2. Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar’

O conceito 'Classificar' respectivamente nas configurações dos pensamentos clássico (antes de 1775) e moderno (depois de 1825)

As diferenças são de tal monta que é impossível imaginar que semelhantes sejam
dois modelos de operações construídos com um ou outro desses dois conceitos.

Os dois conceitos para o que seja 'Classificar

Classificar, portanto,
não será mais
referir o visível
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;

Será
num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível,
ao invisível,
como a sua razão profunda;
depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparências”]
que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault

Comentários

    5.0 As duas sintaxes envolvidas na construção de uma representação
    pressuposto o entendimento no pensamento moderno, caminho da Construção da representação

    As duas sintaxes envolvidas na construção de uma representação (no pensamento de depois de 1825, o pensamento moderno)

    As diferenças entre as configurações do pensamento clássico (antes de 1775) e o moderno (depois de 1825) ​do ponto de vista do acolhimento a essas duas sintaxes envolvidas na construção de uma representação:

    • a que autoriza a construção das frases;
    • e a que autoriza a manter juntas – ao lado e em frente umas das outras –
      as palavras e as coisas.
    Modelo de operações sob o pensamento clássico, de antes de 1775, referido à ordem pela ordem, princípios organizadores Caráter e Similitude, métodos Identidade e Semelhança

    As heterotopias inquietam,
    sem dúvida porque
    solapam secretamente a linguagem,
    porque impedem de nomear
    isto e aquilo,
    porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, porque arruínam de antemão a “sintaxe!‘,

    • e não somente aquela que constrói as frases – 
    • aquela, menos manifesta, que autoriza “manter juntos” (ao lado e em frente umas das outras)
      as palavras e as coisas.
    Modelo de operações no caminho da Construção da representação, sob o pensamento moderno, depois de 1825, referido à Utopia do pensamento ainda não articulado, princípios organizadores Analogia e Sucessão
    e métodos Análise e Síntese

    As utopias consolam:
    é que, se elas não têm lugar real,
    desabrocham, contudo, num espaço maravilhoso e liso;
    abrem cidades com vastas avenidas,
    jardins bem plantados, regiões fáceis,
    ainda que o acesso a elas seja quimérico.

    ‘As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas’;
    Prefácio;
    por Michel Foucault

    ‘As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas’;
    Prefácio;
    por Michel Foucault

    As duas sintaxes, no espaço referido à Utopia, o do pensamento moderno, depois de 1825, espaço este no qual elas (as duas sintaxes) não são - de antemão - arruinadas

    A sintaxe que autoriza
    a construção das frases
    A sintaxe que autoriza a manter juntas,
    ao lado ou em frente umas das outras,
    as palavras e as coisas
    Comentários

      1. Os dois conceitos para o que seja um ‘Verbo’: Processo e Forma de produção

      Os dois conceitos para o que seja um verbo,
      o elemento central nos respectivos modelos de operações

      o de antes (Processo) e o de depois (Forma de produção)
      da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Aquém do objeto

      Conceito de Verbo 'Processo' na configuração de pensamento
      do período clássico, antes de 1775

      Diante e Além do objeto

      Conceito de Verbo 'Forma de produção' na configuração
      de pensamento do período moderno, depois de 1825

      'Processo'
      como verbo

      “A única coisa que o verbo afirma
      é a coexistência de duas representações:
      por exemplo, 

      • a do verde
        e da árvore,

      • a do homem
        e da existência

        ou da morte; 

      é por isso que o tempo dos verbos
      não indica aquele [tempo]
      em que as coisas existiram no absoluto,
      mas um sistema relativo
      de anterioridade ou de simultaneidade
      das coisas entre si.”

      'Forma de produção'
      como verbo

      “É preciso, portanto,
      tratar esse verbo como um ser misto,
      ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
      preso às mesmas regras,
      obedecendo como elas
      às leis de regência e de concordância;

      e depois,


      em recuo em relação a elas todas,

      numa região que

      • não é aquela do falado

      • mas aquela donde se fala.

      Ele está na orla do discurso,
      na juntura entre

      • aquilo que é dito

      • e aquilo que se diz,

      exatamente lá onde os signos
      estão em via de se tornar linguagem.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar;
      tópico III. A teoria do verbo
      por Michel Foucault

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar;
      tópico III. A teoria do verbo
      por Michel Foucault

      A descrição feita por Foucault do sistema, obviamente, é consistente com o Sistema Input-Output.

      Características: 

      • formulação: reversível até o início do instanciamento;
      • lugar da ocorrência: circuito das trocas (Mercado);
      • propriedade emergente: fluxo;
      • metáfora adequada: transformação;
      • tempo: calendário, relativo;
      • origem de valor na proposição: 1a. alternativa de análise de valor – indicador no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na troca;
      • princípio de trabalho: Adam Smith

      A descrição acima feita por Foucault,é consistente com alguns modelos de operações e organizações existentes.

      Características:

      • formulação: irreversível mesmo antes do instanciamento;
      • lugar da ocorrência: Lugar do nascimento do que é empírico;
      • propriedade emergente: permanência;
      • metáfora adequada: conversão, ou um par de transformações;
      • tempo: absoluto;
      • origem de valor na proposição: 2a. alternativa de análise de valor – indicador antes da possibilidade de troca e da disponibilidade do objeto;
      • princípio de trabalho: David Ricardo
      Comentários

        3. Os dois papeis fundamentais dados ao homem
        no tipo de reflexão que surgiu em nossa cultura
        depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

        O espaço dado ao homem na estrutura dos modelos
        em cada segmento do espectro de modelos

        O tratamento dado ao homem no pensamento clássico, o de antes de 1775, e portanto
        antes da descontinuidade epistemológica assinalada por Foucault entre 1775 e 1825

        “Em tantas ignorâncias,
        em tantas interrogações
        permanecidas em suspenso,
        seria preciso, sem dúvida, deter-se:
        aí está fixado o fim do 
        discurso,
        e o recomeço talvez do trabalho.
        Há ainda, no entanto, algumas palavras a dizer.

        Palavras cujo estatuto é, sem dúvida,
        difícil de justificar,
        pois se trata de introduzir no último instante
        e como que por um lance de teatro artificial,
        uma personagem
        que não figurara ainda
        no grande jogo clássico das representações.” (…)

        “No pensamento clássico,
        aquele para quem a representação existe,
        e que nela se representa a si mesmo,
        aí se reconhecendo por imagem ou reflexo,
        aquele que trama todos os fios entrecruzados
        da “representação em quadro” -,
        esse [o homem] jamais se encontra lá presente.”

        “Antes do fim do século
        XVIII, o homem não existia.

        Sem dúvida,
        as ciências naturais
        trataram do homem

        como de uma espécie 
        ou de um gênero

        a discussão sobre
        o problema das raças,
        no século XVIII,
        o testemunha.

        “Mas não havia
        consciência epistemológica
        do homem como tal.

        A epistémê clássica
        se articula
        segundo 
        linhas
        que de modo algum isolam
        o domínio próprio e específico
        do homem.

        As palavras e as coisas:
        uma arqueologia das ciências humanas;
        Capítulo IX – O homem e seus duplos;
        II. O lugar do rei
        Michel Foucault 

        Entrada em cena do homem no campo do saber ocidental, depois de 1825 e portanto,
        depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,
        com uma duplicidade de papéis

        “Na medida, porém, 
        em que as coisas
        giram
        sobre si mesmas,
        reclamando para seu devir
        não mais que
        o princípio de
        sua inteligibilidade
        e abandonando o espaço da representação,
        o homem,

        por seu turno, entra,
        e pela primeira vez,
        no campo do saber ocidental.”

        As palavras e as coisas:
        uma arqueologia das ciências humanas;
        Prefácio
        Michel Foucault 

        “O modo de ser do homem,
        tal como se constituiu
        no pensamento moderno,
        permite-lhe desempenhar dois papéis:
        está ao mesmo tempo,

        • no fundamento de todas as positividades,
        • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
          no elemento das coisas empíricas.”
        As palavras e as coisas:
        uma arqueologia das ciências humanas;
        Capítulo X – As ciências humanas;
        tópico I. O triedro dos saberes
        Michel Foucault 

        A ideia 'homem', com seus diferentes papéis
        e respectivos elementos de imagem
        - nos sistemas em cada faixa do espectro de modelos

        Aquém do objeto
        o homem está fora da paleta de ideias
        no pensamento clássico, o de antes de 1775

        Não há, na estrutura do pensamento clássico, espaço para a figura do homem em qualquer um de seus dois papéis, e portanto inexistem os respectivos elementos de imagem.

        Diante e Além do objeto
        os dois papéis do homem
        no pensamento moderno, o de depois de 1825

        Há, na estrutura do que Foucault chama de ‘essa estranha maneira de conhecer empiricidades’ espaço para o homem ‘naquilo que ele tem de empírico’, permitindo o desempenho dos seus dois papéis:

        • raiz e fundamento de toda a empiricidade;
        • elemento do que é empírico.

        Não há espaço estrutural na estrutura do sistema input-output, para as ideias ou elementos de imagem requeridas para os dois papéis do homem – ‘no que ele tem de empírico’ como diz Foucault.

        Claramente a afirmativa acima vale para a noção ‘homem’ como na citação acima à direita. Podemos rotular ‘homem’, sujeito, etc. qualquer coisa, porém fora da noção acima.

        Podemos ver com alguma clareza a ausência do homem como ideia, e respectivo elemento de imagem, no pensamento clássico de várias maneiras, entre elas:

        • pelo funcionamento do pensamento na formulação da operação, e também no instanciamento da representação formulada;
        • nos exemplos de modelos de operações de produção e de organizações que examinamos a seguir.

        Acontece que por vezes, em vista da ausência de espaço estrutural para a ideia ‘homem’, alguns projetistas de modelos optem pela inclusão não da entidade homem propriamente, mas de um rótulo com esse nome, acrescentado como meta-dado, a entidades anteriormente existentes.

        Na estrutura daquilo que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, o homem – ‘naquilo que ele tem de empírico’ tem importância determinante, e na sua duplicidade de papéis: 1) raiz e fundamento de toda positividade; 2) elemento do que é empírico. 

        Podemos ver claramente a presença do homem como ideia, e respectivo elemento de imagem, no pensamento moderno também de várias maneiras, entre elas:

        • também pelo funcionamento do pensamento na formulação da representação e da sua operação construtiva, e também no instanciamento da representação anteriormente formulada, construída e adicionada ao Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.
        • a proposição – o bloco construtivo fundamental padrão para construção de representações pode ser formulada com todos seus elementos ocupando posições estruturais operacionais;
        • também podemos ver essa presença de várias maneiras, mas por exemplo, no modelo de operações de produção (instanciamento de uma representação) no modelo descritivo da produção do Kanban
        Comentários

          4. Roteiro & Inspiração: as pedras no caminho de Michel Foucault e
          caminhos e descaminhos de Humberto Maturana

          Roteiro e Inspiração: as pedras no caminho de Foucault e
          os caminhos de Humberto Maturana

          A pedra no caminho de Foucault, nosso roteiro: com uma impossibilidade e uma obrigação:
          a) a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e
          b) a constituição para além do objeto, dos quase transcendentais Vida,Trabalho e Linguagem

          Os caminhos (e rotas) de Maturana, nossa inspiração: caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana finalizando com as críticas feitas à autopoiese, e aceitas por Francisco Varela
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            A forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura
            depois da descontinuidade epistemológica entre 1775-1825,
            e que inspira o Princípio Dual de Trabalho, de 1817, devido a David Ricardo.

            A forma de reflexão que se instaura com a DE(1775-1825)

            que inspira o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

            A Forma de reflexão que se instaura no depois
            da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
            O princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

            Instaura-se uma forma de reflexão
            bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana
            em que está em questão,
            pela primeira vez
            o ser do homem
            nessa dimensão segundo a qual
            o pensamento
            se dirige ao impensado
            e com ele se articula

            As palavras e as coisas:
            uma arqueologia das ciências humanas
            Cap. IX –  O homem e seus duplos;
            tópico V – O “cogito’ e o impensado

            e que torna possível modelar operações e organizações com ideias e respectivos elementos de imagem necessários para compor o bloco construtivo padrão genérico e fundamental 'proposição' para construção de representações

            Proposição: o bloco construtivo padrão fundamental
            para a construção de representações, segundo Michel Foucault.

            A proposição é
            para a linguagem
            o que a representação é
            para o pensamento:
            sua forma,
            ao mesmo tempo mais geral
            e mais elementar;
            porquanto,
            desde que a decomponhamos,
            não reencontraremos mais o discurso,
            mas seus elementos
            como tantos materiais dispersos.

            As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Capítulo IV – Falar; tópico
            III. A teoria do verbo

            A descontinuidade epistemológica de 1775-1825:
            a cronologia básica, fases, período de ruptura

            A descontinuidade epistemológica de 1775-1825

            Michel Foucault
            1926-1984

            "E foi realmente necessário 
            um acontecimento fundamental
            - um dos mais radicais, sem dúvida,
            que ocorreram na cultura ocidental,
            para que se desfizesse
            a positividade do saber clássico
            e se constituísse uma positividade
            de que, por certo,
            não saímos inteiramente."

            As palavras e as coisas:
            uma arqueologia das ciências humanas;
            Capítulo VII – Os limites da representação;
            tópico I. A idade da história

            Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
            defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prática

            cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

            A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
            uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prática

            “Esse acontecimento, sem dúvida porque estamos ainda presos na sua abertura, nos escapa em grande parte. Sua amplitude, as camadas profundas que atingiu, todas as positividades que ele pode subverter e recompor, a potência soberana que lhe permitiu atravessar, em alguns anos apenas, o espaço inteiro de nossa cultura, tudo isso só poderia ser estimado e medido ao termo de uma inquirição quase infinita que só concerniria, nem mais nem menos, ao ser mesmo de nossa modernidade.

            A constituição de tantas ciências positivas, o aparecimento da literatura, a volta da filosofia sobre seu próprio devir, a emergência da história ao mesmo tempo como saber e como modo de ser da empiricidade, não são mais que sinais de uma ruptura profunda.

            Sinais dispersos no espaço do saber, pois que se deixam perceber na formação, aqui de uma filologia, ali de uma economia política, ali ainda de uma biologia.

            Dispersão também na cronologia: certamente, o conjunto do fenômeno se situa entre datas facilmente assinaláveis

            •  (os pontos extremos são
              os anos 1775 e 1825);

            podem-se porém reconhecer, em cada um dos domínios estudados, duas fases sucessivas que se articulam uma à outra, mais ou menos por volta dos anos 1795-1800.

            Na primeira dessas fases, o modo de ser fundamental das positividades não muda; as riquezas dos homens, as espécies da natureza, as palavras de que as línguas são povoadas permanecem ainda o que eram na idade clássica: representações duplicadas – representações cujo papel consiste em designar representações, analisá-las, decompô-las e compô-las, para fazer nelas surgir, com o sistema de suas identidades e de suas diferenças, o princípio geral de uma ordem.

            O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

             “É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.

            Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,

            • é a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
              • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros, 
              • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e de articulação, 
              • como chegam, pelo jogo das comparações, a estabelecer uma ordem.”

            As palavras e as coisas:
            uma arqueologia das ciências humanas
            Cap.VII – Os limites da representação
            tópico I. A idade da história

            Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

            Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

            Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

            Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

            • autores clássicos:
              • Adam Smith, 1723-1790
              • John Locke, 1632-1704
              • David Hume, 1711-1776
              • J. J. Rousseau, 1712-1778
              • Jeremy Bentham, 1748-1832
            • autores modernos:
              • Immanuel Kant, 1724-1804
              • David Ricardo, 1772-1823
              • Georges Cuvier, 1769-1832
              • Franz Bopp, 1792-1867
              • Sigmund Schlomo Freud, 1856-1939
              • e John Maynard Keynes, 1883-1936
              • entre muitos outros.

            Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

            • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
            • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
            • David Ricardo, economista, 1772-1823

            Em face da Ideologia, a critica kantiana marca, em contra partida, o limiar de nossa modernidade; interroga a representação,

            • não segundo o movimento indefinido que vai do elemento simples a todas as suas combinações possíveis,
            • mas a partir de seus limites de direito. 

            Sanciona assim, pela primeira vez, este acontecimento da cultura européia que é contemporâneo do fim do século XVIII: 

            a retirada do saber e do pensamento
            para fora do espaço da representação.

            Subsídios para uma alteração de nossa avaliação sobre a continuidade da ratio em nossa cultura, oferecidos pelo desenvolvimento da arqueologia das ciências humanas no As palavras e as coisas

            Por muito forte que seja a impressão que temos
            de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,

            • por mais que pensemos que a classificação de Lineu,
              mais ou menos adaptada, pode de modo geral
              continuar a ter uma espécie de validade, 
            • que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do século XIX, 
            • que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias análises com as de Cantillon, 
            • que o propósito da Gramática geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em Bauzée) não está tão afastado de nossa atual linguística 

            – toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; 

            no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.

            Não que a razão tenha feito progressos; mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; é que foi profundamente alterado.

            As palavras e as coisas:
            uma arqueologia das ciências humanas
            Prefácio

            Comentários

              O tipo de reflexão que se instaura em nossa cultura
              inserido na cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

              O tipo de reflexão que se instaura em nossa cultura

              “Instaura-se uma forma de reflexão,
              bastante afastada do cartesianismo
              e da análise kantiana,
              em que está em questão,
              pela primeira vez,
              o ser do homem,
              nessa dimensão segundo a qual
              o pensamento
              se dirige ao impensado
              e com ele se articula.”

              As palavras e as coisas:
              uma arqueologia das ciências humanas
              Capítulo IX – O Homem e seus duplos;
              tópico V – O “cogito” e o impensado

              A forma de reflexão que se instala no pensamento moderno
              A entrada do homem em nossa cultura

               

              “Antes do fim do século XVIII,
              o homem não existia.”

              Sem dúvida, as ciências naturais trataram do homem como de uma espécie ou de um gênero: a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, o testemunha. 

              A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação. 

              Mas não havia consciência epistemológica do homem como tal. 

              As palavras e as coisas:
              uma arqueologia das ciências humanas; Capítulo IX – O homem e seus duplos;
              tópico II. O lugar do rei

              Com exceção de David Ricardo, e de Sigmund Freud, estes pensadores modernos, os demais desenvolveram suas obras todas antes do final do século XVIII, marca para a entrada do homem em nossa cultura.

              Especificamente sobre Keynes, na única referência feita a ele no As palavras e as coisas, Foucault não hesita em classifica´lo como pensador clássico. 

              Pensadores de antes da entrada do homem em nossa cultura;
              exceto Freud e Ricardo

              O primeiro dos dois obstáculos encontrados por Michel Foucault
              no curso do seu trabalho de arqueologia das ciências humanas:
              a possibilidade/impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação

              O primeiro dos dois obstáculos encontrados por Michel Foucault no desenvolvimento do seu trabalho no 'As palavras e as coisas'

              A impossibilidade [no pensamento clássico]
              contra a sim-possibilidade [no pensamento moderno]
              de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação.

              “É que o pensamento que nos é contemporâneo
              e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
              se acha ainda muito dominado

              1. pela impossibilidade,
                trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
                de fundar as sínteses no espaço da representação
              2. e pela obrigação
                correlativ
                a, simultânea,
                mas logo dividida contra si mesma,
                de abrir o campo transcendental da subjetividade
                e de constituir inversamente,
                para além do objeto,
                esses “quase-transcendentais” que são para nós
                a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

              Comparações feitas por Michel Foucault entre
              diferentes configurações do pensamento com e sem essas dificuldades

              comparações feitas por Foucault de diferentes configurações de pensamento

              As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
              Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
              tópico I – As novas empiricidades