedicado Ć  GestĆ£o de Projetos  – como o MS Project 4.0 por exemplo, fazendo com que ele passe a funcionar a partir de banco de dados 9com a linguagem de uso) e com um modelo sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto que se pretende concretizar.

Partindo dos dois obstĆ”culos, ou as duas pedras de tropeƧo que Foucault declara ter encontrado em seu trabalho, traƧamos – usando apenas interpretação de texto – um espectro de produƧƵes do pensamento, teorias, modelos e sistemas, com trĆŖs segmentos: AQUƉM, DIANTE e para ALƉM do objeto.

Da forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura no depois da descontinuidade epistemológica, vemos que o pensamento funciona organizado em torno do par sujeito-objeto. Mudando o objeto, muda a operação que pode ou não ser conduzida por um sujeito diferente, mas com um sujeito a conduzi-la.

Aplicando esse elemento organizador par sujeito-objeto às operações em organizações, vê-se que jÔ existem operações e organizações organizadas com esse critério: o modelo descritivo da produção do Kanban, e a Fig. 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, são exemplos.

Se examinamos mais de perto este Ćŗltimo exemplo, veremos que hĆ” dois pares sujeito-objeto incluĆ­dos nesse mapa – segundo Hammer, de ‘processos’ (ele nĆ£o conseguiu se livrar dessa unanimidade mesmo mapeando claramente Formas de produção e nĆ£o processos.

A VisĆ£o SSS resume-se a respeitar a relação um objeto – um modelo de operaƧƵes. E isso leva a uma organização SSS – SimĆ©trica, Simbiótica e SinĆ©rgica que torna evidente o nexo da produção.

  • a) Canal Inconsciente Coletivo, vĆ­deo Jorge Forbes: estamos vivendo a maior revolução dos laƧos sociais dos Ćŗltimos 2800 anos, de 28/07/2020;

  • b) Canal Falando Nisso, vĆ­deo 150 – Signo, significação e significado de 08/10/2017;

  • c) Canal Falando, Nisso vĆ­deo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, de 31/08/2019;

  • d) Canal Quem Somos Nós? – vĆ­deo Desigualdade: Concentração de renda com Eduardo Moreira;

  • e) Canal Monica de Bolle, vĆ­deo 31 – Imaginando o “Novo Normal”;

  • f) Canal Monica de Bolle, vĆ­deo 32 – O “Novo Normal”: Bens PĆŗblicos”;

  • g) Canal Inconsciente Coletivo – vĆ­deo Ivaldo Bertazzo, que testou positivo para o Covid-19: “o grande problema do corpo Ć© o medo”, de 12/08/2020.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Introdução do vĆ­deo: ‘O mundo de hoje Ć© parecido com o de ontem, apenas na fotografia!’
  • Direcionamento do pensamento: ao intangĆ­vel, ou ao impensado?Ā 
  • Relação com o intangĆ­vel
  • Jorge Forbes: Entrevista ao canal Inconsciente coletivo em 28/07/2020: “estamos vivendo a maior revolução dos laƧos sociais dos Ćŗltimos 2800 anos”
  • O incĆ“modo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrĆ£o e genĆ©rico, constituinte das ciĆŖncias humanas em geral, todas elas, proposto por Michel Foucault.Ā 
  • Sobre as qualidades de terra1 e terra2 (rótulos dispensĆ”veis se significar pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775, e pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault.Ā 
  • Freud explica ⇒ Freud implica: uma frase de efeito que depende de qual seja a configuração do pensamento sob a qual Ć© proferida;Ā 

Meus comentƔrios usando o pensamento de Michel Foucault:

Veja também 

ReflexƵes imaginativas >

O fenÓmeno das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia dos modelos; MetÔforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento >

As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessƔrias para cada operacionalidade

Claramente a determinação ou não dessa parecença depende do modo como você olha para a fotografia, ou seja, com que recursos de pensamento faz isso. E o que procura na fotografia, com o seu olhar.

Ivaldo Bertazzo ensina que a gente olha e ouve o que nos chega do mundo sempre de acordo com o mesmo padrão.

E hÔ mais do que um padrão que pode ser usado para absorver o que nos chega do mundo.

Michel Foucault, olhando para o estado em que ele percebia encontrar-se a nossa cultura, e adotando a estratégia de questionar não diretamente as teorias, modelos e sistemas mas as condições de possibilidade destes no pensamento, viu modelos com e modelos sem a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto do pensamento) no espaço da representação. Ele estava questionando as condições de possibilidade do pensamento, evidentemente.

E ele foi alĆ©m disso: viu o imperativo de que todo o campo das ciĆŖncias humanas fosse configurado tendo como pressuposto a constituição do que ele chama de os ‘quase-transcendentais’ Vida, Trabalho e Linguagem, podendo entĆ£o identificar um modelo composto padrĆ£o e genĆ©rico para todas as ciĆŖncias humanas nesse espaƧo, a partir de modelos constituintes das trĆŖs ciĆŖncias do eixo epistemológico fundamental, as ciĆŖncias da Vida (Biologia) [função-norma], do Trabalho (Economia polĆ­tica) [conflito-regra] e da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].Ā 

Vê-se que dessa percepção de Foucault é possível vislumbrar um espectro de modelos em nossa cultura. Esse espectro tem três segmentos:

AQUƉM, DIANTE e para ALƉM do objeto (e do sujeito)

Pouca gente vĆŖ isso, mas vocĆŖ pode ver adiante neste trabalho.

Mas, olhando para a fotografia de hoje com os padrões que usamos ontem e desde sempre, fica estabelecida uma semelhança pela intermediação do padrão utilizado. Se é o padrão de sempre, as diferenças porventura existentes, causadoras de diferenciações, mas aparentes somente sob outro padrão, não aparecem.

Sempre é necessÔrio percebermos quais são os critérios dos quais se compõe o modo como olhamos para o mundo. Dependendo do que surge dessa procura daquilo que integra nossos padrões, pode ser que percebamos que ocorreram, sim, mudanças que nos passaram despercebidas; e mudanças de tal monta que sim, foram revoluções, mas localizadas no passado, e hoje jÔ distante.

Mas que a gente possa manter um savoir faire – um saber fazer, numa relação da harmonia do homem agora nĆ£o mais com a natureza, nĆ£o mais com os deuses, nĆ£o mais com a razĆ£o, mas com o intangĆ­vel. EntĆ£o, nesse intangĆ­vel, isso me leva a pensar numa Ć©tica – em dois tempos para cada um – de inventar uma surresposta singular da sua intangibilidade, e de colocĆ”-la no mundo (que Ć© o que faz o artista); nĆ£o Ć©? um Van Gogh vĆŖ um girassol que só ele viu – ele inventou um girassol – e inscreveu esse girassol no mundo.

Esse ‘savoir faire’ parece-me que seja a boa e antiga de dois sĆ©culos ‘Forma de produção’ de David Ricardo

Desde logo esse ‘savoir faire‘ Ć© interessante porque me dĆ” a oportunidade de, ao invĆ©s da tradução óbvia ‘saber fazer‘, optar por traduzir essa ideia como ‘forma de produção‘ como a maneira encontrada para fazer aquilo que sei fazer; e se fizer isso guiado pela ideia por trĆ”s do nome, estarei usando justamente o nome dado por David Ricardo, em 1817, para o elemento central do seu modelo de operaƧƵes que, segundo Foucault, ele publicou com o nome de PrincĆ­pio Dual de Trabalho (e Ć© interessante descobrir por que esse ‘dual’ no nome do principio.

O pensamento bem frequentemente consegue dar conta do ‘impensado’, mas ao contrĆ”rio, o ‘intangĆ­vel’ permanece tal e qual na maioria das vezes.

Desde logo, estabelecer um saber fazer voltado ao intangĆ­vel – o que quer que essa palavra signifique neste contexto – Ć© organizar “a relação da harmonia do homem nĆ£o mais com a natureza, os deuses, a razĆ£o”, mas levando em conta, agora, o objeto, um objeto definido como ‘intangĆ­vel’, aquela coisa que nĆ£o se pode tocar, parece que seja um grande passo adiante. 

Veja que toda a mecĆ¢nica celeste funciona perfeitamente e artefatos sĆ£o colocados em órbita e chegam sem acidentes a outros planetas, e em sua grande maioria todos permanecem intangĆ­veis – no sentido original da palavra ‘intocĆ”veis’ – depois de estudados. Mas todos deixam de ser impensados. E graƧas a um pensamento organizado pelo par sujeito-objeto.

Pensando em um buraco negro, e nas teorias da relatividade que ajudam a compreendĆŖ-los, nĆ£o se pode dizer que eles, buracos negros – e outros entes cósmicos – de alguma forma possam tornar-se tangĆ­veis. Mas a ciĆŖncia os converte de ‘impensados’ cada vez mais em ‘pensados’. E essa conversĆ£o faz mais sentido do que a proposta por Forbes de intangĆ­veis para tangĆ­veis. AtĆ© mesmo no caso do Sars Cov-2.

Seja com ‘intangĆ­vel’ seja com ‘impensado’, mas o pensamento proposto Ć© voltado para o objeto, o que jĆ” Ć© um grande passo”

Mas, porĆ©m, todavia, contudo, o direcionamento do pensamento para o que seja ‘intangĆ­vel’ jĆ” requer uma alteração radical na configuração do próprio pensamento: para um pensamento definido com relação a um determinado objeto, – embora um objeto genĆ©rico; isso porque exige um pensamento sim-discriminativo com relação ao objeto escolhido e seus elementos componentes, em contraposição a um pensamento indefinido porque nĆ£o-discriminativo com relação a qualquer objeto como Ć© (sim, Ć©, porque ainda agora, muito usado entre nós) o pensamento terra1 – como diz Forbes, voltado aos transcendentais natureza, deuses, razĆ£o.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura desde o início do século XIX

Na filosofia de Michel Foucault, pensando em David Ricardo na economia polĆ­tica, Franz Bopp na Filologia, Georges Cuvier na Biologia, o pensamento volta-se para o impensado em vez de para o intangĆ­vel.

Instaura-se
uma forma de reflexĆ£o, 

bastante afastada 
do cartesianismo 
e da anĆ”lise kantiana, 
em que estĆ” em questĆ£o, 
pela primeira vez, 
o ser do homem, 
nessa dimensĆ£o segundo a qual 
o pensamento 
se dirige ao impensado 
e com ele se articula. 

Isso tem duas conseqüências.”

 (…) 

“A outra consequĆŖncia Ć© positiva. 
Concerne Ć  relação 
do homem 
com o impensado, 
ou mais exatamente, 
ao seu aparecimento gĆŖmeo 
na cultura ocidental.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado

Veja a forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura quando mudança como essa foi realizada:

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

Essa mudanƧa no modo de organização do pensamento aconteceu, segundo Foucault, entre 1775 e 1825, nos cinquenta anos centrados na virada dos sĆ©culos XVIII para o XIX (vinte e cinto anos para cada lado). Grosso modo hĆ” dois sĆ©culos; mudanƧa bem mais recente do que os 28 sĆ©culos atrĆ”s em que  Forbes posiciona o evento marcador antecedente da revolução que aponta tambĆ©m nos laƧos sociais.

A mudança em decorrência dessa forma de reflexão

Trata-se de uma mudanƧa com a seguinte natureza:

  • de operaƧƵes organizadas por uma (ou pode ser mais de uma) Ordem(ns) arbitrariamente escolhida(s) nas quais o homem era tratado como um gĆŖnero, ou uma espĆ©cie integrando uma das categorias do sistema de categorias clĆ”ssico; 
  • para operaƧƵes organizadas pelo par sujeito-objeto em uma ordem Ćŗnica dada pelas regras da gramĆ”tica da lĆ­ngua, usando o bloco padrĆ£o construtivo genĆ©rico para construção de representaƧƵes proposição. 

A primeira consequĆŖncia evidente Ć© que nĆ£o Ć© mais possĆ­vel modelar operaƧƵes, empresariais ou outras, usando a metĆ”fora da transformação Ćŗnica de Entradas ā‡’ SaĆ­das ou do processamento de informaƧƵes sobre a estrutura Input-Output cujo sistema Ć© relativo, de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si. Veja que o elemento central desse modelo, Processo, tem a natureza de um verbo, e note que hĆ” dois conceitos para o que seja um verbo, e esse de um sistema relativo, etc. etc. Ć© o primeiro que transcrevo a seguir.

“A Ćŗnica coisa que o verbo afirma, Ć© a coexistĆŖncia de duas representaƧƵes; por exemplo, a do verde e da Ć”rvore, a do homem e da existĆŖncia ou da morte. Ɖ por isso que o tempo dos verbos nĆ£o indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias  humanas; Cap. 4 – Falar; tópico III. A teoria do verbo 

A segunda consequência é que partindo do conhecimento de que usualmente operações são modeladas sobre a estrutura Input-Output, e isso não é mais adequado, é preciso encontrar um outro padrão, um outro modelo. Isso é necessÔrio para que operações em organizações reais sejam modeladas convenientemente.

E esse outro modelo Ć© consistente nĆ£o mais com o pensamento de Adam Smith (Processo, estrutura Input-Output) mas sobre o pensamento de David Ricardo e seu Principio Dual de Trabalho, cujo elemento central Ć© o ‘savoir faire’ ou a forma de fazer, com o nome de Forma de produção.

Veja as seguintes pƔginas, comparando:

Modelos construĆ­dos dentro desse padrĆ£o: 

Veja, o que gera uma vacina para o Sars-Cov-2 é uma operação na qual o pensamento do cientista que, tendo em vista os aspectos ainda impensados, porque não pensados, desse vírus, desencadeia uma operação no seguinte formato:

  • coloca-se como sujeito de uma operação cientĆ­fica na qual
  • o vĆ­rus Ć© o atributo do predicado do cientista sujeito dessa operação, e assim Ć© o objeto da operação da ciĆŖncia,
    • que funciona Ć  luz do que se sabe sobre vacinas
    • e sobre sistema imunológico humano, entre outros saberes.

Essa operação cientĆ­fica considera entre outras coisas o que a ciĆŖncia sabe sobre vĆ­rus em geral e o Sars-Cov-2 em particular. 

Tangibilidade ou intangibilidade são qualidades, aparências, ou propriedades não-originais e não-constitutivas desse vírus. O impensado, ao contrÔrio, toma o objeto dessa operação de conhecimento por inteiro, mesmo que de início, não haja qualquer propriedade sejam as não-originais e não-constitutivas sejam as sim-originais e sim-constitutivas.

O interesse da ciĆŖncia Ć© pelas propriedades sim-originais e sim-constitutivas desse vĆ­rus, que sĆ£o essas que podem levar a conquistas como por exemplo, uma vacina. E encontrar esse conjunto de propriedades Ć© o que converte o impensado em representação. 

Nota: Nessa forma de reflexĆ£o que se instaura no pensamento filosófico de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,’ o ser do homem’ nĆ£o se dirige ao intangĆ­vel!  

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrÔrio do impensado, que mediante articulação feita pelo pensamento e patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação (e a vacina!), o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.

HĆ” uma confusĆ£o entre os vocĆ”bulos intangĆ­vel e impensado. 

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexĆ£o em   

Os  perfis das duas configuraƧƵes do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e estÔ na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

Esse tĆ­tulo faz alusĆ£o a uma revolução nos laƧos sociais Ćŗnica – pelo seu tamanho, porque a maior – nos Ćŗltimos 2800 anos. E nos laƧos sociais.

Volto ao redirecionamento da ‘harmonia do homem’ desde os transcendentais natureza, deuses, razĆ£o, para o intangĆ­vel como diz Forbes. Se o argumento que fiz acima, a substituição do ‘intangĆ­vel‘ pelo ‘impensado‘ for aceito – ao menos para efeito deste texto, essa revolução a que o tĆ­tulo alude jĆ” ocorreu, e hĆ” exatos 203 anos. E teve exatamente a mesma intenção, atingiu ‘os laƧos sociais’ e todas as Ć”reas do conhecimento humano. E mais, marcou a entrada de nada mais nada menos do que o homem em nossa cultura.

NĆ£o foi pouca coisa.

Esse título, com a afirmativa nele expressa, parece conter em seu significado, um descarte histórico desse evento que tem, na avaliação de Michel Foucault, o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento; e um desconhecimento do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade, em nossa cultura em tempo muito mais próximo de nós que os 28 séculos. 

Gostaria que Jorge Forbes relesse sobre isso na minha Cartilha – o livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, desse autor.Ā 

Forbes alude a um movimento do pensamento que parte dos transcendentais natureza, deuses, razão e chega ao intangível.

Foucault fala de um outro movimento que identifica modelos feitos por um pensamento postado AQUƉM do objeto – referido Ć  Ordem arbitrariamente escolhida em que vige um sistema de categorias, para por um pensamento DIANTE do objeto no qual a ordem Ć© dada pelas regras da gramĆ”tica da lĆ­ngua usada, e chega a um pensamento para ALƉM do objeto em que encontramos constituĆ­dos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, e nĆ£o mĆŗltiplas categorias mas trĆŖs somente: função-norma; conflito-regra, significação-sistema.Ā 

Tendo em mente especificamente a mudanƧa proposta por Forbes para um pensamento voltado a um objeto ‘intangĆ­vel’, e tendo consciĆŖncia de que isso resulta em um certo esforƧo do pensamento e alĆ©m disso, um pensamento organizado por esse objeto ‘intangĆ­vel’ escolhido, exatamente essa alteração – modelos organizados pelo objeto – aconteceu em nossa cultura em um espaƧo de tempo muito menor, pouco mais de dois sĆ©culos atrĆ”s em vez dos 28 sĆ©culos mencionados por Forbes.

Nesse meio tempo, e por falar não em revoluções mas em descontinuidades epistemológicas em nossa cultura, podemos ver esse evento em nossa cultura na pÔgina seguinte.

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825, 

Essa mudança no pensamento exigiu uma forma de reflexão também nova. Segundo Michel Foucault, essa mudança ocorreu em um movimento do pensamento muito mais recente e importante que surgiu em momento muito mais próximo do nosso tempo. Veja essa forma de reflexão associada a uma imagem para o conceito, que torna aparentes os elementos de imagem utilizados, a estrutura que ocupam e os relacionamentos que estabelecem.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

E os efeitos de tal movimentação das positividades umas em relação às outras pode ser constatado nas produções do pensamento efetivamente feitas e utilizadas em teorias, modelos e sistemas existentes e muito utilizados. Essa mudança não ficou apenas no pensamento teórico mas atingiu a prÔtica, embora não tenha sido avaliada de maneira alinhada com o pensamento filosófico.

A pƔgina a seguir mostra:

  • os dois perfis do pensamento antes e depois desse evento segundo Foucault fundador da nossa modernidade no pensamentoĀ  expressos por suas caracterĆ­sticas de caracterĆ­sticas, ou pelos respectivos referenciais, princĆ­pios organizadores e mĆ©todos;
  • esses elementos nas palavras de Foucault;
  • os modelos de operaƧƵes possĆ­veis com um e outro desses perfis;
  • as grandes Ć”reas do pensamento possĆ­veis antes e depois desse evento;
  • e a Forma de reflexĆ£o que se instaura depois desse evento

Os perfis das duas configuraƧƵes do pensamento, segundo Michel Foucault; (…) Os dois tipos de reflexĆ£o assumidos pelo pensamento (…) a Forma de reflexĆ£o que se instaura em nossa cultura

Esse tĆ­tulo do vĆ­deo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer ā€œā€“ EsqueƧa o que vocĆŖ sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo estĆ” erradoā€ trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e hĆ”, a denĆŗncia, como se atual fosse, de uma revolução jĆ” ocorrida em passado nem tĆ£o remoto. Em termos históricos, foi ontem.

A Cartilha mostra como e por que isso Ć© verdade.

Se estou entendendo o que ele chama de ā€˜Ć©poca anterior’, ou terra1 isso jĆ” tem um nome: idade clĆ”ssica ou pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1.Ā 

Usando ā€˜pensamento filosófico clĆ”ssico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse perĆ­odo – a virada dos sĆ©culos XVIII para o XIX, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc. Ā E usando a contraparte ā€˜pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamarĆ” de terra2 igualmente sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relaƧƵes com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.

ā€œMe incomoda a noção de norma no sentido de que vocĆŖ sai de um laƧo socialĀ 

estandardizado, padronizado, rígido, hierÔrquico, linear, focado, 

que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1. 

Eu chamo de terra1 toda organização, todo laƧo social vertical – independente do que esteja, na verticalidade, no ponto da transcendĆŖncia, esteja (como esteve durante muitos sĆ©culos) primeiro a natureza, depoisĀ  os deuses, depois a razĆ£o. As transcendĆŖncias mudam mas a estrutura arquitetĆ“nica arquitetural vertical se manteve. EntĆ£o eu entendo que hĆ” uma revolução monumental neste momento, sobre 2800 anos de história, em que nós saĆ­mos de uma forma de nos comportarmos verticalmente e temos a chance de nos comportarmos horizontalmente; o que implica em que nós temos a chance de viver num laƧo social flexĆ­vel, criativo, mĆŗltiplo, responsĆ”vel, – responsĆ”vel antepƵe responsabilidade e disciplina – (…) EntĆ£o vocĆŖ tem um laƧo social de caracterĆ­sticas, como eu disse,Ā 

colaborativo, múltiplo, reticular, flexível, criativo, [responsÔvel]; 

e eu acho que o interessante quando nós sairmos dessa pandemia, é nós guardarmos um aspecto dela, que é a relação do homem com o intangível.

ā€Ā Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laƧos sociais dos Ćŗltimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.

Neste comentÔrio, faço uso, claro, do meu particular e pessoal entendimento do pensamento de Michel Foucault, e afirmo: 

1. que no que Forbes chama terra2 – (entendido como a configuração moderna do pensamento, o de depois de 1825, como aquilo que sucede e substitui, se opondo, ao pensamento ‘anterior’),Ā ‘hierarquia’ Ć© uma estrutura intrĆ­nseca e inseparĆ”vel do resultado de uma operação de construção de representação nova, porque Ć© uma estrutura ligada ao resultado (uma representação) dessa operação sempre organizada pelo par sujeito-objeto, com princĆ­pios organizadores Analogia e SucessĆ£o e com os mĆ©todos AnĆ”lise e SĆ­ntese;

e no entanto a qualidade ‘hierĆ”rquico’ estĆ” atribuĆ­da ao pensamento emĀ terra1 (entendido agora como o pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775, o que Forbes chama de ‘anterior’).Ā 

Dado que no pensamento clÔssico não existem as noções de objeto (noção à qual a ideia de hierarquia estÔ ligada em um modelo de operações) e de sujeito (homem), essa qualidade atribuída a terra1 deve estar referida a outra coisa que mereça esse atributo, mas que não estÔ clara no texto, e valeria a pena esclarecer o que seja que tem essa qualidade. 

2. que o incĆ“modo de Forbes com a ‘norma’ – se aplicada a terra2 com o entendimento acima, e usando aquilo que consigo apreender do pensamento de Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, – sugere uma simplificação em dose dupla.
Ā 
  • A primeira simplificação:Ā 

norma Ć© um dos modelo constituintes das ciĆŖncias humanas que juntamente com função, compƵe o par constituinte da ciĆŖncia da Vida, a Biologia no perĆ­odo moderno do pensamento e no segmento do espectro de modelos para ALƉM do objeto.

  • A segunda simplificação:Ā 

hÔ outros dois pares de modelos constituintes no modelo constituinte padrão, genérico para todas as ciências humanas, a saber

        • conflitoregra, o par constituinte da ciĆŖncia do Trabalho (Economia polĆ­tica); e
        • significaçãosistema, o par constituinte da ciĆŖncia da Linguagem, (Filologia).Ā 

A descrição feita por Michel Foucault desse  modelo constituinte padrão e genérico, composto dos pares constituintes das ciências que habitam a região epistemológica fundamental, e o eixo vertical do Triedro dos saberes:

        • ciĆŖncia da Vida (Biologia), par constituinte [funçãonorma];
        • ciĆŖncia do Trabalho (Economia polĆ­tica), par constituinte [conflitoregra];
        • e ciĆŖncia da Linguagem (Filologia), par constituinte [significaçãosistema],

acaba sendo quase que um manual para formulação de teorias, modelos e sistemas nesse campo, e por isso faço este comentÔrio.

Portanto este comentƔrio vai a seguir em dois pontos:

  • 1. Quanto Ć s qualidades atribuĆ­das a terra1 e terra2;Ā 

  • e 2. Quanto ao incĆ“modo com a ‘norma’

  • e ao final, o que eu chamo de um Manual (em uma animação ilustrada) para o projeto e uso de modelos no campo das ciĆŖncias humanas, usando diretamente as palavras de Michel Foucault

1. Quanto Ć s qualidades atribuĆ­das a terra1 e terra2

Note que as características tanto em terra1 quanto em terra2 são dadas no excerto acima, e nos dois casos, por qualidades dos laços sociais.

Tomando terra1 como sendo a configuração do pensamento filosófico no período clÔssico, nesse período o pensamento funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as aparências, estas, qualidades. Para o pensamento assim configurado não existem a noção de homem como ser capaz de desempenhar uma duplicidade de papéis, e a noção de objeto.

O elenco de qualidades atribuĆ­das ao laƧo social – estandardizado, padronizado, rĆ­gido, hierĆ”rquico, linear, focado – pode ser objeto de reflexĆ£o interessante.Ā 

A qualidade ‘hierĆ”rquico’ estĆ” atribuĆ­da ao pensamento terra1 que eu, aqui, presumo que se refira ao pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775 segundo Foucault.Ā 

Tomando posição em terra2, que eu presumo referir-se ao pensamento moderno, o de depois de 1825 segundo Foucault, essa qualidade ‘hierĆ”rquico’ seria dada por uma estrutura de conformação definida no objeto, uma hierarquia.

Enfatizando, no pensamento moderno os princípios organizadores de uma operação no caminho da Construção de representação nova são Analogia e Sucessão com os métodos AnÔlise e Síntese. 

Ā “De sorte que se vĆŖem surgir,Ā 
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades, 
a Analogia e a Sucessão: 
de uma organização a outra, 
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vÔrios elementos, 
mas a identidade da relação entre os elementos 
(onde a visibilidade nĆ£o tem mais papel) e da função que asseguram; (…)Ā 

Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história

TomemosĀ (ainda posicionados emĀ terra2!)Ā um ‘impensado’ em Foucault ou um ‘intangĆ­vel’ em Forbes; nĆ£o existe representação para isso – ou nĆ£o seria um impensado ou um intangĆ­vel no domĆ­nio de trabalho. Por isso, se for feita a decisĆ£o de resolver essa situação de intangibilidade ou nĆ£o representatividade, esse ‘impensado’ serĆ” objeto em uma operação de construção de uma representação.Ā 

O pensamento converte o impensado em representação.

Aquilo que antes dessa operação era o ‘impensado‘ de Foucault,Ā depois dessa operação de construção de representação nova – conduzida em cada etapa pelo sujeito – nada mais serĆ” do que um pacote logicamente organizado de objetos anĆ”logos ao impensado e seus aspectos, objetos esses adotados em seu conjunto como substitutivos – dentro de certos critĆ©rios de aceitação – daquele ‘impensado’ para o qual nĆ£o havia representação no espaƧo no qual a operação acontece.Ā 

O princĆ­pio organizador do pensamento Analogia estabelece relaƧƵes de analogia das quais surgem objetos anĆ”logos ao impensado mais representĆ”veis. Usando como diz Foucault ‘a sintaxe que autoriza a construção das frases’, esse objeto anĆ”logo Ć© arrastado para o modelo de operaƧƵes construĆ­do segundo as regras da linguagem por meio de uma proposição na qual o homem Ć© sujeito, e o predicado do sujeito Ć© composto por um verbo – a forma de produção, e um atributo, o objeto anĆ”logo que acaba de ser criado na relação de analogia. Agora cada um desses objetos anĆ”logos sĆ£o testados quanto Ć s respectivas possibilidades de representação nesse espaƧo em que a operação acontece. Caso necessĆ”rio, o mĆ©todo AnĆ”lise entra em cena e quebra cada objeto anĆ”logo eventualmente ainda nĆ£o representĆ”vel em outros objetos anĆ”logos mais próximos de suas respectivas possibilidades de representação nesse espaƧo; e o mĆ©todo SĆ­ntese garante que o objeto anĆ”logo inicial ainda pode ser composto pelo conjunto de objetos anĆ”logos resultantes da AnĆ”lise.

AĆ­ entra o princĆ­pio organizador SucessĆ£o. Usando como diz Foucault ‘aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas ao lado e em frente umas das outra, as palavras e as coisas‘, a SucessĆ£o posiciona ao lado, ou em frente uns dos outros, os objetos anĆ”logos criados em substituição ao objeto anĆ”logo nĆ£o representĆ”vel, estabelecendo entre eles relaƧƵes lógicas – de sucessĆ£o.Ā 

Você pode ver isso em uma animação nesta pÔgina, sob DIANTE do objeto. Se necessÔrio, posso dar mais detalhes sobre como isso funciona.

Nota: essa descrição do funcionamento de uma operação de construção de representação para algo antes impensado nĆ£o explica suficientemente o ‘laƧo social’, mas podemos chegar lĆ”.

Continuando. Assim, supondo que terra2 seja de fato o que eu estou pensando que Ć©, o pensamento filosófico moderno – o de depois de 1825, como diz Foucault ‘aquele [pensamento] com o qual queiramos ou nĆ£o, pensamos‘, entĆ£o, hierĆ”rquico Ć© uma qualidade intrĆ­nseca a esse tipo de pensamento, terra2, desde que entendido como referente ao objeto. Como humanos nĆ£o nos Ć© possĆ­vel construir representação para qualquer ‘impensado’ sem que o resultado seja um objeto expresso por uma representação com uma estrutura em hierarquia.

Fechando o longo parĆŖnteses, e voltando ao ponto, supondo que terra1 seja de fato o que penso que Ć©, – o pensamento filosófico clĆ”ssico.

Em assim sendo, a noção de impensado cuja representação Ć© construĆ­da pelo pensamento, nesse tipo de pensamento, nĆ£o existe. Porque nĆ£o existe a noção de objeto e tambĆ©m nĆ£o existe a noção de sujeito da operação, como o homem, que seria capaz de construir representação nova. O homem estĆ” fora da paleta de ideias no pensamento clĆ”ssico. ‘Antes do final do sĆ©culo XVIII o homem nĆ£o existe em nossa cultura. NĆ£o mais do que um gĆŖnero, ou uma espĆ©cie’ Ć© o que nos alerta Foucault.

Logo, nesse tipo de pensamento, sem a noção de objeto prima irmĆ£ da noção de hierarquia, a qualidade ‘hierĆ”rquico’ deve referir-se a outra coisa que nĆ£o o objeto. EntĆ£o o que Ć© danoso, prejudicial, e justifica mudanƧas Ć© essa outra coisa que estĆ” associada a essa qualidade ‘hierĆ”rquico’, e que vista mais de perto, nĆ£o pertence a esse pensamento.Ā 

E essa coisa não é declarada por Forbes, o que poderia gerar confusão.

Mas a palavra hierarquia é muito usada, e mesmo em terra1; as organizações foram bem ou mal se organizando e apresentando problemas. Sem atentar para que tipo de pensamento estavam usando. E aí, por diferentes razões, alguns autores passaram a demonizar a organização hierÔrquica sem dizer especificamente o que estavam demonizando. Isso sem noção de que a estrutura hierÔrquica é inerente, indissociÔvel, ao pensamento moderno, e às operações que transcorrem organizadas sob essa configuração do pensamento.

EntĆ£o, se estou sendo entendido, hierĆ”rquico em terra1, nada tem, nem pode ter, a ver com o objeto de operaƧƵes sob o pensamento moderno que terminam construindo representaƧƵes novas. E o pensamento voltado para o ‘intangĆ­vel’ de Forbes ou ‘impensado’ de Foucault nĆ£o pĆ”ra de pĆ© sem o objeto e sem o sujeito; e portanto necessariamente com a qualidade ‘hierĆ”rquico’ que em Forbes estĆ” posta em terra1.

Pode haver confusão aí, demonizando a hierarquia, o que, em se tratando de pensamento moderno (terra2) em qualquer caso, é na verdade é uma missão impossível. 

Obviamente não sei como essa qualidade afeta o laço social descrito por Forbes, mas posso ver com alguma clareza como essa qualidade afeta a estrutura do pensamento nas operações sob o pensamento filosófico moderno, no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. E a hierarquia é característica integrante e indissociÔvel do resultado nessa configuração do pensamento, arrastada para a representação (projeto) decorrente do referencial, dos princípios organizadores e dos métodos utilizados em um pensamento orientado pelo par sujeito-objeto.

Veja isso na seguinte pƔgina

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Não se ganha nada ao retirar a qualidade hierÔrquica da estrutura inerente à construção de representação nova (projeto); ao contrÔrio perde-se muito, essa tentativa empobrece a visão da operação, oblitera o funcionamento das duas sintaxes da língua usada para modelar operações; por essas razões, mas acima de tudo, essa parece ser uma missão impossível. A estrutura hierÔrquica da operação da qual resulta uma representação nova é resultado do perfil de configuração do pensamento.

2. Quanto ao incĆ“modo de Forbes com a ‘norma’

Quanto ao incĆ“modo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo Ć  Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’, que me permite uma visĆ£o de conjunto muito mais completa e Ćŗtil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas.

A ‘norma‘ que incomoda Forbes, Ć© a expressĆ£o de uma convenção, um acordo feito para atender Ć s condiƧƵes requeridas por uma ‘função‘; esse acordo, essa convenção, visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, e o compartilhamento dessa ‘norma‘ isto Ć©, da solução conseguida e convencionada para a obtenção prĆ”tica dessa ‘função’.

Vale a pena examinar, usando o pensamento de Michel Foucault, o que se configura quase comoĀ 

Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas

em trĆŖs tempos:

  • o espaƧo geral dos saberes sob o pensamento moderno chamado por Foucault de Triedro dos saberes; com as faces e eixos do Triedro dos saberes;
  • a classe de modelos das ciĆŖncias humanas;
  • o uso dos pares de modelos constituintes fora do domĆ­nio próprio em que foram formados.

examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:

ā€œAssim, estes trĆŖs pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domĆ­nio inteiro do conhecimento do homem.ā€Ā Cartilha; Cap. 10 – As ciĆŖncias humanas; tópico I – O triedro dos saberes

Esse excerto da Cartilha dĆ”-nos conta de que esses trĆŖs pares de modelos constituintes, das ciĆŖnciasĀ 

  • daĀ VidaĀ (Biologia) par constituinteĀ Ā [função-norma]Ā 
  • doĀ TrabalhoĀ (Economia)Ā Ā par constituinteĀ [conflito-regra]Ā eĀ 
  • daĀ LinguagemĀ (Filologia)Ā par constituinteĀ Ā [significação-sistema]Ā 

estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a anÔlise da produção. Essas três ciências compõem, segundo Foucault, a região epistemológica fundamental.

Forbes supostamente estÔ analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, estÔ elaborando bem no campo de uma ciência humana. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual 

  • o par constituinte dominante Ć© escolhido, em cada caso especĆ­fico, por quem formula o modelo,Ā 
  • e os coeficientes que determinam o mix da composição no modelo especĆ­fico, que estabelecem a proporção em que entram no modelo os trĆŖs pares constituintes – e a predominĆ¢ncia de um deles sobre os outros – sĆ£o tambĆ©m escolhidos pelo analista formulador.Ā 

Isso evidencia que esse incĆ“modo de Forbes com a ‘norma‘ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laƧos sociais porque estes estĆ£o afetos,Ā 

  • desde logo Ć s ‘funƧƵes’ normatizadas pela ‘norma’ (o par constituinte do quase-transcendental Vida),Ā 

mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais: 

  • [conflito-regra] da Economia,Ā 
  • e [significação-sistema] da Filologia.

Ɖ claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirĆ”vel do espaƧo dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto.Ā 

Mas por que exatamente farĆ­amos isso?

Um

Manual para uso e projeto de modelos no campo das ciĆŖncias humanas, jĆ” constituĆ­dos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

A frase citada por Forbes:

“Freud explica ⇒ Freud implica:

  • no ‘explica’ vocĆŖ tem um saber anterior ao ato; 

  • no ‘implica’ vocĆŖ tem um ato anterior ao saber.”

Significado da palavra ‘Implica’ no DicionĆ”rio Online de portuguĆŖs

Implica vem do verbo implicar. O mesmo que: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde.

Significado de implicar

Expressar desdém, deboche, zombaria; hostilizar: ele implica com seu irmão constantemente; implicava-se com o vizinho.

Obter como resultado, efeito ou consequência; originar: a devolução do imóvel implica multa.

Fazer com que algo se torne necessÔrio; requerer: o trabalho não implica sua participação.

SinƓnimos de Implica

Implica Ʃ sinƓnimo de: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde

AntƓnimos de Implica

Implica Ć© antĆ“nimo de: desimplica

Significado da palavra ‘Explica’ no DicionĆ”rio Online de portuguĆŖs

verbo transitivo diretoFazer com que fique claro e compreensĆ­vel; descomplicar uma ambiguidade: explicar um mistĆ©rio.Ser a causa de: a desgraƧa explica sua amargura.Conseguir interpretar o significado de: explicar um texto irĆ“nico.verbo transitivo direto e bitransitivoFazer com que alguma coisa seja entendida; explanar: explicar uma teoria; explicar a matĆ©ria aos alunos.verbo transitivo direto e pronominalProvidenciar uma justificativa ou desculpa; desculpar-se: preciso explicar meu comportamento; o presidente explicou-se ao povo.Manifestar-se atravĆ©s das palavras; exprimir-se: explicar uma paixĆ£o; explicou-se numa linguagem bem popular.Etimologia (origem da palavra explicar). Do latim explicare.

SinƓnimos de Explicar

Explicar Ć© sinĆ“nimo de: lecionarpontificaradestraramestrardoutrinareducarensinarformarinstruir

AntƓnimos de Explicar

Explicar Ć© o contrĆ”rio de: obscurecercomplicar

Ɖ bem implicante o leque de significados das palavras ‘explica’ e ‘implica’. Implica pode significar atĆ© confunde! mas Ć© tambĆ©m ‘origina’.

Implica Ć© origina, requer. Explicar Ć© formar, instruir. Complicar, Ć© antĆ“nimo de explicar. 

Etimologicamente complicar é dobrar junto; implicar é entrelaçar, juntar, reunir. Muito próximos os significados, não?

Pensando o ‘Explicar’, em uma operação, como a procura de elementos que deem sustentação na experiĆŖncia para o que se  afirma com respeito ao objeto da operação – inclusive indicando sua origem no pensamento, Explica‘ e ‘Implica‘ sĆ£o palavras com dois conjuntos de significados diferentes mas cuja intersecção Ć© nĆ£o vazia; hĆ” significados em comum; veja a etimologia das duas palavras. 

Essa relação de sucessĆ£o ou de precedĆŖncia entre ato e conhecimento tem bastante mais a ver com:

  • o modo como o pensamento Ć© configurado
  • com a natureza – construção de representação nova ou instanciamento de representação existente – da operação envolvida em cada especĆ­fico movimento do pensamento, 

do que propriamente com o significado escolhido para essas duas palavras. 

Se assim for, Ć© melhor declarar explicitamente quais sĆ£o as condiƧƵes de possibilidade do pensamento selecionadas, e qual a natureza da operação em que estamos pensando, se de construção de representação nova, se de instanciamento de representação anteriormente existente.  

AlĆ©m disso, dependendo dessa natureza da operação, a operação pode acomodar-se, desde logo, a uma configuração do pensamento clĆ”ssico, anterior a 1775, ou a uma configuração do pensamento moderno, o de depois de 1825. 

Os perfis das duas configuraƧƵes do pensamento, segundo o pensamento de Foucault:
os pensamentos clƔssico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)

pensamento clƔssico,
antes de 1775

perfil do pensamento clƔssico,
o de antes de 1775

pensamento moderno,
depois de 1775

perfil do pensamento moderno,
o de depois de 1825

Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clÔssico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825.

AquƩm do objeto

Operação de pensamento no período clÔssico, antes de 1775
operação de instanciamento de representação formulada
modo de ser fundamental não muda
Ordem arbitrƔria ou Quadro de simultaneidades

Diante do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825,
no caminho da Construção da representação:
‘modo de ser fundamental’ sim, muda.
Ordem dada pela gramƔtica da lƭngua

 Além do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho
do Instanciamento da representação:
‘modo de ser fundamental’ nĆ£o muda.

saber anterior ao ato

ato anterior ao saberĀ 

saber anterior ao ato

Muito diferentes, uma da outra, se atentarmos ao pensamento de Foucault. Você pode ver essas diferenças aqui. Isso, se o modo de ser do pensamento não for explicitado onde e quando devido.

Esta argumentação tem como pano de fundo o pensamento de Foucault. E a frase acima Ć© a expressĆ£o de um pensamento atual tal como ele aflora. Vale, portanto, rever como Foucault avaliava o pensamento em geral, tal como aflorava durante o seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’, em 1966, o que, pelo que vejo, nĆ£o mudou.

Veja Os dois obstĆ”culos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho.

usando essa citação de modo mais restrito, Foucault via um pensamento contaminado, nas palavras dele, ‘dominado’ por um pensamento de idade anterior. Ele via um pensamento ‘dominado pela impossibilidade de fundar as sĆ­nteses (da empiricidade objeto) no espaƧo da representação’. 

Nessa frase acima, eu vejo esse mesmo tipo de contaminação, que gera uma dubiedade, que queremos levantar com a ajuda do mestre, Michel Foucault.

Para a situação sugerida no caso do ‘implica’ no lado direito da frase – um ato anterior ao saber -, a configuração do pensamento deve, necessariamente, permitir a geração de saber novo (ser capaz de fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação); deve portanto permitir a construção de representação nova para o objeto do ato, ou da operação. 

Essa possibilidade – inerente ao proposto no lado direito da frase -, Ć© privativa do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Mas só ocorre quando o ‘Freud’ da frase estiver com um pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno, e na etapa da Construção da representação. O mesmo ‘Freud’, no pensamento moderno, mas na etapa de Instanciamento de representação relativa a saber anteriormente obtido, estarĆ” diante de um saber anterior ao ato.

O pensamento clĆ”ssico, em suas teorias, modelos e sistemas, nĆ£o permite construção de representação nova (porque era marcado pela impossibilidade de fundar as sĆ­nteses …, esse o obstĆ”culo vislumbrado por Foucault); no pensamento clĆ”ssico tudo o que existe estĆ” lĆ” desde sempre e para sempre, e por obra de Deus compondo o Universo.

Para a situação sugerida no ‘Explica”, o lado direito da frase – saber anterior ao ato – nessa perspectiva do pensamento de Foucault, gera uma dubiedade que só pode ser resolvida tendo presentes, em detalhe, como sĆ£o as operaƧƵes as que sim, podem, e as que nĆ£o podem ‘fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação’. Sem discernimento, o pensamento fica ‘dominado’ porque pode estar imerso no perfil do pensamento clĆ”ssico, ou no perfil do pensamento moderno, mas no caminho do Instanciamento da representação.

Pensando nessas relações de precedência ou sucessão entre ato e saber, e nas operações em suas possíveis etapas, suas configurações e perfis ou estruturas de conceitos sobre os quais são concebidas, não hÔ razão para que essa frase se restrinja a Freud. Poderia ser qualquer outro sujeito. Mas se levarmos em conta a menção especificamente a Freud, ela arrasta para a frase o modo de ser do pensamento desse grande autor, classificado por Michel Foucault como um pensador moderno, com estrutura de pensamento daquela configuração de pensamento de depois de 1825.

Dado esse conjunto de significados em comum, esses dois conceitos ‘Explica‘ e ‘Implica‘ e essas relaƧƵes de precedĆŖncia ou de sucessĆ£o entre ato e saber me fazem lembrar do pensamento de Humberto Maturana, que pode ser visto em uma animação de menos de 4 minutos, na seguinte pĆ”gina; 

Figura 2 – Diagrama ontológico; capĆ­tulo ReflexƵes epistemológicas, do livro Cognição, CiĆŖncia e Vida cotidiana; ou ainda a Figura 2 – O explicar e a ExperiĆŖncia; capĆ­tulo Linguagem, EmoƧƵes e Ɖtica nos Afazeres PolĆ­ticos, do livro EmoƧƵes e Linguagem na Educação e na PolĆ­tica, de Humberto Maturana Romesin

Essa Figura 2 Ć© original de Maturana (apenas a arte foi editada – os elementos grĆ”ficos que representam as ideias foram modificados) mas em vez de usar dois rótulos como explica e implica, Maturana usa um pensamento no qual emprega duas formas para o mesmo rótulo ‘Explicar’, com diferentes significados correspondentes Ć” mudanƧa que estĆ” discutindo: 

  • lado esquerdo da figura: ‘Explicar sem reformular’ no que ele chama de Objetividade sem parĆŖnteses: 

(saber anterior ao ato, ou o ‘Explica’ no lado esquerdo da frase)

  • lado direito da figura: ‘Explicar com Reformular’, no que ele chama de Objetividade entre parĆŖnteses.

(saber posterior ao ato, ou o ‘Implica’ do lado direito da frase)

Nesse pensamento, no original de Maturana, ele atribui pressupostos para o tipo de pensamento desenvolvido em cada lado da figura:

  • do lado esquerdo dessa Figura 2, o pressuposto Ć© ‘a existĆŖncia precede a distinção‘ (aquela distinção feita na operação);
    • o que leva a uma Ćŗnica realidade, Universo, transcendĆŖncia.

e reflete o saber anterior ao ato (operação)

  • e no lado direito dessa Figura 2, ‘a existĆŖncia se constitui na distinção‘ ou ‘a existĆŖncia sucede Ć  distinção’
    • o que conduz a mĆŗltiplas realidades.

e reflete o saber posterior ao ato (operação)

Usando agora o pensamento de Michel Foucault. Veja, por favor, e novamente, as pĆ”ginas seguintes com animaƧƵes que  colocam palavras de Foucault sobre paletas de elementos de imagem e respectivas estruturas:

primeiro, a operação de construção de representação nova (projeto) sob o pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno:

Funcionamento das operaƧƵes (…) operação Diante do objeto

e depois, veja a pƔgina

Formas de reflexão que se instauram em nossa cultura, segundo o pensamento de Michel Foucault, e correspondentes perfis de conceitos que permitem identificar cada um deles.

Resumidamente – e para facilitar – os dois perfis ou estruturas de conceitos, sĆ£o:

  • para o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775
    • referencial: Ordem pela ordem;
    • princĆ­pios organizadores: carĆ”ter e similitude;
    • mĆ©todos: identidade e semelhanƧa; 
  • pensamento moderno, o de depois de 1825
    • referencial: Utopia;
    • princĆ­pios organizadores: Analogia e SucessĆ£o;
    • mĆ©todos: AnĆ”lise e SĆ­ntese 

 Examinando os dois perfis caracterĆ­sticos das duas configuraƧƵes do pensamento, vĆŖ-se que: 

(Aviso: Ʃ melhor examinar primeiro o perfil do pensamento moderno, com suas capacidades de tratar propriedades originais e constitutivas e depois o perfil do pensamento clƔssico)

  • com o perfil de caracterĆ­sticas do pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775, realmente a suposição Ć© que tudo o que existe compƵe o Universo que estĆ” lĆ” desde sempre e para sempre como obra de Deus, e que a existĆŖncia precede a distinção;
    • a todo ato, precede todo o saber existente: (sim, sempre temos um saber anterior ao ato) o perfil do pensamento clĆ”ssico nĆ£o comporta a construção de representaƧƵes novas e assim todo saber Ć© anterior a qualquer ato (operação) do qual resulta uma explicação que Ć© uma composição de saberes (representaƧƵes) anteriormente existentes;
  • e com o perfil do pensamento moderno, o de depois de 1825, a suposição Ć© que hĆ” mĆŗltiplas realidades, que o pensamento pode construir representaƧƵes novas como resultado das distinƧƵes que faz, e que a existĆŖncia, portanto, sucede a distinção,
    • a todo ato, sucede saber novo – ato desencadeado pelo sujeito (operação) com um objeto -, desde que o ato seja bem sucedido, e que a natureza da operação seja a construção de saber novo. 

Nota: não se trata de afirmar que na idade clÔssica não se produzia representações novas; mas dizer que as teorias, modelos e sistemas sob essa configuração do pensamento não abrangiam a etapa de construção de representações novas.

Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação nova (projeto) para uma empiricidade objeto, com um pensamento configurado de acordo com o pensamento moderno, o de depois de 1825 – uma vez que a configuração do pensamento anterior, o clĆ”ssico, nĆ£o pode construir novas representaƧƵes.

Fica claro – entendida essa sistemĆ”tica de funcionamento – que no pensamento moderno, e na etapa de construção de saber novo, (caminho da Construção da representação)

  • a operação tem inĆ­cio sem qualquer conhecimento sobre o que Ć© objeto da operação ou da explicação, ou ainda daquele algo a ser implicado. Salvo a arquitetura do que seja uma representação, como classe de produƧƵes do pensamento; 
  • e termina com esse conhecimento.

Como reza a frase no lado direito, sim, tem-se um ato anterior ao saber, mas… somente no caso do pensamento moderno, e no caminho da Construção da representação. PorĆ©m, estando no mesmo lado direito, e tambĆ©m no pensamento moderno, se estivermos no caminho do Instanciamento de representação previamente existente – o que mais acontece em situaƧƵes de realidade – a situação se inverte, e teremos um saber anterior ao ato, como no caso anterior do pensamento clĆ”ssico.

Dado que a possibilidade de saber novo só acontece com um pensamento configurado com o perfil característico do pensamento moderno, essa frase (de efeito) depende de quais sejam as visões de operações adotadas (o ato) em qual etapa da operação e de qual configuração do pensamento.

A relação de precedĆŖncia ou de sucessĆ£o entre o ato e o saber Ć© essencial nessa frase e podemos deixar de lado, e em segundo plano, os nomes ‘explica‘ e ‘implica‘. 

Essa relação de sucessão corresponde ao que ocorre nas operações sob as configurações do pensamento clÔssico e moderno da seguinte forma:

  • pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775:
    • o saber (o conhecimento representado pelas representaƧƵes previamente existentes) 
    • Ć©, sempre, anterior ao ato (a operação); e o resultado, nesse modelo de operaƧƵes, Ć© uma combinação de representaƧƵes anteriormente existentes.
  • no pensamento moderno, o de depois de 1825:
    • no caminho da Construção de representação nova, nĆ£o existente no ambiente em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação) 
      • Ć© posterior ao ato (a operação de construção da representação).
    • no caminho do Instanciamento de representação jĆ” existente no domĆ­nio em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação)
      • Ć© anterior (volta a ser) ao ato (a operação de Instanciamento da representação objeto da operação) – tal como no lado esquerdo e pensamento clĆ”ssico.

EntĆ£o, para que a frase faƧa algum sentido, Ć© necessĆ”rio atentar qual seja o perfil de configuração do pensamento diferente, e em qualquer caso, uma visĆ£o clara do que sejam operaƧƵes, em cada lado da seta que estĆ” no meio dessa frase: 

  • no lado esquerdo da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clĆ”ssico, o de antes de 1775
      • sim, o saber precede o ato (tanto em uma explicação quanto em uma implicação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825,
      • nĆ£o, o saber nĆ£o precede o ato se a operação estiver no caminho da Construção da representação (seja no explica ou no implica)
      • sim, o saber precede ao ato se o caminho for o do Instanciamento de representação existente
  • no lado direito da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clĆ”ssico, o de antes de 1775,
      • sempre temos o saber anterior ao ato (a operação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825;
      • só teremos ato (operação) anterior ao saber no caso da operação estar no caminho da Construção da representação; 
      • caso a operação esteja no caminho do Instanciamento da representação, o saber Ć© anterior ao ato (a operação).
  • e a seta do meio da frase passarĆ” a indicar entre um lado e outro, dependendo do caso, uma descontinuidade epistemológica.

AtƩ agora Freud entrou nessa frase como Pilatos no credo.

E essa referência a Freud nessa frase também cria mais problemas, desde que usemos o pensamento de Michel Foucault.

Segundo Foucault, Freud Ć© um pensador moderno

Logo, ele teria noção dos modelos de operações no pensamento moderno; e também os do pensamento clÔssico, se não, não teria escolhido pensar com o missal do pensamento moderno.

E assim, todas as opƧƵes condicionadas ao pensamento clƔssico acima deixam de valer no caso de Freud.

Então, o pensador moderno Freud

  • no lado esquerdo da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • nĆ£o dispƵe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber jĆ” existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispƵe de saber antes do ato.
  • no lado direito da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • nĆ£o dispƵe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber jĆ” existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispƵe de saber antes do ato.

O comportamento do pensador moderno Freud nĆ£o Ć© função do nome dado Ć  operação, se ‘explica’ ou se ‘implica’, mas o que a operação pretende com respeito ao seu objeto e o estado em que se encontra esse objeto no ambiente em que a operação acontece – jĆ” existe ou ainda nĆ£o existe representação para ele nesse ambiente.

EntĆ£o um ato de ‘explicar’ de Freud pode nĆ£o ter um saber anterior; o que contradiz a frase no lado esquerdo. E tambĆ©m o estabelecimento de uma implicação dele pode ter um saber anterior, o que contraditaria o lado direito da frase. 

Mostramos isso no Funcionamento de operações, e um ato (operação) desse tipo preenche a etapa de Instanciamento de representações anteriormente construídas.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Aparentemente hĆ” uma inconsistĆŖncia entre o pensamento no vĆ­deo 150 e o pensamento de Michel Foucault: o movimento do pensamento entre a psicanĆ”lise de Freud e a de Lacan: o movimento feito desde uma psicanĆ”lise (pelo menos alegadamente) baseada na representação, em Freud, para uma outra baseada fora da representação, em Lacan
  • as duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ segundo o posicionamento do ponto de inĆ­cio de leitura 
    • no cruzamento das disponibilidades do que Ć© dado e o que Ć© recebido na troca; 
    • ou antes da possibilidade da troca, quando um dos objetos envolvidos nĆ£o estĆ” disponĆ­vel, investigando a permutabilidade;

e as duas correspondentes origens da essência da linguagem e do valor carregado pela proposição para a representação.

  • Uma possĆ­vel contradição:
    • a aparente descontinuidade epistemológica na apresentação das teorias modelos e sistemas relacionados Ć  psicanĆ”lise no vĆ­deo 150, consistente na mudanƧa de bases da psicanĆ”lise na representação para fora dela entre Freud e Lacan;
    • e ao contrĆ”rio, uma continuidade epistemológica na apresentação de teorias, modelos e sistemas do liberalismo e variantes, no vĆ­deo 254: usando o pensamento de Michel Foucault sobre isso, essa alteração certamente aconteceu;

ComentƔrios

1. Tendo como referência o pensamento de Michel Foucault, não hÔ dúvida de que Freud foi um pensador moderno; assim, o movimento que teria sido feito por Lacan desde uma psicanÔlise de Freud, com base na representação para uma outra, de Lacan, fora da representação pode não ter sido possível uma vez que a psicanÔlise de Freud jÔ tinha sua base fora da representação.

2. Teorias, modelos e sistemas, como produƧƵes do pensamento, transcorrem sempre com a presenƧa de uma linguagem; o veĆ­culo de carregamento de valor Ć© sempre a proposição e o destino do valor carregado Ć© sempre a representação. A questĆ£o parece ser, entĆ£o, a origem – se interna ou externa Ć  linguagem – do valor atribuĆ­do Ć  proposição.Ā 

3. A alteração de uma origem de valor interna à linguagem para uma externa à linguagem implica em uma mudança no modo de conhecer o que dizemos que conhecemos, uma mudança epistemológica. 

Seguem comentÔrios em tópicos:

A descrição feita por Michel Foucault da psicanÔlise de Freud dÔ-nos conta ser Freud um pensador moderno.

Em nossa Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’) Foucault nĆ£o hesita em classificar Freud como um autor moderno, e caracteriza o pensamento clĆ”ssico como ā€˜aquele para o qual a representação existe’.

No livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas; Cap. 10 – As CiĆŖncias humanas; tópico V – PsicanĆ”lise e etnologia, de Michel Foucault, encontramos subsĆ­dios para afirmar que o autor discorda frontalmente dessa afirmativa de que a psicanĆ”lise de Freud tivesse suas bases na representação; nesse texto Foucault mostra que, ao contrĆ”rio, o pensamento de Freud jĆ” tem suas bases fora da representação; e expƵe como e por que ele faz esse juĆ­zo mostrando o funcionamento da psicanĆ”lise – tendo como elemento organizador dessa argumentação o modelo constituinte padrĆ£o, comum a todas ciĆŖncias humanas por ele desenvolvido nesse livro, um modelo composto pelos pares de modelos constituintes das ciĆŖncias da Vida (Biologia) [função-norma]; do Trabalho (Economia) [conflito-regra]; da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].

“NĆ£o hĆ” que supor que o empenho freudiano
seja o componente de uma interpretação do sentido
e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;

seguindo o mesmo caminho que as ciĆŖncias humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrƔrio,
a psicanÔlise se encaminha em direção ao momento
– inacessĆ­vel, por definição, a todo conhecimento teórico do homem,

a toda apreensão contínua em termos de significação, de conflito ou de função
– em que os conteĆŗdos da consciĆŖncia se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
ao contrÔrio das ciências humanas que, retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
permanecem sempre no espaƧo do representƔvel,
a psicanÔlise avança para transpor a representação,
extravasĆ”-la do lado da finitude e fazer assim surgir, lĆ” onde se esperavam 

  • as funƧƵes portadoras de suas normas
  • os conflitos carregados de regras 
  • e as significaƧƵes formando sistema

o fato nu de que 

  • pode haver sistema (portanto, significação), 
  • regra (portanto, oposição), 
  • norma (portanto, função). 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso,
Ć  margem dela mesma,
aberta, de certo modo ao fechamento da finitude,
desenham-se as trĆŖs figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funƧƵes e suas normas,

vem fundar-se na repetição muda da Morte, 

  • os conflitos e as regras,

na abertura desnudada do Desejo, 

  • as significaƧƵes e os sistemas,

numa linguagem que Ć© ao mesmo tempo Lei.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;

Cap. 10 – As CiĆŖncias humanas;
tópico V – PsicanĆ”lise e etnologia

e especial destaque para o modo como Foucault vĆŖ que isso Ć© interpretado:

Sabe-se como psicólogos e filósofos
denominaram tudo isso:

mitologia freudiana. 

Era realmente necessƔrio
que este empenho de Freud
assim lhes parecesse;

para um saber que se aloja no representƔvel,
aquilo que margeia e define, em direção ao exterior,
a possibilidade mesma da representação
nĆ£o pode ser senĆ£o mitologia.ā€ 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;

Cap. 10 – As CiĆŖncias humanas;
tópico V – PsicanĆ”lise e etnologia

Isso permite pensar que a razão de ser da psicanÔlise de Lacan, encontre seu fundamento em outro movimento de pensamento feito por ele, porque a psicanÔlise de Freud jÔ estava formulada desde fora da representação.

Em que consiste, então, a contribuição feita por Lacan?

Lembrando os obstÔculos percebidos por Foucault em seu trabalho, uma impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, arriscaria dizer que a contribuição de Lacan foi formular uma psicanÔlise para além do objeto.  

Ā 

Essas duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ situam-se de lados opostos em relação Ć  descontinuidade epistemológica posicionada por Michel Foucault como tendo ocorrido entre 1775 e 1825. Isso colocaria uma produção do pensamento baseada na representação do lado oposto a uma outra, baseada desde fora da representação. (O movimento de pensamento que o vĆ­deo informa ter sido feito por Lacan com relação a Freud.

Podemos ver isso sob o ponto de vista das alteraƧƵes na própria linguagem em decorrĆŖncia da visĆ£o que temos do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ de pensamento ou outra, e de acordo com as explicaƧƵes de Michel Foucault:

i)Ā Ā Ā Ā Ā  As diferenƧas de funcionamento da linguagem para modelos baseados na representação e modelos fora da representação, – como o que vai descrito no vĆ­deo 254 teria ocorrido entre as psicanĆ”lises de Freud e de Lacan, – e em geral, no funcionamento da linguagem em qualquer construção do pensamento, tendo em vista quais sejam as bases em que se sustentam essas construƧƵes do pensamento, seĀ na representação ou seĀ fora da representação.

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio de leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ – de qualquer tipo – e a anĆ”lise das diferentes origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes em função da inserção do ponto de inĆ­cio de leitura de ā€˜operaƧƵes’.

Esse link mostra uma figura com a visĆ£o ampla do que entendemos como o fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ com representaƧƵes, incluindo as operaƧƵes de troca, mostrando os dois pontos nos quais podemos inserir o inĆ­cio da leitura que fazemos desse fenĆ“meno:

  • No ponto de cruzamento entre as disponibilidades do que Ć© dado e o que Ć© recebido na troca: o momento em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estĆ£o jĆ” disponĆ­veis; discutindo aĀ 
  • Em um ponto anterior a esse, quando pelo menos um dos objetos ainda nĆ£o estĆ” disponĆ­vel.

A pƔgina mostra:

(1)Ā Ā Ā  O que nĆ£o muda entre as duas possibilidades de inserção do ponto de leitura de ā€˜operaƧƵes’

A proposição é o bloco construtivo padrão fundamental para construção de representações.

ā€œA proposição Ć© para a linguagem
o que a representação é para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar
porquanto, desde que a decomponhamos,
não encontraremos mais o discurso,
mas seus elementos como tantos materiais dispersos.ā€
As palavras e as coisas; Cap. 4 – Falar; tópico III – Teoria do verbo

A representação carregada de valor como condição para que uma coisa possa representar outra em uma operação de troca.

(…) ā€œEm outras palavras, para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
Ć© preciso que elas existam jĆ” carregadas de valor;
e, contudo, o valor só existe no interior da representação.ā€
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

(2)    O que sim, muda entre essas duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura

Antes de mais nada, muda a abrangência da visão que temos do que seja uma operação, em decorrência do ponto de inserção do início de leitura que fazemos desse fenÓmeno. HÔ duas possibilidades de inserção desse ponto de início de leitura de operações:

  • No ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido, jĆ” disponĆ­veis os dois objetos intervenientes em uma operação de troca;
  • Antes desse ponto, quando ainda um dos objetos nĆ£o estĆ” disponĆ­vel

A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação é nos dois casos, a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações  com origens de valor distintas.

No primeiro caso o valor é carregado na proposição diretamente. AliÔs, a proposição jÔ chega carregada de valor.

No segundo caso, o valor chega à proposição no bojo de uma operação de construção da representação para o objeto ainda não disponível. Isso em outras palavras quer dizer durante o projeto desse objeto. E as fontes de valor neste caso são

  • as designaƧƵes primitivas;
  • e a linguagem de ação ou de uso.

ii)Ā Ā Ā  O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ā€˜operação’.

A citação acima prossegue da seguinte forma:

(…) ā€œo valor só existe no interior da representação

  • atual [representação do objeto envolvido na troca jĆ” existente]

  • ou possĆ­vel [objeto cuja representação foi construĆ­da quando no teste de permutabilidade]

Ā isto Ć©, no interior

  1. da troca [objetos envolvidos na operação de troca jÔ existentes]

  2. ou da permutabilidade [a prospecção da possibilidade da troca com a construção da representação do objeto a ser levado ao circuito das trocas, se possĆ­vel]ā€

As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

ā€œDaĆ­ duas possibilidades simultĆ¢neas de leitura:

  • uma analisa o valor no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  • outra analisa-o como anterior Ć  troca
    e como condição primeira para que esta possa ocorrerā€

A primeira dessas duas leituras corresponde a uma anƔlise que coloca e encerra
toda a essência da linguagem no interior da proposição;
e a outra, a uma anÔlise que descobre essa mesma essência da linguagem

  • do lado das designaƧƵes primitivas
  • e da linguagem de ação ou raizā€
  1. ā€œno primeiro caso, com efeito,
    a linguagem encontra seu lugar de possibilidade
    numa atribuição assegurada pelo verbo
    – isto Ć©, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras
    mas que as reporta umas Ć s outras;
    o verbo, tornando possĆ­veis todas as palavras da linguagem
    a partir de seu liame proposicional,
    corresponde Ć  troca que funda,
    como um ato mais primitivo que os outros,
    o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;
  2. a outra forma de anƔlise,
    a linguagem estĆ” enraizada fora de si mesma
    e como que na natureza, ou nas analogias das coisas;
    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento Ć s palavras
    antes mesmo que a linguagem tivesse nascido,
    corresponde à formação imediata do valor,
    antes da troca e das medidas recĆ­procas da necessidade.”

    As palavras e as coisas: Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

Veja, por favor, o funcionamento das operações sob o pensamento clÔssico, o de antes de 1775 e o moderno, depois de 1825 em 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Podemos ver, do entendimento de como se desenvolvem as operações em um caso e em outro, a correspondência bastante estreita entre as explicações dadas por Foucault na citação acima.

Veja também os dois conceitos para o que seja um verbo, e identifique o verbo envolvido no primeiro caso em que a atribuição de valor é assegurada diretamente por ele; e o verbo no segundo caso, em outra configuração da linguagem na qual o valor atribuído à representação via a proposição, tem origem fora da linguagem nas designações primitivas e na linguagem de ação ou de uso. 

Conceitos homÓnimos mas com significados diferentes entre a configuração do pensamento na idade clÔssica e no pensamento moderno

HÔ, aparentemente, uma contradição entre os dois vídeos do Canal Falando nisso, os de números 150 e 254.

No vĆ­deo 150 hĆ” a percepção de que efetivamente existem produƧƵes do pensamento – teorias, modelos e sistemas, baseados na representação, e outras, baseadas fora da representação; e esse Ć© um movimento de pensamento importante – nada mais nada menos do que uma descontinuidade epistemológica segundo o pensamento de Foucault,

Embora segundo o pensamento de Michel Foucault a psicanÔlise de Freud jÔ tivesse suas bases fora da representação, mas uma mudança de bases como essa sem dúvida significaria uma alteração epistemológica.

Evento dessa mesma natureza, uma descontinuidade epistemológica, tambĆ©m aconteceu para as produƧƵes do pensamento associadas ao liberalismo e neoliberalismo, no perĆ­odo histórico abrangido pelo vĆ­deo 254 . Isso estĆ” relatado em bastantes detalhes por Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, e Ć© inerente ao estilo de arqueologia adotado nesse livro.

 Mas esse movimento do pensamento deixa de ser considerado para as teorias, modelos e sistemas ligados ao Liberalismo e Neoliberalismo nos questionamentos feitos no vĆ­deo 254 – ‘Neoliberalismo e sofrimento’. Isso leva a crer que a natureza dessa mudanƧa de embasamento desde na representação para fora dela foi tratada, no vĆ­deo 150, nĆ£o como uma questĆ£o constituinte, mas como uma 

Enquanto no vídeo 150 os modelos estão predominantemente no domínio da Linguagem, no liberalismo e variações, estão no domínio das ciências do Trabalho (Economia).qualidade apenas.

Veja nesta pƔgina

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ā€˜Trabalho’: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817, e as diferenƧas entre esses dois conceitos segundo Michel Foucault.

exatamente essa mudanƧa de bases.

Entre esses dois pensadores hĆ” uma diferenƧa na visĆ£o do que sejam operaƧƵes avaliĆ”vel pela amplitude da visĆ£o do fenĆ“meno ā€˜operação’ entre esses dois princĆ­pios para trabalho. Na parte inferior da pĆ”gina que o link acima dĆ” acesso, a explicação dada por Foucault deixa  bem clara essa diferenƧa de amplitude na visĆ£o de ‘operaƧƵes’. 

David Ricardo inclui, em seu Princípio Dual de Trabalho, de 1817, também a etapa da construção de representação nova enquanto que Adam Smith não faz isso.

Essa alteração na inserção do ponto de inĆ­cio do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ altera o modo como uma operação Ć© vista e implica em uma reconfiguração da linguagem no que ela tem de essencial: o modo como a proposição Ć© formada, e como o valor carregado na proposição Ć© levado por esta para a representação.

Isso pode ser visto em 

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ 

e também na argumentação abaixo.

Havia uma confusão em Adam Smith, que consistia em estabelecer uma assimilação entre:

  • o trabalho como atividade de produção;
  • e o trabalho como mercadoria que se pode comprar e vender.

Essa assimilação, feita em Adam Smith, passa a ser em Ricardo uma distinção entre:

  • essa forƧa, esse esforƧo, esse tempo do operĆ”rio que se compram e se vendem, tomados como mercadoria que se pode comprar e vender,
  • e essa atividade que estĆ” na origem do valor das coisas, tomada como atividade de produção.

distinção essa que, segundo Foucault, foi feita, pela primeira vez, e de forma radical, pelo pensamento de David Ricardo, em nossa cultura; e isso implica em uma expansĆ£o da visĆ£o do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’.

Vista desse modo,

  • como uma assimilação, entre ā€˜atividade de produção’ e ā€˜mercadoria que se pode comprar ou vender’ ou ā€˜forƧa, esforƧo, tempo do operĆ”rio, que se compram e se vendem’, em Adam Smith, 
  • ou como uma distinção, entre essas duas coisas, no pensamento de David Ricardo,

pode ficar difícil perceber que essa mesma alteração feita em Ricardo na economia, é a mesma que Lacan teria feito na sua psicanÔlise;

Seria necessĆ”rio perceber que com o termo ā€˜atividade de produção’ compreende-se a produção de algo ainda inexistente o que alarga a visĆ£o de operaƧƵes para o caminho da Construção de representação nova; mas encaixando essas duas coisas em uma visĆ£o ampla do que sejam operaƧƵes, de todos os tipos, obtida entre outros lugares na descrição de Foucault sobre as duas configuraƧƵes da linguagem,

  • e vendo o que acontece nas operaƧƵes, em decorrĆŖncia das duas origens do valor carregado pela proposição para a representação como consequĆŖncia das duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do que seja essa operação – se antes ou se no ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido – e os efeitos em cada opção, (veja o link acima)

vĆŖ-se que os dois movimentos – o de Ricardo em relação a Smith e o de Lacan em relação supostamente a Freud, sĆ£o idĆŖnticos quanto a suas bases no pensamento, porque:

  • O pensamento de Adam Smith leva a um modelo de operaƧƵes com ponto de leitura posicionado no ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido, ou o ponto em que os objetos envolvidos em uma operação de troca estĆ£o disponĆ­veis; a operação de processamento de informaƧƵes sob Adam Smith abrange o instanciamento, pelo desencadeamento de Processo anteriormente formulado, de representação anteriormente formulada e configurada dentre alternativas jĆ” existentes. Nesse tipo de operaƧƵes sob o pensamento clĆ”ssico, nĆ£o hĆ” construção de representaƧƵes novas;
  • No pensamento de David Ricardo o modelo de operaƧƵes tem ponto de leitura posicionado antes da disponibilidade dos objetos envolvidos em uma possĆ­vel futura operação de troca. E abrange toda a operação no caminho da Construção de representação nova.

E dessa forma

  • colocar o ponto de inĆ­cio da leitura exatamente no cruzamento entre disponibilidades do que Ć© dado e o que Ć© recebido (com a disponibilidade simultĆ¢nea dos dois objetos envolvidos na operação de troca), coloca o fenĆ“meno ā€˜operação’ na etapa de instanciamento de objeto cuja representação foi anteriormente feita;
    • e o valor carregado pela proposição para a representação Ć© atribuĆ­do diretamente na proposição, determinando a configuração correspondente da linguagem;
  • e colocar o inĆ­cio de leitura antes desse ponto de disponibilidade, (com a indisponibilidade de pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca) implica em investigar a permutabilidade e obriga a ā€˜operação’ a incluir a etapa de construção da representação do objeto ainda nĆ£o representado, que serĆ” levado ao circuito das trocas depois de instanciado; e tambĆ©m a posterior operação de instanciamento, e o valor carregado pela proposição terĆ” sua origem
    • nas designaƧƵes primitivas
    • e na linguagem de ação.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • A lista de referĆŖncias bibliogrĆ”ficas do vĆ­deo 254
  • As possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade, atravĆ©s de uma matriz constituĆ­da por autores associados ao liberalismo, todos eles inseridos no pensamento clĆ”ssico.
  • A indicação de Adam Smith e de David Ricardo juntos, como pertencentes ao mesmo bloco de sustentação de uma noção de sujeito na modernidade; Ć” luz do pensamento de Michel Foucault
  • Sobre as possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade atravĆ©s de uma matriz constituĆ­da por autores associados ao liberalismo
  • Sobre as possibilidades – usando o pensamento de Michel Foucault – de que as teorias, modelos e sistemas ligados ao liberalismo clĆ”ssico, possam dar sustentação a uma psicologia, mesmo dando ao homem o tratamento como uma espĆ©cie, ou um gĆŖnero.

Ā 

Clips do vĆ­deo Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento, para comentĆ”rio

ComentÔrios 

O livro ā€˜Nascimento da biopolĆ­tica’, de 1978-1979, sim, figura na lista de referĆŖncias do vĆ­deo 254;

  • mas o ā€˜As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, do mesmo autor, publicado em 1966 pela primeira vez, estĆ” fora dessa lista; e Ć© nessa obra que o surgimento da classe especial de saberes que chamamos ā€˜ciĆŖncias humanas’ como a biopolĆ­tica, Ć© descrita, dando conta dos seus modelos constituintes.

A importĆ¢ncia disso – se atentarmos para o pensamento de Michel FoucaultĀ  no ‘As palavras e as coisas’ pode ser avaliada sob dois aspectos:

  • Foucault questiona as produƧƵes do pensamento – teorias, modelos e sistemas –Ā  sob suas condiƧƵes de possibilidade no pensamento;
  • Foucault nĆ£o analisa teorias, modelos e sistemas quando jĆ” formulados e configurados, prontos e em utilização, mas antes, analisa-os sob suas condiƧƵes de possibilidade no pensamento, que ele identifica criteriosamente em cada perĆ­odo.

Ɖ que nesse livro o autor identifica as condiƧƵes de possibilidade no pensamento de produƧƵes do pensamento ao longo do tempo e distingue dois perĆ­odos separados justamente por uma mudanƧa epistemológica, ou uma alteração nessas condiƧƵes de possibilidade do pensamento usado.

E teorias, modelos e sistemas, como construções do pensamento, foram construídas por autores imersos nos dois períodos históricos, no antes,  e no depois desse evento; e as mudanças enquanto estavam sendo feitas, no durante.

Por favor vejaĀ 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

e depois, vejaĀ 

A forma dos modelos em cada configuração do pensamento

Ā 

e por favor veja ainda

Funcionamento das operações, para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775 e 1825

Na descrição desse evento, ao qual Foucault atribui o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento, temos

  • amplitude das alteraƧƵes no modo de ser do pensamento: entre os anos de 1775 e 1825;
  • primeira fase: entre 1775 e 1795;
  • fase de ruptura: os Ćŗltimos 5 anos do sĆ©culo XVIII;
  • Segunda fase: entre 1800 e 1825.
  • idade clĆ”ssica, ou pensamento clĆ”ssico, para o qual ele estabelece o limite superior de tempo como o final do sĆ©culo XVIII com fase de ruptura nos Ćŗltimos 5 anos desse sĆ©culo;
  • idade moderna, ou nossa modernidade no pensamento: depois de 1825.

Como última atenção ao que Foucault tem a dizer nesse grande livro, veja

Condições de possibilidade das ciências humanas: consciência epistemológica do homem

“Antes do fim do sĆ©culo XVIII,
o homem nĆ£o existia. 
NĆ£o mais que a potĆŖncia da vida,
a fecundidade do trabalho 
ou a espessura histórica da linguagem. (…) 

Certamente poder-se-ia dizer que 
a gramĆ”tica geral, a história natural, a anĆ”lise das riquezas 
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem, 
mas Ć© preciso discernir. 

Sem dĆŗvida, as ciĆŖncias naturais – 
trataram do homem 
como de uma espĆ©cie ou de um gĆŖnero
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramÔtica e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.

Mas nĆ£o havia consciĆŖncia epistemológica do homem como tal. 

A episteme clƔssica se articula segundo linhas que
de modo algum 
isolam
o domĆ­nio próprio e especĆ­fico do homem.” 

Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei

“Nem vida, nem ciĆŖncia da vida na Ć©poca clĆ”ssica;
tampouco filologia. 
Mas sim
uma história natural,
uma gramĆ”tica geral. 
Do mesmo modo, 
não hÔ economia política
porque, 
na ordem do saber,
a produção nĆ£o existe. ā€œ 
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A anĆ”lise das riquezas

Isso Ć© o que nos ensina a Cartilha. 

Como seria uma noção denominada ‘sujeito’ cunhada por pensadores clĆ”ssicos e que, portanto trataram do homem como de uma espĆ©cie ou de um gĆŖnero

Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero

E como seria uma psicologia sustentada por um pensamento que leve o homem nessa conta?

No pensamento de Foucault, vê-se claramente duas rupturas duas descontinuidades epistemológicas em nossa cultura:

  • aquela que inaugura a idade clĆ”ssica (por volta de meados do sĆ©culo XVII) ,
  • e aquela que no inĆ­cio do sĆ©culo XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

Essa última ruptura é situada por Foucault na virada dos séculos XVIII para o XIX, e pode ser vista por este link:

A cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

em uma animação que coloca em uma imagem, o texto de Michel Foucault em ā€˜As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’.

Mas Adam Smith e David Ricardo pensavam de maneira bastante distinta. Podemos ver isso em

Os dois conceitos filosóficos para o que seja trabalho,
as operaƧƵes de troca, e comparaƧƵes entre os dois princƭpios de trabalho, feitas por Foucault

E as diferenƧas, explicitadas com palavras de Foucault, sĆ£o muito grandes. O modo de ver o que sejam ‘operaƧƵes’ Ć© muito mais amplo em Ricardo do que em Smith, com as consequĆŖncias que isso acarreta.

E existem atualmente, e entre nós, teorias, modelos e sistemas utilizados, que modelam operações dos dois modos, sem consciência epistemológica do que estÔ envolvido nisso.

Veja isso nos links abaixo:

Essa cronologia posiciona Adam Smith e David Ricardo em lados opostos desse evento, ao qual Foucault atribui o papel de ā€˜evento fundador da nossa modernidade’ no pensamento.

ā€œA partir de Ricardo, o trabalho,
desnivelado em relação à representação,
e instalando-se em uma região
onde ela não tem mais domínio,
organiza-se segundo uma causalidade que lhe Ć© própria.ā€
Cartilha; Ā Cap. 8 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico II. Ricardo

Esse movimento do pensamento que Foucault percebe em Ricardo é o mesmo movimento feito por um autor que construa sua teoria, modelo ou sistema baseado na representação.

ā€œA diferenƧa, porĆ©m, entre Smith e Ricardo estĆ” no seguinte:Ā 

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisĆ”vel em jornadas de subsistĆŖncia, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessĆ”rios Ć  subsistĆŖncia);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,Ā 
    • nĆ£o apenas porque este seja representĆ”vel em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmenteĀ 
      porque o trabalho
      como atividade de produção 
      Ć© ā€œa fonte de todo valorā€.

ā€œEnquanto no pensamento clĆ”ssico
o comƩrcio e a troca servem
de base insuperƔvel para a anƔlise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem
a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta), 

desde Ricardo,
a possibilidade da troca
estĆ” assentada no trabalho;Ā 
e a teoria da produção, doravante,
deverĆ” sempre preceder a da circulação.ā€
Ā 

Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

VĆŖ-se que a amplitude da visĆ£o do que sejam operaƧƵes, em David Ricardo, Ć© muito maior se comparada Ć  amplitude da visĆ£o de Adam Smith. Para Ricardo toda ā€˜aquela atividade que estĆ” na raiz do valor das coisas’, a produção, estĆ” incluĆ­da, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que nĆ£o acontece em Adam Smith.

Veja novamenteĀ 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Note que as diferenƧas nas operaƧƵes, inclusive as de troca, sĆ£o muito grandes no pensamento de Adam Smith e no pensamento de David Ricardo. Se consideramos os dois modelos de operaƧƵes, essas diferenƧas sĆ£o fĆ­sicas. O pensamento de David Ricardo amplia sobremaneira a amplitude da visĆ£o do que sejam operaƧƵes, incluindo a fase de ‘projeto’ ou de construção de representação nova.

Além disso, decorrentes das diferenças nas operações, altera-se a configuração da linguagem no antes e no depois desse evento. Muda, nas palavras de Foucault, a origem da essência da linguagem. Veja isso na pÔgina

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ – de qualquer tipo – e a anĆ”lise das diferentes origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes em função dessa inserção do ponto de inĆ­cio de leitura de ‘operaƧƵes’;

Mesmo assim, no vĆ­deo Falando nisso 254, e no contexto da anĆ”lise da incidĆŖncia do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo sĆ£o tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ā€˜matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!

Ā Complexity:Ā 

Ā the emerging science at the edge
of order and chaos,Ā 

de M. Mitchell Waldrop
1992

Os vƭdeos e animaƧƵes (parciais) a seguir mostram duas maneiras de ver o que seja Complexidade:

  • MĆ“nica de Bolle, vĆŖ o conteĆŗdo do livro ‘Complexidade’ como sendo um pouco coisa de nerd, muito embora ela ache o assunto fascinante.
    • no vĆ­deo 32 seguinte,Ā  MĆ“nica tambĆ©m se posiciona fora daquele grupo de economistas que vĆŖ a economia como uma maquininha da qual as pessoas estĆ£o fora; um pensamento mecanicista, ela diz. Mas nĆ£o diz qual seja o seu modo próprio de ver a economia dos nossos dias.
  • Ilya Prigogine, prĆŖmio Nobel de QuĆ­mica de 1977 e pioneiro da ciĆŖncia do nĆ£o equilĆ­brio, diz que a nova ciĆŖncia do caos e da complexidade lida com a própria ciĆŖncia moderna, e com o novo tipo de ordem que lhe Ć© próprio, o caos.

A coleção de animações que se segue a esta mostra os modelos de operações:

  • no pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775;
  • e no pensamento moderno, o de depois de 1825.

Esses modelos de operaƧƵes tĆŖm entre eles uma descontinuidade epistemológica que segundo Foucault, ocorreu em nossa cultura entre os anos de 1775 e 1825 – os 50 anos centrados na virada dos sĆ©culos XVIII para o XIX.

Se depois da compreensão dos modelos de operações mostrados for possível concluir que

  • o tipo de ordem a que alude PrigogineĀ 
  • o tipo de ordem adotado no pensamento moderno

são ao fim e ao cabo a mesma ordem, teremos ajudado. E se isso acontecer, teremos um modelo de pensamento que pode substituir o modelo mecanicista ao qual MÓnica se refere.

Clips desse vĆ­deo para comentar

ComentÔrios 

para comparar o que dizem os filósofos de diferentes Ć”reas, – e tambĆ©m os economistas – uns mais e outros menos voltados aos fenĆ“menos que acontecem ao seu redor, veja os seguintes modelos de operaƧƵes:

  • pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775,Ā 
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825:
    • caminho da Construção da representação;
    • caminho do Instanciamento da representação.
  • origem de valor carregado pela proposição para a representação no pensamento moderno, caminho da Construção da representação.

NOTA: clicando na figura da origem do valor, vocĆŖ tem acesso ao pensamento de Michel Foucault sobre isso.

Sobre origem do valor carregado pela proposição para a representação, nas palavras de Michel Foucault, veja a seguinte pÔgina:  

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ – de qualquer tipo – e a anĆ”lise das diferentes origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes em função da inserção do ponto de inĆ­cio de leitura de ā€˜operaƧƵes’

com as seguintes origens de valor atribuído à proposição:

  • designaƧƵes primitivas;
  • linguagem de ação ou raiz.

Veja ainda sobre as duas opções de atribuição de valor à proposição:

  • a operação sob o pensamento clĆ”ssico tem o ponto de inĆ­cio na visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ colocado sobre o cruzamento entre os objetos dado e recebido, ainda que nesse tipo de pensamento a noção de objeto seja distinta da que vige no pensamento moderno;
    • o valor Ć© atribuĆ­do diretamente Ć  proposição.
  • a operação sob o pensamento moderno – quando no caminho da Construção da representação, tem o ponto de inĆ­cio na visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ bem antes desse cruzamento, quando ainda o objeto da operação modelada ainda nĆ£o existe;
    • a origem do valor estĆ” em dois elementos externos Ć  linguagem:
      • designaƧƵes primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso.
    • a visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ Ć© muito ampliada englobando toda a etapa da construção de representação nova (projeto).

Monica de Bolle identifica entre os economistas, não ela, mas economistas como categoria, quem pense em um modelo mecanicista.

ComentƔrios

ReflexƵes-Imaginativas

Reflexões imaginativas no espaço-tempo das Permanências e dos Fluxos

com a licenƧa de Augusto de Franco pelo enxerto (quase parƔfrase) feito sobre o tƭtulo de um de seus trabalhos.

  • O espĆ­rito com que estou escrevendo e pistas sugestivas de espaƧo para mudanƧas

  • InfluĆŖncias, inspiraƧƵes, a plataforma adotada para exposição de ideias
  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, de 1966, a nossa Cartilha; cujo autor, Michel Foucault, merece o tĆ­tulo de Engenheiro de Produção emĆ©rito
  • O fenĆ“meno das das operaƧƵes; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia, dos modelos; MetĆ”foras adequadas para modelos de operaƧƵes; Propriedades emergentes em função das configuraƧƵes do pensamento
  • Unanimidades em conceitos, seja pelo uso, seja pelo desuso:
  • Alguns (7) exemplos de modelos descritivos da produção e de organizaƧƵes, existentes;
  • A visĆ£o SSS – SimĆ©trica, Simbiótica e SinĆ©rgica, para organizaƧƵes de qualquer tipo: modelagem simultĆ¢nea do objeto esperado, e do instrumento necessĆ”rio para obter esse objeto
  • InfluĆŖncias e inspiraƧƵes;
  • Plataforma adotada para exposição de ideias;
  • Imaginação e Conceituação: funƧƵes humanas reversĆ­veis entre ocorrĆŖncias espacio-temporais – imagens – textos;
  • Os caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana Romesin;
  • Nosso roteiro e nossa inspiração.Ā 

Influências e inspirações

1 a influĆŖncia de VilĆ©m Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’:Ā 

uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

textos ↔ imagens ↔ e ocorrĆŖncias espacio-temporais;Ā 

e ainda, não menos importante

    • as imagens tradicionais, as imagens tĆ©cnicas, as classes de abstraƧƵes que usamos cotidianamente;
VilƩm-Flusser-Portrait-008
VilƩm Flusser
1920-1991

2 as sugestƵes de Humberto Maturana nos livros: Cognição, CiĆŖncia e Vida cotidiana; EmoƧƵes e Linguagem na Educação e na PolĆ­tica; ‘De mĆ”quinas e de seres vivos’:

objeƧƵes e propostas de mudanƧa feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das crĆ­ticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

Humberto Maturana
1928-

3 a influĆŖncia especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’:

a descoberta de duas pedras de tropeƧo durante seu trabalho nesse livro, a saber:

    • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
    • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para alĆ©m do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
Michel Foucault
1926-1984

Roteiro e inspiração

Veja aqui os seguintes pontos:

  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’ tal como visto por seu autor, Michel Foucault;
  • A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ contada por Michel Foucault no PrefĆ”cio desse livro, associada a imagens;
  • O espaƧo a ser ocupado pelo estudo em estilo de arqueologia realizado no ‘As palavras e as coisas’;
  • A descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura, posicionada por Michel Foucault entre os anos de 1775 e 1825;
  • O que exatamente Foucault via quanto ao que acontecia com as formas de
  • A forma de reflexĆ£o que se instaura em nossa cultura e os dois perfis de conceitos caracterĆ­sticos das duas configuraƧƵes do pensamento;Ā 
  • pensamento em nossa cultura e a modos distintos de absorver o mundo;
  • O espectro de modelos com trĆŖs segmentos – AQUƉM, DIANTE e para ALƉM do objeto, traƧado a partir dessa visĆ£o e da forma de reflexĆ£o que se instaura em nossa cultura, por Michel Foucault
  • As duas opƧƵes alternativas para a visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’, com diferentes abrangĆŖncias, e as respectivas duas origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes; as correspondentes duas configuraƧƵes de funcionamento da própria linguagem e do pensamento, e os modelos resultantes em cada caso.
  • Conceitos homĆ“nimos mas com significados diferentes entre o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775, e o moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault;
  • A anĆ”lise das riquezas: (riquezas: um domĆ­nio, solo e objeto da “economia” na idade clĆ”ssica, segundo Michel Foucault);

Veja esses pontos a seguir:

O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, na visĆ£o de Michel Foucault

“Ora, esta investigação arqueológica mostrou duas grandes descontinuidades na epistĆ©mĆŖ da cultura ocidental:

  • aquela que inaugura a idade clĆ”ssica (por volta dos meados do sĆ©culo XVII)
  • e aquela que, no inĆ­cio do sĆ©culo XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

A ordem,
sobre cujo fundamento pensamos,
não tem o mesmo modo de ser
que a dos clƔssicos.

Por muito forte que seja a impressão que temos de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,

  • por mais que pensemos que a classificação de Lineu, mais ou menos adaptada, pode de modo geral continuar a ter uma espĆ©cie de validade,
  • que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do sĆ©culo XIX,
  • que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias anĆ”lises com as de Cantillon,
  • que o propósito da GramĆ”tica geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em BauzĆ©e) nĆ£o estĆ” tĆ£o afastado de nossa atual linguĆ­stica 

 – toda esta quase-continuidade ao nĆ­vel das idĆ©ias e dos temas nĆ£o passa, certamente, de um efeito de superfĆ­cie; no nĆ­vel arqueológico, vĆŖ-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciƧa na curva dos sĆ©culos XVIII e XIX.

Não que a razão tenha feito progressos;

  • mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; Ć© que foi profundamente alterado.

Se a história natural de Tournefort, de Lineu e de Buffon tem relação com alguma coisa que não ela mesma,

  • nĆ£o Ć© com a biologia, a anatomia comparada de Cuvier ou o evolucionismo de Darwin,
  • mas com a gramĆ”tica geral de BauzĆ©e, com a anĆ”lise da moeda e da riqueza tal como a encontramos em Law, em VĆ©ron de Fortbonnais ou em Turgot.

Os conhecimentos chegam talvez a se engendrar; as ideias a se transformar e a agir umas sobre as outras (mas como? até o presente os historiadores não no-lo disseram);

  • uma coisa, em todo o caso, Ć© certa:
    • a arqueologia,
      • dirigindo-se ao espaƧo geral do sabe!;
      • a suas configuraƧƵes
      • e ao modo de ser das coisas que aĆ­ aparecem,
    • define sistemas de simultaneidade, assim como a sĆ©rie de mutaƧƵes necessĆ”rias e suficientes para circunscrever o limiar de uma positividade nova.

Assim, a anÔlise pÓde mostrar a coerência que existiu, durante toda a idade clÔssica, entre

  • a teoria da representação e as
    • da linguagem,
    • das ordens naturais,
    • da riqueza e do valor:

Ɖ esta configuração que, a partir do sĆ©culo XIX, muda inteiramente;

  • a teoria da representação desaparece como fundamento geral de todas as ordens possĆ­veis;
  • a linguagem, por sua vez, como quadro espontĆ¢neo e quadriculado primeiro das coisas, como suplemento indispensĆ”vel entre a representação e os seres, desvanece-se;
  • uma historicidade profunda penetra no coração das coisas, isola-as e as define na sua coerĆŖncia própria.

Impõe-lhes formas de ordem que são implicadas pela continuidade do tempo;

  • a anĆ”lise das trocas e da moeda cede lugar ao estudo da produção,
  • a do organismo toma dianteira sobre a pesquisa dos caracteres taxinĆ“micos;
  • e, sobretudo, a linguagem perde seu lugar privilegiado e torna-se, por sua vez, uma figura da história coerente com a espessura de seu passado.

Na medida, porƩm, em que as coisas giram sobre si mesmas,

  • reclamando para seu devir nĆ£o mais que o princĆ­pio de sua inteligibilidade
  • e abandonando o espaƧo da representação,

o homem,
por seu turno, entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.

Estranhamente, o homem – cujo conhecimento passa, a olhos ingĆŖnuos, como a mais velha busca desde Sócrates – nĆ£o Ć©, sem dĆŗvida, nada mais que uma certa brecha na ordem das coisas, uma configuração, em todo o caso, desenhada pela disposição nova que ele assumiu recentemente no saber:

DaĆ­ nasceram todas as quimeras dos novos humanismos, todas as facilidades de uma “antropologia “, entendida como reflexĆ£o geral, meio positiva, meio filosófica, sobre o homem.

Contudo, Ć© um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que

  • o homem nĆ£o passa de uma invenção recente, uma figura que nĆ£o tem dois sĆ©culos, uma simples dobra de nosso saber;
  • e que desaparecerĆ” desde que este houver encontrado uma forma nova.”

“VĆŖ-se que esta investigação responde um pouco, como em eco, ao projeto de escrever uma história da loucura na idade clĆ”ssica; ela tem, em relação ao tempo, as mesmas articulaƧƵes, tomando como seu ponto de partida o fim do Renascimento e encontrando, tambĆ©m ela, na virada do sĆ©culo XIX; o limiar de uma modernidade de que ainda nĆ£o saĆ­mos.

Enquanto, na história da loucura,

  • se interrogava a maneira como uma cultura pode colocar sob uma forma maciƧa e geral a diferenƧa que a limita,Ā 

trata-se aquiĀ Ā 

  • de observar a maneira como ela experimenta a proximidade das coisas, como ela estabelece o quadro de seus parentescos e a ordem segundo a qual Ć© preciso percorrĆŖ-los.

Trata-se, em suma, de uma história da semelhança:

  • sob que condiƧƵes o pensamento clĆ”ssico pĆ“de refletir, entre as coisas, relaƧƵes de similaridade ou de equivalĆŖncia que fundam e justificam as palavras, as classificaƧƵes, as trocas?
  • A partir de qual a priori histórico foi possĆ­vel definir o grande tabuleiro das identidades distintas que se estabelece sobre o fundo confuso, indefinido, sem fisionomia e como que indiferente, das diferenƧas?

A história da loucura
seria a história do Outro

– daquilo que, para uma culturaĀ Ā 
Ć© ao mesmo tempo
interior e estranho,
a ser portanto excluĆ­do
(para conjurar-lhe o perigo interior),
encerrando-o porƩm
(para reduzir-lhe a alteridade);

a história da ordem das coisas
seria a história do Mesmo
Ā 

– daquilo que, para uma cultura,
Ć© ao mesmo tempo
disperso e aparentado,
a ser portanto distinguido por marcas
e recolhido em identidades.

E se se pensar que a doença é, ao mesmo tempo, 

  • a desordem, a perigosa alteridade no corpo humano e atĆ© o cerne da vida,Ā 

mas também 

  • um fenĆ“meno da natureza que tem suas regularidades, suas semelhanƧas e seus tipos –

vê-se que lugar poderia ter uma arqueologia do olhar médico.

Da experiência-limite do Outro às formas constitutivas do saber médico e, destas, à ordem das coisas e ao pensamento do Mesmo, o que se oferece à anÔlise arqueológica 

  • Ć© todo o saber clĆ”ssico,Ā 
  • ou melhor; esse limiar que nos separa do pensamento clĆ”ssico e constitui nossa modernidade.

Nesse limiar apareceu pela primeira vez esta estranha figura do saber que se chama homem e que abriu um espaço próprio às ciências humanas.

Tentando trazer Ć  luz esse profundo desnĆ­vel da cultura ocidental, Ć© a nosso solo silencioso e ingenuamente imóvel que restituĆ­mos suas rupturas, sua instabilidade, suas falhas; e Ć© ele que se inquieta novamente sob nossos passos.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
PrefƔcio

Veja essa história em uma animação abaixo. Esta animação relaciona o texto de Foucault com as estruturas de operações sob as duas configurações do pensamento, a do clÔssico, de antes de 1775, e a do moderno, depois de 1825.

Provavelmente você vai se sentir mais confortÔvel se antes de ver esta figura, visualizar o funcionamento das operações nesses dois casos.

A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’,
de Michel Foucault, contada por ele mesmo

1 – A ideia que deu origem ao livro ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas

que pode ser vista junto com outras animações  mais, nesta pÔgina:

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no PrefÔcio

Se quiser ver o funcionamento das operações no pensamento clÔssico e no moderno (usando os critérios de Foucault para essa identificação, veja a pÔgina seguinte:

Funcionamento das operações para as configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Essa história estĆ” contada por Foucault no PrefĆ”cio do ‘As palavras e as coisas’, e estĆ” aquiĀ  no inĆ­cio desta apresentação pela ideia de sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estĆ£o representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operaƧƵes em dois perfis que podem ser associados Ć s configuraƧƵes do pensamentoĀ  nos perĆ­odos de antes e de depois de um evento ao qual Foucault dĆ” o status de ‘evento fundador da nossa modernidade’ – uma descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825 -, tendo o pensamento clĆ”ssico, antes de 1775, e o moderno, depois de 1825:

  • o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clĆ”ssico;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfĆ­cies ordenadas que tornam para nós sensata a profusĆ£o dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prĆ”tica milenar do Mesmo e do Outro;
  • associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operaƧƵes)
  • o texto da EnciclopĆ©dia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clĆ”ssico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso.
  • Que coisa Ć© impossĆ­vel pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que nĆ£o convĆ©m:
    • seria a utilização de um grande nĆŗmero de ordens possĆ­veis na dimensĆ£o sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham,
    • porque arruĆ­nam de antemĆ£o a sintaxe
      • e nĆ£o somente a sintaxe que constrói as frases
      • tambĆ©m aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operaƧƵes, e tambƩm modelos de organizaƧƵes.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do PrefÔcio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

Este estudo em estilo de arqueologia feito por Michel Foucault no
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’,
tem como tema:

  • nĆ£o propriamente produƧƵes de pensamento formuladas e configuradas,Ā 
  • e ainda menos, produƧƵes do pensamento jĆ” em funcionamento – com seus sucessos e insucessos, e submetidas a possĆ­veis desvirtuamentos;Ā 
  • mas o tema inerente a esse estilo em arqueologia Ć© quais sĆ£oĀ 
    • as condiƧƵes de possibilidade no pensamento nas quais esta ou aquela produção do pensamento – teoria, modelo ou sistema – pode ser formulada.Ā 

Enquanto com inventividade e laivos de criatividade conseguimos criar infinidades de formulações sobre um mesmo perfil de condições de possibilidade do pensamento, que acabam muitas vezes sendo combinações lineares de formulações anteriores, mesmo com muita criatividade e toda a inventividade possível os conjuntos determinantes de condições de possibilidade não proliferam do mesmo modo.

A anÔlise, compreensão e utilização
de produƧƵes do pensamento
– teorias, modelos e sistemas –
tomadas quando jĆ” formuladas e configuradas,
Ć© extremamente (mais) difĆ­cil;
e ainda tanto mais o serĆ”,
se o conhecimento consciente
das respectivas condiƧƵes de possibilidade
no pensamento não se verificar.
Essas dificuldades se agravarão
se a produção do pensamento objeto de anÔlise
estiver em pleno uso em um ambiente,
influindo sobre ele – e dele recebendo influĆŖncias
– que certamente incidirĆ£o sobre a anĆ”lise.

O excertoĀ da Cartilha, o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, –Ā abaixo selecionadoĀ descreve o que Ć© esse estudo em estilo de arqueologia realizado por Foucault, e como sĆ£o as operaƧƵes no antes e no depois desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento, a descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825, descrita por ele.

Você pode ver agora a nossa interpretação do que conseguimos apreender desse texto, ou primeiro ler o texto original e depois ver esta animação:

A idade da história em três tempos:
uma descrição de Foucault, do que seja sua arqueologia das ciências humanas

o que tambƩm pode ser visto na pƔgina seguinte:

A idade da história em três tempos: uma descrição de Foucault do que seja a sua arqueologia das ciências humanas.

PoderÔ ser útil ver também o funcionamento das operações

Funcionamento das operações em função das configurações do pensamento de antes de 1775 e de depois de 1825, datas limites da ocorrência desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento. 

AVISO: tudo o que se segue neste trabalho depende da distinção estabelecida entre os dois modos de ver ‘operaƧƵes’ correspondentes Ć s duas configuraƧƵes do pensamento, expressas nas animaƧƵes acima
a partir do texto de Foucault abaixo.

Diz Foucault:Ā 

“A arqueologia, essa,
deve percorrer o acontecimento
segundo sua disposição manifesta;

ela dirÔ como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
(ela analisa por exemplo,Ā 

                      • para a gramĆ”tica, o desaparecimento do papel maior atribuĆ­do ao nome
                        e a importância nova dos sistemas de flexão; 

                      • ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do carĆ”ter Ć  função);Ā 

ela analisarÔ a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

                      • (a substituição do discurso pelas lĆ­nguas,Ā 

                      • das riquezas pela produção);Ā 

estudarÔ o deslocamento das positividades umas em relação às outras

                    • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciĆŖncias da linguagem e a economia);Ā 

enfim e sobretudo, mostrarƔ que o espaƧo geral do saber

                      • nĆ£o Ć© mais o das identidades e das diferenƧas, o das ordens nĆ£o-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma mĆ”thĆŖsis do nĆ£o-mensurĆ”vel,Ā 

                      • mas um espaƧo feito de organizaƧƵes, isto Ć©,
                        de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;

mostrarÔ que essas organizações são descontínuas,
que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas,
mas que algumas são do mesmo nível
enquanto outras traçam séries ou sequências lineares. 

De sorte que se vĆŖem surgir,
como princƭpios organizadores desse espaƧo de empiricidades,

a Analogia e a Sucessão:


de uma organização a outra,

o liame, com efeito,
•  nĆ£o pode mais ser
a identidade de um ou vƔrios elementos,
•  mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel)
e da função que asseguram;

ademais, se porventura essas organizaƧƵes se avizinham

por efeito de uma densidade
singularmente grande
de analogias,
↓ nĆ£o Ć© porque ocupem localizaƧƵes próximas

num espaço de classificação,
↑ mas sim porque foram formadas
uma ao mesmo tempo que a outra
e uma logo após a outra

no devir das sucessões. 

Enquanto, no pensamento clÔssico, 

                • a sequĆŖncia das cronologias nĆ£o fazia mais que percorrer o espaƧo prĆ©vio e mais fundamental de um quadro que de antemĆ£o apresentava todas as suas possibilidades,Ā 

doravanteĀ 

                • as semelhanƧas contemporĆ¢neas
                  e observƔveis simultaneamente no espaƧo
                  não serão mais que as formas depositadas e fixadas

                  de uma sucessão que procede
                  de analogia em analogia.Ā 

A ordem clÔssica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas. 

A partir do sƩculo XIX,
a História vai desenrolar numa série temporal
as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas. 

Ɖ essa História que, progressivamente, imporĆ” suas leis

                      • Ā Ć  anĆ”lise da produção,Ā 

                      • Ć  dos seres organizados, enfim,Ā 

                      • Ć  dos grupos linguĆ­sticos.Ā 

A História
dÔ lugar às organizações analógicas,

assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades

e das diferenƧas sucessivas.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

Veja isto emĀ 

A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825,
segundo o pensamento de Michel Foucault

ou ainda na seguinte pƔgina

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault

De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:

  • antes de 1775 – pensamento clĆ”ssico ou idade clĆ”ssica do pensamento, com modelos com a (im)possibilidade de fundar as sĆ­nteses da empiricidade objeto da operação, no espaƧo da representação;
  • depois de 1825 – pensamento moderno ou a nossa modernidade no pensamento, com modelos com a possibilidade de fundar as sĆ­nteses da empiricidade objeto da operação, no espaƧo da representação.

Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dÔ o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.

Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clÔssico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clÔssica.

Michel Foucault vĆŖ o pensamento que nos Ć© contemporĆ¢neo – e com o qual queiramos ou nĆ£o pensamos – muito dominado por:

  • uma impossibilidade – a de fundar as sĆ­nteses do objeto das operaƧƵes de pensamento, no espaƧo da representação;
  • e uma obrigação ainda nĆ£o cumprida – a de abrir o campo transcendental da subjetividade e constituir, para alĆ©m do objeto, esses quase-transcendentais que sĆ£o para nós a Vida, o Trabalho e a Linguagem.

e aparentemente ele imputa a esse domĆ­nio do nosso pensamento por essas questƵes, o tempo e dificuldades em acrĆ©scimo que precisou enfrentar em seu trabalho no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’.

Impossibilidade X Possibilidade
de fundar as sĆ­nteses (da empiricidade objeto)
no espaço da representação

A impossibilidade [no pensamento clƔssico, antes de 1775]
contra a sim-possibilidade [no pensamento moderno, depois de 1825]
de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação.

A obrigação cumprida:
os quase-transcendentais
Vida, Trabalho e Linguagem constituĆ­dos

A classe de modelos das ciĆŖncias humanas: um modelo composto pelos trĆŖs pares constituintes
da Vida(Biologia) [função-norma]
do Trabalho (Economia) [conflito-regra]
da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

Veja o que ele diz, o mesmo texto colocado em duas animações e no excerto abaixo em seu original, que têm a finalidade de reunir as ideias em elementos de imagem que compõem duas estruturas diferentes, nos dois lados de uma mesma imagem:

ā€œEis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para alĆ©m das margens cronológicas
dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.Ā 

Ɖ que o pensamento que nos Ć© contemporĆ¢neoĀ 
e com o qual, queiramos ou não, pensamos, 
se acha ainda muito dominadoĀ 

  • pelaĀ impossibilidade,
    trazida Ơ luz por volta do fim do sƩculo XVIII,
    de fundar as sĆ­nteses
    no espaço da representação.

  • e pelaĀ obrigaçãoĀ 
    correlativa, simultânea,
    mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir oĀ campoĀ transcendental
    da subjetividadeĀ 
    e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas (Cartilha);
CapĆ­tulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades
de Michel Foucault

as animaƧƵes acima tambƩm podem ser vistas nesta pƔgina

Os dois obstƔculos, as duas pedras de tropeƧo, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,

com especial destaque para o segundo obstÔculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.

E o funcionamento das operaƧƵes tanto no pensamento clƔssico, o de antes de 1775, como no moderno, depois de 1825, usando o critƩrio de Foucault, pode ser visto na seguinte pƔgina:

Ā 

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faƧa um ato de fƩ no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com trĆŖs segmentos, que decorre dessa visĆ£o, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinƧƵes entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’:Ā 

Como se vĆŖ pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capĆ­tulo 7 de um trabalho em dez capĆ­tulos, quando escreveu esse trecho Foucault jĆ” tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstĆ”culos, duas pedras de tropeƧo que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessĆ”rio para fazer esse livro; ele via:Ā Ā 

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação; 
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a deĀ abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e LinguagemĀ 

O espectro de modelos com trĆŖs segmentos: AQUƉM, DIANTE e ALƉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa anÔlise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com aĀ impossibilidadeĀ 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para alĆ©m do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTEĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade,Ā 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituĆ­dos, para alĆ©m do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • paraĀ ALƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sĆ­nteses dos objetos das operaƧƵes no espaƧo da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividadeĀ e foramĀ constituĆ­dos para alĆ©m do objeto, os ā€œquase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:Ā 
        estes, os modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas.Ā 

ā€œInstaura-se uma forma de reflexĆ£o,Ā 
bastante afastada do cartesianismo e da anÔlise kantiana, 
em que estÔ em questão,
pela primeira vez,Ā 
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento se dirige ao impensadoĀ 
e com ele se articula.ā€
Ā 

Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O ā€œcogitoā€ e o impensado

Veja isso associado a uma figura na qual os elementos de imagem escolhidos compõem uma estrutura que pode ser comparada com por exemplo, o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817 

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura
com esse perfil de conceitos do pensamento moderno, o de depois de 1825

Veja também o funcionamento das operações, especificamente no segmento DIANTE do objeto e na etapa da Construção da representação.

Nesse excerto da Cartilha, Foucault modela dinamicamente uma proposição que se ajusta a cada etapa da operação, coloca em cada proposição:

  • o ser do homem (o sujeito)
  • dirigindo-se ao objeto, o impensado,Ā  (atributo do predicado do sujeito).Ā 

Nota: Nessa forma de reflexĆ£o que se instaura, ‘o ser do homem’ nĆ£o se dirige ao intangĆ­vel, mas ao impensado! (que pode ser tambĆ©m intangĆ­vel, sem problemas)Ā  Muitas vezes o intangĆ­vel continua exatamente assim, intangĆ­vel, mesmo depois que o pensamento tenha dado um jeito no seu aspecto impensado.Ā  Ā 

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrÔrio do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.  

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e estÔ na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagensĀ 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

O espectro de modelos com trĆŖs segmentos: AQUƉM, DIANTE e ALƉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa anÔlise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com aĀ impossibilidadeĀ 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para alĆ©m do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTEĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade,Ā 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituĆ­dos, para alĆ©m do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • paraĀ ALƉMĀ do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaƧo em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sĆ­nteses dos objetos das operaƧƵes no espaƧo da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividadeĀ e foramĀ constituĆ­dos para alĆ©m do objeto, os ā€œquase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:Ā 
        estes, os modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas.Ā 

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Resumidamente, podemos ler operaƧƵes, as que ocorrem no circuito das trocas (Mercado) ou outras, de qualquer tipo –Ā  posicionando o ponto deĀ  inĆ­cio da leitura desse fenĆ“meno de duas maneiras diferentes:
  1. ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ colocado noĀ  cruzamento da disponibilidade entre dois objetos intervenientes na operação de troca: o que Ć© dado e o que Ć© recebido, testando as condiƧƵes de troca;
  2. ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ antes do cruzamento da disponibilidade entre os dois objetos – o que Ć© dado e o que Ć© recebido – e portantoĀ antes da disponibilidade de um dos objetos, testando desta vez a permutabilidade futura desse objeto e nĆ£o imediatamente as condiƧƵes de troca.

O carregamento de valor na proposição em cada caso:

  1. valor é carregado diretamente na proposição desde dentro do espaço da representação;
  2. valor é carregado na proposição desde fora do espaço da representação, com origens de valor externas ao espaço da representação, provenientes de:
    1. designaƧƵes primitivas;
    2. linguagem de ação ou raiz.

Operações inspiradas no Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, têm valor carregado na proposição diretamente de dentro do espaço da representação;

Operações calcadas no Princípio Dual de trabalho de David Ricardo têm valor carregado na proposição e por elas para as representações como no segundo caso acima.

As diferenƧas nas visƵes de ‘operaƧƵes’ decorrentes de diferenƧas no posicionamento do ponto de inĆ­cio de leitura do fenĆ“meno, podem ser vistas nas animaƧƵes que descrevem o funcionamento das operaƧƵes em cada caso:

Ā 
essas diferenƧas tambƩm podem ser vistas na pƔgina seguinte:
  • a animação correspondente ao pensamento clĆ”ssico posiciona o inĆ­cio da leitura de ‘operaƧƵes’ no cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido, pressupondo portanto, a disponibilidade desses dois objetos;
  • a animação correspondente ao pensamento moderno posiciona o inĆ­cio de leitura de ‘operaƧƵes’ antes desse ponto, quando ainda um dos objetos envolvidos em uma futura troca estĆ” indisponĆ­vel.
O texto de Foucault sobre essas duas alternativas de inserção do ponto de inĆ­cio da visĆ£o de ‘operaƧƵes’ estĆ” na pĆ”gina seguinte:
E essas mudanças estão refletidas no tópico 
‘Uma anatomia ou uma Cartografia de modelos de operaƧƵes em função da configuração do pensamento’
Ā 
Para entender melhor os elementos de imagem que representam a origem de valor para as proposições desde fora da linguagem e fora do espaço da representação: 
  • ‘designaƧƵes primitivas’
  • eĀ ‘linguagem de ação ou raiz’,Ā 
veja a figura seguinte.

Operação de Construção de representação nova, no caminho da Construção da representação
sob o pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825 segundo Michel Foucault;
mostrando a origem de valor nas proposiƧƵes externa Ơ linguagem:
a) designações primitivas e b) linguagem de ação e a função que desempenham na operação.
Ā 
Ā 
Se essa figura lhe parecer ‘poluĆ­da’, pense o seguinte:
  • ela mostra uma fotografia de um instante na operação de construção da representação nova;
    • a representação para o objeto dessa operação foi concluĆ­da;
    • os elementos de suporte na experiĆŖncia Ć  Forma de produção foram nada mais do que selecionados – encontrados e/ou desenvolvidos;
    • foi construĆ­do um objeto anĆ”logo ao vislumbrado para essa empiricidade objeto, representado na figura pela SucessĆ£o de analogias.
  • acaba de ser formulada uma proposição explicativa porque foi obtida sustentação na experiĆŖncia para todos os quesitos atribuĆ­dos ao objeto cuja representação aca acaba de ser construĆ­da.
  • as designaƧƵes primitivas, ao lado da linguagem de ação ou de uso sĆ£o as origens do valor atribuĆ­do a essa proposição.

Se a figura ainda lhe parecer confusa, e achar que vale a pena esclarece-la, veja novamente o Funcionamento das operaƧƵes.

Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clÔssico e sob o moderno. 

Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:

  • 0. os dois princĆ­pios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo;
    • diferenƧas na paleta de ideias ou elementos de imagem e suas estruturas;
    • comparaƧƵes entre os dois princĆ­pios feitas por Michel Foucault;
    • as duas diferentes origens de valor atribuĆ­do Ć  proposição pela distinta opção de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’.
  • 1. dois conceitos para o que seja um verbo;
  • 2. dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
  • 3. dois papĆ©is atribuĆ­dos ao homem;
  • 4. dois tipos de reflexĆ£o assumidos pelo pensamento;
  • 5. duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova;
  • 6. dois conceitos para História;
  • 7. dois espaƧos gerais do saber;
  • 8. dois conceitos para tempo: calendĆ”rio e absoluto;
  • 9. a proposição como bloco construtivo padrĆ£o fundamental e genĆ©rico para construção de representaƧƵes.
  • 10. Tabela de propriedades das duas configuraƧƵes do pensamento.

Veja abaixo as diferenƧas entre os dois princƭpios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, usando as palavras de Michel Foucault

AquƩm do objeto
Adam Smith, 1776

PrincĆ­pio monolĆ­tico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das NaƧƵes, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

PrincĆ­pio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

ComparaƧƵes entre os dois princƭpios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princĆ­pios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparaƧƵes entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

As duas diferentes origens de valor para a proposição, em função da configuração de pensamento adotada

Os elementos de imagem, as ideias, que permitem formular o modelo de operações baseado diretamente na linguagem e na representação
Os elementos de imagem, as ideias,
que permitem formular o modelo de operaƧƵes
desde fora da linguagem
a partir das designaƧƵes primitivas
– e da linguagem de ação ou de raiz(*)

Conceito de Verbo ‘Processo’ na configuração de pensamento
do perƭodo clƔssico, antes de 1775
Conceito de Verbo ‘Forma de produção’ na configuração
de pensamento do perĆ­odo moderno, depois de 1825

Processo
como verbo

Ā 

ā€œA Ćŗnica coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo,Ā 

          • a do verde
            e da Ɣrvore,

          • a do homem
            e da existĆŖncia

            ou da morte;Ā 

Ć© por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele [tempo]
em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.ā€

‘Forma de produção’
como verbo

ā€œĆ‰ preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
preso Ć s mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância;

e depois,


em recuo em relação a elas todas,

numa regiĆ£o que

          • nĆ£o Ć© aquela do falado

          • mas aquela donde se fala.

Ele estĆ” na orla do discurso,
na juntura entre

          • aquilo que Ć© dito

          • e aquilo que se diz,

exatamente lĆ” onde os signos
estĆ£o em via de se tornar linguagem.ā€

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar

Classificar, portanto,
não serÔ mais
referir o visĆ­vel
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;

SerĆ”
num movimento que faz revolver a anƔlise,
reportar o visĆ­vel,
ao invisĆ­vel,
como a sua razão profunda;
depois,
alƧar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparĆŖncias”]
que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’;
CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault

pensamento clƔssico, antes de 1775
segmento AQUƉM do objeto

o homem estĆ” fora da paleta de ideias
no pensamento clƔssico, o de antes de 1775
era tratado como um gênero, ou uma espécie
do Sistema de Categorias

pensamento moderno, depois de 1825
segmento DIANTEĀ  do objeto

os dois papƩis do homem no pensamento moderno,
o de depois de 1825:
a) raiz e fundamento de toda positividade;
b) elemento do que Ć© empĆ­rico

O modo de ser do homem,
tal como se constituiu no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papƩis:
estĆ”, ao mesmo tempo,

  • no fundamento de todas as positividades,

  • presente, de uma forma que nĆ£o se pode sequer dizer privilegiada, no elemento das coisas empĆ­ricas.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cao. 10. As ciĆŖncias humanas;
tópico I. O triedro dos saberes

“Assim o cĆ­rculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,

que hĆ” aqui um
carƔter

no qual convƩm se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo?Ā 

– Ɖ a semelhanƧa.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude). 

Contudo,Ā 

  • nĆ£o Ć© a homologia que ele assinala,Ā 

pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; 

  • trata-se de outra semelhanƧa,Ā 

uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, Ć© patenteada por uma terceira.Ā 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediÔria da mesma semelhança. 

De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia,Ā 
  • o da analogia na emulação,Ā 
  • o da emulação na conveniĆŖncia,Ā 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requerĀ 

  • a marca da simpatia…Ā 

A assinalação e o que ela designa sĆ£o exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem Ć© diferente; a repartição Ć© a mesma.”

“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirĆ” como as configuraƧƵes próprias a cada positividade se modificaramĀ 

  • (ela analisa por exemplo, para a gramĆ”tica, o desaparecimento do papel maior atribuĆ­do ao nome e a importĆ¢ncia nova dos sistemas de flexĆ£o; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do carĆ”ter Ć  função);Ā 

ela analisarÔ a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

  • (a substituição do discurso pelas lĆ­nguas, das riquezas pela produção);Ā 

estudarÔ o deslocamento das positividades umas em relação às outras 

  • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciĆŖncias da linguagem e a economia);Ā 

enfim e sobretudo, mostrarÔ que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma mÔthêsis do não-mensurÔvel, 

  • mas um espaƧo feito de organizaƧƵes, isto Ć©, de relaƧƵes internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;Ā 
  • mostrarĆ” que essas organizaƧƵes sĆ£o descontĆ­nuas, que nĆ£o formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas sĆ£o do mesmo nĆ­vel enquanto outras traƧam sĆ©ries ou sequĆŖncias lineares.Ā 

Ā De sorte que se vĆŖem surgir,Ā 

como princĆ­pios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

a Analogia
e a Sucessão:

de uma organização a outra, o liame, com efeito, 

  • nĆ£o pode mais ser a identidade de um ou vĆ”rios elementos,
  • mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade nĆ£o tem mais papel)Ā 
  • e da função que asseguram;Ā 

ademais, se porventura essas organizaƧƵes se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,

  • nĆ£o Ć© porque ocupem localizaƧƵes próximas num espaƧo de classificação,
  • mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessƵes.Ā 

Enquanto, no pensamento clƔssico,

a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,

doravante

as semelhanças contemporâneas e observÔveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia.  (*)

Ā 

Ā 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

A sintaxe que autoriza
a construção das frases
A sintaxe que autoriza a manter juntas,
ao lado ou em frente umas das outras,
as palavras e as coisas

pensamento clƔssico,
de antes de 1775

pensamento moderno,
de depois de 1825

História entendida como

  • a coleta das sucessƵes de fatos
    tais como se constituĆ­ram.

História entendida como 

  • o modo de ser fundamental das empiricidades,

    Ā 

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,Ā 

    • postas,Ā 

    • dispostasĀ 

    • e repartidas no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis

Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituƭram;
ela Ć© o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaƧo do saber
para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.

Assim como a Ordem no pensamento clƔssico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico,
lugar onde,
aquƩm de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe Ć© próprio. 

As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

AquƩm do objeto

espaço geral do saber sob o pensamento filosófico clÔssico

Diante do objeto

o Triedro dos saberes
exceto as ciĆŖncias humanas

 Além do objeto

o espaƧo interno do Triedro dos saberes
– o habitat das ciĆŖncias humanas –
mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as CiĆŖncias Humanas

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

AquƩm do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clƔssico, o de antes de 1775
tempo calendƔrio no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

também Diante do objeto

formulação sim reversível
 e instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

A anÔlise das riquezas, junto com a gramÔtica geral e a história natural, no pensamento clÔssico- o de antes de 1775, são contrapostas à anÔlise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.

“Nem vida,
nem ciĆŖncia da vida
na Ʃpoca clƔssica;
tampouco filologia.

Mas sim
uma história natural,
uma gramƔtica geral.

Do mesmo modo,
não hÔ economia política

porque, na ordem do saber,
a produção não existe.


Em contrapartida,
existe, nos sƩculos XVII e XVIII,

uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem Ć© de ā€œnoçãoā€ que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econƓmicos

que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.

Trata-se antes de um domĆ­nio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,

que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.


Esse domĆ­nio,

solo e objeto da ā€œeconomiaā€ na idade clĆ”ssica,
Ć© o da riqueza.

 InĆŗtil colocar-lhe questƵes
vindas de uma economia de tipo diferente,

organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;

 inĆŗtil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,

com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A anĆ”lise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a anÔlise de riquezas do pensamento filosófico clÔssico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)

O mĆ­nimo que somos chamados a fazer Ć© esclarecer as razƵes pelas quais o conceito ‘riquezas’ Ć© tĆ£o largamente utilizado; e as razƵes pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao perĆ­odo clĆ”ssico.

Veja a seguir os pontos:

  • O funcionamento de operaƧƵes – do pensamento, as de produção, as de troca, antes e depois desse evento fundamental em nossa cultura, antes e depois dele;
  • As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessĆ”rias para cada operacionalidade;
  • Os domĆ­nios nos quais as operaƧƵes acontecem, em função da configuração do pensamento;
  • O tempo nas operaƧƵes em função da configuração do pensamento e da etapa da operação;
  • O lugar dado ao homem em cada configuração do pensamento;
  • Uma Anatomia ou uma Cartografia de modelos de operaƧƵes em função da configuração do pensamento;
  • Um verdadeiro manual para construção de modelos para qualquer ciĆŖncia humana, modelos nos quais o campo transcendental da subjetividade foi aberto e foram constituĆ­dos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, escrito pelo próprio Michel Foucault
  • MetĆ”foras adequadas para modelos de operaƧƵes respectivamente para cada configuração do pensamento;
  • Propriedades emergentes dos modelos de operaƧƵes e organizaƧƵes em função da configuração do pensamento utilizada.

Veja a relação entre cada formulação de operações e o respectivo perfil de características da configuração do pensamento adotada em cada formulação, na pÔgina: 

modelos de operações formuladas para cada configuração do pensamento

clƔssico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

condiƧƵes de possibilidade no pensamento

clƔssico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

veja também tópico seguinte, o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.

Note que a amplitude da visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ Ć© muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visĆ£o do fenĆ“meno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e tambĆ©m o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposiƧƵes explicativas da experiĆŖncia formuladas de acordo com as regras da lĆ­ngua; enquanto que sob o pensamento clĆ”ssico o fenĆ“meno Ć© visto apenas a partir da fase de instanciamento.

Veja que hÔ uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clÔssico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

Certifique-se dessa correspondĆŖncia visualizando as figuras feitas para os dois princĆ­pios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

a pÔgina que o link acima dÔ acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com

as duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ com as duas origens da essĆŖncia da linguagem (interna e externa), e correspondentes duas possibilidades de anĆ”lise de valor;

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ‘Trabalho’:
o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

AquƩm do objeto
Adam Smith, 1776

PrincĆ­pio monolĆ­tico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das NaƧƵes, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

PrincĆ­pio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

ComparaƧƵes entre os dois princƭpios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princĆ­pios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparaƧƵes entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

AquƩm do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clƔssico, o de antes de 1775
tempo calendƔrio no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

Diante do objeto

formulação sim reversível
e instanciamento de representação existente
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

ā€œO modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papƩis:
estĆ” ao mesmo tempo,

                      • noĀ fundamento de todas as positividades,
                      • presente, de uma forma que nĆ£o se pode sequer dizer privilegiada,
                        no elemento das coisas empĆ­ricas.ā€

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo X – As ciĆŖncias humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
Michel FoucaultĀ 

ā€œNa medida, porĆ©m,Ā 
em que as coisas
giramĀ 
sobre si mesmas,
reclamando para seu devir
não mais que
o princĆ­pio deĀ 
sua inteligibilidade
e abandonando o espaço da representação,
o homem,

por seu turno,
entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.ā€

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
PrefƔcio
Michel FoucaultĀ 

Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:

pensamento clƔssico, o de antes de 1775;

  • a leitura do fenĆ“meno ‘operação’Ā  Ć© feita a partir do ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido em uma operação de troca (todas as representaƧƵes sĆ£o prĆ©-existentes Ć  operação;
  • a formulação da representação Ć© reversĆ­vel; nĆ£o hĆ” construção de novas representaƧƵes, e a operação transcorreĀ  no caminho do Instanciamento da representação combinada entre duas representaƧƵes anteriores prĆ©-existentes;
    • nĆ£o hĆ” construção de representaƧƵes;Ā 
  • domĆ­nio: do Discurso e da Representação;
  • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (estrutura Input-Output)
  • elemento central: Processo
  • tempo: relativo ou tempo calendĆ”rio sob o deus Cronos
  • ordem: Quadro de simultaneidades com um Sistema de categorias. (pode ser mĆŗltipla, e de uso simultĆ¢neo).

pensamento moderno, o de depois de 1825;

  • a leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ Ć© feita em um ponto situado antes do cruzamentoĀ  do que Ć© dado e o que Ć© recebido em uma operação de troca; o pensamento Ć© capaz de construir representaƧƵes novas;
  • caminho da Construção da representação; formulação da representação irreversĆ­vel; operação ocorre no
    • Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico; com os subespaƧos:
      • Lugar desde onde se fala: domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua;
      • Lugar do falado: domĆ­nio do Discurso e da Representação.
    • elemento central: Forma de produção;
    • tempo: absoluto (nĆ£o relativo e nĆ£o calendĆ”rio) sob o deus Kairós;
    • ordem: Ćŗnica, dada pelas regras da gramĆ”tica da lĆ­ngua utilizada.
    • origens de valor
      • designaƧƵes primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório
    • caminho do Instanciamento da representação;
      • domĆ­nio do Discurso e da Representação;
        • Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório.

Veja isso tambƩm na seguinte pƔgina:

Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece, em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações.

Os domínios no interior dos quais transcorrem as operações, antes e depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

operação sob o pensamento clÔssico, antes de 1775

    • operação de construção da representação:
      • inexistente na leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ feita no pensamento clĆ”ssico
    • Operação de instanciamento ocorre no circuito das trocas (Mercado),
      • no interior do domĆ­nio do Discurso e da representação.

operação sob o pensamento moderno, depois de 1825

    • operação de Construção da representação transcorre no interiorĀ 
      do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico;

um lugar composto por dois blocos em dois domĆ­nios diferentes:

      • o domĆ­nio do Pensamento e da lĆ­ngua;
        • o Lugar desde onde se fala;
      • o domĆ­nio do Discurso e da representação.
        • o Lugar do falado.

Ā 

    • operação de Instanciamento de representação anteriormente construĆ­da
      • a operação de troca ocorre no Circuito das trocas (Mercado).
        • no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação

Um ‘manual’ para construção de modelos para ciĆŖncias humanas, por Michel Foucault

O espaƧo interior
do triedro dos saberes: o habitat das ciĆŖncias humanas
A classe de modelos das ciĆŖncias humanas: um modelo composto pelos trĆŖs pares constituintes
Uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram criados

Resumo MetƔfora adequada para operaƧƵes e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metĆ”fora adequada: transformação Ćŗnica Entradas ⇒ SaĆ­das
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: PermanĆŖncia
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

Visão da operação clÔssica
Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informaƧƵes

A. Pensamento filosófico clÔssico, o de antes de 1775

1.Ā  Ā Transformação Ćŗnica, de Entradas ⇒ SaĆ­das, sobre a estrutura Input-Output, ou um processamento de informaƧƵes

A metĆ”fora da transformação de Entradas  ⇒ SaĆ­das, sobre a estrutura Input-Output, que dĆ” lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si Ć© vĆ”lida aqui, e Ć© a famosa caixa preta.Ā 

Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência

Com a opção pela leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que Ć© dado com o que Ć© recebido na troca, essa metĆ”fora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e jĆ” carregada de valor diretamente atribuĆ­do Ć  proposição.

Toda a etapa da construção de representação nova estÔ fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.

Veja aqui em Conceitos homƓnimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho da Construção da representação
A metƔfora adequada Ơs operaƧƵes no caminho
da Construção de representação
para a empiricidade objeto

B. Pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825

1.  MetÔforas no caminho da Construção da representação:
uma Conversão, ou um par de transformações de mesmos sinais

Veja novamente pÔgina MetÔforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • ConversĆ£o, de pensamento nĆ£o articulado em representação.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

  • Primeira transformação:
    • [nĆ£o – sim] pensamento nĆ£o-articulado em pensamento sim-articulado;
  • Segunda transformação:
    • [sim – nĆ£o] representação nĆ£o-existente para representação sim-existente.

Ā 

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação
MetÔfora adequada para operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação:
uma Conversão ou um par de transformações com sinais trocados

2.  MetĆ”foras no caminho do Instanciamento da representação: outra ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes mas agora de sinais opostos

Veja novamente pÔgina MetÔforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • ConversĆ£o,
    • de uma disponibilidade de recursos 
    • para disponibilidade de objeto da produção.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

    • Primeira transformação: [nĆ£o – sim] Consumo, ou disponibilidade de recursos para indisponibilidade de recursos;
    • Segunda transformação: [nĆ£o – sim] Produção: indisponibilidade de objeto para disponibilidade de objeto.

Resumo MetƔfora adequada para operaƧƵes e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metĆ”fora adequada: transformação Ćŗnica Entradas ⇒ SaĆ­das
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: PermanĆŖncia
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metĆ”fora adequada: ConversĆ£o, ou um par de transformaƧƵes de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

A.  Modelos de operações sob o pensamento clÔssico, o de antes de 1775

1.  Fluxo na etapa de instanciamento de representação anteriormente formulada reversivelmente

Veja em Funcionamento das operaƧƵes… a animação sob o tĆ­tulo AquĆ©m do objeto. Essa Ć© uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representaƧƵes existentes. O apontador de inĆ­cio da operação estĆ” no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.

Sob o pensamento clÔssico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:

  • O tipo de pensamento usado tem a impossibilidade de fundar as sĆ­nteses [do objeto das operaƧƵes] no espaƧo da representação – o primeiro obstĆ”culo vislumbrado por Foucault em seu trabalho;
  • Essa impossibilidade arrasta o ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ para o cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido na operação de troca, ou o ponto em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estĆ£o disponĆ­veis;
    • valor Ć© atribuĆ­do diretamente sobre a proposição;
  • A operação pode acontecer no Circuito das trocas jĆ” que os objetos envolvidos nesse tipo de operação estĆ£o disponĆ­veis; essa operação transcorre inteiramente em um domĆ­nio Ćŗnico, o domĆ­nio do Discurso e da representação.
  • História, nesse tipo de operaƧƵes, Ć© entendida como a coleta das sucessƵes de fatos, tais como se constituĆ­ram.
  • O tipo de propriedades possĆ­veis de serem consideradas na modelagem das operaƧƵes Ć© propriedades nĆ£o-originais e nĆ£o-constitutivas das coisas, que sĆ£o selecionadas para participar das operaƧƵes por suas propriedades consistentes com esse tipo, ou por ā€œaparĆŖnciasā€.
  • O elemento central desse modelo de operaƧƵes Ć© ā€˜Processo’, sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
  • Resta nesse modelo de operaƧƵes a contabilidade do que se aproxima de uma regiĆ£o do espaƧo em que ocorrem operaƧƵes, do que entra nessa regiĆ£o, do que fica nessa regiĆ£o ou que Sai dela. A anĆ”lise se restringe a esse Fluxo, pela total ausĆŖncia da noção de objeto definido pelas suas propriedades originais e constitutivas, e pela pressuposição de que tudo existe, desde sempre e para sempre prescindindo assim da noção de sujeito.

Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informaƧƵes
propriedade emergente FLUXO

1.  Permanência: no caminho da Construção da representação, em uma formulação irreversível.

Veja agora emĀ Funcionamento das operaƧƵes…Ā a animação sob o tĆ­tulo Diante do objeto. A operação modelada Ć© de formulação da representação para empiricidade objeto ainda nĆ£o representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponĆ­vel para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, estĆ” resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda estĆ” indisponĆ­vel. Para que ele esteja disponĆ­vel serĆ” necessĆ”rio o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recĆ©m criada. EntĆ£o, a aposta Ć© que essa representação permaneƧa em um repositório de proposiƧƵes explicativas formuladas de acordo com as regras da lĆ­ngua, de onde serĆ” selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.

  • O tipo de pensamento utilizado tem desta vez a possibilidade de fundar as sĆ­nteses [do objeto das operaƧƵes] no espaƧo da representação.
  • Essa possibilidade arrasta o ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ paraĀ antes do ponto de cruzamentoĀ entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido em uma operação de troca, ou para o ponto em que pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca nĆ£o estĆ” disponĆ­vel;
    • valor carregado pela proposição para a representação tem origem fora da representação e da linguagem:
      • nasĀ designaƧƵes primitivas;
      • naĀ linguagem de açãoĀ ou de uso.
  • A operação transcorre no, ā€˜ interior do ā€˜Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico: ā€œAssim como a Ordem no pensamento clĆ”ssico nĆ£o era a harmonia visĆ­vel das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaƧo próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim tambĆ©m a História, a partir do sĆ©culo XIX, define o lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico, lugar onde, aquĆ©m de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe Ć© próprio.ā€
  • História, nesse tipo de operação Ć© o ā€œmodo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas sĆ£o afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.ā€
  • O tipo de propriedades consideradas na modelagem de operaƧƵes Ć© propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, exatamente aquele objeto que falta para compor uma operação de troca.
  • O elemento central deste modelo de operaƧƵes agora Ć© a Forma de produção, em um sistema absoluto no qual ā€œaquĆ©m de toda cronologia estabelecida, ele [o objeto da operação, aquele que falta para compor a operação de troca] assume o ser que lhe Ć© próprio.
  • Nesse modelo de operaƧƵes a representação (projeto) daquele objeto que faltava para eventual operação de troca Ć© construĆ­da e dessa construção de nova representação surgem as propriedades sim-originais e sim-constitutivas que descrevem essa representação construĆ­da.

Propriedade emergente PERMANÊNCiA
no caminho da Construção da representação
metÔfora adequada Conversão

B.    Modelos de operações sob o pensamento moderno, depois de 1825

 2.  Fluxo: no caminho do Instanciamento da representação:

A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.

A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.

A empiricidade objeto serĆ” instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento nĆ£o muda.

Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e hÔ fluxos vÔrios, que são mostrados na pÔgina indicada.

A metƔfora adequada Ơs operaƧƵes
no caminho do Instanciamento da representação
propriedade emergente novmente FLUXO

Ā 

Veja a seguir os pontos:

  • Temos um samba de uma nota só (com trĆŖs ritmos):
    • unanimidades pelo uso dos conceitos:

Mercado‘, ‘Processo‘, ‘Riquezas;

  • quando poderĆ­amos ter uma sinfonia
    • eliminando a unanimidade pelo nĆ£o uso dos conceitos:

Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico‘, ‘Forma de produção‘ e ‘AnĆ”lise da produção‘;

As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso:

  • ā€˜Mercado’, ā€˜Processo’, ā€˜Riquezas’ conceitos de antes da descontinuidade epistemológica e portanto na idade clĆ”ssica, sĆ£o campeƵes de unanimidade pelo uso;
  • e os correspondentes conceitos do após a descontinuidade epistemológica e portanto da nossa modernidade no pensamento, campeƵes absolutos pelo nĆ£o-uso: ā€˜Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’, ā€˜Forma de produção’, ā€˜AnĆ”lise da produção unĆ¢nimes pelo nĆ£o uso.

“Assim como a Ordem no pensamento clĆ”ssico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico,
lugar onde, aquƩm de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe Ć© próprio.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.

Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico Ć© o lugar onde, “aquĆ©m de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empĆ­ricas] assume o ser que lhe Ć© próprio”.

Veja o modelo de operaƧƵes – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico‘ Ć© um lugar, mesmo, e nĆ£o o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.

Ɖ um lugar onde as empiricidades objeto de operaƧƵes tĆŖm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.

modo de ser fundamental de uma empiricidade Ć© aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaƧo do saber para eventuais conhecimentos e para ciĆŖncias possĆ­veis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.

Os detalhes estão a seguir:

ā€œCertamente, para Ricardo como para Smith,Ā 
o trabalho pode realmenteĀ 
medir a equivalĆŖncia das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:ā€

ā€œNa infĆ¢ncia das sociedades,Ā 
o valor permutÔvel das coisas 
ou a regra que fixa a quantidade que se deve darĀ 
de um objeto por outroĀ 
só depende da quantidade comparativa de trabalho 
que foi empregada na produção de cada um deles.ā€Ā 

A diferenƧa, porƩm, entre Smith e Ricardo estƔ no seguinte:

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisĆ”vel em jornadas de subsistĆŖncia, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessĆ”rios Ć  subsistĆŖncia);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    • Ā nĆ£o apenas porque este seja representĆ”velĀ  em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmente porque
      o trabalho como atividade de produção
      Ć© a fonte de todo valor”.

JÔ não pode este ser definido, como na idade clÔssica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras. 

O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto.Ā 
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou,Ā 
ou se, pelo menos, seu valor estÔ em proporção a esse trabalho, 
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante 
e permutÔvel sob todos os céus e em todos os tempos, 
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho.Ā 
E a melhor prova disso estĆ” em que o valor das coisasĀ 
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salÔrios 
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.ā€

Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros,Ā 
os valores realmente têm ainda um poder de representação. 
Extraem esse poder, porĆ©m, de outra parte –Ā 
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação 
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.

Enquanto no pensamento clÔssico 
o comércio e a troca 
servem de base insuperÔvel para a anÔlise das riquezas 
(e isso mesmo ainda em Adam Smith,Ā 
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),

desde Ricardo,Ā 
a possibilidade da troca estĆ” assentada no trabalho;Ā 
e a teoria da produção, doravante, 
deverÔ sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā 
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenÓmeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.

Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

Qualquer coisa para a qual for possĆ­vel estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação Ć  regiĆ£o onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como SaĆ­da. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade nĆ£o-original e nĆ£o-constitutiva, ou uma ā€œaparĆŖnciaā€. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas nĆ£o sĆ£o utilizadas.

Veja aqui duas coisas:

ā€œA Ćŗnica coisa que o verbo afirmaĀ 
é a coexistência de duas representações: 
por exemplo, a do verde e da Ôrvore, 
a do homem e da existĆŖncia ou da morte;Ā 
Ć© por isso que o tempo dos verbosĀ 
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, 
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.ā€Ā As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā Cap. IV – Falar; tópico III.Ā  A teoria do verbo

para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clĆ”ssica, veja na pĆ”gina sobre o funcionamento das operaƧƵes, as animaƧƵes sobre o tempo nos dois perĆ­odos, e associe o tempo ‘calendĆ”rio’ Ć  parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos.Ā 

“Nem vida, nem ciĆŖncia da vida na Ć©poca clĆ”ssica;Ā 
tampouco filologia.Ā 
Mas sim uma história natural, uma gramÔtica geral. 
Do mesmo modo, não hÔ economia política 
porque, na ordem do saber,Ā 
a produção não existe. 
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII, 
uma noção que nos permaneceu familiar, 
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial. 
Nem Ć© de ā€œnoçãoā€ que se deveria falar a seu respeito,Ā 
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econÓmicos 
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral: 
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada,Ā 
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,Ā 
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.

Esse domĆ­nio,Ā 
solo e objeto da ā€œeconomiaā€ na idade clĆ”ssica,Ā 
Ć© o daĀ riqueza.

Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente, 
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inĆŗtil igualmente analisar seus diversos conceitosĀ 
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram,Ā 
com alguma analogia de sentido),Ā 
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.”Ā 

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā 
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A anĆ”lise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a anÔlise de valor do pensamento filosófico anterior, o clÔssico, de antes de 1775.

Ā 

Veja novamente a animação central sob o tĆ­tulo ā€˜Diante do objeto’ na pĆ”gina

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenÓmeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação estÔ em desenvolvimento e que, futuramente, poderÔ ser levada ao circuito das trocas.

O Lugar de nascimento do que Ʃ empƭrico compreende dois sub-espaƧos:

  • o Lugar desde onde se fala, no interior do domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua;
  • e o Lugar do falado, no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação.

Ɖ parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaƧo das representaƧƵes, no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação.

Ɖ assim que funciona o Princƭpio Dual de trabalho de David Ricardo.

A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:

ā€œĆ‰ preciso, portanto,Ā 
tratar esse verbo como um ser misto,Ā 
ao mesmo tempoĀ 
palavra entre as palavras,Ā 
preso Ć s mesmas regras,Ā 
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; 
eĀ depois,Ā 
em recuo em relação a elas todas, 
numa região que não é aquela do falado 
mas aquela donde se fala.Ā 
Ele estĆ” na orla do discurso,Ā 
na juntura entre aquilo que Ć© ditoĀ 
e aquilo que se diz,Ā 
exatamente lĆ” onde os signosĀ 
estĆ£o em via de se tomar linguagem.ā€Ā 
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Ā Cap. IV – Falar; tópico III.Ā  A teoria do verbo

Veja agora que esse verbo estĆ” postado na regiĆ£o ‘desde onde se fala’, um sub-espaƧo do ‘Lugar do nascimento do que Ć© empĆ­rico’, e no interior do domĆ­nio do Pensamento e da LĆ­ngua, onde a articulação com o impensado pode ter inĆ­cio para uma representação ainda nĆ£o existente, – e nĆ£o na regiĆ£o do falado, esta no interior do domĆ­nio do Discurso e da Representação. Foucault Ć© preciso a esse respeito: ‘Ele estĆ” na orla do discurso, na juntura…’

Veja a pƔgina

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith e o de David Ricardo, de 1817

Nessa mesma pÔgina, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.

A animação central da pĆ”gina Funcionamento… com o tĆ­tulo ā€˜Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda nĆ£o representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponĆ­vel em uma operação de troca jĆ” descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.

Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:

  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    não apenas porque este seja representÔvel em unidades de trabalho,
    mas primeiro e fundamentalmente
    porque o trabalho como atividade de produção
    Ć© ā€œa fonte de todo valorā€.

Tudo o que estĆ” representado na pĆ”gina Funcionamento… na animação central ā€˜Diante do objeto’ estĆ” completamente fora do pensamento que pensa operaƧƵes no cruzamento do que Ć© dado e o que Ć© recebido.

Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação estÔ fora do modo como operações são vistas como fenÓmeno.

Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.

O pensamento clÔssico, aquele que dispunha da História natural, da AnÔlise das riquezas e da GramÔtica geral, fazia a AnÔlise das riquezas.

O pensamento moderno efetua em seu lugar, a AnÔlise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clÔssico, a AnÔlise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.

  • modelos com estruturaĀ clĆ”ssica
    • o modelo descritivo de operaƧƵes de produção de Elwood S. Buffa;
    • o Diagrama FEPSC(SIPOC)/Six Sigma;
    • os modelos na visĆ£o contĆ”bil-financeira:
      • de operaƧƵes (DĆ©bito/CrĆ©dito)
      • e de organização (Ativo – Passivo – Resultados) ;

  • modelos com estruturaĀ moderna
    • o modelo descritivo de operaƧƵes de produção do Kanban;
    • o modelo expresso na Figura 7.1 – mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, de Michael Hammer;

  • modelos com estrutura moderna
    • o triedro dos saberes;
    • o espaƧo interior do triedro;
    • o uso dos pares de modelos constituintes, inclusive fora do domĆ­nio próprio.

Tópico V. PsicanĆ”lise e etnologia, do Cap. 10 – As ciĆŖncias humanas,
do livro As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas

Um exercĆ­cio de uso do modelo composto caracterĆ­stico das ciĆŖncias humanas,
uma combinação dos pares constituintes das ciências 

  • da Vida (Biologia) [função-norma];Ā 
  • do Trabalho (Economia) [função-norma];Ā 
  • da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

além do conhecimento do papel dessas duas ciências em nossa cultura.

“A psicanĆ”lise e a etnologia ocupam, no nosso saber, um lugar privilegiado.Ā 

NĆ£o certamenteĀ 

  • porque teriam, melhor que qualquer outra ciĆŖncia humana, embasado sua positividade e realizado enfim o velho projeto de serem verdadeiramente cientĆ­ficas;Ā 

antes porque,Ā 

  • nos confins de todos os conhecimentos sobre o homem, elas formam seguramente um tesouro inesgotĆ”vel de experiĆŖncias e de conceitos, mas, sobretudo, um perpĆ©tuo princĆ­pio de inquietude, de questionamento, de crĆ­tica e de contestação daquilo que, por outro lado, pĆ“de parecer adquirido.Ā 

Ora, hÔ para isto uma razão que tem a ver com o objeto que respectivamente cada uma se atribui, mas tem mais ainda a ver com a posição que ocupam e com a função que exercem no espaço geral da epistémê. 

A psicanÔlise, com efeito, mantém-se o mais próximo possível desta função crítica acerca da qual se viu que era interior a todas as ciências humanas.

Dando-se por tarefa fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente, 

a psicanÔlise avança na direção desta região fundamental onde se travam as relações entre a representação e a finitude. 

EnquantoĀ todas as ciĆŖncias humanas

  • Ā só se dirigem ao inconsciente virando-lhe as costas, esperando que ele se desvele Ć  medida que se faz, como que por recuos, a anĆ”lise da consciĆŖncia,Ā 

jÔ a psicanÔlise 

  • aponta diretamente para ele, de propósito deliberado –Ā 
    • nĆ£o em direção ao que deve explicitar-se pouco a pouco na iluminação progressiva do implĆ­cito,Ā 
    • mas em direção ao que estĆ” aĆ­ e se furta, que existe com a solidez muda de uma coisa, de um texto fechado sobre si mesmo, ou de uma lacuna branca num texto visĆ­vel e que assim se defende.Ā 

Não hÔ que supor que o empenho freudiano seja o componente de uma interpretação do sentido e de uma dinâmica da resistência ou da barreira; 

  • seguindo o mesmo caminho que as ciĆŖncias humanas,Ā 

mas com o olhar voltado em sentido contrÔrio, 

  • a psicanĆ”lise se encaminhaĀ 

em direção ao momento –inacessĆ­vel, por definição, a todo conhecimento teórico do homem, a toda apreensĆ£o contĆ­nua em termosĀ 

        • de significação,Ā 
        • de conflitoĀ 
        • ou de função

– em que os conteĆŗdos da consciĆŖncia se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.Ā 

Isto quer dizer que,Ā 

  • ao contrĆ”rio das ciĆŖncias humanas que,Ā 
    • retrocedendo embora em direção ao inconsciente,Ā 
      • permanecem sempre no espaƧo do representĆ”vel,Ā 
  • a psicanĆ”liseĀ 
    • avanƧa para transpor a representação,Ā extravasĆ”-la do lado da finitude
    • e fazer assim surgir, lĆ” onde se esperavamĀ 
      • as funƧƵes portadoras de suas normas,Ā 
      • os conflitos carregados de regrasĀ 
      • e as significaƧƵes formando sistema,Ā 
    • o fato nu de que pode haverĀ 
      • sistema (portanto, significação),Ā 
      • regra (portanto, oposição),Ā 
      • norma (portanto, função).Ā 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso, à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude, desenham-se as três figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funƧƵes e suas normas, vem fundar-se na repetição muda da Morte,Ā 
  • os conflitos e as regras, na abertura desnudada do Desejo,Ā 
  • as significaƧƵes e os sistemas, numa linguagem que Ć© ao mesmo tempo Lei. “

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. X – As ciĆŖncias humanas;
tópico V – PsicanĆ”lise, etnologia 

A figura da VisĆ£o SSS – SimĆ©trica, Simbiótica e SinĆ©rgica parte de duas ideias:

  • a ideia de que cada objeto demanda operação especĆ­fica para ele;
  • a ideia de que nĆ£o Ć© possĆ­vel a obtenção de um objeto (produto) sem dispor de um instrumento (laboratório, Ć”rea de desenvolvimento, fĆ”brica). Claramente nĆ£o temos acesso Ć  Varinha MĆ”gica de condĆ£o de Merlin, o Mago, instrumento habil para instanciar qualquer objeto.
    • pensar na obtenção do objeto sem o respectivo instrumento Ć© semelhante a pensar magicamente;
    • o pensamento conjunto dos dois objetos, o produto e a fĆ”brica, reduz a qualidade dos modelos de operaƧƵes;
    • a VisĆ£o SSS permite a modelagem do Nexo da produção.

Essa ideia estƔ embutida na Figura 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, basta analisar tendo em mente as condiƧƵes de possibilidade no pensamento daquela figura.

Veja tambƩm



  • Sistema Formulador – uma alteração no modelo de dados clĆ”ssico de um SDGP – Sistema Dedicado Ć  GestĆ£o de Projetos  – como o MS Project 4.0 por exemplo, fazendo com que ele passe a funcionar a partir de banco de dados 9com a linguagem de uso) e com um modelo sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto que se pretende concretizar.

Partindo dos dois obstĆ”culos, ou as duas pedras de tropeƧo que Foucault declara ter encontrado em seu trabalho, traƧamos – usando apenas interpretação de texto – um espectro de produƧƵes do pensamento, teorias, modelos e sistemas, com trĆŖs segmentos: AQUƉM, DIANTE e para ALƉM do objeto.

Da forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura no depois da descontinuidade epistemológica, vemos que o pensamento funciona organizado em torno do par sujeito-objeto. Mudando o objeto, muda a operação que pode ou não ser conduzida por um sujeito diferente, mas com um sujeito a conduzi-la.

Aplicando esse elemento organizador par sujeito-objeto às operações em organizações, vê-se que jÔ existem operações e organizações organizadas com esse critério: o modelo descritivo da produção do Kanban, e a Fig. 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, são exemplos.

Se examinamos mais de perto este Ćŗltimo exemplo, veremos que hĆ” dois pares sujeito-objeto incluĆ­dos nesse mapa – segundo Hammer, de ‘processos’ (ele nĆ£o conseguiu se livrar dessa unanimidade mesmo mapeando claramente Formas de produção e nĆ£o processos.

A VisĆ£o SSS resume-se a respeitar a relação um objeto – um modelo de operaƧƵes. E isso leva a uma organização SSS – SimĆ©trica, Simbiótica e SinĆ©rgica que torna evidente o nexo da produção.

  • a) Canal Inconsciente Coletivo, vĆ­deo Jorge Forbes: estamos vivendo a maior revolução dos laƧos sociais dos Ćŗltimos 2800 anos, de 28/07/2020;

  • b) Canal Falando Nisso, vĆ­deo 150 – Signo, significação e significado de 08/10/2017;

  • c) Canal Falando, Nisso vĆ­deo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, de 31/08/2019;

  • d) Canal Quem Somos Nós? – vĆ­deo Desigualdade: Concentração de renda com Eduardo Moreira;

  • e) Canal Monica de Bolle, vĆ­deo 31 – Imaginando o “Novo Normal”;

  • f) Canal Monica de Bolle, vĆ­deo 32 – O “Novo Normal”: Bens PĆŗblicos”;

  • g) Canal Inconsciente Coletivo – vĆ­deo Ivaldo Bertazzo, que testou positivo para o Covid-19: “o grande problema do corpo Ć© o medo”, de 12/08/2020.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Introdução do vĆ­deo: ‘O mundo de hoje Ć© parecido com o de ontem, apenas na fotografia!’
  • Direcionamento do pensamento: ao intangĆ­vel, ou ao impensado?Ā 
  • Relação com o intangĆ­vel
  • Jorge Forbes: Entrevista ao canal Inconsciente coletivo em 28/07/2020: “estamos vivendo a maior revolução dos laƧos sociais dos Ćŗltimos 2800 anos”
  • O incĆ“modo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrĆ£o e genĆ©rico, constituinte das ciĆŖncias humanas em geral, todas elas, proposto por Michel Foucault.Ā 
  • Sobre as qualidades de terra1 e terra2 (rótulos dispensĆ”veis se significar pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775, e pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault.Ā 
  • Freud explica ⇒ Freud implica: uma frase de efeito que depende de qual seja a configuração do pensamento sob a qual Ć© proferida;Ā 

Meus comentƔrios usando o pensamento de Michel Foucault:

Veja também 

ReflexƵes imaginativas >

O fenÓmeno das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia dos modelos; MetÔforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento >

As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessƔrias para cada operacionalidade

Claramente a determinação ou não dessa parecença depende do modo como você olha para a fotografia, ou seja, com que recursos de pensamento faz isso. E o que procura na fotografia, com o seu olhar.

Ivaldo Bertazzo ensina que a gente olha e ouve o que nos chega do mundo sempre de acordo com o mesmo padrão.

E hÔ mais do que um padrão que pode ser usado para absorver o que nos chega do mundo.

Michel Foucault, olhando para o estado em que ele percebia encontrar-se a nossa cultura, e adotando a estratégia de questionar não diretamente as teorias, modelos e sistemas mas as condições de possibilidade destes no pensamento, viu modelos com e modelos sem a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto do pensamento) no espaço da representação. Ele estava questionando as condições de possibilidade do pensamento, evidentemente.

E ele foi alĆ©m disso: viu o imperativo de que todo o campo das ciĆŖncias humanas fosse configurado tendo como pressuposto a constituição do que ele chama de os ‘quase-transcendentais’ Vida, Trabalho e Linguagem, podendo entĆ£o identificar um modelo composto padrĆ£o e genĆ©rico para todas as ciĆŖncias humanas nesse espaƧo, a partir de modelos constituintes das trĆŖs ciĆŖncias do eixo epistemológico fundamental, as ciĆŖncias da Vida (Biologia) [função-norma], do Trabalho (Economia polĆ­tica) [conflito-regra] e da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].Ā 

Vê-se que dessa percepção de Foucault é possível vislumbrar um espectro de modelos em nossa cultura. Esse espectro tem três segmentos:

AQUƉM, DIANTE e para ALƉM do objeto (e do sujeito)

Pouca gente vĆŖ isso, mas vocĆŖ pode ver adiante neste trabalho.

Mas, olhando para a fotografia de hoje com os padrões que usamos ontem e desde sempre, fica estabelecida uma semelhança pela intermediação do padrão utilizado. Se é o padrão de sempre, as diferenças porventura existentes, causadoras de diferenciações, mas aparentes somente sob outro padrão, não aparecem.

Sempre é necessÔrio percebermos quais são os critérios dos quais se compõe o modo como olhamos para o mundo. Dependendo do que surge dessa procura daquilo que integra nossos padrões, pode ser que percebamos que ocorreram, sim, mudanças que nos passaram despercebidas; e mudanças de tal monta que sim, foram revoluções, mas localizadas no passado, e hoje jÔ distante.

Mas que a gente possa manter um savoir faire – um saber fazer, numa relação da harmonia do homem agora nĆ£o mais com a natureza, nĆ£o mais com os deuses, nĆ£o mais com a razĆ£o, mas com o intangĆ­vel. EntĆ£o, nesse intangĆ­vel, isso me leva a pensar numa Ć©tica – em dois tempos para cada um – de inventar uma surresposta singular da sua intangibilidade, e de colocĆ”-la no mundo (que Ć© o que faz o artista); nĆ£o Ć©? um Van Gogh vĆŖ um girassol que só ele viu – ele inventou um girassol – e inscreveu esse girassol no mundo.

Esse ‘savoir faire’ parece-me que seja a boa e antiga de dois sĆ©culos ‘Forma de produção’ de David Ricardo

Desde logo esse ‘savoir faire‘ Ć© interessante porque me dĆ” a oportunidade de, ao invĆ©s da tradução óbvia ‘saber fazer‘, optar por traduzir essa ideia como ‘forma de produção‘ como a maneira encontrada para fazer aquilo que sei fazer; e se fizer isso guiado pela ideia por trĆ”s do nome, estarei usando justamente o nome dado por David Ricardo, em 1817, para o elemento central do seu modelo de operaƧƵes que, segundo Foucault, ele publicou com o nome de PrincĆ­pio Dual de Trabalho (e Ć© interessante descobrir por que esse ‘dual’ no nome do principio.

O pensamento bem frequentemente consegue dar conta do ‘impensado’, mas ao contrĆ”rio, o ‘intangĆ­vel’ permanece tal e qual na maioria das vezes.

Desde logo, estabelecer um saber fazer voltado ao intangĆ­vel – o que quer que essa palavra signifique neste contexto – Ć© organizar “a relação da harmonia do homem nĆ£o mais com a natureza, os deuses, a razĆ£o”, mas levando em conta, agora, o objeto, um objeto definido como ‘intangĆ­vel’, aquela coisa que nĆ£o se pode tocar, parece que seja um grande passo adiante. 

Veja que toda a mecĆ¢nica celeste funciona perfeitamente e artefatos sĆ£o colocados em órbita e chegam sem acidentes a outros planetas, e em sua grande maioria todos permanecem intangĆ­veis – no sentido original da palavra ‘intocĆ”veis’ – depois de estudados. Mas todos deixam de ser impensados. E graƧas a um pensamento organizado pelo par sujeito-objeto.

Pensando em um buraco negro, e nas teorias da relatividade que ajudam a compreendĆŖ-los, nĆ£o se pode dizer que eles, buracos negros – e outros entes cósmicos – de alguma forma possam tornar-se tangĆ­veis. Mas a ciĆŖncia os converte de ‘impensados’ cada vez mais em ‘pensados’. E essa conversĆ£o faz mais sentido do que a proposta por Forbes de intangĆ­veis para tangĆ­veis. AtĆ© mesmo no caso do Sars Cov-2.

Seja com ‘intangĆ­vel’ seja com ‘impensado’, mas o pensamento proposto Ć© voltado para o objeto, o que jĆ” Ć© um grande passo”

Mas, porĆ©m, todavia, contudo, o direcionamento do pensamento para o que seja ‘intangĆ­vel’ jĆ” requer uma alteração radical na configuração do próprio pensamento: para um pensamento definido com relação a um determinado objeto, – embora um objeto genĆ©rico; isso porque exige um pensamento sim-discriminativo com relação ao objeto escolhido e seus elementos componentes, em contraposição a um pensamento indefinido porque nĆ£o-discriminativo com relação a qualquer objeto como Ć© (sim, Ć©, porque ainda agora, muito usado entre nós) o pensamento terra1 – como diz Forbes, voltado aos transcendentais natureza, deuses, razĆ£o.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura desde o início do século XIX

Na filosofia de Michel Foucault, pensando em David Ricardo na economia polĆ­tica, Franz Bopp na Filologia, Georges Cuvier na Biologia, o pensamento volta-se para o impensado em vez de para o intangĆ­vel.

Instaura-se
uma forma de reflexĆ£o, 

bastante afastada 
do cartesianismo 
e da anĆ”lise kantiana, 
em que estĆ” em questĆ£o, 
pela primeira vez, 
o ser do homem, 
nessa dimensĆ£o segundo a qual 
o pensamento 
se dirige ao impensado 
e com ele se articula. 

Isso tem duas conseqüências.”

 (…) 

“A outra consequĆŖncia Ć© positiva. 
Concerne Ć  relação 
do homem 
com o impensado, 
ou mais exatamente, 
ao seu aparecimento gĆŖmeo 
na cultura ocidental.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado

Veja a forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura quando mudança como essa foi realizada:

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

Essa mudanƧa no modo de organização do pensamento aconteceu, segundo Foucault, entre 1775 e 1825, nos cinquenta anos centrados na virada dos sĆ©culos XVIII para o XIX (vinte e cinto anos para cada lado). Grosso modo hĆ” dois sĆ©culos; mudanƧa bem mais recente do que os 28 sĆ©culos atrĆ”s em que  Forbes posiciona o evento marcador antecedente da revolução que aponta tambĆ©m nos laƧos sociais.

A mudança em decorrência dessa forma de reflexão

Trata-se de uma mudanƧa com a seguinte natureza:

  • de operaƧƵes organizadas por uma (ou pode ser mais de uma) Ordem(ns) arbitrariamente escolhida(s) nas quais o homem era tratado como um gĆŖnero, ou uma espĆ©cie integrando uma das categorias do sistema de categorias clĆ”ssico; 
  • para operaƧƵes organizadas pelo par sujeito-objeto em uma ordem Ćŗnica dada pelas regras da gramĆ”tica da lĆ­ngua, usando o bloco padrĆ£o construtivo genĆ©rico para construção de representaƧƵes proposição. 

A primeira consequĆŖncia evidente Ć© que nĆ£o Ć© mais possĆ­vel modelar operaƧƵes, empresariais ou outras, usando a metĆ”fora da transformação Ćŗnica de Entradas ā‡’ SaĆ­das ou do processamento de informaƧƵes sobre a estrutura Input-Output cujo sistema Ć© relativo, de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si. Veja que o elemento central desse modelo, Processo, tem a natureza de um verbo, e note que hĆ” dois conceitos para o que seja um verbo, e esse de um sistema relativo, etc. etc. Ć© o primeiro que transcrevo a seguir.

“A Ćŗnica coisa que o verbo afirma, Ć© a coexistĆŖncia de duas representaƧƵes; por exemplo, a do verde e da Ć”rvore, a do homem e da existĆŖncia ou da morte. Ɖ por isso que o tempo dos verbos nĆ£o indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias  humanas; Cap. 4 – Falar; tópico III. A teoria do verbo 

A segunda consequência é que partindo do conhecimento de que usualmente operações são modeladas sobre a estrutura Input-Output, e isso não é mais adequado, é preciso encontrar um outro padrão, um outro modelo. Isso é necessÔrio para que operações em organizações reais sejam modeladas convenientemente.

E esse outro modelo Ć© consistente nĆ£o mais com o pensamento de Adam Smith (Processo, estrutura Input-Output) mas sobre o pensamento de David Ricardo e seu Principio Dual de Trabalho, cujo elemento central Ć© o ‘savoir faire’ ou a forma de fazer, com o nome de Forma de produção.

Veja as seguintes pƔginas, comparando:

Modelos construĆ­dos dentro desse padrĆ£o: 

Veja, o que gera uma vacina para o Sars-Cov-2 é uma operação na qual o pensamento do cientista que, tendo em vista os aspectos ainda impensados, porque não pensados, desse vírus, desencadeia uma operação no seguinte formato:

  • coloca-se como sujeito de uma operação cientĆ­fica na qual
  • o vĆ­rus Ć© o atributo do predicado do cientista sujeito dessa operação, e assim Ć© o objeto da operação da ciĆŖncia,
    • que funciona Ć  luz do que se sabe sobre vacinas
    • e sobre sistema imunológico humano, entre outros saberes.

Essa operação cientĆ­fica considera entre outras coisas o que a ciĆŖncia sabe sobre vĆ­rus em geral e o Sars-Cov-2 em particular. 

Tangibilidade ou intangibilidade são qualidades, aparências, ou propriedades não-originais e não-constitutivas desse vírus. O impensado, ao contrÔrio, toma o objeto dessa operação de conhecimento por inteiro, mesmo que de início, não haja qualquer propriedade sejam as não-originais e não-constitutivas sejam as sim-originais e sim-constitutivas.

O interesse da ciĆŖncia Ć© pelas propriedades sim-originais e sim-constitutivas desse vĆ­rus, que sĆ£o essas que podem levar a conquistas como por exemplo, uma vacina. E encontrar esse conjunto de propriedades Ć© o que converte o impensado em representação. 

Nota: Nessa forma de reflexĆ£o que se instaura no pensamento filosófico de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,’ o ser do homem’ nĆ£o se dirige ao intangĆ­vel!  

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrÔrio do impensado, que mediante articulação feita pelo pensamento e patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação (e a vacina!), o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.

HĆ” uma confusĆ£o entre os vocĆ”bulos intangĆ­vel e impensado. 

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexĆ£o em   

Os  perfis das duas configuraƧƵes do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e estÔ na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

Esse tĆ­tulo faz alusĆ£o a uma revolução nos laƧos sociais Ćŗnica – pelo seu tamanho, porque a maior – nos Ćŗltimos 2800 anos. E nos laƧos sociais.

Volto ao redirecionamento da ‘harmonia do homem’ desde os transcendentais natureza, deuses, razĆ£o, para o intangĆ­vel como diz Forbes. Se o argumento que fiz acima, a substituição do ‘intangĆ­vel‘ pelo ‘impensado‘ for aceito – ao menos para efeito deste texto, essa revolução a que o tĆ­tulo alude jĆ” ocorreu, e hĆ” exatos 203 anos. E teve exatamente a mesma intenção, atingiu ‘os laƧos sociais’ e todas as Ć”reas do conhecimento humano. E mais, marcou a entrada de nada mais nada menos do que o homem em nossa cultura.

NĆ£o foi pouca coisa.

Esse título, com a afirmativa nele expressa, parece conter em seu significado, um descarte histórico desse evento que tem, na avaliação de Michel Foucault, o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento; e um desconhecimento do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade, em nossa cultura em tempo muito mais próximo de nós que os 28 séculos. 

Gostaria que Jorge Forbes relesse sobre isso na minha Cartilha – o livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, desse autor.Ā 

Forbes alude a um movimento do pensamento que parte dos transcendentais natureza, deuses, razão e chega ao intangível.

Foucault fala de um outro movimento que identifica modelos feitos por um pensamento postado AQUƉM do objeto – referido Ć  Ordem arbitrariamente escolhida em que vige um sistema de categorias, para por um pensamento DIANTE do objeto no qual a ordem Ć© dada pelas regras da gramĆ”tica da lĆ­ngua usada, e chega a um pensamento para ALƉM do objeto em que encontramos constituĆ­dos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, e nĆ£o mĆŗltiplas categorias mas trĆŖs somente: função-norma; conflito-regra, significação-sistema.Ā 

Tendo em mente especificamente a mudanƧa proposta por Forbes para um pensamento voltado a um objeto ‘intangĆ­vel’, e tendo consciĆŖncia de que isso resulta em um certo esforƧo do pensamento e alĆ©m disso, um pensamento organizado por esse objeto ‘intangĆ­vel’ escolhido, exatamente essa alteração – modelos organizados pelo objeto – aconteceu em nossa cultura em um espaƧo de tempo muito menor, pouco mais de dois sĆ©culos atrĆ”s em vez dos 28 sĆ©culos mencionados por Forbes.

Nesse meio tempo, e por falar não em revoluções mas em descontinuidades epistemológicas em nossa cultura, podemos ver esse evento em nossa cultura na pÔgina seguinte.

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825, 

Essa mudança no pensamento exigiu uma forma de reflexão também nova. Segundo Michel Foucault, essa mudança ocorreu em um movimento do pensamento muito mais recente e importante que surgiu em momento muito mais próximo do nosso tempo. Veja essa forma de reflexão associada a uma imagem para o conceito, que torna aparentes os elementos de imagem utilizados, a estrutura que ocupam e os relacionamentos que estabelecem.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

E os efeitos de tal movimentação das positividades umas em relação às outras pode ser constatado nas produções do pensamento efetivamente feitas e utilizadas em teorias, modelos e sistemas existentes e muito utilizados. Essa mudança não ficou apenas no pensamento teórico mas atingiu a prÔtica, embora não tenha sido avaliada de maneira alinhada com o pensamento filosófico.

A pƔgina a seguir mostra:

  • os dois perfis do pensamento antes e depois desse evento segundo Foucault fundador da nossa modernidade no pensamentoĀ  expressos por suas caracterĆ­sticas de caracterĆ­sticas, ou pelos respectivos referenciais, princĆ­pios organizadores e mĆ©todos;
  • esses elementos nas palavras de Foucault;
  • os modelos de operaƧƵes possĆ­veis com um e outro desses perfis;
  • as grandes Ć”reas do pensamento possĆ­veis antes e depois desse evento;
  • e a Forma de reflexĆ£o que se instaura depois desse evento

Os perfis das duas configuraƧƵes do pensamento, segundo Michel Foucault; (…) Os dois tipos de reflexĆ£o assumidos pelo pensamento (…) a Forma de reflexĆ£o que se instaura em nossa cultura

Esse tĆ­tulo do vĆ­deo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer ā€œā€“ EsqueƧa o que vocĆŖ sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo estĆ” erradoā€ trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e hĆ”, a denĆŗncia, como se atual fosse, de uma revolução jĆ” ocorrida em passado nem tĆ£o remoto. Em termos históricos, foi ontem.

A Cartilha mostra como e por que isso Ć© verdade.

Se estou entendendo o que ele chama de ā€˜Ć©poca anterior’, ou terra1 isso jĆ” tem um nome: idade clĆ”ssica ou pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1.Ā 

Usando ā€˜pensamento filosófico clĆ”ssico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse perĆ­odo – a virada dos sĆ©culos XVIII para o XIX, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc. Ā E usando a contraparte ā€˜pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamarĆ” de terra2 igualmente sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relaƧƵes com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.

ā€œMe incomoda a noção de norma no sentido de que vocĆŖ sai de um laƧo socialĀ 

estandardizado, padronizado, rígido, hierÔrquico, linear, focado, 

que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1. 

Eu chamo de terra1 toda organização, todo laƧo social vertical – independente do que esteja, na verticalidade, no ponto da transcendĆŖncia, esteja (como esteve durante muitos sĆ©culos) primeiro a natureza, depoisĀ  os deuses, depois a razĆ£o. As transcendĆŖncias mudam mas a estrutura arquitetĆ“nica arquitetural vertical se manteve. EntĆ£o eu entendo que hĆ” uma revolução monumental neste momento, sobre 2800 anos de história, em que nós saĆ­mos de uma forma de nos comportarmos verticalmente e temos a chance de nos comportarmos horizontalmente; o que implica em que nós temos a chance de viver num laƧo social flexĆ­vel, criativo, mĆŗltiplo, responsĆ”vel, – responsĆ”vel antepƵe responsabilidade e disciplina – (…) EntĆ£o vocĆŖ tem um laƧo social de caracterĆ­sticas, como eu disse,Ā 

colaborativo, múltiplo, reticular, flexível, criativo, [responsÔvel]; 

e eu acho que o interessante quando nós sairmos dessa pandemia, é nós guardarmos um aspecto dela, que é a relação do homem com o intangível.

ā€Ā Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laƧos sociais dos Ćŗltimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.

Neste comentÔrio, faço uso, claro, do meu particular e pessoal entendimento do pensamento de Michel Foucault, e afirmo: 

1. que no que Forbes chama terra2 – (entendido como a configuração moderna do pensamento, o de depois de 1825, como aquilo que sucede e substitui, se opondo, ao pensamento ‘anterior’),Ā ‘hierarquia’ Ć© uma estrutura intrĆ­nseca e inseparĆ”vel do resultado de uma operação de construção de representação nova, porque Ć© uma estrutura ligada ao resultado (uma representação) dessa operação sempre organizada pelo par sujeito-objeto, com princĆ­pios organizadores Analogia e SucessĆ£o e com os mĆ©todos AnĆ”lise e SĆ­ntese;

e no entanto a qualidade ‘hierĆ”rquico’ estĆ” atribuĆ­da ao pensamento emĀ terra1 (entendido agora como o pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775, o que Forbes chama de ‘anterior’).Ā 

Dado que no pensamento clÔssico não existem as noções de objeto (noção à qual a ideia de hierarquia estÔ ligada em um modelo de operações) e de sujeito (homem), essa qualidade atribuída a terra1 deve estar referida a outra coisa que mereça esse atributo, mas que não estÔ clara no texto, e valeria a pena esclarecer o que seja que tem essa qualidade. 

2. que o incĆ“modo de Forbes com a ‘norma’ – se aplicada a terra2 com o entendimento acima, e usando aquilo que consigo apreender do pensamento de Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, – sugere uma simplificação em dose dupla.
Ā 
  • A primeira simplificação:Ā 

norma Ć© um dos modelo constituintes das ciĆŖncias humanas que juntamente com função, compƵe o par constituinte da ciĆŖncia da Vida, a Biologia no perĆ­odo moderno do pensamento e no segmento do espectro de modelos para ALƉM do objeto.

  • A segunda simplificação:Ā 

hÔ outros dois pares de modelos constituintes no modelo constituinte padrão, genérico para todas as ciências humanas, a saber

        • conflitoregra, o par constituinte da ciĆŖncia do Trabalho (Economia polĆ­tica); e
        • significaçãosistema, o par constituinte da ciĆŖncia da Linguagem, (Filologia).Ā 

A descrição feita por Michel Foucault desse  modelo constituinte padrão e genérico, composto dos pares constituintes das ciências que habitam a região epistemológica fundamental, e o eixo vertical do Triedro dos saberes:

        • ciĆŖncia da Vida (Biologia), par constituinte [funçãonorma];
        • ciĆŖncia do Trabalho (Economia polĆ­tica), par constituinte [conflitoregra];
        • e ciĆŖncia da Linguagem (Filologia), par constituinte [significaçãosistema],

acaba sendo quase que um manual para formulação de teorias, modelos e sistemas nesse campo, e por isso faço este comentÔrio.

Portanto este comentƔrio vai a seguir em dois pontos:

  • 1. Quanto Ć s qualidades atribuĆ­das a terra1 e terra2;Ā 

  • e 2. Quanto ao incĆ“modo com a ‘norma’

  • e ao final, o que eu chamo de um Manual (em uma animação ilustrada) para o projeto e uso de modelos no campo das ciĆŖncias humanas, usando diretamente as palavras de Michel Foucault

1. Quanto Ć s qualidades atribuĆ­das a terra1 e terra2

Note que as características tanto em terra1 quanto em terra2 são dadas no excerto acima, e nos dois casos, por qualidades dos laços sociais.

Tomando terra1 como sendo a configuração do pensamento filosófico no período clÔssico, nesse período o pensamento funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as aparências, estas, qualidades. Para o pensamento assim configurado não existem a noção de homem como ser capaz de desempenhar uma duplicidade de papéis, e a noção de objeto.

O elenco de qualidades atribuĆ­das ao laƧo social – estandardizado, padronizado, rĆ­gido, hierĆ”rquico, linear, focado – pode ser objeto de reflexĆ£o interessante.Ā 

A qualidade ‘hierĆ”rquico’ estĆ” atribuĆ­da ao pensamento terra1 que eu, aqui, presumo que se refira ao pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775 segundo Foucault.Ā 

Tomando posição em terra2, que eu presumo referir-se ao pensamento moderno, o de depois de 1825 segundo Foucault, essa qualidade ‘hierĆ”rquico’ seria dada por uma estrutura de conformação definida no objeto, uma hierarquia.

Enfatizando, no pensamento moderno os princípios organizadores de uma operação no caminho da Construção de representação nova são Analogia e Sucessão com os métodos AnÔlise e Síntese. 

Ā “De sorte que se vĆŖem surgir,Ā 
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades, 
a Analogia e a Sucessão: 
de uma organização a outra, 
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vÔrios elementos, 
mas a identidade da relação entre os elementos 
(onde a visibilidade nĆ£o tem mais papel) e da função que asseguram; (…)Ā 

Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história

TomemosĀ (ainda posicionados emĀ terra2!)Ā um ‘impensado’ em Foucault ou um ‘intangĆ­vel’ em Forbes; nĆ£o existe representação para isso – ou nĆ£o seria um impensado ou um intangĆ­vel no domĆ­nio de trabalho. Por isso, se for feita a decisĆ£o de resolver essa situação de intangibilidade ou nĆ£o representatividade, esse ‘impensado’ serĆ” objeto em uma operação de construção de uma representação.Ā 

O pensamento converte o impensado em representação.

Aquilo que antes dessa operação era o ‘impensado‘ de Foucault,Ā depois dessa operação de construção de representação nova – conduzida em cada etapa pelo sujeito – nada mais serĆ” do que um pacote logicamente organizado de objetos anĆ”logos ao impensado e seus aspectos, objetos esses adotados em seu conjunto como substitutivos – dentro de certos critĆ©rios de aceitação – daquele ‘impensado’ para o qual nĆ£o havia representação no espaƧo no qual a operação acontece.Ā 

O princĆ­pio organizador do pensamento Analogia estabelece relaƧƵes de analogia das quais surgem objetos anĆ”logos ao impensado mais representĆ”veis. Usando como diz Foucault ‘a sintaxe que autoriza a construção das frases’, esse objeto anĆ”logo Ć© arrastado para o modelo de operaƧƵes construĆ­do segundo as regras da linguagem por meio de uma proposição na qual o homem Ć© sujeito, e o predicado do sujeito Ć© composto por um verbo – a forma de produção, e um atributo, o objeto anĆ”logo que acaba de ser criado na relação de analogia. Agora cada um desses objetos anĆ”logos sĆ£o testados quanto Ć s respectivas possibilidades de representação nesse espaƧo em que a operação acontece. Caso necessĆ”rio, o mĆ©todo AnĆ”lise entra em cena e quebra cada objeto anĆ”logo eventualmente ainda nĆ£o representĆ”vel em outros objetos anĆ”logos mais próximos de suas respectivas possibilidades de representação nesse espaƧo; e o mĆ©todo SĆ­ntese garante que o objeto anĆ”logo inicial ainda pode ser composto pelo conjunto de objetos anĆ”logos resultantes da AnĆ”lise.

AĆ­ entra o princĆ­pio organizador SucessĆ£o. Usando como diz Foucault ‘aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas ao lado e em frente umas das outra, as palavras e as coisas‘, a SucessĆ£o posiciona ao lado, ou em frente uns dos outros, os objetos anĆ”logos criados em substituição ao objeto anĆ”logo nĆ£o representĆ”vel, estabelecendo entre eles relaƧƵes lógicas – de sucessĆ£o.Ā 

Você pode ver isso em uma animação nesta pÔgina, sob DIANTE do objeto. Se necessÔrio, posso dar mais detalhes sobre como isso funciona.

Nota: essa descrição do funcionamento de uma operação de construção de representação para algo antes impensado nĆ£o explica suficientemente o ‘laƧo social’, mas podemos chegar lĆ”.

Continuando. Assim, supondo que terra2 seja de fato o que eu estou pensando que Ć©, o pensamento filosófico moderno – o de depois de 1825, como diz Foucault ‘aquele [pensamento] com o qual queiramos ou nĆ£o, pensamos‘, entĆ£o, hierĆ”rquico Ć© uma qualidade intrĆ­nseca a esse tipo de pensamento, terra2, desde que entendido como referente ao objeto. Como humanos nĆ£o nos Ć© possĆ­vel construir representação para qualquer ‘impensado’ sem que o resultado seja um objeto expresso por uma representação com uma estrutura em hierarquia.

Fechando o longo parĆŖnteses, e voltando ao ponto, supondo que terra1 seja de fato o que penso que Ć©, – o pensamento filosófico clĆ”ssico.

Em assim sendo, a noção de impensado cuja representação Ć© construĆ­da pelo pensamento, nesse tipo de pensamento, nĆ£o existe. Porque nĆ£o existe a noção de objeto e tambĆ©m nĆ£o existe a noção de sujeito da operação, como o homem, que seria capaz de construir representação nova. O homem estĆ” fora da paleta de ideias no pensamento clĆ”ssico. ‘Antes do final do sĆ©culo XVIII o homem nĆ£o existe em nossa cultura. NĆ£o mais do que um gĆŖnero, ou uma espĆ©cie’ Ć© o que nos alerta Foucault.

Logo, nesse tipo de pensamento, sem a noção de objeto prima irmĆ£ da noção de hierarquia, a qualidade ‘hierĆ”rquico’ deve referir-se a outra coisa que nĆ£o o objeto. EntĆ£o o que Ć© danoso, prejudicial, e justifica mudanƧas Ć© essa outra coisa que estĆ” associada a essa qualidade ‘hierĆ”rquico’, e que vista mais de perto, nĆ£o pertence a esse pensamento.Ā 

E essa coisa não é declarada por Forbes, o que poderia gerar confusão.

Mas a palavra hierarquia é muito usada, e mesmo em terra1; as organizações foram bem ou mal se organizando e apresentando problemas. Sem atentar para que tipo de pensamento estavam usando. E aí, por diferentes razões, alguns autores passaram a demonizar a organização hierÔrquica sem dizer especificamente o que estavam demonizando. Isso sem noção de que a estrutura hierÔrquica é inerente, indissociÔvel, ao pensamento moderno, e às operações que transcorrem organizadas sob essa configuração do pensamento.

EntĆ£o, se estou sendo entendido, hierĆ”rquico em terra1, nada tem, nem pode ter, a ver com o objeto de operaƧƵes sob o pensamento moderno que terminam construindo representaƧƵes novas. E o pensamento voltado para o ‘intangĆ­vel’ de Forbes ou ‘impensado’ de Foucault nĆ£o pĆ”ra de pĆ© sem o objeto e sem o sujeito; e portanto necessariamente com a qualidade ‘hierĆ”rquico’ que em Forbes estĆ” posta em terra1.

Pode haver confusão aí, demonizando a hierarquia, o que, em se tratando de pensamento moderno (terra2) em qualquer caso, é na verdade é uma missão impossível. 

Obviamente não sei como essa qualidade afeta o laço social descrito por Forbes, mas posso ver com alguma clareza como essa qualidade afeta a estrutura do pensamento nas operações sob o pensamento filosófico moderno, no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. E a hierarquia é característica integrante e indissociÔvel do resultado nessa configuração do pensamento, arrastada para a representação (projeto) decorrente do referencial, dos princípios organizadores e dos métodos utilizados em um pensamento orientado pelo par sujeito-objeto.

Veja isso na seguinte pƔgina

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Não se ganha nada ao retirar a qualidade hierÔrquica da estrutura inerente à construção de representação nova (projeto); ao contrÔrio perde-se muito, essa tentativa empobrece a visão da operação, oblitera o funcionamento das duas sintaxes da língua usada para modelar operações; por essas razões, mas acima de tudo, essa parece ser uma missão impossível. A estrutura hierÔrquica da operação da qual resulta uma representação nova é resultado do perfil de configuração do pensamento.

2. Quanto ao incĆ“modo de Forbes com a ‘norma’

Quanto ao incĆ“modo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo Ć  Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’, que me permite uma visĆ£o de conjunto muito mais completa e Ćŗtil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas.

A ‘norma‘ que incomoda Forbes, Ć© a expressĆ£o de uma convenção, um acordo feito para atender Ć s condiƧƵes requeridas por uma ‘função‘; esse acordo, essa convenção, visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, e o compartilhamento dessa ‘norma‘ isto Ć©, da solução conseguida e convencionada para a obtenção prĆ”tica dessa ‘função’.

Vale a pena examinar, usando o pensamento de Michel Foucault, o que se configura quase comoĀ 

Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domĆ­nio das ciĆŖncias humanas

em trĆŖs tempos:

  • o espaƧo geral dos saberes sob o pensamento moderno chamado por Foucault de Triedro dos saberes; com as faces e eixos do Triedro dos saberes;
  • a classe de modelos das ciĆŖncias humanas;
  • o uso dos pares de modelos constituintes fora do domĆ­nio próprio em que foram formados.

examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:

ā€œAssim, estes trĆŖs pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domĆ­nio inteiro do conhecimento do homem.ā€Ā Cartilha; Cap. 10 – As ciĆŖncias humanas; tópico I – O triedro dos saberes

Esse excerto da Cartilha dĆ”-nos conta de que esses trĆŖs pares de modelos constituintes, das ciĆŖnciasĀ 

  • daĀ VidaĀ (Biologia) par constituinteĀ Ā [função-norma]Ā 
  • doĀ TrabalhoĀ (Economia)Ā Ā par constituinteĀ [conflito-regra]Ā eĀ 
  • daĀ LinguagemĀ (Filologia)Ā par constituinteĀ Ā [significação-sistema]Ā 

estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a anÔlise da produção. Essas três ciências compõem, segundo Foucault, a região epistemológica fundamental.

Forbes supostamente estÔ analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, estÔ elaborando bem no campo de uma ciência humana. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual 

  • o par constituinte dominante Ć© escolhido, em cada caso especĆ­fico, por quem formula o modelo,Ā 
  • e os coeficientes que determinam o mix da composição no modelo especĆ­fico, que estabelecem a proporção em que entram no modelo os trĆŖs pares constituintes – e a predominĆ¢ncia de um deles sobre os outros – sĆ£o tambĆ©m escolhidos pelo analista formulador.Ā 

Isso evidencia que esse incĆ“modo de Forbes com a ‘norma‘ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laƧos sociais porque estes estĆ£o afetos,Ā 

  • desde logo Ć s ‘funƧƵes’ normatizadas pela ‘norma’ (o par constituinte do quase-transcendental Vida),Ā 

mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais: 

  • [conflito-regra] da Economia,Ā 
  • e [significação-sistema] da Filologia.

Ɖ claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirĆ”vel do espaƧo dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto.Ā 

Mas por que exatamente farĆ­amos isso?

Um

Manual para uso e projeto de modelos no campo das ciĆŖncias humanas, jĆ” constituĆ­dos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

A frase citada por Forbes:

“Freud explica ⇒ Freud implica:

  • no ‘explica’ vocĆŖ tem um saber anterior ao ato; 

  • no ‘implica’ vocĆŖ tem um ato anterior ao saber.”

Significado da palavra ‘Implica’ no DicionĆ”rio Online de portuguĆŖs

Implica vem do verbo implicar. O mesmo que: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde.

Significado de implicar

Expressar desdém, deboche, zombaria; hostilizar: ele implica com seu irmão constantemente; implicava-se com o vizinho.

Obter como resultado, efeito ou consequência; originar: a devolução do imóvel implica multa.

Fazer com que algo se torne necessÔrio; requerer: o trabalho não implica sua participação.

SinƓnimos de Implica

Implica Ʃ sinƓnimo de: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde

AntƓnimos de Implica

Implica Ć© antĆ“nimo de: desimplica

Significado da palavra ‘Explica’ no DicionĆ”rio Online de portuguĆŖs

verbo transitivo diretoFazer com que fique claro e compreensĆ­vel; descomplicar uma ambiguidade: explicar um mistĆ©rio.Ser a causa de: a desgraƧa explica sua amargura.Conseguir interpretar o significado de: explicar um texto irĆ“nico.verbo transitivo direto e bitransitivoFazer com que alguma coisa seja entendida; explanar: explicar uma teoria; explicar a matĆ©ria aos alunos.verbo transitivo direto e pronominalProvidenciar uma justificativa ou desculpa; desculpar-se: preciso explicar meu comportamento; o presidente explicou-se ao povo.Manifestar-se atravĆ©s das palavras; exprimir-se: explicar uma paixĆ£o; explicou-se numa linguagem bem popular.Etimologia (origem da palavra explicar). Do latim explicare.

SinƓnimos de Explicar

Explicar Ć© sinĆ“nimo de: lecionarpontificaradestraramestrardoutrinareducarensinarformarinstruir

AntƓnimos de Explicar

Explicar Ć© o contrĆ”rio de: obscurecercomplicar

Ɖ bem implicante o leque de significados das palavras ‘explica’ e ‘implica’. Implica pode significar atĆ© confunde! mas Ć© tambĆ©m ‘origina’.

Implica Ć© origina, requer. Explicar Ć© formar, instruir. Complicar, Ć© antĆ“nimo de explicar. 

Etimologicamente complicar é dobrar junto; implicar é entrelaçar, juntar, reunir. Muito próximos os significados, não?

Pensando o ‘Explicar’, em uma operação, como a procura de elementos que deem sustentação na experiĆŖncia para o que se  afirma com respeito ao objeto da operação – inclusive indicando sua origem no pensamento, Explica‘ e ‘Implica‘ sĆ£o palavras com dois conjuntos de significados diferentes mas cuja intersecção Ć© nĆ£o vazia; hĆ” significados em comum; veja a etimologia das duas palavras. 

Essa relação de sucessĆ£o ou de precedĆŖncia entre ato e conhecimento tem bastante mais a ver com:

  • o modo como o pensamento Ć© configurado
  • com a natureza – construção de representação nova ou instanciamento de representação existente – da operação envolvida em cada especĆ­fico movimento do pensamento, 

do que propriamente com o significado escolhido para essas duas palavras. 

Se assim for, Ć© melhor declarar explicitamente quais sĆ£o as condiƧƵes de possibilidade do pensamento selecionadas, e qual a natureza da operação em que estamos pensando, se de construção de representação nova, se de instanciamento de representação anteriormente existente.  

AlĆ©m disso, dependendo dessa natureza da operação, a operação pode acomodar-se, desde logo, a uma configuração do pensamento clĆ”ssico, anterior a 1775, ou a uma configuração do pensamento moderno, o de depois de 1825. 

Os perfis das duas configuraƧƵes do pensamento, segundo o pensamento de Foucault:
os pensamentos clƔssico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)

pensamento clƔssico,
antes de 1775

perfil do pensamento clƔssico,
o de antes de 1775

pensamento moderno,
depois de 1775

perfil do pensamento moderno,
o de depois de 1825

Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clÔssico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825.

AquƩm do objeto

Operação de pensamento no período clÔssico, antes de 1775
operação de instanciamento de representação formulada
modo de ser fundamental não muda
Ordem arbitrƔria ou Quadro de simultaneidades

Diante do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825,
no caminho da Construção da representação:
‘modo de ser fundamental’ sim, muda.
Ordem dada pela gramƔtica da lƭngua

 Além do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho
do Instanciamento da representação:
‘modo de ser fundamental’ nĆ£o muda.

saber anterior ao ato

ato anterior ao saberĀ 

saber anterior ao ato

Muito diferentes, uma da outra, se atentarmos ao pensamento de Foucault. Você pode ver essas diferenças aqui. Isso, se o modo de ser do pensamento não for explicitado onde e quando devido.

Esta argumentação tem como pano de fundo o pensamento de Foucault. E a frase acima Ć© a expressĆ£o de um pensamento atual tal como ele aflora. Vale, portanto, rever como Foucault avaliava o pensamento em geral, tal como aflorava durante o seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’, em 1966, o que, pelo que vejo, nĆ£o mudou.

Veja Os dois obstĆ”culos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho.

usando essa citação de modo mais restrito, Foucault via um pensamento contaminado, nas palavras dele, ‘dominado’ por um pensamento de idade anterior. Ele via um pensamento ‘dominado pela impossibilidade de fundar as sĆ­nteses (da empiricidade objeto) no espaƧo da representação’. 

Nessa frase acima, eu vejo esse mesmo tipo de contaminação, que gera uma dubiedade, que queremos levantar com a ajuda do mestre, Michel Foucault.

Para a situação sugerida no caso do ‘implica’ no lado direito da frase – um ato anterior ao saber -, a configuração do pensamento deve, necessariamente, permitir a geração de saber novo (ser capaz de fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação); deve portanto permitir a construção de representação nova para o objeto do ato, ou da operação. 

Essa possibilidade – inerente ao proposto no lado direito da frase -, Ć© privativa do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Mas só ocorre quando o ‘Freud’ da frase estiver com um pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno, e na etapa da Construção da representação. O mesmo ‘Freud’, no pensamento moderno, mas na etapa de Instanciamento de representação relativa a saber anteriormente obtido, estarĆ” diante de um saber anterior ao ato.

O pensamento clĆ”ssico, em suas teorias, modelos e sistemas, nĆ£o permite construção de representação nova (porque era marcado pela impossibilidade de fundar as sĆ­nteses …, esse o obstĆ”culo vislumbrado por Foucault); no pensamento clĆ”ssico tudo o que existe estĆ” lĆ” desde sempre e para sempre, e por obra de Deus compondo o Universo.

Para a situação sugerida no ‘Explica”, o lado direito da frase – saber anterior ao ato – nessa perspectiva do pensamento de Foucault, gera uma dubiedade que só pode ser resolvida tendo presentes, em detalhe, como sĆ£o as operaƧƵes as que sim, podem, e as que nĆ£o podem ‘fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação’. Sem discernimento, o pensamento fica ‘dominado’ porque pode estar imerso no perfil do pensamento clĆ”ssico, ou no perfil do pensamento moderno, mas no caminho do Instanciamento da representação.

Pensando nessas relações de precedência ou sucessão entre ato e saber, e nas operações em suas possíveis etapas, suas configurações e perfis ou estruturas de conceitos sobre os quais são concebidas, não hÔ razão para que essa frase se restrinja a Freud. Poderia ser qualquer outro sujeito. Mas se levarmos em conta a menção especificamente a Freud, ela arrasta para a frase o modo de ser do pensamento desse grande autor, classificado por Michel Foucault como um pensador moderno, com estrutura de pensamento daquela configuração de pensamento de depois de 1825.

Dado esse conjunto de significados em comum, esses dois conceitos ‘Explica‘ e ‘Implica‘ e essas relaƧƵes de precedĆŖncia ou de sucessĆ£o entre ato e saber me fazem lembrar do pensamento de Humberto Maturana, que pode ser visto em uma animação de menos de 4 minutos, na seguinte pĆ”gina; 

Figura 2 – Diagrama ontológico; capĆ­tulo ReflexƵes epistemológicas, do livro Cognição, CiĆŖncia e Vida cotidiana; ou ainda a Figura 2 – O explicar e a ExperiĆŖncia; capĆ­tulo Linguagem, EmoƧƵes e Ɖtica nos Afazeres PolĆ­ticos, do livro EmoƧƵes e Linguagem na Educação e na PolĆ­tica, de Humberto Maturana Romesin

Essa Figura 2 Ć© original de Maturana (apenas a arte foi editada – os elementos grĆ”ficos que representam as ideias foram modificados) mas em vez de usar dois rótulos como explica e implica, Maturana usa um pensamento no qual emprega duas formas para o mesmo rótulo ‘Explicar’, com diferentes significados correspondentes Ć” mudanƧa que estĆ” discutindo: 

  • lado esquerdo da figura: ‘Explicar sem reformular’ no que ele chama de Objetividade sem parĆŖnteses: 

(saber anterior ao ato, ou o ‘Explica’ no lado esquerdo da frase)

  • lado direito da figura: ‘Explicar com Reformular’, no que ele chama de Objetividade entre parĆŖnteses.

(saber posterior ao ato, ou o ‘Implica’ do lado direito da frase)

Nesse pensamento, no original de Maturana, ele atribui pressupostos para o tipo de pensamento desenvolvido em cada lado da figura:

  • do lado esquerdo dessa Figura 2, o pressuposto Ć© ‘a existĆŖncia precede a distinção‘ (aquela distinção feita na operação);
    • o que leva a uma Ćŗnica realidade, Universo, transcendĆŖncia.

e reflete o saber anterior ao ato (operação)

  • e no lado direito dessa Figura 2, ‘a existĆŖncia se constitui na distinção‘ ou ‘a existĆŖncia sucede Ć  distinção’
    • o que conduz a mĆŗltiplas realidades.

e reflete o saber posterior ao ato (operação)

Usando agora o pensamento de Michel Foucault. Veja, por favor, e novamente, as pĆ”ginas seguintes com animaƧƵes que  colocam palavras de Foucault sobre paletas de elementos de imagem e respectivas estruturas:

primeiro, a operação de construção de representação nova (projeto) sob o pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno:

Funcionamento das operaƧƵes (…) operação Diante do objeto

e depois, veja a pƔgina

Formas de reflexão que se instauram em nossa cultura, segundo o pensamento de Michel Foucault, e correspondentes perfis de conceitos que permitem identificar cada um deles.

Resumidamente – e para facilitar – os dois perfis ou estruturas de conceitos, sĆ£o:

  • para o pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775
    • referencial: Ordem pela ordem;
    • princĆ­pios organizadores: carĆ”ter e similitude;
    • mĆ©todos: identidade e semelhanƧa; 
  • pensamento moderno, o de depois de 1825
    • referencial: Utopia;
    • princĆ­pios organizadores: Analogia e SucessĆ£o;
    • mĆ©todos: AnĆ”lise e SĆ­ntese 

 Examinando os dois perfis caracterĆ­sticos das duas configuraƧƵes do pensamento, vĆŖ-se que: 

(Aviso: Ʃ melhor examinar primeiro o perfil do pensamento moderno, com suas capacidades de tratar propriedades originais e constitutivas e depois o perfil do pensamento clƔssico)

  • com o perfil de caracterĆ­sticas do pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775, realmente a suposição Ć© que tudo o que existe compƵe o Universo que estĆ” lĆ” desde sempre e para sempre como obra de Deus, e que a existĆŖncia precede a distinção;
    • a todo ato, precede todo o saber existente: (sim, sempre temos um saber anterior ao ato) o perfil do pensamento clĆ”ssico nĆ£o comporta a construção de representaƧƵes novas e assim todo saber Ć© anterior a qualquer ato (operação) do qual resulta uma explicação que Ć© uma composição de saberes (representaƧƵes) anteriormente existentes;
  • e com o perfil do pensamento moderno, o de depois de 1825, a suposição Ć© que hĆ” mĆŗltiplas realidades, que o pensamento pode construir representaƧƵes novas como resultado das distinƧƵes que faz, e que a existĆŖncia, portanto, sucede a distinção,
    • a todo ato, sucede saber novo – ato desencadeado pelo sujeito (operação) com um objeto -, desde que o ato seja bem sucedido, e que a natureza da operação seja a construção de saber novo. 

Nota: não se trata de afirmar que na idade clÔssica não se produzia representações novas; mas dizer que as teorias, modelos e sistemas sob essa configuração do pensamento não abrangiam a etapa de construção de representações novas.

Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação nova (projeto) para uma empiricidade objeto, com um pensamento configurado de acordo com o pensamento moderno, o de depois de 1825 – uma vez que a configuração do pensamento anterior, o clĆ”ssico, nĆ£o pode construir novas representaƧƵes.

Fica claro – entendida essa sistemĆ”tica de funcionamento – que no pensamento moderno, e na etapa de construção de saber novo, (caminho da Construção da representação)

  • a operação tem inĆ­cio sem qualquer conhecimento sobre o que Ć© objeto da operação ou da explicação, ou ainda daquele algo a ser implicado. Salvo a arquitetura do que seja uma representação, como classe de produƧƵes do pensamento; 
  • e termina com esse conhecimento.

Como reza a frase no lado direito, sim, tem-se um ato anterior ao saber, mas… somente no caso do pensamento moderno, e no caminho da Construção da representação. PorĆ©m, estando no mesmo lado direito, e tambĆ©m no pensamento moderno, se estivermos no caminho do Instanciamento de representação previamente existente – o que mais acontece em situaƧƵes de realidade – a situação se inverte, e teremos um saber anterior ao ato, como no caso anterior do pensamento clĆ”ssico.

Dado que a possibilidade de saber novo só acontece com um pensamento configurado com o perfil característico do pensamento moderno, essa frase (de efeito) depende de quais sejam as visões de operações adotadas (o ato) em qual etapa da operação e de qual configuração do pensamento.

A relação de precedĆŖncia ou de sucessĆ£o entre o ato e o saber Ć© essencial nessa frase e podemos deixar de lado, e em segundo plano, os nomes ‘explica‘ e ‘implica‘. 

Essa relação de sucessão corresponde ao que ocorre nas operações sob as configurações do pensamento clÔssico e moderno da seguinte forma:

  • pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775:
    • o saber (o conhecimento representado pelas representaƧƵes previamente existentes) 
    • Ć©, sempre, anterior ao ato (a operação); e o resultado, nesse modelo de operaƧƵes, Ć© uma combinação de representaƧƵes anteriormente existentes.
  • no pensamento moderno, o de depois de 1825:
    • no caminho da Construção de representação nova, nĆ£o existente no ambiente em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação) 
      • Ć© posterior ao ato (a operação de construção da representação).
    • no caminho do Instanciamento de representação jĆ” existente no domĆ­nio em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação)
      • Ć© anterior (volta a ser) ao ato (a operação de Instanciamento da representação objeto da operação) – tal como no lado esquerdo e pensamento clĆ”ssico.

EntĆ£o, para que a frase faƧa algum sentido, Ć© necessĆ”rio atentar qual seja o perfil de configuração do pensamento diferente, e em qualquer caso, uma visĆ£o clara do que sejam operaƧƵes, em cada lado da seta que estĆ” no meio dessa frase: 

  • no lado esquerdo da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clĆ”ssico, o de antes de 1775
      • sim, o saber precede o ato (tanto em uma explicação quanto em uma implicação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825,
      • nĆ£o, o saber nĆ£o precede o ato se a operação estiver no caminho da Construção da representação (seja no explica ou no implica)
      • sim, o saber precede ao ato se o caminho for o do Instanciamento de representação existente
  • no lado direito da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clĆ”ssico, o de antes de 1775,
      • sempre temos o saber anterior ao ato (a operação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825;
      • só teremos ato (operação) anterior ao saber no caso da operação estar no caminho da Construção da representação; 
      • caso a operação esteja no caminho do Instanciamento da representação, o saber Ć© anterior ao ato (a operação).
  • e a seta do meio da frase passarĆ” a indicar entre um lado e outro, dependendo do caso, uma descontinuidade epistemológica.

AtƩ agora Freud entrou nessa frase como Pilatos no credo.

E essa referência a Freud nessa frase também cria mais problemas, desde que usemos o pensamento de Michel Foucault.

Segundo Foucault, Freud Ć© um pensador moderno

Logo, ele teria noção dos modelos de operações no pensamento moderno; e também os do pensamento clÔssico, se não, não teria escolhido pensar com o missal do pensamento moderno.

E assim, todas as opƧƵes condicionadas ao pensamento clƔssico acima deixam de valer no caso de Freud.

Então, o pensador moderno Freud

  • no lado esquerdo da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • nĆ£o dispƵe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber jĆ” existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispƵe de saber antes do ato.
  • no lado direito da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • nĆ£o dispƵe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber jĆ” existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispƵe de saber antes do ato.

O comportamento do pensador moderno Freud nĆ£o Ć© função do nome dado Ć  operação, se ‘explica’ ou se ‘implica’, mas o que a operação pretende com respeito ao seu objeto e o estado em que se encontra esse objeto no ambiente em que a operação acontece – jĆ” existe ou ainda nĆ£o existe representação para ele nesse ambiente.

EntĆ£o um ato de ‘explicar’ de Freud pode nĆ£o ter um saber anterior; o que contradiz a frase no lado esquerdo. E tambĆ©m o estabelecimento de uma implicação dele pode ter um saber anterior, o que contraditaria o lado direito da frase. 

Mostramos isso no Funcionamento de operações, e um ato (operação) desse tipo preenche a etapa de Instanciamento de representações anteriormente construídas.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Aparentemente hĆ” uma inconsistĆŖncia entre o pensamento no vĆ­deo 150 e o pensamento de Michel Foucault: o movimento do pensamento entre a psicanĆ”lise de Freud e a de Lacan: o movimento feito desde uma psicanĆ”lise (pelo menos alegadamente) baseada na representação, em Freud, para uma outra baseada fora da representação, em Lacan
  • as duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ segundo o posicionamento do ponto de inĆ­cio de leitura 
    • no cruzamento das disponibilidades do que Ć© dado e o que Ć© recebido na troca; 
    • ou antes da possibilidade da troca, quando um dos objetos envolvidos nĆ£o estĆ” disponĆ­vel, investigando a permutabilidade;

e as duas correspondentes origens da essência da linguagem e do valor carregado pela proposição para a representação.

  • Uma possĆ­vel contradição:
    • a aparente descontinuidade epistemológica na apresentação das teorias modelos e sistemas relacionados Ć  psicanĆ”lise no vĆ­deo 150, consistente na mudanƧa de bases da psicanĆ”lise na representação para fora dela entre Freud e Lacan;
    • e ao contrĆ”rio, uma continuidade epistemológica na apresentação de teorias, modelos e sistemas do liberalismo e variantes, no vĆ­deo 254: usando o pensamento de Michel Foucault sobre isso, essa alteração certamente aconteceu;

ComentƔrios

1. Tendo como referência o pensamento de Michel Foucault, não hÔ dúvida de que Freud foi um pensador moderno; assim, o movimento que teria sido feito por Lacan desde uma psicanÔlise de Freud, com base na representação para uma outra, de Lacan, fora da representação pode não ter sido possível uma vez que a psicanÔlise de Freud jÔ tinha sua base fora da representação.

2. Teorias, modelos e sistemas, como produƧƵes do pensamento, transcorrem sempre com a presenƧa de uma linguagem; o veĆ­culo de carregamento de valor Ć© sempre a proposição e o destino do valor carregado Ć© sempre a representação. A questĆ£o parece ser, entĆ£o, a origem – se interna ou externa Ć  linguagem – do valor atribuĆ­do Ć  proposição.Ā 

3. A alteração de uma origem de valor interna à linguagem para uma externa à linguagem implica em uma mudança no modo de conhecer o que dizemos que conhecemos, uma mudança epistemológica. 

Seguem comentÔrios em tópicos:

A descrição feita por Michel Foucault da psicanÔlise de Freud dÔ-nos conta ser Freud um pensador moderno.

Em nossa Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’) Foucault nĆ£o hesita em classificar Freud como um autor moderno, e caracteriza o pensamento clĆ”ssico como ā€˜aquele para o qual a representação existe’.

No livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas; Cap. 10 – As CiĆŖncias humanas; tópico V – PsicanĆ”lise e etnologia, de Michel Foucault, encontramos subsĆ­dios para afirmar que o autor discorda frontalmente dessa afirmativa de que a psicanĆ”lise de Freud tivesse suas bases na representação; nesse texto Foucault mostra que, ao contrĆ”rio, o pensamento de Freud jĆ” tem suas bases fora da representação; e expƵe como e por que ele faz esse juĆ­zo mostrando o funcionamento da psicanĆ”lise – tendo como elemento organizador dessa argumentação o modelo constituinte padrĆ£o, comum a todas ciĆŖncias humanas por ele desenvolvido nesse livro, um modelo composto pelos pares de modelos constituintes das ciĆŖncias da Vida (Biologia) [função-norma]; do Trabalho (Economia) [conflito-regra]; da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].

“NĆ£o hĆ” que supor que o empenho freudiano
seja o componente de uma interpretação do sentido
e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;

seguindo o mesmo caminho que as ciĆŖncias humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrƔrio,
a psicanÔlise se encaminha em direção ao momento
– inacessĆ­vel, por definição, a todo conhecimento teórico do homem,

a toda apreensão contínua em termos de significação, de conflito ou de função
– em que os conteĆŗdos da consciĆŖncia se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
ao contrÔrio das ciências humanas que, retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
permanecem sempre no espaƧo do representƔvel,
a psicanÔlise avança para transpor a representação,
extravasĆ”-la do lado da finitude e fazer assim surgir, lĆ” onde se esperavam 

  • as funƧƵes portadoras de suas normas
  • os conflitos carregados de regras 
  • e as significaƧƵes formando sistema

o fato nu de que 

  • pode haver sistema (portanto, significação), 
  • regra (portanto, oposição), 
  • norma (portanto, função). 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso,
Ć  margem dela mesma,
aberta, de certo modo ao fechamento da finitude,
desenham-se as trĆŖs figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funƧƵes e suas normas,

vem fundar-se na repetição muda da Morte, 

  • os conflitos e as regras,

na abertura desnudada do Desejo, 

  • as significaƧƵes e os sistemas,

numa linguagem que Ć© ao mesmo tempo Lei.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;

Cap. 10 – As CiĆŖncias humanas;
tópico V – PsicanĆ”lise e etnologia

e especial destaque para o modo como Foucault vĆŖ que isso Ć© interpretado:

Sabe-se como psicólogos e filósofos
denominaram tudo isso:

mitologia freudiana. 

Era realmente necessƔrio
que este empenho de Freud
assim lhes parecesse;

para um saber que se aloja no representƔvel,
aquilo que margeia e define, em direção ao exterior,
a possibilidade mesma da representação
nĆ£o pode ser senĆ£o mitologia.ā€ 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;

Cap. 10 – As CiĆŖncias humanas;
tópico V – PsicanĆ”lise e etnologia

Isso permite pensar que a razão de ser da psicanÔlise de Lacan, encontre seu fundamento em outro movimento de pensamento feito por ele, porque a psicanÔlise de Freud jÔ estava formulada desde fora da representação.

Em que consiste, então, a contribuição feita por Lacan?

Lembrando os obstÔculos percebidos por Foucault em seu trabalho, uma impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, arriscaria dizer que a contribuição de Lacan foi formular uma psicanÔlise para além do objeto.  

Ā 

Essas duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ situam-se de lados opostos em relação Ć  descontinuidade epistemológica posicionada por Michel Foucault como tendo ocorrido entre 1775 e 1825. Isso colocaria uma produção do pensamento baseada na representação do lado oposto a uma outra, baseada desde fora da representação. (O movimento de pensamento que o vĆ­deo informa ter sido feito por Lacan com relação a Freud.

Podemos ver isso sob o ponto de vista das alteraƧƵes na própria linguagem em decorrĆŖncia da visĆ£o que temos do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ de pensamento ou outra, e de acordo com as explicaƧƵes de Michel Foucault:

i)Ā Ā Ā Ā Ā  As diferenƧas de funcionamento da linguagem para modelos baseados na representação e modelos fora da representação, – como o que vai descrito no vĆ­deo 254 teria ocorrido entre as psicanĆ”lises de Freud e de Lacan, – e em geral, no funcionamento da linguagem em qualquer construção do pensamento, tendo em vista quais sejam as bases em que se sustentam essas construƧƵes do pensamento, seĀ na representação ou seĀ fora da representação.

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio de leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ – de qualquer tipo – e a anĆ”lise das diferentes origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes em função da inserção do ponto de inĆ­cio de leitura de ā€˜operaƧƵes’.

Esse link mostra uma figura com a visĆ£o ampla do que entendemos como o fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ com representaƧƵes, incluindo as operaƧƵes de troca, mostrando os dois pontos nos quais podemos inserir o inĆ­cio da leitura que fazemos desse fenĆ“meno:

  • No ponto de cruzamento entre as disponibilidades do que Ć© dado e o que Ć© recebido na troca: o momento em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estĆ£o jĆ” disponĆ­veis; discutindo aĀ 
  • Em um ponto anterior a esse, quando pelo menos um dos objetos ainda nĆ£o estĆ” disponĆ­vel.

A pƔgina mostra:

(1)Ā Ā Ā  O que nĆ£o muda entre as duas possibilidades de inserção do ponto de leitura de ā€˜operaƧƵes’

A proposição é o bloco construtivo padrão fundamental para construção de representações.

ā€œA proposição Ć© para a linguagem
o que a representação é para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar
porquanto, desde que a decomponhamos,
não encontraremos mais o discurso,
mas seus elementos como tantos materiais dispersos.ā€
As palavras e as coisas; Cap. 4 – Falar; tópico III – Teoria do verbo

A representação carregada de valor como condição para que uma coisa possa representar outra em uma operação de troca.

(…) ā€œEm outras palavras, para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
Ć© preciso que elas existam jĆ” carregadas de valor;
e, contudo, o valor só existe no interior da representação.ā€
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

(2)    O que sim, muda entre essas duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura

Antes de mais nada, muda a abrangência da visão que temos do que seja uma operação, em decorrência do ponto de inserção do início de leitura que fazemos desse fenÓmeno. HÔ duas possibilidades de inserção desse ponto de início de leitura de operações:

  • No ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido, jĆ” disponĆ­veis os dois objetos intervenientes em uma operação de troca;
  • Antes desse ponto, quando ainda um dos objetos nĆ£o estĆ” disponĆ­vel

A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação é nos dois casos, a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações  com origens de valor distintas.

No primeiro caso o valor é carregado na proposição diretamente. AliÔs, a proposição jÔ chega carregada de valor.

No segundo caso, o valor chega à proposição no bojo de uma operação de construção da representação para o objeto ainda não disponível. Isso em outras palavras quer dizer durante o projeto desse objeto. E as fontes de valor neste caso são

  • as designaƧƵes primitivas;
  • e a linguagem de ação ou de uso.

ii)Ā Ā Ā  O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenĆ“meno ā€˜operação’.

A citação acima prossegue da seguinte forma:

(…) ā€œo valor só existe no interior da representação

  • atual [representação do objeto envolvido na troca jĆ” existente]

  • ou possĆ­vel [objeto cuja representação foi construĆ­da quando no teste de permutabilidade]

Ā isto Ć©, no interior

  1. da troca [objetos envolvidos na operação de troca jÔ existentes]

  2. ou da permutabilidade [a prospecção da possibilidade da troca com a construção da representação do objeto a ser levado ao circuito das trocas, se possĆ­vel]ā€

As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

ā€œDaĆ­ duas possibilidades simultĆ¢neas de leitura:

  • uma analisa o valor no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  • outra analisa-o como anterior Ć  troca
    e como condição primeira para que esta possa ocorrerā€

A primeira dessas duas leituras corresponde a uma anƔlise que coloca e encerra
toda a essência da linguagem no interior da proposição;
e a outra, a uma anÔlise que descobre essa mesma essência da linguagem

  • do lado das designaƧƵes primitivas
  • e da linguagem de ação ou raizā€
  1. ā€œno primeiro caso, com efeito,
    a linguagem encontra seu lugar de possibilidade
    numa atribuição assegurada pelo verbo
    – isto Ć©, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras
    mas que as reporta umas Ć s outras;
    o verbo, tornando possĆ­veis todas as palavras da linguagem
    a partir de seu liame proposicional,
    corresponde Ć  troca que funda,
    como um ato mais primitivo que os outros,
    o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;
  2. a outra forma de anƔlise,
    a linguagem estĆ” enraizada fora de si mesma
    e como que na natureza, ou nas analogias das coisas;
    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento Ć s palavras
    antes mesmo que a linguagem tivesse nascido,
    corresponde à formação imediata do valor,
    antes da troca e das medidas recĆ­procas da necessidade.”

    As palavras e as coisas: Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

Veja, por favor, o funcionamento das operações sob o pensamento clÔssico, o de antes de 1775 e o moderno, depois de 1825 em 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Podemos ver, do entendimento de como se desenvolvem as operações em um caso e em outro, a correspondência bastante estreita entre as explicações dadas por Foucault na citação acima.

Veja também os dois conceitos para o que seja um verbo, e identifique o verbo envolvido no primeiro caso em que a atribuição de valor é assegurada diretamente por ele; e o verbo no segundo caso, em outra configuração da linguagem na qual o valor atribuído à representação via a proposição, tem origem fora da linguagem nas designações primitivas e na linguagem de ação ou de uso. 

Conceitos homÓnimos mas com significados diferentes entre a configuração do pensamento na idade clÔssica e no pensamento moderno

HÔ, aparentemente, uma contradição entre os dois vídeos do Canal Falando nisso, os de números 150 e 254.

No vĆ­deo 150 hĆ” a percepção de que efetivamente existem produƧƵes do pensamento – teorias, modelos e sistemas, baseados na representação, e outras, baseadas fora da representação; e esse Ć© um movimento de pensamento importante – nada mais nada menos do que uma descontinuidade epistemológica segundo o pensamento de Foucault,

Embora segundo o pensamento de Michel Foucault a psicanÔlise de Freud jÔ tivesse suas bases fora da representação, mas uma mudança de bases como essa sem dúvida significaria uma alteração epistemológica.

Evento dessa mesma natureza, uma descontinuidade epistemológica, tambĆ©m aconteceu para as produƧƵes do pensamento associadas ao liberalismo e neoliberalismo, no perĆ­odo histórico abrangido pelo vĆ­deo 254 . Isso estĆ” relatado em bastantes detalhes por Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, e Ć© inerente ao estilo de arqueologia adotado nesse livro.

 Mas esse movimento do pensamento deixa de ser considerado para as teorias, modelos e sistemas ligados ao Liberalismo e Neoliberalismo nos questionamentos feitos no vĆ­deo 254 – ‘Neoliberalismo e sofrimento’. Isso leva a crer que a natureza dessa mudanƧa de embasamento desde na representação para fora dela foi tratada, no vĆ­deo 150, nĆ£o como uma questĆ£o constituinte, mas como uma 

Enquanto no vídeo 150 os modelos estão predominantemente no domínio da Linguagem, no liberalismo e variações, estão no domínio das ciências do Trabalho (Economia).qualidade apenas.

Veja nesta pƔgina

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ā€˜Trabalho’: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817, e as diferenƧas entre esses dois conceitos segundo Michel Foucault.

exatamente essa mudanƧa de bases.

Entre esses dois pensadores hĆ” uma diferenƧa na visĆ£o do que sejam operaƧƵes avaliĆ”vel pela amplitude da visĆ£o do fenĆ“meno ā€˜operação’ entre esses dois princĆ­pios para trabalho. Na parte inferior da pĆ”gina que o link acima dĆ” acesso, a explicação dada por Foucault deixa  bem clara essa diferenƧa de amplitude na visĆ£o de ‘operaƧƵes’. 

David Ricardo inclui, em seu Princípio Dual de Trabalho, de 1817, também a etapa da construção de representação nova enquanto que Adam Smith não faz isso.

Essa alteração na inserção do ponto de inĆ­cio do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ altera o modo como uma operação Ć© vista e implica em uma reconfiguração da linguagem no que ela tem de essencial: o modo como a proposição Ć© formada, e como o valor carregado na proposição Ć© levado por esta para a representação.

Isso pode ser visto em 

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ 

e também na argumentação abaixo.

Havia uma confusão em Adam Smith, que consistia em estabelecer uma assimilação entre:

  • o trabalho como atividade de produção;
  • e o trabalho como mercadoria que se pode comprar e vender.

Essa assimilação, feita em Adam Smith, passa a ser em Ricardo uma distinção entre:

  • essa forƧa, esse esforƧo, esse tempo do operĆ”rio que se compram e se vendem, tomados como mercadoria que se pode comprar e vender,
  • e essa atividade que estĆ” na origem do valor das coisas, tomada como atividade de produção.

distinção essa que, segundo Foucault, foi feita, pela primeira vez, e de forma radical, pelo pensamento de David Ricardo, em nossa cultura; e isso implica em uma expansĆ£o da visĆ£o do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’.

Vista desse modo,

  • como uma assimilação, entre ā€˜atividade de produção’ e ā€˜mercadoria que se pode comprar ou vender’ ou ā€˜forƧa, esforƧo, tempo do operĆ”rio, que se compram e se vendem’, em Adam Smith, 
  • ou como uma distinção, entre essas duas coisas, no pensamento de David Ricardo,

pode ficar difícil perceber que essa mesma alteração feita em Ricardo na economia, é a mesma que Lacan teria feito na sua psicanÔlise;

Seria necessĆ”rio perceber que com o termo ā€˜atividade de produção’ compreende-se a produção de algo ainda inexistente o que alarga a visĆ£o de operaƧƵes para o caminho da Construção de representação nova; mas encaixando essas duas coisas em uma visĆ£o ampla do que sejam operaƧƵes, de todos os tipos, obtida entre outros lugares na descrição de Foucault sobre as duas configuraƧƵes da linguagem,

  • e vendo o que acontece nas operaƧƵes, em decorrĆŖncia das duas origens do valor carregado pela proposição para a representação como consequĆŖncia das duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do que seja essa operação – se antes ou se no ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido – e os efeitos em cada opção, (veja o link acima)

vĆŖ-se que os dois movimentos – o de Ricardo em relação a Smith e o de Lacan em relação supostamente a Freud, sĆ£o idĆŖnticos quanto a suas bases no pensamento, porque:

  • O pensamento de Adam Smith leva a um modelo de operaƧƵes com ponto de leitura posicionado no ponto de cruzamento entre o que Ć© dado e o que Ć© recebido, ou o ponto em que os objetos envolvidos em uma operação de troca estĆ£o disponĆ­veis; a operação de processamento de informaƧƵes sob Adam Smith abrange o instanciamento, pelo desencadeamento de Processo anteriormente formulado, de representação anteriormente formulada e configurada dentre alternativas jĆ” existentes. Nesse tipo de operaƧƵes sob o pensamento clĆ”ssico, nĆ£o hĆ” construção de representaƧƵes novas;
  • No pensamento de David Ricardo o modelo de operaƧƵes tem ponto de leitura posicionado antes da disponibilidade dos objetos envolvidos em uma possĆ­vel futura operação de troca. E abrange toda a operação no caminho da Construção de representação nova.

E dessa forma

  • colocar o ponto de inĆ­cio da leitura exatamente no cruzamento entre disponibilidades do que Ć© dado e o que Ć© recebido (com a disponibilidade simultĆ¢nea dos dois objetos envolvidos na operação de troca), coloca o fenĆ“meno ā€˜operação’ na etapa de instanciamento de objeto cuja representação foi anteriormente feita;
    • e o valor carregado pela proposição para a representação Ć© atribuĆ­do diretamente na proposição, determinando a configuração correspondente da linguagem;
  • e colocar o inĆ­cio de leitura antes desse ponto de disponibilidade, (com a indisponibilidade de pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca) implica em investigar a permutabilidade e obriga a ā€˜operação’ a incluir a etapa de construção da representação do objeto ainda nĆ£o representado, que serĆ” levado ao circuito das trocas depois de instanciado; e tambĆ©m a posterior operação de instanciamento, e o valor carregado pela proposição terĆ” sua origem
    • nas designaƧƵes primitivas
    • e na linguagem de ação.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • A lista de referĆŖncias bibliogrĆ”ficas do vĆ­deo 254
  • As possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade, atravĆ©s de uma matriz constituĆ­da por autores associados ao liberalismo, todos eles inseridos no pensamento clĆ”ssico.
  • A indicação de Adam Smith e de David Ricardo juntos, como pertencentes ao mesmo bloco de sustentação de uma noção de sujeito na modernidade; Ć” luz do pensamento de Michel Foucault
  • Sobre as possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade atravĆ©s de uma matriz constituĆ­da por autores associados ao liberalismo
  • Sobre as possibilidades – usando o pensamento de Michel Foucault – de que as teorias, modelos e sistemas ligados ao liberalismo clĆ”ssico, possam dar sustentação a uma psicologia, mesmo dando ao homem o tratamento como uma espĆ©cie, ou um gĆŖnero.

Ā 

Clips do vĆ­deo Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento, para comentĆ”rio

ComentÔrios 

O livro ā€˜Nascimento da biopolĆ­tica’, de 1978-1979, sim, figura na lista de referĆŖncias do vĆ­deo 254;

  • mas o ā€˜As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’, do mesmo autor, publicado em 1966 pela primeira vez, estĆ” fora dessa lista; e Ć© nessa obra que o surgimento da classe especial de saberes que chamamos ā€˜ciĆŖncias humanas’ como a biopolĆ­tica, Ć© descrita, dando conta dos seus modelos constituintes.

A importĆ¢ncia disso – se atentarmos para o pensamento de Michel FoucaultĀ  no ‘As palavras e as coisas’ pode ser avaliada sob dois aspectos:

  • Foucault questiona as produƧƵes do pensamento – teorias, modelos e sistemas –Ā  sob suas condiƧƵes de possibilidade no pensamento;
  • Foucault nĆ£o analisa teorias, modelos e sistemas quando jĆ” formulados e configurados, prontos e em utilização, mas antes, analisa-os sob suas condiƧƵes de possibilidade no pensamento, que ele identifica criteriosamente em cada perĆ­odo.

Ɖ que nesse livro o autor identifica as condiƧƵes de possibilidade no pensamento de produƧƵes do pensamento ao longo do tempo e distingue dois perĆ­odos separados justamente por uma mudanƧa epistemológica, ou uma alteração nessas condiƧƵes de possibilidade do pensamento usado.

E teorias, modelos e sistemas, como construções do pensamento, foram construídas por autores imersos nos dois períodos históricos, no antes,  e no depois desse evento; e as mudanças enquanto estavam sendo feitas, no durante.

Por favor vejaĀ 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

e depois, vejaĀ 

A forma dos modelos em cada configuração do pensamento

Ā 

e por favor veja ainda

Funcionamento das operações, para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775 e 1825

Na descrição desse evento, ao qual Foucault atribui o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento, temos

  • amplitude das alteraƧƵes no modo de ser do pensamento: entre os anos de 1775 e 1825;
  • primeira fase: entre 1775 e 1795;
  • fase de ruptura: os Ćŗltimos 5 anos do sĆ©culo XVIII;
  • Segunda fase: entre 1800 e 1825.
  • idade clĆ”ssica, ou pensamento clĆ”ssico, para o qual ele estabelece o limite superior de tempo como o final do sĆ©culo XVIII com fase de ruptura nos Ćŗltimos 5 anos desse sĆ©culo;
  • idade moderna, ou nossa modernidade no pensamento: depois de 1825.

Como última atenção ao que Foucault tem a dizer nesse grande livro, veja

Condições de possibilidade das ciências humanas: consciência epistemológica do homem

“Antes do fim do sĆ©culo XVIII,
o homem nĆ£o existia. 
NĆ£o mais que a potĆŖncia da vida,
a fecundidade do trabalho 
ou a espessura histórica da linguagem. (…) 

Certamente poder-se-ia dizer que 
a gramĆ”tica geral, a história natural, a anĆ”lise das riquezas 
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem, 
mas Ć© preciso discernir. 

Sem dĆŗvida, as ciĆŖncias naturais – 
trataram do homem 
como de uma espĆ©cie ou de um gĆŖnero
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramÔtica e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.

Mas nĆ£o havia consciĆŖncia epistemológica do homem como tal. 

A episteme clƔssica se articula segundo linhas que
de modo algum 
isolam
o domĆ­nio próprio e especĆ­fico do homem.” 

Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei

“Nem vida, nem ciĆŖncia da vida na Ć©poca clĆ”ssica;
tampouco filologia. 
Mas sim
uma história natural,
uma gramĆ”tica geral. 
Do mesmo modo, 
não hÔ economia política
porque, 
na ordem do saber,
a produção nĆ£o existe. ā€œ 
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A anĆ”lise das riquezas

Isso Ć© o que nos ensina a Cartilha. 

Como seria uma noção denominada ‘sujeito’ cunhada por pensadores clĆ”ssicos e que, portanto trataram do homem como de uma espĆ©cie ou de um gĆŖnero

Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero

E como seria uma psicologia sustentada por um pensamento que leve o homem nessa conta?

No pensamento de Foucault, vê-se claramente duas rupturas duas descontinuidades epistemológicas em nossa cultura:

  • aquela que inaugura a idade clĆ”ssica (por volta de meados do sĆ©culo XVII) ,
  • e aquela que no inĆ­cio do sĆ©culo XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

Essa última ruptura é situada por Foucault na virada dos séculos XVIII para o XIX, e pode ser vista por este link:

A cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

em uma animação que coloca em uma imagem, o texto de Michel Foucault em ā€˜As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas’.

Mas Adam Smith e David Ricardo pensavam de maneira bastante distinta. Podemos ver isso em

Os dois conceitos filosóficos para o que seja trabalho,
as operaƧƵes de troca, e comparaƧƵes entre os dois princƭpios de trabalho, feitas por Foucault

E as diferenƧas, explicitadas com palavras de Foucault, sĆ£o muito grandes. O modo de ver o que sejam ‘operaƧƵes’ Ć© muito mais amplo em Ricardo do que em Smith, com as consequĆŖncias que isso acarreta.

E existem atualmente, e entre nós, teorias, modelos e sistemas utilizados, que modelam operações dos dois modos, sem consciência epistemológica do que estÔ envolvido nisso.

Veja isso nos links abaixo:

Essa cronologia posiciona Adam Smith e David Ricardo em lados opostos desse evento, ao qual Foucault atribui o papel de ā€˜evento fundador da nossa modernidade’ no pensamento.

ā€œA partir de Ricardo, o trabalho,
desnivelado em relação à representação,
e instalando-se em uma região
onde ela não tem mais domínio,
organiza-se segundo uma causalidade que lhe Ć© própria.ā€
Cartilha; Ā Cap. 8 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico II. Ricardo

Esse movimento do pensamento que Foucault percebe em Ricardo é o mesmo movimento feito por um autor que construa sua teoria, modelo ou sistema baseado na representação.

ā€œA diferenƧa, porĆ©m, entre Smith e Ricardo estĆ” no seguinte:Ā 

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisĆ”vel em jornadas de subsistĆŖncia, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessĆ”rios Ć  subsistĆŖncia);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,Ā 
    • nĆ£o apenas porque este seja representĆ”vel em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmenteĀ 
      porque o trabalho
      como atividade de produção 
      Ć© ā€œa fonte de todo valorā€.

ā€œEnquanto no pensamento clĆ”ssico
o comƩrcio e a troca servem
de base insuperƔvel para a anƔlise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem
a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta), 

desde Ricardo,
a possibilidade da troca
estĆ” assentada no trabalho;Ā 
e a teoria da produção, doravante,
deverĆ” sempre preceder a da circulação.ā€
Ā 

Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

VĆŖ-se que a amplitude da visĆ£o do que sejam operaƧƵes, em David Ricardo, Ć© muito maior se comparada Ć  amplitude da visĆ£o de Adam Smith. Para Ricardo toda ā€˜aquela atividade que estĆ” na raiz do valor das coisas’, a produção, estĆ” incluĆ­da, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que nĆ£o acontece em Adam Smith.

Veja novamenteĀ 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Note que as diferenƧas nas operaƧƵes, inclusive as de troca, sĆ£o muito grandes no pensamento de Adam Smith e no pensamento de David Ricardo. Se consideramos os dois modelos de operaƧƵes, essas diferenƧas sĆ£o fĆ­sicas. O pensamento de David Ricardo amplia sobremaneira a amplitude da visĆ£o do que sejam operaƧƵes, incluindo a fase de ‘projeto’ ou de construção de representação nova.

Além disso, decorrentes das diferenças nas operações, altera-se a configuração da linguagem no antes e no depois desse evento. Muda, nas palavras de Foucault, a origem da essência da linguagem. Veja isso na pÔgina

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ – de qualquer tipo – e a anĆ”lise das diferentes origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes em função dessa inserção do ponto de inĆ­cio de leitura de ‘operaƧƵes’;

Mesmo assim, no vĆ­deo Falando nisso 254, e no contexto da anĆ”lise da incidĆŖncia do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo sĆ£o tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ā€˜matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!

Ā Complexity:Ā 

Ā the emerging science at the edge
of order and chaos,Ā 

de M. Mitchell Waldrop
1992

Os vƭdeos e animaƧƵes (parciais) a seguir mostram duas maneiras de ver o que seja Complexidade:

  • MĆ“nica de Bolle, vĆŖ o conteĆŗdo do livro ‘Complexidade’ como sendo um pouco coisa de nerd, muito embora ela ache o assunto fascinante.
    • no vĆ­deo 32 seguinte,Ā  MĆ“nica tambĆ©m se posiciona fora daquele grupo de economistas que vĆŖ a economia como uma maquininha da qual as pessoas estĆ£o fora; um pensamento mecanicista, ela diz. Mas nĆ£o diz qual seja o seu modo próprio de ver a economia dos nossos dias.
  • Ilya Prigogine, prĆŖmio Nobel de QuĆ­mica de 1977 e pioneiro da ciĆŖncia do nĆ£o equilĆ­brio, diz que a nova ciĆŖncia do caos e da complexidade lida com a própria ciĆŖncia moderna, e com o novo tipo de ordem que lhe Ć© próprio, o caos.

A coleção de animações que se segue a esta mostra os modelos de operações:

  • no pensamento clĆ”ssico, o de antes de 1775;
  • e no pensamento moderno, o de depois de 1825.

Esses modelos de operaƧƵes tĆŖm entre eles uma descontinuidade epistemológica que segundo Foucault, ocorreu em nossa cultura entre os anos de 1775 e 1825 – os 50 anos centrados na virada dos sĆ©culos XVIII para o XIX.

Se depois da compreensão dos modelos de operações mostrados for possível concluir que

  • o tipo de ordem a que alude PrigogineĀ 
  • o tipo de ordem adotado no pensamento moderno

são ao fim e ao cabo a mesma ordem, teremos ajudado. E se isso acontecer, teremos um modelo de pensamento que pode substituir o modelo mecanicista ao qual MÓnica se refere.

Clips desse vĆ­deo para comentar

ComentÔrios 

para comparar o que dizem os filósofos de diferentes Ć”reas, – e tambĆ©m os economistas – uns mais e outros menos voltados aos fenĆ“menos que acontecem ao seu redor, veja os seguintes modelos de operaƧƵes:

  • pensamento filosófico clĆ”ssico, o de antes de 1775,Ā 
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825:
    • caminho da Construção da representação;
    • caminho do Instanciamento da representação.
  • origem de valor carregado pela proposição para a representação no pensamento moderno, caminho da Construção da representação.

NOTA: clicando na figura da origem do valor, vocĆŖ tem acesso ao pensamento de Michel Foucault sobre isso.

Sobre origem do valor carregado pela proposição para a representação, nas palavras de Michel Foucault, veja a seguinte pÔgina:  

As duas possibilidades de inserção do ponto de inĆ­cio da leitura do fenĆ“meno ā€˜operaƧƵes’ – de qualquer tipo – e a anĆ”lise das diferentes origens do valor carregado pelas proposiƧƵes para as representaƧƵes em função da inserção do ponto de inĆ­cio de leitura de ā€˜operaƧƵes’

com as seguintes origens de valor atribuído à proposição:

  • designaƧƵes primitivas;
  • linguagem de ação ou raiz.

Veja ainda sobre as duas opções de atribuição de valor à proposição:

  • a operação sob o pensamento clĆ”ssico tem o ponto de inĆ­cio na visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ colocado sobre o cruzamento entre os objetos dado e recebido, ainda que nesse tipo de pensamento a noção de objeto seja distinta da que vige no pensamento moderno;
    • o valor Ć© atribuĆ­do diretamente Ć  proposição.
  • a operação sob o pensamento moderno – quando no caminho da Construção da representação, tem o ponto de inĆ­cio na visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ bem antes desse cruzamento, quando ainda o objeto da operação modelada ainda nĆ£o existe;
    • a origem do valor estĆ” em dois elementos externos Ć  linguagem:
      • designaƧƵes primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso.
    • a visĆ£o do fenĆ“meno ‘operaƧƵes’ Ć© muito ampliada englobando toda a etapa da construção de representação nova (projeto).

Monica de Bolle identifica entre os economistas, não ela, mas economistas como categoria, quem pense em um modelo mecanicista.

ComentƔrios

Manual de uso e projeto de modelos no campo das ciĆŖncias humanas, por Michel Foucault

Manual de uso e projeto de modelos no campo das ciĆŖncias humanas, por Michel Foucault

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura
com esse perfil de conceitos do pensamento moderno, o de depois de 1825

“Instaura-se
uma forma de reflexão,
bastante afastada
do cartesianismo
e da anƔlise kantiana,
em que estÔ em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.Ā 

Ā 

Isso tem duas conseqüências.

A primeira Ć© negativa
e de ordem puramente histórica.
Pode parecer que a fenomenologia juntou,
um ao outro,
o tema cartesiano do cogito
e o motivo transcendental
que Kant extraĆ­ra de Hume; (…)”

Ā A outra consequĆŖncia Ć© positiva.
Concerne à relação
do homem
com o impensado,
ou mais exatamente,
ao seu aparecimento gĆŖmeo
na cultura ocidental.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado
de Michel Foucault

Funcionamento de operaƧƵes no pensamento moderno

Funcionamento de operaƧƵes no pensamento moderno

[wpforo]

espaço para discussão de conceitos

icone-MFoucault-01
Michel Foucault 1926-1984

A percepção da contaminação do pensamento com o qual pensamos, pela impossibilidade de fundar as sínteses na representação

“Eis que nos adiantamos bem para alĆ©m
do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para alĆ©m das margens cronológicas
dessa ruptura que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.

Ɖ que o pensamento que nos Ć© contemporĆ¢neo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado
pela impossibilidade,
trazida Ơ luz por volta do fim do sƩculo XVIII,
de fundar as sínteses no espaço da representação
e pela obrigação
correlativa, simultânea,

mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental da subjetividade
e de constituir inversamente,
para alƩm do objeto,
esses ā€œquase-transcendentaisā€ que sĆ£o para nós
a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

A nova forma de reflexĆ£o se instaura no pensamento em nossa cultura, o motor constituinte “dessa maneira moderna de conhecer empiricidades”

“Instaura-se um tipo de reflexĆ£o
bastante afastado do cartesianismo
e da anƔlise kantiana,
em que estÔ em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos ;
tópico V – O “cogito” e o impensado.

  • a impossibilidade de fundar as sĆ­nteses [da empiricidade objeto da operação] no espaƧo da representação leva o pensamento para a epistemĆ© clĆ”ssica.
  • essa impossibilidade de fundar as sĆ­nteses implica na seleção da visĆ£o de ‘operaƧƵes’ e anĆ”lise de valor no exato ponto de cruzamento entre o dado e o recebido, e para a primeira possibilidade de anĆ”lise de valor.Ā 
  • a possibilidade de fundar as sĆ­nteses [da empiricidade objeto da operação] no espaƧo da representação leva o pensamento para a epistemĆ© moderna.
  • essa possibilidade de fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação implica em uma visĆ£o de ‘operaƧƵes’ e anĆ”lise de valor antes do ponto de cruzamento acima, o que leva o modelo para a segunda possibilidade de anĆ”lise de valor.
  • essa forma de reflexĆ£o que se instaura no pensamento em nossa cultura exige duas coisas:Ā 
    • o ‘ser do homem’;
    • o impensado e sua contrapartida no espaƧo da representação

a percepção  dessa contaminação, dominação mesmo,
do pensamentoĀ com o qual ‘queiramos ou nĆ£o‘ pensamos,
– hoje em dia, e aqui e agora –
por configuraƧƵes de pensamento
com a possibilidade, e tambƩm
com aĀ impossibilidade
de fundar as sĆ­nteses – da empiricidade objeto –Ā 
no espaço da representação
muda completamente os domƭnios e os lugares onde ocorrem as operaƧƵes,
Ā as paletas de ideias ou elementos de imagem, assim como as estruturas e os relacionamentos entre eles.

A primeira pedra de tropeƧo
no caminho de Michel Foucault
comparaƧƵes feitas por Foucault de diferentes configuraƧƵes de pensamento
Uma operação, de pensamento, de produção, etc. com a paleta de ideias e a estrutura do pensamento moderno, de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida no período 1775-1825, segundo Michel Foucault

HĆ” diferentes modelos
que formulamos paraĀ 
visões de ocorrências 
no espaƧo-tempo x, y, z e t.

Ao suspeitar
da contaminação do pensamento
– do nosso, daquele com o qual queiramos ou nĆ£o pensamos –
por essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, ele manifesta sua percepção de que de fato isso acontece em volta de nós e conosco.

Esses modelos,
diferentes em seus fundamentos,
são usados juntos
e/ou simultaneamente
no mesmoĀ domĆ­nio e ambienteĀ 
em um pensamento
contaminado
por duas epistemologias,
ou por duas maneiras
de conhecer
aquilo que dizemos
que conhecemos.

Existem modelos,
todos em uso atualmente,
que podem ser agrupados
em duas famĆ­lias:

  • aqueles com aĀ possibilidade
  • e aqueles com aĀ impossibilidadeĀ 

Ā de fundar as sĆ­nteses
Ā – da empiricidade objeto da operação-
no espaço da representação.

Essa a distinção entre modelos
Ā Ā com e modelos sem essa possibilidade
de fundar as sĆ­nteses
[da empiricidade objeto da operação]
no espaço da representação,
que Michel Foucault faz sugere que analisemos os modelos de operações e de organizações existentes, isto é, nos modelos que usamos hoje, em busca de características de características, ou características de segunda ordem, pelas quais podem ser associados com o pensamento antes, depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, oferecendo os necessÔrios elementos para identificação.

A figura na coluna do meio acima mostra a configuração do pensamento (o clÔssico,  de antes de 1775), com a impossibilidade de fundar as sínteses (da(s) empiricidade(s) objeto da operação) no espaço da representação.

Clicando nessa figura, a animação mostrarÔ as alterações em toda a configuração do pensamento, para levantar essa impossibilidade.

A alteração se passa no lado direito da figura. 

A primeira coisa que muda é o tipo de reflexão que se instaura. 

Como decorrĆŖncia, muda toda a paleta de ideias, ou elementos de imagem;Ā 

Muda ainda o perfil do pensamento em cada configuração: 

  • o referencial
      • a ordem pela ordem
      • dĆ” lugar Ć  utopia do nĆ£o articulado;
  • os princĆ­pios organizadores
      • que eram CarĆ”ter e Similitude
      • passam a ser Analogia e SucessĆ£o;
  • e os mĆ©todos,
      • que eram identidade e semelhanƧa
      • passam a ser AnĆ”lise e SĆ­ntese.

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dez (10) pontos para contextualização entre PrefÔcio e texto do livro
'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas'

1. A Forma de Reflexão que se instaura em nossa cultura
2. Proposição: o bloco padrão genérico e fundamental
para construção de representações
3. Princípios organizadores do pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
4. O Conceito de verbo no pensamento clƔssico,
o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
5. O conceito de verbo no pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
6. As duas sintaxes mencionadas por Foucault no PrefƔcio
6.1 A sintaxe que autoriza a construção das frases
6.2 A sintaxe que autoriza manter juntas
as palavras e as coisas
7. O princĆ­pio monolĆ­tico de trabalho de Adam Smith,
de 1776
8. O princĆ­pio dual de trabalho de David Ricardo,
de 1817
8.1 A importância de David Ricardo,

Nosso roteiro (Michel Foucault) e nossa inspiração (Humberto Maturana)

Fale conosco

O sistema SIPOC/FEPSC

O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

- História, modo de ser fundamental das empiricidades,
. o Circuito das trocas e o Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico
. Pensamento conservador e pensamento progressista

Posição relativa do par sujeito-objeto e o modelo de operações

Aquém 

história como sucessão de fatos
tais como se sucederam

História como sucessão de fatos tais como se sucederam

Diante e AlƩm

história como alteraƧƵes no ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades

História como mudança no 'modo de ser fundamental'

Duas possibilidades de leitura de operaƧƵes;
duas origens de valor (interna e externa na linguagem) para representaƧƵes

Duas visƵes, duas leituras do fenƓmeno 'operaƧƵes':
sob o pensamento clƔssico, o de antes de 1775; (seta amarela)
sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
com duas amplitudes - duas abrangĆŖncias muito diferentes

Ciência e Tecnologia dependem da Filosofia e são funções das ferramentas de pensamento de que dispõe a configuração do pensamento utilizada em sua geração.

Os três movimentos do pensamento segundo Vilém Flusser

Usando o pensamento de VilƩm Flusser:

  • Pensamento Ć© um transformador do duvidoso em lĆ­ngua;
  • Filosofia, ou ReflexĆ£o, Ć© texto produzido pelo pensamento ao voltar-se contra si mesmo para corrigir-se e renovar-se.
  • ciĆŖncia, como o resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo, para compreendĆŖ-lo, é texto filosófico aplicado.Ā 
  • e tecnologia, como resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo para modificĆ”-lo, Ć© texto cientĆ­fico aplicado;Ā 

Descontinuidades epistemológicas refletem conquistas humanas no pensamento e são aprimoramentos na maneira que usamos para conhecer.  HÔ portanto uma relação entre, de um lado, o modo como colocamos em marcha nosso desejo de transformar o duvidoso em língua a cada nível, e de outro lado, a filosofia que temos, e a Ciência que temos, ou a tecnologia de que dispomos. Filosofia, Ciência e Tecnologia são funções do como como vemos o mundo e as coisas.

Michel Foucault (*) descreve uma descontinuidade epistemológica (uma alteração no modo como nos voltamos para o mundo para conhecer o que dizemos que conhecemos), e aponta com toda clareza diferentes jogos de ferramentas de pensamento ou estruturas conceituais, características de uma e de outra dessas epistemologias, de um e de outro lado desse evento. E aponta um período em nossa cultura ocidental, em que o pensamento esteve dominado por uma característica do período anterior.

A solução de questões trazidas à luz por essa nova maneira de conhecer (a nova epistemologia) não poderão ser resolvidas se correspondentes ciência e tecnologia não forem desenvolvidas também.

Pensamento conservador e progressista

Acompanhando o trabalho arqueológico de Michel Foucault em direção a essa classe especial de saberes, a esse conjunto de discursos chamado de ciências humanas, vê-se que em certo período consolidou-se um tipo de pensamento em cuja configuração a etapa de construção de novas representações foi incorporada. Antes disso, essa etapa de construção da representação nova ficava fora do escopo do pensamento, e depois disso essa etapa permaneceu definitivamente incorporada.

Para a configuração de pensamento que deixa fora do seu escopo a etapa de construção de novas representações a alternativa é conviver com tudo o que existe desde sempre e para sempre, tomando as coisas como pré-existentes e pertencentes ao Universo. Esse modo de pensar tem características de conservadorismo, enquanto aquela outra configuração do pensamento que inclui em seu escopo a geração de novas representações, as características de progressismo.

Neste trabalho algumas – bastantes – caracterĆ­sticas de uma e de outra dessas duas caracterĆ­sticas de configuraƧƵes do pensamento foram apresentadas o que de certa forma pode ser usado para qualificar com algo mais do que a qualidade ‘conservador’ um pensamento de direita; e com a qualidade ‘progressista’ um pensamento de esquerda, delineando com mais precisĆ£o uma e outra dessas configuraƧƵes.

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Panorama visto desde meu posto de observação

Ɖ real hoje, aqui, agora, e entre nós, a percepção – feita por Foucault – do domĆ­nio/contaminação do pensamento – ‘com o qual queiramos ou nĆ£o pensamos‘ – pela impossibilidade de fundar as sĆ­nteses (do pensamento sobre a empiricidade objeto da operação) no espaƧo da representação(*).

Esse tipo de pensamento dominante, aquele com a impossibilidade de fundar as sínteses, é ao mesmo tempo o tipo de pensamento que não inclui a operação de construção de novas representações. E a estrutura das operações sem essa etapa reforça essa impossibilidade. Nesse contexto modelos com e modelos sem essa impossibilidade são tratados como se variações sobre o mesmo tema fossem, e não produções do pensamento completamente diferentes.

Estamos projetando e usando hoje, modelos para operações e organizações, de produção e outras, com o pensamento de exatos dois séculos atrÔs.

Para que isso possa ser percebido pelo projetista de modelos em diversas Ôreas é necessÔrio o rompimento das condições em que se dÔ essa contaminação e esse domínio de uma das configurações de pensamento sobre a outra, obliterando justamente aquela que corresponde a uma conquista humana no pensamento. Para que isso aconteça é necessÔrio que seja atendido um requisito: a construção de um critério para identificação e comparação de modelos, e sua aplicação no caso presente.

Daqui de onde vejo as coisas, Ć© unĆ¢nime a visĆ£o das coisas em termos de processo. NinguĆ©m fala de nada alĆ©m de processos: mapeia-se processos, otimiza-se processos, etc. etc. o que quer que seja, mas sempre processos. Sem que nos demos conta de como sejam as diferentes estruturas das operaƧƵes em que tais ‘processos’ ocupam posição operacional.Ā 

Michel Foucault pode fornecer os elementos necessĆ”rios para a construção desse critĆ©rio. Nossa intenção aqui Ć© destacar em Foucault o que pode ser usado para o estabelecimento de uma relação pensamento – e sua aplicação na modelagem de operaƧƵes em organizaƧƵes.Ā 

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Cronologia do evento fundador da nossa modernidade no pensamento;
linha de tempo com os períodos de contaminação do pensamento
por configuraƧƵes diferentes.

uma cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
o evento fundador da nossa modernidade no pensamento
Linha de tempo das conquistas humanas no pensamento e respectiva utilização prÔtica

Acoplamentos estruturais do sistema descrito no LD - o Explicar com Reformular: os internos e aqueles com o ambiente externo

Diante e para AlƩm do objeto

Acoplamento estrutural interno:
condiƧƵes de possibilidade
Acoplamento estrutural interno:
pontos de acoplamento
Acoplamento estrutural externo:
parcial quando hƔ diferenƧas nas estruturas
  • os domĆ­nios do Operar – retĆ¢ngulo vermelho; e do Suporte ao operar – domĆ­nio amarelo, que compƵem o ‘Lugar de nascimento do que Ć© empĆ­rico’ parte do ‘Explicar com ‘Reformular’ a empiricidade objeto, durante o caminho da Construção da representação, sĆ£o exemplo do primeiro acoplamento interno. Acoplamento semelhante ocorre durante o caminho do Instanciamento da representação.(*)

    Ā 

  • hĆ” ainda acoplamentos externos ‘por cima’, lateralmente, e por baixo da estrutura no LD da figura nos dois caminhos o da Construção e o do Instanciamento. O acoplamento externo ‘por cima’ depende da estrutura com a qual se darĆ” acopamento, e pode ser parcial.

Playground para projetistas de modelos: uma coleção de modelos de diversos tipos, para aplicação dos conceitos apresentados

Uma coleção com mais de duas dúzias de modelos, (*) para descobrir com que tipo de pensamento foram feitos:

  • se COM a possibilidade de fundar as sĆ­nteses do pensamento no espaƧo da representação; ou
  • ou se SEM a possibilidade de fundar as sĆ­nteses do pensamento no espaƧo da representação

(*) Proposta de metodologia para o planejamento e implantação de manufatura integrada por computador
de Bremer, C. F. USP SC fev 1995;Ā entre outras fontes

Estruturas dos modelos, resultantes da utilização do referencial,dos princípios organizadores e dos métodos usados pelo pensamento, por segmento de modelos 

AquƩm do objeto

Modelo de operações de Buffa e modelo de uma organização adaptado de Mauro Zilbovicius

Diante do objeto

Modelo de operações do Kanban e modelo de organização da Reengenharia

AlƩm do objeto

Modelo de uma ciência humana AnÔlise da produção como exemplo de qualquer outro modelo de ciência humana
Estrutura matricial – Quadro de categorias clĆ”ssico. Utilização de vĆ”rias ordens ligeiramente diferentes em um mesmo modelo de operaƧƵes.
Estrutura hierÔrquica característica do objeto anÔlogo composto substitutivo ao vislumbrado. Utilização de uma única ordem ao longo do modelo.
Mesmas características dos modelos para o segmento Diante do objeto, mas aqui, com um modelo constituinte combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

O modelo 5W2H, de um lado, e de outro, o modelo de operaƧƵes do Kanban
e o modelo proposto no LD da Figura 2: usos diferentes para as mesmas ideias
ou elementos de imagem envolvidos na formulação da proposição

AquƩm do objeto

Diante e Além do objeto

Modelo Provision Workbench, da Proforma
Modelo de operações de produção do Kanban
Modelo proposto para 'uma certa maneira de conhecer empiricidades'

O exame dessas três figuras mostra que ideias, elementos de imagem, homÓnimos, podem ser usados de modo diferente em modelos feitos sob estruturas conceituais diferentes.

No modelo 5W e 2H no lado esquerdo acima, o destaque dado pelo losango em vermelho Ć© nosso. NĆ£o estava na figura original. A figura Ć© organizada por um sistema de categorias composto pelas 7 perguntas 5W2H.Ā 

O modelo da produção do Kanban é sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto da operação de produção, e é formulado como uma proposição instanciativa de um objeto previamente projetado, e portanto cuja representação foi anteriormente construída

O modelo de operações de construção de representação para empiricidade objeto (LD da figura) é feito calcado no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo; estÔ evidenciada a formulação no formato de uma proposição. A origem de valor adotada estÔ nas designações primitivas ( conjunto de operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites) e da linguagem de uso (o Repositório)

O pensamento de outros grandes pensadores:
John Dewey e seus dois modos de ver o mundo;
Ilya Prigogine e o conceito de caos para a ciĆŖncia moderna

Diante do objeto

Ver [homem e experiĆŖncia] e [natureza] vistos juntos
Os conceitos de caos, na ciĆŖncia moderna;
e de Arte como a formulação com leis e eventos

As duas animaƧƵes acima – a nosso ver – apenas mostram que tanto John Dewey na sua visĆ£o [homem] [experiĆŖncia] e [natureza] juntos; quanto Ilya PrigogineĀ  na sua visĆ£o do que seja caos na ciĆŖncia moderna,Ā estĆ£o pensando com uma configuração de pensamentoĀ COM a possibilidade de fundar as sĆ­nteses no espaƧo da representação, o que nĆ£o era comum para a ciĆŖncia clĆ”ssica, toda reversĆ­vel.

Sistema Formulador

AquƩm do objeto

Modelo relacional de dados do Microsoft Project 4.0

Diante do objeto

Módulo central do Sistema Formulador

O Sistema Formulador:

Ɖ um ante-projeto de um sistema para gestĆ£o de projetos com estrutura conceitual consistente com o pensamento moderno.Ā 
O módulo principal do sistema é uma unidade lógica que relaciona entidades envolvidas na proposição enunciadora de operações, mantidas em banco de dados, e gera sistematicamente o modelo de operações. O Microsoft Project, então, importa o modelo gerado como se fosse próprio, e a gestão continua, agora com um modelo gramaticalmente correto e criteriosamente estruturado.

Este é um ante-projeto de um sistema de gestão COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; esse sistema pode evoluir para um sistema visual de gestão e outros aplicativos.

Destaque para dois modelos existentes:
1) LE, o SIPOC (FEPSC) do SixSigma; 2) LD e o Visão da PHD, da PHD Brasil
e no centro, as diferenƧas entre eles

AquƩm do objeto

O diagrama FEPSC (SIPOC) mostrando a estrutura

diferenƧas

Comparação

Diante do objeto

A Visão da PHD

Comparação do modelo SIPOC ou FEPSC – SixSigma(*) com o modelo VisĆ£o da PHD(**) do ponto de vista das estruturas respectivas.
A animação central mostra o que falta – estruturalmente – ao SixSigma para ter a estrutura do modelo da direita.

(*) Gestão integrada de processos e da tecnologia da informação; capítulo Identificação, anÔlise e melhoria de processos críticos Figura 3.1 Representação da FEPSC, de Roberto Gilioli Rotondaro
Coordenadores: Fernando JosƩ Barbin Laurindo e Roberto Gilioli Rotondaro, Editora Atlas, jan/2006
(**) A Visão da PHD, da empresa PHD Brasil

O mapa de operações de produção do Kanban;
e o mapa da organização segundo a Reengenharia

Diante do objeto

Modelo de operaƧƵes
do Kanban

Modelo de operaƧƵes do Kanban

Mapa da organização
segundo a Reengenharia

Mapa da Reengenharia (modificado) e comentado

Temos à esquerda, o modelo do Kanban com a referência (*) abaixo. e Ô direita, a Figura 7.1 do livro Reengenharia, referência (**) abaixo. São organizados sobre a proposição, e pertencem à configuração do pensamento moderno.  Você pode certificar-se  da veracidade dessas duas afirmativas neste ponto (17).

(*) Artigo ‘A comparison of Kanban and MRP concepts for the control of Repetitive Manufacturing Systems’ de:
James W. Rice da Western Kentucky University eĀ Takeo Yoshikawa da Yolohama National University
(**) Reengenharia – revolucionando a empresa: em função dos clientes, da concorrĆŖncia e das grandes mudanƧas da gerĆŖnciaĀ 
de Michael Hammer eĀ James Champy

Exemplos de modelos existentes, e muito usados,
nas diferentes estruturas conceituais

AquƩm do objeto

DianteĀ do objeto

Modelos de: operação de produção; e organização típica
Modelos de: operação contÔbil/financeira e modelo de organização
Modelos de: operação de produção do Kanban; e modelo de organização da Reengenharia

Exemplos de modelos muito conhecidos para operaƧƵes e para as organizaƧƵes

  • operação: OperaƧƵes de produção, de Elwood S. Buffa;
  • organização: adaptação de Organização tĆ­pica.
  • operação: operação contĆ”bil financeira dĆ©bito e crĆ©dito;
  • organização: Ativo, Passivo e Resultados.
  • operação: modelo do Kanban;
  • organização: mapa da reengenharia.

A proposição como o bloco construtivo padrão  (Lego)
fundamental para a construção de representações

AquƩm do objeto

Proposição ausente
do sistema Input-Output

Diante do objeto

A proposição no caminho
da Construção da representação

AlƩm do objeto

A proposição no caminho
do Instanciamento da Representação

‘A proposição Ć©, para a linguagem,
o que a representação é para o pensamento:
sua forma ao mesmo tempo mais geral e mais elementarĀ porquanto, desde que a decomponhamos, nĆ£o encontraremos mais o discurso,Ā mas seus elementos como tantos materiais dispersos.’(*)

“A lĆ­ngua Ć©
a mais complexa,
a mais milagrosa,
a mais estranha,
a mais gigantesca e variada
invenção humana.” (**)

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

Ā 


(**) Frases de Millor Fernandes

Os dois conceitos para o que seja um verbo:
verbo Processo, e verbo Forma de produção

AquƩm do objeto
verbo ‘Processo

Verbo tratado como Processo

Diante e AlƩm do objeto
verbo ‘Forma de produção’

Verbo tratado como Forma de produção

“A Ćŗnica coisa que o verbo afirma
Ć© a coexistĆŖncia de duas representaƧƵes; 
por exemplo
a do verde e da Ɣrvore,
a do homem e da existĆŖncia ou da morte. 

Ɖ por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele em que
as coisas aconteceram no absoluto, 
mas um sistema relativo  
de anterioridade
ou simultaneidade 
das coisas entre si.”
(*)

“O limiar da linguagem
estĆ” onde surge o verbo.
Ɖ preciso portanto 
tratar esse verbo como um ser misto, 
ao mesmo tempo palavra entre palavras,
preso Ć s mesmas regras 
de regĆŖncia
e de concordância;
e depois, em recuo em relação a elas todas, 
numa regiĆ£o que nĆ£o Ć© aquela do falado 
mas aquela donde se fala.
Ele estĆ” na orla do discurso, na juntura entre 
aquilo que Ć© dito e aquilo que se diz; 
exatamente lĆ” onde os signos 
estão em via de se tornar linguagem.
(*)

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

Os dois conceitos para o que seja 'Classificar'

AquƩm do objeto

Classificar como uma referĆŖncia
do visĆ­vel a si mesmo

Diante e AlƩm do objeto

Classificar como uma referĆŖncia
do visĆ­vel ao invisĆ­vel

Classificar Ć© referir
o visĆ­vel a si mesmo,
encarregando um dos elementos
de representar os outros.(*)

Classificar Ć© referir
o visĆ­vel ao invisĆ­vel
– como a sua razĆ£o profunda –
e depois, alçar de novo dessa secreta arquitetura, em direção aos seus sinais manifestos, que são dados
Ć  superfĆ­cie dos corpos.
(*)


(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
cap. VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres; sub-item 3

Os dois princípios filosóficos para o que seja de trabalho

AquƩm do objeto
Adam Smith, de 1776(*)

PrincĆ­pio monolĆ­tico de trabalho
de Adam Smith, de 1776

Diante e AlƩm do objeto
David Ricardo, de 1817(**)

PrincĆ­pio dual de trabalho
de David Ricardo, de 1817


As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā 
(*) CapĆ­tulo VII – Os limites da representação;
tópico II. A medida do trabalho;


As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
(**) CapĆ­tulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico II. Ricardo

Elementos centrais em cada formulação por segmento do espectro

AquƩm do objeto
PROCESSO

Diante do objeto
Forma de produção

AlƩm do objeto
NEXO DA PRODUƇƃO

Processo: elemento central
no modelo de operação clÔssico
Forma de produção: elemento central
no modelo de operaƧƵes moderno
Nexo da produção: resultante da visão
SSS da organização

Em um pensamento mĆ”gico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mĆ”gica de condĆ£o’ –Ā Ā Ć© possĆ­vel desejar algo e, sem mais qualquer providĆŖncia, vĆŖ-lo surgir Ć  nossa frente depois do Plin!!!Ā 

Num ambiente de produção real, porĆ©m, nada Ć© produzido sem um instrumento (laboratório piloto, fĆ”brica)Ā com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS Ć© isso: a modelagem das operaƧƵes de produção do objeto desejado juntamente com as operaƧƵes de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fĆ”brica, subindo um nĆ­vel estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo IV – Falar; tópico II. GramĆ”tica geral
CapĆ­tulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; I. As novas empiricidades

EspaƧos Gerais do Saber
em cada segmento do espectro

AquƩm do objeto

DianteĀ do objeto

AlƩm do objeto

EspaƧo Geral do Saber ClƔssico
EspaƧo Geral do Saber no pensamento Moderno
EspaƧo interior do Triedro do Saber

As mudanças nas configurações do pensamento promoveram reposicionamentos das positividades umas em relação às outras, resultando em três espaços gerais do saber.(*)

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo III – Representar; tópico VI. MathĆ©sis e Taxinomia;
CapĆ­tulo X – As ciĆŖncias humanas; tópico I – O triedro dos saberes;Ā 
de Michel Foucault

O tempo em cada uma das faixas do espectro;
e para as diferentes etapas das operaƧƵes indicadas

AquƩm
do objeto
qualquer operação

DianteĀ 
do objeto
caminho da Construção 

DianteĀ 
do objeto
caminho da Instanciamento

Tempo no LE, em qualquer operação no sistema Input-Output, sob o deus Chronos
Tempo LD, operação no caminho da Construção da representação,
sob o deus Kairós
Tempo LD, operação no caminho do Instanciamento da representação,
novamente sob o deus Chronos

Tempo, em cada um dos segmentos do espectro, muda:

  • aquĆ©m do objeto, na estrutura input-output sob o pensamento clĆ”ssico, temos um tempo relativo, ou um tempo calendĆ”rio, cujo deus Ć© Chronos;
  • diante do objeto mas no caminho da Construção da representação, sob o pensamento filosófico moderno, temos um tempo absoluto, um tempo nĆ£o-calendĆ”rio, cujo deus Ć© Kairós;
  • e ainda diante, e tambĆ©m alĆ©m do objeto, tempos um tempo que volta a ser relativo, calendĆ”rio, e a soberania volta a ser a de Chronos.

O espaƧo dado ao homem - 'naquilo que ele tem de empƭrico' -
na estrutura dos modelos

AquƩm do objeto

Diante e Além do objeto

Sistema clƔssico de pensamento:
sem espaƧo em sua estrutura
para os dois papƩis do homem.
Os dois papƩis do homem
presentes e operativos na estrutura
d'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'

Antes do fim do sƩculo XVIII,
o homem nĆ£o existia. (…)
Sem dĆŗvida,
as ciĆŖncias naturais trataram do homem
como de uma espĆ©cie ou de um gĆŖnero.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico II. O lugar do rei

‘Na medida, porĆ©m, em que as coisas giram sobre si mesmas, reclamando para seu devir nĆ£o mais que o princĆ­pio de sua inteligibilidadeĀ e abandonando o espaƧo da representação,Ā o homem, por seu turno, entra e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental’ (*)

“O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papĆ©is: estĆ”, ao mesmo tempo, 

  • no fundamento de todas as positividades,
  • presente, de uma forma
    que nĆ£o se pode sequer dizer privilegiada,
    no elemento das coisas empĆ­ricas.” (**)

Ā (*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā 
PrefƔcio

(**) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;Ā Ā 
CapĆ­tulo X – As ciĆŖncias humanas;
I. O triedro dos saberes

Desenvolvimento das operaƧƵes
por segmento do espectro de modelos

AquƩm do objeto

Diante do objeto

AlƩm do objeto

  • no sistema Input-Output; usando uma ordem arbitrariamente escolhida;
  • e com propriedades nĆ£o-originais e nĆ£o-constitutivas das coisas, as chamadas ‘aparĆŖncias’;
  • No sistema correspondente ao que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, que tem como elemento construtivo padrĆ£o fundamental a proposição, da qual herda as categorias de ideias ou elementos de imagem de primeiro nĆ­vel;
  • e com propriedades sim-originais e sim-constitutivas daquilo que se constitui na existĆŖncia em decorrĆŖncia das operaƧƵes.
  • No sistema formulado no campo das ciĆŖncias humanas, com modelos constituintes compostos por uma combinação dos modelos constituintes das ciĆŖncias que integram a regiĆ£o epistemológica fundamental, as ciĆŖncias da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
  • Nexo da operação.

Veja mais detalhes nas animações que podem ser encontradas nas pÔginas de detalhe deste tópico.

Funcionamento do pensamento
em cada um dos segmentos desse espectro

Antes do objeto

Diante do objeto

AlƩm do objeto

Operação no sistema Input-Output
sobre representaƧƵes prƩ-existentes
Operação de construção de representação não existente no repositório
Operação de instanciamento de representação pré-existente no repositório

Paletas com o conjunto completo de ideias ou elementos de imagem necessÔrios para a formulação das respectivas imagens das ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t ; incluindo relacionamentos entre esses elementos de imagem.(*)

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades, de Michel Foucault

Estruturas de conceitos em cada ambiente de formulação identificado pela possibilidade ou pela impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação

Posição em relação ao par sujeito-objeto

Estrutura conceitual
para o pensamento clƔssico
Estrutura conceitual
para o pensamento moderno

Referencial:

  • Ordem pela ordem;

PrincĆ­pios organizadores:Ā 

  • CarĆ”ter e similitude;

MƩtodos:

  • Identidade e semelhanƧa

Referencial:

  • Utopia;

PrincĆ­pios organizadores:Ā 

  • Analogia e SucessĆ£o;

MƩtodos:

  • AnĆ”lise e SĆ­ntese

‘Assim, estes trĆŖs pares,
função-norma,
conflito-regra,
significação-sistema,

cobrem, por completo,
o domĆ­nio inteiro
do conhecimento do homem.'(*)

SĆ£o essas as ferramentas de que se arma o pensamento – em cada segmento do espectro de modelos, para produzir as imagens que servem de mapas, para orientação na construção das representaƧƵes.

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo X – As ciĆŖncias humanas; tópico III. Os trĆŖs modelos

Imaginação e Conceituação - funções humanas reversíveis:
Imagens tradicionais e TƩcnicas

Imagens tradicionais

Imagens tƩcnicas

Classes de abstraƧƵes

As imagens tradicionais
Imagens tƩcnicas, as imagens produzidas por aparelhos (computadores)
Classes de abstraƧƵes
  • Imaginação e Conceituação, funƧƵes humanas reversĆ­veis que todos temos para codificar e decodificar imagens tradicionais e textos;
    • idolatriaĀ Ć© o uso continuado de imagens que, quando decodificadas, nĆ£o mais nos levam Ć  visĆ£o da ocorrĆŖncia no espaƧo-tempo x, y, z e t, isto Ć©, imagens que nĆ£o mais nos servem de guias para o mundo, mas de biombos;
    • textolatria Ć© o uso continuado de textos que, quando decodificados, nĆ£o mais nos levam Ć s imagens que fizemos para as ocorrĆŖncias no espaƧo-tempo x, y, z e t
  • e as Imagens tĆ©cnicas, especiais, aquelas imagens produzidas por aparelhos (computadores em destaque); as Imagens tĆ©cnicas exigem, para seu entendimento, uma Conceituação especial.(*)

(*) Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia;
CapĆ­tulos I – A imagem; e II – A imagem tĆ©cnica,
de Vilém Flusser 

Modelos constituintes de modelos
em cada uma das faixas desse espectro

Posição relativa modelo de operações - sujeito-objeto

AquƩm

não hÔ modelos constituintes nesse segmento do espectro, jÔ que, pelos pressupostos adotados (Universo, realidade única) nada é constituído na existência em decorrência das operações feitas

Diante

modelo constituinte composto pelo par constituinte correspondente ao campo em que o modelo é formulado, tomados isoladamente em cada Ôrea: 

  • VidaĀ (Biologia) –
    [função-norma]; 
  • TrabalhoĀ (Economia) –
    [conflito-regra];Ā 
  • LinguagemĀ (Filologia)- [significação-sistema]

para AlƩm

campo das Ciências Humanas com modelos constituintes formados por uma combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, tomados todos em conjunto em cada modelo, dada ênfase a uma das Ôreas das ciências da região epistemológica fundamental

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas;
CapĆ­tulo X – As ciĆŖncias humanas; tópico III. Os trĆŖs modelos

Ā 

O espectro de modelos, segundo essa possibilidade de sim-fundar, ou não-fundar, as sínteses no espaço da representação: Aquém, Diante e para Além do objeto - os segmentos do espectro de modelos de visões de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t

O modo como Foucault descreve o problema que encontrou em seu trabalho pode ser mapeado em um espectro de modelos agrupados segundo os dois fatores por ele percebidos:  fator 1, com duas regiƵes quanto Ć  fundação das sĆ­nteses na representação e com trĆŖs regiƵes quanto Ć  posição relativa ao objeto e ao sujeito: 
AquĆ©m, Diante e para AlĆ©m do objeto. 

Fundação das sínteses no espaço da representação

Impossibilidade

Possibilidade

AquƩm

do objeto
(e do sujeito)

Diante

do objeto
(e do sujeito)

para AlƩm

do objeto
(e do sujeito)

Fator 1 – o domĆ­nio/contaminação do pensamento com o uso simultĆ¢neo de configuraƧƵes de pensamentoĀ 

  • com aĀ Ā impossibilidadeĀ 
  • e tambĆ©m comĀ a possibilidade,

de fundar as sĆ­nteses da representação da empiricidade objeto, no espaƧo da representação’;Ā com duas regiƵes em um espectro de modelos:

Fator 2Ā – dar conta da obrigação correlativa (…)Ā de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, paraĀ alĆ©mĀ do objeto,Ā os “quase-transcendentais”

com as seguintes regiƵes no espectro de modelos:

Ā 1. regiĆ£o do espectro: ‘AquĆ©m do objeto’Ā (na impossibilidade);

Ā 2. regiĆ£o do espectro: ‘Diante do objeto’Ā (na possibilidade)

    • da Vida, (Biologia) par constituinte função-norma
    • do Trabalho, (Economia) par conflito-regra
    • e da Linguagem. (Filologia) par significação-sistema

Ā 3. regiĆ£o do espectro: ‘para AlĆ©m do objeto’, (na possibilidade) e no campo das ciĆŖncias humanas, no espaƧo interior do triedro dos saberes.

outra região no espectro de modelos, com modelo constituinte único composto dos três pares constituintes das três regiões epistemológicas fundamentais

- A pedra de tropeƧo no caminho de Michel Foucault e
- Os caminhos (e alteraƧƵes de rota) de Maturana

Michel Foucault
1926-1984

“Ɖ que o pensamento que nos Ć© contemporĆ¢neo e com o qual,Ā queiramos ou nĆ£o, pensamos, se acha ainda muito dominadoĀ 

  • pela impossibilidade, trazidaĀ Ć  luz por volta do fim do sĆ©culo XVIII, de fundar as sĆ­ntesesĀ [da empiricidade objeto do pensamento] no espaƧo da representação;
  • e pela obrigação correlativa, simultĆ¢nea, mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir oĀ 
    campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, para alĆ©m do objeto,Ā esses ā€œquase-transcendentaisā€ que sĆ£o para nós a Vida, o Trabalho, e a Linguagem.”Ā  (*)
Humberto Maturana
1928-

“SubstituirĀ 

  • a noção de input-outputĀ 
  • pela de acoplamento estruturalĀ 

foi um passo importante na boa direção por evitar a armadilha da linguagem clÔssica de fazer do organismo um sistema de processamento de informação.
(…) Contudo Ć© uma formulação fraca por nĆ£o propor uma alternativa construtiva e deixar a interação na bruma de uma simples perturbação.Ā (…) Frequentemente se tem feito a crĆ­tica de que a autopoiese leva a uma posição solipsista. (**)

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciĆŖncias humanas; capĆ­tulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;Ā tópico: I. As novas empiricidades
(**) De mĆ”quinas e de seres vivos: autopoiese – a organização do vivo; PrefĆ”cio Ć  segunda edição; tópico AlĆ©m da autopoiese; sub-tópico: Enacção e cognição, de Francisco JosĆ© Garcia Varela

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Modelo descritivo da produção clÔssico

Paleta de ideias ou elementos de imagem
presentes na configuração de pensamento clÔssico

Mapa resumo das operações SSS na organização
centrada no par sujeito-objeto

A organização das operações na estrutura SSS

Mapeamento da disposição SSS das operações em uma organização