rascunho memória Anexo do e-mail a Morris Kachani- a Sanfona original

Cópia da 'Sanfona' original completa

Veja essa história em uma animação que está em

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio

A ideia aqui é sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis

  • o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clássico;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
  • associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operações)
  • o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso.
  • Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
    • seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham,
    • porque arruínam de antemão a sintaxe
      • e não somente a sintaxe que constrói as frases
      • também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operações, e também modelos de organizações.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do Prefácio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

Michel Foucault vê dois obstáculos que adiaram o término do seu trabalho no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências  humanas. Ele via:

  • uma impossibilidade que dominava o nosso pensamento;
  • e uma obrigação
      • de abrir o campo transcendental da subjetividade
      • e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais
        Vida, Trabalho e Linguagem
        .

Veja isso em 

Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,

com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’: 

“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento  histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo 
e com o qual, queiramos ou não, pensamos, 
se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação.
  • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir, inversamente, para além do objeto,
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha); Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:  

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir,
       inversamente, para além do objeto, 
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem 

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas com a impossibilidade 
      de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas sem essa impossibilidade, com a possibilidade
      de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas nos quais 
      foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos 
      os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
      estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

Veja isto em 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault

De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:

  • antes de 1775 – pensamento clássico ou idade clássica do pensamento, com modelos com a (im)possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação;
  • depois de 1825 – pensamento moderno ou a nossa modernidade no pensamento, com modelos com a possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação.

Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dá o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.

Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clássico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clássica.

eúdo da sanfona

“Instaura-se uma forma de reflexão, 
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana, 
em que está em questão, pela primeira vez, 
o ser do homem, nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento se dirige ao impensado 
e com ele se articula.”
 
Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado

Nesse excerto da Cartilha, Foucault coloca na proposição:

  • o ser do homem (o sujeito)
  • dirigindo-se ao objeto, o impensado,  (atributo do predicado do sujeito). 

Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura ‘ o ser do homem’ não se dirige ao intangível!  

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrário do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.  

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

Veja isso na página: 

Funcionamento das operações para as configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

veja também o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.

Note que a amplitude da visão do fenômeno ‘operações’ é muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visão do fenômeno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e também o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua; enquanto que sob o pensamento clássico o fenômeno é visto apenas a partir da fase de instanciamento.

Veja que há uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clássico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

Certifique-se dessa correspondência visualizando as figuras feitas para os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

a página que o link acima dá acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com

as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ com as duas origens da essência da linguagem (interna e externa), e correspondentes duas possibilidades de análise de valor;

Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:

  • pensamento clássico, o de antes de 1775;
    • não há construção de representações; 
    • domínio: do Discurso e da Representação;
    • elemento central: Processo
    • ordem: Quadro de simultaneidades com um Sistema de categorias. (pode ser múltipla, e de uso simultâneo).
  • pensamento moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • Lugar do nascimento do que é empírico;
        • Lugar desde onde se fala: domínio do Pensamento e da Língua;
        • Lugar do falado: domínio do Discurso e da Representação.
      • elemento central: Forma de produção;
      • ordem: única, dada pelas regras da gramática da língua utilizada.
      • origens de valor
        • designações primitivas;
        • linguagem de ação ou de uso: Repositório
    • caminho do Instanciamento da representação;
      • domínio do Discurso e da Representação;
        • Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório.

Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece, em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações.

  • operação sob o pensamento clássico, antes de 1775
    • O circuito das trocas (Mercado), 
    • no interior do domínio do Discurso e da representação.
  • operação sob o pensamento moderno, depois de 1825
    • operação de Construção da representação: o Lugar de nascimento do que é empírico;
    • no interior de dois domínios
      • o domínio do Pensamento e da língua;
        • o Lugar desde onde se fala;
      • o domínio do Discurso e da representação.
        • o Lugar do falado.
  • o Circuito das trocas (Mercado) nas operações de instanciamento de representação anteriormente existente sob o pensamento moderno.

Veja novamente a página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos

A. Pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775

1.   Transformação única, de Entradas Saídas, sobre a estrutura Input-Output, ou um processamento de informações

A metáfora da transformação de Entradas  ⇒ Saídas, sobre a estrutura Input-Output, que dá lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si é válida aqui, e é a famosa caixa preta. 

Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência

Com a opção pela leitura do fenômeno ‘operações’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que é dado com o que é recebido na troca, essa metáfora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e já carregada de valor diretamente atribuído à proposição.

Toda a etapa da construção de representação nova está fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.

Veja aqui em Conceitos homônimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.

B. Pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825

1.  Metáforas no caminho da Construção da representação:
uma Conversão, ou um par de transformações de mesmos sinais

Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • Conversão, de pensamento não articulado em representação.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

  • Primeira transformação:
    • [não – sim] pensamento não-articulado em pensamento sim-articulado;
  • Segunda transformação: 
    • [sim – não] representação não-existente para representação sim-existente.

2.  Metáforas no caminho do Instanciamento da representação: outra Conversão, ou um par de transformações mas agora de sinais opostos

Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • Conversão,
    • de uma disponibilidade de recursos 
    • para disponibilidade de objeto da produção.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

    • Primeira transformação: [não – sim] Consumo, ou disponibilidade de recursos para indisponibilidade de recursos;
    • Segunda transformação: [não – sim] Produção: indisponibilidade de objeto para disponibilidade de objeto.

Veja Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos

A.  Modelos de operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775

1.  Fluxo

Veja em Funcionamento das operações… a animação sob o título Aquém do objeto. Essa é uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representações existentes. O apontador de início da operação está no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.

Sob o pensamento clássico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:

  • O tipo de pensamento usado tem a impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação – o primeiro obstáculo vislumbrado por Foucault em seu trabalho;
  • Essa impossibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para o cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca, ou o ponto em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estão disponíveis;
  • A operação pode acontecer no Circuito das trocas já que os objetos envolvidos nesse tipo de operação estão disponíveis; essa operação transcorre inteiramente em um domínio único, o domínio do Discurso e da representação.
  • História, nesse tipo de operações, é entendida como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram.
  • O tipo de propriedades possíveis de serem consideradas na modelagem das operações é propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, que são selecionadas para participar das operações por suas propriedades consistentes com esse tipo, ou por “aparências”.
  • O elemento central desse modelo de operações é ‘Processo’, sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
  • Resta nesse modelo de operações a contabilidade do que se aproxima de uma região do espaço em que ocorrem operações, do que entra nessa região, do que fica nessa região ou que Sai dela. A análise se restringe a esse Fluxo, pela total ausência da noção de objeto definido pelas suas propriedades originais e constitutivas, e pela pressuposição de que tudo existe, desde sempre e para sempre prescindindo assim da noção de sujeito.

B.    Modelos de operações sob o pensamento moderno, depois de 1825

1.  Permanência: no caminho da Construção da representação:

Veja agora em Funcionamento das operações… a animação sob o título Diante do objeto. A operação modelada é de formulação da representação para empiricidade objeto ainda não representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponível para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, está resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda está indisponível. Para que ele esteja disponível será necessário o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recém criada. Então, a aposta é que essa representação permaneça em um repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, de onde será selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.

  • O tipo de pensamento utilizado tem desta vez a possibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.
  • Essa possibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para antes do ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca, ou para o ponto em que pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca não está disponível;
  • A operação transcorre no, ‘ interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico: “Assim como a Ordem no pensamento clássico não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaço próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim também a História, a partir do século XIX, define o lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe é próprio.”
  • História, nesse tipo de operação é o “modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”
  • O tipo de propriedades consideradas na modelagem de operações é propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, exatamente aquele objeto que falta para compor uma operação de troca.
  • O elemento central deste modelo de operações agora é a Forma de produção, em um sistema absoluto no qual “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [o objeto da operação, aquele que falta para compor a operação de troca] assume o ser que lhe é próprio.
  • Nesse modelo de operações a representação (projeto) daquele objeto que faltava para eventual operação de troca é construída e dessa construção de nova representação surgem as propriedades sim-originais e sim-constitutivas que descrevem essa representação construída.

2.  Fluxo: no caminho do Instanciamento da representação:

A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.

A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.

A empiricidade objeto será instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento não muda.

Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e há fluxos vários, que são mostrados na página indicada.

Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clássico e sob o moderno. 

Veja isso na seguinte página:

Conceitos homônimos mas com significados diferentes entre a configuração do pensamento na idade clássica e no pensamento moderno

Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:

  • 0. as duas leituras para o fenômeno ‘operações’, as duas origens para a essência da linguagem e correspondentes duas possibilidades de análise de valor;
  • 1. dois conceitos para o que seja um verbo;
  • 2. dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
  • 3. dois papéis atribuídos ao homem;
  • 4. dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento;
  • 5. duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova;
  • 6. dois conceitos para História;
  • 7. dois espaços gerais do saber;
  • 8. dois conceitos para tempo: calendário e absoluto;
  • 9. a proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações.
  • 10. Tabela de propriedades das duas configurações do pensamento.

Poderia transcrever aqui o conteúdo da página ‘Conceitos homônimos…’ cujo link acima dá acesso. Mas estaria fazendo uma repetição desnecessária: por favor, veja a página com os Conceitos homônimos com significados diferentes no antes e no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. que já vai ajudar bastante.

A análise das riquezas, junto com a gramática geral e a história natural, no pensamento clássico- o de antes de 1775, são contrapostas à análise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.

Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política

porque, na ordem do saber,
a produção não existe.

Em contrapartida,
existe, nos séculos XVII e XVIII,

uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econômicos

que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.

Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,

que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.


Esse domínio,

solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.

 Inútil colocar-lhe questões
vindas de uma economia de tipo diferente,

organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;

 inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,

com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de riquezas do pensamento filosófico clássico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)

O mínimo que somos chamados a fazer é esclarecer as razões pelas quais o conceito ‘riquezas’ é tão largamente utilizado; e as razões pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao período clássico.

As diferenças nas visões de ‘operações’ decorrentes do posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno, podem ser vistas em
E essas mudanças estão refletidas no tópico 
‘Uma anatomia ou uma Cartografia de modelos de operações em função da configuração do pensamento’
 
Para entender melhor os elementos de imagem 
  • ‘designações primitivas’
  • ‘linguagem de ação ou raiz’
que representam as origens de valor atribuído à proposição, veja nas palavras de Michel Foucault
Resumidamente, podemos ler operações posicionando o início da leitura desse fenômeno de duas maneiras diferentes:
  1. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ colocado no  cruzamento da disponibilidade entre dois objetos intervenientes na operação de troca: o que é dado e o que é recebido, testando as condições de troca;
  2. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ antes da disponibilidade de um dos objetos, testando desta vez a permutabilidade futura desse objeto e não imediatamente as condições de troca.

O carregamento de valor na proposição em cada caso:

  1. valor é carregado diretamente na proposição desde dentro do espaço da representação;
  2. valor é carregado na proposição desde fora do espaço da representação, com origens de valor externas ao espaço da representação, provenientes de:
    1. designações primitivas;
    2. linguagem de ação ou raiz.

Operações calcadas no Princípio Dual de trabalho de David Ricardo têm valor carregado na proposição e por elas para as representações como no segundo caso acima.

  • Unanimidades de conceitos pelo uso:
    • Mercado’,
    • Processo’,
    • Riquezas’;
  • Unanimidades de conceitos pelo não uso:
    • Lugar de nascimento do que é empírico’
    • Forma de produção’, 
    • Análise da produção’

As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso: ‘Mercado’, ‘Processo’, ‘Riquezas’ conceitos de antes da descontinuidade epistemológica e portanto na idade clássica, são campeões de unanimidade pelo uso; e os correspondentes conceitos do após a descontinuidade epistemológica e portanto da nossa modernidade no pensamento, campeões absolutos pelo não-uso: ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, ‘Forma de produção’, ‘Análise da produção unânimes pelo não uso.

“Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história

Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.

Lugar do nascimento do que é empírico é o lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empíricas] assume o ser que lhe é próprio.

Veja o modelo de operações – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que é empírico‘ é um lugar, mesmo, e não o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.

É um lugar onde as empiricidades objeto de operações têm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.

modo de ser fundamental de uma empiricidade é aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775 e 1825

A. Unanimidades de conceitos pelo seu uso:
Mercado‘, “Processo‘, ‘Riquezas

1.      A primeira unanimidade pelo uso, é a utilização de ‘Mercado’, economia de mercado, e variações.

“Certamente, para Ricardo como para Smith,
o trabalho pode realmente
medir a equivalência das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:”

“Na infância das sociedades,
o valor permutável das coisas
ou a regra que fixa a quantidade que se deve dar
de um objeto por outro
só depende da quantidade comparativa de trabalho
que foi empregada na produção de cada um deles.” 

A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    •  não apenas porque este seja representável  em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmente porque
      o trabalho como atividade de produção
      é a fonte de todo valor”.

Já não pode este ser definido, como na idade clássica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras. 

O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto.
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou,
ou se, pelo menos, seu valor está em proporção a esse trabalho,
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante
e permutável sob todos os céus e em todos os tempos,
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho.
E a melhor prova disso está em que o valor das coisas
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salários
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.”

Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros,
os valores realmente têm ainda um poder de representação.
Extraem esse poder, porém, de outra parte –
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.

Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca
servem de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith,
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),

desde Ricardo,
a possibilidade da troca está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

2.      A segunda unanimidade pelo uso, é ‘Processo’

Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenômeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.

Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

Qualquer coisa para a qual for possível estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação à região onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como Saída. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade não-original e não-constitutiva, ou uma “aparência”. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas não são utilizadas.

Veja aqui duas coisas:

“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, a do verde e da árvore,
a do homem e da existência ou da morte;
é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III.  A teoria do verbo

para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clássica, veja na página sobre o funcionamento das operações, as animações sobre o tempo nos dois períodos, e associe o tempo ‘calendário’ à parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos. 

3.      A terceira unanimidade pelo uso é ‘Riquezas’

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo, não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe.
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.
Esse domínio, solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.

Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de valor do pensamento filosófico anterior, o clássico, de antes de 1775.

B.   Unanimidades de conceitos pelo não uso: ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, ‘Forma de produção’, ‘Análise da produção

1.      Primeira unanimidade pelo não uso:
‘Lugar de nascimento do que é empírico’

Veja novamente a animação central sob o título ‘Diante do objeto’ na página

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenômeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação está em desenvolvimento e que, futuramente, poderá ser levada ao circuito das trocas.

O Lugar de nascimento do que é empírico compreende dois sub-espaços:

  • o Lugar desde onde se fala, no interior do domínio do Pensamento e da Língua;
  • e o Lugar do falado, no interior do domínio do Discurso e da Representação.

É parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaço das representações, no interior do domínio do Discurso e da Representação.

É assim que funciona o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.

2.      Segunda unanimidade pelo não uso: ‘Forma de produção’

A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:

“É preciso, portanto, 
tratar esse verbo como um ser misto, 
ao mesmo tempo 
palavra entre as palavras, 
preso às mesmas regras, 
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; 
e depois
em recuo em relação a elas todas, 
numa região que não é aquela do falado 
mas aquela donde se fala. 
Ele está na orla do discurso, 
na juntura entre aquilo que é dito 
e aquilo que se diz, 
exatamente lá onde os signos 
estão em via de se tomar linguagem.” 
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
 Cap. IV – Falar; tópico III.  A teoria do verbo

Veja agora que esse verbo está postado na região ‘desde onde se fala’, um sub-espaço do ‘Lugar do nascimento do que é empírico’, e no interior do domínio do Pensamento e da Língua, onde a articulação com o impensado pode ter início para uma representação ainda não existente, – e não na região do falado, esta no interior do domínio do Discurso e da Representação. Foucault é preciso a esse respeito: ‘Ele está na orla do discurso, na juntura…’

Veja a página

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith e o de David Ricardo, de 1817

Nessa mesma página, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.

A animação central da página Funcionamento… com o título ‘Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda não representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponível em uma operação de troca já descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.

Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:

  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho,
    mas primeiro e fundamentalmente
    porque o trabalho como atividade de produção
    é “a fonte de todo valor”.

Tudo o que está representado na página Funcionamento… na animação central ‘Diante do objeto’ está completamente fora do pensamento que pensa operações no cruzamento do que é dado e o que é recebido.

Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação está fora do modo como operações são vistas como fenômeno.

Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.

3.      Terceira unanimidade pelo não uso: ‘Análise da produção’

O pensamento clássico, aquele que dispunha da História natural, da Análise das riquezas e da Gramática geral, fazia a Análise das riquezas.

O pensamento moderno efetua em seu lugar, a Análise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clássico, a Análise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.

  • modelos com estrutura clássica
    • o modelo descritivo de operações de produção de Elwood S. Buffa;
    • o Diagrama FEPSC(SIPOC)/Six Sigma;
    • os modelos na visão contábil-financeira:
      • de operações (Débito/Crédito)
      • e de organização (Ativo – Passivo – Resultados) ;

  • modelos com estrutura moderna
    • o modelo descritivo de operações de produção do Kanban;
    • o modelo expresso na Figura 7.1 – mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, de Michael Hammer;

Note que, visto mais de perto, e desde que com a perspectiva de procura de quais são as condições de possibilidade do pensamento, o modelo da Reengenharia é claramente um modelo moderno.

E ele sugere a disposição SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica que apresentamos explicitamente formulada, a seguir.

  • Funcionamento das operações em modelos feitos sob as configurações de pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;


  • Sistema Formulador – uma alteração no modelo de dados clássico de um SDGP – Sistema Dedicado à Gestão de Projetos  – como o MS Project 4.0 por exemplo, fazendo com que ele passe a funcionar a partir de banco de dados 9com a linguagem de uso) e com um modelo sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto que se pretende concretizar.

Página de passagem para Sanfona

Veja essa história em uma animação que está em 

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas, 
contada pelo próprio autor no Prefácio

A ideia aqui é sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis 

  • o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clássico;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
  • associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operações)
  • o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso. 
  • Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
    • seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, 
    • porque arruínam de antemão a sintaxe
      • e não somente a sintaxe que constrói as frases
      • também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operações, e também modelos de organizações.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do Prefácio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’: 

“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento  histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo 
e com o qual, queiramos ou não, pensamos, 
se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação.
  • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir, inversamente, para além do objeto,
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha); Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Veja isso em 

Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,

com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.

Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:  

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir,
       inversamente, para além do objeto, 
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem 

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas com a impossibilidade 
      de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas sem essa impossibilidade, com a possibilidade
      de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas nos quais 
      foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos 
      os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
      estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

Veja isto em 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault

De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:

  • antes de 1775 – pensamento clássico ou idade clássica do pensamento, com modelos com a (im)possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação;
  • depois de 1825 – pensamento moderno ou a nossa modernidade no pensamento, com modelos com a possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação.

Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dá o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.

Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clássico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clássica.

eúdo da sanfona

“Instaura-se uma forma de reflexão, 
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana, 
em que está em questão, pela primeira vez, 
o ser do homem, nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento se dirige ao impensado 
e com ele se articula.”
 
Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado

Nesse excerto da Cartilha, Foucault coloca na proposição:

  • o ser do homem (o sujeito)
  • dirigindo-se ao objeto, o impensado,  (atributo do predicado do sujeito). 

Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura ‘ o ser do homem’ não se dirige ao intangível!  

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrário do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.  

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

Veja isso na página: 

Funcionamento das operações para as configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

veja também o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.

Note que a amplitude da visão do fenômeno ‘operações’ é muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visão do fenômeno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e também o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua; enquanto que sob o pensamento clássico o fenômeno é visto apenas a partir da fase de instanciamento.

Veja que há uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clássico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

Certifique-se dessa correspondência visualizando as figuras feitas para os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

a página que o link acima dá acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com

as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ com as duas origens da essência da linguagem (interna e externa), e correspondentes duas possibilidades de análise de valor;

Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:

  • pensamento clássico, o de antes de 1775;
    • não há construção de representações; 
    • domínio: do Discurso e da Representação;
    • elemento central: Processo
    • ordem: Quadro de simultaneidades com um Sistema de categorias. (pode ser múltipla, e de uso simultâneo).
  • pensamento moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • Lugar do nascimento do que é empírico;
        • Lugar desde onde se fala: domínio do Pensamento e da Língua;
        • Lugar do falado: domínio do Discurso e da Representação.
      • elemento central: Forma de produção;
      • ordem: única, dada pelas regras da gramática da língua utilizada.
      • origens de valor
        • designações primitivas;
        • linguagem de ação ou de uso: Repositório
    • caminho do Instanciamento da representação;
      • domínio do Discurso e da Representação;
        • Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório.

Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece, em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações.

  • operação sob o pensamento clássico, antes de 1775
    • O circuito das trocas (Mercado), 
    • no interior do domínio do Discurso e da representação.
  • operação sob o pensamento moderno, depois de 1825
    • operação de Construção da representação: o Lugar de nascimento do que é empírico;
    • no interior de dois domínios
      • o domínio do Pensamento e da língua;
        • o Lugar desde onde se fala;
      • o domínio do Discurso e da representação.
        • o Lugar do falado.
  • o Circuito das trocas (Mercado) nas operações de instanciamento de representação anteriormente existente sob o pensamento moderno.

Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clássico e sob o moderno:

Conceitos homônimos mas com significados diferentes entre a configuração do pensamento na idade clássica e no pensamento moderno

  • 0. as duas leituras para o fenômeno ‘operações’, as duas origens para a essência da linguagem e correspondentes duas possibilidades de análise de valor;
  • 1. dois conceitos para o que seja um verbo;
  • 2. dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
  • 3. dois papéis atribuídos ao homem;
  • 4. dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento;
  • 5. duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova;
  • 6. dois conceitos para História;
  • 7. dois espaços gerais do saber;
  • 8. dois conceitos para tempo;
  • 9. a proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações.
  • 10. Tabela de propriedades das duas configurações do pensamento.

A análise das riquezas, junto com a gramática geral e a história natural, no pensamento clássico- o de antes de 1775, são contrapostas à análise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.

Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política

porque, na ordem do saber,
a produção não existe.

Em contrapartida,
existe, nos séculos XVII e XVIII,

uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econômicos

que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.

Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,

que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.


Esse domínio,

solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.

 Inútil colocar-lhe questões
vindas de uma economia de tipo diferente,

organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;

 inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,

com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de riquezas do pensamento filosófico clássico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)

O mínimo que somos chamados a fazer é esclarecer as razões pelas quais o conceito ‘riquezas’ é tão largamente utilizado; e as razões pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao período clássico.

As diferenças nas visões de ‘operações’ decorrentes do posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno, podem ser vistas em
E essas mudanças estão refletidas no tópico 
‘Uma anatomia ou uma Cartografia de modelos de operações em função da configuração do pensamento’
 
Para entender melhor os elementos de imagem 
  • ‘designações primitivas’
  • ‘linguagem de ação ou raiz’
que representam as origens de valor atribuído à proposição, veja nas palavras de Michel Foucault
Resumidamente, podemos ler operações posicionando o início da leitura desse fenômeno de duas maneiras diferentes:
  1. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ colocado no  cruzamento da disponibilidade entre dois objetos intervenientes na operação de troca: o que é dado e o que é recebido, testando as condições de troca;
  2. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ antes da disponibilidade de um dos objetos, testando desta vez a permutabilidade futura desse objeto e não imediatamente as condições de troca.

O carregamento de valor na proposição em cada caso:

  1. valor é carregado diretamente na proposição desde dentro do espaço da representação;
  2. valor é carregado na proposição desde fora do espaço da representação, com origens de valor externas ao espaço da representação, provenientes de:
    1. designações primitivas;
    2. linguagem de ação ou raiz.

Operações calcadas no Princípio Dual de trabalho de David Ricardo têm valor carregado na proposição e por elas para as representações como no segundo caso acima.

Página de passagem Sanfona

Veja essa história em uma animação que está em 

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas, 
contada pelo próprio autor no Prefácio

A ideia aqui é sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis 

  • o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clássico;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
  • associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operações)
  • o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso. 
  • Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
    • seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, 
    • porque arruínam de antemão a sintaxe
      • e não somente a sintaxe que constrói as frases
      • também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operações, e também modelos de organizações.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do Prefácio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’: 

“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento  histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo 
e com o qual, queiramos ou não, pensamos, 
se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação.
  • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir, inversamente, para além do objeto,
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha); Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Veja isso em 

Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,

com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.

Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:  

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir,
       inversamente, para além do objeto, 
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem 

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas com a impossibilidade 
      de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas sem essa impossibilidade, com a possibilidade
      de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas nos quais 
      foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos 
      os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
      estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

teste acc

[elementor-template id=”29924″]

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.
Alternar conteúdo
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.
Alternar conteúdo

O que exatamente Foucault via quanto a modos distintos de absorver o mundo,
tais como descritos na Cartilha (o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’)

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz. Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’: 

“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento  histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação.
  • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir, inversamente, para além do objeto,
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

    As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (a Cartilha)
    Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Veja isso em Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho, com especial destaque para o segundo obstáculo, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo modelos das ciências humanas.

Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:  

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir,
      inversamente, para além do objeto,
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem 

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas com a impossibilidade
      de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas sem essa impossibilidade, com a possibilidade,
      de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas nos quais 
      foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos
      os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:
      estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’,
contada por Michel Foucault no Prefácio desse livro, e associada a imagens

Veja essa história em uma animação que está em 

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio

A ideia aqui é sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfís 

  • a ideia que deu origem ao livro: um texto de Borges;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
  • o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso. 
  • Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
  • seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, 
    • porque arruínam de antemão a sintaxe
      • e não somente a sintaxe que constrói as frases
      • também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operações, e também modelos de organizações.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do Prefácio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

A descontinuidade epistemológica em nossa cultura posicionada por Foucault entre 1775 e 1825

Veja isto em Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825, segundo Michel Foucault

Alterações no fenômeno ‘operações’, as duas origens de valor nas representações, as correspondentes configurações na própria linguagem e consequentes diferenças no funcionamento do pensamento, e seus modelos em cada caso

Veja isso em 
Para entender melhor os elementos de imagem 
  • ‘designações primitivas’
  • e ‘linguagem de ação ou raiz’
que representam as origens de valor atribuído à proposição, veja

A forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura

“Instaura-se uma forma de reflexão,
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana,
em que está em questão, pela primeira vez,
o ser do homem, nessa dimensão segundo a qual
o pensamento se dirige ao impensado
e com ele se articula.”

Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado

Foucault, nesse excerto da Cartilha, coloca o ser do homem (o sujeito) dirigindo-se ao objeto, o impensado, na posição de atributo do predicado do sujeito. 

Nota: Essa forma de reflexão que se instaura não se dirige ao intangível!  
Mas dirige-se ao impensado, objeto em relação ao qual o Pensamento pode muito.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Comentários sobre a entrevista de Jorge Forbes ao canal Inconsciente coletivo

  • o título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes com o anúncio da maior revolução nos laços sociais dos últimos 2800 anos;
  • o incômodo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrão e genérico, constituinte das ciências humanas, modelos estes que ocupam o espectro para ALÉM do objeto;
  • o totalmente dispensável rótulo ‘terra1’, se seu significado for o modo de ser do pensamento ‘anterior’, ou o pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775.
  • a frase de efeito Freud explica ⇒ Freud implica claramente depende do tipo de pensamento no qual está inserida e da respectiva visão do que sejam operações.

O título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes com o anúncio da maior revolução nos laços sociais dos últimos 2800 anos;

Essa alusão a uma revolução nos laços sociais dos últimos 2800 anos é desconsideração histórica do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade. 

Sugiro a Jorge Forbes que leia a Cartilha. 

Nesse meio tempo, podemos ver uma 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault, na qual movimentos do pensamento muito mais recentes e importantes surgiram em tempo muito mais recente.

Esse título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer “– Esqueça o que você sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo está errado” trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e há, a denúncia, como se atual fosse, de uma revolução ocorrida em passado remoto. A Cartilha mostra como e por que isso é verdade.

Se estou entendendo o que ele chama de ‘época anterior’ isso já tem um nome: pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1. Usando ‘pensamento filosófico clássico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse período, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc.  E usando a contraparte ‘pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamará de terra2 sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relações com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.

o incômodo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrão e genérico, constituinte das ciências humanas, modelos estes que ocupam o espectro para ALÉM do objeto;

“Me incomoda a noção de norma no sentido de que você sai de um laço social estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado, que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1.” Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.

Quanto ao incômodo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo à Cartilha, que me permite uma visão de conjunto muito mais completa e útil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domínio das ciências humanas: a ‘norma’ que incomoda Forbes, é a expressão das condições requeridas por uma ‘função’ que visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, compartilhada, da solução conseguida para a obtenção prática dessa função.

Vale a pena examinar o que se configura quase como 

Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domínio das ciências humanas

em três tempos:

  • o espaço geral dos saberes sob o pensamento moderno chamado por Foucault de Triedro dos saberes; com as faces e eixos do Triedro dos saberes;
  • a classe de modelos das ciências humanas;
  • o uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram formados.

examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:

“Assim, estes três pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.” Cartilha; Cap. 10 – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes

Esse excerto da Cartilha dá-nos conta de que esses três pares de modelos constituintes, das ciências 

  • da Vida (Biologia) par constituinte  [função-norma] 
  • do Trabalho (Economia)  par constituinte [conflito-regra]
  • da Linguagem (Filologia) par constituinte  [significação-sistema] 

estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a análise da produção. 

Forbes supostamente está analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, está elaborando bem no campo de uma ciência humana capaz disso. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual 

  • o par constituinte dominante é escolhido por quem formula o modelo, 
  • e os coeficientes que determinam o mix da composição no modelo específico, que estabelecem a proporção em que entram no modelo os três pares constituintes são também escolhidos pelo analista formulador. 

Isso evidencia que esse incômodo de Forbes com a ‘norma’ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laços sociais porque estes estão afetos, 

  • desde logo às ‘funções’ normatizadas pela ‘norma’ (o par constituinte do quase-transcendental Vida), 

mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais: 

  • [conflito-regra] da Economia, 
  • e [significação-sistema] da Filologia.

É claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirável do espaço dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto. 

Mas por que exatamente faríamos isso?

Sobre as qualidades que Forbes atribui à época anterior, que ele chama de terra1

  1. estandardização,
  2. padronização,
  3. rigidez,
  4. hierarquia,
  5. linearidade,
  6. focalização

Por favor acompanhe a operação que ocorre no caminho da Construção da representação, que acontece no interior do Lugar do nascimento do que é empírico, sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, da qual resulta uma nova representação para a empiricidade objeto dessa operação, um modelo pertencente ao segmento DIANTE do objeto. Isso pode ser visto 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois
da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Agora, quanto às condições de possibilidade do pensamento para o depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, especificamente os princípios organizadores do pensamento nesse período, veja o que diz Foucault:

 “De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,
a Analogia e a Sucessão:
de uma organização a outra,
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vários elementos,
mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; (…)
Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história

Se acompanhamos a mecânica de funcionamento de uma operação de construção de representação (projeto) para alguma coisa – Foucault chama essa coisa de empiricidade objeto) sabemos que é impossível concluir essa construção de uma representação sem construir uma hierarquia.

Toda e qualquer representação construída tendo Analogia e Sucessão como princípios organizadores do pensamento terá como resultado um objeto análogo composto de uma coleção de objetos análogos relacionados entre si em uma hierarquia.

Para focalizar esta argumentação, deixo de comentar os outros atributos de terra1.

A frase  “Freud explica ⇒ Freud implica”

Essa frase (de efeito) depende da visão de operações adotada, que o vídeo de Forbes não permite  perceber claramente qual seja. Dito do modo como foi dito: 

  • se posta sob o perfil da configuração do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo Foucault, a frase se justifica; 
  • mas sob o perfil do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825,  ‘explicação’ consiste em uma busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites isto é, pelos elementos de sustentação na experiência de uma Forma de produção, e o resultado é a construção de representação nova. Logo, não é mais verdade que no ‘explica’, agora sob o perfil do pensamento filosófico moderno, tenhamos um saber anterior ao ato, porque é exatamente o ato o elemento constituinte de saber novo que não existia antes.

Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação (projeto) para uma empiricidade objeto. Fica claro – entendida essa sistemática de funcionamento – que a operação tem início sem conhecimento sobre o que é objeto de explicação, e termina com esse conhecimento.

Comentários sobre a narrativa de Christian Dunker no video do canal Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento

  • matriz que sustenta a noção de sujeito na modernidade composta por autores todos inseridos no modo de ser do pensamento clássico;
  • indicação de Adam Smith e David Ricardo juntos, como pertencentes ao bloco de sustentação da noção de sujeito na modernidade;

matriz que sustenta a noção de sujeito na modernidade composta por autores todos inseridos no modo de ser do pensamento clássico;

“Antes do fim do século XVIII, o homem não existia.
Não mais que a potência da vida, a fecundidade do trabalho
ou a espessura histórica da linguagem. (…)
Certamente poder-se-ia dizer que
a gramática geral, a história natural, a análise das riquezas
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem,
mas é preciso discernir.
Sem dúvida, as ciências naturais –
trataram do homem
como de uma espécie ou de um gênero:
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.
Mas não havia consciência epistemológica do homem como tal.
A episteme clássica se articula segundo linhas que de modo algum
isolam o domínio próprio e específico do homem.”
Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica; tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política porque,
na ordem do saber, a produção não existe. “ 
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas

Isso é o que nos ensina a Cartilha. Mesmo assim, há quem fale de uma certa matriz de autores, na análise de Foucault, todos clássicos, – e que, portanto trataram do homem como de uma espécie ou de um gênero – mas que mesmo assim, formam a base para a noção de sujeito na modernidade. Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero? (Ref. Canal Falando nisso, 254 – Liberalismo e sofrimento, de Christian Dunker

indicação de Adam Smith e David Ricardo juntos, como pertencentes ao bloco de sustentação da noção de sujeito na modernidade;

“A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte: 

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa, não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho, mas primeiro e fundamentalmente 
    • porque o trabalho como atividade de produção
      é “a fonte de todo valor”.

“Enquanto no pensamento clássico o comércio e a troca servem de base insuperável para a análise das riquezas (e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),  desde Ricardo, a possibilidade da troca está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante, deverá sempre preceder a da circulação.”
Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Vê-se que a amplitude da visão do que sejam operações, em David Ricardo, é muito maior se comparada à amplitude da visão de Adam Smith. Para Ricardo toda ‘aquela atividade que está na raiz do valor das coisas’, a produção, está incluída, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que não acontece em Adam Smith.

Mesmo assim, no vídeo Falando nisso 254, e no contexto da análise da incidência do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo são tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ‘matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!

Comentários sobre a narrativa de Christian Dunker no vídeo do canal Falando nisso 150 – Signo, significação e significado

  • a indicação das bases das psicanálises de Freud e de Lacan respectivamente na representação e fora dela
  • as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ segundo o posicionamento do ponto de início de leitura no cruzamento das disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca ou antes do momento da troca, quando um dos objetos envolvidos não está disponível e correspondentes origens do valor carregado pela proposição.

Na Cartilha, Foucault não hesita em classificar Freud como um autor moderno, e o pensamento clássico como ‘aquele para o qual a representação existe’. Mesmo assim, há quem diga que a base da economia psíquica de Freud, em sua psicanálise, era na representação (como base, a representação é uma característica de modelos clássicos), e a inovação de Lacan teria sido a de formular a sua psicanálise desde fora da representação (uma característica de modelos modernos, mas que a psicanálise de Freud, segundo Foucault, já apresentava. Então, afinal, o que foi que fez Lacan? (Ref. Canal Falando nisso, 150 – Signo, significação e significado.

Não adianta atentarmos para “aparências” (propriedades não originais e não-constitutivas) do que vemos ou ouvimos; e ao falar de mudanças, vamos precisar de propriedades sim-originais e sim-constitutivas, que não são evidentes em teorias, modelos e sistemas prontos, já configurados e em utilização. Raramente temos consciência sobre quais sejam as condições de possibilidade no pensamento para o modelo de absorção do mundo que queiramos ou não, usamos. Pode haver uma contaminação em modelos simultaneamente utilizados em nosso ambiente.

Quem passou pela operação de alfabetização para leitura dos modelos à disposição para absorver o mundo e sabe diferenciá-los, colocado diante de uma história nova, ou de uma música nunca ouvida, antes de mais nada procura identificar quais são suas condições de possibilidade no pensamento para depois avaliar as especificidades da obra formulada e configurada que tem diante de si.

A grande maioria das pessoas, porém, aborda imediatamente a formidável produção do pensamento – a história ou a música nunca lidas e nunca ouvidas, já pronta, e difundida. E muito provavelmente faz isso – embora sem perceber – mas usando exatamente o mesmo modelo não questionado com o qual absorveu o mundo desde sempre.

Sim, precisamos estar atentos àquilo que dá condições de possibilidade no pensamento ao nosso próprio modelo padrão e que nos permite ver o que vemos e ouvir o que ouvimos. E precisamos nos dispor a ajustar as condições de possibilidade do nosso pensamento, as do modelo padrão que usamos, alterando-o para atender às exigências específicas da mudança. Isso pode dar origem a um novo modelo, com o qual nos seja possível absorver novos textos e novas partituras, eventualmente os trazidos pela mudança anunciada; sem essa disposição de questionamento, continuaremos a absorver o mundo do mesmo modo de sempre e a inovação ficará reduzida a mero modismo de pouca duração. Há muitos exemplos de revoluções que acabaram esquecidas.

as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ segundo o posicionamento do ponto de início de leitura no cruzamento das disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca ou antes do momento da troca, quando um dos objetos envolvidos não está disponível e correspondentes origens do valor carregado pela proposição.

No vídeo 150 – Signo, significação e significado, a narrativa percebe uma alternativa importante, a saber, as bases na representação ou fora da representação de uma produção do pensamento como a psicanálise.

Embora no pensamento de Michel Foucault na Cartilha a psicanálise de Freud tenha sua base já fora da representação, e provavelmente isso também  ocorreria com a de Lacan se Foucault tivesse podido comentar o trabalho dele, mas o movimento desde base na representação para base fora da representação é importante.
 
Porém, no vídeo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, esse importante movimento do pensamento passa completamente despercebido.

A despeito disso, o movimento ocorreu. E foi determinante já no pensamento de David Ricardo, em 1817.

as duas configurações da linguagem correspondentes às duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’, que se distinguem pelas duas diferentes origens para o valor atribuído às proposições e por elas carregado para a representação.

Veja agora os dois princípios para o que seja trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, e note que entre os dois há como distinção exatamente essas duas configurações da linguagem com as duas diferentes origens do valor atribuído às proposições e por elas carregado para as representações.

Os dois princípios para o que seja trabalho utilizados simultaneamente em nossa cultura

O sambinha de uma nota só (com três ritmos):
Mercado, Processo, Riquezas; quando poderia ser uma sinfonia com Lugar de nascimento do que é empírico, Forma de produção e Análise da produção

Vejo ainda nos discursos atuais, explicativos dessas construções do pensamento, por exemplo os do liberalismo, ou teorias socioeconômicas, ou ainda os da produção, algumas unanimidades quanto ao uso, e percebo também unanimidades quanto ao não-uso ou desuso de determinados conceitos, provavelmente indicadores da extrema generalidade do desalinhamento filosófico existente:

ü  Mercado, Processo, Riquezas, são conceitos que formam uma unanimidade
pelo seu uso;

ü  Lugar de nascimento do que é empírico, Forma de produção e Análise da produção, são conceitos que formam unanimidade também,
mas pelo seu desuso, ou pelo seu não uso.

Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’ é específico em relação a esses conceitos.

Veja a seguinte relação de proporcionalidade envolvendo os conceitos de Mercado e de Lugar de nascimento do que é empírico:

  • Mercado (entendido como o circuito onde ocorrem as trocas)
  • está para Lugar de nascimento do que é empírico, (entendido como o lugar onde a empiricidade objeto de uma operação ‘assume o ser que lhe é próprio’ tendo alterado o seu ‘modo de ser fundamental’);

assim como

  • o pensamento clássico (o de antes de 1775) 
  • está para o pensamento moderno (o de depois de 1825).

Veja esta outra relação envolvendo os conceitos de Processo, Forma de produção, e os princípios de trabalho de Adam Smith e de David Ricardo:

  • Processo (como elemento central de modelos de operações na idade clássica)
  • está para a Forma de produção (o elemento central em modelos de operação de construção de representações novas) 

assim como

  •  o Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, 
  • está para o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

 

Quatro exemplos de modelos descritivos da produção existentes, e usados, alguns deles muito, e baseados na representação e fora dela, sem que ninguém reclame dessa confusão epistemológica.

  • modelos com estrutura clássica (segmento do espectro AQUÉM do objeto)
    • modelo descritivo da produção de Elwood S. Buffa e modelo de Organização empresarial típica;
    • modelo de operações e modelo da organização, da contabilidade;
    • modelo FEPSC/SIPOC da Six Sigma
  • modelos com estrutura moderna (modelos no segmento do espectro DIANTE do objeto)
    • modelo descritivo da produção do Kanban;
    • o Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, de Michael Hammer 
  • modelos no espaço das Ciências humanas (modelos no segmento do espectro
    para ALÉM do objeto)

Anexo v2 do e-mail a Morris Kachani

Reflexões imaginativas no espaço-tempo das Permanências, e também dos Fluxos

com a licença de Augusto de Franco pelo enxerto (quase paráfrase) feito sobre o título de um de seus trabalhos.

  • Influências e inspirações;
  • Plataforma adotada para exposição de ideias;
  • Imaginação e Conceituação: funções humanas reversíveis entre ocorrências espacio-temporais – imagens – textos;
  • Os caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana Romesin;
  • Nosso roteiro e nossa inspiração. 

[elementor-template id=”31214″]

Veja aqui os seguintes pontos:

  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ tal como visto por seu autor, Michel Foucault;
  • A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ contada por Michel Foucault no Prefácio desse livro, associada a imagens;
  • O que exatamente Foucault via quanto ao que acontecia com as formas de pensamento em nossa cultura e a modos distintos de absorver o mundo;
  • O espaço a ser ocupado pelo estudo em estilo de arqueologia realizado no ‘As palavras e as coisas’;
  • A descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura, posicionada por Michel Foucault entre os anos de 1775 e 1825;
  • A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura e os dois perfis de conceitos característicos das duas configurações do pensamento; 
  • Conceitos homônimos mas com significados diferentes entre o pensamento clássico, o de antes de 1775, e o moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault;
  • A análise das riquezas: (riquezas: um domínio, solo e objeto da “economia” na idade clássica, segundo Michel Foucault);
  • As duas opções alternativas para a visão do fenômeno ‘operações’, com diferentes abrangências, e as respectivas duas origens do valor carregado pelas proposições para as representações; as correspondentes duas configurações de funcionamento da própria linguagem e do pensamento, e os modelos resultantes em cada caso.

Veja esses pontos a seguir:

[elementor-template id=”30091″]

Veja a seguir os pontos:

  • O funcionamento de operações – do pensamento, as de produção, as de troca, antes e depois desse evento fundamental em nossa cultura, antes e depois dele;
  • Uma Anatomia ou uma Cartografia de modelos de operações em função da configuração do pensamento;
  • Metáforas adequadas para modelos de operações respectivamente para cada configuração do pensamento;
  • Propriedades emergentes dos modelos de operações e organizações em função da configuração do pensamento utilizada.

[elementor-template id=”30094″]

Veja a seguir os pontos:

  • Temos um samba de uma nota só (com três ritmos):
    • unanimidades pelo uso dos conceitos:

Mercado‘, ‘Processo‘, ‘Riquezas;

  • quando poderíamos ter uma sinfonia
    • eliminando a unanimidade pelo não uso dos conceitos:

Lugar de nascimento do que é empírico‘, ‘Forma de produção‘ e ‘Análise da produção‘;

  • Alguns (7) exemplos de modelos descritivos de operações de produção e de organizações empresariais existentes, e usados em nosso ambiente, alguns deles muito utilizados, e baseados tanto na representação como fora dela, sem que ninguém reclame dessa confusão epistemológica;
  • A Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica: o exercício de um pensamento organizado pelo par sujeito-objeto.

Os detalhes estão a seguir:

[elementor-template id=”30103″]

Anexo ao e-mail dirigido a Morris Kachani

Anexo ao e-mail dirigido a Morris Kachani

O que exatamente Foucault via quanto a modos distintos de absorver o mundo,
tais como descritos na Cartilha (o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’)

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz. Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’: 

“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento  histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação.
  • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir, inversamente, para além do objeto,
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

    As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (a Cartilha)
    Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Veja isso em Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho, com especial destaque para o segundo obstáculo, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo modelos das ciências humanas.

Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:  

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir,
      inversamente, para além do objeto,
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem 

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas com a impossibilidade
      de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas sem essa impossibilidade, com a possibilidade,
      de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas nos quais 
      foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos
      os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:
      estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’,
contada por Michel Foucault no Prefácio desse livro, e associada a imagens

Veja essa história em uma animação que está em 

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio

A ideia aqui é sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfís 

  • a ideia que deu origem ao livro: um texto de Borges;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
  • o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso. 
  • Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
  • seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, 
    • porque arruínam de antemão a sintaxe
      • e não somente a sintaxe que constrói as frases
      • também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operações, e também modelos de organizações.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do Prefácio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

A descontinuidade epistemológica em nossa cultura posicionada por Foucault entre 1775 e 1825

Veja isto em Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825, segundo Michel Foucault

Alterações no fenômeno ‘operações’, as duas origens de valor nas representações, as correspondentes configurações na própria linguagem e consequentes diferenças no funcionamento do pensamento, e seus modelos em cada caso

Veja isso em 
Para entender melhor os elementos de imagem 
  • ‘designações primitivas’
  • e ‘linguagem de ação ou raiz’
que representam as origens de valor atribuído à proposição, veja

A forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura

“Instaura-se uma forma de reflexão,
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana,
em que está em questão, pela primeira vez,
o ser do homem, nessa dimensão segundo a qual
o pensamento se dirige ao impensado
e com ele se articula.”

Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado

Foucault, nesse excerto da Cartilha, coloca o ser do homem (o sujeito) dirigindo-se ao objeto, o impensado, na posição de atributo do predicado do sujeito. 

Nota: Essa forma de reflexão que se instaura não se dirige ao intangível!  
Mas dirige-se ao impensado, objeto em relação ao qual o Pensamento pode muito.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Comentários sobre a entrevista de Jorge Forbes ao canal Inconsciente coletivo

  • o título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes com o anúncio da maior revolução nos laços sociais dos últimos 2800 anos;
  • o incômodo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrão e genérico, constituinte das ciências humanas, modelos estes que ocupam o espectro para ALÉM do objeto;
  • o totalmente dispensável rótulo ‘terra1’, se seu significado for o modo de ser do pensamento ‘anterior’, ou o pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775.
  • a frase de efeito Freud explica ⇒ Freud implica claramente depende do tipo de pensamento no qual está inserida e da respectiva visão do que sejam operações.

O título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes com o anúncio da maior revolução nos laços sociais dos últimos 2800 anos;

Essa alusão a uma revolução nos laços sociais dos últimos 2800 anos é desconsideração histórica do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade. 

Sugiro a Jorge Forbes que leia a Cartilha. 

Nesse meio tempo, podemos ver uma 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault, na qual movimentos do pensamento muito mais recentes e importantes surgiram em tempo muito mais recente.

Esse título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer “– Esqueça o que você sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo está errado” trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e há, a denúncia, como se atual fosse, de uma revolução ocorrida em passado remoto. A Cartilha mostra como e por que isso é verdade.

Se estou entendendo o que ele chama de ‘época anterior’ isso já tem um nome: pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1. Usando ‘pensamento filosófico clássico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse período, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc.  E usando a contraparte ‘pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamará de terra2 sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relações com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.

o incômodo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrão e genérico, constituinte das ciências humanas, modelos estes que ocupam o espectro para ALÉM do objeto;

“Me incomoda a noção de norma no sentido de que você sai de um laço social estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado, que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1.” Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.

Quanto ao incômodo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo à Cartilha, que me permite uma visão de conjunto muito mais completa e útil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domínio das ciências humanas: a ‘norma’ que incomoda Forbes, é a expressão das condições requeridas por uma ‘função’ que visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, compartilhada, da solução conseguida para a obtenção prática dessa função.

Vale a pena examinar o que se configura quase como 

Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domínio das ciências humanas

em três tempos:

  • o espaço geral dos saberes sob o pensamento moderno chamado por Foucault de Triedro dos saberes; com as faces e eixos do Triedro dos saberes;
  • a classe de modelos das ciências humanas;
  • o uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram formados.

examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:

“Assim, estes três pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.” Cartilha; Cap. 10 – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes

Esse excerto da Cartilha dá-nos conta de que esses três pares de modelos constituintes, das ciências 

  • da Vida (Biologia) par constituinte  [função-norma] 
  • do Trabalho (Economia)  par constituinte [conflito-regra]
  • da Linguagem (Filologia) par constituinte  [significação-sistema] 

estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a análise da produção. 

Forbes supostamente está analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, está elaborando bem no campo de uma ciência humana capaz disso. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual 

  • o par constituinte dominante é escolhido por quem formula o modelo, 
  • e os coeficientes que determinam o mix da composição no modelo específico, que estabelecem a proporção em que entram no modelo os três pares constituintes são também escolhidos pelo analista formulador. 

Isso evidencia que esse incômodo de Forbes com a ‘norma’ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laços sociais porque estes estão afetos, 

  • desde logo às ‘funções’ normatizadas pela ‘norma’ (o par constituinte do quase-transcendental Vida), 

mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais: 

  • [conflito-regra] da Economia, 
  • e [significação-sistema] da Filologia.

É claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirável do espaço dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto. 

Mas por que exatamente faríamos isso?

Sobre as qualidades que Forbes atribui à época anterior, que ele chama de terra1

  1. estandardização,
  2. padronização,
  3. rigidez,
  4. hierarquia,
  5. linearidade,
  6. focalização

Por favor acompanhe a operação que ocorre no caminho da Construção da representação, que acontece no interior do Lugar do nascimento do que é empírico, sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, da qual resulta uma nova representação para a empiricidade objeto dessa operação, um modelo pertencente ao segmento DIANTE do objeto. Isso pode ser visto 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois
da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Agora, quanto às condições de possibilidade do pensamento para o depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, especificamente os princípios organizadores do pensamento nesse período, veja o que diz Foucault:

 “De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,
a Analogia e a Sucessão:
de uma organização a outra,
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vários elementos,
mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; (…)
Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história

Se acompanhamos a mecânica de funcionamento de uma operação de construção de representação (projeto) para alguma coisa – Foucault chama essa coisa de empiricidade objeto) sabemos que é impossível concluir essa construção de uma representação sem construir uma hierarquia.

Toda e qualquer representação construída tendo Analogia e Sucessão como princípios organizadores do pensamento terá como resultado um objeto análogo composto de uma coleção de objetos análogos relacionados entre si em uma hierarquia.

Para focalizar esta argumentação, deixo de comentar os outros atributos de terra1.

Sobre a frase  “Freud explica ⇒ Freud implica”

Essa frase (de efeito) depende da visão de operações adotada, que o vídeo de Forbes não permite  perceber claramente qual seja. Dito do modo como foi dito: 

  • se posta sob o perfil da configuração do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo Foucault, a frase se justifica; 
  • mas sob o perfil do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825,  ‘explicação’ consiste em uma busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites isto é, pelos elementos de sustentação na experiência de uma Forma de produção, e o resultado é a construção de representação nova. Logo, não é mais verdade que no ‘explica’, agora sob o perfil do pensamento filosófico moderno, tenhamos um saber anterior ao ato, porque é exatamente o ato o elemento constituinte de saber novo que não existia antes.

Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação (projeto) para uma empiricidade objeto. Fica claro – entendida essa sistemática de funcionamento – que a operação tem início sem conhecimento sobre o que é objeto de explicação, e termina com esse conhecimento.

Comentários sobre a narrativa de Christian Dunker no video do canal Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento

  • matriz que sustenta a noção de sujeito na modernidade composta por autores todos inseridos no modo de ser do pensamento clássico;
  • indicação de Adam Smith e David Ricardo juntos, como pertencentes ao bloco de sustentação da noção de sujeito na modernidade;

matriz que sustenta a noção de sujeito na modernidade composta por autores todos inseridos no modo de ser do pensamento clássico;

“Antes do fim do século XVIII, o homem não existia.
Não mais que a potência da vida, a fecundidade do trabalho
ou a espessura histórica da linguagem. (…)
Certamente poder-se-ia dizer que
a gramática geral, a história natural, a análise das riquezas
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem,
mas é preciso discernir.
Sem dúvida, as ciências naturais –
trataram do homem
como de uma espécie ou de um gênero:
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.
Mas não havia consciência epistemológica do homem como tal.
A episteme clássica se articula segundo linhas que de modo algum
isolam o domínio próprio e específico do homem.”
Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica; tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política porque,
na ordem do saber, a produção não existe. “ 
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas

Isso é o que nos ensina a Cartilha. Mesmo assim, há quem fale de uma certa matriz de autores, na análise de Foucault, todos clássicos, – e que, portanto trataram do homem como de uma espécie ou de um gênero – mas que mesmo assim, formam a base para a noção de sujeito na modernidade. Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero? (Ref. Canal Falando nisso, 254 – Liberalismo e sofrimento, de Christian Dunker

indicação de Adam Smith e David Ricardo juntos, como pertencentes ao bloco de sustentação da noção de sujeito na modernidade;

“A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte: 

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa, não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho, mas primeiro e fundamentalmente 
    • porque o trabalho como atividade de produção
      é “a fonte de todo valor”.

“Enquanto no pensamento clássico o comércio e a troca servem de base insuperável para a análise das riquezas (e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),  desde Ricardo, a possibilidade da troca está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante, deverá sempre preceder a da circulação.”
Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Vê-se que a amplitude da visão do que sejam operações, em David Ricardo, é muito maior se comparada à amplitude da visão de Adam Smith. Para Ricardo toda ‘aquela atividade que está na raiz do valor das coisas’, a produção, está incluída, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que não acontece em Adam Smith.

Mesmo assim, no vídeo Falando nisso 254, e no contexto da análise da incidência do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo são tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ‘matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!

Comentários sobre a narrativa de Christian Dunker no vídeo do canal Falando nisso 150 – Signo, significação e significado

  • a indicação das bases das psicanálises de Freud e de Lacan respectivamente na representação e fora dela
  • as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ segundo o posicionamento do ponto de início de leitura no cruzamento das disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca ou antes do momento da troca, quando um dos objetos envolvidos não está disponível e correspondentes origens do valor carregado pela proposição.

Na Cartilha, Foucault não hesita em classificar Freud como um autor moderno, e o pensamento clássico como ‘aquele para o qual a representação existe’. Mesmo assim, há quem diga que a base da economia psíquica de Freud, em sua psicanálise, era na representação (como base, a representação é uma característica de modelos clássicos), e a inovação de Lacan teria sido a de formular a sua psicanálise desde fora da representação (uma característica de modelos modernos, mas que a psicanálise de Freud, segundo Foucault, já apresentava. Então, afinal, o que foi que fez Lacan? (Ref. Canal Falando nisso, 150 – Signo, significação e significado.

Não adianta atentarmos para “aparências” (propriedades não originais e não-constitutivas) do que vemos ou ouvimos; e ao falar de mudanças, vamos precisar de propriedades sim-originais e sim-constitutivas, que não são evidentes em teorias, modelos e sistemas prontos, já configurados e em utilização. Raramente temos consciência sobre quais sejam as condições de possibilidade no pensamento para o modelo de absorção do mundo que queiramos ou não, usamos. Pode haver uma contaminação em modelos simultaneamente utilizados em nosso ambiente.

Quem passou pela operação de alfabetização para leitura dos modelos à disposição para absorver o mundo e sabe diferenciá-los, colocado diante de uma história nova, ou de uma música nunca ouvida, antes de mais nada procura identificar quais são suas condições de possibilidade no pensamento para depois avaliar as especificidades da obra formulada e configurada que tem diante de si.

A grande maioria das pessoas, porém, aborda imediatamente a formidável produção do pensamento – a história ou a música nunca lidas e nunca ouvidas, já pronta, e difundida. E muito provavelmente faz isso – embora sem perceber – mas usando exatamente o mesmo modelo não questionado com o qual absorveu o mundo desde sempre.

Sim, precisamos estar atentos àquilo que dá condições de possibilidade no pensamento ao nosso próprio modelo padrão e que nos permite ver o que vemos e ouvir o que ouvimos. E precisamos nos dispor a ajustar as condições de possibilidade do nosso pensamento, as do modelo padrão que usamos, alterando-o para atender às exigências específicas da mudança. Isso pode dar origem a um novo modelo, com o qual nos seja possível absorver novos textos e novas partituras, eventualmente os trazidos pela mudança anunciada; sem essa disposição de questionamento, continuaremos a absorver o mundo do mesmo modo de sempre e a inovação ficará reduzida a mero modismo de pouca duração. Há muitos exemplos de revoluções que acabaram esquecidas.

as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ segundo o posicionamento do ponto de início de leitura no cruzamento das disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca ou antes do momento da troca, quando um dos objetos envolvidos não está disponível e correspondentes origens do valor carregado pela proposição.

No vídeo 150 – Signo, significação e significado, a narrativa percebe uma alternativa importante, a saber, as bases na representação ou fora da representação de uma produção do pensamento como a psicanálise.

Embora no pensamento de Michel Foucault na Cartilha a psicanálise de Freud tenha sua base já fora da representação, e provavelmente isso também  ocorreria com a de Lacan se Foucault tivesse podido comentar o trabalho dele, mas o movimento desde base na representação para base fora da representação é importante.
 
Porém, no vídeo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, esse importante movimento do pensamento passa completamente despercebido.

A despeito disso, o movimento ocorreu. E foi determinante já no pensamento de David Ricardo, em 1817.

as duas configurações da linguagem correspondentes às duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’, que se distinguem pelas duas diferentes origens para o valor atribuído às proposições e por elas carregado para a representação.

Veja agora os dois princípios para o que seja trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, e note que entre os dois há como distinção exatamente essas duas configurações da linguagem com as duas diferentes origens do valor atribuído às proposições e por elas carregado para as representações.

Os dois princípios para o que seja trabalho utilizados simultaneamente em nossa cultura

O sambinha de uma nota só (com três ritmos):
Mercado, Processo, Riquezas; quando poderia ser uma sinfonia com Lugar de nascimento do que é empírico, Forma de produção e Análise da produção

Vejo ainda nos discursos atuais, explicativos dessas construções do pensamento, por exemplo os do liberalismo, ou teorias socioeconômicas, ou ainda os da produção, algumas unanimidades quanto ao uso, e percebo também unanimidades quanto ao não-uso ou desuso de determinados conceitos, provavelmente indicadores da extrema generalidade do desalinhamento filosófico existente:

ü  Mercado, Processo, Riquezas, são conceitos que formam uma unanimidade
pelo seu uso;

ü  Lugar de nascimento do que é empírico, Forma de produção e Análise da produção, são conceitos que formam unanimidade também,
mas pelo seu desuso, ou pelo seu não uso.

Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’ é específico em relação a esses conceitos.

Veja a seguinte relação de proporcionalidade envolvendo os conceitos de Mercado e de Lugar de nascimento do que é empírico:

  • Mercado (entendido como o circuito onde ocorrem as trocas)
  • está para Lugar de nascimento do que é empírico, (entendido como o lugar onde a empiricidade objeto de uma operação ‘assume o ser que lhe é próprio’ tendo alterado o seu ‘modo de ser fundamental’);

assim como

  • o pensamento clássico (o de antes de 1775) 
  • está para o pensamento moderno (o de depois de 1825).

Veja esta outra relação envolvendo os conceitos de Processo, Forma de produção, e os princípios de trabalho de Adam Smith e de David Ricardo:

  • Processo (como elemento central de modelos de operações na idade clássica)
  • está para a Forma de produção (o elemento central em modelos de operação de construção de representações novas) 

assim como

  •  o Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, 
  • está para o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

 

Quatro exemplos de modelos descritivos da produção existentes, e usados, alguns deles muito, e baseados na representação e fora dela, sem que ninguém reclame dessa confusão epistemológica.

  • modelos com estrutura clássica (segmento do espectro AQUÉM do objeto)
    • modelo descritivo da produção de Elwood S. Buffa e modelo de Organização empresarial típica;
    • modelo de operações e modelo da organização, da contabilidade;
    • modelo FEPSC/SIPOC da Six Sigma
  • modelos com estrutura moderna (modelos no segmento do espectro DIANTE do objeto)
    • modelo descritivo da produção do Kanban;
    • o Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, de Michael Hammer 
  • modelos no espaço das Ciências humanas (modelos no segmento do espectro
    para ALÉM do objeto)

Psicanálise e etnologia

Psicanálise e etnologia

“A psicanálise, com efeito,
mantém-se o mais próximo possível
desta função crítica acerca da qual se viu   
que era interior a todas as ciências humanas.

Dando-se por tarefa
fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente,
a psicanálise avança na direção desta região fundamental
onde se travam as relações entre a representação e a finitude.
Enquanto todas as ciências humanas
só se dirigem ao inconsciente virando-lhe as costas,
esperando que ele se desvele à medida que se faz,
como que por recuos, a análise da consciência,
já a psicanálise aponta diretamente para ele, de propósito deliberado
– não em direção ao que deve explicitar-se pouco a pouco
na iluminação progressiva do implícito,
mas em direção ao que está aí e se furta,
que existe com a solidez muda de uma coisa, de um texto fechado sobre si mesmo,
ou de uma lacuna branca num texto visível e que assim se defende.

Não há que supor que o empenho freudiano
seja o componente de uma interpretação do sentido
e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;
seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
a psicanálise se encaminha em direção ao momento
– inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem,
a toda apreensão contínua em termos de significação, de conflito ou de função
em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que, ao contrário das ciências humanas que,
retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
permanecem sempre no espaço do representável,
a psicanálise avança para transpor a representação,
extravasá-la do lado da finitude e fazer assim surgir,
lá onde se esperavam

  • as funções portadoras de suas normas
  • os conflitos carregados de regras 
  • e as significações formando sistema

o fato nu de que pode haver 

  • sistema (portanto, significação), 
  • regra (portanto, oposição), 
  • norma (portanto, função). 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso,
à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude,
desenham-se as três figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funções e suas normas, vem fundar-se na repetição muda da Morte, 
  • os conflitos e as regras, na abertura desnudada do Desejo, 
  • as significações e os sistemas, numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei.

Sabe-se como psicólogos e filósofos denominaram tudo isso:
mitologia freudiana. 

Era realmente necessário que este empenho de Freud assim lhes parecesse;
para um saber que se aloja no representável,
aquilo que margeia e define, em direção ao exterior,
a possibilidade mesma da representação não pode ser senão mitologia.

Mas, quando se segue, no seu curso, o movimento da psicanálise,
ou quando se percorre o espaço epistemológico em seu conjunto,
vê-se bem que estas figuras – imaginárias, sem dúvida, para um olhar míope –
são as próprias formas da finitude, tal como é analisada no pensamento moderno:

  • não é a morte aquilo a partir de que o saber em geral é possível de sorte tal que ela seria, do lado da psicanálise, a figura desta reduplicação empírico-transcendental que caracteriza na finitude o modo de ser do homem? 
  • Não é o desejo o que permanece sempre impensado no coração do pensamento? 
  • E esta Lei-Linguagem (ao mesmo tempo fala e sistema da fala) que a psicanálise se esforça por fazer falar, não é aquilo em que toda significação assume uma origem mais longínqua que ela mesma, mas também aquilo cujo retorno
    é prometido no ato mesmo da análise? 

É bem verdade que nem esta Morte, nem este Desejo, nem esta Lei
podem jamais encontrar-se no interior do saber que percorre em sua positividade
o domínio empírico do homem; mas a razão disto é que designam
as condições de possibilidade de todo saber sobre o homem”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 10. As ciências humanas; tópico V – Psicanálise e etnologia

Espírito com que lhes escrevo

Espírito com que lhes escrevo

Escrevo-lhes tendo em mente

  • ‘A sociedade dos poetas mortos’, duas cenas desse filme que gostaria que revissem.
  •  ‘O louco e o poeta’, e por falar em poetas – os mortos e os vivos, acho importante lembrar este  excerto encontrado no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, de Michel Foucault, que em se tratando desse autor, também vale a pena reler para criar o clima receptivo para o que vem a seguir.

O que se segue consiste em uma relação entre:

  1. o meu entendimento pessoal do pensamento de Michel Foucault no magistral livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’; e
  2. uma coleção de modelos de operações e de organizações – alguns antológicos – no campo da produção, da gestão da produção e modelos da economia financeira.

Entre a) o meu entendimento pessoal do pensamento de Foucault;  e b) a coleção de modelos, isto é, o pensamento de projetistas de teorias, modelos e sistemas tal como posto em prática nos chamados domínios ‘técnicos’; a relação é feita por meio de um critério composto de elementos – características de características, ou características de segunda ordem -, dos modelos dessa coleção; são os seguintes os elementos integrantes desse critério: referencial, princípios organizadores do pensamento e métodos, para cada modelo; e estes elementos estão discriminados por Foucault para o pensamento em cada período histórico nos últimos dois séculos em nossa cultura. Funcionam como denominadores comuns entre modelos ‘da mesma idade e mesma geografia’, e o melhor, entre diferentes áreas do conhecimento, daí seu potencial integrador.

Esse critério, com esses elementos componentes, não é único, mas permite discernir, como diz Foucault ‘o modo de ser fundamental das empiricidades’ em cada período histórico; e lembremos que esse conceito, ‘modo de ser fundamental das empiricidades’, isto é, ‘aquilo que permite que elas sejam afirmadas, postas, dispostas, e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis’ As palavras e as coisas; Cap 7. Os limites da representação; tópico I – A idade da história; é o elemento ordenador da História a partir de um certo evento– uma descontinuidade epistemológica em nossa cultura, escolhido em substituição a outro conceito de história antes entendida como a sucessão de fatos tais como se constituíram.

Considero então que diante da necessidade de conseguir  um alinhamento do ponto de vista do pensamento filosófico entre, de um lado, desenvolvimentos feitos em áreas como a economia, a análise e gestão da produção, a sociologia e a psicanálise, entre outras; e de outro lado, o pensamento de filósofos em cada período histórico ao longo do tempo nos últimos dois séculos, esse critério de identificação e distinção pode ajudar bastante.

Veja, como evidência dessa necessidade de alinhamento, uma Cronologia da descontinuidade epistemológica situada por Michel Foucault entre 1775 e 1825, evento que ele chama de ‘evento fundador da nossa modernidade no pensamento’, e que tem os conceitos de história diferentes antes e depois dele. A cronologia desse evento mostra períodos em que as configurações do pensamento em nossa cultura mudaram fortemente.

Antes de mais argumentos acho que é interessante descobrir, mais sinteticamente, o que é que Foucault via de diferente entre as teorias, modelos e sistemas ao longo do tempo, e que o levava a considerar alguns tão diferentes dos outros. Uma boa pista para entender isso é Os dois obstáculos ou as duas pedras de tropeço encontrados por Michel Foucault em seu trabalho no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, nas palavras dele mesmo.

Em suma ele via só duas coisas: uma impossibilidade; e uma obrigação a ser cumprida.

  • A impossibilidade era a de certas configurações do pensamento, de serem incapazes de fundarem as sínteses (dos objetos do pensamento em suas operações) no espaço da representação;
    • o que nos leva a identificar modelos com essa impossibilidade;
    • e modelos sem essa impossibilidade, ou sim capazes de fundar as sínteses, etc. etc.
  • E a obrigação que ele via, corresponde ao portentoso passo adiante dado por ele, e que coroa toda a arqueologia das ciências humanas feita no ‘As palavras e as coisas’, descortinando para nós todo o espaço, o habitat das ciências humanas: a obrigação consistia em
    • abrir o campo transcendental da subjetividade,
    • e constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.

Assim, formando um trio: Vida, Trabalho e Linguagem – compondo uma região epistemológica fundamental. Diferente de Vida = [Desejo, Trabalho e Linguagem].

Essa impossibilidade e o cumprimento dessa obrigação já lançam alguma luz sobre teorias, modelos e sistemas porque permitem agrupá-los em três segmentos:

  • segmento AQUÉM do objeto – modelos sem a possibilidade de fundar as sínteses … ;
  • segmento DIANTE do objeto – modelos agora com a possibilidade de fundar as sínteses … ;
  • e para ALÉM do objeto – modelos construídos a partir dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem já constituídos, ou modelos das ciências humanas.

E especificamente sobre a noção de Riqueza

“Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial. 
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão.  Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais, as noções
de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse
Esse domínio, solo e objeto da “economia” na idade clássica, é o da riqueza. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas

O anacronismo muito comum em economistas, filósofos, historiadores das ciências, sintonizados com o liberalismo clássico e em suas variantes (Paulo Guedes) (Eduardo Moreira, Mônica De Bolle etc.) tão difundidos atualmente.

“Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.” 
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas

Sobre esses espaços do saber em que as mudanças no ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ se disseminaram, segundo o pensamento de Michel Foucault, o ‘As palavras e as coisas’ o livro descreve dois espaços gerais do saber, entendendo o espaço do saber aberto em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica com uma lógica: o bicho homem para que se constitua em humano precisa haver-se com a vida, o trabalho e a linguagem; assim, as ciências da Vida (Biologia) do Trabalho (Economia) e da Linguagem (Filologia) compõem a região epistemológica fundamental. E nesse percurso em direção à humanização, ele pode lançar mão dos conhecimentos em todas as outras áreas, formando o que Foucault chama de Triedro dos saberes. Veja As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas; tópico I

Veja Os dois espaços gerais do saber em cada segmento do espectro de modelos

Voltando ao vídeo 254, a façanha de Lacan na reformulação da psicanálise é ambientada ‘na linguagem’ e com entidades afeitas à fala. 

Michel Foucault mostra como isso funciona mostrando As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ na análise do que sejam ‘operações de troca’ e valor; com exemplos em imagens, figuras feitas para modelos muito usados.

 Eu acredito que essas coisas ditas por Michel Foucault podem e precisam ser cotejadas com teorias, modelos e sistemas existentes em nosso meio e em várias áreas, muito práticos e alguns largamente utilizados, (basta ter critério, – ou olhos devidamente armados -, para ver claramente) principalmente nos domínios da produção, da economia e também no campo dos levantamentos contábeis do setor econômico-financeiro.

Essa possibilidade de relacionamento com modelos muito usados é o que torna tais afirmativas feitas por Foucault independentes do que ele próprio tenha ou não dito.

O Projeto Formulador é um estudo que pretende justamente esse cotejamento, para identificar essas relações entre o que pensam os muitos filósofos que povoam o ‘As palavras e as coisas’ e os modelos descritivos da produção, ou os sistemas de gestão de operações ou projeto de organizações empresariais, como exemplos.

Por essas razões o que se segue pode valer a pena de ser considerado.

Esse paralelo entre o pensamento de filósofos e o de projetistas de modelos descritivos da produção ou de modelos de gestão, toma características gerais como referencial, princípios organizadores e métodos de configurações diferentes de pensamento e encontra esses mesmos elementos nos modelos de operações e de organizações antológicos existentes e muito usados atualmente.

 e com isso a possibilidade do uso dessa galeria de modelos reais relacionados com o pensamento de filósofos para promover um alinhamento filosófico que ajude a deslindar coisas complicadas como são teorias, modelos e sistemas sócio-político-econômicos como são os associados ao liberalismo e suas variantes.

Eu vejo o ‘As palavras e as coisas’ como que uma cartilha que alfabetiza quem pretende ler e entender teorias, modelos e sistemas principalmente no campo das ciências humanas. Assim, considero que em uma exposição sobre teorias, modelos e sistemas relacionados ao liberalismo e neoliberalismo, como essa que é feita no vídeo Falando nisso 254, a referência bibliográfica do ‘As palavras e as coisas’ se impõe, mormente quando o ‘Nascimento da biopolítica’, do mesmo autor é citado.

Biopolítica pertence à classe especial de saberes denominados ‘ciências humanas’ e podemos adotar duas estratégias para desvendá-las:

  1. aprender desde uma cartilha como ‘As palavras e as coisas’ como se constituiu essa classe de saberes em nossa cultura, como funciona seu modelo constituinte baseado nos pares constituintes das ciências da Vida (Biologia) [função-norma], do Trabalho (Economia) [conflito-regra] e da Linguagem (Filologia) [significação-sistema] e então abordar modelos nesse campo já formulados e configurados, e pior, em uso.
  2. partir diretamente, com sem armas e sem bagagem, para a análise de modelos altamente complicados como são os das ciências humanas, tomando-os já formulados e configurados, e em plena operação, e sem termos como suporte ao nosso pensamento e capacidade de análise, os ensinamentos da cartilha de alfabetização para leitores desse tipo de produções do pensamento.

Pois a meu julgamento no vídeo 254 adota-se a segunda estratégia.

E o que se segue tem o objetivo de mostrar aquilo que podemos ganhar, nós todos, se aquiescermos em aprender um pouco com Michel Foucault nesse grande livro tão mal compreendido.

As diferenças entre os dois princípios de trabalho: o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817

As diferenças entre os dois princípios de trabalho: o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; e a importância da análise de David Ricardo

Comparações entre os dois princípios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princípios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparações entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

1 Primeira possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

No lado esquerdo o valor que chega à representação através da proposição é carregado nela diretamente, até porque não há intenção de formular operações levando em conta como elemento organizador o objeto tomado como descrito por suas propriedades originais e constitutivas, isto é, de modo relacionado com o objeto. 

Na visão de ‘operações’ no pensamento clássico não há a ideia de objeto como constituído por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas, pelos pressupostos considerados.

Refiro-me ao Princípio Monolítico de trabalho de Adam Smith. Na avaliação de Foucault, nesta alternativa de leitura do que seja trabalho a partir da linguagem toda a essência da linguagem está na proposição.

Toda a essência da linguagem está no interior da proposição.

A proposição já nasce emprenhada do valor que carrega.

2 Segunda possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

No princípio de trabalho de David Ricardo é visível a modelagem de uma proposição, usando ideias – ou elementos de imagem – todos eles em posições operacionais na estrutura do modelo.

  • o sujeito, o empresário;
  • e seu predicado
    • o atributo, representado na figura pela representação do objeto da operação; 
    • o verbo: representado na figura pela Forma de produção

Essa mesma essência da linguagem encontra raízes fora dela mesma, do lado das

  • designações primitivas;
  • linguagem de ação ou raiz

No lado direito, sim, existem, ideias – ou elementos de imagem, que modelam padronizada e genericamente o elemento construtivo padrão fundamental para construção de representações – a proposição – e o escopo da operação é justamente articular o impensado, pelo pensamento, no espaço da representação. Refiro-me agora ao Princípio Dual de trabalho de David Ricardo. 

A proposição assim que formulada está vazia, inclusive do valor que pode carregar; consiste tão somente em uma arquitetura que é comum a toda e qualquer proposição no curso desse tipo de operação.

Essa modelagem padronizada, genérica, organizadora de uma ordem única ao longo de toda a operação, descobre a essência da linguagem fora dela, nas operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, às quais Foucault denomina “designações primitivas – linguagem de ação ou raiz”.

Relacionamento entre

  • o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo e o modelo de operações proposto no LD da Figura 2, a nossa Plataforma para exposição;
  • as fontes externas á linguagem e ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’ no LD da Figura 2, com:
    • designações primitivas e
    • linguagem de ação ou de uso, 
Relação entre
o texto do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo,
de 1817, e as ideias - ou elementos de imagem -
do modelo de operações no LD da figura
Os elementos de imagem, as ideias,
que permitem formular o modelo de operações
desde fora da linguagem
a partir das designações primitivas
- e da linguagem de ação ou de raiz(*)