As paletas de ideias – ou elementos de imagem – requeridas
pelos modelos de operações em cada configuração do pensamento

As paletas de ideias - ou elementos de imagem - em cada configuração do pensamento, antes e depois da Descontinuidade Epistemológica de 1775 a 1825

A paleta de ideias - ou elementos de imagem - para a configuração do pensamento clássico, o de antes da Descontinuidade Epistemológica de 1775 a 1825

Paleta de ideias - ou elementos de imagem - no modelo de operação
do pensamento clássico, para a configuração do pensamento
de antes da DE-1775-1825

A paleta de ideias - ou elementos de imagem - para a configuração do pensamento moderno, o de depois da Descontinuidade Epistemológica de 1775 a 1825 - no caminho da Construção da representação

Paleta de ideias - ou elementos de imagem - no modelo de operação
do pensamento moderno caminho da Construção da representação,
para a configuração do pensamento de depois da DE-1775-1825

A paleta de ideias - ou elementos de imagem - para a configuração do pensamento moderno, o de depois da Descontinuidade Epistemológica de 1775 a 1825 - no caminho do Instanciamento da representação

Paleta de ideias - ou elementos de imagem - no modelo de operação
do pensamento moderno caminho do Instanciamento da representação,
para a configuração do pensamento de depois da DE-1775-1825

Sistema Formulador

Sistema Formulador

um exemplo de projeto de um sistema de gestão situado na faixa do espectro de modelos
diante do objeto, isto é, organizado pelo par sujeito-objeto dando lugar a modelos  COM a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto em modelagem) no espaço da representação. 

O sistema pode gerar a partir de um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da linguagem, um modelo de instanciamento de um objeto qualquer, usando um modelo do objeto análogo completo, ou a Sucessão de Analogias, obtido da operação de Construção da representação (projeto) para esse objeto.

O que é o Sistema Formulador

  • tomamos um SDGP – Sistema Dedicado à Gestão de Projetos, o Microsoft Project 4.0 como editor de ideias ou elementos de imagem envolvidos na proposição que enuncia a operação de produção;
  • criamos em banco de dados os elementos intervenientes na formulação de cada proposição em formato que o MS Project ‘entenda’;
    • QUEM – o Sujeito de cada proposição, um dos elementos componentes de uma estrutura da organização;
    • o predicado do sujeito:
      • COMO – a forma de produção desenvolvida para obter um determinado objeto, pertencente a uma coleção de Formas de produção requeridas pelo objeto em produção como um todo;
      • O QUE – a coleção de objetos análogos, ou a representação do objeto análogo composto necessário para concretizar um objeto qualquer, mais complexo, como costuma acontecer com objetos reais, que passa a fazer parte de uma coleção de estruturas analíticas, ou árvores de produto de objetos realizados nesse ambiente;
  •  tem uma unidade lógica que reúne as proposições formuladas com esses elementos, uma para cada componente do objeto análogo, ou cada linha da coleção de objetos análogos cuja operação de produção está sendo criada (a estrutura analítica O QUE)faz isso sobre o mesmo repositório de informações em banco de dados de que o Microsoft Project 4.0 dispõe.

O Microsoft Project abre a partir do banco de dados o modelo gerado sistematicamente pelo Sistema Formulador.
Tudo se passa como se a estrutura relacional de banco de dados do Microsoft Project 4.0 tivesse sido alterada para outra estrutura, esta, agora consistente com a estrutura conceitual do pensamento filosófico moderno

O funcionamento de operações no pensamento do período clássico, com o elemento central 'Processo'
sem espaço para o sujeito, e sem espaço para o objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.
Modelo relacional de dados do Microsoft Project 4.0
consistente com o modelo de operações clássico
sem espaço em sua estrutura para o objeto,
e também sem espaço para o sujeito

Este sistema – Projeto Formulador – é uma proposta de desenvolvimento de um sistema gerenciador de projetos de acordo com a estrutura conceitual com a possibilidade de fundar a síntese do próprio objeto do projeto no espaço da representação.

O Sistema Formulador foi construído sobre o Microsoft Project 4.0 mas poderia ser atualizado para qualquer versão posterior.
Consiste na alteração do modelo de dados de um SDGP – Sistema Dedicado a Gestão de Projetos – neste caso, como dito, utilizamos o Microsoft Project 4.0.

O Microsoft Project 4.0 é um sistema construído sobre a estrutura conceitual do pensamento clássico, e portanto SEM a possibilidade de fundar as sínteses do seu objeto, no espaço da representação.

 Com esse modelo de dados, a estruturação do modelo fica a cargo do operador, sem suporte do sistema.

Criamos em banco de dados as entidades necessárias para modelar a proposição que enuncia, depois explica e finalmente instancia o objeto do projeto. Usamos toda a funcionalidade do SDGP para cálculos, criação de redes de precedências, etc. mas antes disso, geramos em banco de dados os modelos da construção e instanciamento do objeto do projeto.

Funcionamento

Operação de instanciamento

A operação de instanciamento de empiricidade objeto
que o módulo central do Sistema Formulador sistematiza
Módulo central do sistema experimental SFV201-Formulador
com operações formuladas no formato de uma Proposição

Usando o próprio Microsoft Project como sistema editor de componentes, completamos seu modelo em um banco de dados como o Access, ou SQL, e criamos nesse banco de dados externo:

  •  QUEM (Sujeito): o elemento lógico que reúne a coleção de Sujeitos das Formas de produção, que integram a estrutura administrativa no ambiente e domínio em que as operações acontecem.
  • Predicado do sujeito:
    • O QUE (atributo): o modelo do objeto análogo composto, a Sucessão de Analogias ou a árvore de produto, ou ainda a EAN – Estrutura Analítica para o objeto do projeto;
    • COMO(Forma de produção ou Verbo): criamos as Formas de produção necessárias para realizar os componentes do projeto integrantes da Sucessão de analogias em cada etapa;

A operação – todas e qualquer uma, em todos os níveis – é formulada como uma proposição, com Sujeito e Predicado do sujeito, com todos os elementos presentes na estrutura do modelo como ideias e respectivos elementos de imagem.

Esses elementos são colocados de modo organizado em um Repositório de informações, como palavras conhecidas nesse ambiente, de onde podem ser requisitados quando da formulação de cada proposição, isto é, da elaboração da estratégia de encaminhamento do projeto em gerenciamento.

O sistema entra com a gramática dessa linguagem que reúne QUEM’s COMO’s e O QUE’s, gerando estruturadamente um texto que pode ser importado pelo Microsoft Project, que o reconhece como um modelo seu sem dificuldades. 

Exemplo de modelo
gerado sistematicamente pelo Sistema Formulador

A figura ao lado mostra um modelo da operação de instanciamento de um objeto fictício – um cogumelo de jardim – gerado sistematicamente usando o sistema Formulador.

Cada linha do modelo representa uma proposição completa com sujeito (que pode variar de linha para linha) e um predicado do sujeito, composto por uma forma de produção recuperada de um repositório criado em banco de dados, e um atributo, um componente do objeto que está sendo instanciado.

modelo de operação de instanciamento de um objeto, gerado sistemáticamente pelo aplicativo a partir de banco de dados.

Exemplos de componentes
necessários para a formulação da proposição

A Proposição

o bloco construtivo padrão fundamental genérico
oferecido pela gramática da língua para construção de representações
formulado com elementos de imagem ou ideias integradas à estrutura operacional

Sujeito

Predicado do sujeito

QUEM

elemento integrante
da comunidade de prática
dedicada à obtenção
dessa classe de objetos

COMO

Forma de produção recuperada do Repositório existente no domínio/ambiente
em que a operação acontece

O QUE

Coleção de analogias logicamente organizadas, ou Sucessão de analogias com os elementos componentes 
do objeto da operação

Estrutura da organização: uma coleção de sujeitos respectivamente de cada uma das operações necessárias para a obtenção de cada um dos objetos análogos que compõem a Sucessão de Analogias; uma comunidade de prática dedicada à obtenção desta classe de produtos

Forma de produção:
para Elemento de Fixação do objeto Cogumelo

o Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua contém uma coleção desses elementos, prontos e disponíveis para uso.

Sucessão de analogias:
‘Árvore  de produto do objeto Cogumelo

São três classes de elementos intervenientes na formulação de uma operação.

O núcleo do Sistema Formulador toma a seleção com componentes específicos, indicados pelo operador, e formula sistematicamente, usando a gramática dessa ‘linguagem’, o modelo de operações para obtenção do objeto esperado.

2. Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar’

O conceito 'Classificar' respectivamente nas configurações dos pensamentos clássico (antes de 1775) e moderno (depois de 1825)

As diferenças são de tal monta que é impossível imaginar que semelhantes sejam
dois modelos de operações construídos com um ou outro desses dois conceitos.

Os dois conceitos para o que seja 'Classificar

Classificar, portanto,
não será mais
referir o visível
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;

Será
num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível,
ao invisível,
como a sua razão profunda;
depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparências”]que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault

Comentários

    5.0 As duas sintaxes envolvidas na construção de uma representação
    pressuposto o entendimento no pensamento moderno, caminho da Construção da representação

    As duas sintaxes envolvidas na construção de uma representação (no pensamento de depois de 1825, o pensamento moderno)

    As diferenças entre as configurações do pensamento clássico (antes de 1775) e o moderno (depois de 1825) ​do ponto de vista do acolhimento a essas duas sintaxes envolvidas na construção de uma representação:

    • a que autoriza a construção das frases;
    • e a que autoriza a manter juntas – ao lado e em frente umas das outras –
      as palavras e as coisas.
    Modelo de operações sob o pensamento clássico, de antes de 1775, referido à ordem pela ordem, princípios organizadores Caráter e Similitude, métodos Identidade e Semelhança

    As heterotopias inquietam,
    sem dúvida porque
    solapam secretamente a linguagem,
    porque impedem de nomear
    isto e aquilo,
    porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, porque arruínam de antemão a “sintaxe!‘,

    • e não somente aquela que constrói as frases – 
    • aquela, menos manifesta, que autoriza “manter juntos” (ao lado e em frente umas das outras)
      as palavras e as coisas.
    Modelo de operações no caminho da Construção da representação, sob o pensamento moderno, depois de 1825, referido à Utopia do pensamento ainda não articulado, princípios organizadores Analogia e Sucessão
    e métodos Análise e Síntese

    As utopias consolam:
    é que, se elas não têm lugar real,
    desabrocham, contudo, num espaço maravilhoso e liso;
    abrem cidades com vastas avenidas,
    jardins bem plantados, regiões fáceis,
    ainda que o acesso a elas seja quimérico.

    ‘As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas’;
    Prefácio;
    por Michel Foucault

    ‘As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas’;
    Prefácio;
    por Michel Foucault

    As duas sintaxes, no espaço referido à Utopia, o do pensamento moderno, depois de 1825, espaço este no qual elas (as duas sintaxes) não são - de antemão - arruinadas

    A sintaxe que autoriza
    a construção das frases
    A sintaxe que autoriza a manter juntas,
    ao lado ou em frente umas das outras,
    as palavras e as coisas

    1. Os dois conceitos para o que seja um ‘Verbo’: Processo e Forma de produção

    Os dois conceitos para o que seja um verbo,
    o elemento central nos respectivos modelos de operações

    o de antes (Processo) e o de depois (Forma de produção)
    da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Aquém do objeto

    Conceito de Verbo 'Processo' na configuração de pensamento
    do período clássico, antes de 1775

    Diante e Além do objeto

    Conceito de Verbo 'Forma de produção' na configuração
    de pensamento do período moderno, depois de 1825

    'Processo'
    como verbo

    “A única coisa que o verbo afirma
    é a coexistência de duas representações:
    por exemplo, 

    • a do verde
      e da árvore,

    • a do homem
      e da existência

      ou da morte; 

    é por isso que o tempo dos verbos
    não indica aquele [tempo]
    em que as coisas existiram no absoluto,
    mas um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si.”

    'Forma de produção'
    como verbo

    “É preciso, portanto,
    tratar esse verbo como um ser misto,
    ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
    preso às mesmas regras,
    obedecendo como elas
    às leis de regência e de concordância;

    e depois,


    em recuo em relação a elas todas,

    numa região que

    • não é aquela do falado

    • mas aquela donde se fala.

    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre

    • aquilo que é dito

    • e aquilo que se diz,

    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    A descrição feita por Foucault do sistema, obviamente, é consistente com o Sistema Input-Output.

    Características: 

    • formulação: reversível até o início do instanciamento;
    • lugar da ocorrência: circuito das trocas (Mercado);
    • propriedade emergente: fluxo;
    • metáfora adequada: transformação;
    • tempo: calendário, relativo;
    • origem de valor na proposição: 1a. alternativa de análise de valor – indicador no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na troca;
    • princípio de trabalho: Adam Smith

    A descrição acima feita por Foucault,é consistente com alguns modelos de operações e organizações existentes.

    Características:

    • formulação: irreversível mesmo antes do instanciamento;
    • lugar da ocorrência: Lugar do nascimento do que é empírico;
    • propriedade emergente: permanência;
    • metáfora adequada: conversão, ou um par de transformações;
    • tempo: absoluto;
    • origem de valor na proposição: 2a. alternativa de análise de valor – indicador antes da possibilidade de troca e da disponibilidade do objeto;
    • princípio de trabalho: David Ricardo

    3. Os dois papeis fundamentais dados ao homem
    no tipo de reflexão que surgiu em nossa cultura
    depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    O espaço dado ao homem na estrutura dos modelos
    em cada segmento do espectro de modelos

    O tratamento dado ao homem no pensamento clássico, o de antes de 1775, e portanto
    antes da descontinuidade epistemológica assinalada por Foucault entre 1775 e 1825

    “Em tantas ignorâncias,
    em tantas interrogações
    permanecidas em suspenso,
    seria preciso, sem dúvida, deter-se:
    aí está fixado o fim do 
    discurso,
    e o recomeço talvez do trabalho.
    Há ainda, no entanto, algumas palavras a dizer.

    Palavras cujo estatuto é, sem dúvida,
    difícil de justificar,
    pois se trata de introduzir no último instante
    e como que por um lance de teatro artificial,
    uma personagem
    que não figurara ainda
    no grande jogo clássico das representações.” (…)

    “No pensamento clássico,
    aquele para quem a representação existe,
    e que nela se representa a si mesmo,
    aí se reconhecendo por imagem ou reflexo,
    aquele que trama todos os fios entrecruzados
    da “representação em quadro” -,
    esse [o homem] jamais se encontra lá presente.”

    “Antes do fim do século
    XVIII, o homem não existia.

    Sem dúvida,
    as ciências naturais
    trataram do homem

    como de uma espécie 
    ou de um gênero

    a discussão sobre
    o problema das raças,
    no século XVIII,
    o testemunha.

    “Mas não havia
    consciência epistemológica
    do homem como tal.

    A epistémê clássica
    se articula
    segundo 
    linhas
    que de modo algum isolam
    o domínio próprio e específico
    do homem.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX – O homem e seus duplos;
    II. O lugar do rei
    Michel Foucault 

    Entrada em cena do homem no campo do saber ocidental, depois de 1825 e portanto,
    depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,
    com uma duplicidade de papéis

    “Na medida, porém, 
    em que as coisas
    giram
    sobre si mesmas,
    reclamando para seu devir
    não mais que
    o princípio de
    sua inteligibilidade
    e abandonando o espaço da representação,
    o homem,

    por seu turno, entra,
    e pela primeira vez,
    no campo do saber ocidental.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Prefácio
    Michel Foucault 

    “O modo de ser do homem,
    tal como se constituiu
    no pensamento moderno,
    permite-lhe desempenhar dois papéis:
    está ao mesmo tempo,

    • no fundamento de todas as positividades,
    • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
      no elemento das coisas empíricas.”
    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X – As ciências humanas;
    tópico I. O triedro dos saberes
    Michel Foucault 

    A ideia 'homem', com seus diferentes papéis
    e respectivos elementos de imagem
    - nos sistemas em cada faixa do espectro de modelos

    Aquém do objeto
    o homem está fora da paleta de ideias
    no pensamento clássico, o de antes de 1775

    Não há, na estrutura do pensamento clássico, espaço para a figura do homem em qualquer um de seus dois papéis, e portanto inexistem os respectivos elementos de imagem.

    Diante e Além do objeto
    os dois papéis do homem
    no pensamento moderno, o de depois de 1825

    Há, na estrutura do que Foucault chama de ‘essa estranha maneira de conhecer empiricidades’ espaço para o homem ‘naquilo que ele tem de empírico’, permitindo o desempenho dos seus dois papéis:

    • raiz e fundamento de toda a empiricidade;
    • elemento do que é empírico.

    Não há espaço estrutural na estrutura do sistema input-output, para as ideias ou elementos de imagem requeridas para os dois papéis do homem – ‘no que ele tem de empírico’ como diz Foucault.

    Claramente a afirmativa acima vale para a noção ‘homem’ como na citação acima à direita. Podemos rotular ‘homem’, sujeito, etc. qualquer coisa, porém fora da noção acima.

    Podemos ver com alguma clareza a ausência do homem como ideia, e respectivo elemento de imagem, no pensamento clássico de várias maneiras, entre elas:

    • pelo funcionamento do pensamento na formulação da operação, e também no instanciamento da representação formulada;
    • nos exemplos de modelos de operações de produção e de organizações que examinamos a seguir.

    Acontece que por vezes, em vista da ausência de espaço estrutural para a ideia ‘homem’, alguns projetistas de modelos optem pela inclusão não da entidade homem propriamente, mas de um rótulo com esse nome, acrescentado como meta-dado, a entidades anteriormente existentes.

    Na estrutura daquilo que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, o homem – ‘naquilo que ele tem de empírico’ tem importância determinante, e na sua duplicidade de papéis: 1) raiz e fundamento de toda positividade; 2) elemento do que é empírico. 

    Podemos ver claramente a presença do homem como ideia, e respectivo elemento de imagem, no pensamento moderno também de várias maneiras, entre elas:

    • também pelo funcionamento do pensamento na formulação da representação e da sua operação construtiva, e também no instanciamento da representação anteriormente formulada, construída e adicionada ao Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.
    • a proposição – o bloco construtivo fundamental padrão para construção de representações pode ser formulada com todos seus elementos ocupando posições estruturais operacionais;
    • também podemos ver essa presença de várias maneiras, mas por exemplo, no modelo de operações de produção (instanciamento de uma representação) no modelo descritivo da produção do Kanban

    A idade da história em três tempos;
    uma descrição feita pelo próprio Foucault, do seu trabalho de arqueologia das ciências humanas

    A idade da história em três tempos:
    uma descrição de Foucault, do que seja sua arqueologia das ciências humanas

    A idade da história em três tempos:
    uma descrição de Foucault, do que seja sua arqueologia das ciências humanas

    4. Roteiro & Inspiração: as pedras no caminho de Michel Foucault e
    caminhos e descaminhos de Humberto Maturana

    Roteiro e Inspiração: as pedras no caminho de Foucault e
    os caminhos de Humberto Maturana

    A pedra no caminho de Foucault, nosso roteiro: com uma impossibilidade e uma obrigação:
    a) a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e
    b) a constituição para além do objeto, dos quase transcendentais Vida,Trabalho e Linguagem

    Os caminhos (e rotas) de Maturana, nossa inspiração: caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana finalizando com as críticas feitas à autopoiese, e aceitas por Francisco Varela

    A forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura
    depois da descontinuidade epistemológica entre 1775-1825,
    e que inspira o Princípio Dual de Trabalho, de 1817, devido a David Ricardo.

    A forma de reflexão que se instaura com a DE(1775-1825)

    que inspira o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

    A Forma de reflexão que se instaura no depois
    da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    O princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

    Instaura-se uma forma de reflexão
    bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana
    em que está em questão,
    pela primeira vez
    o ser do homem
    nessa dimensão segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado
    e com ele se articula

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas
    Cap. IX –  O homem e seus duplos;
    tópico V – O “cogito’ e o impensado

    e que torna possível modelar operações e organizações com ideias e respectivos elementos de imagem necessários para compor o bloco construtivo padrão genérico e fundamental 'proposição' para construção de representações

    Proposição: o bloco construtivo padrão fundamental
    para a construção de representações, segundo Michel Foucault.

    A proposição é
    para a linguagem
    o que a representação é
    para o pensamento:
    sua forma,
    ao mesmo tempo mais geral
    e mais elementar;
    porquanto,
    desde que a decomponhamos,
    não reencontraremos mais o discurso,
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos.

    As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Capítulo IV – Falar; tópico
    III. A teoria do verbo

    A descontinuidade epistemológica de 1775-1825:
    a cronologia básica, fases, período de ruptura

    A descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Michel Foucault
    1926-1984

    "E foi realmente necessário 
    um acontecimento fundamental
    - um dos mais radicais, sem dúvida,
    que ocorreram na cultura ocidental,
    para que se desfizesse
    a positividade do saber clássico
    e se constituísse uma positividade
    de que, por certo,
    não saímos inteiramente."

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    tópico I. A idade da história

    Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
    defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prática

    cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
    uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prática

    “Esse acontecimento, sem dúvida porque estamos ainda presos na sua abertura, nos escapa em grande parte. Sua amplitude, as camadas profundas que atingiu, todas as positividades que ele pode subverter e recompor, a potência soberana que lhe permitiu atravessar, em alguns anos apenas, o espaço inteiro de nossa cultura, tudo isso só poderia ser estimado e medido ao termo de uma inquirição quase infinita que só concerniria, nem mais nem menos, ao ser mesmo de nossa modernidade.

    A constituição de tantas ciências positivas, o aparecimento da literatura, a volta da filosofia sobre seu próprio devir, a emergência da história ao mesmo tempo como saber e como modo de ser da empiricidade, não são mais que sinais de uma ruptura profunda.

    Sinais dispersos no espaço do saber, pois que se deixam perceber na formação, aqui de uma filologia, ali de uma economia política, ali ainda de uma biologia.

    Dispersão também na cronologia: certamente, o conjunto do fenômeno se situa entre datas facilmente assinaláveis

    •  (os pontos extremos são
      os anos 1775 e 1825);

    podem-se porém reconhecer, em cada um dos domínios estudados, duas fases sucessivas que se articulam uma à outra, mais ou menos por volta dos anos 1795-1800.

    Na primeira dessas fases, o modo de ser fundamental das positividades não muda; as riquezas dos homens, as espécies da natureza, as palavras de que as línguas são povoadas permanecem ainda o que eram na idade clássica: representações duplicadas – representações cujo papel consiste em designar representações, analisá-las, decompô-las e compô-las, para fazer nelas surgir, com o sistema de suas identidades e de suas diferenças, o princípio geral de uma ordem.

    O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

     “É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.

    Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,

    • é a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
      • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros, 
      • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e de articulação, 
      • como chegam, pelo jogo das comparações, a estabelecer uma ordem.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas
    Cap.VII – Os limites da representação
    tópico I. A idade da história

    Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

    Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

    • autores clássicos:
      • Adam Smith, 1723-1790
      • John Locke, 1632-1704
      • David Hume, 1711-1776
      • J. J. Rousseau, 1712-1778
      • Jeremy Bentham, 1748-1832
    • autores modernos:
      • Immanuel Kant, 1724-1804
      • David Ricardo, 1772-1823
      • Georges Cuvier, 1769-1832
      • Franz Bopp, 1792-1867
      • Sigmund Schlomo Freud, 1856-1939
      • e John Maynard Keynes, 1883-1936
      • entre muitos outros.

    Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

    • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
    • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
    • David Ricardo, economista, 1772-1823

    Em face da Ideologia, a critica kantiana marca, em contra partida, o limiar de nossa modernidade; interroga a representação,

    • não segundo o movimento indefinido que vai do elemento simples a todas as suas combinações possíveis,
    • mas a partir de seus limites de direito. 

    Sanciona assim, pela primeira vez, este acontecimento da cultura européia que é contemporâneo do fim do século XVIII: 

    a retirada do saber e do pensamento
    para fora do espaço da representação.

    Subsídios para uma alteração de nossa avaliação sobre a continuidade da ratio em nossa cultura, oferecidos pelo desenvolvimento da arqueologia das ciências humanas no As palavras e as coisas

    Por muito forte que seja a impressão que temos
    de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,

    • por mais que pensemos que a classificação de Lineu,
      mais ou menos adaptada, pode de modo geral
      continuar a ter uma espécie de validade, 
    • que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do século XIX, 
    • que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias análises com as de Cantillon, 
    • que o propósito da Gramática geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em Bauzée) não está tão afastado de nossa atual linguística 

    – toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; 

    no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.

    Não que a razão tenha feito progressos; mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; é que foi profundamente alterado.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas
    Prefácio

    Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes - abrangências muito diferentes

    Representação A
    (pré-existente)

    Representação B
    (pré-existente)

    Quadro ordenado
    (ordem arbitrária selecionada)

    Categoria selecionada na ordem arbitrária
    que guarda similitude com aparências

    Representação R 
    (composição de (a) e (b), pré-existentes)  

    Circuito das trocas 

    Domínio do Discurso e da Representação 

    Domínio do Discurso e da Representação

    Circuito das trocas

    Pacote de coisas
    selecionadas por "aparências" 
    Entradas

    Evento (i) de início
    do instanciamento de (r)  

    VC - Volume de controle
    espaço orientado onde ocorre a operação

    Evento (f) de final
    do instanciamento de (r)

    Propriedades "aparências" 
    não-originais e não-constitutivas das coisas
    existentes antes da operação

    Propriedades "aparências" 
    não-originais e não-constitutivas das coisas
    existentes depois da operação

    Pacote de coisas
    selecionadas por "aparências" 
    Saídas 

    Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento clássico, antes de 1775

    Visão, utopia,
    limite da estratégia, etc

    Homem
    na posição de sujeito

    Compromisso de obtenção 
    da representação para esta empiricidade objeto

    Operação transcorre
    com alteração do modo de ser fundamental
    da empiricidade objeto

    Empiricidade objeto
    (antes da operação)

    Propriedades da empiricidade objeto
    sim e não originais constitutivas
    (inexistentes antes da operação)

    Propriedades da empiricidade objeto
    sim e não originais constitutivas
    (existentes depois da operação) 

    Designações primitivas
    (ativas e parte da origem da linguagem)

    Repositório
    linguagem de uso

    Evento de início da operação
    de construção da representação
    para a empiricidade objeto

    Evento de fim da operação
    de construção da representação
    para a empiricidade objeto

    Empiricidade objeto 
    (depois da operação) 

    Forma de produção
    (elemento central do modelo de operação)

    Processos, atividades, tasks
    como elementos de suporte
    à Forma de produção

    Sucessão de analogias
    coleção relacionada de objetos análogos
    que compõem representação em construção

    Lugar de nascimento do que é empírico

    Lugar de nascimento do que é empírico

    Domínio do Discurso e da Representação
    (perímetro amarelo)

    Domínio do Pensamento e da Língua 
    (perímetro vermelho)

    Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho da Construção da representação

    Designações primitivas
    (inoperantes no Instanciamento) 

    Representação objeto do Instanciamento
    recuperada do Repositório

    Ambiente de onde são importados 
    os recursos e insumos de todos os tipos,
    consumidos durante o Instanciamento

    Circuito das trocas 
    operação inteiramente no interior do
    Domínio do Discurso e da Representação

    Circuito das trocas 
    operação inteiramente no interior do
    Domínio do Discurso e da Representação

    Representação da empiricidade 
    objeto da operação de Instanciamento
    recuperada do Repositório, antes da operação

    Representação da empiricidade   
    objeto da operação de Instanciamento
    recuperada do Repositório, depois da operação

    Propriedades da empiricidade 
    objeto da operação de Instanciamento
    idênticas às da representação recuperada do Repositório,
    antes da operação

    Propriedades da empiricidade  
    objeto da operação de Instanciamento
    idênticas às da representação recuperada do Repositório,
    depois da operação

    Operação de instanciamento de representação
    de empiricidade objeto pré-existente no Repositório
    (sem alteração no modo de ser fundamental da empiricidade)

    Processos, atividades, tasks
    suporte da Forma de produção
    desencadeados durante a operação de instanciamento

    Evento (i) de início
    da operação de instanciamento
    da representação da empiricidade objeto

    Evento (f) de fim  
    da operação de instanciamento
    da representação da empiricidade objeto

    Operação de instanciamento ocorre
    sem alteração  no modo de ser fundamental
    da empiricidade objeto

    Operação de instanciamento ocorre
    sem alteração  no modo de ser fundamental
    da empiricidade objeto

    Domínio do Discurso e da Representação
    (perfil amarelo)

    Domínio do Pensamento e da Língua
    (perfil vermelho)

    Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho do Instanciamento da representação

    Proposição instanciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
    designações primitivas inativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes e ativados; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
    recuperada desde o Repositório para objeto desta operação
    ]
    Caos como um tipo de ordem instável
    em que as sequências temporais são muito complexas e revelam estruturas
    que nos permitem melhor entender o mundo que nos cerca

    Paleta de ideias ou elementos de imagem
    presentes na configuração de pensamento clássico

    Las meninas, Diego Velázquez, 1656; óleo sobre tela; Museu do Prado, Madrid, Espanha

    O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

    Proposição explicativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
    designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
    Proposição enunciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
    designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção inexistentes; linguagem de ação ou raiz não contém a representação para essa empiricidade objeto
    a proposição no pensamento clássico
    ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca
    a proposição no pensamento moderno: ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca
    ECA-moderno
    Características do pensamento moderno
    o de depois de 1825
    ECA-Clássico
    Características do pensamento clássico
    o de antes de 1775
    homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775,
    considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
    como um gênero, ou uma espécie
    os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
    no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
    caminho do Instanciamento da representação, com valor já atribuído;
    que tem início novamente no interior do Circuito das trocas
    fontes de valor para a representação em construção: a) designações primitivas; b) linguagem de ação ou taiz.

    Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    do pensamento
    funcionamento das operações no pensamento clássico
    Modelo de
    Operação de produção
    relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
    e o sistema Input-Output
    do LE da figura.
    Modelo da 
    Organização de produção
    Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
    múltiplos sistemas de categorias
    Modelo de operações
    e de organização
    Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
    Modelo de  Operação
    contábil-financeira
    O modelo de operação
    no sistema contábil-financeiro
    Modelo da  Organização
    ponto de vista financeiro
    a organização no sistema contábil-financeiro

    Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    de operação do pensamento
    O funcionamento das operações no pensamento moderno
    Modelo de
    Operação de produção
    relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e 'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'
    Modelo da 
    Organização de produção
    o modelo de organização 'Mapa da atividade semicondutores', da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
    O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
    instanciamento de representação
    O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
    do movimento Reengenharia

    O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

    Assim, estes três pares,

    • função e norma,
    • conflito e regra,
    • significação e sistema,

    cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

    Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

    • do nível da psicologia,
    • da sociologia
    • ou da análise das linguagens

    é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

    • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

    Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

    Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     III. Os três modelos
    Michel Foucault 

    O Triedro dos saberes: eixos e faces
    espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
    O interior ao Triedro dos saberes
    o espaço das Ciências humanas

    Aquém do objeto

    Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

    • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

    Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
    existem desde sempre e para sempre,
    e integram o Universo em uma visão única.

    Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

    Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

    Diante do objeto

    No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

    • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

    No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

    • Ciências da vida (Biologia):


      função-norma
      ;

    • Ciências do trabalho (Economia):


      conflito-regra;

    • Ciências da Linguagem (Filologia):

      significação-sistema.

    Além do objeto

    No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

    Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

    • da Vida-(Biologia),
    • do Trabalho-(Economia)
    • e da Linguagem-(Filologia).

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

    O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

    • Ciências da vida  (Biologia):
      função-norma;

      +
      Ciências do trabalho (Economia):

      conflito-regra;
      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      significação-sistema.

    Sob ciências humanas como:

    • economia política;
    • sociologia,
    • psicologia e psicanálise

    estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

    - Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno - caminho da Construção da representação
    - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

    O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
    lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
    O Lugar de nascimento do que é empírico
    lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
    e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
    O Circuito das trocas
    as chaves horizontais amarelas
    onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
    não se altera

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é
    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

    [veja citação 2 à esquerda]

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    3assim também a História,
    a partir do século XIX,
    define o
    lugar de nascimento
    do que é empírico,
    lugar onde,
    aquém
    de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    - Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno - caminho da Construção da representação
    - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é
    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

    [veja citação 2 à esquerda]

    assim também a História,
    a partir do século XIX,
    define o
    lugar de nascimento
    do que é empírico,
    lugar onde,
    aquém de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    Questões/Perguntas

    _thumb história do livro

    A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,
     – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

    tratamento dado ao homem em nossa cultura

    Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

    e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
    com os respectivos tratamentos dados ao homem

    homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
    como um gênero, ou uma espécie
    homem no sistema de operações do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papéis:
    1. raiz e fundamento de toda positividade
    2. elemento do que é empírico.

    “Instaura-se
    uma forma de reflexão
    bastante afastada
    do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão
    segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado,
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
    V. O cogito e o impensado
    Michel Foucault 

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    “No pensamento clássico,
    aquele para quem
    a representação existe,
    e que nela se representa a si mesmo,
    aí se reconhecendo
    por imagem ou reflexo,
    aquele que trama
    todos os fios entrecruzados
    da “representação em quadro” -,
    esse [o ser do homem]
    jamais se encontra lá presente.

    Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.

    Sem dúvida,
    as ciências naturais
    trataram do homem como 

    • de uma espécie
    • ou de um gênero

    a discussão
    sobre o problema das raças,
    no século XVIII, o testemunha.
    A gramática e a economia,
    por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
    de desejo,
    ou de memória
    e de imaginação.”

    Mas não havia
    consciência epistemológica

    do homem como tal.

    “Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.”

    “O modo de ser do homem,
    tal como se constituiu
    no pensamento moderno,
    permite-lhe desempenhar dois papéis:
    está, ao mesmo tempo,

    • no fundamento
      de todas as positividades,
    • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
      no elemento
      das coisas empíricas.

    Esse fato
    – e não se trata aí
    da essência em geral do homem,
    mas pura e simplesmente
    desse a priori histórico que,
    desde o século XIX,
    serve de solo quase evidente
    ao nosso pensamento –
    esse fato é, sem dúvida, decisivo
    para o estatuto a ser dado
    às “ciências humanas”,
    a esse corpo de conhecimentos
    (mas mesmo esta palavra
    é talvez demasiado forte:
    digamos,
    para sermos mais neutros ainda,
    a esse conjunto de discursos)
    que toma por objeto o homem
    no que ele tem de empírico.”

    É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX – O homem e seus duplos;
    II. O lugar do rei
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     I. O triedro dos saberes
    Michel Foucault 

    Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”

    Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.

    as possibilidades de leitura do fenômeno 'operações de troca' e as respectivas possibilidades de análises de valor

    O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

    As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

    Duas visões, duas leituras do fenômeno ‘operações’:
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes – duas abrangências muito diferentes

    Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

    • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
    • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

    Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

    O que não muda entre essas duas possibilidades

    A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

    A proposição é para a linguagem
    o que a representação é
    para o pensamento:
    sua forma, ao mesmo tempo
    mais geral e mais elementar,
    porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV  – Falar;
    tópico III – Teoria do verbo
    Michel Foucault 

    (…) Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O que sim muda entre essas duas possibilidades

    A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

    “Valer, para o pensamento clássico,
    é primeiramente valer alguma coisa,
    poder substituir essa coisa num processo de troca.

    A moeda só foi inventada,
    os preços só foram fixados e só se modificam
    na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples
    apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta,
    quando cada um dos dois parceiros
    reconhece um valor
    para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois,
    que as coisas permutáveis,
    com seu valor próprio,
    existam antecipadamente nas mãos de cada um,
    para que a dupla cessão e a dupla aquisição
    finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado,

    • o que cada um come e bebe,
      aquilo de que precisa para viver
      não tem valor
      enquanto não o cede;
    • e aquilo de que não tem necessidade
      é igualmente desprovido de valor
      enquanto não for usado
      para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    • (atual [troca imediata]
    • ou possível [permutabilidade]),

    isto é, no interior

    1. da troca
      [representação existente]
    2. ou da permutabilidade
      [representação possível]
      .

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca

    “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1. leitura já dadas as condições de troca;
    2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

    1 uma analisa o valor
    no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento
    entre o dado e o recebido;

    • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
      • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

    3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    2 outra analisa-o
    como anterior à troca
    e como condição primeira
    para que esta possa ocorrer.

    • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
      • designações primitivas
      • linguagem de ação ou raiz;

    4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

    fora de si mesma e como que

      • na natureza, ou nas   
      • analogias das coisas;

    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    Esta segunda leitura para ‘operações’
    – que orienta a análise de valor
    desde antes do momento da troca -,
    não é possível sem a presença do homem
    na estrutura dos modelos.

    Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
    mostrados nos modelos de operações

    Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

    a forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

    o lugar onde ocorrem as operações de troca tais como as vemos nas leituras que fazemos

    - Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno - caminho da Construção da representação
    - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

    O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
    lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
    O Lugar de nascimento do que é empírico
    lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
    e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
    O Circuito das trocas
    as chaves horizontais amarelas
    onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
    não se altera

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é
    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

    [veja citação 2 à esquerda]

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    3assim também a História,
    a partir do século XIX,
    define o
    lugar de nascimento
    do que é empírico,
    lugar onde,
    aquém
    de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    Questões/Perguntas

    _thumb história do livro

    A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,  – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

    Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço no caminho,
    encontradas por Foucault durante seu trabalho no livro
    ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’

    exemplos de modelos de operações e de organizações muito usados ainda hoje, mostrando esses dois obstáculos presentes entre nós atualmente.

    os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
    no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
    Michel Foucault
    1926-1984

    “Eis que nos adiantamos
    bem para além do acontecimento histórico
    que se impunha situar
    – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura
    que divide, em sua profundidade,
    a epistémê do mundo ocidental
    e isola para nós o começo de certa
    maneira moderna de conhecer as empiricidades.

    É que o pensamento que nos é contemporâneo
    e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
    se acha ainda muito dominado

    1 pela impossibilidade
    trazida à luz por volta 
    do fim do século XVIII, 
    de fundar as sínteses
    no espaço da representação:

    2 e pela obrigação 
    correlativa, simultânea, 

    mas logo dividida contra si mesma, 
    de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, 
    para além do objeto, 

    esses “quase-transcendentais” 
    que são para nós 
    Vida, o Trabalho, a Linguagem.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;

    Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
    tópico I – As novas empiricidades

    no pensamento clássico
    aquém do objeto
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    diante do objeto
    depois de 1825

    espaço interior
    Triedro dos saberes
    para além do objeto
    reservado às
    Ciências humanas

    comparações de diferentes configurações de pensamento feitas por Michel Foucault
    A impossibilidade
    [no pensamento clássico,
    LE da figura]
    contra a sim-possibilidade
    [no pensamento moderno,
    LD da figura]
    de fundar as sínteses
    [da empiricidade objeto]
    no espaço da representação.
    o espaço interno do
    Triedro dos saberes
    – o habitat das ciências humanas –
    mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as Ciências Humanas

    Os obstáculos no caminho de Foucault 

    aquém do objeto

    diante do objeto

    para além do objeto

    0 Foucault havia anteriormente identificado o perfil do pensamento no período clássico, com uma configuração tal que a capacidade (ou a possibilidade – e mesmo a intenção) de fundar as sínteses – dos objetos de operações cujas representações resultassem dessas operações – no espaço da representação não era sequer cogitada:

    • em razão dos pressupostos adotados,

    e principalmente, em razão 

    • do tipo de leitura feita do fenômeno ‘operações’ das trocas, 
      • na leitura então feita, o ponto de início do fenômeno  ‘operações’, estava inserido no exato momento em que a troca tem todas as condições para acontecer; (os dois objetos da troca – o dado e o obtido –  tinham representações disponíveis e já carregadas de valor).

    1 Michel Foucault relata a seguinte situação:

    • ele havia delineado um tipo de pensamento ‘com o qual queiramos ou não pensamos’, um pensamento que segundo ele ‘tem a nossa idade e a nossa geografia’,
      • com a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto da operação) no espaço da representação;

    para conseguir fundar as sínteses no espaço da representação,

    • foi necessário alterar profundamente todos os pressupostos

    e a leitura feita do que seja uma operação e a análise de valor, exigiram:

    • o deslocamento do ponto de inserção da análise desde o ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
    • para um ponto antes da possibilidade da troca, quando os elementos que dão as condições de efetivação dessa troca, ainda não existissem,

    incorporando à análise, a operação de construção da representação nova. 

    E ele havia percebido que esse pensamento com o qual queiramos ou não pensamos

    • estava muito contaminadodominado, mesmo –
      • justamente pela impossibilidade de fazer isso (essa fundação das sínteses do objeto da operação no espaço da representação), sendo esta impossibilidade  uma característica do pensamento clássico.

    2 Ele percebia ainda uma obrigação a cumprir:

    • a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      • e constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.

    Ele descobre que operações nos domínios das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem podem ser expressos completamente em cada domínio, por pares de modelos constituintes:

    • Vida(Biologia)
      • função-norma;
    • Trabalho(Economia)
      • conflito-regra;
    • Linguagem(Filologia)
      • significação sistema;

    e que os modelos constituintes das Ciências humanas são sempre compostos por uma combinação desses três pares de modelos constituintes.

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

    • Ciências da vida  (Biologia):
      [função-norma];

      +
      Ciências do trabalho (Economia):
      [conflito-regra];
      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      [significação-sistema].

    Podemos ver a atualidade dessa percepção de Foucault
    com Exemplos de modelos para operações e organizações
    construídos sobre estruturas de conceitos
    uns que não permitem, e outros que ao contrário sim permitem
    a fundação das sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação.

    Veja isso aqui.

    Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

    e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
    com os respectivos tratamentos dados ao homem

    homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
    como um gênero, ou uma espécie
    homem no sistema de operações do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papéis:
    1. raiz e fundamento de toda positividade
    2. elemento do que é empírico.

    “Instaura-se
    uma forma de reflexão
    bastante afastada
    do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão
    segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado,
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
    V. O cogito e o impensado
    Michel Foucault 

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    “No pensamento clássico,
    aquele para quem
    a representação existe,
    e que nela se representa a si mesmo,
    aí se reconhecendo
    por imagem ou reflexo,
    aquele que trama
    todos os fios entrecruzados
    da “representação em quadro” -,
    esse [o ser do homem]
    jamais se encontra lá presente.

    Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.

    Sem dúvida,
    as ciências naturais
    trataram do homem como 

    • de uma espécie
    • ou de um gênero

    a discussão
    sobre o problema das raças,
    no século XVIII, o testemunha.
    A gramática e a economia,
    por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
    de desejo,
    ou de memória
    e de imaginação.”

    Mas não havia
    consciência epistemológica

    do homem como tal.

    “Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.”

    “O modo de ser do homem,
    tal como se constituiu
    no pensamento moderno,
    permite-lhe desempenhar dois papéis:
    está, ao mesmo tempo,

    • no fundamento
      de todas as positividades,
    • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
      no elemento
      das coisas empíricas.

    Esse fato
    – e não se trata aí
    da essência em geral do homem,
    mas pura e simplesmente
    desse a priori histórico que,
    desde o século XIX,
    serve de solo quase evidente
    ao nosso pensamento –
    esse fato é, sem dúvida, decisivo
    para o estatuto a ser dado
    às “ciências humanas”,
    a esse corpo de conhecimentos
    (mas mesmo esta palavra
    é talvez demasiado forte:
    digamos,
    para sermos mais neutros ainda,
    a esse conjunto de discursos)
    que toma por objeto o homem
    no que ele tem de empírico.”

    É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX – O homem e seus duplos;
    II. O lugar do rei
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     I. O triedro dos saberes
    Michel Foucault 

    Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”

    Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.

    O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

    As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

    Duas visões, duas leituras do fenômeno ‘operações’:
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes – duas abrangências muito diferentes

    Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

    • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
    • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

    Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

    O que não muda entre essas duas possibilidades

    A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

    A proposição é para a linguagem
    o que a representação é
    para o pensamento:
    sua forma, ao mesmo tempo
    mais geral e mais elementar,
    porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV  – Falar;
    tópico III – Teoria do verbo
    Michel Foucault 

    (…) Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O que sim muda entre essas duas possibilidades

    A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

    “Valer, para o pensamento clássico,
    é primeiramente valer alguma coisa,
    poder substituir essa coisa num processo de troca.

    A moeda só foi inventada,
    os preços só foram fixados e só se modificam
    na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples
    apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta,
    quando cada um dos dois parceiros
    reconhece um valor
    para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois,
    que as coisas permutáveis,
    com seu valor próprio,
    existam antecipadamente nas mãos de cada um,
    para que a dupla cessão e a dupla aquisição
    finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado,

    • o que cada um come e bebe,
      aquilo de que precisa para viver
      não tem valor
      enquanto não o cede;
    • e aquilo de que não tem necessidade
      é igualmente desprovido de valor
      enquanto não for usado
      para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    • (atual [troca imediata]
    • ou possível [permutabilidade]),

    isto é, no interior

    1. da troca
      [representação existente]
    2. ou da permutabilidade
      [representação possível]
      .

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca

    “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1. leitura já dadas as condições de troca;
    2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

    1 uma analisa o valor
    no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento
    entre o dado e o recebido;

    • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
      • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

    3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    2 outra analisa-o
    como anterior à troca
    e como condição primeira
    para que esta possa ocorrer.

    • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
      • designações primitivas
      • linguagem de ação ou raiz;

    4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

    fora de si mesma e como que

      • na natureza, ou nas   
      • analogias das coisas;

    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    Esta segunda leitura para ‘operações’
    – que orienta a análise de valor
    desde antes do momento da troca -,
    não é possível sem a presença do homem
    na estrutura dos modelos.

    Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
    mostrados nos modelos de operações

    Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

    As características das duas configurações do pensamento:

    • a do pensamento clássico, de antes de 1775;
    • e a do pensamento moderno, de depois de 1825

    características de características, ou características de segunda ordem,
    das configurações do pensamento em cada caso.

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    _Estrutura IO-transformação
    Os princípios organizadores
    sob o pensamento clássico:
    o de antes de 1775
    ‘Caráter’ e ‘Similitude’
    Características do pensamento clássico, o de antes de 1775
    Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
    o de depois de 1825
    ‘Analogia’ e ‘Sucessão’
    Características do pensamento moderno, o de depois de 1825

    “Instaura-se
    uma forma de reflexão
    bastante afastada
    do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão
    segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado,
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
    V. O cogito e o impensado
    Michel Foucault 

    “Assim o círculo se fecha.

    Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

    As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

    Mas que são esses sinais? 

    Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

    • que há aqui um caráter 

    no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

    Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

    • – É a semelhança

    Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

    Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

    Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

    • o signo da simpatia resida na analogia, 
    • o da analogia na emulação, 
    • o da emulação na conveniência, 

    que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

    • a marca da simpatia… 

    A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

    De sorte que se vêem surgir,
    como princípios organizadores
    desse espaço de empiricidades, 

    • a Analogia 
    • e a Sucessão

    de uma organização a outra,
    o liame, com efeito,
    não pode mais ser
    a identidade de um
    ou vários elementos,
    mas a identidade
    da relação entre os elementos
    (onde a visibilidade
    não tem mais papel)
    e da função que asseguram;
    ademais, se porventura essas organizações se avizinham
    por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
    localizações próximas
    num espaço de classificação,
    mas sim porque
    foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
    no devir das sucessões.
    Enquanto, no pensamento clássico,
    a seqüência das cronologias
    não fazia mais que percorrer
    o espaço prévio e mais fundamental
    de um quadro
    que de antemão apresentava
    todas as suas possibilidades,
    doravante
    as semelhanças contemporâneas
    e observáveis simultaneamente
    no espaço não serão mais que
    as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
    de analogia em analogia.
    A ordem clássica
    distribuía num espaço permanente
    as identidades
    e as diferenças não-quantitativas
    que separavam e uniam as coisas:
    era essa a ordem
    que reinava soberanamente,
    mas a cada vez
    segundo formas e leis
    ligeiramente diferentes,
    sobre o discurso dos homens,
    o quadro dos seres naturais
    e a troca das riquezas.

    A partir do século XIX,
    a História
    vai desenrolar
    numa série temporal
    as analogias
    que aproximam umas das outras
    as organizações distintas.

    É essa História que,
    progressivamente,
    imporá suas leis

    • à análise da produção,
    • à dos seres organizados, enfim,
    • à dos grupos linguísticos.

    A História dá lugar
    às organizações analógicas,
    assim como a Ordem
    abria o caminho
    das identidades
    e das diferenças sucessivas.

    Essa forma de reflexão surgida será decorrência da segunda leitura do que seja uma operação de troca e portanto não pode prescindir do homem e do objeto?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo II – A prosa do mundo;
    II. As assinalações
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    os lugares onde ocorrem as operações: 

    • Lugar de nascimento do que é empírico
      – operações de Construção de representações;
      • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades sim muda
    • Circuito onde ocorrem as trocas‘ ou Mercado
      – operações de Instanciamento de representações já existentes;
      • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
    Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno – caminho da Construção da representação
    Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, apenas no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, e apenas no caminho da Construção da representação

    O ‘Circuito das trocas’,
    ou ‘Mercado’
    as chaves amarelas no LE da figura, lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
    O Lugar de nascimento do que é empírico – fora e antes do Mercado –
    lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
    e onde se dá a articulação
    do pensamento do homem,
    com o impensado
    O Circuito das trocas
    as chaves horizontais amarelas
    no LD da figura, onde ocorrem operações durante as quais
    o ‘modo de ser fundamental’
    não se altera; é novamente o Mercado, agora no pensamento moderno

    ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ é o conceito chave aqui.

    No pensamento clássico, o de antes de 1775, pelos pressupostos adotados, é impossível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades cuja definição escapa ao escopo destas operações.

    Estas operações transcorrem no interior do Circuito das trocas, a chave amarela horizontal, lugar onde não há alteração no modo como as coisas se apresentam à operação.

    No pensamento moderno, o de depois de 1825, pelos pressupostos adotados é sim possível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades objeto da operação de Construção da representação que, se nova nesse domínio e ambiente, é o próprio escopo destas operações.

    Operações no caminho da Construção da representação transcorrem no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, as chaves coloridas verticais, em um espaço que engloba os lugares  desde onde se fala e do falado. O sucesso dessas operações altera ‘o modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, e com isso, faz-se História.

    No pensamento moderno, o de depois de 1825, em uma operação de Instanciamento de representação objeto cuja construção da representação foi anteriormente feita e incorporada ao Repositório, a representação objeto de Instanciamento é recuperada do Repositório.

    Assim, a operação de Instanciamento não altera o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto de instanciamento.

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é

    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber

    para eventuais conhecimentos
    e para ciências possíveis.

    3 assim também
    a História,
    a partir do século XIX,
    define o

    lugar de nascimento
    do que é empírico,

    lugar onde,
    aquém
    de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    os princípios organizadores dos modelos de operações que fazemos

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    _Estrutura IO-transformação
    Os princípios organizadores
    sob o pensamento clássico:
    o de antes de 1775
    ‘Caráter’ e ‘Similitude’
    Características do pensamento clássico
    o de antes de 1775

    “Assim o círculo se fecha.

    Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

    As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

    Mas que são esses sinais? 

    Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

    • que há aqui um caráter 

    no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

    Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

    • – É a semelhança

    Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

    Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

    Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

    • o signo da simpatia resida na analogia, 
    • o da analogia na emulação, 
    • o da emulação na conveniência, 

    que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

    • a marca da simpatia… 

    A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

    Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
    o de depois de 1825
    ‘Analogia’ e ‘Sucessão’
    Características do pensamento moderno
    o de depois de 1825

    De sorte que se vêem surgir,
    como princípios organizadores
    desse espaço de empiricidades, 

    • a Analogia 
    • e a Sucessão

    de uma organização a outra,
    o liame, com efeito,
    não pode mais ser
    a identidade de um
    ou vários elementos,
    mas a identidade
    da relação entre os elementos
    (onde a visibilidade
    não tem mais papel)
    e da função que asseguram;
    ademais, se porventura essas organizações se avizinham
    por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
    localizações próximas
    num espaço de classificação,
    mas sim porque
    foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
    no devir das sucessões.
    Enquanto, no pensamento clássico,
    a seqüência das cronologias
    não fazia mais que percorrer
    o espaço prévio e mais fundamental
    de um quadro
    que de antemão apresentava
    todas as suas possibilidades,
    doravante
    as semelhanças contemporâneas
    e observáveis simultaneamente
    no espaço não serão mais que
    as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
    de analogia em analogia.
    A ordem clássica
    distribuía num espaço permanente
    as identidades
    e as diferenças não-quantitativas
    que separavam e uniam as coisas:
    era essa a ordem
    que reinava soberanamente,
    mas a cada vez
    segundo formas e leis
    ligeiramente diferentes,
    sobre o discurso dos homens,
    o quadro dos seres naturais
    e a troca das riquezas.

    A partir do século XIX,
    a História
    vai desenrolar
    numa série temporal
    as analogias
    que aproximam umas das outras
    as organizações distintas.

    É essa História que,
    progressivamente,
    imporá suas leis

    • à análise da produção,
    • à dos seres organizados, enfim,
    • à dos grupos linguísticos.

    A História dá lugar
    às organizações analógicas,
    assim como a Ordem
    abria o caminho
    das identidades
    e das diferenças sucessivas.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo II – A prosa do mundo;
    II. As assinalações
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    os lugares contidos dentro do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’:

    • o lugar ‘desde onde se fala
    • e o lugar ‘do falado‘;

    consistentes com os blocos do ‘operar‘ e do ‘suporte ao operar‘ de Humberto Maturana

    Esses dois lugares – o ‘desde onde se fala’ e o ‘do falado’ –
    juntos delimitam o espaço onde se dá a articulação
    do pensamento do homem com o impensado feita
    no domínio do Pensamento e da Língua
    e sua ligação com o domínio do Discurso e da Representação

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    O ‘Circuito das trocas’, ou ‘Mercado’
    lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico

    Lugar desde onde se fala

    Lugar do falado

    são sub-espaços do Lugar de nascimento do que é empírico o que implica que o pensamento está funcionando com o entendimento do pensamento moderno, o de depois de 1825, a coluna ao lado, portanto.

    • Lugar desde onde se fala não pode ser delineado sob o pensamento clássico pela falta da ideia e do elemento de imagem ‘homem’, aquele que fala, raiz e fundamento de toda positividade, e também da ideia do objeto resultado da articulação do pensamento com o impensado, feita pelo homem,;
    • e o Lugar do falado, analogamente, não pode ser delineado no LE da figura. 

    todo o espaço  corresponde, no LE da figura, ao domínio todo em que ocorrem as operações sob o pensamento clássico, a saber, o domínio do Discurso e da Representação.

    A leitura do que sejam Operações sob o entendimento no pensamento clássico pressupõe o ponto de inserção para análise no exato cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca, cuja condição de possibilidade está, desse modo, dada.

    Lugar deste onde se fala:
    ideias que formulam a proposição /
    (sujeito e predicado do sujeito);
    Lugar do falado:
    ideias que dão suporte na experiência ao instanciamento da representação
    no domínio e ambiente

    Lugar do nascimento do que é empírico: espaço ocupado por:

    • Lugar desde onde se fala;
    • Lugar do falado

    O Lugar de nascimento do que é empírico, como o nome sugere, está situado antes do circuito das trocas, e em seu interior ocorre a construção de representação nova.

    Essa visão do que sejam operações corresponde à leitura de operações, ou visão desse fenômeno como desde um ponto de inserção anterior à troca

    Lugar desde onde se fala

    As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidas na formulação da proposição estão contidas no espaço chamado de Lugar desde onde se fala:

    • sujeito: o homem na posição de raiz de toda positividade
    • predicado do sujeito
      • verbo: Forma de produção, o elemento central da operação de construção da representação;
      • atributo: a representação em construção, nas posições extremas da operação de construção.

    Esse espaço coincide com o espaço chamado por Humberto Maturana de ‘operar’, o retângulo vermelho na figura ao lado, parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas no interior do domínio do Pensamento e da Língua.

    Lugar do falado

    As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidos na sustentação da Forma de produção na experiência estão no lugar do falado:

    • elementos de suporte na experiência à Forma de produção, onde se encontram
      • processos, atividades, tasks

    A operação de construção da representação escolhe os elementos de suporte na experiência à Forma de produção, que deve ser capaz de produzir quando implementada, uma instância da representação com o operar vislumbrado – ou o mais próximo disso possível. Humberto Maturana chama esse espaço de ‘suporte ao operar’, o retângulo amarelo na figura ao lado. 

    O Lugar do falado é parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas suas ideias – ou elementos de imagem – fazem parte do domínio do Discurso e da Representação.

    “É preciso, portanto,
    tratar esse verbo
    como um ser misto,

    ao mesmo tempo
    palavra entre as palavras,

    preso às mesmas regras,
    obedecendo como elas
    às leis de regência
    e de concordância;


    e depois,


    em recuo em relação a elas todas,

    numa região que

    • não é
      aquela do falado

    • mas aquela 
      donde se fala.

    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre

    • aquilo que é dito

    • e aquilo que se diz,

    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    Há correspondências que precisam ser anotadas, entre elas:

    • no princípio dual de trabalho de David Ricardo
      • aquela atividade que está na origem do valor das coisas 
      • tem suas ideias – ou seus elementos de imagem no lugar desde onde se fala
    • no LD – lado direito da figura 2 de Humberto Maturana
      • os dois blocos do ‘Explicar com Reformular’ em que Maturana divide suas explicações
        • sobre o que acontecia com o ser vivo,
        • e o modo como ele o via no seu espaço de distinções
      • correspondem apropriadamente com o que Foucault chama respectivamente de 
        • Lugar desde onde se fala e 
        • Lugar do falado.

    Processo e Mercado são os conceitos largamente utilizados;
    e ao mesmo tempo não se ouve falar 

    • em Forma de produção
    • ou em Lugar de nascimento do que é empírico,
    • e menos ainda em Nexo da produção

    como ideias – ou elementos de imagem – em modelos de operações e organizações

    no pensamento clássico
    aquém do objeto
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    diante do objeto
    depois de 1825

    espaço interior Triedro dos saberes
    para além do objeto
    reservado às Ciências humanas

    Aquém do objeto:
    Processo

    Diante do objeto:
    Forma de produção

    Além do objeto
    Nexo da operação

    o elemento central em operações
    no pensamento clássico
    Processo
    o elemento central em operações
    no pensamento moderno
    Forma de produção
    o Nexo da produção,
    o elemento central do modelo de organização no formato SSS
    • Elemento central:
      • Processo

    entendido sob o primeiro conceito de verbo explicado por Michel Foucault, como elemento gerador de um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, que o mais que faz é indicar a coexistência de duas representações.

    • característica emergente: 
      • fluxo
    • metáfora 
      • transformação única
    • Elemento central:
      • Forma de produção

    entendida sob o segundo conceito de verbo explicado por Michel Foucault, tratado como um ser misto, inicialmente palavra entre palavras, preso às mesmas regras às mesmas regras, obedecendo como elas às mesmas leis de regência e concordância, e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado, mas aquela donde se fala.

    • característica emergente:
      • permanência
    • metáfora
      • conversão ou duas transformações
    • Elemento central:
      • Nexo da produção

    a formulação para além do objeto associa o sistema cujo resultado é o produto, aquilo que se quer obter, com o instrumento imprescindível para obtê-lo.

    • propriedades emergentes:
      • simetria, simbiose e sinergia

    Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais nada, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

    Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

    o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Verbo’;
    para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

    Ideias – ou elementos de imagem – centrais no LE e no LD da figura
    Processo o elemento central no pensamento clássico
    Forma de produção o elemento central no pensamento moderno, com as
    designações primitivas e a linguagem de ação ou raiz

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    Aquém do objeto

    Conceito de Verbo ‘Processo’
    na configuração de pensamento
    do período clássico, antes de 1775

    Verbo como
    Processo

    “A única coisa que o verbo afirma
    é a coexistência de duas representações:
    por exemplo, 

    • a do verde
      e da árvore,

    • a do homem
      e da existência

      ou da morte; 

    é por isso que
    o tempo dos verbos

    não indica
    aquele [tempo]

    em que as coisas existiram
    no absoluto,

    mas um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si.”

    Diante e Além do objeto

    Conceito de Verbo ‘Forma de produção’
    na configuração de pensamento
    do período moderno, depois de 1825

    Verbo como
    Forma de produção

    “É preciso, portanto,
    tratar esse verbo
    como um ser misto,

    ao mesmo tempo
    palavra entre as palavras,

    preso às mesmas regras,
    obedecendo como elas
    às leis de regência
    e de concordância;


    e depois,


    em recuo em relação a elas todas,

    • numa região que não é
      aquela do falado

    • mas aquela
      donde se fala.

    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre

    • aquilo que é dito

    • e aquilo que se diz,

    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.”

    Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, para o que seja um ‘Verbo’, e a total consistência entre o segundo conceito/tratamento e ‘Forma de produção’

    • por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Classificar’;
    para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    Aquém
    do objeto

    O conceito de ‘Classificar’
    no pensamento clássico
    o de antes de 1775

    ‘Classificar’
    no pensamento clássico

    Aquém do objeto,
    isto é,
    no pensamento filosófico Classico
    o de antes de 1775

    nessa faixa do espectro de modelos
    que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

    Classificar
    é referir

    • o visível
    • a si mesmo,

    encarregando um dos elementos
    de representar os outros.”

    Diante e Além
    do objeto

    O conceito de ‘Classificar’
    no pensamento moderno
    o de depois de 1825

    ‘Classificar’
    no pensamento moderno

    Diante, e Além do objeto, 
    isto é, 
    no pesamento filosófico moderno,
    o de depois de 1825

    nessa faixa do espectro de modelos 
    que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

    “Em um movimento
    que faz revolver a análise

    Classificar
    é referir

    • o visível 
    • ao invisível 

    – como a sua razão profunda -, 

    e depois,
    alçar de novo
    dessa secreta arquitetura,
    em direção aos seus
    sinais manifestos,
    que são dados
    à superfície dos corpos.”

    Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

    pares de modelos constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental

    • da Vida(Biologia) [função-norma],
    • do Trabalho(Economia) [conflito-regra]
    • e da Linguagem(Filologia) [significação-sistema]

    e o modelo constituinte padrão, comum a todas das ciências humanas; um modelo composto por uma combinação entre esses três pares de modelos constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem

    no pensamento clássico
    antes de 1775
    aquém do objeto

    no pensamento moderno
    depois de 1825
    diante do objeto

    no pensamento moderno
    também depois de 1825
    para além do objeto

    não há modelos constituintes sob o pensamento clássico

    O Triedro dos saberes: eixos e faces
    espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
    O interior ao Triedro dos saberes
    o espaço das Ciências humanas

    Aquém do objeto

    Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

    Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
    existem desde sempre e para sempre,
    e integram o Universo em uma visão única.

    Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

    Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

    Diante do objeto

    A modelagem em cada área do saber é feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

    No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

    • Ciências da vida (Biologia):


      [função-norma]
      ;

    • Ciências do trabalho (Economia):


      [conflito-regra];

    • Ciências da Linguagem (Filologia):

      [significação-sistema].

    Além do objeto

    No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
    da Vida
    -(Biologia), do Trabalho-(Economia) e da Linguagem-(Filologia).

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

    • Ciências da vida  (Biologia):
      [função-norma];

      +
      Ciências do trabalho (Economia):
      [conflito-regra];

      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      [significação-sistema].

    Proposição: o bloco construtivo

    • padrão,
    • genérico
    • e fundamental

    oferecido pela gramática da língua para construção de representações.

    Esse bloco construtivo ‘proposição’ carrega valor para as representações, mas faz isso de ao menos dois modos diferentes e com duas visões distintas para o que sejam ‘operações’.

    “Valer, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que

    • a dupla cessão
    • e a dupla aquisição

    finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra,

    • é preciso que elas existam já carregadas de valor;
      • e, contudo, o valor só existe no interior da representação
        (atual ou possível), isto é,
      • no interior da troca ou da permutabilidade.

    “A proposição é
    para a linguagem
    o que a representação é
    para o pensamento
    sua forma,
    ao mesmo tempo
    mais geral
    e mais elementar
    porquanto,
    desde que a decomponhamos,
    não encontremos mais o discurso
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. IV – Falar;
    tópico: III – A teoria do verbo
    Michel Foucault

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    a proposição no pensamento clássico
    ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca

    a toda a essência da linguagem  encerrada – diretamente – na própria proposição;

    junto com esse ‘encerramento’ vão as ideias – ou elementos de imagem – necessários para a formulação da proposição, que assim, não participam do modelo de operações.

    a proposição no pensamento moderno ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca

    a descoberta da essência da linguagem  fora dela mesma, linguagem; a proposição formulada no modelo por suas ideias ou elementos de imagem presentes; inicialmente vazia, apenas um enunciado, é preenchida de valor a partir de duas fontes:

    • as designações primitivas;
    • a linguagem de ação ou raiz

    ambas assinaladas na figura.

    “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1 uma analisa o valor

    • no ato mesmo da troca,

    no ponto de cruzamento
    entre o dado e o recebido;

    • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da
      • proposição;

    3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    2 outra analisa-o

    • como anterior à troca 

    e como condição primeira
    para que esta possa ocorrer.

    • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem
      do lado das
      • designações primitivas
      • linguagem de ação ou raiz;

    4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

    • fora de si mesma e como que
      • na natureza, ou nas   
      • analogias das coisas;

    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor,

    • antes da troca
    • e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    Ideias – ou elementos de imagem – requeridos para a
    Formulação da proposição, e valor carregado 

    Ideias – ou elementos de imagem requeridos para formulação da proposição ausentes da estrutura do modelo de operação.

    Valor carregado diretamente na proposição.

    impossibilidade de formulação da proposição com ideias – ou elementos de imagem – requeridos, pela ausência do homem em sua duplicidade de papéis, e pela noção de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.

    Proposição formulada com ideias ou elementos de imagem pertencentes à estrutura interna do modelo de operações;

    Valor carregado pela proposição com origem fora da linguagem

    • designações primitivas

    a busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para a representação da empiricidade objeto no domínio e ambiente em que a operação acontece. 

    • linguagem de ação ou raiz

    todo o conteúdo do Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, à disposição da construção de novas representações.

    Os tipos de sistemas que dão suporte a operações,
    em função da configuração do pensamento:

    • no pensamento clássico: o sistema Input-Output, ou um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
    • no pensamento moderno: um sistema construído no interior do Lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde as empiricidades objeto das operações adquirem ‘o ser que lhes é próprio’.

    no pensamento clássico
    antes de 1775
    verbo ‘Processo

    no pensamento moderno
    depois de 1825
    verbo ‘Forma de produção

    questão/pergunta

    Operação clássica sob o conceito de Verbo ‘Processo’
    na configuração de pensamento
    do período clássico, antes de 1775

    “A única coisa
    que o verbo afirma

    é a coexistência de duas representações:
    por exemplo, 

    • a do verde
      e da árvore,

    • a do homem
      e da existência

      ou da morte; 

    é por isso
    que o tempo dos verbos

    não indica
    aquele [tempo]

    em que as coisas existiram
    no absoluto,

    mas um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si.”

    Operação moderna sob o conceito de
    Verbo ‘Forma de produção’
    na configuração de pensamento
    do período moderno, depois de 1825

    “É preciso, portanto,
    tratar esse verbo
    como um ser misto,

    ao mesmo tempo
    palavra entre as palavras,

    preso às mesmas regras,
    obedecendo como elas
    às leis de regência
    e de concordância;


    e depois,


    em recuo em relação a elas todas,

    • numa região que não é
      aquela do falado

    • mas aquela
      donde se fala.

    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre

    • aquilo que é dito

    • e aquilo que se diz,

    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    O tipo de sistema

    O conceito acima é explícito em fornecer uma descrição do tipo de sistema para operações sob o pensamento clássico.

    Trata-se de 

    • um sistema relativo
      de anterioridade ou de simultaneidade
      das coisas entre si; 

    uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    asdf

    Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    O tipo de leitura

    asdf

    Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    asdf

    Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    o tempo nas operações, em função dos sistemas
    em cada segmento do espectro de modelos

    no pensamento clássico
    antes de 1775
    aquém do objeto

    no pensamento moderno
    depois de 1825
    diante e para além do objeto

    no pensamento moderno
    também depois de 1825
    diante e para além do objeto

    formulação reversível
    e somente 
    instanciamento
    da representação;
    deus Chronos

    formulação irreversível
    e operação de construção
    da representação 
    deus Kairós

    formulação reversível
     e operação instanciamento
    da representação
    deus Chronos

    pensamento clássico, o de antes de 1775
    tempo calendário no sistema Input-Output
    operação de instanciamento de representação anteriormente formulada
    pensamento moderno, o de depois de 1825
    tempo absoluto sistema absoluto
    no caminho da Construção da representação
    pensamento moderno, o de depois de 1825
    tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
    no caminho do Instanciamento da representação

    Aquém do objeto

    Diante ou para além do objeto

    Nota: a existência precede as distinções feitas na operação.

    Tempo na formulação e no instanciamento da representação:

    • formulação reversível durante a formulação;
    • tempo calendário, ou tempo relativo no sentido de que
      • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f),
      • a posição calendário do outro evento (f) ou (i) pode ser calculada com as propriedades aparentes disponíveis antes e depois da operação;
    • irreversibilidades somente na etapa de instanciamento da representação

    Não há nada que possa ser afirmado, posto, disposto e repartido no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis e assim não se pode falar em ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja. 

    Assim, no pensamento clássico, não é possível adotar esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, que é compreendida como sucessão de fatos assim como se sucedem.

    caminho da
    Construção da representação
    Nota: a existência se constitui com as distinções feitas na operação

    Durante essa operação, a empiricidade objeto da operação, sim, muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

    Tempo no caminho da Construção da representação, durante a formulação da representação:

    • formulação irreversível durante a formulação;
    • tempo absoluto no sentido de que a empiricidade objeto ‘assume o ser que lhe é próprio’ em decorrência da operação, e então:
      • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f)
      • não é possível o cálculo da inserção calendário do outro evento (f) ou (i) a partir dessa inserção calendário do evento anterior em virtude da não disponibilidade das propriedades antes/depois da operação;
    •  irreversibilidades ocorrem na formulação da operação de construção da representação.

    A empiricidade objeto da operação tem um novo ‘modo de ser fundamental’, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’.

    Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operações, sim, faz-se história.

     caminho do
    Instanciamento da representação

    Nota: a existência volta a preceder as distinções feitas na operação.
     

    Durante essa operação a empiricidade objeto não muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

    Tempo  no caminho do Instanciamento da representação previamente existente no Repositório e dele recuperada para a posição de empiricidade objeto na presente operação de instanciamento:

    • formulação volta a ser reversível; (é possível descartar uma formulação de instanciamento e formular outra com novas escolhas, sem perdas;
    • tempo volta a ser tempo calendário, ou tempo relativo;
    • irreversibilidades no caminho do Instanciamento da representação ocorrem em decorrência do desencadeamento dos elementos de suporte na experiência à Forma de produção.

    A empiricidade objeto da operação tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ com que foi recuperada do repositório, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’ exatamente da mesma forma como havia sido acrescentada ao repositório.

    Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da História, durante esse tipo de operações não se faz história.

    Modelagem de operações e organizações organizadas pelo par sujeito-objeto, com operações específicas e separadas para cada um desses pares, porém relacionadas:

     

    • um modelo para a operação e organização para o objeto esperado pelo Cliente (Produto);
    • e um modelo para a operação e organização  para o instrumento capaz de obter o Produto, bem como obter o objeto esperado pelo Acionista (Benefícios de toda espécie, Lucros)

    Mapa geral das operações na disposição SSS

    Modelagem para uma organização incluindo o objeto esperado de interesse do Cliente
    e o instrumento capaz de obtê-lo, e também o objeto esperado de interesse do Acionista
    identificando o nexo da produção

    Argumento: a modelagem de operações
    organizada pelo par sujeito-objeto

    Construção da estrutura de operações na disposição SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica

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    Cronologia básica da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura ocidental entre os anos 1775-1825 segundo Michel Foucault.

    • fases e ponto de ruptura desse evento;
    • linha de tempo com as defasagens entre conquistas no pensamento e respectivo uso nas áreas técnicas;
    • alguns autores importantes de um e de outro lado desse evento;
    • ponto de entrada do homem em nossa cultura;
    • alguns autores citados como referências em modelos sociais, econômicos e políticos
    Michel Foucault
    1926-1984

    “E foi realmente necessário 
    um acontecimento fundamental
    – um dos mais radicais, sem dúvida, 1
    que ocorreram na cultura ocidental,
    para que se desfizesse a positividade do saber clássico
    e se constituísse uma positividade de que, por certo,
    não saímos inteiramente.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    tópico I. A idade da história

    Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
    defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prática

    cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
    uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prática

    O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

     “É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.

    Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,

    • é a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
      • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros, 
      • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e de articulação, 
      • como chegam, pelo jogo das comparações, a estabelecer uma ordem. “

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas
    Cap.VII – Os limites da representação
    tópico I. A idade da história

    Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

    Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

    • autores clássicos:
      • Adam Smith,
      • John Locke, 
      • David Hume, 
      • J. J. Rousseau, 
      • Jeremy Bentham, 
      • e J. M. Keynes (este, expressamente classificado por Foucault como não moderno)
    • autores modernos:
      • David Ricardo
      • Sigmund Schlomo Freud 
      • entre muitos outros.

    Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

    • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
    • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
    • David Ricardo, economista, 1772-1823

    Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    do pensamento
    funcionamento das operações no pensamento clássico
    Modelo de
    Operação de produção
    relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
    e o sistema Input-Output
    do LE da figura.
    Modelo da 
    Organização de produção
    Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
    múltiplos sistemas de categorias
    Modelo de operações
    e de organização
    Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
    Modelo de  Operação
    contábil-financeira
    O modelo de operação
    no sistema contábil-financeiro
    Modelo da  Organização
    ponto de vista financeiro
    a organização no sistema contábil-financeiro

    Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    de operação do pensamento
    O funcionamento das operações no pensamento moderno
    Modelo de
    Operação de produção
    relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’
    Modelo da 
    Organização de produção
    o modelo de organização ‘Mapa da atividade semicondutores’, da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
    O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
    instanciamento de representação
    O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
    do movimento Reengenharia

    O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

    Assim, estes três pares,

    • função e norma,
    • conflito e regra,
    • significação e sistema,

    cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

    Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

    • do nível da psicologia,
    • da sociologia
    • ou da análise das linguagens

    é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

    • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

    Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

    Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     III. Os três modelos
    Michel Foucault 

    O Triedro dos saberes: eixos e faces
    espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
    O interior ao Triedro dos saberes
    o espaço das Ciências humanas

    Aquém do objeto

    Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

    • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

    Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
    existem desde sempre e para sempre,
    e integram o Universo em uma visão única.

    Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

    Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

    Diante do objeto

    No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

    • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

    No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

    • Ciências da vida (Biologia):


      função-norma
      ;

    • Ciências do trabalho (Economia):


      conflito-regra;

    • Ciências da Linguagem (Filologia):

      significação-sistema.

    Além do objeto

    No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

    Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

    • da Vida-(Biologia),
    • do Trabalho-(Economia)
    • e da Linguagem-(Filologia).

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

    O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

    • Ciências da vida  (Biologia):
      função-norma;

      +
      Ciências do trabalho (Economia):

      conflito-regra;
      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      significação-sistema.

    Sob ciências humanas como:

    • economia política;
    • sociologia,
    • psicologia e psicanálise

    estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

    A descrição feita por Michel Foucault de duas possibilidades
    de posicionamento do pensamento com relação a valor

    “Valor, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que a dupla cessão e a dupla aquisição finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra, é preciso que elas existam já carregadas de valor; e, contudo, o valor só existe no interior da representação (atual ou possível), isto é, no interior da troca ou da permutabilidade.

    Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1. uma analisa o valor no ato mesmo da troca, no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
    2. outra analisa-o como anterior à troca e como condição primeira para que esta ossa ocorrer.

    Os dois pontos de partida distintos adotados pelo pensamento para análise de valor

    1. a primeira possibilidade de leitura

    A análise de valor no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido

    2. a segunda possibilidade de leitura

    A análise de valor como anterior à troca
    e como condição primeira para que esta possa ocorrer.

    A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da proposição;

    • no [neste] primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tomando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    a outra, [corresponde] a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das designações primitivas – linguagem de ação ou raiz(*);

    • na outra [nesta] forma de análise, a linguagem está enraizada fora de si mesma e como que na natureza ou nas analogias das coisas; a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.

    IV. O caráter

    Capítulo V - Classificar; tópico IV. O caráter

    A estrutura é essa designação do visível que, por uma espécie de triagem pré-Iínguística, permite a ele transcrever-se na linguagem.

    Mas a descrição assim obtida não é mais que um modo de nome próprio:

    • deixa a cada ser sua individualidade estrita
    • e não enuncia
      • nem o quadro a que ele pertence,
      • nem a vizinhança que o cerca,
      • nem o lugar que ocupa.

    Ela é pura e simples designação.

    E, para que a história natural se torne linguagem, é preciso que a descrição se torne “nome comum”.

    Viu-se como, na linguagem espontânea, as primeiras designações que concerniam a representações singulares, após terem assumido sua origem na linguagem de ação e nas raízes primitivas, adquiriram, pouco a pouco, por força da derivação, valores mais gerais.

    A história natural, porém, é uma língua bem-feita:

    • não deve aceitar a imposição da derivação e de sua figura;
    • não deve dar crédito a nenhuma etimologia(15).

    É preciso que ela reúna em uma única e mesma operação o que a linguagem de todos os dias mantém separado: deve, a um tempo,

    • designar muito precisamente todos os seres naturais
    • e situá-los ao mesmo tempo num sistema de identidades e de diferenças que os aproxima e os distingue dos outros.

    A história natural deve assegurar, num só movimento, uma designação certa e uma derivação controlada.

    E, como a teoria da estrutura superpunha uma à outra a articulação e a proposição,

    do mesmo modo a teoria do caráter deve identificar os valores designativos e o espaço onde ocorre a sua derivação.

    “Conhecer as plantas”, diz Tournefort, “é saber precisamente os nomes que se lhes deu em relação à estrutura de algumas de suas partes… A idéia do caráter, que distingue essencialmente as plantas umas das outras, deve ser invariavelmente unida ao nome de cada planta.”(16)

    O estabelecimento do caráter é ao mesmo tempo fácil e difícil.

    • Fácil, porque a história natural não tem de estabelecer um sistema de nomes a partir de representações difíceis de analisar, mas sim de fundá-Io sobre uma linguagem que já se desenrolou na descrição. Nomear-se-á não a partir do que se vê mas a partir dos elementos que a estrutura já fez passar para o interior do discurso. Trata-se de construir uma linguagem segunda a partir dessa linguagem primeira, mas certa e universal.
    • Logo, porém, aparece uma dificuldade maior. Para estabelecer as identidades e as diferenças entre todos os seres naturais, seria preciso ter em conta cada traço que pôde ser mencionado numa descrição. Tarefa infinita que recuaria o advento da história natural para um longínquo inacessível, se não existissem técnicas para contornar a dificuldade e limitar o trabalho de comparação.

    Pode-se, a priori, constatar que essas técnicas são de dois tipos.

    • Ou se fazem comparações totais, mas no interior de grupos empiricamente constituídos, onde o número de semelhanças é manifestamente tão elevado que a enumeração das diferenças não demorará a perfazer-se e assim, pouco a pouco, o estabelecimento das identidades e das distinções poderá ser assegurado.
    • Ou então se escolhe um conjunto finito e relativamente limitado de traços, dos quais se estudarão, em todos os indivíduos que se apresentarem, as constâncias e as variações.

    Este último procedimento é o que se denominou Sistema.

    O outro, Método.

    Eles se opõem como se opõe Lineu a Buffon, a Adanson, a Antoine-Laurent de Jussieu. Como se opõe uma concepção rígida e clara da natureza à percepção fina e imediata de seus parentescos. Como se opõe a ideia de uma natureza imóvel à de uma continuidade fervilhante dos seres que se comunicam entre si, se confundem e talvez se transformem uns nos outros…

    Contudo, o essencial não está nesse conflito das grandes intuições da natureza. Está antes na rede de necessidade que nesse ponto tornou possível e indispensável a escolha entre duas maneiras de constituir a história natural como uma língua. Todo o resto não passa de consequência lógica e inevitável.

    O Sistema delimita, entre os elementos que sua descrição justapõe com minúcia, tais ou quais dentre eles. Eles definem a estrutura privilegiada e na verdade exclusiva, a propósito da qual se estudará o conjunto das identidades e das diferenças. Toda diferença que não recair sobre um desses elementos será reputada indiferente. Se, como o faz Lineu, se escolhem por nota característica “todas as partes diferentes da frutificação”(17), uma diferença de folha, ou de caule, ou de raiz, ou de pecíolo deverá ser sistematicamente negligenciada. Do mesmo modo, toda identidade que não for aquela de um desses elementos não terá valor para a definição do caráter.

    Em contrapartida, quando, em dois indivíduos, esses elementos são semelhantes, eles recebem uma denominação comum.

    A estrutura escolhida para ser o lugar das identidades e das diferenças pertinentes é o que se denomina caráter(7):

    Segundo Lineu, o caráter se comporá da “mais cuidadosa descrição da frutificação da primeira espécie. Todas as outras espécies do gênero são comparadas à primeira, banindo-se todas as notas discordantes; enfim, após esse trabalho, o caráter se produz”(18).

    O sistema é arbitrário em seu ponto de partida, pois que negligencia, de maneira regulada, toda diferença e toda identidade que não recai sobre a estrutura privilegiada.

    Mas nada impede, de direito, que se possa um dia descobrir, através dessa técnica, um sistema que seria natural;

    • a todas as diferenças no caráter corresponderiam as diferenças de mesmo valor na estrutura geral da planta;
    • e, inversamente, todos os indivíduos ou todas as espécies reunidas sob um caráter comum teriam realmente, em cada uma de suas partes, a mesma relação de semelhança.

    Mas só se pode aceder ao sistema natural, após se ter estabelecido com certeza um sistema artificial, ao menos em certos domínios do mundo vegetal ou animal.

    Eis por que Lineu não busca estabelecer de imediato um sistema natural “antes de ser perfeitamente conhecido tudo o que é pertinente”(19) para seu sistema.

    Por certo, o método natural constitui “o primeiro e último desejo dos botânicos” e todos os seus “fragmentos devem ser buscados com o maior cuidado”(20), como fez o próprio Lineu nas suas Classes Plantarum; mas, na falta desse método natural ainda por vir em sua forma certa e acabada “os sistemas artificiais são absolutamente necessários”(21). 

    Ademais, o sistema é relativo: pode funcionar com a precisão que se deseje.

    • Se o caráter escolhido é formado de uma estrutura ampla, com um número elevado de variáveis, as diferenças aparecerão muito breve, desde que se passe de um indivíduo a outro, mesmo quando lhe for totalmente vizinho: o caráter está então muito próximo da pura e simples descrição(22).
    • Se, ao contrário, a estrutura privilegiada é estreita e comporta poucas variáveis, as diferenças serão raras e os indivíduos serão agrupados em massas compactas.

    Escolher-se-á o caráter em função da finura da classificação que se quer obter.

    Para fundar os gêneros, Tournefort escolheu como caráter a combinação entre a flor e o fruto. Não como Césalpin, por serem as partes mais úteis da planta, mas porque permitiam uma combinatória que era numericamente satisfatória: os elementos tomados de empréstimo às três outras partes (raízes, caules e folhas) eram, com efeito, ou demasiado numerosos, se tratados em conjunto, ou demasiado pouco numerosos, se considerados separadamente(23).

    Lineu calculou que os 38 órgãos da geração, comportando cada qual as quatro variáveis do número, da figura, da situação e da proposição, autorizavam 5.576 configurações suficientes para definir os gêneros(24).

    Se se quer obter grupos mais numerosos que os gêneros, é preciso apelar para caracteres mais restritos (“caracteres factícios convencionados entre os botânicos”) como, por exemplo, só os estames ou só o pistilo: poder-se-ão assim distinguir as classes ou as ordens(25).

    Assim, o domínio inteiro do reino vegetal ou animal poderá ser quadriculado. Cada grupo poderá receber um nome. De sorte que uma espécie, sem precisar ser descrita, poderá ser designada com a maior precisão pelos nomes dos diferentes conjuntos nos quais se encaixa. Seu nome completo atravessa toda a rede dos caracteres, que se estabelece até as classes mais elevadas.

    Porém, como observa Lineu, esse nome, por comodidade, deve ficar em parte “silencioso” (não se nomeiam a classe e a ordem), mas a outra parte deve ser “sonora”: é preciso nomear o gênero, a espécie e a variedade(26). A planta, assim reconhecida no seu caráter essencial e designada a partir dele, enunciará, ao mesmo tempo que aquilo que a designa com precisão, o parentesco que a liga às que se lhe assemelham e pertencem ao mesmo gênero (portanto, à mesma família e à mesma ordem). Ela terá recebido, a um só tempo, seu nome próprio e toda a série (manifesta ou oculta) dos nomes comuns nos quais se aloja.

    “O nome genérico é, por assim dizer, a moeda de bom quilate de nossa república botânica.”(27) A história natural terá cumprido a sua tarefa fundamental que é “a disposição e a denominação”(28).

    O Método é uma outra técnica para resolver o mesmo problema. Em vez de recortar na totalidade descrita os elementos – raros ou numerosos – que servirão de caracteres o método consiste em deduzi-Ios progressivamente. Deduzir deve ser aqui tomado no sentido de subtrair.

    • Parte-se – é o que faz Adanson no exame das plantas do Senegal(29) – de uma espécie arbitrariamente escolhida ou dada de início num encontro casual.
    • Faz-se a sua descrição completa, parte por parte e fixando todos os valores que nela tomaram as variáveis.
    • Recomeça-se esse trabalho para a espécie seguinte, dada ela também pelo arbitrário da representação; a descrição deve ser tão completa quanto a primeira, apenas com a diferença de ‘ que nada do que tenha sido mencionado na descrição primeira deve ser repetido na segunda. Só são mencionadas as diferenças.
    • Assim para a terceira em relação às duas outras, e isso indefinidamente.

    De sorte que, no fim das contas, todos os traços diferentes de todos os vegetais terão sido mencionados uma vez, mas nunca mais do que uma vez. E, agrupando em torno das primeiras descrições as que foram feitas em seguida e que se rarefazem na medida em que se progride, vê-se delinear, através do caos primitivo, o quadro geral dos parentescos.

    O caráter que distingue cada espécie ou cada gênero é o único traço mencionado sobre o fundo das identidades silenciosas. De fato, semelhante técnica seria sem dúvida a mais segura, mas o número de espécies existentes é tal que não seria possível chegar ao termo.

    Entretanto, o exame das espécies encontradas revela a existência de grandes “famílias”, isto é, de amplos grupos nos quais as espécies e os gêneros têm um número considerável de identidades. E tão considerável que eles se assinalam por traços muito numerosos, mesmo para o olhar menos analítico; a semelhança entre todas as espécies de Ranúnculos, ou entre as espécies de Acônitos, aparece imediatamente aos sentidos.

    Neste ponto, para que a tarefa não seja infinita, é preciso inverter o processo. Admitem-se as grandes famílias que são evidentemente reconhecidas e cujas primeiras descrições definiram, como que às cegas, os traços gerais. São esses traços comuns que se estabelecem agora de maneira positiva; depois, cada vez que se encontrar um gênero ou uma espécie que manifestamente os apresenta, bastará indicar por qual diferença eles se distinguem dos outros que lhes servem como que de circuito natural.

    O conhecimento de cada espécie poderá ser facilmente adquirido a partir desta caracterização geral:

    “Dividiremos cada um dos três reinos em várias famílias que reunirão todos os seres que têm entre si relações evidentes, passaremos em revista todos os caracteres gerais e particulares dos seres contidos nessas famílias”;

    dessa maneira,

    “poderemos estar seguros de reportar todos esses seres às suas famílias naturais; é assim que, começando pela fuinha e pelo lobo, pelo cão e pelo urso, conheceremos suficientemente o leão, o tigre, a hiena, que são animais da mesma família “(30).

    Vê-se de imediato o que opõe método e sistema.

    • Só pode haver um método;
    • pode-se inventar e aplicar um número considerável de sistemas:
      • Adanson definiu 6531.

    O sistema é arbitrário em todo o seu desenrolar, mas uma vez que o sistema de variáveis – o caráter – foi definido de início, não é mais possível modificá-lo, acrescentar-lhe ou retirar-lhe ainda que um só elemento.

    • O método é imposto de fora, pelas semelhanças globais que aproximam as coisas;
    • transcreve imediatamente a percepção no discurso;
    • permanece, em seu ponto de partida, o mais perto possível da descrição;
      • mas lhe é sempre possível trazer ao caráter geral que definiu empiricamente as modificações que se impõem: um traço que se acreditava essencial para um grupo de plantas ou de animais pode muito bem não ser mais que uma particularidade de alguns, desde que se descubram outros que, sem o possuírem, pertencem de maneira evidente à mesma família;
    • o metodo deve estar sempre pronto a retificar-se a si mesmo.

    Como diz Adanson,

    • o sistema é como que “a regra da falsa posição no cálculo”: resulta de uma decisão, mas deve ser absolutamente coerente;
    • o método, ao contrário, é “um arranjo qualquer de objetos ou de fatos aproximados por conveniências ou semelhanças quaisquer, que se exprime por uma noção geral e aplicável a todos esses objetos, sem contudo considerar essa noção fundamental ou esse princípio como absoluto nem invariável, nem tão geral que não possa sofrer exceção… O método só difere do sistema pela ideia que o autor vincula a seus princípios, encarando-os como variáveis no método e como absolutos no sistema”(32).
    Ademais,
    • o sistema só pode reconhecer, entre as estruturas do animal ou do vegetal, relações de coordenação: porque o caráter é escolhido, não em razão de sua importância funcional, mas em razão de sua eficácia combinatória; nada prova que, na hierarquia interior do indivíduo, tal forma de pistilo, tal disposição dos estames acarrete tal estrutura; se o germe da Adoxa está entre o cálice e a corola, se no arão os estames estão dispostos entre os pistilos, tudo isso não são nem mais nem menos que “estruturas singulares”(33): sua pouca importância só vem de sua raridade, ao passo que a igual divisão do cálíce e da corola não tem outro valor senão sua frequência(34).
    • O método, em contrapartida, porque vaí das identidades e das diferenças mais gerais às que o são menos, é suscetível de fazer aparecer relações verticais de subordinação. Com efeito, permite ver quais são os caracteres suficientemente importantes para não serem jamais desmentidos numa dada família.
    Em relação ao sistema, a inversão é muito importante: os caracteres mais essenciais permitem distinguir as famílias mais amplas e mais visivelmente distintas, enquanto para Tournefort ou Lineu o caráter essencial definia o gênero; e bastava à “convenção” dos naturalistas escolher um caráter fictício para distinguir as classes ou as ordens.
     
    No método, a organização geral e suas dependências internas dão-lhe primazia sobre a translação lateral de um equipamento constante de variáveis.
     
    Apesar dessas diferenças, sistema e método repousam no mesmo suporte epistemológico.
     
    É possível defini-lo numa palavra, dizendo que
     

    no saber clássico o conhecimento dos indivíduos empíricos só pode ser adquirido sobre o quadro contínuo, ordenado e universal de todas as diferenças possíveis.

     
    Todo ser trazia uma marca, e a espécie se media pela extensão de um brasão comum. De sorte que
     
    • cada espécie se assinalava por si mesma,
    • enunciava sua individualidade, independentemente de todas as outras:
    • ainda que estas não existissem, os critérios de definição para as únicas que permanecessem visíveis não seriam por isso modificados.
    Mas, a partir do século XVII, não pode mais haver signos senão na análise das representações segundo as identidades e as diferenças.
     
    Isso quer dizer que toda designação se deve fazer por certa relação com todas as outras designações possíveis. Conhecer aquilo que pertence propriamente a um indivíduo é ter diante de si a classificação ou a possibilidade de classificar o conjunto dos outros. A identidade e aquilo que a marca se definem pelo resíduo das diferenças.
     
    Um animal ou uma planta
     
    • não é aquilo que é indicado – ou traído – pelo estigma que se descobre impresso nele;
    • é aquilo que os outros não são;
    • só existe em si mesmo no limite daquilo que dele se distingue.
    Método e sistema são apenas as duas maneiras de definir as identidades pela rede geral das diferenças.
     
    Mais tarde, a partir de Cuvier,
     
    • a identidade das espécies se fixará também por um jogo de diferenças, mas que aparecerão sobre o fundo das grandes unidades orgânicas com seus sistemas internos de dependência (esqueleto, respiração, circulação):
    • os invertebrados não serão definidos somente pela ausência de vértebras, mas
      • por um certo modo de respiração,
      • pela existência de um tipo de circulação
      • e por toda uma coesão orgânica que desenha uma unidade positiva.
     As leis internas do organismo tornar-se-ão, no lugar dos caracteres diferenciais, o objeto das ciências da natureza.

    A classificação, como problema fundamental e constitutivo da história natural, alojou-se, historicamente e de modo necessário, entre uma teoria da marca e uma teoria do organismo.

    III. A estrutura

    Capítulo V - Classificar; tópico III. A estrutura

    Assim disposta e entendida,

    • a história natural tem por condição de possibilidade o pertencer comum das coisas e da linguagem à representação;
    • mas só existe como tarefa, na medida em que coisas e linguagem se acham separadas.

    Deverá, pois, reduzir essa distância,

    • para conduzir a linguagem o mais próximo possível do olhar
    • e, as coisas olhadas, o mais próximo possível das palavras.

    A história natural não é nada mais que a nomeação do visível.

    Daí sua aparente simplicidade e esse modo de proceder que, de longe, parece ingênuo, por ser tão simples e imposto pela evidência das coisas.

    Tem-se a impressão de que, com Tournefort, com Lineu ou Buffon, se começou enfim a dizer o que desde sempre fora visível mas permanecera mudo ante uma espécie de distração invencível dos olhares.

    De fato, não foi uma desatenção milenar que subitamente se dissipou, mas um campo novo de visibilidade que se constituiu em toda a sua espessura.

    A história natural não se tornou possível porque se olhou melhor e mais de perto.

    Em sentido estrito, pode-se dizer que a idade clássica se esforçou, se não por ver o menos possível, pelo menos por restringir voluntariamente o campo de sua experiência.

    A observação, a partir do século XVII, é um conhecimento sensível combinado com condições sistematicamente negativas.

    • Exclusão, sem dúvida, de ouvir-dizer;
    • mas exclusão também do gosto e do sabor, porque com sua incerteza, com sua variabilidade, não permitem uma análise em elementos distintos que seja universalmente aceitável.
    • Limitação muito estreita do tato na designação de algumas oposições bastante evidentes (como as do liso e do rugoso);
    • privilégio quase exclusivo da vista, que é o sentido da evidência e da extensão, e, por consequência, de uma análise partes extra partes admitida por todo o mundo:
      • o cego do século XVIII pode perfeitamente ser geômetra, não será naturalista(3).

    E, ainda, nem tudo o que se oferece ao olhar é utilizável:

    • as cores, em particular, quase não podem fundar comparações úteis.

    O campo de visibilidade onde a observação vai assumir seus poderes não passa do resíduo dessas exclusões:

    • uma visibilidade que, além de liberada de qualquer outra carga sensível, é parda.

    Esse campo, muito mais que o acolhimento enfim atento às próprias coisas, define a condição de possibilidade da história natural e do aparecimento de seus objetos filtrados:

    • linhas,
    • superfícies,
    • formas,
    • relevos.

    Dir-se-á talvez que o uso do microscópio compensa essas restrições; e que, se a experiência sensível se estreitava do lado de suas mais duvidosas margens, estendia-se em direção aos objetivos novos de uma observação tecnicamente controlada.

    De fato, é o mesmo conjunto de condições negativas que limitou o domínio da experiência e tornou possível a utilização de instrumentos de óptica.

    • Para tentar melhor observar através de uma lente, é preciso renunciar a conhecer pelos outros sentidos ou pelo “ouvir-dizer”.
    • Uma mudança de escala ao nível do olhar deve ter mais valor que as correlações entre os diversos testemunhos que podem trazer as impressões, as leituras ou as lições.
    Se o encaixe indefinido do visível em sua própria extensão se oferece melhor ao olhar pelo microscópio, não é por isso superado. E a melhor prova está, sem dúvida, em que os instrumentos de óptica foram utilizados sobretudo para resolver os problemas da geração: isto é, para descobrir de que modo as formas, as disposições, as proporções características dos indivíduos adultos e de sua espécie podem transmitir-se através das idades, conservando sua rigorosa identidade.
     
    O microscópio não foi requerido para ultrapassar os limites do domínio fundamental da visibilidade, mas para resolver um dos problemas que ele levantava – a manutenção, no curso das gerações, das formas visíveis. O uso do microscópio fundou-se numa relação não-instrumental entre as coisas e os olhos. Relação que define a história natural.
     
    Não dizia Lineu que os Naturalia, em oposição aos Coelestia e aos Elementa, eram destinados a se oferecer diretamente aos sentidos?(4)
     
    E Tournefort pensava que, para conhecer as plantas, “antes que escrutar cada uma de suas variações com um escrúpulo religioso”, valia mais analisá-Ias “tais como caem sob os oIhos”(5).
     
    Observar é, pois, contentar-se com ver. Ver sistematicamente pouca coisa. Ver aquilo que, na riqueza um pouco confusa da representação, pode ser analisado, reconhecido por todos e receber, assim, um nome que cada qual poderá entender:
     
    “Todas as similitudes obscuras”, diz Lineu, “só são introduzidas para desprestígio da arte”(6).
     
    Desenvolvidas elas próprias, esvaziadas de todas as semelhanças, depuradas até mesmo de suas cores, as representações visuais vão enfim oferecer à história natural o que constitui seu objeto próprio: aquilo mesmo que ela fará passar para essa língua bem-feita que ela pretende construir.
     
    Esse objeto é a extensão de que são constituídos os seres da natureza – extensão que pode ser afetada por quatro variáveis. E somente por quatro variáveis:
     
    • forma dos elementos,
    • quantidade desses elementos,
    • maneira como eles se distribuem no espaço uns em relação aos outros,
    • grandeza relativa de cada um.

    Como dizia Lineu, num texto capital,

    “toda nota deve ser tirada do número, da figura, da proporção, da situação”(7).

    Por exemplo, quando se estudarem os órgãos sexuais da planta, será suficiente, mas indispensável,

    • enumerar estames e pistilo (ou eventualmente constatar sua ausência),
    • definir a forma que eles mostram,
    • segundo qual figura geométrica são distribuídos na flor (círculo, hexágono, triângulo),
    • qual o seu tamanho em relação aos outros órgãos.

    Essas quatro variáveis, que se podem aplicar da mesma forma às cinco partes da planta – raízes, caules, folhas, flores, frutos – especificam a extensão que se oferece à representação, o bastante para que seja possível articulá-Ia numa descrição aceitável por todos:

    • perante o mesmo indivíduo, cada qual poderá fazer a mesma descrição;
    • e, inversamente, a partir de tal descrição, cada um poderá reconhecer os indivíduos que a ela correspondem.

    Nessa articulação fundamental do visível, o primeiro afrontamento entre a linguagem e as coisas poderá estabelecer-se de uma forma que exclui toda incerteza. Cada parte visivelmente distinta de uma planta ou de um animal é, portanto, descritível na medida em que pode tomar quatro séries de valores.

    Esses quatro valores, que afetam um órgão ou elemento qualquer e o determinam, é o que os botânicos denominam sua estrutura.

    “Por estruturas das partes das plantas entende-se a composição e a reunião das peças que formam seu corpo.”(8)

    Ela permite descrever logo o que se vê e de duas maneiras que não são nem contraditórias nem exclusivas.

    • O número e a grandeza podem sempre ser assinalados por um cálculo ou por uma medida; podemos, pois, exprimi-los em termos quantitativos.
    • Em contrapartida, as formas e as disposições devem ser descritas por outros procedimentos: quer pela identificação a formas geométricas, quer por analogias que devem ser, todas elas, “da maior evidência”(9).

    É assim que se podem descrever certas formas bastante complexas a partir de sua semelhança muito visível com o corpo humano, que serve como que de reserva aos modelos da visibilidade e constituiu espontaneamente juntura entre o que se pode ver e o que se pode dizer(10).

    Limitando e filtrando o visível, a estrutura lhe permite transcrever-se na linguagem. Por ela, a visibilidade do animal ou da planta passa por inteiro para o discurso que a recolhe.

    E, no final, talvez lhe ocorra restituir-se ela própria ao olhar, através das palavras, como nesses caligramas botânicos com que sonhava Lineu(11).

    Ele queria que a ordem da descrição, sua repartição em parágrafos e até seus módulos tipográficos reproduzissem a figura da própria planta. Que o texto, nas suas variáveis de forma, de disposição e de quantidade, tivesse uma estrutura vegetal.

    “É belo seguir a natureza: passar da Raiz aos Caules, aos Pecíolos, às Folhas, aos Pedúnculos, às Flores.”

    • Era preciso que se separasse a descrição em tantas alíneas quantas são as partes da planta,
    • que. se imprimisse em caracteres maiúsculos o que concerne às partes principais,
    • em minúsculos, a análise das “partes das partes”.

    Acrescentar-se-ia o que se conhece ainda da planta à maneira de um desenhista que complete seu esboço por jogos de sombra e de luz:

    “O bosquejo conterá exatamente toda a história da planta, assim como seus nomes, sua estrutura, seu conjunto exterior, sua natureza, seu uso.”

    Transposta na linguagem, a planta vem nela gravar-se e, sob os olhos do leitor, recompõe sua pura forma.

    O livro torna-se o herbário das estruturas. E não se diga tratar-se de devaneio de um partidário do sistema que não representa a história natural em toda a sua extensão.

    Em Buffon, que foi adversário constante de Lineu, a mesma estrutura existe e desempenha o mesmo papel:

    “O método de investigação se exercerá sobre a forma, sobre a grandeza, sobre as diferentes partes, sobre seu número, sobre sua posição, sobre a substância mesma da coisa.”(12)

    Buffon e Lineu estabelecem o mesmo crivo;

    • seu olhar ocupa sobre as coisas a mesma superfície de contato;
    • os mesmos vãos negros configuram o invisível;
    • as mesmas plagas, claras e distintas, oferecem-se às palavras.
    • Pela estrutura, aquilo que a representação fornece confusamente e na forma da simultaneidade acha-se assim analisado e oferecido ao desdobramento linear da linguagem.

    Com efeito,

    • a descrição está para o objeto que se olha
    • como a proposição está para a representação que ela exprime:
      • constitui sua colocação em série, elementos após elementos.

    Recorde-se, porém, que a linguagem sob sua forma empírica implicava

    • uma teoria da proposição
    • e outra da articulação.

    Em si mesma, a proposição permanecia vazia; quanto à articulação, só constituía verdadeiramente discurso sob a condição de ser ligada pela função aparente ou secreta do verbo ser:

    A história natural é uma ciência, isto é, uma língua, mas fundada e bem-feita:

    • seu desdobramento proposicional é, de pleno direito, uma articulação;
    • a colocação em série linear dos elementos recorta a representação segundo um modo que é evidente e universal.

    Enquanto uma mesma representação pode dar lugar a um número considerável de proposições, pois os nomes que a preenchem a articulam segundo modos diferentes, um único e mesmo animal, uma única e mesma planta serão descritos da mesma forma, na medida em que da representação à linguagem reina a estrutura.

    A teoria da estrutura, que percorre, em toda a sua extensão, a história natural na idade clássica superpõe, numa única e mesma função, os papéis que, na linguagem, desempenham a proposição e a articulação.

    E é por aí que ela liga a possibilidade de uma história natural à máthêsis.

    Com efeito, ela remete todo o campo do visível a um sistema de variáveis, cujos valores podem todos ser assinalados, se não por uma quantidade, ao menos por uma descrição perfeitamente clara e sempre finita.

    Pode-se, por conseguinte, estabelecer entre os seres naturais

    • o sistema das identidades
    • e a ordem das diferenças.

    Adanson estimava que um dia se poderia tratar a Botânica como uma ciência rigorosamente matemática e que seria lícito formular-lhe problemas como se faz em álgebra ou em geometria:

    “encontrar o ponto mais sensível que estabelece a linha de separação ou de discussão entre a família das escabiosas e a das madressilvas”;

    ou, ainda,

    encontrar um gênero de plantas conhecido (natural ou artificial, não importa) que está justamente no meio-termo entre a família das Apocináceas e a das Boragináceas(13).

    A grande proliferação dos seres na superfície do globo pode entrar, graças à estrutura, ao mesmo tempo

    • na sucessão de uma linguagem descritiva
    • e no campo de uma máthêsis que seria ciência geral da ordem.

    E essa relação constitutiva, tão complexa, instaura-se na simplicidade aparente de um visível descrito.

    Tudo isso é de grande importância para a definição da história natural quanto ao seu objeto.

    Este é dado

    • por superfícies e linhas,
    • não por funcionamentos ou invisíveis tecidos.

    Vêem-se menos a planta e o animal

    • em sua unidade orgânica
    • que pelo recorte visível de seus órgãos.

    Eles são

    • patas e cascos, flores e frutos,
    • antes de serem respiração ou líquidos internos.

    A história natural percorre um espaço de variáveis visíveis, simultâneas, concomitantes, sem relação interna de subordinação ou de organização.

    Nos séculos XVII e XVIII, a anatomia perdeu o papel diretivo que tinha no Renascimento e que reencontrará na época de Cuvier; não que nesse ínterim a curiosidade tenha diminuído, nem o saber regredido, mas sim que a disposição fundamental do visível e do enunciável não passa mais pela espessura do corpo.

    Daí o primado epistemológico da botânica:

    • é que o espaço comum às palavras e às coisas constituía para as plantas uma grade muito mais acolhedora, muito menos “negra” que para os animais;
    • na medida em que muitos órgãos constitutivos são visíveis na planta e não o são nos animais, o conhecimento taxinômico a partir de variáveis imediatamente perceptíveis foi mais rico e mais coerente na ordem botânica que na ordem zoológica.

    É preciso, pois, inverter o que se diz ordinariamente:

    • não porque nos séculos XVII e XVIII houve interesse pela botânica que se conduziu o exame para os métodos de classificação.
    • Mas porque não se podia saber e dizer senão num espaço taxinômico de visibilidade é que o conhecimento das plantas devia realmente ter primazia sobre o dos animais.

    Jardins botânicos e gabinetes de história natural eram, ao nível das instituições, os correlatos necessários desse recorte.

    E sua importância para a cultura clássica não lhes vem essencialmente do que eles permitem ver, mas do que escondem e do que, por essa obliteração, eles deixam surgir:

    • disfarçam a anatomia e o funcionamento, ocultam o organismo,
    • para suscitar, ante os olhos que esperam sua verdade, o visível relevo das formas, com seus elementos, seu modo de dispersão e suas medidas.

    São o livro ordenado das estruturas, o espaço onde se combinam os caracteres e onde se desdobram as classificações.

    Um dia, no final do século XVIII, Cuvier saqueará os frascos do Museu, quebrá-Ios-á e dissecará toda a grande conserva clássica da visibilidade animal. Esse gesto iconoclasta, ao qual Lamarck jamais se decidirá, não traduz uma curiosidade nova por um segredo a cujo propósito não se teria tido nem a preocupação, nem a coragem, nem a possibilidade de conhecer.

    Trata-se, muito mais seriamente, de uma mutação no espaço natural da cultura ocidental:

    • o fim da história, no sentido de Tournefort, de Lineu, de Buffon, de Adanson, no sentido igualmente em que Boissier de Sauvages a entendia quando opunha o conhecimento histórico do visível ao filosófico do invisível, do oculto e das causas14;
    • e será também o começo do que,
      • substituindo a anatomia à classificação,
      • o organismo à estrutura,
      • a subordinação interna ao caráter visível,
      • a série ao quadro,
    • permite precipitar no velho mundo plano e gravado em branco e preto, de animais e de plantas, toda uma massa profunda de tempo à qual se dará o nome renovado de história.

    II. A história natural

    Capítulo V - Classificar; tópico II. A história natural

    Como pôde a idade clássica definir esse domínio da “história natural”, cuja evidência hoje e cuja unidade mesma nos parecem tão longínquas e como que já confusas?

    Que campo é esse em que a natureza apareceu

    • próxima de si mesma o bastante para que os indivíduos que ela envolve pudessem ser classificados,
    • e suficientemente afastada de si, para que o devessem ser
      • pela análise
      • e pela reflexão?

    Tem-se a impressão – e diz-se com muita frequência – que a história da natureza deve seu aparecimento ao malogro do mecanicismo cartesiano.

    Quando finalmente se revelou impossível fazer entrar o mundo inteiro nas leis do movimento retilíneo, quando a complexidade do vegetal e do animal resistiu suficientemente às formas simples da substância extensa, então foi necessário que a natureza se manifestasse em sua estranha riqueza; e a minuciosa observação dos seres vivos teria nascido nessas plagas, de onde o cartesianismo acabava de se retirar.

    Infelizmente as coisas não se passam com essa simplicidade. Pode ser – e isto ainda estaria por examinar – que uma ciência nasça de outra; jamais, porém, uma ciência pode nascer da ausência de outra, nem do fracasso, nem mesmo do obstáculo encontrado por outra.

    De fato, a possibilidade da história natural, com Ray, Jonston, Christophe Knaut, é contemporânea do cartesianismo e não do seu fracasso. A mesma epistémê autorizou tanto a mecânica, desde Descartes até D’ Alembert quanto a história natural de Tournefort a Daubenton.

    Para que a história natural aparecesse,

    • não foi preciso que a natureza se adensasse, se obscurecesse e multiplicasse seus mecanismos, até adquirir o peso opaco de uma história que apenas se pode delinear e descrever, sem se poder medir, calcular nem explicar:
    • foi preciso – e muito ao contrário – que a História se tornasse Natural.

    O que existia no século XVI e até meados do século XVII eram histórias: Belon escrevera uma História da natureza das aves; Duret, uma História admirável das plantas; Aldrovandi, uma História das serpentes e dos dragões.

    Em 1657, Jonston publica uma História natural dos quadrúpedes. Certamente essa data de nascimento não é rigorosa (1); está aqui somente para simbolizar uma referência e assinalar de longe o enigma aparente de um acontecimento.

    Esse acontecimento é a súbita decantação, no domínio da História, de duas ordens, doravante diferentes, de conhecimento. Até Aldrovandi, a História era o tecido inextrincável e perfeitamente unitário daquilo que se vê das coisas e de todos os signos que foram nelas descobertos ou nelas depositados: fazer a história de uma planta ou de um animal era tanto dizer quais são seus elementos ou seus órgãos, quanto as semelhanças que se lhe podem encontrar, as virtudes que se lhe atribuem, as lendas e as histórias com que se misturou, os brasões onde figura, os medicamentos que se fabricam com sua substância, os alimentos que ele fornece, o que os antigos relatam dele, o que os viajantes dele podem dizer. A história de um ser vivo era esse ser mesmo, no interior de toda a rede semântica que o ligava ao mundo.

    A divisão, para nós evidente, entre o que vemos, o que os outros observaram e transmitiram, o que os outros enfim imaginam ou em que crêem ingenuamente, a grande tripartição, aparentemente tão simples e tão imediata, entre

    • a Observação,
    • o Documento
    • e a Fábula

    não existia.

    E não porque a ciência hesitasse entre uma vocação racional e todo um peso de tradição ingênua, mas por uma razão bem mais precisa e bem mais constringente

    • é que os signos faziam parte das coisas,
    • ao passo que no século XVII eles se tornam modos da representação.

    Quando Jonston escreveu sua História natural dos quadrúpedes, saberia ele a respeito mais que Aldrovandi, meio século antes?

    Não muito, afirmam os historiadores.

    Mas a questão não está aí ou, se se quiser colocá-la nesses termos, é preciso responder que Jonston sabe a respeito muito menos que Aldrovandi. Este, a propósito de todo animal estudado, desenvolvia, e no mesmo nível,

    • a descrição de sua anatomia e as maneiras de capturá-lo;
    • sua utilização alegórica e seu modo de geração;
    • seu habitat e os templos de suas lendas;
    • sua nutrição e a melhor maneira de torná-lo saboroso.

    Jonston subdivide seu capítulo sobre o cavalo em 12 rubricas:

    • nome, partes anatômicas, habitação, idades, geração, vozes, movimentos, simpatia e antipatia, utilizações, usos medicinais(2).

    Nada disso faltava em Aldrovandi, mas havia muito mais. E a diferença essencial reside nessa falta. Toda a semântica animal ruiu como uma parte morta e inútil.

    As palavras que eram entrelaçadas ao animal foram desligadas e subtraídas: e o ser vivo, em sua anatomia, em sua forma, em seus costumes, em seu nascimento e em sua morte, aparece como que nu.

    A história natural encontra seu lugar nessa distância agora aberta entre as coisas e as palavras – distância silenciosa, isenta de toda sedimentação verbal e, contudo, articulada segundo os elementos da representação, aqueles mesmos que, de pleno direito, poderão ser nomeados. As coisas beiram as margens do discurso, porque aparecem no âmago da representação.

    Portanto, não é no momento em que se renuncia a calcular que se começa enfim a observar.

    Na constituição da história natural, com o clima empírico em que se desenvolve,

    • não se deve ver a experiência forçando, bem ou mal, o acesso de um conhecimento que espreitava alhures a verdade da natureza;
    • a história natural eis por que ela apareceu precisamente nesse momento – é o espaço aberto na representação por uma análise que se antecipa à possibilidade de nomear;
    • é a possibilidade de ver o que se poderá dizer, mas que não se poderia dizer depois, nem ver, a distância, se as coisas e as palavras, distintas umas das outras, não se comunicassem, desde o início, numa representação.

    A ordem descritiva que Lineu, bem após Jonston, proporá à história natural é muito característica. Segundo ele, todo capítulo concernente a um animal qualquer deve ter os seguintes passos:

    • nome,
    • teoria,
    • gênero,
    • espécie,
    • atributos,
    • uso e, para terminar,
    • Litteraria.

    Toda a linguagem depositada pelo tempo sobre as coisas é repelida ao último limite, como um suplemento em que o discurso se relatasse a si mesmo e relatasse as descobertas, as tradições, as crenças, as figuras poéticas. Antes dessa linguagem da linguagem, é a própria coisa que aparece nos seus caracteres próprios, mas no interior dessa realidade que, desde o início, foi recortada pelo nome.

    A instauração, na idade clássica, de uma ciência natural

    • não é o efeito direto ou indireto da transferência de uma racionalidade formada alhures (a propósito da geometria ou da mecânica).
    • É uma formação distinta, tendo sua arqueologia própria, ainda que ligada (mas segundo o modo da correlação e da simultaneidade) à teoria geral dos signos e ao projeto de máthêsis universal.

    A velha palavra história muda então de valor e reencontra talvez uma de suas significações arcaicas. Em todo o caso, se é verdade que o historiador, no pensamento grego, foi realmente aquele que vê e que narra a partir de seu olhar, nem sempre foi assim em nossa cultura. Foi, aliás, bem tarde, no limiar da idade clássica, que ele tomou ou retomou esse papel.

    • Até meados do século XVII, o historiador tinha por tarefa estabelecer a grande compilação dos documentos e dos signos – de tudo o que, através do mundo, podia constituir como que uma marca.
    • Era ele o encarregado de restituir linguagem a todas as palavras encobertas.
    • Sua existência se definia menos pelo olhar que pela repetição, por uma palavra segunda que pronunciava de novo tantas palavras ensurdecidas.

    A idade clássica confere à história um sentido totalmente diferente:

    • o de pousar pela primeira vez um olhar minucioso sobre as coisas
    • e de transcrever, em seguida, o que ele recolhe em palavras lisas, neutralizadas e fiéis.

    Compreende-se que, nessa “purificação”, a primeira forma de história que se constituiu tenha sido a história da natureza. Pois, para construir-se, ela tem necessidade apenas de palavras aplicadas sem intermediário às coisas mesmas. Os documentos dessa história nova não são outras palavras, textos ou arquivos, mas espaços claros onde as coisas se justapõem:

    • herbários, coleções, jardins;
    • o lugar dessa história é um retângulo intemporal, onde, despojados de todo comentário, de toda linguagem circundante, os seres se apresentam uns ao lado dos outros, com suas superfícies visíveis, aproximados segundo seus traços comuns e, com isso, já virtualmente analisados e portadores apenas de seu nome.

    Diz-se frequentemente que a constituição dos jardins botânicos e das coleções zoológicas traduzia uma nova curiosidade para com as plantas e os animais exóticos. De fato, já desde muito eles haviam suscitado interesse.

    O que mudou foi o espaço em que podem ser vistos e donde podem ser descritos.

    No Renascimento, a estranheza animal era um espetáculo; figurava nas festas, nos torneios, nos combates fictícios ou reais, nas reconstituições lendárias, onde quer que o bestiário desdobrasse suas fábulas sem idade.

    O gabinete de história natural e o jardim, tal como são organizados na idade clássica, substituem o desfile circular do “mostruário” pela exposição das coisas em “quadro”.

    O que se esgueirou entre esses teatros e esse catálogo não foi o desejo de saber, mas um novo modo de vincular as coisas ao mesmo tempo ao olhar e ao discurso.

    Uma nova maneira de fazer história.

    Sabe-se da importância metodológica que assumiram esses espaços e essas distribuições “naturais” para a classificação, nos fins do século XVIII, das palavras, das línguas, das raízes, dos documentos, dos arquivos, em suma, para a constituição de todo um ambiente de história (no sentido agora familiar da palavra), em que o século XIX reencontrará, após esse puro quadro das coisas, a possibilidade renovada de falar sobre palavras.

    E de falar sobre elas não mais no estilo do comentário, mas segundo um modo que se considerará tão positivo, tão objetivo quanto o da história natural.

    A conservação cada vez mais completa do escrito, a instauração de arquivos, sua classificação, a reorganização das bibliotecas, o estabelecimento de catálogos, de repertórios, de inventários representam, no fim da idade clássica, mais que uma sensibilidade nova ao tempo, ao seu passado, à espessura da história, uma forma de introduzir na linguagem já depositada e nos vestígios por ela deixados uma ordem que é do mesmo tipo da que se estabelece entre os seres vivos.

    E é nesse tempo classificado, nesse devir quadriculado e espacializado que os historiadores do século XIX se empenharão em escrever uma história enfim “verdadeira” – isto é, liberada da racionalidade clássica, de sua ordenação e de sua teodicéia, uma história restituída à violência irruptiva do tempo.

    I. O que dizem os historiadores

    Capítulo V - Classificar; tópico I. O que dizem os historiadores

    As histórias das ideias ou das ciências – aqui designadas somente pelo seu perfil médio – imputam ao século XVII, e sobretudo ao século XVIII, uma curiosidade nova:

    • aquela que os fez, se não descobrir, pelo menos dar uma amplitude e uma precisão até então insuspeitadas às ciências da vida,

    A esse fenômeno atribuem-se tradicionalmente um certo número de causas e várias manifestações essenciais.

    Do lado das origens ou dos motivos, colocam-se os privilégios novos da observação:

    • poderes que lhe seriam atribuídos desde Bacon
    • e os aperfeiçoamentos técnicos que lhe teria ocasionado a invenção do microscópio.

    Arrola-se aí igualmente o prestígio então recente das ciências físicas, que forneciam um modelo de racionalidade;

    • desde que foi possível, pela experimentação ou pela teoria, analisar as leis do movimento ou do reflexo do raio luminoso,
    • não seria normal buscar, por experiências, observações ou cálculos, as leis que poderiam organizar o domínio mais complexo, mas vizinho, dos seres vivos?

    O mecanismo cartesiano, que constituiu mais tarde um obstáculo, teria sido primeiro como que o instrumento de uma transferência, e teria conduzido, um pouco à sua revelia,

    • da racionalidade mecânica
    • à descoberta desta outra racionalidade que é a do ser vivo.

    Os historiadores das ideias colocam um tanto confusamente, ainda do lado das causas, preocupações diversas:

    • o interesse econômico pela agricultura, de que a Fisiocracia foi um testemunho,
    • mas também os primeiros esforços de uma agronomia;
      • a meio caminho entre a economia e a teoria, a curiosidade pelas plantas e pelos animais exóticos que se tenta aclimatar e dos quais as grandes viagens de pesquisa ou de exploração – a de Tournefort ao Oriente Médio, a de Adanson ao Senegal – trazem descrições, gravuras e espécimes:
    • e sobretudo ainda, a valorização ética da natureza, com todo esse movimento a princípio ambíguo, pelo qual se “investem” – quer se seja aristocrata ou burguês – dinheiro e sentimento numa terra que, por longo tempo, as épocas precedentes haviam abandonado.

    No coração do século XVIII, Rousseau herboriza. No registro das manifestações, os historiadores assinalam, em seguida, as formas variadas que assumiram essas ciências novas da vida e o “espírito”, por assim dizer, que as dirigiu.

    Elas teriam sido

    • mecanicistas, de início, sob a influência de Descartes, e até o fim do século XVII;
    • os primeiros esforços de uma química apenas esboçada as teriam então marcado,
    • mas, durante todo o século XVIII, os temas vitalistas teriam assumido ou reassumido seu privilégio, para se formularem, enfim, numa teoria unitária – esse vitalismo que, sob formas um pouco diferentes, Bordeu e Barthez professam em Montpellier, Blumenbach, na Alemanha, Diderot e depois Bichat, em Paris.

    Sob esses diferentes regimes teóricos, questões quase sempre as mesmas teriam sido colocadas, recebendo a cada vez soluções diferentes:

    • possibilidade de classificar os seres vivos –
      • só uns, como Lineu, sustentando que toda a natureza pode entrar numa taxinomia;
      • outros, como Buffon, que ela é demasiado diversa e demasiado rica para ajustar-se a um quadro tão rígido;
    • processo da geração
      • para aqueles, mais mecanicistas, que são partidários da pré-formação,
      • e outros que crêem num desenvolvimento específico dos germens;
    • análise dos funcionamentos (a circulação, após Harvey, a sensação, a motricidade e, no final do século, a respiração).

    Através desses problemas e das discussões que eles suscitam, torna-se um jogo para os historiadores reconstituir os grandes debates que, como se diz, dividiram a opinião e as paixões dos homens, assim como seu raciocínio.

    Crê-se assim reencontrar vestígios de um conflito maior entre

    • uma teologia que aloja, sob cada forma e em todos os movimentos, a providência de Deus, a simplicidade, o mistério e a solicitude de suas vias
    • e uma ciência que já busca definir a autonomia da natureza.

    Depara-se também com a contradição entre

    • uma ciência demasiado arraigada ao velho primado da astronomia, da mecânica e da óptica
    • e uma outra que já suspeita sobre o que pode haver de irredutível e de específico nos domínios da vida.

    Enfim, os historiadores veem delinear-se, como que sob seus olhos, a oposição entre

    • os que creem na imobilidade da natureza – à maneira de Tournefort e sobretudo Lineu –
    • e os que como Bonnet Benoit de Maillet e Diderot, já pressentem
      • a grande potência criadora da vida,
      • seu inesgotável poder de transformação,
      • sua plasticidade
      • e esse fluxo no qual ela envolve todas as produções, inclusive nós mesmos, num tempo de que ninguém é senhor.

    Bem antes de Darwin e bem antes de Lamarck, o grande debate do evolucionismo teria sido aberto pelo Telliamed, a Palingénesie e o Rêve de D‘Alembert.

    O mecanicismo e a teologia, apoiados um no outro ou contestando-se incessantemente,

    • manteriam a idade clássica o mais próximo possível de sua origem – do lado de Descartes e de Malebranche;

    do outro lado, a irreligião e toda uma intuição confusa da vida, por sua vez em conflito (como em Bonnet) ou em cumplicidade (como em Diderot),

    • a atrairiam em direção ao seu mais próximo futuro: em direção ao século XIX, que se supõe ter fornecido às tentativas ainda obscuras e amarradas do século XVIII sua realização positiva e racional numa ciência da vida, que não teve necessidade de sacrificar a racionalidade para manter, no mais vivo de sua consciência, a especificidade do ser vivo e esse calor um pouco subterrâneo que circula entre
      • ele – objeto de nosso conhecimento –
      • e nós, que estamos aí para conhecê-lo.

    Inútil voltar aos pressupostos de tal método. Basta mostrar aqui suas consequências:

    • a dificuldade de apreender a rede capaz de ligar, umas às outras, pesquisas tão diversas como as tentativas de taxinomia e as observações microscópicas;
    • a necessidade de registrar como fatos de observação os conflitos entre os fixistas e os que não o são, ou entre os partidários do método e os partidários do sistema;
    • a obrigação de dividir o saber em duas tramas que se imbricam, embora estranhas uma à outra:
      • a primeira, definida pelo saber já acumulado (a herança aristotélica ou escolástica, o peso do cartesianismo, o prestígio de Newton),
      • a segunda, pelo que ainda se ignorava (a evolução, a especificidade da vida, a noção de organismo);
    • e, sobretudo, a aplicação de categorias que são rigorosamente anacrônicas em relação a esse saber.

    De todas, a mais importante é evidentemente a de vida.

    Pretende-se fazer histórias da biologia no século XVIII;

    • mas não se tem em conta que a biologia não existia
    • e que a repartição do saber que nos é familiar há mais de 150 anos não pode valer para um período anterior.

    E que, se a biologia era desconhecida, o era por uma razão bem simples:

    • é que a própria vida não existia.

    Existiam apenas seres vivos e que apareciam através de um crivo do saber constituído pela história natural.

    VIII. O desejo e a representação

    Capítulo VI - Trocar; tópico VIII. O desejo e a representação

    Os homens dos séculos XVII e XVIII

    • não pensam a riqueza, a natureza ou as línguas com o que lhes fora deixado pelas idades precedentes e na linha do que logo viria a ser descoberto;
    • pensam-nas a partir de uma disposição geral que não lhes prescreve apenas conceitos e métodos, mas que, mais fundamentalmente, define
      • um certo modo de ser para a linguagem,
      • os indivíduos da natureza,
      • os objetos da necessidade e do desejo;

    esse modo de ser é o da representação.

    Consequentemente, aparece todo um solo comum, onde a história das ciências figura como um efeito de superfície. O que não quer dizer que se possa doravante deixá-Ia de lado; mas, sim, que uma reflexão sobre o histórico de um saber não pode mais contentar-se em seguir, através da sequência dos tempos, o alinhamento dos conhecimentos; estes, com efeito, não são fenômenos da hereditariedade e de tradição; e não se diz o que os tomou possíveis enunciando o que era conhecido antes deles e o que eles, como se diz, “trouxeram de novo”.

    A história do saber só pode ser feita a partir do que lhe foi contemporâneo e não certamente em termos de influência recíproca, mas em termos de condições e de a priori constituídos no tempo.

    É nesse sentido que a arqueologia pode justificar a existência de uma gramática geral, de uma história natural e de uma análise das riquezas, e liberar assim um espaço sem fissura onde a história das ciências, a das ideias e das opiniões poderão, se o quiserem, se entreter.

    Se as análises da representação, da linguagem, das ordens naturais e das riquezas são perfeitamente coerentes e homogêneas entre si, existe, todavia, um desequilíbrio profundo. É que a representação comanda o modo de ser da linguagem, dos indivíduos, da natureza e da própria necessidade. A análise da representação tem, portanto, valor determinante para todos os domínios empíricos.

    Todo o sistema clássico da ordem, toda essa grande taxinomia, que permite conhecer as coisas pelo sistema de suas identidades, se desdobra no espaço aberto no interior de si pela representação, quando ela se representa a si mesma: o ser e o mesmo têm aí seu lugar.

    A linguagem não é senão a representação das palavras; a natureza não é senão a representação dos seres; a necessidade não é senão a representação da necessidade.

    O fim do pensamento clássico – e dessa epistémê que tomou possíveis gramática geral, história natural e ciências das riquezas – coincidirá com o recuo da representação, ou, antes, com a liberação, relativamente à representação, da linguagem, do ser vivo e da necessidade.

    O espírito obscuro mas obstinado de um povo que fala, a violência e o esforço incessante da vida, a força surda das necessidades escaparão ao modo de ser da representação. E esta será duplicada, limitada, guarnecida, mistificada talvez, regida, em todo o caso, do exterior, pelo enorme impulso de uma liberdade, ou de um desejo, ou de uma vontade que se apresentarão como o reverso metafísico da consciência.

    Alguma coisa como um querer ou uma força vai surgir na experiência moderna – constituindo-a talvez, assinalando, em todo o caso, que a idade clássica acaba de terminar e com ela o reino do discurso representativo, a dinastia de uma representação significando-se a si mesma e enunciando, na sequência de suas palavras, a ordem adormecida das coisas.

    Essa reviravolta é contemporânea de Sade. Ou, antes, essa obra incansável manifesta o precário equilíbrio entre a lei sem lei do desejo e a ordenação meticulosa de uma representação discursiva.

    A ordem do discurso encontra aí seu Limite e Sua Lei; mas tem ainda a força de permanecer co-extensiva àquilo mesmo que a rege.

    Aí reside, sem dúvida, o princípio dessa “libertinagem”, que foi a última do mundo ocidental (após ela começa a idade da sexualidade): o libertino é aquele que, obedecendo a todas as fantasias do desejo e a cada um de seus furores, pode, mas também deve esclarecer o menor de seus movimentos por uma representação lúcida e voluntariamente operada.

    Há uma ordem estrita da vida libertina:

    • toda representação deve animar-se logo no corpo vivo do desejo,
    • todo desejo deve enunciar-se na pura luz de um discurso representativo.

    Daí essa sucessão rígida de “cenas” (a cena, em Sade, é o desregramento ordenado à representação) e, no interior das cenas, o equilíbrio cuidadoso entre a combinatória dos corpos e o encadeamento das razões.

    Justine e Juliette, no nascimento da cultura moderna, estão talvez na mesma posição que Dom Quixote entre o Renascimento e o classicismo.

    O herói de Cervantes, lendo as relações entre o mundo e a linguagem como se fazia no século XVI, decifrando, unicamente pelo jogo da semelhança,

    • castelos nas estalagens
    • e damas nas camponesas,

    aprisionava-se, sem o saber, no mundo da pura representação; mas, visto que essa representação só tinha por lei a similitude, não podia deixar de aparecer sob a forma irrisória do delírio.

    Ora, na segunda parte do romance, Dom Quixote recebia desse mundo representado sua verdade e sua lei; não lhe restava mais que esperar desse livro onde nascera, que não lera, mas cujo curso devia seguir, um destino que doravante lhe era imposto pelos outros. Bastava-lhe deixar-se viver num castelo onde ele próprio, que penetrara por sua loucura no mundo da pura representação, se tomava finalmente pura e simples personagem no artifício de uma representação.

    As personagens de Sade lhe respondem, no outro extremo da idade clássica, isto é, no momento do declínio. Não se trata mais do triunfo irônico da representação sobre a semelhança; trata-se da obscura violência repetida do desejo que vem vencer os limites da representação.

    Justine corresponderia à segunda parte de Dom Quixote; ela é objeto indefinido do desejo, do qual é a pura origem, como Dom Quixote é, a seu respeito, o objeto da representação que, em seu ser profundo, ele próprio é.

    Em Justine, o desejo e a representação só se comunicam pela presença de um Outro que se representa a heroína como objeto de desejo, enquanto ela própria só conhece do desejo a forma leve, longínqua, exterior e gelada da representação. Este o seu infortúnio: sua inocência permanece sempre como um terceiro entre o desejo e a representação.

    Já Juliette nada mais é que o sujeito de todos os desejos possíveis; mas esses desejos são retomados por inteiro na representação que os funda arrazoadamente em discurso e os transforma voluntariamente em cenas. De sorte que a grande narrativa da vida de Juliette desenrola, ao longo dos desejos, das violências, das selvagerias e da morte, o quadro cintilante da representação.

    Esse quadro, porém, é tão tênue, tão transparente a todas as figuras do desejo que incansavelmente nele se acumulam e se multiplicam unicamente pela força de sua combinatória, que é tão desarrazoado quanto o de Dom Quixote quando, de similitude em similitude, acreditava avançar através dos caminhos mistos do mundo e dos livros mas se enterrava no labirinto das suas próprias representações.

    Juliette esgota essa espessura do representado, para que aí aflore, sem a menor falha, a menor reticência, o menor véu, todas as possibilidades do desejo.

    Com isso, essa narrativa fecha a idade clássica sobre si mesma, como Dom Quixote a abrira.

    E, se é verdade que ela é a última linguagem ainda contemporânea de Rousseau e de Racine, se é o último discurso que visa a “representar”, isto é, nomear, sabe-se bem que ao mesmo tempo reduz essa cerimônia ao máximo (chama as coisas pelo seu nome estrito, desfazendo assim todo o espaço retórico) e alonga-a ao infinito (nomeando tudo, e sem esquecer a menor das possibilidades, pois elas são todas percorridas segundo a Característica universal do Desejo).

    Sade atinge a extremidade do discurso e do pensamento clássicos. Reina exatamente em seu limite.

    A partir dele, a violência, a vida e a morte, o desejo, a sexualidade vão estender, por sob a representação, uma imensa camada de sombra, que nós agora tentamos retomar como podemos, em nosso discurso, em nossa liberdade, em nosso pensamento.

    Mas nosso pensamento é tão curto, nossa liberdade tão submissa, nosso discurso tão repisado que é preciso realmente nos darmos conta de que, no fundo, essa sombra subterrânea é um poço de dificuldades. As prosperidades de Juliette são sempre mais solitárias. E não têm termo.

    VII. Quadro geral

    Capítulo VI - Trocar; tópico VII. Quadro geral

    Os quatro momentos que fixam as funções essenciais da linguagem (atribuição, articulação, designação e derivação) nos séculos XVII e XVIII
    Os quatro momentos que fixam as funções essenciais da linguagem (atribuição, articulação, designação e derivação) no século XIX

    A organização geral das ordens empíricas pode agora ser delineada em seu conjunto(80).

    Constata-se, de início, que a análise das riquezas obedece à mesma configuração que a história natural e a gramática geral.

    A teoria do valor permite, com efeito, explicar (seja pela carência e pela necessidade, seja pela prolixidade da natureza)

    • como certos objetos podem ser introduzidos no sistema das trocas,
    • como, pelo gesto primitivo da permuta, uma coisa pode ser dada como equivalente a outra,
    • como a estimação da primeira pode ser reportada à estimação da segunda conforme
      • uma relação de igualdade (A e B têm o mesmo valor)
      • ou de analogia (o valor de A. de posse do meu parceiro, está para minha necessidade como está para ele o valor de B que eu possuo).

    O valor corresponde portanto à função atributiva que, para a gramática geral, está assegurada pelo verbo e que, fazendo aparecer a proposição, constitui o limiar primeiro a partir do qual há linguagem.

    Quando, porém, o valor apreciativo se torna valor de estimação, isto é, quando se define e se limita no interior do sistema constituído por todas as trocas possíveis, então cada valor se acha estabelecido e demarcado por todos os outros: a partir desse momento, o valor assegura o papel articulatório que a gramática geral reconhecia em todos os elementos não-verbais da proposição (isto é, nos nomes e em cada uma das palavras que, visivelmente ou em segredo, detêm uma função nominal).

    No sistema das trocas, no jogo que permite a cada parte de riqueza significar as outras ou ser por elas significada, o valor é ao mesmo tempo

    • verbo e nome,
    • poder de ligar e princípio de análise,
    • atribuição e determinação.

    O valor, na análise das riquezas, ocupa, pois, exatamente a mesma posição que a estrutura na história natural; como esta, reúne numa única e mesma operação a função que permite

    • atribuir um signo a outro signo,
    • uma representação a outra representação
    • e a que permite articular os elementos que compõem o conjunto das representações ou os signos que as decompõem.

    Por seu lado, a teoria da moeda e do comércio explica

    • como uma matéria qualquer pode assumir uma função significante reportando-se a um objeto e servindo-lhe de signo permanente;
    • explica também (pelo jogo do comércio, do aumento e da diminuição do numerário)
      • como essa relação de signo a significado pode se alterar sem jamais desaparecer,
      • como um mesmo elemento monetário pode significar mais ou menos riquezas,
      • como pode ele deslizar, estender-se, estreitar-se em relação aos valores que lhe compete representar.

    A teoria do preço monetário corresponde, pois, ao que na gramática geral aparece sob a forma de uma análise das raízes e da linguagem de ação (função de designação) e ao que aparece sob a forma de tropos e de desvios de sentido (função de derivação). A moeda, como as palavras, tem por papel designar, mas não cessa de oscilar em torno desse eixo vertical:

    • as variações de preço estão para a instauração primeira da relação entre metal e riquezas
    • como os deslocamentos retóricos estão para o valor primitivo dos signos verbais.

    Porém há mais:

    • assegurando a partir de suas próprias possibilidades a designação das riquezas,
    • o estabelecimento dos preços,
    • a modificação dos valores nominais,
    • o empobrecimento e o enriquecimento das nações,

    a moeda funciona em relação às riquezas como o caráter em relação aos seres naturais: ela permite, ao mesmo tempo,

    • impor-lhes uma marca provisória
    • e indicar-Ihes um lugar, sem dúvida provisório, no espaço atualmente definido pelo conjunto das coisas e dos signos de que se dispõe.

    A teoria da moeda e dos preços ocupa na análise das riquezas a mesma posição que a teoria do caráter na história natural.

    Como esta última, reúne numa única e mesma função

    • a possibilidade de dar um signo às coisas,
    • de fazer representar uma coisa por outra
    • e a possibilidade de fazer desviar um signo em relação ao que ele designa.

    As quatro funções que definem em suas propriedades singulares o signo verbal e o distinguem de todos os outros signos que a representação pode referir a si mesma encontram-se, pois, na sinalização teórica da história natural e na utilização prática dos signos monetários.

    A ordem das riquezas e a ordem dos seres naturais se instauram e se descobrem na medida em que se estabelecem entre os objetos de necessidade, entre os indivíduos visíveis, sistemas de signos que permitem

    • a designação das representações umas pelas outras,
    • a derivação das representações significantes em relação aos significados,
    • a articulação do que é representado,
    • a atribuição de determinadas representações a determinadas outras.

    Nesse sentido, pode-se dizer que, para o pensamento clássico,

    • os sistemas da história natural e as teorias da moeda ou do comércio
    • têm as mesmas condições de possibilidade que a própria linguagem.

    O que quer dizer duas coisas:

    • primeiro, que a ordem na natureza e a ordem nas riquezas têm, para a experiência clássica, o mesmo modo de ser que a ordem das representações tal como é manifestada pelas palavras;
    • em seguida, que as palavras formam um sistema de signos suficientemente privilegiado, quando se trata de fazer aparecer a ordem das coisas,
      • para que a história natural, se bem-feita,
      • e para que a moeda, se bem regulada, funcionem à maneira da linguagem.

    O que a álgebra é para a máthêsis, os signos, e em particular as palavras, o são para a taxinomia: constituição e manifestação evidente da ordem das coisas.

    Existe, entretanto, uma diferença fundamental que impede que a classificação seja a linguagem espontânea da natureza, e os preços, o discurso natural das riquezas. Ou antes, existem duas diferenças,

    • uma que permite distinguir os domínios dos signos verbais daquele das riquezas ou dos seres naturais,
    • e outra que permite distinguir a teoria da história natural e a do valor ou dos preços.

    Os quatro momentos que definem as funções essenciais da linguagem (atribuição, articulação, designação, derivação) estão solidamente ligados entre si, pois são requeridos uns pelos outros a partir do momento em que se transpôs, com o verbo, o limiar de existência da linguagem.

    Mas, na gênese real das línguas, o percurso não se faz no mesmo sentido nem com o mesmo rigor: a partir de designações primitivas, a imaginação dos homens (segundo os climas em que vivem, as condições de sua existência, seus sentimentos e paixões, as experiências que fazem) suscita derivações que são diferentes conforme os povos e que explicam, sem dúvida, além da diversidade das línguas, a relativa instabilidade de cada uma.

    Num dado momento dessa derivação e no interior de uma língua singular, os homens têm à sua disposição um conjunto de palavras, de nomes que se articulam uns com os outros e determinam suas representações; mas essa análise é tão imperfeita, deixa subsistir tantas imprecisões e tantas imbricações que, com as mesmas representações, os homens utilizam palavras diversas e formulam proposições diferentes: sua reflexão não está ao abrigo do erro.

    Entre a designação e a derivação,

    • multiplicam-se os deslizes da imaginação;

    entre a articulação e a atribuição,

    • prolifera o erro da reflexão.

    É por isso que, no horizonte talvez indefinidamente recuado da linguagem, projeta-se a ideia de uma língua universal em que o valor representativo das palavras seria fixado com bastante nitidez, fundado bastante bem, reconhecido com suficiente evidência para que a reflexão pudesse decidir, com toda a clareza, sobre a verdade de qualquer proposição – língua por meio da qual “os camponeses poderiam julgar a verdade das coisas melhor do que o fazem agora os filósofos”(81); uma linguagem perfeitamente distinta permitiria um discurso inteiramente claro:

    • essa língua seria, em si mesma, uma Ars combinatoria.

    É por isso também que o exercício de toda língua real deve ser duplicado por uma Enciclopédia que defina o percurso das palavras, prescreva as vias mais naturais, desenhe os deslizes legítimos do saber, codifique as relações de vizinhança e de semelhança.

    O Dicionário é feito

    • para controlar o jogo das derivações
    • a partir da designação primeira das palavras,

    assim como a Língua universal é feita

    • para controlar, a partir de uma articulação bem estabelecida,
    • os erros da reflexão quando ela formula um juízo.

    A Ars combinatoria e a Enciclopédia se correspondem, de um lado e de outro, pela imperfeição das línguas reais. A história natural, uma vez que precisa realmente ser uma ciência, a circulação das riquezas, uma vez que é uma instituição criada pelos homens e por eles controlada, devem escapar a esses perigos inerentes às linguagens espontâneas.

    Não há erro possível entre articulação e atribuição na ordem da história natural, pois que a estrutura se dá numa visibilidade imediata; também não há deslizes imaginários, falsas semelhanças, vizinhanças incongruentes que colocariam um ser natural corretamente designado num espaço que não fosse o seu, pois que o caráter é estabelecido quer pela coerência do sistema, quer pela exatidão do método.

    A estrutura e o caráter asseguram, na história natural, o fechamento teórico do que fica em aberto na linguagem e faz nascer em suas fronteiras os projetos de artes essencialmente inacabados.

    Do mesmo modo o valor que, de estimativo, torna-se automaticamente apreciativo, e a moeda que, por sua quantidade crescente ou decrescente provoca mas limita sempre a oscilação dos preços, garantem, na ordem das riquezas, o ajustamento entre a atribuição e a articulação, entre a designação e a derivação.

    O valor e os preços asseguram o fechamento prático dos segmentos que permanecem em aberto na linguagem.

    A estrutura permite à história natural achar-se de imediato no elemento de uma combinatória, e o caráter lhe permite estabelecer, a propósito dos seres e de suas semelhanças, uma poética exata e definitiva. O valor combina as riquezas umas com as outras, a moeda permite sua troca real.

    Lá onde a ordem desordenada da linguagem implica a relação contínua com uma arte e com suas tarefas infinitas, a ordem da natureza e a das riquezas se manifestam na existência pura e simples

    • da estrutura e do caráter,
    • do valor e da moeda.

    Entretanto, deve-se notar que a ordem natural se formula numa teoria que vale como a justa leitura de uma série ou de um quadro real:

    • a estrutura dos seres é, ao mesmo tempo, tanto a forma imediata do visível quanto sua articulação;
    • do mesmo modo, o caráter designa e localiza num único e mesmo movimento.

    Em contrapartida,

    • o valor estimativo só se torna apreciativo mediante uma transformação;
    • e a relação inicial entre o metal e a mercadoria só pouco a pouco se torna um preço sujeito a variações.

    No primeiro caso, trata-se de

    • uma superposição exata entre a atribuição e a articulação, entre a designação e a derivação;

    no outro caso,

    • de uma passagem que está ligada à natureza das coisas e à atividade dos homens.

    Com a linguagem, o sistema de signos é recebido passivamente em sua imperfeição e somente uma arte o pode retificar: a teoria da linguagem é imediatamente prescritiva.

    A história natural instaura, de si mesma, para designar os seres, um sistema de signos e, por isso, é uma teoria.

    As riquezas são signos que são produzidos, multiplicados, modificados pelos homens; a teoria das riquezas está ligada, de ponta a ponta, a uma política.

    No entanto, os dois outros lados do quadrilátero fundamental permanecem abertos.

    Como se explica que a designação (ato singular e pontual) permita uma articulação entre a natureza, as riquezas, as representações?

    Como se explica, de um modo geral, que os dois segmentos opostos (do juízo e da significação para a linguagem, da estrutura e do caráter para a história natural, do valor e dos preços para a teoria das riquezas) se reportem um ao outro e autorizem assim uma linguagem, um sistema da natureza e o movimento ininterrupto das riquezas?

    É aí que é realmente preciso supor que as representações se assemelham entre si e se evocam umas às outras na imaginação; que os seres naturais estão numa relação de vizinhança e de semelhança, que as necessidades dos homens se correspondem e encontram com que se satisfazer.

    O encadeamento das representações, a superfície sem ruptura dos seres, a proliferação da natureza são sempre requeridos para que haja linguagem, para que haja uma história natural e para que possa haver riquezas e prática das riquezas.

    O continuum da representação e do ser, uma ontologia definida negativamente como ausência do nada, uma representabilidade geral do ser e o ser manifestado pela presença da representação – tudo isso faz parte da configuração de conjunto da epistémê clássica.

    Poder-se-á reconhecer, nesse princípio do contínuo, o momento metafisicamente forte do pensamento dos séculos XVII e XVIII (o que permite à forma da proposição ter um sentido efetivo, à estrutura ordenar-se em caráter, ao valor das coisas calcular-se em preço); já as relações entre articulação e atribuição, designação e derivação (o que funda o juízo de um lado e o sentido de outro, a estrutura e o caráter, o valor e os preços) definem, para esse pensamento, o momento cientificamente forte (o que torna possíveis a gramática, a história natural, a ciência das riquezas).

    A ordenação da empiricidade se acha assim ligada à ontologia que caracteriza o pensamento clássico; este, com efeito, se acha desde logo no interior de uma ontologia, tornada transparente pelo fato de que o ser é dado sem ruptura à representação; e no interior de uma representação iluminada pelo fato de que ela libera o contínuo do ser.

    Quanto à mutação que, por volta do final do século XVIII, se produziu em toda a epistémê ocidental, é possível caracterizá-Ia de longe, desde agora, dizendo

    • que um momento cientificamente forte se constituiu lá onde a epistémê clássica conhecia um tempo metafisicamente forte;
    • e que, em contrapartida, se apurou um espaço filosófico lá onde o classicismo havia estabelecido suas mais sólidas travas epistemológicas.

    Com efeito,

    • a análise da produção, como projeto novo da nova “economia política”, tem essencialmente por papel analisar a relação entre o valor e os preços;
    • os conceitos de organismos e organização, os métodos da anatomia comparada, em suma, todos os temas da “biologia” nascente explicam de que modo estruturas observáveis em indivíduos podem valer, a título de caracteres gerais, para gêneros, famílias, ramificações;
    • enfim, para unificar as disposições formais de uma linguagem (sua capacidade para constituir proposições) e o sentido que pertence a suas palavras, a ‘filologia” estudará não mais as funções representativas do discurso, mas um conjunto de constantes morfológicas submetidas a uma história.

    Filologia, biologia e economia política se constituem não no lugar da Gramática geral, da História natural e da Análise das riquezas, mas lá onde esses saberes não existiam, no espaço que deixavam em branco, na profundidade do sulco que separava seus grandes segmentos teóricos e que o rumor do contínuo ontológico preenchia.

    O objeto do saber, no século XIX, se forma lá mesmo onde acaba de se calar a plenitude clássica do ser.

    Inversamente, um espaço filosófico novo vai libertar-se lá onde se desfazem os objetos do saber clássico.

    • O momento da atribuição (como forma do juízo) e o da articulação (como recorte geral dos seres)
      • se separam, fazendo nascer o problema das relações entre
        • uma apofântica e
        • uma ontologia formais;
    • o momento da designação primitiva e o da derivação através do tempo se separam,
      • abrindo um espaço onde se coloca a questão das relações entre
        • o sentido originário
        • e a história.

    Assim se acham posicionadas as duas grandes formas da reflexão filosófica moderna.

    Uma interroga as relações entre a lógica e a ontologia; procede pelos caminhos da formalização e encontra sob um novo aspecto o problema da máthêsis.

    A outra interroga as relações entre a significação e o tempo; empreende um desvelamento que não é e, sem dúvida, jamais será acabado, e traz de novo à luz os temas e os métodos da interpretação.

    Sem dúvida, a questão mais fundamental que então se pode colocar para a filosofia concerne à relação entre essas duas formas de reflexão.

    Por certo não compete à arqueologia dizer se essa relação é possível nem como pode fundar-se;

    • mas ela pode designar a região onde essa relação busca estabelecer-se, qual o lugar da epistémê em que a filosofia moderna tenta encontrar sua unidade, em que ponto do saber descobre seu mais amplo domínio: esse lugar é aquele onde
      • o formal (do apofântico e da ontologia)
      • se reuniria ao significativo tal como ele se aclara na interpretação.

    O problema essencial do pensamento clássico se alojava nas relações entre o nome e a ordem:

    • descobrir uma nomenclatura que fosse uma taxinomia, ou, ainda,
    • instaurar um sistema de signos que fosse transparente à continuidade do ser.

    O que o pensamento moderno vai colocar fundamentalmente em questão é a relação do sentido com a forma da verdade e a forma do ser:

    • no céu de nossa reflexão, reina um discurso – um discurso talvez inacessível – que seria a um tempo uma ontologia e uma semântica.

    O estruturalismo não é um método novo; é a consciência desperta e inquieta do saber moderno.

     
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    Michel Foucault 1926-1984

    A percepção da contaminação do pensamento com o qual pensamos, pela impossibilidade de fundar as sínteses na representação

    “Eis que nos adiantamos bem para além
    do acontecimento histórico que se impunha situar
    – bem para além das margens cronológicas
    dessa ruptura que divide, em sua profundidade,
    a epistémê do mundo ocidental
    e isola para nós o começo
    de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.

    É que o pensamento que nos é contemporâneo
    e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
    se acha ainda muito dominado
    pela impossibilidade,
    trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação
    e pela obrigação
    correlativa, simultânea,

    mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir inversamente,
    para além do objeto,
    esses “quase-transcendentais” que são para nós
    a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

    A nova forma de reflexão se instaura no pensamento em nossa cultura, o motor constituinte “dessa maneira moderna de conhecer empiricidades”

    “Instaura-se um tipo de reflexão
    bastante afastado do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
    tópico I. As novas empiricidades

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. IX – O homem e seus duplos ;
    tópico V – O “cogito” e o impensado.

    • a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé clássica.
    • essa impossibilidade de fundar as sínteses implica na seleção da visão de ‘operações’ e análise de valor no exato ponto de cruzamento entre o dado e o recebido, e para a primeira possibilidade de análise de valor. 
    • a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé moderna.
    • essa possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação implica em uma visão de ‘operações’ e análise de valor antes do ponto de cruzamento acima, o que leva o modelo para a segunda possibilidade de análise de valor.
    • essa forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura exige duas coisas: 
      • o ‘ser do homem’;
      • o impensado e sua contrapartida no espaço da representação

    a percepção  dessa contaminação, dominação mesmo,
    do pensamento com o qual ‘queiramos ou não‘ pensamos,
    – hoje em dia, e aqui e agora –
    por configurações de pensamento
    com a possibilidade, e também
    com impossibilidade
    de fundar as sínteses – da empiricidade objeto – 
    no espaço da representação
    muda completamente os domínios e os lugares onde ocorrem as operações,
     as paletas de ideias ou elementos de imagem, assim como as estruturas e os relacionamentos entre eles.

    A primeira pedra de tropeço
    no caminho de Michel Foucault
    comparações feitas por Foucault de diferentes configurações de pensamento
    Uma operação, de pensamento, de produção, etc. com a paleta de ideias e a estrutura do pensamento moderno, de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida no período 1775-1825, segundo Michel Foucault

    Há diferentes modelos
    que formulamos para 
    visões de ocorrências 
    no espaço-tempo x, y, z e t.

    Ao suspeitar
    da contaminação do pensamento
    – do nosso, daquele com o qual queiramos ou não pensamos –
    por essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, ele manifesta sua percepção de que de fato isso acontece em volta de nós e conosco.

    Esses modelos,
    diferentes em seus fundamentos,
    são usados juntos
    e/ou simultaneamente
    no mesmo domínio e ambiente 
    em um pensamento
    contaminado
    por duas epistemologias,
    ou por duas maneiras
    de conhecer
    aquilo que dizemos
    que conhecemos.

    Existem modelos,
    todos em uso atualmente,
    que podem ser agrupados
    em duas famílias:

    • aqueles com a possibilidade
    • e aqueles com a impossibilidade 

     de fundar as sínteses
     – da empiricidade objeto da operação-
    no espaço da representação.

    Essa a distinção entre modelos
      com e modelos sem essa possibilidade
    de fundar as sínteses
    [da empiricidade objeto da operação]
    no espaço da representação,
    que Michel Foucault faz sugere que analisemos os modelos de operações e de organizações existentes, isto é, nos modelos que usamos hoje, em busca de características de características, ou características de segunda ordem, pelas quais podem ser associados com o pensamento antes, depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, oferecendo os necessários elementos para identificação.

    A figura na coluna do meio acima mostra a configuração do pensamento (o clássico,  de antes de 1775), com a impossibilidade de fundar as sínteses (da(s) empiricidade(s) objeto da operação) no espaço da representação.

    Clicando nessa figura, a animação mostrará as alterações em toda a configuração do pensamento, para levantar essa impossibilidade.

    A alteração se passa no lado direito da figura. 

    A primeira coisa que muda é o tipo de reflexão que se instaura. 

    Como decorrência, muda toda a paleta de ideias, ou elementos de imagem; 

    Muda ainda o perfil do pensamento em cada configuração: 

    • o referencial
        • a ordem pela ordem
        • dá lugar à utopia do não articulado;
    • os princípios organizadores
        • que eram Caráter e Similitude
        • passam a ser Analogia e Sucessão;
    • e os métodos,
        • que eram identidade e semelhança
        • passam a ser Análise e Síntese.

    Lista de posts

    IV. O caráter

    Capítulo V – Classificar; tópico IV. O caráter A estrutura é essa designação do visível que, por uma espécie de triagem pré-Iínguística, permite a ele

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    III. A estrutura

    Capítulo V – Classificar; tópico III. A estrutura Assim disposta e entendida, a história natural tem por condição de possibilidade o pertencer comum das coisas

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    II. A história natural

    Capítulo V – Classificar; tópico II. A história natural Como pôde a idade clássica definir esse domínio da “história natural”, cuja evidência hoje e cuja

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    I. O que dizem os historiadores

    Capítulo V – Classificar; tópico I. O que dizem os historiadores As histórias das ideias ou das ciências – aqui designadas somente pelo seu perfil

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    VII. Quadro geral

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    dez (10) pontos para contextualização entre Prefácio e texto do livro
    'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'

    1. A Forma de Reflexão que se instaura em nossa cultura
    2. Proposição: o bloco padrão genérico e fundamental
    para construção de representações
    3. Princípios organizadores do pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    4. O Conceito de verbo no pensamento clássico,
    o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    5. O conceito de verbo no pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    6. As duas sintaxes mencionadas por Foucault no Prefácio
    6.1 A sintaxe que autoriza a construção das frases
    6.2 A sintaxe que autoriza manter juntas
    as palavras e as coisas
    7. O princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
    de 1776
    8. O princípio dual de trabalho de David Ricardo,
    de 1817
    8.1 A importância de David Ricardo,

    Nosso roteiro (Michel Foucault) e nossa inspiração (Humberto Maturana)

    Influências e inspirações

    1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’: 

    uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

    textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais; 

    e ainda, não menos importante

      • as imagens tradicionais, as imagens técnicas, as classes de abstrações que usamos cotidianamente;
    Vilém-Flusser-Portrait-008
    Vilém Flusser
    1920-1991

    2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:

    objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

    Humberto Maturana
    1928-

    3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:

    a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:

      • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sínteses no espaço da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
      • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
    Michel Foucault
    1926-1984

     

    A Figura 2 original de Maturana

    Figura 2 – Diagrama ontológico; Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana;
    pi Figura 2 – O explicar e a experiência; Linguagem, Emoções e Ética nos Afazeres Politicos,
    do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política

    Esquadrinhamento da Figura 2 de Maturana para ajustes

    A Figura 2 – Diagrama ontológico ou O explicar e a experiência, de Maturana 
    esquadrinhamento da figura com comentários e propostas de alterações
    usando o pensamento de Michel Foucault

     

    O circuito ida e volta possibilitado por funções
    Imaginação e Conceituação reversíveis

    classes de abstrações:
    Graus da abstração;
    Dimensões próprias a cada caso

    Roteiro e inspiração

     

    • Estar na linguagem segundo Humberto Maturana

      Estar na linguagem é uma coordenação de coordenações consensuais de ações

    • Pedra fundamental do pensamento de Maturana no início do seu trabalho

      A pedra fundamental do pensamento de Humberto Maturana

    HM foto 1

    Humberto Maturana Romesin
    1928 –

    • Um salto para fora do cartesianismo

      Salto para fora do cartesianismo: Vilém Flusser em Pensamento e Reflexão

    • As imagens tradicionais

    • As imagens técnicas, as construídas por aparelhos

      Imagem técnica – aquele tipo de imagem produzida por um aparelho.

    vilem

    Vilém Flusser
    1920-1991

    Fale conosco

    O sistema SIPOC/FEPSC

    O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

    - História, modo de ser fundamental das empiricidades,
    . o Circuito das trocas e o Lugar de nascimento do que é empírico
    . Pensamento conservador e pensamento progressista

    Posição relativa do par sujeito-objeto e o modelo de operações

    Aquém 

    história como sucessão de fatos
    tais como se sucederam

    História como sucessão de fatos tais como se sucederam

    Diante e Além

    história como alterações no ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades

    História como mudança no 'modo de ser fundamental'

    Duas possibilidades de leitura de operações;
    duas origens de valor (interna e externa na linguagem) para representações

    Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes - duas abrangências muito diferentes

    Ciência e Tecnologia dependem da Filosofia e são funções das ferramentas de pensamento de que dispõe a configuração do pensamento utilizada em sua geração.

    Os três movimentos do pensamento segundo Vilém Flusser

    Usando o pensamento de Vilém Flusser:

    • Pensamento é um transformador do duvidoso em língua;
    • Filosofia, ou Reflexão, é texto produzido pelo pensamento ao voltar-se contra si mesmo para corrigir-se e renovar-se.
    • ciência, como o resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo, para compreendê-lo, é texto filosófico aplicado. 
    • e tecnologia, como resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo para modificá-lo, é texto científico aplicado; 

    Descontinuidades epistemológicas refletem conquistas humanas no pensamento e são aprimoramentos na maneira que usamos para conhecer.  Há portanto uma relação entre, de um lado, o modo como colocamos em marcha nosso desejo de transformar o duvidoso em língua a cada nível, e de outro lado, a filosofia que temos, e a Ciência que temos, ou a tecnologia de que dispomos. Filosofia, Ciência e Tecnologia são funções do como como vemos o mundo e as coisas.

    Michel Foucault (*) descreve uma descontinuidade epistemológica (uma alteração no modo como nos voltamos para o mundo para conhecer o que dizemos que conhecemos), e aponta com toda clareza diferentes jogos de ferramentas de pensamento ou estruturas conceituais, características de uma e de outra dessas epistemologias, de um e de outro lado desse evento. E aponta um período em nossa cultura ocidental, em que o pensamento esteve dominado por uma característica do período anterior.

    A solução de questões trazidas à luz por essa nova maneira de conhecer (a nova epistemologia) não poderão ser resolvidas se correspondentes ciência e tecnologia não forem desenvolvidas também.

    Pensamento conservador e progressista

    Acompanhando o trabalho arqueológico de Michel Foucault em direção a essa classe especial de saberes, a esse conjunto de discursos chamado de ciências humanas, vê-se que em certo período consolidou-se um tipo de pensamento em cuja configuração a etapa de construção de novas representações foi incorporada. Antes disso, essa etapa de construção da representação nova ficava fora do escopo do pensamento, e depois disso essa etapa permaneceu definitivamente incorporada.

    Para a configuração de pensamento que deixa fora do seu escopo a etapa de construção de novas representações a alternativa é conviver com tudo o que existe desde sempre e para sempre, tomando as coisas como pré-existentes e pertencentes ao Universo. Esse modo de pensar tem características de conservadorismo, enquanto aquela outra configuração do pensamento que inclui em seu escopo a geração de novas representações, as características de progressismo.

    Neste trabalho algumas – bastantes – características de uma e de outra dessas duas características de configurações do pensamento foram apresentadas o que de certa forma pode ser usado para qualificar com algo mais do que a qualidade ‘conservador’ um pensamento de direita; e com a qualidade ‘progressista’ um pensamento de esquerda, delineando com mais precisão uma e outra dessas configurações.

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

    Panorama visto desde meu posto de observação

    É real hoje, aqui, agora, e entre nós, a percepção – feita por Foucault – do domínio/contaminação do pensamento – ‘com o qual queiramos ou não pensamos‘ – pela impossibilidade de fundar as sínteses (do pensamento sobre a empiricidade objeto da operação) no espaço da representação(*).

    Esse tipo de pensamento dominante, aquele com a impossibilidade de fundar as sínteses, é ao mesmo tempo o tipo de pensamento que não inclui a operação de construção de novas representações. E a estrutura das operações sem essa etapa reforça essa impossibilidade. Nesse contexto modelos com e modelos sem essa impossibilidade são tratados como se variações sobre o mesmo tema fossem, e não produções do pensamento completamente diferentes.

    Estamos projetando e usando hoje, modelos para operações e organizações, de produção e outras, com o pensamento de exatos dois séculos atrás.

    Para que isso possa ser percebido pelo projetista de modelos em diversas áreas é necessário o rompimento das condições em que se dá essa contaminação e esse domínio de uma das configurações de pensamento sobre a outra, obliterando justamente aquela que corresponde a uma conquista humana no pensamento. Para que isso aconteça é necessário que seja atendido um requisito: a construção de um critério para identificação e comparação de modelos, e sua aplicação no caso presente.

    Daqui de onde vejo as coisas, é unânime a visão das coisas em termos de processo. Ninguém fala de nada além de processos: mapeia-se processos, otimiza-se processos, etc. etc. o que quer que seja, mas sempre processos. Sem que nos demos conta de como sejam as diferentes estruturas das operações em que tais ‘processos’ ocupam posição operacional. 

    Michel Foucault pode fornecer os elementos necessários para a construção desse critério. Nossa intenção aqui é destacar em Foucault o que pode ser usado para o estabelecimento de uma relação pensamento – e sua aplicação na modelagem de operações em organizações. 

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

    Cronologia do evento fundador da nossa modernidade no pensamento;
    linha de tempo com os períodos de contaminação do pensamento
    por configurações diferentes.

    uma cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    o evento fundador da nossa modernidade no pensamento
    Linha de tempo das conquistas humanas no pensamento e respectiva utilização prática

    Acoplamentos estruturais do sistema descrito no LD - o Explicar com Reformular: os internos e aqueles com o ambiente externo

    Diante e para Além do objeto

    Acoplamento estrutural interno:
    condições de possibilidade
    Acoplamento estrutural interno:
    pontos de acoplamento
    Acoplamento estrutural externo:
    parcial quando há diferenças nas estruturas
    • os domínios do Operar – retângulo vermelho; e do Suporte ao operar – domínio amarelo, que compõem o ‘Lugar de nascimento do que é empírico’ parte do ‘Explicar com ‘Reformular’ a empiricidade objeto, durante o caminho da Construção da representação, são exemplo do primeiro acoplamento interno. Acoplamento semelhante ocorre durante o caminho do Instanciamento da representação.(*)

       

    • há ainda acoplamentos externos ‘por cima’, lateralmente, e por baixo da estrutura no LD da figura nos dois caminhos o da Construção e o do Instanciamento. O acoplamento externo ‘por cima’ depende da estrutura com a qual se dará acopamento, e pode ser parcial.

    Playground para projetistas de modelos: uma coleção de modelos de diversos tipos, para aplicação dos conceitos apresentados

    Uma coleção com mais de duas dúzias de modelos, (*) para descobrir com que tipo de pensamento foram feitos:

    • se COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; ou
    • ou se SEM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação

    (*) Proposta de metodologia para o planejamento e implantação de manufatura integrada por computador
    de Bremer, C. F. USP SC fev 1995; entre outras fontes

    Estruturas dos modelos, resultantes da utilização do referencial,dos princípios organizadores e dos métodos usados pelo pensamento, por segmento de modelos 

    Aquém do objeto

    Modelo de operações de Buffa e modelo de uma organização adaptado de Mauro Zilbovicius

    Diante do objeto

    Modelo de operações do Kanban e modelo de organização da Reengenharia

    Além do objeto

    Modelo de uma ciência humana Análise da produção como exemplo de qualquer outro modelo de ciência humana
    Estrutura matricial – Quadro de categorias clássico. Utilização de várias ordens ligeiramente diferentes em um mesmo modelo de operações.
    Estrutura hierárquica característica do objeto análogo composto substitutivo ao vislumbrado. Utilização de uma única ordem ao longo do modelo.
    Mesmas características dos modelos para o segmento Diante do objeto, mas aqui, com um modelo constituinte combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

    O modelo 5W2H, de um lado, e de outro, o modelo de operações do Kanban
    e o modelo proposto no LD da Figura 2: usos diferentes para as mesmas ideias
    ou elementos de imagem envolvidos na formulação da proposição

    Aquém do objeto

    Diante e Além do objeto

    Modelo Provision Workbench, da Proforma
    Modelo de operações de produção do Kanban
    Modelo proposto para 'uma certa maneira de conhecer empiricidades'

    O exame dessas três figuras mostra que ideias, elementos de imagem, homônimos, podem ser usados de modo diferente em modelos feitos sob estruturas conceituais diferentes.

    No modelo 5W e 2H no lado esquerdo acima, o destaque dado pelo losango em vermelho é nosso. Não estava na figura original. A figura é organizada por um sistema de categorias composto pelas 7 perguntas 5W2H. 

    O modelo da produção do Kanban é sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto da operação de produção, e é formulado como uma proposição instanciativa de um objeto previamente projetado, e portanto cuja representação foi anteriormente construída

    O modelo de operações de construção de representação para empiricidade objeto (LD da figura) é feito calcado no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo; está evidenciada a formulação no formato de uma proposição. A origem de valor adotada está nas designações primitivas ( conjunto de operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites) e da linguagem de uso (o Repositório)

    O pensamento de outros grandes pensadores:
    John Dewey e seus dois modos de ver o mundo;
    Ilya Prigogine e o conceito de caos para a ciência moderna

    Diante do objeto

    Ver [homem e experiência] e [natureza] vistos juntos
    Os conceitos de caos, na ciência moderna;
    e de Arte como a formulação com leis e eventos

    As duas animações acima – a nosso ver – apenas mostram que tanto John Dewey na sua visão [homem] [experiência] e [natureza] juntos; quanto Ilya Prigogine  na sua visão do que seja caos na ciência moderna, estão pensando com uma configuração de pensamento COM a possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, o que não era comum para a ciência clássica, toda reversível.

    Sistema Formulador

    Aquém do objeto

    Modelo relacional de dados do Microsoft Project 4.0

    Diante do objeto

    Módulo central do Sistema Formulador

    O Sistema Formulador:

    É um ante-projeto de um sistema para gestão de projetos com estrutura conceitual consistente com o pensamento moderno. 
    O módulo principal do sistema é uma unidade lógica que relaciona entidades envolvidas na proposição enunciadora de operações, mantidas em banco de dados, e gera sistematicamente o modelo de operações. O Microsoft Project, então, importa o modelo gerado como se fosse próprio, e a gestão continua, agora com um modelo gramaticalmente correto e criteriosamente estruturado.

    Este é um ante-projeto de um sistema de gestão COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; esse sistema pode evoluir para um sistema visual de gestão e outros aplicativos.

    Destaque para dois modelos existentes:
    1) LE, o SIPOC (FEPSC) do SixSigma; 2) LD e o Visão da PHD, da PHD Brasil
    e no centro, as diferenças entre eles

    Aquém do objeto

    O diagrama FEPSC (SIPOC) mostrando a estrutura

    diferenças

    Comparação

    Diante do objeto

    A Visão da PHD

    Comparação do modelo SIPOC ou FEPSC – SixSigma(*) com o modelo Visão da PHD(**) do ponto de vista das estruturas respectivas.
    A animação central mostra o que falta – estruturalmente – ao SixSigma para ter a estrutura do modelo da direita.

    (*) Gestão integrada de processos e da tecnologia da informação; capítulo Identificação, análise e melhoria de processos críticos Figura 3.1 Representação da FEPSC, de Roberto Gilioli Rotondaro
    Coordenadores: Fernando José Barbin Laurindo e Roberto Gilioli Rotondaro, Editora Atlas, jan/2006
    (**) A Visão da PHD, da empresa PHD Brasil

    O mapa de operações de produção do Kanban;
    e o mapa da organização segundo a Reengenharia

    Diante do objeto

    Modelo de operações
    do Kanban

    Modelo de operações do Kanban

    Mapa da organização
    segundo a Reengenharia

    Mapa da Reengenharia (modificado) e comentado

    Temos à esquerda, o modelo do Kanban com a referência (*) abaixo. e á direita, a Figura 7.1 do livro Reengenharia, referência (**) abaixo. São organizados sobre a proposição, e pertencem à configuração do pensamento moderno.  Você pode certificar-se  da veracidade dessas duas afirmativas neste ponto (17).

    (*) Artigo ‘A comparison of Kanban and MRP concepts for the control of Repetitive Manufacturing Systems’ de:
    James W. Rice da Western Kentucky University e Takeo Yoshikawa da Yolohama National University
    (**) Reengenharia – revolucionando a empresa: em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência 
    de Michael Hammer e James Champy

    Exemplos de modelos existentes, e muito usados,
    nas diferentes estruturas conceituais

    Aquém do objeto

    Diante do objeto

    Modelos de: operação de produção; e organização típica
    Modelos de: operação contábil/financeira e modelo de organização
    Modelos de: operação de produção do Kanban; e modelo de organização da Reengenharia

    Exemplos de modelos muito conhecidos para operações e para as organizações

    • operação: Operações de produção, de Elwood S. Buffa;
    • organização: adaptação de Organização típica.
    • operação: operação contábil financeira débito e crédito;
    • organização: Ativo, Passivo e Resultados.
    • operação: modelo do Kanban;
    • organização: mapa da reengenharia.

    A proposição como o bloco construtivo padrão  (Lego)
    fundamental para a construção de representações

    Aquém do objeto

    Proposição ausente
    do sistema Input-Output

    Diante do objeto

    A proposição no caminho
    da Construção da representação

    Além do objeto

    A proposição no caminho
    do Instanciamento da Representação

    ‘A proposição é, para a linguagem,
    o que a representação é para o pensamento:
    sua forma ao mesmo tempo mais geral e mais elementar porquanto, desde que a decomponhamos, não encontraremos mais o discurso, mas seus elementos como tantos materiais dispersos.’(*)

    “A língua é
    a mais complexa,
    a mais milagrosa,
    a mais estranha,
    a mais gigantesca e variada
    invenção humana.” (**)

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

     


    (**) Frases de Millor Fernandes

    Os dois conceitos para o que seja um verbo:
    verbo Processo, e verbo Forma de produção

    Aquém do objeto
    verbo ‘Processo

    Verbo tratado como Processo

    Diante e Além do objeto
    verbo ‘Forma de produção’

    Verbo tratado como Forma de produção

    “A única coisa que o verbo afirma
    é a coexistência de duas representações; 
    por exemplo
    a do verde e da árvore,
    a do homem e da existência ou da morte. 

    É por isso que o tempo dos verbos
    não indica aquele em que
    as coisas aconteceram no absoluto, 
    mas um sistema relativo  
    de anterioridade
    ou simultaneidade 
    das coisas entre si.”
    (*)

    “O limiar da linguagem
    está onde surge o verbo.
    É preciso portanto 
    tratar esse verbo como um ser misto, 
    ao mesmo tempo palavra entre palavras,
    preso às mesmas regras 
    de regência
    e de concordância;
    e depois, em recuo em relação a elas todas, 
    numa região que não é aquela do falado 
    mas aquela donde se fala.
    Ele está na orla do discurso, na juntura entre 
    aquilo que é dito e aquilo que se diz; 
    exatamente lá onde os signos 
    estão em via de se tornar linguagem.
    (*)

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

    Os dois conceitos para o que seja 'Classificar'

    Aquém do objeto

    Classificar como uma referência
    do visível a si mesmo

    Diante e Além do objeto

    Classificar como uma referência
    do visível ao invisível

    Classificar é referir
    o visível a si mesmo,
    encarregando um dos elementos
    de representar os outros.(*)

    Classificar é referir
    o visível ao invisível
    – como a sua razão profunda –
    e depois, alçar de novo dessa secreta arquitetura, em direção aos seus sinais manifestos, que são dados
    à superfície dos corpos.
    (*)


    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    cap. VII – Os limites da representação;
    tópico III. A organização dos seres; sub-item 3

    Os dois princípios filosóficos para o que seja de trabalho

    Aquém do objeto
    Adam Smith, de 1776(*)

    Princípio monolítico de trabalho
    de Adam Smith, de 1776

    Diante e Além do objeto
    David Ricardo, de 1817(**)

    Princípio dual de trabalho
    de David Ricardo, de 1817


    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas; 
    (*) Capítulo VII – Os limites da representação;
    tópico II. A medida do trabalho;


    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    (**) Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem;
    tópico II. Ricardo

    Elementos centrais em cada formulação por segmento do espectro

    Aquém do objeto
    PROCESSO

    Diante do objeto
    Forma de produção

    Além do objeto
    NEXO DA PRODUÇÃO

    Processo: elemento central
    no modelo de operação clássico
    Forma de produção: elemento central
    no modelo de operações moderno
    Nexo da produção: resultante da visão
    SSS da organização

    Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais qualquer providência, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

    Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento (laboratório piloto, fábrica) com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar; tópico II. Gramática geral
    Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; I. As novas empiricidades

    Espaços Gerais do Saber
    em cada segmento do espectro

    Aquém do objeto

    Diante do objeto

    Além do objeto

    Espaço Geral do Saber Clássico
    Espaço Geral do Saber no pensamento Moderno
    Espaço interior do Triedro do Saber

    As mudanças nas configurações do pensamento promoveram reposicionamentos das positividades umas em relação às outras, resultando em três espaços gerais do saber.(*)

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo III – Representar; tópico VI. Mathésis e Taxinomia;
    Capítulo X – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes; 
    de Michel Foucault

    O tempo em cada uma das faixas do espectro;
    e para as diferentes etapas das operações indicadas

    Aquém
    do objeto
    qualquer operação

    Diante 
    do objeto
    caminho da Construção 

    Diante 
    do objeto
    caminho da Instanciamento

    Tempo no LE, em qualquer operação no sistema Input-Output, sob o deus Chronos
    Tempo LD, operação no caminho da Construção da representação,
    sob o deus Kairós
    Tempo LD, operação no caminho do Instanciamento da representação,
    novamente sob o deus Chronos

    Tempo, em cada um dos segmentos do espectro, muda:

    • aquém do objeto, na estrutura input-output sob o pensamento clássico, temos um tempo relativo, ou um tempo calendário, cujo deus é Chronos;
    • diante do objeto mas no caminho da Construção da representação, sob o pensamento filosófico moderno, temos um tempo absoluto, um tempo não-calendário, cujo deus é Kairós;
    • e ainda diante, e também além do objeto, tempos um tempo que volta a ser relativo, calendário, e a soberania volta a ser a de Chronos.

    O espaço dado ao homem - 'naquilo que ele tem de empírico' -
    na estrutura dos modelos

    Aquém do objeto

    Diante e Além do objeto

    Sistema clássico de pensamento:
    sem espaço em sua estrutura
    para os dois papéis do homem.
    Os dois papéis do homem
    presentes e operativos na estrutura
    d'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'

    Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia. (…)
    Sem dúvida,
    as ciências naturais trataram do homem
    como de uma espécie ou de um gênero.”

    As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico II. O lugar do rei

    ‘Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas, reclamando para seu devir não mais que o princípio de sua inteligibilidade e abandonando o espaço da representação, o homem, por seu turno, entra e pela primeira vez,
    no campo do saber ocidental’ (*)

    “O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: está, ao mesmo tempo, 

    • no fundamento de todas as positividades,
    • presente, de uma forma
      que não se pode sequer dizer privilegiada,
      no elemento das coisas empíricas.” (**)

     (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas; 
    Prefácio

    (**) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;  
    Capítulo X – As ciências humanas;
    I. O triedro dos saberes

    Desenvolvimento das operações
    por segmento do espectro de modelos

    Aquém do objeto

    Diante do objeto

    Além do objeto

    • no sistema Input-Output; usando uma ordem arbitrariamente escolhida;
    • e com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as chamadas ‘aparências’;
    • No sistema correspondente ao que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, que tem como elemento construtivo padrão fundamental a proposição, da qual herda as categorias de ideias ou elementos de imagem de primeiro nível;
    • e com propriedades sim-originais e sim-constitutivas daquilo que se constitui na existência em decorrência das operações.
    • No sistema formulado no campo das ciências humanas, com modelos constituintes compostos por uma combinação dos modelos constituintes das ciências que integram a região epistemológica fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
    • Nexo da operação.

    Veja mais detalhes nas animações que podem ser encontradas nas páginas de detalhe deste tópico.

    Funcionamento do pensamento
    em cada um dos segmentos desse espectro

    Antes do objeto

    Diante do objeto

    Além do objeto

    Operação no sistema Input-Output
    sobre representações pré-existentes
    Operação de construção de representação não existente no repositório
    Operação de instanciamento de representação pré-existente no repositório

    Paletas com o conjunto completo de ideias ou elementos de imagem necessários para a formulação das respectivas imagens das ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t ; incluindo relacionamentos entre esses elementos de imagem.(*)

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
    tópico I. As novas empiricidades, de Michel Foucault

    Estruturas de conceitos em cada ambiente de formulação identificado pela possibilidade ou pela impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação

    Posição em relação ao par sujeito-objeto

    Estrutura conceitual
    para o pensamento clássico
    Estrutura conceitual
    para o pensamento moderno

    Referencial:

    • Ordem pela ordem;

    Princípios organizadores: 

    • Caráter e similitude;

    Métodos:

    • Identidade e semelhança

    Referencial:

    • Utopia;

    Princípios organizadores: 

    • Analogia e Sucessão;

    Métodos:

    • Análise e Síntese

    ‘Assim, estes três pares,
    função-norma,
    conflito-regra,
    significação-sistema,

    cobrem, por completo,
    o domínio inteiro
    do conhecimento do homem.'(*)

    São essas as ferramentas de que se arma o pensamento – em cada segmento do espectro de modelos, para produzir as imagens que servem de mapas, para orientação na construção das representações.

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

    Imaginação e Conceituação - funções humanas reversíveis:
    Imagens tradicionais e Técnicas

    Imagens tradicionais

    Imagens técnicas

    Classes de abstrações

    As imagens tradicionais
    Imagens técnicas, as imagens produzidas por aparelhos (computadores)
    Classes de abstrações
    • Imaginação e Conceituação, funções humanas reversíveis que todos temos para codificar e decodificar imagens tradicionais e textos;
      • idolatria é o uso continuado de imagens que, quando decodificadas, não mais nos levam à visão da ocorrência no espaço-tempo x, y, z e t, isto é, imagens que não mais nos servem de guias para o mundo, mas de biombos;
      • textolatria é o uso continuado de textos que, quando decodificados, não mais nos levam às imagens que fizemos para as ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t
    • e as Imagens técnicas, especiais, aquelas imagens produzidas por aparelhos (computadores em destaque); as Imagens técnicas exigem, para seu entendimento, uma Conceituação especial.(*)

    (*) Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia;
    Capítulos I – A imagem; e II – A imagem técnica,
    de Vilém Flusser 

    Modelos constituintes de modelos
    em cada uma das faixas desse espectro

    Posição relativa modelo de operações - sujeito-objeto

    Aquém

    não há modelos constituintes nesse segmento do espectro, já que, pelos pressupostos adotados (Universo, realidade única) nada é constituído na existência em decorrência das operações feitas

    Diante

    modelo constituinte composto pelo par constituinte correspondente ao campo em que o modelo é formulado, tomados isoladamente em cada área: 

    • Vida (Biologia) –
      [função-norma]; 
    • Trabalho (Economia) –
      [conflito-regra]; 
    • Linguagem (Filologia)- [significação-sistema]

    para Além

    campo das Ciências Humanas com modelos constituintes formados por uma combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, tomados todos em conjunto em cada modelo, dada ênfase a uma das áreas das ciências da região epistemológica fundamental

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

     

    O espectro de modelos, segundo essa possibilidade de sim-fundar, ou não-fundar, as sínteses no espaço da representação: Aquém, Diante e para Além do objeto - os segmentos do espectro de modelos de visões de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t

    O modo como Foucault descreve o problema que encontrou em seu trabalho pode ser mapeado em um espectro de modelos agrupados segundo os dois fatores por ele percebidos:  fator 1, com duas regiões quanto à fundação das sínteses na representação e com três regiões quanto à posição relativa ao objeto e ao sujeito: 
    Aquém, Diante e para Além do objeto. 

    Fundação das sínteses no espaço da representação

    Impossibilidade

    Possibilidade

    Aquém

    do objeto
    (e do sujeito)

    Diante

    do objeto
    (e do sujeito)

    para Além

    do objeto
    (e do sujeito)

    Fator 1 – o domínio/contaminação do pensamento com o uso simultâneo de configurações de pensamento 

    • com a  impossibilidade 
    • e também com a possibilidade,

    de fundar as sínteses da representação da empiricidade objeto, no espaço da representação’; com duas regiões em um espectro de modelos:

    Fator 2 – dar conta da obrigação correlativa (…) de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os “quase-transcendentais”

    com as seguintes regiões no espectro de modelos:

     1. região do espectro: ‘Aquém do objeto’ (na impossibilidade);

     2. região do espectro: ‘Diante do objeto’ (na possibilidade)

      • da Vida, (Biologia) par constituinte função-norma
      • do Trabalho, (Economia) par conflito-regra
      • e da Linguagem. (Filologia) par significação-sistema

     3. região do espectro: ‘para Além do objeto’, (na possibilidade) e no campo das ciências humanas, no espaço interior do triedro dos saberes.

    outra região no espectro de modelos, com modelo constituinte único composto dos três pares constituintes das três regiões epistemológicas fundamentais

    - A pedra de tropeço no caminho de Michel Foucault e
    - Os caminhos (e alterações de rota) de Maturana

    Michel Foucault
    1926-1984

    “É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado 

    • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII, de fundar as sínteses [da empiricidade objeto do pensamento] no espaço da representação;
    • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
      de abrir o 
      campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, para além do objeto, esses “quase-transcendentais” que são para nós a Vida, o Trabalho, e a Linguagem.”  (*)
    Humberto Maturana
    1928-

    “Substituir 

    • a noção de input-output 
    • pela de acoplamento estrutural 

    foi um passo importante na boa direção por evitar a armadilha da linguagem clássica de fazer do organismo um sistema de processamento de informação.
    (…) Contudo é uma formulação fraca por não propor uma alternativa construtiva e deixar a interação na bruma de uma simples perturbação. (…) Frequentemente se tem feito a crítica de que a autopoiese leva a uma posição solipsista. (**)

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico: I. As novas empiricidades
    (**) De máquinas e de seres vivos: autopoiese – a organização do vivo; Prefácio à segunda edição; tópico Além da autopoiese; sub-tópico: Enacção e cognição, de Francisco José Garcia Varela

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    Modelo descritivo da produção clássico

    Paleta de ideias ou elementos de imagem
    presentes na configuração de pensamento clássico

    Paleta de ideias ou elementos de imagem presentes na
    configuração de pensamento moderno caminho Construção