Este trabalho é baseado em imagens e em vídeos (animações). Há nele muito pouco texto para ler; e na maioria das animações, há um áudio com o texto falado – que sempre você pode desligar se preferir ler diretamente. Nele, sigo o conselho/orientação de Vilém Flusser de reconstituir as imagens a que correspondem os conceitos dos textos que usamos; e em seguida, relacionar tais imagens reconstituídas a partir dos textos, àquilo que deu origem a elas, na maioria dos casos as particulares visões de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t – obtendo com Conceituação e com Imaginação, relações reversíveis entre textos e imagens, e entre imagens (figuras) e as ocorrências espacio-temporais.
Veja o tópico 1. O conhecimento necessário para reconhecer as visões que povoaram a mente de pioneiros filósofos ao longo dos últimos dois séculos – que serviram de estímulo para conquistas humanas no pensamento, e por outro lado o posicionamento, na história da filosofia em nossa cultura ocidental, dos conceitos embutidos em textos que usamos frequentemente, hoje, em áreas mais prosaicas como a produção, vem de Michel Foucault, este autor, a maior influência neste trabalho, e aqui, engenheiro de produção honorário, pelo que nos transmite em seu ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.
Utilizando diretamente a sugestão de Foucault quanto ao espectro de visões, (modelos e a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação) tomo então alguns poucos modelos antológicos existentes – e de muita utilização, e aplico a esses modelos os critérios de distinções obtidos neste estudo, formando esse espectro de modelos composto por três segmentos – , e para do objeto – agrupados em duas famílias e três segmentos.
Isso dará elementos para identificarmos os elementos que utilizaremos em nossas modelagens, as paletas de ideias ou elementos de imagem em cada uma dessas regiões e famílias, incluindo as relações necessárias entre essas ideias ou elementos de imagem, para que a relação texto – imagem – visão se estabeleça, nos dois sentidos; e com isso melhores condições de possibilidade de identificar e entender como são os modelos que usamos aqui e agora. E de descobrir um pouco mais de perto o modo como efetivamente pensamos.
Ainda no tópico 1. O traçado da rota a percorrer, veio de Humberto Maturana. Tomei a pedra fundamental de seu pensamento, as objeções e propostas que ele fez sobre como eram e como deveriam ser, os modelos para fenômenos, inspirados na biologia; está em De máquinas e de seres vivos: autopoiese, a organização do vivo; Vinte anos depois; História. De Maturana tomo também a Figura 2 – Diagrama ontológico; Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana; servem de inicio e de suporte para as animações.
Funcionamento das operações, as de produção e outras, em função do entendimento (episteme) adotado em cada segmento do espectro de modelos identificados pela posição do par sujeito-objeto nos modelos em cada segmento. Cada segmento é então uma coleção de modelos com as seguintes características principais:
Vamos aqui aplicar a recomendação de Vilém Flusser quanto ao uso de nossas funções humanas, reversíveis, Imaginação e Conceituação (veja detalhes em Imagens tradicionais) implementando a relação
[Ocorrências no espaço-tempo] ⇔ [Imagens] ⇔ [Textos]
onde Ocorrências no espaço-tempo são as operações de produção e outras, Imagens são os modelos que fazemos para elas, e Textos carregam os conceitos com as ideias que temos durante a modelagem, e vamos então queremos mostrar esse funcionamento das operações utilizando imagens que permitam reconstituir o sentido e a intenção dos conceitos usados na modelagem da maneira como vemos as operações em cada caso.
Veja as duas tabelas ao lado: o modo de ver o que sejam as operações, de produção, – as de produção, de ensino, ou de pensamento, entre outras, difere substancialmente dependendo do entendimento (episteme) adotado o que faz muita diferença, como poderemos ver.
Veja no item 1.1 Posicionamento as figuras
construídas sobre dois capítulos do livro Filosofia da caixa preta, de Vilém Flusser, que servem de base para essa explicação do funcionamento de operações usando Imaginação e Conceitualização.
Dez (10) pontos selecionados no texto do livro para contextualização entre o Prefácio e o restante do texto do “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”.
Vamos aplicar a esses pontos selecionados a recomendação de Vilém Flusser e estabelecer a relação
Ocorrências no espaço-tempo ⇔ Imagens ⇔ Textos
identificando as imagens que relacionam os conceitos com nossos modelos e com isso, pelo uso da nossa Imaginação e da nossa Conceituação, a dificuldade de melhor compreensão desses conceitos diminui.
Continuamos a usar aqui o pensamento de Vilém Flusser em Imagens tradicionais, um capítulo do livro Filosofia da caixa preta.
Veja a animação a que a figura ao lado dá acesso. É feita sobre um capitulo do livro de Flusser. Veja se ela faz sentido para você.
Em todos os 10 (dez) pontos escolhidos para contextualizar o Prefácio com o texto do livro ‘As palavras e as coisas’, usamos essa percepção de Flusser para como que erguer os conceitos do grau de abstração em que estão, e construí-los usando uma figura com as ideias, ou elementos de imagem que estão neles.
Para entender como e por que essa percepção de flusser ajuda na compreensão, veja ‘Classes de abstrações usadas pelo Pensamento‘
Uma história do nascimento do livro “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”, tal como contada pelo próprio Michel Foucault no Prefácio do livro; procuramos relacionar essa história do Prefácio – o mais que nos foi possível – com o próprio escopo do livro, seu objeto, e a razão de ser dessa obra: com a explicitação do caminho percorrido e dos achados do autor sobre os modos como configuramos nosso pensamento em nossa cultura, ao efetuar sua arqueologia das ciências humanas.
Partindo de modelos que expressam o funcionamento de operações:
associamos ideias expressas por Foucault nessa história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ a elementos de imagem que fazem parte desses modelos de operações em distintos entendimentos (epistemes), tendo como suporte os dez pontos selecionados no texto do livro para os quais fechamos o circuito
usando nossas funções reversíveis Imaginação e Conceituação. Isso torna mais possível entender por exemplo o que sejam:
entre outras coisas.
Entre os modelos que apresentamos para operações, que podem ser as do próprio pensamento, da produção, de ensino, entre muitas outras, muito possivelmente estará aquela configuração de pensamento com a qual você pensa.
Usualmente pensamos com a configuração de pensamento que adquirimos meio que sem perceber o que está acontecendo, a partir do ambiente em que surgimos e iniciamos a viver.
Mas configurações do pensamento não são coisas que aparecem realmente novas, distintas, todos os anos. Michel Foucault, no ‘As palavras e as coisas’ nos dá conta de apenas duas de raiz, e mais uma que aparece a partir de uma delas. E isso no espaço de séculos.
O que se segue pode ser entendido como
Descubra do que se trata e a força que essas distinções têm.
O mago Merlin, aquele que na lenda satisfazia a todos os desejos de Arthur em um átimo, sem consumir absolutamente nada, – nenhum recurso, nem mesmo energia – e de maneira reversível, possuía o instrumento dos instrumentos: a varinha de condão.
Esse instrumento dos instrumentos – pena que mágico – quebra várias leis da física e isso justifica a impossibilidade de utilizá-lo em operações reais. A varinha mágica sugere uma organização do mundo – e um rebaixamento de entropia – sem qualquer custo e dispêndio de energia, por exemplo.
A visão SSS das organizações modela o objeto esperado (produto) que interessa ao grupo Clientes, e o instrumento (fábrica) capaz de obtê-lo no ambiente de realidade.
Fica destacado nesse arranjo de como ver uma organização, o Nexo da produção de onde surgirá o objeto que interessa aos acionistas: o lucro, ou benefícios de qualquer outra natureza.
Essa estrutura SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica nada mais é do que a aplicação com critério da modelagem organizada pelo par sujeito-objeto. Como não é muito comum a organização de modelos de operações organizados pelo objeto, essa estrutura pode parecer algo estranha.
Mas veja no livro Reengenharia o que Hammer diz sobre esse retângulo:
“O processo de ‘Desenvolvimento da capacidade de fabricação’ toma uma estratégia como entrada e produz uma Fábrica como saída.”
Reengenharia: revolucionando a empresa em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência; cap. 7 – A caça às oportunidades de reengenharia, pg. 98.
Ora como o retante do mapa todo, a partir do título refere-se a produção de semicondutores, e esse último retângulo produz uma fábrica a partir de certas estratégias, então temos dois objetos nesse mesmo mapa. E muito diferentes. Podemos ter mais de um objeto em um mesmo mapa de operações, mas cada qual terá o seu modelo de operações, organizado pelos respectivos pares sujeito-objeto.
Como Hammer ainda fala em processos, e pensa em entradas que produzem saídas, ele não deve ter achado conveniente simetrizar esse mapa. A estrutura SSS é exatamente essa simetrização.
Esse instrumento mágico era indiferente quanto ao objeto de desejo do rei. Concretizava instantaneamente qualquer coisa. Pena que era um instrumento mágico.
Para a varinha mágica o objeto de desejo de Arthur era indiferente.
Ninguém hoje imagina que um objeto esperado como resultado de uma operação de produção, por exemplo, possa concretizar-se no sentido de tornar-se disponível em ambiente de realidade, sem um instrumento capaz de fazer isso. E esse instrumento é específico com relação ao objeto esperado das operações, e pode receber o nome de Unidade de produção, Fábrica, e quando ainda em desenvolvimento, Laboratório ou Área de projeto piloto.
Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica: a organização na realidade do ambiente em que suas operações ocorrem, composta simultaneamente por:
Por detrás dessa visão SSS da organização está:
evitando o pensamento mágico – sem instrumento -, das operações, de produção e outras, e também a confusão de objetos diferentes, rebaixando a qualidade da informação no modelo de operações.
Se modelamos operações sem especificar explicitamente o instrumento, e esse objeto, o instrumento, é imprescindível, acaba acontecendo que o modelo de operações para o objeto esperado fica contaminado pela realidade de que o instrumento precisa ser providenciado.
Vilém Flusser e Michel Foucault apontam formas de reflexão que se instauram (em adição, ou em substituição a outras existentes anteriormente.
e observe quais são as ideias, ou elementos de imagem requeridos para formular modelos sob essa forma de reflexão.
Literalmente há uma unanimidade, atualmente, quanto ao uso (e abuso) do conceito de ‘Processo’; igualmente, o mesmo ocorre com o modo de ver operações: estas são vistas praticamente sempre, como uma transformação de Entradas em Saídas, ou como um processamento de informações.
Mostramos aqui que adotando as formas de reflexão apontadas por Flusser e Foucault, operações adquirem uma aparência totalmente diferente dessa. Veja e compare:
Nota: as animações a que os links acima dão acesso foram feitas sem áudio de narração.
No Prefácio do livro ‘As palavras e as coisas’, Michel Foucault refere-se a dois tipos de sintaxe envolvidos no funcionamento de operações. Podem ser operações de produção, de pensamento, de ensino, do que quer que seja. Veja quais são esses tipos de sintaxe:
A figura que serve de fundo para essas animações que os links acima acessam é a Figura 2 – Diagrama ontológico que está no capítulo ‘Reflexões epistemológicas’ do livro ‘Cognição e Vida cotidiana’; ou ainda é também a Figura 2 agora com o título ‘O explicar e a experiência’, no capítulo ‘Linguagem emoções e ética nos afazeres políticos’ do livro ‘Emoções e linguagem na educação e na politica’, ambos os livros de Humberto Maturana.
Menciono essa figura e sua origem neste ponto, porque a visão comparativa entre os lados esquerdo e direito, respectivamente o pensamento clássico e o moderno, permitem identificar o que o LD tem a mais em relação ao LE, para a instauração da linguagem via a formulação das operações.
Há dois conceitos, ou pode ser que um conceito e dois tratamentos para o que seja um verbo.
“A única coisa que o verbo afirma é a coexistência de duas representações; por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte; é por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.”
“É preciso, portanto, tratar esse verbo como um ser misto, ao mesmo tempo palavra entre as palavras, preso às mesmas regras, obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado mas aquela donde se fala. Ele está na orla do discurso, na juntura entre aquilo que é dito e aquilo que se diz, exatamente lá onde os signos estão em via de se tomar linguagem.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III – A teoria do verbo
Podemos ver claramente, com a ajuda de imagens, figuras, que tornem possível entender conceitos geométricos como esse ‘em recuo em relação a elas todas’ especificando regiões espaciais que podem e devem ser identificadas, o que sugere um desnivelamento de algumas coisas em relação a outras, como e por que um conceito está para o pensamento clássico e seu sistema input-output e o outro para o pensamento moderno, com operações formuladas em coerência com o Princípio dual de trabalho de David Ricardo.
Conceito chave para entender o tempo em função do lugar onde a operação ocorre é o que Foucault chama de ‘modo de ser fundamental das empiricidades’.
Quanto ao lugar onde ocorrem, uma operação pode ocorrer no ‘Lugar de nascimento do que é empírico‘ e no ‘Circuito das trocas‘.
Dentro do acima, é necessário estudar o tempo nas seguintes situações:
um tempo relativo, tempo calendário, dado por uma operação reversível durante sua formulação, e irreversível na etapa de instanciamento que ocorre no interior do Circuito das trocas. Propriedade emergente Fluxo.
um tempo absoluto, e portanto não-calendário, dado por uma operação irreversível já na sua formulação em virtude da alteração (irreversível) do ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação. Ocorre no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, lugar onde, com o sucesso das operações, o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação é alterado nesse domínio e nesse ambiente em que a operação ocorre. Propriedade emergente Permanência.
o tempo volta a ser relativo, tempo novamente calendário, dado por uma operação reversível durante sua formulação, e irreversível na etapa de instanciamento propriamente dita que ocorre no interior do Circuito das trocas. Propriedade emergente volta a ser Fluxo.
Bem, no que se refere ao que seja ‘Classificar’ Foucault é muito claro.
E pensando em modelar operações, construir modelos para elas seguindo o modo como as vemos, ‘Classificar’ é um conceito muito importante.
Veja o que diz Michel Foucault:
“Classificar, portanto,
não será mais referir o visível a si mesmo, encarregando um de seus elementos de representar os outros;
será, num movimento que faz revolver a análise, reportar o visível ao invisível, como à sua razão profunda, depois alçar de novo dessa secreta arquitetura em direção aos seus sinais manifestos, que são dados à superfície dos corpos.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres
Comentários abaixo fazem referência:
estabelecidas por Michel Foucault:
“O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis:
comentário: esse papel do homem corresponde ao seu engajamento em uma atividade de produção e ‘trabalho como atividade de produção é a fonte de todo valor ‘;
nessa posição o trabalho que o homem oferece e o empresário compra é representável em unidades de trabalho por ser do tipo analisável em jornadas de subsistência, e que por isso pode ser expresso em unidades comuns de valor entre todas as mercadorias.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas; tópico I. O triedro dos saberes
Esta animação mostra as ideias, ou elementos de imagem, necessários para a formulação de operações em modelos que levem em conta essa duplicidade de papéis. Sem essa paleta de elementos de imagem, a formulação de modelos de operações em que o homem está presente é pouco mais que retórica.
Modelos de operações – em cada caso concreto de cada dado modelo – ocupam um segmento de um espectro de modelos organizado pela posição do par sujeito-objeto no projeto do dado modelo:
A análise/projeto de modelos em qualquer um desses segmentos exige do analista/projetista que consiga descobrir em que segmento está trabalhando. E para isso, é necessário ter em mente os entendimentos possíveis, ou as características das epistemes.
Modelos em economia política, em sociologia, em psicologia, em política, de maneira geral, modelos no domínio das ciências humanas, têm modelo constituinte bastante complexo porque é uma combinação, ponderada, dos pares de modelos constituintes das ciências que compõem a região epistemológica fundamental.
Então, claramente, modelos no domínio das ciências humanas são função dos modelos das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, cada um destes com modelo constituinte formado por um par constituinte apenas, diferente para cada uma dessas ciências.
Parece sensato, em vista disso, compreender a fundo como funcionam os pares constituintes das ciências da Vida (Biologia), do Trabalho (Economia) e da Linguagem (Filologia) levando esse conhecimento prévio para a análise de ciências com modelos muito mais exigentes do pensamento.
A Previdência social trata da subsistência após período útil para o trabalho, daquelas pessoas, daqueles homens quem se envolveram em operações de produção oferecendo sua força, seu esforço, seu tempo, que venderam a quem se dispôs a comprar.
E quem comprou essa força, o esforço, o tempo de quem tinha para vender foram os controladores das operações de produção.
Os empresários, os controladores das operações de produção, estão fora da reforma da Previdência.
Referências sobre fundamentos filosóficos do Liberalismo
Acompanhando a análise feita por Foucault do que ele chama de ‘vento fundador da nossa modernidade no pensamento’, a descontinuidade epistemológica de 1775-1825, vê-se sem dificuldade que ‘o pensamento que nos é contemporâneo, e com o qual queiramos ou não, pensamos’ tem, sim a capacidade de fundar as sínteses [da representação] no domínio da Representação.
Assim sendo (e entendido) há algo de errado na fundamentação filosófica do Liberalismo tal como é apresentado na maioria das vezes.
Causa um certo desconforto a indicação de referências que listam conjuntamente Adam Smith e David Ricardo. Tal aproximação não convém, já que os entendimentos de um e de outro são substancialmente distintos.
Os modelos de operações e de organizações comumente usados em demonstrativos econômico-financeiros são:
Esses modelos são consistentes com a maneira de entendimento do pensamento filosófico de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, o pensamento clássico, portanto.
Não há sinal neles do homem em sua duplicidade de papéis, e do objeto especialmente durante a operação de construção de representação nova.
Análises econômico-financeiras tratam de trocas. Não descrevem alterações no modo de ser fundamental do objeto das operações e escopo das organizações, especificamente no modo como esses objetos podem ser afirmados, postos, dispostos e repartidos no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
Não há sinal nessa configuração de pensamento para o Lugar de nascimento do que é empírico.
Seu lugar de transcorrência é o Circuito das trocas.
Estes são os pensadores inspiradores deste trabalho e estes são dois dos seus textos maravilhosos:
As três figuras abaixo servem para demonstrar que o Filosofia da caixa preta de Flusser tem muitíssimo a ver com as caixas pretas distribuídas generosamente em meio às abstrações que usamos atualmente no dia a dia, nossos modelos de operações, nossos modelos de sistemas, o modo como interpretamos tais modelos, e os decodificamos para compreender as imagens que geram, se é que chegamos a isso.
E o ‘As palavras e as coisas’ de Foucault descreve em riqueza de detalhes os entendimentos a partir da filosofia, para esses mesmos modelos referidos a pontos de mudança no nosso entendimento (episteme) na história recente do pensamento em nossa cultura.
Se você quiser testar se o que virá vale ou não a pena de ser visto, veja a seguir uma História do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas’, com imagens essencialmente, aplicando a sugestão de Vilém Flusser que está expressa no esquema à direita, e nas três figuras abaixo.
Este trabalho encontra razão de ser na percepção de que esses ciclos entre abstrações de diferentes dimensões e graus de abstração, criados por funções humanas – que todos temos ou deveríamos ter – são (devem ser) reversíveis tais como descritos por Flusser nas animações abaixo, muito mais frequentemente do que supomos, não se fecham, quando examinamos mais de perto modelos largamente utilizados em nosso ambiente.
Imagens que não mais nos servem de orientação para o mundo, e mesmo assim continuarem em uso configuram idolatria. E Textos que decodificados não mais nos levam a imagens que nos servem de orientaçção para o mundo, se ainda assim continuarem em uso, configuram textolatria.
Especificamente no caso das imagens tradicionais, nossas funções como humanos Imaginação e Conceituação muito frequentemente não funcionam do modo reversível como seria de se esperar.
No caso das imagens técnicas a questão é mais exigente do pensamento analítico. Veja a animação na figura da direita acima.
Um dos tópicos em nossa página de entrada tem o título
do livro “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”, de Michel Foucault.
Passando seu mouse sobre as figuras você vera a capa de cada uma das animações que compõem esse tópico, com o respectivo assunto.
Dá para ver imediatamente conceitos geométricos porque fortemente dependentes de uma visão da disposição espacial das ideias, ou dos elementos de imagem requeridos. A bem dizer, isso acontece em todos os 10 pontos, mas alguns exemplos:
Vamos explorar o que Foucault está pensando em operações do pensamento sob diferentes configurações nesse seu Prefácio; tendo em mente todo o conteúdo do livro. No tópico:
contamos essa história com a intenção de recompor onde necessário, e mostrar a falta onde está ausente, dessas estruturas que reúnem as paletas de ideias ou elementos de imagem.
Veja primeiro, nesse tópico da história do nascimento do livro,
Essa linha de tempo mostra alguns descompassos, intervalos de tempo às vezes muito grandes, entre conquistas do campo pensamento e aplicações desse conhecimento no domínio das técnicas.
Mostra também trabalhos apresentados como inovadores, mudanças radicais no entendimento, quando em vez, a partir de um alinhamento filosófico prévio, seriam considerados aplicações de entendimentos obtidos em conquistas anteriores. Temos dois exemplos que poderiam demonstrar isso, a nosso ver:
que podem ser comparadas com a visão de operações consistentes com o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo mostrando maneiras idênticas de entender o mundo e as coisas.
No início do século XX entre outras conquistas surgiu o management. Há quem diga que o management foi uma das maiores invenções do século passado. E surgiu apresentando como fundamentação filosófica Adam Smith, e adotando modelos de operações e de organizações consistentes com Adam Smith. Mas desde 1817 com a publicação do Principles of political economy and taxation de David Ricardo já havia na filosofia como visualizar operações e organizações de um modo muito mais conectado com o fenômeno operações em organizações. A defasagem nesse ponto é de aproximadamente um século.
Mas foi necessário um intervalo de mais 25 a 30 anos para que surgisse um sistema de produção cujo entendimento de operações e organizações osse consistente com o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.
No final do século XX o mundo do management foi abalado por uma revolução denominada ‘Reengenharia’.
Isso ocorreu na década de 90 e não durou muito, reduzindo-se a um modismo hoje esquecido, a julgar pelos modelos hooje em dia recomendados.
Pois visto de perto, o modelo da reengenharia é consistente com o modelo de operações do Kanban, e os dois são consistentes com o entendimento filosófico da configuração de pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.
Se assim for, a Reengenharia não deveria ter sido esquecida. Veja por você mesmo, no que se segue, se as coisas são assim mesmo ou são de outro modo.
Veja o exemplo ao lado encontrado no livro The Unified Software Development Process, de Ivar Jacobson e outros, na Fig. 1.1 – o processo de construção de um software em poucas palavras.
A intenção do autor parece ser a de representar de um e de outro lado das operações de construção do software o próprio Sistema de software em dois estados sucessivos. Essa intenção exige um sistema absoluto no qual haja mudança no modo de ser fundamental especificamente da empiricidade objeto ‘Sistema de Software’.
Mas a figura escolhida para representar essa ideia é a de
construída sobre um sistema Input-Output, um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.
O exemplo é ilustrativo da falta que faz um alinhamento filosófico para o projeto de modelos em qualquer área. Esse modo de ver operações acaba condicionando a forma como os usuários usam todo o conhecimento contido no livro.
Para compreender a verdade existente na afirmação que acabo de fazer é necessário ter um critério de comparação de modelos para poder descobrir com que entendimento foram feitos.
Logo na página de entrada você encontra as paletas de ideias, ou elementos de imagem para a configuração do pensamento clássico, o de antes de 1775, e o moderno, segundo Foucault, a configuração de pensamento que se consolidou depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.
Verá que os modelos de operações como a proposta no The Unified Software Development Process tratam com propriedades sim-originais e sim-constitutivas do sistema de software, e que para que esse tratamento possa ter lugar é necessária a noção de objeto.
Veja a Fig. 7.1 – Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, original do livro Reengenharia de Michael Hammer (a figura abaixo).
É visível que todo o mapa, desde o título, é organizado em torno do objeto. A modelagem organizada pelo objeto (e pelo sujeito, em realidade pelo par sujeito-objeto) é bastante distinta da modelagem até então utilizada, na qual o objeto no sentido no qual ele é usado nesse mapa de Hammer, era simplesmente inexistente.
Examinando mais de perto esse mapa vê-se que todos os módulos referem-se ao objeto que é esperado das operações modeladas – refiro-me ao objeto semicondutores – exceto um.
Esse bloco relacionado a objeto distinto de semicondutores é o ‘Desenvolvimento de capacidade de fabricação.
Sobre esse bloco,Hammer diz que nele um conjunto de estratégias são transformado em uma Fábrica.
Do mesmo modo como as operações das quais resulta o objeto semicondutores exige o conjunto de blocos mostrado no mapa, o objeto Fábrica igualmente exige um conjunto semelhante.
E esse conjunto de blocos que modelam operações que resultam em objetos esperados tem muito pouco de específicos em relação a semicondutores, mas ante, é apropriado para objetos esperados, quaisquer que sejam.
o detalhamento do bloco ‘Desenvolvimento de capacidade de fabricação simetriza o mapa da reengenharia e evidencia o Nexo da produção.
Além disso, acrescentamos nesse mapa todas as ideias ou elementos de imagem que tornam possível a formulação das proposições implícitas em cada um dos blocos.
Clique na figura ao lado e verá a organização SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica na qual:
abrindo espaço e lugar para o objeto de interesse do grupo Acionistas, Lucro ou benefícios de qualquer natureza.
Para tratar esse tipo de questões é necessário que baixemos os nossos pressupostos.
Este é um alerta e um convite para que nos coloquemos em uma posição receptiva a possíveis ideias novas que poderão se apresentar a seguir neste trabalho
Essa figura ao lado dá acesso a uma versão nossa da história de nascimento do ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ tal como contada por Foucault no Prefácio do livro.
Nessa animação propomos uma relação entre um excerto do texto do Prefácio, com as visões aplicáveis em cada ponto da narrativa, e assim destacamos as estruturas que reúnem as ideias (ou os elementos de imagem) necessários em cada composição da imagem respectiva.
No texto destacado do Prefácio, Foucault discorre sobre Utopias e Heterotopias, entendendo estas últimas, as heterotopias, do modo mais próximo de sua etimologia como o lugar onde
Neste trabalho associamos o conceito de heterotopia – especialmente levando em conta esse significado acima transcrito, dessa palavra, ao Sistema de categorias ou o Quadro, do pensamento clássico e ao uso simultâneo de diferentes ordens desse tipo, que ocorre em modelos de operações e de organizações que usamos atualmente.
O modo como contamos aqui a história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’, cujo texto está no Prefácio do livro, depende da contextualização entre o Prefácio e o restante do livro, usando para essa contextualização fragmentos de textos do próprio livro.
Por favor veja antes o tópico 10 pontos de contextualização, o primeiro no slider maior na nossa página de entrada.
Nossa intenção é mostrar que essa conceituação de heterotopia coincide bastante bem com o sistema de categorias, ou o Quadro no pensamento clássico e com o conjunto desses sistemas usados simultaneamente em modelos que usamos hoje. Enfatizamos os problemas criados por esse entendimento do pensamento, como a possibilidade de uso simultâneo de múltiplas ordens com as consequências referidas pelo pequeno trecho Prefácio que destacamos.
E procuramos esclarecer o papel das Utopias na articulação do pensamento com o impensado em um modelo de operações para o pensamento moderno, no caminho da Construção de representações.
E mostramos como abrigar as entidades mencionadas por Foucault no Prefácio como as Utopias, os dois tipos de sintaxe envolvidos, os dois conceitos para ‘Classificar’ e para o que seja um ‘Verbo’, etc. sempre em uma estrutura consistente com o princípio dual de trabalho de David Ricardo, e também, olhando para o lado da prática, com o modelo descritivo de operações do Kanban e da Reengenharia.
Temos a clara impressão de que ao escrever o Prefácio do “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas” Michel Foucault tinha em mente todo o estudo em estilo de arqueologiadas ciências humanas que desenvolveu. Por isso provavelmente o texto do Prefácio foi escrito depois de o livro estar pronto.
Esse texto permite uma imagem composta com as ideias, ou elementos de imagem que o compõem.
Esta animação faz a proposta dessa imagem, ou de uma imagem que seja ema recodificação desse texto.
A figura abaixo dá acesso a uma paleta de ideias ou elementos de imagem para o modelo de operação no caminho da Construção da representação sob o pensamento filosófico moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.
Na nossa página de entrada encontram-se também as paletas do pensamento clássico, e para o moderno, no caminho do Instanciamento da representação.
Clicando na figura abre-se um popup.
Passando o mouse por sobre os elementos de imagem são apresentados os significados de cada um, o papel de cada um na imagem de conjunto.
Uma lista de 10 pontos, de autoria de Michel Foucault, encontrados no livro
para ajudar na contextualização do que ele diz no Prefácio com o restante do livro, e entender melhor o próprio escopo do trabalho do autor, nesse livro.
Para cada um desses pontos incluímos uma animação que estabelece a ligação do conceito embutido no texto com a imagem respectiva em função do entendimento utilizado, apresentando a paleta de ideias – ou elementos de imagem, e seus relacionamentos.
Exemplos antológicos, muito usados atualmente, construídos com modos de entendimento de operações diferentes:
⇒ Modelo descritivo de operações de produção devido a Elwood S. Buffa, organizado por uma (ou mais de uma como alerta Foucault) ordem arbitráriamente escolhida(s)
⇒ Modelo de operações no sistema contábil-financeiro. (Débito/Crédito)
ambos organizados a partir de ordem(ns) arbitrariamente selecionadas tendo portanto como referencial a ordem pela ordem, princípios organizadores Caráter e Similitude
⇒ Modelo para uma organização típica, adaptado de Mário Zilbovicius conforme referência,
⇒ Modelo para uma organização no sistema contábil Financeiro: (Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido ou Resultado)
nos quais podemos ver claramente múltiplas ordens “ligeiramente diferentes” como sobre isso diz Foucault.
⇒ Modelo descritivo de operações de produção do Kanban (formulação das operações neste modelo como uma proposição com sujeito das operações e predicado do sujeito, este composto por uma Forma de produção claramente indicada na figura, e com o atributo do sujeito, a empiricidade objeto da operação.
⇒ Modelo de operações da Reengenharia, com o Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, encontrado no livro Reengenharia.
⇒ Modelo descritivo de operações de produção do Kanban: também organizado no formato de uma proposição, coisa que não é tão evidente à primeira vista, mas que pode ser vista em animação específica neste trabalho.
⇒ Modelo de operações da Reengenharia, com o Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, encontrado no livro Reengenharia.
Nesse fragmento de texto do início do Cap. VII – Os limites da representação; tópico I – As novas empiricidades, Foucault descreve quais tinham sido as duas maiores dificuldades em seu trabalho nesse livro. Diz ele que acaba de identificar, já entrando no final do seu trabalho, dois óbices:
uma dominação do pensamento com o qual queiramos ou não pensamos, do nosso pensamento portanto, pela incapacidade de fundar as sínteses no espaço da representação, esta uma característica do pensamento que nos é contemporâneo em nossa cultura, por uma característica típica do pensamento clássico;
a obrigação correlata de abrir o campo transcendental da subjetividade e de construir, para além do objeto, os quase-transcendentais da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
Quanto à dificuldade apontada, fundar as sínteses (entenda-se as sínteses da empiricidade objeto obtida pelo princípio organizador Análise) coloca o objeto em posição central; e se atentarmos para a forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, junto com o objeto vem o sujeito,
Durante todo o trabalho até aqui Foucault já havia lidado com modelos situados quanto a sua estrutura, AQUÉM do objeto, – incapazes de lidar com esse conceito a partir de propriedades sim-originais e sim-constitutivas; e também com modelos situados quanto a sua estrutura DIANTE do objeto, porque capazes de lidar com o objeto pelas suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.
E está agora indo adiante e percebendo um novo segmento nesse espectro de modelos: o dos modelos para ALÉM do objeto, cujo modelo constituinte é uma composição ponderada dos três modelos constituintes das ciências que habitam o eixo epistemológico fundamental mostrado no Triedro dos saberes, a saber, as ciências
Note que os modelos nessas três áreas pertencem ao segmento de modelos DIANTE do objeto; como o modelo constituinte das ciências humanas é uma combinação ponderada desses pares constituintes, vê-se que é necessário compreender como são as operações organizadas pelos pares sujeito-objeto.
Veja isso nas animações neste trabalho
Funcionamento da operação sob o entendimento do pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.
Este tipo de operações consegue tratar somente propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, e isso é o mesmo que dizer que as coisas são tratadas por “aparências”, qualidades, adjetivos, ou por propriedades não-originais e não-constitutivas, ou por .
O homem – como único ser capaz de desempenhar dois papéis:
não havia surgido ainda no pensamento.
A forma de reflexão em que está em questão o ser do homem nessa dimensão o pensamento segundo a qual o pensamento se dirige ao impensado e com ele se articula ainda não havia surgido. Veja o ponto 11 deste tópico ‘Funcionamento’.
A animação que mostra a Forma de reflexão que se instaura, segundo Michel Foucault depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, com as seguintes palavras:
“Instaura-se uma forma de reflexão, bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana, em que está em questão, pela primeira vez, o ser do homem, nessa dimensão segundo a qual o pensamento se dirige ao impensado, e com ele se articula.”
refletida em um modelo de operação de Construção de representação para empiricidade objeto (uma coisa); veja As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap IX – o homem e seus duplos; tópico V – O “cogito” e o impensado, de Michel Foucault
Aplicando a ideia da Forma de reflexão que se instaura em nosso pensamento a essa figura, vê-se que o circuito reversível ensinado por Vilém Flusser
se fecha. O que, diga-se de passagem, não acontece quando a imagem corresponde à maioria dos modelos de operações que utilizamos.
A paleta de ideias ou elementos de imagem que compõem essa figura:
Nesta operação o modo de ser fundamental da empiricidade objeto muda – propriedades sim-originais e sim-constitutivas inexistentes antes da operação tornam-se disponíveis depois dela. Com isso o modo com essa empiricidade objeto pode ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis é alterado.
Tomando esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, ao final com sucesso dessa operação, – no interior do Lugar de nascimento do que é empírico e percorrendo o Caminho da Construção da representação – faz-se história.
No LD da figura, pensamento moderno de depois de 1825, caminho do Instanciamento da representação.
Esse caminho só é percorrido quando para o operar atribuído à empiricidade objeto de uma operação, já exista, no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, uma representação que ‘sirva’ a esse operar, ou em outras palavras uma representação cuja Forma de produção seja capaz de obter quando desencadeada no ambiente, operar semelhante a esse atribuído a essa empiricidade objeto.
Ao contrário do caminho da Construção da representação, no qual o modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação muda, no caminho do Instanciamento da representação não há mudança no modo de ser fundamental da empiricidade objeto em instanciamento, que termina a operação no mesmo modo de ser fundamental no qual foi recuperada do repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.
Entenda como modo de ser fundamental da empiricidade com as palavras que Foucault usa para isso:
O elemento central das operações no LE da figura, sob o pensamento clássico, é Processo.
Processo, como conjunto de ações, atividades, tasks, é da categoria dos verbos.
“A única coisa que o verbo afirma é a coexistência entre duas representações: por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou a morte. É por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.”
(…) “Assim é que o verbo ser teria essencialmente por função reportar toda linguagem à representação que ele designa. O ser em direção ao qual ele transborda os signos não é nem mais nem menos que o ser do pensamento. Comparando a linguagem a um quadro, um gramático do fim do século XVIII define os nomes como formas, os adjetivos como cores e o verbo como a própria tela onde elas aparecem.“
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo. de Michel Foucault.
A operação no LE da figura funciona sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si – o sistema Input-Output, ou Entradas-Saídas.
Toda a operação funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas (esse sistema não indica ‘aquele em que as coisas existiram no absoluto’ por absoluta falta de possibilidade de tratar as condições para que as coisas existam no absoluto.
Com propriedades não-originais e não-constitutivas, e deixando fora do escopo da operação a consideração dessas ‘coisas’ que passam a existir no absoluto, tudo é pre-existente, todas as representações são pré-existentes à operação.
Como pré-existentes, suas propriedades não originais e não-constitutivas estão disponíveis antes da operação, tanto para o início desta, quanto para o seu final.
Logo, ao tempo da deflagração do evento de processo (i), com a disponibilidade das propriedades antes e depois da operação, é possível calcular a inserção no calendário do outro evento, o (f).
E inversamente, para uma inserção calendário arbitrária do evento (f), com a disponibilidade de todas as propriedades não-originais e não-constitutivas, é possível calcular a inserção calendário do evento (i).
Então, existe um fator K que permite calcular a correspondente inserção calendário de um evento (i), ou (f), a partir da inserção calendário arbitrária do outro evento.
A figura ao lado dá acesso a uma animação cuja principal característica, em termos de tempo na operação representada, é que ao contrário da operação no LE da figura sob o pensamento clássico, aqui não existe um fator K que permita, a partir de propriedades da representação objeto da operação, e com a inserção calendário de um dos eventos (i) ou (f), calcular a inserção do outro evento.
Isso acontece porque a operação de construção da representação transcorre em um tempo em que a representação objeto passa a existir no absoluto, já que seu modo de ser fundamental nesse ambiente e com o repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, muda. Em outras palavras, e usando o modo como Foucault se refere a isso, modo de ser fundamental é o que permite que a representação possa ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
“O limiar da linguagem está onde surge o verbo.
É preciso, portanto, tratar esse verbo como um ser misto, ao mesmo tempo palavra entre as palavras, preso às mesmas regras, obedecendo como elas às leis de regência e de concordância;
e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado mas aquela donde se fala. Ele está na orla do discurso, na juntura entre aquilo que é dito e aquilo que se diz, exatamente lá onde os signos estão em via de se tomar linguagem.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo. de Michel Foucault.
Em termos dos tempos na operação de construção da representação:
A figura dá acesso a uma animação para a operação de Instanciamento de uma representação já existente no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.
Esse fato de que a operação de instanciamento instancia uma representação pré-existente no repositório é essencial porque durante o instanciamento não ocorre mudança no modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação. Ocorre uma mudança de estado, e não mudança no modo de ser fundamental dessa empiricidade objeto, isto é, ela continua a poder ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis exatamente do mesmo modo que estava no repositório.
Desse modo, tanto em (i) quanto em (f) pontos iniciais e finais da operação de instanciamento do objeto, existem todas as propriedades originais e constitutivas e também as não-originais e não-constitutivas, o que leva à possibilidade de que dada a inserção arbitrária de um evento, (i) ou (f), a inserção calendário do outro evento pode ser calculada por um fator K.
No caminho do Instanciamento da representação da empiricidade objeto não há alteração no modo de ser fundamental nesse ambiente e com esse Repositório.
Entenda modo de ser fundamental como aquilo a partir do que ela pode ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
Como diz Foucault abaixo, Processo é a própria janela onde as palavras aparecem. Diz ele:
“A única coisa que o verbo afirma é a coexistência de duas representações: por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte; é por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si. A coexistência, com efeito, não é um atributo da própria coisa, mas também não é nada mais que uma forma de representação: dizer que o verde e a árvore coexistem é dizer que estão ligados em todas ou na maioria das impressões que recebo.”
(…) “Assim é que o verbo ser teria essencialmente por função reportar toda linguagem à representação que ele designa. O ser em direção ao qual ele transborda os signos não é nem mais nem menos que o ser do pensamento. Comparando a linguagem a um quadro, um gramático do fim do século XVIII define os nomes como formas, os adjetivos como cores e o verbo como a própria tela onde elas aparecem. Tela invisível, inteiramente recoberta pelo brilho e o desenho das palavras, mas que fornece à linguagem o lugar onde fazer valer sua pintura; o que o verbo designa é finalmente o caráter representativo da linguagem, o fato de que ela tem seu lugar no pensamento e de que a única palavra capaz de transpor o limite dos signos e fundá-Ios na verdade não atinge jamais senão a própria representação.
De sorte que a função do verbo se acha identificada com o modo de existência da linguagem, que ela percorre em toda a sua extensão: falar é, ao mesmo tempo, representar por signos e conferir a signos uma forma sintética comandada pelo verbo”
Nos modelos de operações sob o entendimento do pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825 as frases, segundo os tipos de proposição possíveis, são:
Nesses tipos de proposições as ideias ou elementos de imagem envolvidos são:
Vale a pena notar que essa formulação estabelece uma sorte de ordem única, que atravessa todo o modelo de operações.
O resultado de uma operação no caminho da Construção da representação é invariavelmente um objeto análogo composto por elementos componentes, outros objetos análogos. Praticamente não existe operação de construção de representação para empiricidade objeto ainda sem suporte na experiência em determinado ambiente e com um repositório existente, que se resolva com um único objeto análogo, e como é sabido, o impensado, o não articulado, a visão nunca é representada ela própria.
A sintaxe que segundo Foucault autoriza a manter juntas ao lado e em frente umas das outras palavras e coisas é aquela que toma os resultados do princípio organizador Analogia, (os objetos análogos tomados como componentes da representação em construção) e estabelece entre eles, usando o princípio organizador Sucessão, um sequenciamento estrutural lógico.
O resultado da ação desses dois princípios organizadores Analogia e Sucessão, com os métodos Análise e Síntese, resultam sempre em uma estrutura hierárquica.
O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis:
está, ao mesmo tempo,
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas Cap. X – As ciências humanas; tópico I. O triedro dos saberes
Dada a extrema diferença existente entre esses dois papéis, necessariamente ocupam lugares distintos na estrutura do modelo de operações, e a consideração desses dois papéis para o homem implica nessa mudança de estrutura na configuração do pensamento das operações.
Como dito, estamos utilizando como base a Figura 2 – Diagrama ontológico ou ainda Figura 2 – O Explicar e a Experiência, de autoria de Maturana em dois de seus livros (vide animações no Ponto 1 adicional neste trabalho.
O pressuposto no LE da figura, (a existência precede a distinção). Todas as representações são pré-existentes, portanto todas as propriedades não-originais e não-constitutivas estão disponíveis e não está no escopo desse tipo de operações o tratamento de coisas ainda não existentes e portanto a preocupação com propriedades sim-originais e sim-constitutivas.
A operação ocorre em uma região do espaço orientada, chamada Volume de controle.
Operações formuladas no LE da figura ocorrem totalmente no interior do Circuito das trocas como sendo esse o lugar onde não ocorrem mudanças no modo de ser fundamental da coisas. A bem dizer, não há mesmo a possibilidade de tratar ‘empiricidades objeto’ por não caber isso no escopo desse tipo de operações.
São vistas como um processamento de informação, em uma única transformação.
A propriedade emergente é Fluxo
Uma visão global das operações, inicialmente no caminho da Construção da representação, no interior do Lugar de nascimento do que é empírico é a seguinte:
Há duas transformações de mesmo sinal:
Vendo de um ponto de vista mais alto, essas duas transformações podem ser reduzidas a uma Conversão, de pensamento não articulado em representação, estabelecendo uma relação entre os domínios do Pensamento e da Língua e o do discurso e da Representação.
A propriedade emergente da operação no caminho da Construção da representação é Permanência,
É permanência da representação construída no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua. Trata-se de uma permanência provisória, temporária, até que novas razões determinem a reforma ou reformulação dessa representação.
Como vimos, Permanência como propriedade emergente estabelece o contrário da propriedade emergente no LE da figura, que encontramos ser Fluxo.
Uma visão global das operações, desta feita no caminho do Instanciamento da representação, no interior do Circuito das trocas é a seguinte:
Há também aqui, duas transformações, mas desta feita, de sinais contrários:
Vendo de um ponto de vista mais alto, essas duas transformações podem ser reduzidas a uma Conversão, de Disponibilidade de recursos em Disponibilidade de objeto, estabelecendo tudo transcorrendo no interior do domínio do Discurso e da Representação.
A propriedade emergente da operação no caminho do Instanciamento da representação é novamente Fluxo.
Há dois fluxos:
Como vimos, Fluxo como propriedade emergente na operação de instanciamento no LD da figura é a mesma propriedade emergente no LE da figura, que encontramos ser Fluxo.
Há no ‘As palavras e as coisas’ dois conceitos para o que seja ‘Classificar’ que se ajustam perfeitamente bem um deles para o pensamento clássico, e o outro para o pensamento moderno, a um tempo para o caminho da Construção da representação, e a segunda parte, para o caminho do Instanciamento da representação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas, Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres, de Michel Foucault
Características do entendimento de operações no pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775 a 1825:
Características do entendimento de operações no pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775 a 1825:
“De sorte que se vêem surgir, como princípios organizadores desse espaço de empiricidades, a Analogia e a Sucessão: de uma organização a outra, o liame, com efeito, não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos, mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação, mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. VII – Os limites da representação; tópico: I – A idade da história
Segmento do espectro de modelos situados AQUÉM do objeto pela colocação fora do escopo dessa formulação clássica a ideia de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.
Restam propriedades que estão à superfície dos corpos, as não-originais e não-constitutivas somente, as “aparências” nome que a elas dá Maturana.
As duas figuras abaixo mostram objeções e propostas que Maturana fazia para melhorar corrigindo, o que considerava um erro na modelagem de fenômenos biológicos.
A animação que descreve as operações no LD da figura, no caminho da Construção da representação, destaca a intenção dessa formulação: a construção da nova representação para a empiricidade objeto.
Esse tipo de modelos que abrange a etapa da construção de representações são construídos, por óbvio, diante do objeto.
Modelos nesse segmento do espectro têm modelos constituintes conforme a área da região epistemológica fundamental:
Modelos nesse segmento para além do objeto habitam o interior do Triedro do saber delineado por Miche Foucault, onde estão as ciências humanas.
Modelos nesse segmento do espectro têm modelos constituintes que são uma combinação ponderada dos modelos das ciências da região epistemológica fundamental:
Note que no interior do Triedro dos saberes o modelo constituinte é uma composição dos três pares constituintes; a predominância de um deles sobre os outros acompanha o projetista de modelos em cada caso.
A percepção feita por Michel Foucault de uma forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica por ele situada entre 1775 e 1825.
Trata-se de uma forma de reflexão ‘bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana’ e que exatamente por isso configura uma descontinuidade epistemológica, ou seja, uma alteração profunda no entendimento neste caso, das operações, mas muito mais amplo que isso.
É uma forma de reflexão organizada pelo par sujeito-objeto.
Veja a animação para certificar-se disso
Proposição, é o bloco padrão fundamental genérico oferecido pela linguagem, para a construção de representações.
Diz Foucault sobre a proposição:
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Michel Foucault
Referencial, princípios organizadores e métodos no entendimento vigente no pelsamento de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825:
Referencial, princípios organizadores e métodos no entendimento vigente no pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825:
Veja esta conceituação de verbo feita por Foucault, indicando suas limitações, e apontando claramente para um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, quer dizer, apontando para o sistema Input-Output.
Esse trecho indica com muita clareza que esse tipo de verbo funciona no sistema Entradas ⇒ Saídas.
E indica que o tempo assinalado por esse tipo de verbo é um tempo calendário, um tempo relativo no qual dado um evento (i) ou (f), é possível calcular correspondentemente o evento (f) ou (i) fazendo isso com propriedades existentes da representação.
E além disso, aponta para um outro tipo de tempo, um tempo absoluto, um tempo que assinala coisas que passaram a existir. Veja sobre isso o próximo tópico.
As operações que tenham esse tipo de verbo como elemento central são sempre reversíveis na etapa de formulação; todas as irreversibilidades aparecem durante o instanciamento que transcorre no interior do Circuito das trocas.
O tempo com esse tipo de verbo é relativo, um tempo calendário. Existe um fator K tal que para uma dada inserção do evento (i), é possível calcular com propriedades da representação a inserção do evento (f) e vice-versa.
A propriedade emergente na operação que em esse tipo de verbo como elemento central é Fluxo; e toda a operação transcorre no interior do Circuito das trocas.
Veja nesta citação de Foucault o conceito de verbo completamente distinto do anterior, agora não mais concebido em um sistema relativo com tempo relativo (calendário) como no anterior, mas com um tempo absoluto ligado à mudanças no modo de ser fundamental das empiricidades, isto é, aquilo que permite que elas sejam afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para conhecimentos, e eventuais ciências possíveis.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Michel Foucault
Veja a animação a que a figura ao lado dá acesso.
Ela propõe um sentido para várias coisas nesse trecho de Foucault:
A sintaxe que autoriza a construção das frases no formato de proposições formuladas de acordo com as regras da linguagem em uso.
Na modelagem das operações temos três tipos de proposições
é aquela proposição que inicia a operação de busca pela possibilidade de representar um certo operar atribuído à empiricidade objeto da operação. É formulada quanto após uma consulta ao Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, a resposta a essa consulta é negativa – o Repositório não tem condições de dar sustentação na experiência a esse operar.
é toda proposição cuja Forma de produção já tem elementos de suporte na experiência ao operar atribuído à empiricidade objeto. Neste caso, a representação a esse nível, se nova for, é acrescentada ao Repositório.
é toda proposição que já existe no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua. Se o operar característico da Forma de produção dessa proposição for exigido em uma operação de obtenção de uma empiricidade objeto, será parte da etapa de Instanciamento da empiricidade objeto. Durante essa etapa, o modo de ser fundamental da empiricidade objeto não muda.
Esta é a sintaxe que orienta a organização do objeto análogo composto, uma composição organizada e logicamente ordenada de objetos análogos que funcionam como elementos componentes na representação em construção.
A decisão de desencadear operação como essa implica em enfrentar as impossibilidades de representação de um ‘operar’ qualquer dentre os atribuídos à empiricidade objeto. Essas impossibilidades são encaradas de frente.
A impossibilidade de representação de um qualquer desses atributos é submetida à análise e com auxílio das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites para cada um dos objetos análogos criados pela análise, são procurados e identificados,ou desenvolvidos os elementos de suporte na experiência respectivos.
O método Síntese relaciona logicamente os objetos análogos compondo com eles a Sucessão de analogias que constituio objeto análogo composto que resulta, via de regra, de toda operação de construção de representação.
O Princípio (monolítico) de trabalho de Adam Smith foi cunhado em 1776 sob a preocupação de medir a equivalência das mercadorias que passam pelo Circuito das trocas.
Toda a operação no pensamento clássico transcorre no interior do que Foucault chama de Circuito das trocas uma vez que a construção de representações novas para empiricidades objeto, ainda não representadas ou objeto de reformulação, está fora do escopo do pensamento clássico.
Para Adam Smith o trabalho é analisável em jornadas de subsistência e pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias necessárias à subsistência.
Mas Adam Smith deixa de considerar aquela atividade que está na origem do valor das coisas, a construção de novas empiricidades objeto com específicos ‘operar’. Isso só acontece em 1817, com David Ricardo e seu princípio dual de trabalho. (veja o ponto seguinte)
Usando Foucault para entender melhor isso, ele atribui ao homem a possibilidade de desempenhar dois papéis:
o princípio monolítico de Adam Smith, ainda que não considere o homem nessa noção com que dele fala Foucault, que a seu tempo não havia sido inventado, mas cobre apenas o primeiro desses dois papéis.
O Princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817, cunhado sob a dupla preocupação de:
As operações no pensamento moderno transcorrem:
Para Adam Smith o trabalho é analisável em jornadas de subsistência e pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias necessárias à subsistência.
Mas Adam Smith deixa de considerar aquela atividade que está na origem do valor das coisas, a construção de novas empiricidades objeto com específicos ‘operar’.
Isso só acontece com David Ricardo. Veja a figura ao lado.
Usando Foucault para entender melhor isso, ele atribui ao homem a possibilidade de desempenhar dois papéis:
o princípio monolítico de Adam Smith, ainda que não considere o homem nessa noção com que dele fala Foucault, mas cobre apenas aspecto associável ao primeiro desses dois papéis.
Considere os dois papéis atribuídos ao homem:
e agora as duas acepções para trabalho:
O princípio de trabalho de David Ricardo permite construir um modelo de operações de todos os tipos que dá conta:
Estas são as duas acepções para trabalho:
A diferença entre o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo e o de Adam Smith é que
Tratando-se de modelagem de operações, nada mais fundamental e decisivo no resultado, o modelo, do que a função classificar utilizada.
Veja as diferenças:
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres; ponto 3
Segmento do espectro de modelos construídos AQUÉM do objeto.
São modelos de operações que funcionam com propriedades não-originais e não-constitutivas do que se aproxima, atravessa uma região orientada do espaço onde ocorrem as operações ou permanece fora dessa região, mas sem a noção de objeto definido por propriedades originais constitutivas; ou ainda permanece dentro dessa região orientada, e finalmente sai dela voltando novamente para seu entorno
Na falta da noção de objeto, falta também a da empiricidade objeto de uma possível operação.
Operações monitoram o fluxo de pacotes de coisas caracterizados por ‘aparências’ ou uma propriedade não-original e não-constitutiva que regula a formação do pacote.
Nesse segmento a propriedade emergente das operações é Fluxo.
Nesse segmento modelos são construídos de modo a dar tratamento a propriedades sim-originais e sim-constitutivas, o que implica na organização do modelo pela noção de objeto e empiricidade objeto das operações, e do sujeito da operação.
A propriedade emergente é permanência (da representação nova construída) no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.
Toda a operação transcorre:
É o segmento de modelos que têm como modelo constituinte uma combinação dos modelos constituintes da região epistemológica fundamental:
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciêncis humanas; Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades,
de Michel Foucault
Estes modelos habitam o interior do Triedro dos saberes, onde estão as ciências humanas – vide animação a respeito; e exigem a constituição, para ALÉM do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem habitantes da região epistemológica fundamental.
Há vários aspectos relacionados à modelagem de operações em organizações:
Aqui a modelagem é orientada pelo par sujeito-objeto.
Para esse par corresponde um modelo de operação, especialmente com alteração do objeto. Podemos ter um grande modelo com modelos de operações para objetos diferentes, mas um mesmo modelo tem apenas um objeto.
A construção da estrutura SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica envolvendo objeto esperado das operações, o instrumento capaz de obtê-lo na realidade do ambiente em que as operações acontecem, e o Nexo da produção, que permite avaliar o resultado da simbiose e da sinergia delineando o Nexo da produção, com o objeto esperado pelo grupo de Acionistas.
Mapa geral das operações que consideram simultaneamente o objeto esperado pelo grupo Clientes e o objeto esperado pelo grupo Acionistas.
Essa estrutura abre espaços específicos e bem determinados para Clientes e Acionistas.
Toda essa estrutura é organizada sob uma única ordem, a da Proposição, considerada por Michel Foucault como o elemento padrão elementar básico e geral para a construção de representações.
Pensar na obtenção de qualquer coisa como resultado de operações incluindo o instrumento necessário para a concretização no ambiente desse resultado corresponde a retirar um viés mágico de operações de obtenção do que quer que seja, sem pensar o instrumento.
No pensamento de Flusser, Ciência e Tecnologia são funções do estado da arte na Reflexão, ou na Filosofia. Havendo mudança no entendimento com relação a algo devida à reflexão (alteração filosófica) que altere a episteme, ou as características de características do modo como o pensamento é configurado, alterando portanto a paleta de ideias ou de elementos de imagem necessárias para a configuração, muda a ciência e mudam as tecnologias relacionadas às ciências.
Sendo a Tecnologia texto científico aplicado, e a Ciência, texto filosófico aplicado, em face de uma descontinuidade epistemológica, uma alteração profunda no modo como nos dispomos a entender e tratar as coisas do mundo, ciência e tecnologia precisam acompanhar essas mudanças.
Vilém Flusser descreve no cartesianismo sujeito e objeto em situação de oposição um em relação ao outro.
Veja na animação seguinte, no que Vilém Flusser descreve como um ‘Salto para fora do cartesianismo’, a composição do par sujeito-objeto não mais em situação de oposição mas em concurso.
A animação ao lado apresenta o que Vilém Flusser chama de ‘um salto para fora do cartesianismo’.
Colocando as ideias ou elementos de imagem na figura construída com os conceitos de Flusser, vê-se que o que ele chama de ‘salto para fora do cartesianismo combina perfeitamente bem com a forma de reflexão cujo surgimento Michel Foucault anuncia no ‘As palavras e as coisas’, dizendo:
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico V – O “cogito” e o impensado, de Michel Foucault
Fazendo a correspondência entre o ‘impensado’ de Foucault e o ‘duvidoso’ de Flusser vê-se que a correspondência das ideias nas duas paletas é completa, e destas, com o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.
Veja em nossa página inicial a paleta de ideias ou elementos de imagem para o pensamento moderno para conferir cada uma dessas ideias postadas na figura e participando da estrutura de operações.
Visão global de operações sob o pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
Visão global de operações sob o pensamento moderno nos dois caminhos: o da Construção da representação, LD da figura, e o do Instanciamento da representação; e diferenças entre essas operações
a que autoriza a construção das frases;
Essa sintaxe funciona com as ideias ou elementos de imagem envolvidos na formulação da proposição ao longo das operações, sempre sob o pensamento moderno, LD da figura.
No pensamento de Foucault a proposição é o elemento fundamental genérico padrão fundamental para a construção de representações.
Diz Foucault:
“A proposição é para a linguagem o que a representação é para o pensamento: sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar, porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso, mas seus elementos como tantos materiais dispersos”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Há três momentos diferentes para as proposições:
(acesse a animação com a figura da esquerda, para ver as ideias e respectivos elementos de imagem controlados por essa sintaxe, todas no domínio do Pensamento e da Língua.)
a que autoriza a “manter juntos”, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
(acesse a animação com a figura da direita para ver as ideias e respectivs elementos de imagem controlados por essa sintaxe, todas no domínio do Discurso e da Representação.)
Nota: esta sintaxe tem como resultado a organização em sua estrutura, do objeto análogo composto no qual se constitui uma representação construída para uma empiricidade objeto nova. A estrutura desse objeto análogo composto, formado por objetos análogos componentes logicamente relacionados, é hierárquica.
Se o funcionamento desta segunda sintaxe fizer sentido para você, então, você concluirá necessariamente que estruturas hierárquicas são inerentes ao modo como operações no caminho da Construção de representações para empiricidades objeto novas funcionam.
♦ Os dois conceitos para o que seja um verbo, um para o pensamento de antes de 1775 e outro para o pensamento de depois de 1825
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações: por exemplo,
a do verde
e da árvore,
a do homem
e da existência ou da morte;
é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.”
As palavras e a coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Verbo com essa funcionalidade é o elemento central do sistema de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si, em outras palavras, do Sistema Input-Output, o mais usado atualmente.
“É preciso, portanto, tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras, preso às mesmas regras, obedecendo como elas às leis
de regência e de concordância;
e depois, em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tomar linguagem.”
As palavras e a coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Veja também o Principio dual de trabalho de David Ricardo, para comparação das estruturas: a sugerida pela citação acima, e a do princípio de trabalho de Ricardo.
É muito claro que o uso de um ou de outro desses dois conceitos para o que seja um verbo durante o projeto e construção de um modelo de operações de qualquer natureza terá como resultado modelos completamente diferentes.
Operação sob o pensamento clássico,o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
Veja a figura no LE (lado esquerdo): a existência precede a distinção.
Pressuposto: todas as coisas existem desde sempre e para sempre compondo o Universo, obra de Deus. A busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites está fora do escopo das operações neste segmento que tem o rótulo ‘AQUÉM’ do objeto porque a noção de objeto descrito por esse tipo de propriedades está fora do escopo destas operações.
Restam então propriedades não-originais e não-constitutivas,as “aparências”.
Pelo pressuposto adotado todas as representações existem desde sempre, e assim, existem antes, e depois de toda operação.
Dessa forma, dada a inserção calendário de um dos eventos (i) ou (f), com as propriedades existentes das representações selecionadas para a operação é possível calcular a inserção calendário do outro evento (f) ou (i).
Esse é um tempo calendário, um tempo dado por um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, cujo elemento central é Processo.
Operação sob o pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
Veja o LD (lado direito) da figura: a existência se constitui com a distinção, ou em outras palavras, a existência sucede a distinção.
A existência das coisas decorre de uma busca, empreendida pelo homem, raiz e fundamento de toda positividade, por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para um pensamento não articulado, para o impensado, etc. etc. tomado como empiricidade objeto da operação.
O pensamento somente percorre o caminho da Construção da representação – veja a animação a que a figura dá acesso – quando um certo ‘operar’ é atribuído a essa empiricidade objeto da operação, e uma representação capaz de explicar na experiência esse ‘operar’, esse modo de ser da empiricidade objeto escolhida, ainda não existe em um Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da linguagem em uso no ambiente e domínio em que a operação ocorre.
Caso a consulta ao Repositório tenha resposta negativa (ainda não existe representação para empiricidade objeto com o ‘operar’ atribuído) então o pensamento desencadeia uma operação de Analogia que procura um objeto análogo à empiricidade objeto com o ‘operar’ atribuído e prepara para a possível representação uma arquitetura padrão e inteiramente vazia. Não existem propriedades originais e constitutivas, ou não originais e não constitutivas além das próprias à arquitetura.
São desencadeadas operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites estabelecidos pelo domínio e ambiente.Essas buscas lançam mão de todo o conhecimento disponível em todas as áreas, filosofia, ciências, tecnologias.
Pode acontecer que o objeto análogo construído não seja ainda representável; mas a julgamento do sujeito da operação, esse objeto análogo pode ser considerado um caminho para uma possível representação.
Via de regra isso sempre acontece. Muito raramente uma representação é encontrada logo para o primeiro objeto análogo construído.
Então, o pensamento aplica a esse objeto análogo considerado como ‘caminho’ – resultado da aplicação do princípio organizador Analogia- o método Análise que substitui esse objeto análogo não representável por um conjunto logicamente organizado de outros objetos análogos. Esse conjunto de objetos análogos formam um objeto análogo composto substitutivo ao objeto análogo inicial.
A aplicação do método Síntese garante o mesmo ‘operar’ entre o objeto análogo inicial e o objeto análogo composto.
A construção do objeto análogo composto é orientada pelo princípio organizador Sucessão.
Com o sucesso da operação são encontrados os elementos de suporte na experiência à Forma de produção, o elemento central deste modelo de operações.
Essa determinação (seleção e ou desenvolvimento) de elementos de suporte na experiência da Forma de produção é feita para todos os objetos componentes do objeto análogo composto.
Quando todos os objetos análogos componentes do objeto análogo composto forem identificados e selecionados, a representação para a empiricidade objeto com ‘operar’ aceitável como sendo o ‘operar’ atribuído inicialmente, dentro de um critério de aceitação, está pronta e é incluída no Repositório onde permanece a título precário, até que uma outra representação para a mesma empiricidade objeto seja desenvolvida.
A operação de Instanciamento da representação acontece em duas situações:
Nesses dois casos a consulta ao repositório foi positiva no sentido de que já existe uma representação com ‘operar’ aceitável tendo em vista o operar atribuído à empiricidade objeto e um critério de aceitação.
Então, com essa resposta do repositório, o primeiro passo é recuperar dele a representação nele existente cujo ‘operar’ serve ao ser comparado com o ‘operar’ atribuído.
Dá-se a recuperação desde o repositório, da representação completa que ‘serve’ para a operação de Instanciamento em curso.
Na posição estrutural do ponto (i) depois da recuperação da representação que ‘serve’, tempos todas as propriedades dessa representação. E isso vale também para a posição estrutural do evento (f). A representação já existia no repositório.
A operação se desenvolve desencadeando os elementos de suporte na experiência da(s) Forma(s) de produção necessárias à representação recuperada do repositório.
Toda a operação transcorre no interior do Circuito das trocas, uma vez que durante toda a operação de Instanciamento da representação não acontecem alterações no ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, mas tão somente alterações no estado em que a empiricidade objeto se encontra.
Nessa situação não existe a possibilidade de cálculo, com propriedades da representação, da inserção calendário do evento (f) a partir da inserção calendário do evento (i). Não existe um fator K que permita esse cálculo – com propriedades da representação.
Toda a operação de Construção da representação transcorre no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, o espaço compreendido pelos dois retângulos um vermelho e outro amarelo. É nesse espaço do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’ que ocorrem as mudanças no ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto cuja representação está em construção.
Ao final da operação de Construção da representação, na posição estrutural do evento (f), e com o sucesso da operação, passaram a existir, como consequência da operação, as propriedades originais e constitutivas da representação que acaba de ser construída, e também as outras propriedades, as não-originais e não-constitutivas, ou as “aparências”.
Veja que a inserção calendário do evento (f) que assinala o final da operação de Construção da representação não depende dos tempos de desencadeamento dos elementos de suporte na experiência da Forma de produção, porque esses elementos foram identificados, selecionados e quando necessário desenvolvidos, mas somente atribuídos à Forma de produção e não desencadeados.
O intervalo de tempo entre (i) e (f) nessa operação de construção da representação depende das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites; e essas operações não fazem parte da representação em construção, mas da operação de Construção da representação.
Assim, com propriedades da representação em construção, essas que acabam de ser obtidas com o sucesso da operação, não é possível calcular a inserção calendário do evento (i) a partir da inserção calendário do evento (f) (ao contrário do que ocorria sob o pensamento clássico.
Esse tempo dos eventos (i) e (f) é um tempo absoluto, aquele tempo em que as coisas existiram no absoluto como diz Foucault.
Não existe, então, um fator K que permita o cálculo da inserção calendário de um evento a partir da inserção calendário do outro, novamente ao contrário do que acontecia sob o pensamento clássico.
A propriedade emergente para esta operação de Construção da representação é Permanência da representação construída no repositório de proposições explicativas formuladas em conformidade com as regras da língua. Uma permanência precária e temporária, mas permanência.
Na operação de Construção da representação não há Fluxos.
Durante uma operação sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, ‘operar'(es) são atribuídos a empiricidades objeto ou objetos análogos componentes de representações em construção para empiricidades objeto.
Uma consulta é feita ao repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua em uso.
A operação só deriva para o caminho do Instanciamento da representação caso essa consulta tenha resposta afirmativa: sim, já existe no repositório representação (com suporte na experiência, portanto) para o operar em questão em dado ponto da operação.
A representação com suporte na experiência é então recuperada do repositório já completa, com todas as suas propriedades sejam ou não originais e constitutivas.
Nessa situação, na posição estrutural do evento (i) de inicio da operação de Instanciamento, existem todas as propriedades da representação em instanciamento; essas propriedades quando na posição de (i) também existem na posição de (f).
Então, dada a inserção calendário do evento (i), é possível calcular, com propriedades da representação, a inserção calendário do evento (f).
E com o sucesso da operação de instanciamento, na posição calendário do evento (f), e com propriedades da representação em instanciamento, e possível calcular a posição calendário do evento (i).
Logo, existe um fator K tal que dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f), é possível calcular a posição calendário do outro evento (f) ou (i).
Toda a operação de instanciamento transcorre no Circuito das trocas no interior do qual não há alteração no ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação.
Note que o intervalo de tempo entre (I) e (f) no caminho do Instanciamento da representação é função direta dos tempos dos elementos de suporte na experiência da Forma de produção.
♦ Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar’, um para o pensamento de antes de 1775 e outro para o pensamento de depois de 1825
“Classificar, portanto,
não será mais referir o visível a si mesmo, encarregando
um de seus elementos de representar os outros;
será, num movimento que faz revolver a análise, reportar o visível ao invisível, como à sua razão profunda, depois alçar de novo dessa secreta arquitetura em direção aos seus sinais manifestos, que são dados à superfície dos corpos.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres
É muito claro que o uso de um ou de outro desses dois conceitos para Classificar durante o projeto e construção de um modelo de operações de qualquer natureza terá como resultado modelos completamente diferentes.
“O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: está, ao mesmo tempo,
Esse fato – e não se trata aí da essência em geral do homem, mas pura e simplesmente desse a priori histórico que, desde o século XIX, serve de solo quase evidente ao nosso pensamento – esse fato é, sem dúvida, decisivo para o estatuto a ser dado às “ciências humanas”, a esse corpo de conhecimentos (mas mesmo esta palavra é talvez demasiado forte: digamos, para sermos mais neutros ainda, a esse conjunto de discursos) que toma por objeto o homem no que ele tem de empírico.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas; tópico: I. O Triedro dos saberes
A figura ao lado dá acesso a uma animação que mostra a ideia desses dois papéis na estrutura da operação, com os respectivos elementos de imagem.
A relação entre os modelos constituintes das ciências que compõem o eixo epistemológico fundamental e o modelo constituinte composto de qualquer Ciência humana
A referência é “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas;
tópico I – O Triedro dos saberes.”
Nesse capítulo está uma orientação sobre como pensar as coisas a partir dos pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
É evidente que é muito mais fácil pensar um modelo do segmento DIANTE do objeto em que esteja em questão, por exemplo, o trabalho, no domínio da Economia, pensando a partir do respectivo par constituinte (conflito-regra); ou mesmo um modelo no domínio da Biologia pelo respectivo par constituinte (função-norma).
E a familiaridade do pensamento com tais pares constituintes abre o caminho para pensar modelos em que o modelo constituinte é uma combinação dos três pares constituintes.
Para Michel Foucault os modelos constituintes de modelos que integram esses pares constituintes são como que “categorias” para as ciências humanas
A referência é “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas; tópico III – os três modelos.”
Nesse capítulo está uma orientação sobre como pensar as coisas a partir dos pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
É evidente que é muito mais fácil pensar um modelo do segmento DIANTE do objeto em que esteja em questão, por exemplo, o trabalho, no domínio da Economia, pensando a partir do respectivo par constituinte (conflito-regra); ou mesmo um modelo no domínio da Biologia pelo respectivo par constituinte (função-norma).
E a familiaridade do pensamento com tais pares constituintes abre o caminho para pensar modelos em que o modelo constituinte é uma combinação dos três pares constituintes.
Para Michel Foucault os modelos constituintes de modelos que integram esses pares constituintes são como que “categorias” para as ciências humanas
O espectro de modelos com os segmentos
AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto
em função da relação modelo X objeto
– espectro esse depreendido do pensamento de Michel Foucault,
relação modelos constituintes
das CH X modelos constituinte das ciências da região epistemológica fundamental
modelos sem espaço para o par sujeito-objeto,
modelos com espaço para o par sujeito-objeto
Indo da esquerda para a direita nas quatro figuras acima,
modelos sem espaço para o objeto, e também para o sujeito
modelos com espaço para o objeto, e para o sujeito
operações ocorrem no interior do
lugar onde o modo de ser fundamental do que quer que seja objeto da operação, não muda.
operações ocorrem no interior do
lugar onde o modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação muda.
operações ocorrem no interior do
uma vez que o modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação não se altera.
Note que a organização de todo o espectro de modelos de operações é também função do conceito ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto’, ou história, se entendido com o sentido de elemento organizador da história que Michel Foucault dá a ele.
Isso porque é a possibilidade ou não de mudança no ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto o que define o lugar onde a operação ocorre:
Veja o que Foucault diz sobre esse conceito:
“Mas vê-se bem que a História não deve ser aqui entendida como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram; ela é o
modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis. Assim como a Ordem no pensamento clássico não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaço próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim também a História, a partir do século XIX, define o lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe é próprio.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico I. A idade da história;
Modelos altamente complexos como são os habitantes do espaço interior do Triedro dos saberes como os da Sociologia, da Psicologia, da Política, ou da Análise da produção têm sido analisados sem antes ter a familiaridade com modelos no segmento DIANTE do objeto pertencentes aos domínios das ciências da região epistemológica fundamental, levando em conta os pares de modelos constituintes das ciências:
E podemos mostrar que, em muitos casos, essa análise tem sido feita tendo como paradigma para o que sejam operações o paradigma de modelos do segmento AQUÉM do objeto. É que quando o alinhamento filosófico é deixado de lado, o nosso pensamento funciona com o entendimento com o qual está configurado desde sempre e de modo pouco consciente.
Isso quando acontece, corresponde a um evidente desalinhamento epistemológico e certamente não produz bons resultados.
A forma de reflexão adotada na análise desses modelos das ciências humanas precisa ser:
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico V – O “cogito” e o impensado, de Michel Foucault
Note que essa forma de reflexão só se sustenta pelo par sujeito-objeto; note ainda que uma grande parte dos modelos de operações atualmente em uso não têm espaço em suas estruturas para essas duas ideias, ou elementos de imagem. Isso tem como resultado que o projetista de modelos usando a forma de reflexão do pensamento clássico, acaba por introduzir outras ordens além da ordem arbitrária selecionada, o que diminui a qualidade de informação que o modelo sendo projetado pode oferecer.
Em resumo, o conceito do que seja ‘trabalho’:
isto é, o conceito somente contempla o primeiro dos componentes incluídos no conceito de Ricardo.
A reforma de previdência trata:
A figura ao lado mostra alguns modelos para operações, e para organizações, inclusive:
mostrando que nos modelos consistentes com o pensamento moderno os dois componentes do Princípio dual de trabalho de David Ricardo estão imbricados.
Referências sobre fundamentos filosóficos do Liberalismo
As obras de Locke como filósofo são da segunda metade do século XVII, e entre elas e o Riqueza das Nações de Adam Smith há algo como um século.
Falando sobre a descontinuidade epistemológica em nossa cultura, situada por ele entre 1775 e 1825, Michel Foucault diz o seguinte:
“Os últimos anos do século XVIII são rompidos por uma descontinuidade simétrica àquela que, no começo do século XVII, cindira o pensamento do Renascimento; então, as grandes figuras circulares em que se encerrava a similitude tinham-se deslocado e aberto para que o quadro das identidades pudesse desdobrar-se; e esse quadro agora vai por sua vez desfazer-se, alojando-se o saber num espaço novo.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; cap. VII – Os limites da representação; tópico I. A idade da história
Discorrendo sobre os achados e as dificuldades que enfrentou ao longo do trabalho nesse livro, Foucault diz o seguinte:
“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.
É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. VII – As novas empiricidades; tópico I – A idade da história
Examinando a cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, vê-se que Adam Smith e David Ricardo estão de lados opostos da fase de ruptura dessa descontinuidade no entendimento do mundo e das coisas.
Há, entre esses dois autores, diferenças profundas no entendimento, por exemplo, do que seja trabalho.
Vendo agora o período de vida de Locke, todo ele durante o século XVII com publicações concentradas na segunda metade, vê-se a distância em tempo existente entre o pensamento dele e o de Ricardo.
A principal diferença especificamente entre Adam Smith e David Ricardo – no pensamento de Michel Foucault – é a capacidade de Ricardo em seu princípio dual de trabalho, de dar conta daquela atividade que está na origem do valor das coisas. Você pode ver a importância de David Ricardo e pode ver também as diferenças entre os pensamentos dele e de Adam Smith, nas palavras de Michel Foucault.
Mas no que respeita aos entendimentos de antes e de depois desse evento, Foucault descreve várias outras diferenças entre as quais destaco:
Usando o pensamento de Foucault, e entendendo essas características dos dois pensamentos, quem cita Adam Smith e David Ricardo como referências do Liberalismo certamente não fez um alinhamento filosófico do modo como pensa. E uma doutrina econômica que tome como base um e outro desses autores, com certeza resultará em ‘ismos’ essencialmente diferentes.
Discursos de economistas – análises conjunturais, tendências, têm como objeto operações no campo da economia.
É possível dizer coisa semelhante para o que dizem cientistas políticos.
Mas com que modelo de operações esses discursos são proferidos. E nesses modelos, em que espaço exatamente estão as operações objeto desses discursos.
Esse modelo relacional tem como elemento central Projeto, (atividade, tasks), o mesmo modelo central dos sistemas baseados na estrutura Input-Output.
Processo, nessa posição estrutural, é um verbo do tipo clássico. Veja a funcionalidade desse tipo de verbo aqui.
Usando a função de ler e escrever de e para um banco de dados, criamos em um banco de dados:
O aplicativo permite construir a operação de instanciamento de um objeto anteriormente projetado. O operador seleciona o elemento componente da estrutura analítica, e associa a ele a Forma de produção capaz de executá-lo naquele ambiente, e a autonomia gerencial que terá isso a seu cargo.
A geração do modelo de operações é automático e rigorosamente construído levando em conta as regras gramaticais que têm a Forma de produção como elemento central. Veja a funcionalidade desse tipo de verbo aqui.
Proposição
COMO
Exemplo de Forma de produção presente no repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua. Há uma Forma de produção semelhante para cada uma das linhas da EAN – Estrutura Analítica cujo modelo de operação se deseja gerar.
Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca
Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca
O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto
Assim, estes três pares,
cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.
Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é
é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento
Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método.
Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
III. Os três modelos
Michel Foucault
Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;
Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.
Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.
Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.
No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:
No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:
função-norma;
conflito-regra;
Ciências da Linguagem (Filologia):
significação-sistema.
No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica.
Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
O Modelo constituinte de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.
O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes:
+
Ciências do trabalho (Economia):
conflito-regra;
+
Ciências da Linguagem (Filologia):
significação-sistema.
Sob ciências humanas como:
estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.
Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
Encontra-se
Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.
Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é
o modo de ser fundamental
das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
[veja citação 2 à esquerda]
A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.
Qual será a explicação para isso?
Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?
Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?
3assim também a História,
a partir do século XIX,
define o
lugar de nascimento
do que é empírico,
lugar onde,
aquém
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault
Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
Encontra-se
Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.
Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é
o modo de ser fundamental
das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
[veja citação 2 à esquerda]
assim também a História,
a partir do século XIX,
define o
lugar de nascimento
do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.
A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.
Qual será a explicação para isso?
Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?
Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault
A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,
– com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:
Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
Encontra-se
Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.
Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é
o modo de ser fundamental
das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
[veja citação 2 à esquerda]
A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.
Qual será a explicação para isso?
Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?
Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?
3assim também a História,
a partir do século XIX,
define o
lugar de nascimento
do que é empírico,
lugar onde,
aquém
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault
A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault, – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:
Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço no caminho,
encontradas por Foucault durante seu trabalho no livro
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’
exemplos de modelos de operações e de organizações muito usados ainda hoje, mostrando esses dois obstáculos presentes entre nós atualmente.
“Eis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico
que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo de certa
maneira moderna de conhecer as empiricidades.
É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado
1 pela impossibilidade,
trazida à luz por volta
do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses
no espaço da representação:
2 e pela obrigação
correlativa, simultânea,
mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente,
para além do objeto,
esses “quase-transcendentais”
que são para nós
a Vida, o Trabalho, a Linguagem.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
tópico I – As novas empiricidades
no pensamento clássico
aquém do objeto
antes de 1775
no pensamento moderno
diante do objeto
depois de 1825
espaço interior
Triedro dos saberes
para além do objeto
reservado às
Ciências humanas
Os obstáculos no caminho de Foucault
aquém do objeto
diante do objeto
para além do objeto
0 Foucault havia anteriormente identificado o perfil do pensamento no período clássico, com uma configuração tal que a capacidade (ou a possibilidade – e mesmo a intenção) de fundar as sínteses – dos objetos de operações cujas representações resultassem dessas operações – no espaço da representação não era sequer cogitada:
e principalmente, em razão
1 Michel Foucault relata a seguinte situação:
para conseguir fundar as sínteses no espaço da representação,
e a leitura feita do que seja uma operação e a análise de valor, exigiram:
incorporando à análise, a operação de construção da representação nova.
E ele havia percebido que esse pensamento com o qual queiramos ou não pensamos
2 Ele percebia ainda uma obrigação a cumprir:
Ele descobre que operações nos domínios das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem podem ser expressos completamente em cada domínio, por pares de modelos constituintes:
e que os modelos constituintes das Ciências humanas são sempre compostos por uma combinação desses três pares de modelos constituintes.
O Modelo constituinte de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:
+
Ciências do trabalho (Economia):
[conflito-regra];
+
Ciências da Linguagem (Filologia):
[significação-sistema].
Podemos ver a atualidade dessa percepção de Foucault
com Exemplos de modelos para operações e organizações
construídos sobre estruturas de conceitos
uns que não permitem, e outros que ao contrário sim permitem
a fundação das sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação.
Veja isso aqui.
Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault;
e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
com os respectivos tratamentos dados ao homem
“Instaura-se
uma forma de reflexão
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão
segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado,
e com ele se articula.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IX – O homem e seus duplos;
V. O cogito e o impensado
Michel Foucault
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
“No pensamento clássico,
aquele para quem
a representação existe,
e que nela se representa a si mesmo,
aí se reconhecendo
por imagem ou reflexo,
aquele que trama
todos os fios entrecruzados
da “representação em quadro” -,
esse [o ser do homem]
jamais se encontra lá presente.
Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.
Sem dúvida,
as ciências naturais
trataram do homem como
a discussão
sobre o problema das raças,
no século XVIII, o testemunha.
A gramática e a economia,
por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
de desejo,
ou de memória
e de imaginação.”
Mas não havia
consciência epistemológica
do homem como tal.
“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.”
“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está, ao mesmo tempo,
Esse fato
– e não se trata aí
da essência em geral do homem,
mas pura e simplesmente
desse a priori histórico que,
desde o século XIX,
serve de solo quase evidente
ao nosso pensamento –
esse fato é, sem dúvida, decisivo
para o estatuto a ser dado
às “ciências humanas”,
a esse corpo de conhecimentos
(mas mesmo esta palavra
é talvez demasiado forte:
digamos,
para sermos mais neutros ainda,
a esse conjunto de discursos)
que toma por objeto o homem
no que ele tem de empírico.”
É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IX – O homem e seus duplos;
II. O lugar do rei
Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
I. O triedro dos saberes
Michel Foucault
Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”
Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.
As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’;
Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:
Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.
A proposição é para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo
mais geral e mais elementar,
porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III – Teoria do verbo
Michel Foucault
(…) Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault
A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.
“Valer, para o pensamento clássico,
é primeiramente valer alguma coisa,
poder substituir essa coisa num processo de troca.
A moeda só foi inventada,
os preços só foram fixados e só se modificam
na medida em que essa troca existe.
Ora, a troca é um fenômeno simples
apenas na aparência.
Com efeito, só se troca numa permuta,
quando cada um dos dois parceiros
reconhece um valor
para aquilo que o outro possui.
Num sentido, é preciso, pois,
que as coisas permutáveis,
com seu valor próprio,
existam antecipadamente nas mãos de cada um,
para que a dupla cessão e a dupla aquisição
finalmente se produzam.
Mas, por outro lado,
Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação
isto é, no interior
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault
O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca
“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:
1 uma analisa o valor
no ato mesmo da troca,
no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;
3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;
2 outra analisa-o
como anterior à troca
e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.
4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada
fora de si mesma e como que
a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault
Esta segunda leitura para ‘operações’
– que orienta a análise de valor
desde antes do momento da troca -,
não é possível sem a presença do homem
na estrutura dos modelos.
Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
mostrados nos modelos de operações
As características das duas configurações do pensamento:
características de características, ou características de segunda ordem,
das configurações do pensamento em cada caso.
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
“Instaura-se
uma forma de reflexão
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão
segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado,
e com ele se articula.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IX – O homem e seus duplos;
V. O cogito e o impensado
Michel Foucault
“Assim o círculo se fecha.
Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos.
As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada.
Mas que são esses sinais?
Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,
no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança?
Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo?
Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).
Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira.
Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que
que, por sua vez, para ser reconhecida, requer
A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades,
de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
não pode mais ser
a identidade de um
ou vários elementos,
mas a identidade
da relação entre os elementos
(onde a visibilidade
não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham
por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
localizações próximas
num espaço de classificação,
mas sim porque
foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias
não fazia mais que percorrer
o espaço prévio e mais fundamental
de um quadro
que de antemão apresentava
todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observáveis simultaneamente
no espaço não serão mais que
as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clássica
distribuía num espaço permanente
as identidades
e as diferenças não-quantitativas
que separavam e uniam as coisas:
era essa a ordem
que reinava soberanamente,
mas a cada vez
segundo formas e leis
ligeiramente diferentes,
sobre o discurso dos homens,
o quadro dos seres naturais
e a troca das riquezas.
A partir do século XIX,
a História
vai desenrolar
numa série temporal
as analogias
que aproximam umas das outras
as organizações distintas.
É essa História que,
progressivamente,
imporá suas leis
A História dá lugar
às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenças sucessivas.
Essa forma de reflexão surgida será decorrência da segunda leitura do que seja uma operação de troca e portanto não pode prescindir do homem e do objeto?
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo II – A prosa do mundo;
II. As assinalações
Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault
os lugares onde ocorrem as operações:
Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
Encontra-se
Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.
Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, e apenas no caminho da Construção da representação
‘modo de ser fundamental das empiricidades’ é o conceito chave aqui.
No pensamento clássico, o de antes de 1775, pelos pressupostos adotados, é impossível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades cuja definição escapa ao escopo destas operações.
Estas operações transcorrem no interior do Circuito das trocas, a chave amarela horizontal, lugar onde não há alteração no modo como as coisas se apresentam à operação.
No pensamento moderno, o de depois de 1825, pelos pressupostos adotados é sim possível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades objeto da operação de Construção da representação que, se nova nesse domínio e ambiente, é o próprio escopo destas operações.
Operações no caminho da Construção da representação transcorrem no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, as chaves coloridas verticais, em um espaço que engloba os lugares desde onde se fala e do falado. O sucesso dessas operações altera ‘o modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, e com isso, faz-se História.
No pensamento moderno, o de depois de 1825, em uma operação de Instanciamento de representação objeto cuja construção da representação foi anteriormente feita e incorporada ao Repositório, a representação objeto de Instanciamento é recuperada do Repositório.
Assim, a operação de Instanciamento não altera o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto de instanciamento.
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é
o modo de ser fundamental
das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
para eventuais conhecimentos
e para ciências possíveis.
3 assim também
a História,
a partir do século XIX,
define o
lugar de nascimento
do que é empírico,
lugar onde,
aquém
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.
A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.
Qual será a explicação para isso?
Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?
Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault
os princípios organizadores dos modelos de operações que fazemos
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
“Assim o círculo se fecha.
Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos.
As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada.
Mas que são esses sinais?
Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,
no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança?
Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo?
Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).
Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira.
Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que
que, por sua vez, para ser reconhecida, requer
A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades,
de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
não pode mais ser
a identidade de um
ou vários elementos,
mas a identidade
da relação entre os elementos
(onde a visibilidade
não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham
por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
localizações próximas
num espaço de classificação,
mas sim porque
foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias
não fazia mais que percorrer
o espaço prévio e mais fundamental
de um quadro
que de antemão apresentava
todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observáveis simultaneamente
no espaço não serão mais que
as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clássica
distribuía num espaço permanente
as identidades
e as diferenças não-quantitativas
que separavam e uniam as coisas:
era essa a ordem
que reinava soberanamente,
mas a cada vez
segundo formas e leis
ligeiramente diferentes,
sobre o discurso dos homens,
o quadro dos seres naturais
e a troca das riquezas.
A partir do século XIX,
a História
vai desenrolar
numa série temporal
as analogias
que aproximam umas das outras
as organizações distintas.
É essa História que,
progressivamente,
imporá suas leis
A História dá lugar
às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenças sucessivas.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo II – A prosa do mundo;
II. As assinalações
Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault
os lugares contidos dentro do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’:
consistentes com os blocos do ‘operar‘ e do ‘suporte ao operar‘ de Humberto Maturana
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
Lugar desde onde se fala
Lugar do falado
são sub-espaços do Lugar de nascimento do que é empírico o que implica que o pensamento está funcionando com o entendimento do pensamento moderno, o de depois de 1825, a coluna ao lado, portanto.
todo o espaço corresponde, no LE da figura, ao domínio todo em que ocorrem as operações sob o pensamento clássico, a saber, o domínio do Discurso e da Representação.
A leitura do que sejam Operações sob o entendimento no pensamento clássico pressupõe o ponto de inserção para análise no exato cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca, cuja condição de possibilidade está, desse modo, dada.
Lugar do nascimento do que é empírico: espaço ocupado por:
O Lugar de nascimento do que é empírico, como o nome sugere, está situado antes do circuito das trocas, e em seu interior ocorre a construção de representação nova.
Essa visão do que sejam operações corresponde à leitura de operações, ou visão desse fenômeno como desde um ponto de inserção anterior à troca
Lugar desde onde se fala
As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidas na formulação da proposição estão contidas no espaço chamado de Lugar desde onde se fala:
Esse espaço coincide com o espaço chamado por Humberto Maturana de ‘operar’, o retângulo vermelho na figura ao lado, parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas no interior do domínio do Pensamento e da Língua.
Lugar do falado
As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidos na sustentação da Forma de produção na experiência estão no lugar do falado:
A operação de construção da representação escolhe os elementos de suporte na experiência à Forma de produção, que deve ser capaz de produzir quando implementada, uma instância da representação com o operar vislumbrado – ou o mais próximo disso possível. Humberto Maturana chama esse espaço de ‘suporte ao operar’, o retângulo amarelo na figura ao lado.
O Lugar do falado é parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas suas ideias – ou elementos de imagem – fazem parte do domínio do Discurso e da Representação.
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,
ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência
e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que
não é
aquela do falado
mas aquela
donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault
Há correspondências que precisam ser anotadas, entre elas:
Processo e Mercado são os conceitos largamente utilizados;
e ao mesmo tempo não se ouve falar
como ideias – ou elementos de imagem – em modelos de operações e organizações
no pensamento clássico
aquém do objeto
antes de 1775
no pensamento moderno
diante do objeto
depois de 1825
espaço interior Triedro dos saberes
para além do objeto
reservado às Ciências humanas
entendido sob o primeiro conceito de verbo explicado por Michel Foucault, como elemento gerador de um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, que o mais que faz é indicar a coexistência de duas representações.
entendida sob o segundo conceito de verbo explicado por Michel Foucault, tratado como um ser misto, inicialmente palavra entre palavras, preso às mesmas regras às mesmas regras, obedecendo como elas às mesmas leis de regência e concordância, e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado, mas aquela donde se fala.
a formulação para além do objeto associa o sistema cujo resultado é o produto, aquilo que se quer obter, com o instrumento imprescindível para obtê-lo.
Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ – é possível desejar algo e, sem mais nada, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!!
Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção
o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Verbo’;
para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
Aquém do objeto
Verbo como
Processo
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo,
a do verde
e da árvore,
a do homem
e da existência
ou da morte;
é por isso que
o tempo dos verbos
não indica
aquele [tempo]
em que as coisas existiram
no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”
Diante e Além do objeto
Verbo como
Forma de produção
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,
ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência
e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é
aquela do falado
mas aquela
donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”
Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, para o que seja um ‘Verbo’, e a total consistência entre o segundo conceito/tratamento e ‘Forma de produção’
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault
o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Classificar’;
para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
Aquém
do objeto
‘Classificar’
no pensamento clássico
Aquém do objeto,
isto é,
no pensamento filosófico Classico
o de antes de 1775
nessa faixa do espectro de modelos
que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar
“Classificar
é referir
encarregando um dos elementos
de representar os outros.”
Diante e Além
do objeto
‘Classificar’
no pensamento moderno
Diante, e Além do objeto,
isto é,
no pesamento filosófico moderno,
o de depois de 1825
nessa faixa do espectro de modelos
que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar
“Em um movimento
que faz revolver a análise –
Classificar
é referir
– como a sua razão profunda -,
e depois,
alçar de novo
dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus
sinais manifestos,
que são dados
à superfície dos corpos.”
Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres
pares de modelos constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental
e o modelo constituinte padrão, comum a todas das ciências humanas; um modelo composto por uma combinação entre esses três pares de modelos constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
no pensamento clássico
antes de 1775
aquém do objeto
no pensamento moderno
depois de 1825
diante do objeto
no pensamento moderno
também depois de 1825
para além do objeto
Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;
Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.
Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.
Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.
A modelagem em cada área do saber é feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:
No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:
[função-norma];
[conflito-regra];
Ciências da Linguagem (Filologia):
[significação-sistema].
No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
da Vida-(Biologia), do Trabalho-(Economia) e da Linguagem-(Filologia).
O Modelo constituinte de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:
+
Ciências do trabalho (Economia):
[conflito-regra];
+
Ciências da Linguagem (Filologia):
[significação-sistema].
Proposição: o bloco construtivo
oferecido pela gramática da língua para construção de representações.
Esse bloco construtivo ‘proposição’ carrega valor para as representações, mas faz isso de ao menos dois modos diferentes e com duas visões distintas para o que sejam ‘operações’.
“Valer, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.
Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.
Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.
Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que
finalmente se produzam.
Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.
Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra,
“A proposição é
para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento
sua forma,
ao mesmo tempo
mais geral
e mais elementar
porquanto,
desde que a decomponhamos,
não encontremos mais o discurso
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar;
tópico: III – A teoria do verbo
Michel Foucault
no pensamento clássico
antes de 1775
no pensamento moderno
depois de 1825
questão/pergunta
a toda a essência da linguagem encerrada – diretamente – na própria proposição;
junto com esse ‘encerramento’ vão as ideias – ou elementos de imagem – necessários para a formulação da proposição, que assim, não participam do modelo de operações.
a descoberta da essência da linguagem fora dela mesma, linguagem; a proposição formulada no modelo por suas ideias ou elementos de imagem presentes; inicialmente vazia, apenas um enunciado, é preenchida de valor a partir de duas fontes:
ambas assinaladas na figura.
“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:
1 uma analisa o valor
no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;
3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;
2 outra analisa-o
e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.
4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada
a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor,
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault
Ideias – ou elementos de imagem – requeridos para a
Formulação da proposição, e valor carregado
Ideias – ou elementos de imagem requeridos para formulação da proposição ausentes da estrutura do modelo de operação.
Valor carregado diretamente na proposição.
impossibilidade de formulação da proposição com ideias – ou elementos de imagem – requeridos, pela ausência do homem em sua duplicidade de papéis, e pela noção de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.
Proposição formulada com ideias ou elementos de imagem pertencentes à estrutura interna do modelo de operações;
Valor carregado pela proposição com origem fora da linguagem
a busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para a representação da empiricidade objeto no domínio e ambiente em que a operação acontece.
todo o conteúdo do Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, à disposição da construção de novas representações.
Os tipos de sistemas que dão suporte a operações,
em função da configuração do pensamento:
no pensamento clássico
antes de 1775
verbo ‘Processo‘
no pensamento moderno
depois de 1825
verbo ‘Forma de produção‘
questão/pergunta
“A única coisa
que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo,
a do verde
e da árvore,
a do homem
e da existência
ou da morte;
é por isso
que o tempo dos verbos
não indica
aquele [tempo]
em que as coisas existiram
no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,
ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência
e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é
aquela do falado
mas aquela
donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault
O tipo de sistema
O conceito acima é explícito em fornecer uma descrição do tipo de sistema para operações sob o pensamento clássico.
Trata-se de
uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.
asdf
Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.
O tipo de leitura
asdf
Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.
asdf
Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.
o tempo nas operações, em função dos sistemas
em cada segmento do espectro de modelos
no pensamento clássico
antes de 1775
aquém do objeto
no pensamento moderno
depois de 1825
diante e para além do objeto
no pensamento moderno
também depois de 1825
diante e para além do objeto
formulação reversível
e somente instanciamento
da representação;
deus Chronos
formulação irreversível
e operação de construção
da representação
deus Kairós
formulação reversível
e operação instanciamento
da representação
deus Chronos
Aquém do objeto
Diante ou para além do objeto
Nota: a existência precede as distinções feitas na operação.
Tempo na formulação e no instanciamento da representação:
Não há nada que possa ser afirmado, posto, disposto e repartido no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis e assim não se pode falar em ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja.
Assim, no pensamento clássico, não é possível adotar esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, que é compreendida como sucessão de fatos assim como se sucedem.
Durante essa operação, a empiricidade objeto da operação, sim, muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.
Tempo no caminho da Construção da representação, durante a formulação da representação:
A empiricidade objeto da operação tem um novo ‘modo de ser fundamental’, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’.
Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operações, sim, faz-se história.
caminho do
Instanciamento da representação
Durante essa operação a empiricidade objeto não muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.
Tempo no caminho do Instanciamento da representação previamente existente no Repositório e dele recuperada para a posição de empiricidade objeto na presente operação de instanciamento:
A empiricidade objeto da operação tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ com que foi recuperada do repositório, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’ exatamente da mesma forma como havia sido acrescentada ao repositório.
Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da História, durante esse tipo de operações não se faz história.
Modelagem de operações e organizações organizadas pelo par sujeito-objeto, com operações específicas e separadas para cada um desses pares, porém relacionadas:
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Cronologia básica da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura ocidental entre os anos 1775-1825 segundo Michel Foucault.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
“É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.
Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap.VII – Os limites da representação
tópico I. A idade da história
Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.
Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:
Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca
Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca
O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto
Assim, estes três pares,
cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.
Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é
é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento
Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método.
Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
III. Os três modelos
Michel Foucault
Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;
Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.
Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.
Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.
No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:
No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:
função-norma;
conflito-regra;
Ciências da Linguagem (Filologia):
significação-sistema.
No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica.
Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
O Modelo constituinte de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.
O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes:
+
Ciências do trabalho (Economia):
conflito-regra;
+
Ciências da Linguagem (Filologia):
significação-sistema.
Sob ciências humanas como:
estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.
“Valor, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.
Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.
Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.
Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que a dupla cessão e a dupla aquisição finalmente se produzam.
Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.
Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra, é preciso que elas existam já carregadas de valor; e, contudo, o valor só existe no interior da representação (atual ou possível), isto é, no interior da troca ou da permutabilidade.
Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:
A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da proposição;
a outra, [corresponde] a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das designações primitivas – linguagem de ação ou raiz(*);
com a licença de Augusto de Franco pelo enxerto (quase paráfrase) feito sobre o título de um de seus trabalhos.
O espírito com que estou escrevendo e pistas sugestivas de espaço para mudanças
Influências e inspirações
1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’:
uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre
textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais;
e ainda, não menos importante
2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:
objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;
3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:
a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:
Veja aqui os seguintes pontos:
Veja esses pontos a seguir:
“Ora, esta investigação arqueológica mostrou duas grandes descontinuidades na epistémê da cultura ocidental:
Por muito forte que seja a impressão que temos de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,
– toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.
Não que a razão tenha feito progressos;
Se a história natural de Tournefort, de Lineu e de Buffon tem relação com alguma coisa que não ela mesma,
Os conhecimentos chegam talvez a se engendrar; as ideias a se transformar e a agir umas sobre as outras (mas como? até o presente os historiadores não no-lo disseram);
Assim, a análise pôde mostrar a coerência que existiu, durante toda a idade clássica, entre
É esta configuração que, a partir do século XIX, muda inteiramente;
Impõe-lhes formas de ordem que são implicadas pela continuidade do tempo;
Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas,
Estranhamente, o homem – cujo conhecimento passa, a olhos ingênuos, como a mais velha busca desde Sócrates – não é, sem dúvida, nada mais que uma certa brecha na ordem das coisas, uma configuração, em todo o caso, desenhada pela disposição nova que ele assumiu recentemente no saber:
Daí nasceram todas as quimeras dos novos humanismos, todas as facilidades de uma “antropologia “, entendida como reflexão geral, meio positiva, meio filosófica, sobre o homem.
Contudo, é um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que
“Vê-se que esta investigação responde um pouco, como em eco, ao projeto de escrever uma história da loucura na idade clássica; ela tem, em relação ao tempo, as mesmas articulações, tomando como seu ponto de partida o fim do Renascimento e encontrando, também ela, na virada do século XIX; o limiar de uma modernidade de que ainda não saímos.
Enquanto, na história da loucura,
trata-se aqui
Trata-se, em suma, de uma história da semelhança:
– daquilo que, para uma cultura
é ao mesmo tempo
interior e estranho,
a ser portanto excluído
(para conjurar-lhe o perigo interior),
encerrando-o porém
(para reduzir-lhe a alteridade);
– daquilo que, para uma cultura,
é ao mesmo tempo
disperso e aparentado,
a ser portanto distinguido por marcas
e recolhido em identidades.
E se se pensar que a doença é, ao mesmo tempo,
mas também
vê-se que lugar poderia ter uma arqueologia do olhar médico.
Da experiência-limite do Outro às formas constitutivas do saber médico e, destas, à ordem das coisas e ao pensamento do Mesmo, o que se oferece à análise arqueológica
Nesse limiar apareceu pela primeira vez esta estranha figura do saber que se chama homem e que abriu um espaço próprio às ciências humanas.
Tentando trazer à luz esse profundo desnível da cultura ocidental, é a nosso solo silencioso e ingenuamente imóvel que restituímos suas rupturas, sua instabilidade, suas falhas; e é ele que se inquieta novamente sob nossos passos.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Prefácio
Veja essa história em uma animação abaixo. Esta animação relaciona o texto de Foucault com as estruturas de operações sob as duas configurações do pensamento, a do clássico, de antes de 1775, e a do moderno, depois de 1825.
Provavelmente você vai se sentir mais confortável se antes de ver esta figura, visualizar o funcionamento das operações nesses dois casos.
que pode ser vista junto com outras animações mais, nesta página:
Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio
Se quiser ver o funcionamento das operações no pensamento clássico e no moderno (usando os critérios de Foucault para essa identificação, veja a página seguinte:
Essa história está contada por Foucault no Prefácio do ‘As palavras e as coisas’, e está aqui no início desta apresentação pela ideia de sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis que podem ser associados às configurações do pensamento nos períodos de antes e de depois de um evento ao qual Foucault dá o status de ‘evento fundador da nossa modernidade’ – uma descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825 -, tendo o pensamento clássico, antes de 1775, e o moderno, depois de 1825:
Este estudo em estilo de arqueologia feito por Michel Foucault no
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’,
tem como tema:
- não propriamente produções de pensamento formuladas e configuradas,
- e ainda menos, produções do pensamento já em funcionamento – com seus sucessos e insucessos, e submetidas a possíveis desvirtuamentos;
- mas o tema inerente a esse estilo em arqueologia é quais são
- as condições de possibilidade no pensamento nas quais esta ou aquela produção do pensamento – teoria, modelo ou sistema – pode ser formulada.
Enquanto com inventividade e laivos de criatividade conseguimos criar infinidades de formulações sobre um mesmo perfil de condições de possibilidade do pensamento, que acabam muitas vezes sendo combinações lineares de formulações anteriores, mesmo com muita criatividade e toda a inventividade possível os conjuntos determinantes de condições de possibilidade não proliferam do mesmo modo.
A análise, compreensão e utilização
de produções do pensamento
– teorias, modelos e sistemas –
tomadas quando já formuladas e configuradas,
é extremamente (mais) difícil;
e ainda tanto mais o será,
se o conhecimento consciente
das respectivas condições de possibilidade
no pensamento não se verificar.
Essas dificuldades se agravarão
se a produção do pensamento objeto de análise
estiver em pleno uso em um ambiente,
influindo sobre ele – e dele recebendo influências
– que certamente incidirão sobre a análise.
O excerto da Cartilha, o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, – abaixo selecionado descreve o que é esse estudo em estilo de arqueologia realizado por Foucault, e como são as operações no antes e no depois desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento, a descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825, descrita por ele.
Você pode ver agora a nossa interpretação do que conseguimos apreender desse texto, ou primeiro ler o texto original e depois ver esta animação:
o que também pode ser visto na página seguinte:
Poderá ser útil ver também o funcionamento das operações
AVISO: tudo o que se segue neste trabalho depende da distinção estabelecida entre os dois modos de ver ‘operações’ correspondentes às duas configurações do pensamento, expressas nas animações acima
a partir do texto de Foucault abaixo.
Diz Foucault:
“A arqueologia, essa,
deve percorrer o acontecimento
segundo sua disposição manifesta;
ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
(ela analisa por exemplo,
para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome
e a importância nova dos sistemas de flexão;
ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função);
ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades
(a substituição do discurso pelas línguas,
das riquezas pela produção);
estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras
(por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia);
enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber
não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável,
mas um espaço feito de organizações, isto é,
de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;
mostrará que essas organizações são descontínuas,
que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas,
mas que algumas são do mesmo nível
enquanto outras traçam séries ou sequências lineares.
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,
a Analogia e a Sucessão:
de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
• não pode mais ser
a identidade de um ou vários elementos,
• mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham
por efeito de uma densidade
singularmente grande
de analogias,
↓ não é porque ocupem localizações próximas
num espaço de classificação,
↑ mas sim porque foram formadas
uma ao mesmo tempo que a outra
e uma logo após a outra
no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a sequência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observáveis simultaneamente no espaço
não serão mais que as formas depositadas e fixadas
de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clássica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas.
A partir do século XIX,
a História vai desenrolar numa série temporal
as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas.
É essa História que, progressivamente, imporá suas leis
à análise da produção,
à dos seres organizados, enfim,
à dos grupos linguísticos.
A História
dá lugar às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenças sucessivas.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault
Veja isto em
ou ainda na seguinte página
Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825
segundo Michel Foucault
De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:
Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dá o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.
Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clássico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clássica.
Michel Foucault vê o pensamento que nos é contemporâneo – e com o qual queiramos ou não pensamos – muito dominado por: e aparentemente ele imputa a esse domínio do nosso pensamento por essas questões, o tempo e dificuldades em acréscimo que precisou enfrentar em seu trabalho no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’. Veja o que ele diz, o mesmo texto colocado em duas animações e no excerto abaixo em seu original, que têm a finalidade de reunir as ideias em elementos de imagem que compõem duas estruturas diferentes, nos dois lados de uma mesma imagem: As palavras e as coisas:
Impossibilidade X Possibilidade
de fundar as sínteses (da empiricidade objeto)
no espaço da representação“Eis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas
dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado pela impossibilidade,
trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses
no espaço da representação.e pela obrigação
correlativa, simultânea,
mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental
da subjetividade e de constituir, inversamente, para além do objeto,
esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.
uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha);
Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades
de Michel Foucault
as animações acima também podem ser vistas nesta página
Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,
com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.
E o funcionamento das operações tanto no pensamento clássico, o de antes de 1775, como no moderno, depois de 1825, usando o critério de Foucault, pode ser visto na seguinte página:
Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças.
Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’:
Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:
O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.
Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes
“Instaura-se uma forma de reflexão,
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento se dirige ao impensado
e com ele se articula.”Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado
Veja isso associado a uma figura na qual os elementos de imagem escolhidos compõem uma estrutura que pode ser comparada com por exemplo, o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817
Veja também o funcionamento das operações, especificamente no segmento DIANTE do objeto e na etapa da Construção da representação.
Nesse excerto da Cartilha, Foucault modela dinamicamente uma proposição que se ajusta a cada etapa da operação, coloca em cada proposição:
Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura, ‘o ser do homem’ não se dirige ao intangível, mas ao impensado! (que pode ser também intangível, sem problemas) Muitas vezes o intangível continua exatamente assim, intangível, mesmo depois que o pensamento tenha dado um jeito no seu aspecto impensado.
Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.
Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)
Ao contrário do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.
Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em
Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.
Veja em imagens
que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.
O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.
Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes
O carregamento de valor na proposição em cada caso:
As diferenças nas visões de ‘operações’ decorrentes de diferenças no posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno, podem ser vistas nas animações que descrevem o funcionamento das operações em cada caso:
Se a figura ainda lhe parecer confusa, e achar que vale a pena esclarece-la, veja novamente o Funcionamento das operações.
Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clássico e sob o moderno.
Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo,
a do verde
e da árvore,
a do homem
e da existência
ou da morte;
é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele [tempo]
em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que
não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault
Classificar, portanto,
não será mais
referir o visível
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;
Será
num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível,
ao invisível,
como a sua razão profunda;
depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparências”]
que são dados à superfície dos corpos.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault
pensamento clássico, antes de 1775
segmento AQUÉM do objeto
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cao. 10. As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
“Assim o círculo se fecha.
Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos.
As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada.
Mas que são esses sinais?
Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,
que há aqui um caráter
no qual convém se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança?
Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo?
– É a semelhança.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).
Contudo,
pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo;
uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira.
Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança.
De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que
que, por sua vez, para ser reconhecida, requer
A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”
“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades
estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras
enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável,
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades,a Analogia
e a Sucessão:
de uma organização a outra, o liame, com efeito,
ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia. (*)
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault
pensamento clássico,
de antes de 1775
pensamento moderno,
de depois de 1825
aquilo a partir de que elas são
Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber
para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.
As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
A análise das riquezas, junto com a gramática geral e a história natural, no pensamento clássico- o de antes de 1775, são contrapostas à análise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.
“Nem vida,
nem ciência da vida
na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe.
Em contrapartida,
existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.
Esse domínio,
solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.
Inútil colocar-lhe questões
vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas
Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de riquezas do pensamento filosófico clássico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)
O mínimo que somos chamados a fazer é esclarecer as razões pelas quais o conceito ‘riquezas’ é tão largamente utilizado; e as razões pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao período clássico.
Veja a seguir os pontos:
Veja a relação entre cada formulação de operações e o respectivo perfil de características da configuração do pensamento adotada em cada formulação, na página:
veja também tópico seguinte, o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.
Note que a amplitude da visão do fenômeno ‘operações’ é muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visão do fenômeno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e também o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua; enquanto que sob o pensamento clássico o fenômeno é visto apenas a partir da fase de instanciamento.
Veja que há uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clássico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.
Certifique-se dessa correspondência visualizando as figuras feitas para os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.
a página que o link acima dá acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com
“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está ao mesmo tempo,
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
Michel Foucault
“Na medida, porém,
em que as coisas
giram sobre si mesmas,
reclamando para seu devir
não mais que
o princípio de sua inteligibilidade
e abandonando o espaço da representação,
o homem,
por seu turno,
entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Prefácio
Michel Foucault
Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:
Veja isso também na seguinte página:
um lugar composto por dois blocos em dois domínios diferentes:
Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes
A metáfora da transformação de Entradas ⇒ Saídas, sobre a estrutura Input-Output, que dá lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si é válida aqui, e é a famosa caixa preta.
Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência
Com a opção pela leitura do fenômeno ‘operações’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que é dado com o que é recebido na troca, essa metáfora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e já carregada de valor diretamente atribuído à proposição.
Toda a etapa da construção de representação nova está fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.
Veja aqui em Conceitos homônimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.
Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.
Toda a operação pode ser reduzida a uma
Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:
Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.
Toda a operação pode ser reduzida a uma
Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:
Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes
Veja em Funcionamento das operações… a animação sob o título Aquém do objeto. Essa é uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representações existentes. O apontador de início da operação está no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.
Sob o pensamento clássico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:
Veja agora em Funcionamento das operações… a animação sob o título Diante do objeto. A operação modelada é de formulação da representação para empiricidade objeto ainda não representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponível para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, está resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda está indisponível. Para que ele esteja disponível será necessário o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recém criada. Então, a aposta é que essa representação permaneça em um repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, de onde será selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.
A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.
A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.
A empiricidade objeto será instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento não muda.
Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e há fluxos vários, que são mostrados na página indicada.
Veja a seguir os pontos:
‘Mercado‘, ‘Processo‘, ‘Riquezas‘;
‘Lugar de nascimento do que é empírico‘, ‘Forma de produção‘ e ‘Análise da produção‘;
As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso:
“Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.
Lugar do nascimento do que é empírico é o lugar onde, “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empíricas] assume o ser que lhe é próprio”.
Veja o modelo de operações – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que é empírico‘ é um lugar, mesmo, e não o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.
É um lugar onde as empiricidades objeto de operações têm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.
modo de ser fundamental de uma empiricidade é aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.
Os detalhes estão a seguir:
“Certamente, para Ricardo como para Smith,
o trabalho pode realmente
medir a equivalência das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:”
“Na infância das sociedades,
o valor permutável das coisas
ou a regra que fixa a quantidade que se deve dar
de um objeto por outro
só depende da quantidade comparativa de trabalho
que foi empregada na produção de cada um deles.”
A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:
Já não pode este ser definido, como na idade clássica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras.
O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto.
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou,
ou se, pelo menos, seu valor está em proporção a esse trabalho,
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante
e permutável sob todos os céus e em todos os tempos,
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho.
E a melhor prova disso está em que o valor das coisas
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salários
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.”
Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros,
os valores realmente têm ainda um poder de representação.
Extraem esse poder, porém, de outra parte –
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.
Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca
servem de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith,
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),
desde Ricardo,
a possibilidade da troca está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo
Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenômeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.
Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.
Qualquer coisa para a qual for possível estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação à região onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como Saída. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade não-original e não-constitutiva, ou uma “aparência”. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas não são utilizadas.
Veja aqui duas coisas:
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, a do verde e da árvore,
a do homem e da existência ou da morte;
é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clássica, veja na página sobre o funcionamento das operações, as animações sobre o tempo nos dois períodos, e associe o tempo ‘calendário’ à parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos.
“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo, não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe.
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.Esse domínio,
solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas
Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de valor do pensamento filosófico anterior, o clássico, de antes de 1775.
Veja novamente a animação central sob o título ‘Diante do objeto’ na página
Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenômeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação está em desenvolvimento e que, futuramente, poderá ser levada ao circuito das trocas.
O Lugar de nascimento do que é empírico compreende dois sub-espaços:
É parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaço das representações, no interior do domínio do Discurso e da Representação.
É assim que funciona o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.
A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tomar linguagem.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Veja agora que esse verbo está postado na região ‘desde onde se fala’, um sub-espaço do ‘Lugar do nascimento do que é empírico’, e no interior do domínio do Pensamento e da Língua, onde a articulação com o impensado pode ter início para uma representação ainda não existente, – e não na região do falado, esta no interior do domínio do Discurso e da Representação. Foucault é preciso a esse respeito: ‘Ele está na orla do discurso, na juntura…’
Veja a página
Nessa mesma página, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.
A animação central da página Funcionamento… com o título ‘Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda não representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponível em uma operação de troca já descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.
Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:
Tudo o que está representado na página Funcionamento… na animação central ‘Diante do objeto’ está completamente fora do pensamento que pensa operações no cruzamento do que é dado e o que é recebido.
Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação está fora do modo como operações são vistas como fenômeno.
Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.
O pensamento clássico, aquele que dispunha da História natural, da Análise das riquezas e da Gramática geral, fazia a Análise das riquezas.
O pensamento moderno efetua em seu lugar, a Análise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clássico, a Análise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.
Um exercício de uso do modelo composto característico das ciências humanas,
uma combinação dos pares constituintes das ciências
além do conhecimento do papel dessas duas ciências em nossa cultura.
“A psicanálise e a etnologia ocupam, no nosso saber, um lugar privilegiado.
Não certamente
antes porque,
Ora, há para isto uma razão que tem a ver com o objeto que respectivamente cada uma se atribui, mas tem mais ainda a ver com a posição que ocupam e com a função que exercem no espaço geral da epistémê.
A psicanálise, com efeito, mantém-se o mais próximo possível desta função crítica acerca da qual se viu que era interior a todas as ciências humanas.
Dando-se por tarefa fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente,
a psicanálise avança na direção desta região fundamental onde se travam as relações entre a representação e a finitude.
Enquanto todas as ciências humanas
já a psicanálise
Não há que supor que o empenho freudiano seja o componente de uma interpretação do sentido e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
em direção ao momento –inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem, a toda apreensão contínua em termos
– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
E, nessa região onde a representação fica em suspenso, à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude, desenham-se as três figuras pelas quais
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. X – As ciências humanas;
tópico V – Psicanálise, etnologia
A figura da Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica parte de duas ideias:
Essa ideia está embutida na Figura 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, basta analisar tendo em mente as condições de possibilidade no pensamento daquela figura.
Veja também
Partindo dos dois obstáculos, ou as duas pedras de tropeço que Foucault declara ter encontrado em seu trabalho, traçamos – usando apenas interpretação de texto – um espectro de produções do pensamento, teorias, modelos e sistemas, com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto.
Da forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura no depois da descontinuidade epistemológica, vemos que o pensamento funciona organizado em torno do par sujeito-objeto. Mudando o objeto, muda a operação que pode ou não ser conduzida por um sujeito diferente, mas com um sujeito a conduzi-la.
Aplicando esse elemento organizador par sujeito-objeto às operações em organizações, vê-se que já existem operações e organizações organizadas com esse critério: o modelo descritivo da produção do Kanban, e a Fig. 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, são exemplos.
Se examinamos mais de perto este último exemplo, veremos que há dois pares sujeito-objeto incluídos nesse mapa – segundo Hammer, de ‘processos’ (ele não conseguiu se livrar dessa unanimidade mesmo mapeando claramente Formas de produção e não processos.
A Visão SSS resume-se a respeitar a relação um objeto – um modelo de operações. E isso leva a uma organização SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica que torna evidente o nexo da produção.
a) Canal Inconsciente Coletivo, vídeo Jorge Forbes: estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos, de 28/07/2020;
b) Canal Falando Nisso, vídeo 150 – Signo, significação e significado de 08/10/2017;
c) Canal Falando, Nisso vídeo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, de 31/08/2019;
d) Canal Quem Somos Nós? – vídeo Desigualdade: Concentração de renda com Eduardo Moreira;
e) Canal Monica de Bolle, vídeo 31 – Imaginando o “Novo Normal”;
f) Canal Monica de Bolle, vídeo 32 – O “Novo Normal”: Bens Públicos”;
g) Canal Inconsciente Coletivo – vídeo Ivaldo Bertazzo, que testou positivo para o Covid-19: “o grande problema do corpo é o medo”, de 12/08/2020.
Os pontos comentados são os seguintes:
Meus comentários usando o pensamento de Michel Foucault:
Veja também Reflexões imaginativas >
O fenômeno das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia dos modelos; Metáforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento >
As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessárias para cada operacionalidade
Claramente a determinação ou não dessa parecença depende do modo como você olha para a fotografia, ou seja, com que recursos de pensamento faz isso. E o que procura na fotografia, com o seu olhar.
Ivaldo Bertazzo ensina que a gente olha e ouve o que nos chega do mundo sempre de acordo com o mesmo padrão.
E há mais do que um padrão que pode ser usado para absorver o que nos chega do mundo.
Michel Foucault, olhando para o estado em que ele percebia encontrar-se a nossa cultura, e adotando a estratégia de questionar não diretamente as teorias, modelos e sistemas mas as condições de possibilidade destes no pensamento, viu modelos com e modelos sem a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto do pensamento) no espaço da representação. Ele estava questionando as condições de possibilidade do pensamento, evidentemente.
E ele foi além disso: viu o imperativo de que todo o campo das ciências humanas fosse configurado tendo como pressuposto a constituição do que ele chama de os ‘quase-transcendentais’ Vida, Trabalho e Linguagem, podendo então identificar um modelo composto padrão e genérico para todas as ciências humanas nesse espaço, a partir de modelos constituintes das três ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida (Biologia) [função-norma], do Trabalho (Economia política) [conflito-regra] e da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].
Vê-se que dessa percepção de Foucault é possível vislumbrar um espectro de modelos em nossa cultura. Esse espectro tem três segmentos:
AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto (e do sujeito)
Pouca gente vê isso, mas você pode ver adiante neste trabalho.
Mas, olhando para a fotografia de hoje com os padrões que usamos ontem e desde sempre, fica estabelecida uma semelhança pela intermediação do padrão utilizado. Se é o padrão de sempre, as diferenças porventura existentes, causadoras de diferenciações, mas aparentes somente sob outro padrão, não aparecem.
Sempre é necessário percebermos quais são os critérios dos quais se compõe o modo como olhamos para o mundo. Dependendo do que surge dessa procura daquilo que integra nossos padrões, pode ser que percebamos que ocorreram, sim, mudanças que nos passaram despercebidas; e mudanças de tal monta que sim, foram revoluções, mas localizadas no passado, e hoje já distante.
Mas que a gente possa manter um savoir faire – um saber fazer, numa relação da harmonia do homem agora não mais com a natureza, não mais com os deuses, não mais com a razão, mas com o intangível. Então, nesse intangível, isso me leva a pensar numa ética – em dois tempos para cada um – de inventar uma surresposta singular da sua intangibilidade, e de colocá-la no mundo (que é o que faz o artista); não é? um Van Gogh vê um girassol que só ele viu – ele inventou um girassol – e inscreveu esse girassol no mundo.
Desde logo esse ‘savoir faire‘ é interessante porque me dá a oportunidade de, ao invés da tradução óbvia ‘saber fazer‘, optar por traduzir essa ideia como ‘forma de produção‘ como a maneira encontrada para fazer aquilo que sei fazer; e se fizer isso guiado pela ideia por trás do nome, estarei usando justamente o nome dado por David Ricardo, em 1817, para o elemento central do seu modelo de operações que, segundo Foucault, ele publicou com o nome de Princípio Dual de Trabalho (e é interessante descobrir por que esse ‘dual’ no nome do principio.
O pensamento bem frequentemente consegue dar conta do ‘impensado’, mas ao contrário, o ‘intangível’ permanece tal e qual na maioria das vezes.
Desde logo, estabelecer um saber fazer voltado ao intangível – o que quer que essa palavra signifique neste contexto – é organizar “a relação da harmonia do homem não mais com a natureza, os deuses, a razão”, mas levando em conta, agora, o objeto, um objeto definido como ‘intangível’, aquela coisa que não se pode tocar, parece que seja um grande passo adiante.
Veja que toda a mecânica celeste funciona perfeitamente e artefatos são colocados em órbita e chegam sem acidentes a outros planetas, e em sua grande maioria todos permanecem intangíveis – no sentido original da palavra ‘intocáveis’ – depois de estudados. Mas todos deixam de ser impensados. E graças a um pensamento organizado pelo par sujeito-objeto.
Pensando em um buraco negro, e nas teorias da relatividade que ajudam a compreendê-los, não se pode dizer que eles, buracos negros – e outros entes cósmicos – de alguma forma possam tornar-se tangíveis. Mas a ciência os converte de ‘impensados’ cada vez mais em ‘pensados’. E essa conversão faz mais sentido do que a proposta por Forbes de intangíveis para tangíveis. Até mesmo no caso do Sars Cov-2.
Mas, porém, todavia, contudo, o direcionamento do pensamento para o que seja ‘intangível’ já requer uma alteração radical na configuração do próprio pensamento: para um pensamento definido com relação a um determinado objeto, – embora um objeto genérico; isso porque exige um pensamento sim-discriminativo com relação ao objeto escolhido e seus elementos componentes, em contraposição a um pensamento indefinido porque não-discriminativo com relação a qualquer objeto como é (sim, é, porque ainda agora, muito usado entre nós) o pensamento terra1 – como diz Forbes, voltado aos transcendentais natureza, deuses, razão.
Na filosofia de Michel Foucault, pensando em David Ricardo na economia política, Franz Bopp na Filologia, Georges Cuvier na Biologia, o pensamento volta-se para o impensado em vez de para o intangível.
“Instaura-se
uma forma de reflexão,
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.Isso tem duas conseqüências.”
(…)
“A outra consequência é positiva.
Concerne à relação
do homem
com o impensado,
ou mais exatamente,
ao seu aparecimento gêmeo
na cultura ocidental.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado
Veja a forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura quando mudança como essa foi realizada:
A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault
Essa mudança no modo de organização do pensamento aconteceu, segundo Foucault, entre 1775 e 1825, nos cinquenta anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX (vinte e cinto anos para cada lado). Grosso modo há dois séculos; mudança bem mais recente do que os 28 séculos atrás em que Forbes posiciona o evento marcador antecedente da revolução que aponta também nos laços sociais.
Trata-se de uma mudança com a seguinte natureza:
A primeira consequência evidente é que não é mais possível modelar operações, empresariais ou outras, usando a metáfora da transformação única de Entradas ⇒ Saídas ou do processamento de informações sobre a estrutura Input-Output cujo sistema é relativo, de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si. Veja que o elemento central desse modelo, Processo, tem a natureza de um verbo, e note que há dois conceitos para o que seja um verbo, e esse de um sistema relativo, etc. etc. é o primeiro que transcrevo a seguir.
“A única coisa que o verbo afirma, é a coexistência de duas representações; por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte. É por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 4 – Falar; tópico III. A teoria do verbo
A segunda consequência é que partindo do conhecimento de que usualmente operações são modeladas sobre a estrutura Input-Output, e isso não é mais adequado, é preciso encontrar um outro padrão, um outro modelo. Isso é necessário para que operações em organizações reais sejam modeladas convenientemente.
E esse outro modelo é consistente não mais com o pensamento de Adam Smith (Processo, estrutura Input-Output) mas sobre o pensamento de David Ricardo e seu Principio Dual de Trabalho, cujo elemento central é o ‘savoir faire’ ou a forma de fazer, com o nome de Forma de produção.
Veja as seguintes páginas, comparando:
Modelos construídos dentro desse padrão:
Veja, o que gera uma vacina para o Sars-Cov-2 é uma operação na qual o pensamento do cientista que, tendo em vista os aspectos ainda impensados, porque não pensados, desse vírus, desencadeia uma operação no seguinte formato:
Essa operação científica considera entre outras coisas o que a ciência sabe sobre vírus em geral e o Sars-Cov-2 em particular.
Tangibilidade ou intangibilidade são qualidades, aparências, ou propriedades não-originais e não-constitutivas desse vírus. O impensado, ao contrário, toma o objeto dessa operação de conhecimento por inteiro, mesmo que de início, não haja qualquer propriedade sejam as não-originais e não-constitutivas sejam as sim-originais e sim-constitutivas.
O interesse da ciência é pelas propriedades sim-originais e sim-constitutivas desse vírus, que são essas que podem levar a conquistas como por exemplo, uma vacina. E encontrar esse conjunto de propriedades é o que converte o impensado em representação.
Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura no pensamento filosófico de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,’ o ser do homem’ não se dirige ao intangível!
Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.
Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)
Ao contrário do impensado, que mediante articulação feita pelo pensamento e patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação (e a vacina!), o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.
Há uma confusão entre os vocábulos intangível e impensado.
Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em
Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.
Veja em imagens
que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.
Esse título faz alusão a uma revolução nos laços sociais única – pelo seu tamanho, porque a maior – nos últimos 2800 anos. E nos laços sociais.
Volto ao redirecionamento da ‘harmonia do homem’ desde os transcendentais natureza, deuses, razão, para o intangível como diz Forbes. Se o argumento que fiz acima, a substituição do ‘intangível‘ pelo ‘impensado‘ for aceito – ao menos para efeito deste texto, essa revolução a que o título alude já ocorreu, e há exatos 203 anos. E teve exatamente a mesma intenção, atingiu ‘os laços sociais’ e todas as áreas do conhecimento humano. E mais, marcou a entrada de nada mais nada menos do que o homem em nossa cultura.
Não foi pouca coisa.
Esse título, com a afirmativa nele expressa, parece conter em seu significado, um descarte histórico desse evento que tem, na avaliação de Michel Foucault, o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento; e um desconhecimento do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade, em nossa cultura em tempo muito mais próximo de nós que os 28 séculos.
Gostaria que Jorge Forbes relesse sobre isso na minha Cartilha – o livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, desse autor.
Forbes alude a um movimento do pensamento que parte dos transcendentais natureza, deuses, razão e chega ao intangível.
Foucault fala de um outro movimento que identifica modelos feitos por um pensamento postado AQUÉM do objeto – referido à Ordem arbitrariamente escolhida em que vige um sistema de categorias, para por um pensamento DIANTE do objeto no qual a ordem é dada pelas regras da gramática da língua usada, e chega a um pensamento para ALÉM do objeto em que encontramos constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, e não múltiplas categorias mas três somente: função-norma; conflito-regra, significação-sistema.
Tendo em mente especificamente a mudança proposta por Forbes para um pensamento voltado a um objeto ‘intangível’, e tendo consciência de que isso resulta em um certo esforço do pensamento e além disso, um pensamento organizado por esse objeto ‘intangível’ escolhido, exatamente essa alteração – modelos organizados pelo objeto – aconteceu em nossa cultura em um espaço de tempo muito menor, pouco mais de dois séculos atrás em vez dos 28 séculos mencionados por Forbes.
Nesse meio tempo, e por falar não em revoluções mas em descontinuidades epistemológicas em nossa cultura, podemos ver esse evento em nossa cultura na página seguinte.
Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825,
Essa mudança no pensamento exigiu uma forma de reflexão também nova. Segundo Michel Foucault, essa mudança ocorreu em um movimento do pensamento muito mais recente e importante que surgiu em momento muito mais próximo do nosso tempo. Veja essa forma de reflexão associada a uma imagem para o conceito, que torna aparentes os elementos de imagem utilizados, a estrutura que ocupam e os relacionamentos que estabelecem.
A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault
E os efeitos de tal movimentação das positividades umas em relação às outras pode ser constatado nas produções do pensamento efetivamente feitas e utilizadas em teorias, modelos e sistemas existentes e muito utilizados. Essa mudança não ficou apenas no pensamento teórico mas atingiu a prática, embora não tenha sido avaliada de maneira alinhada com o pensamento filosófico.
A página a seguir mostra:
Esse título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer “– Esqueça o que você sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo está errado” trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e há, a denúncia, como se atual fosse, de uma revolução já ocorrida em passado nem tão remoto. Em termos históricos, foi ontem.
A Cartilha mostra como e por que isso é verdade.
Se estou entendendo o que ele chama de ‘época anterior’, ou terra1 isso já tem um nome: idade clássica ou pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1.
Usando ‘pensamento filosófico clássico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse período – a virada dos séculos XVIII para o XIX, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc. E usando a contraparte ‘pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamará de terra2 igualmente sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relações com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.
“Me incomoda a noção de norma no sentido de que você sai de um laço social
estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado,
que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1.
Eu chamo de terra1 toda organização, todo laço social vertical – independente do que esteja, na verticalidade, no ponto da transcendência, esteja (como esteve durante muitos séculos) primeiro a natureza, depois os deuses, depois a razão. As transcendências mudam mas a estrutura arquitetônica arquitetural vertical se manteve. Então eu entendo que há uma revolução monumental neste momento, sobre 2800 anos de história, em que nós saímos de uma forma de nos comportarmos verticalmente e temos a chance de nos comportarmos horizontalmente; o que implica em que nós temos a chance de viver num laço social flexível, criativo, múltiplo, responsável, – responsável antepõe responsabilidade e disciplina – (…) Então você tem um laço social de características, como eu disse,
colaborativo, múltiplo, reticular, flexível, criativo, [responsável];
e eu acho que o interessante quando nós sairmos dessa pandemia, é nós guardarmos um aspecto dela, que é a relação do homem com o intangível.
” Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.
Neste comentário, faço uso, claro, do meu particular e pessoal entendimento do pensamento de Michel Foucault, e afirmo:
1. que no que Forbes chama terra2 – (entendido como a configuração moderna do pensamento, o de depois de 1825, como aquilo que sucede e substitui, se opondo, ao pensamento ‘anterior’), ‘hierarquia’ é uma estrutura intrínseca e inseparável do resultado de uma operação de construção de representação nova, porque é uma estrutura ligada ao resultado (uma representação) dessa operação sempre organizada pelo par sujeito-objeto, com princípios organizadores Analogia e Sucessão e com os métodos Análise e Síntese;
e no entanto a qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento em terra1 (entendido agora como o pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, o que Forbes chama de ‘anterior’).
Dado que no pensamento clássico não existem as noções de objeto (noção à qual a ideia de hierarquia está ligada em um modelo de operações) e de sujeito (homem), essa qualidade atribuída a terra1 deve estar referida a outra coisa que mereça esse atributo, mas que não está clara no texto, e valeria a pena esclarecer o que seja que tem essa qualidade.
norma é um dos modelo constituintes das ciências humanas que juntamente com função, compõe o par constituinte da ciência da Vida, a Biologia no período moderno do pensamento e no segmento do espectro de modelos para ALÉM do objeto.
há outros dois pares de modelos constituintes no modelo constituinte padrão, genérico para todas as ciências humanas, a saber
A descrição feita por Michel Foucault desse modelo constituinte padrão e genérico, composto dos pares constituintes das ciências que habitam a região epistemológica fundamental, e o eixo vertical do Triedro dos saberes:
acaba sendo quase que um manual para formulação de teorias, modelos e sistemas nesse campo, e por isso faço este comentário.
Portanto este comentário vai a seguir em dois pontos:
1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2;
e 2. Quanto ao incômodo com a ‘norma’
1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2
Note que as características tanto em terra1 quanto em terra2 são dadas no excerto acima, e nos dois casos, por qualidades dos laços sociais.
Tomando terra1 como sendo a configuração do pensamento filosófico no período clássico, nesse período o pensamento funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as aparências, estas, qualidades. Para o pensamento assim configurado não existem a noção de homem como ser capaz de desempenhar uma duplicidade de papéis, e a noção de objeto.
O elenco de qualidades atribuídas ao laço social – estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado – pode ser objeto de reflexão interessante.
A qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento terra1 que eu, aqui, presumo que se refira ao pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo Foucault.
Tomando posição em terra2, que eu presumo referir-se ao pensamento moderno, o de depois de 1825 segundo Foucault, essa qualidade ‘hierárquico’ seria dada por uma estrutura de conformação definida no objeto, uma hierarquia.
Enfatizando, no pensamento moderno os princípios organizadores de uma operação no caminho da Construção de representação nova são Analogia e Sucessão com os métodos Análise e Síntese.
“De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,
a Analogia e a Sucessão:
de uma organização a outra,
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vários elementos,
mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; (…)
Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história
Tomemos (ainda posicionados em terra2!) um ‘impensado’ em Foucault ou um ‘intangível’ em Forbes; não existe representação para isso – ou não seria um impensado ou um intangível no domínio de trabalho. Por isso, se for feita a decisão de resolver essa situação de intangibilidade ou não representatividade, esse ‘impensado’ será objeto em uma operação de construção de uma representação.
O pensamento converte o impensado em representação.
Aquilo que antes dessa operação era o ‘impensado‘ de Foucault, depois dessa operação de construção de representação nova – conduzida em cada etapa pelo sujeito – nada mais será do que um pacote logicamente organizado de objetos análogos ao impensado e seus aspectos, objetos esses adotados em seu conjunto como substitutivos – dentro de certos critérios de aceitação – daquele ‘impensado’ para o qual não havia representação no espaço no qual a operação acontece.
O princípio organizador do pensamento Analogia estabelece relações de analogia das quais surgem objetos análogos ao impensado mais representáveis. Usando como diz Foucault ‘a sintaxe que autoriza a construção das frases’, esse objeto análogo é arrastado para o modelo de operações construído segundo as regras da linguagem por meio de uma proposição na qual o homem é sujeito, e o predicado do sujeito é composto por um verbo – a forma de produção, e um atributo, o objeto análogo que acaba de ser criado na relação de analogia. Agora cada um desses objetos análogos são testados quanto às respectivas possibilidades de representação nesse espaço em que a operação acontece. Caso necessário, o método Análise entra em cena e quebra cada objeto análogo eventualmente ainda não representável em outros objetos análogos mais próximos de suas respectivas possibilidades de representação nesse espaço; e o método Síntese garante que o objeto análogo inicial ainda pode ser composto pelo conjunto de objetos análogos resultantes da Análise.
Aí entra o princípio organizador Sucessão. Usando como diz Foucault ‘aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas ao lado e em frente umas das outra, as palavras e as coisas‘, a Sucessão posiciona ao lado, ou em frente uns dos outros, os objetos análogos criados em substituição ao objeto análogo não representável, estabelecendo entre eles relações lógicas – de sucessão.
Você pode ver isso em uma animação nesta página, sob DIANTE do objeto. Se necessário, posso dar mais detalhes sobre como isso funciona.
Nota: essa descrição do funcionamento de uma operação de construção de representação para algo antes impensado não explica suficientemente o ‘laço social’, mas podemos chegar lá.
Continuando. Assim, supondo que terra2 seja de fato o que eu estou pensando que é, o pensamento filosófico moderno – o de depois de 1825, como diz Foucault ‘aquele [pensamento] com o qual queiramos ou não, pensamos‘, então, hierárquico é uma qualidade intrínseca a esse tipo de pensamento, terra2, desde que entendido como referente ao objeto. Como humanos não nos é possível construir representação para qualquer ‘impensado’ sem que o resultado seja um objeto expresso por uma representação com uma estrutura em hierarquia.
Fechando o longo parênteses, e voltando ao ponto, supondo que terra1 seja de fato o que penso que é, – o pensamento filosófico clássico.
Em assim sendo, a noção de impensado cuja representação é construída pelo pensamento, nesse tipo de pensamento, não existe. Porque não existe a noção de objeto e também não existe a noção de sujeito da operação, como o homem, que seria capaz de construir representação nova. O homem está fora da paleta de ideias no pensamento clássico. ‘Antes do final do século XVIII o homem não existe em nossa cultura. Não mais do que um gênero, ou uma espécie’ é o que nos alerta Foucault.
Logo, nesse tipo de pensamento, sem a noção de objeto prima irmã da noção de hierarquia, a qualidade ‘hierárquico’ deve referir-se a outra coisa que não o objeto. Então o que é danoso, prejudicial, e justifica mudanças é essa outra coisa que está associada a essa qualidade ‘hierárquico’, e que vista mais de perto, não pertence a esse pensamento.
E essa coisa não é declarada por Forbes, o que poderia gerar confusão.
Mas a palavra hierarquia é muito usada, e mesmo em terra1; as organizações foram bem ou mal se organizando e apresentando problemas. Sem atentar para que tipo de pensamento estavam usando. E aí, por diferentes razões, alguns autores passaram a demonizar a organização hierárquica sem dizer especificamente o que estavam demonizando. Isso sem noção de que a estrutura hierárquica é inerente, indissociável, ao pensamento moderno, e às operações que transcorrem organizadas sob essa configuração do pensamento.
Então, se estou sendo entendido, hierárquico em terra1, nada tem, nem pode ter, a ver com o objeto de operações sob o pensamento moderno que terminam construindo representações novas. E o pensamento voltado para o ‘intangível’ de Forbes ou ‘impensado’ de Foucault não pára de pé sem o objeto e sem o sujeito; e portanto necessariamente com a qualidade ‘hierárquico’ que em Forbes está posta em terra1.
Pode haver confusão aí, demonizando a hierarquia, o que, em se tratando de pensamento moderno (terra2) em qualquer caso, é na verdade é uma missão impossível.
Obviamente não sei como essa qualidade afeta o laço social descrito por Forbes, mas posso ver com alguma clareza como essa qualidade afeta a estrutura do pensamento nas operações sob o pensamento filosófico moderno, no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. E a hierarquia é característica integrante e indissociável do resultado nessa configuração do pensamento, arrastada para a representação (projeto) decorrente do referencial, dos princípios organizadores e dos métodos utilizados em um pensamento orientado pelo par sujeito-objeto.
Veja isso na seguinte página
Não se ganha nada ao retirar a qualidade hierárquica da estrutura inerente à construção de representação nova (projeto); ao contrário perde-se muito, essa tentativa empobrece a visão da operação, oblitera o funcionamento das duas sintaxes da língua usada para modelar operações; por essas razões, mas acima de tudo, essa parece ser uma missão impossível. A estrutura hierárquica da operação da qual resulta uma representação nova é resultado do perfil de configuração do pensamento.
2. Quanto ao incômodo de Forbes com a ‘norma’
Quanto ao incômodo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo à Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’, que me permite uma visão de conjunto muito mais completa e útil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domínio das ciências humanas.
A ‘norma‘ que incomoda Forbes, é a expressão de uma convenção, um acordo feito para atender às condições requeridas por uma ‘função‘; esse acordo, essa convenção, visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, e o compartilhamento dessa ‘norma‘ isto é, da solução conseguida e convencionada para a obtenção prática dessa ‘função’.
Vale a pena examinar, usando o pensamento de Michel Foucault, o que se configura quase como
Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domínio das ciências humanas
em três tempos:
examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:
“Assim, estes três pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.” Cartilha; Cap. 10 – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes
Esse excerto da Cartilha dá-nos conta de que esses três pares de modelos constituintes, das ciências
estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a análise da produção. Essas três ciências compõem, segundo Foucault, a região epistemológica fundamental.
Forbes supostamente está analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, está elaborando bem no campo de uma ciência humana. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual
Isso evidencia que esse incômodo de Forbes com a ‘norma‘ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laços sociais porque estes estão afetos,
mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais:
É claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirável do espaço dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto.
Mas por que exatamente faríamos isso?
Um
A frase citada por Forbes:
“Freud explica ⇒ Freud implica:
no ‘explica’ você tem um saber anterior ao ato;
no ‘implica’ você tem um ato anterior ao saber.”
Implica vem do verbo implicar. O mesmo que: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde.
Expressar desdém, deboche, zombaria; hostilizar: ele implica com seu irmão constantemente; implicava-se com o vizinho.
Obter como resultado, efeito ou consequência; originar: a devolução do imóvel implica multa.
Fazer com que algo se torne necessário; requerer: o trabalho não implica sua participação.
Implica é sinônimo de: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde
Implica é antônimo de: desimplica
verbo transitivo diretoFazer com que fique claro e compreensível; descomplicar uma ambiguidade: explicar um mistério.Ser a causa de: a desgraça explica sua amargura.Conseguir interpretar o significado de: explicar um texto irônico.verbo transitivo direto e bitransitivoFazer com que alguma coisa seja entendida; explanar: explicar uma teoria; explicar a matéria aos alunos.verbo transitivo direto e pronominalProvidenciar uma justificativa ou desculpa; desculpar-se: preciso explicar meu comportamento; o presidente explicou-se ao povo.Manifestar-se através das palavras; exprimir-se: explicar uma paixão; explicou-se numa linguagem bem popular.Etimologia (origem da palavra explicar). Do latim explicare.
Explicar é sinônimo de: lecionar, pontificar, adestrar, amestrar, doutrinar, educar, ensinar, formar, instruir
Explicar é o contrário de: obscurecer, complicar
É bem implicante o leque de significados das palavras ‘explica’ e ‘implica’. Implica pode significar até confunde! mas é também ‘origina’.
Implica é origina, requer. Explicar é formar, instruir. Complicar, é antônimo de explicar.
Etimologicamente complicar é dobrar junto; implicar é entrelaçar, juntar, reunir. Muito próximos os significados, não?
Essa relação de sucessão ou de precedência entre ato e conhecimento tem bastante mais a ver com:
do que propriamente com o significado escolhido para essas duas palavras.
Se assim for, é melhor declarar explicitamente quais são as condições de possibilidade do pensamento selecionadas, e qual a natureza da operação em que estamos pensando, se de construção de representação nova, se de instanciamento de representação anteriormente existente.
Além disso, dependendo dessa natureza da operação, a operação pode acomodar-se, desde logo, a uma configuração do pensamento clássico, anterior a 1775, ou a uma configuração do pensamento moderno, o de depois de 1825.
Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Foucault: Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825. saber anterior ao ato ato anterior ao saber saber anterior ao ato
os pensamentos clássico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)
Muito diferentes, uma da outra, se atentarmos ao pensamento de Foucault. Você pode ver essas diferenças aqui. Isso, se o modo de ser do pensamento não for explicitado onde e quando devido.
Esta argumentação tem como pano de fundo o pensamento de Foucault. E a frase acima é a expressão de um pensamento atual tal como ele aflora. Vale, portanto, rever como Foucault avaliava o pensamento em geral, tal como aflorava durante o seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’, em 1966, o que, pelo que vejo, não mudou.
Veja Os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho.
usando essa citação de modo mais restrito, Foucault via um pensamento contaminado, nas palavras dele, ‘dominado’ por um pensamento de idade anterior. Ele via um pensamento ‘dominado pela impossibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto) no espaço da representação’.
Nessa frase acima, eu vejo esse mesmo tipo de contaminação, que gera uma dubiedade, que queremos levantar com a ajuda do mestre, Michel Foucault.
Para a situação sugerida no caso do ‘implica’ no lado direito da frase – um ato anterior ao saber -, a configuração do pensamento deve, necessariamente, permitir a geração de saber novo (ser capaz de fundar as sínteses no espaço da representação); deve portanto permitir a construção de representação nova para o objeto do ato, ou da operação.
Essa possibilidade – inerente ao proposto no lado direito da frase -, é privativa do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Mas só ocorre quando o ‘Freud’ da frase estiver com um pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno, e na etapa da Construção da representação. O mesmo ‘Freud’, no pensamento moderno, mas na etapa de Instanciamento de representação relativa a saber anteriormente obtido, estará diante de um saber anterior ao ato.
O pensamento clássico, em suas teorias, modelos e sistemas, não permite construção de representação nova (porque era marcado pela impossibilidade de fundar as sínteses …, esse o obstáculo vislumbrado por Foucault); no pensamento clássico tudo o que existe está lá desde sempre e para sempre, e por obra de Deus compondo o Universo.
Para a situação sugerida no ‘Explica”, o lado direito da frase – saber anterior ao ato – nessa perspectiva do pensamento de Foucault, gera uma dubiedade que só pode ser resolvida tendo presentes, em detalhe, como são as operações as que sim, podem, e as que não podem ‘fundar as sínteses no espaço da representação’. Sem discernimento, o pensamento fica ‘dominado’ porque pode estar imerso no perfil do pensamento clássico, ou no perfil do pensamento moderno, mas no caminho do Instanciamento da representação.
Pensando nessas relações de precedência ou sucessão entre ato e saber, e nas operações em suas possíveis etapas, suas configurações e perfis ou estruturas de conceitos sobre os quais são concebidas, não há razão para que essa frase se restrinja a Freud. Poderia ser qualquer outro sujeito. Mas se levarmos em conta a menção especificamente a Freud, ela arrasta para a frase o modo de ser do pensamento desse grande autor, classificado por Michel Foucault como um pensador moderno, com estrutura de pensamento daquela configuração de pensamento de depois de 1825.
Dado esse conjunto de significados em comum, esses dois conceitos ‘Explica‘ e ‘Implica‘ e essas relações de precedência ou de sucessão entre ato e saber me fazem lembrar do pensamento de Humberto Maturana, que pode ser visto em uma animação de menos de 4 minutos, na seguinte página;
Essa Figura 2 é original de Maturana (apenas a arte foi editada – os elementos gráficos que representam as ideias foram modificados) mas em vez de usar dois rótulos como explica e implica, Maturana usa um pensamento no qual emprega duas formas para o mesmo rótulo ‘Explicar’, com diferentes significados correspondentes á mudança que está discutindo:
(saber anterior ao ato, ou o ‘Explica’ no lado esquerdo da frase)
(saber posterior ao ato, ou o ‘Implica’ do lado direito da frase)
Nesse pensamento, no original de Maturana, ele atribui pressupostos para o tipo de pensamento desenvolvido em cada lado da figura:
e reflete o saber anterior ao ato (operação)
e reflete o saber posterior ao ato (operação)
Usando agora o pensamento de Michel Foucault. Veja, por favor, e novamente, as páginas seguintes com animações que colocam palavras de Foucault sobre paletas de elementos de imagem e respectivas estruturas:
primeiro, a operação de construção de representação nova (projeto) sob o pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno:
Funcionamento das operações (…) operação Diante do objeto
e depois, veja a página
Resumidamente – e para facilitar – os dois perfis ou estruturas de conceitos, são:
Examinando os dois perfis característicos das duas configurações do pensamento, vê-se que:
(Aviso: é melhor examinar primeiro o perfil do pensamento moderno, com suas capacidades de tratar propriedades originais e constitutivas e depois o perfil do pensamento clássico)
Nota: não se trata de afirmar que na idade clássica não se produzia representações novas; mas dizer que as teorias, modelos e sistemas sob essa configuração do pensamento não abrangiam a etapa de construção de representações novas.
Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação nova (projeto) para uma empiricidade objeto, com um pensamento configurado de acordo com o pensamento moderno, o de depois de 1825 – uma vez que a configuração do pensamento anterior, o clássico, não pode construir novas representações.
Fica claro – entendida essa sistemática de funcionamento – que no pensamento moderno, e na etapa de construção de saber novo, (caminho da Construção da representação)
Como reza a frase no lado direito, sim, tem-se um ato anterior ao saber, mas… somente no caso do pensamento moderno, e no caminho da Construção da representação. Porém, estando no mesmo lado direito, e também no pensamento moderno, se estivermos no caminho do Instanciamento de representação previamente existente – o que mais acontece em situações de realidade – a situação se inverte, e teremos um saber anterior ao ato, como no caso anterior do pensamento clássico.
Dado que a possibilidade de saber novo só acontece com um pensamento configurado com o perfil característico do pensamento moderno, essa frase (de efeito) depende de quais sejam as visões de operações adotadas (o ato) em qual etapa da operação e de qual configuração do pensamento.
A relação de precedência ou de sucessão entre o ato e o saber é essencial nessa frase e podemos deixar de lado, e em segundo plano, os nomes ‘explica‘ e ‘implica‘.
Essa relação de sucessão corresponde ao que ocorre nas operações sob as configurações do pensamento clássico e moderno da seguinte forma:
Então, para que a frase faça algum sentido, é necessário atentar qual seja o perfil de configuração do pensamento diferente, e em qualquer caso, uma visão clara do que sejam operações, em cada lado da seta que está no meio dessa frase:
Até agora Freud entrou nessa frase como Pilatos no credo.
E essa referência a Freud nessa frase também cria mais problemas, desde que usemos o pensamento de Michel Foucault.
Segundo Foucault, Freud é um pensador moderno.
Logo, ele teria noção dos modelos de operações no pensamento moderno; e também os do pensamento clássico, se não, não teria escolhido pensar com o missal do pensamento moderno.
E assim, todas as opções condicionadas ao pensamento clássico acima deixam de valer no caso de Freud.
Então, o pensador moderno Freud
O comportamento do pensador moderno Freud não é função do nome dado à operação, se ‘explica’ ou se ‘implica’, mas o que a operação pretende com respeito ao seu objeto e o estado em que se encontra esse objeto no ambiente em que a operação acontece – já existe ou ainda não existe representação para ele nesse ambiente.
Então um ato de ‘explicar’ de Freud pode não ter um saber anterior; o que contradiz a frase no lado esquerdo. E também o estabelecimento de uma implicação dele pode ter um saber anterior, o que contraditaria o lado direito da frase.
Mostramos isso no Funcionamento de operações, e um ato (operação) desse tipo preenche a etapa de Instanciamento de representações anteriormente construídas.
Os pontos comentados são os seguintes:
e as duas correspondentes origens da essência da linguagem e do valor carregado pela proposição para a representação.
Comentários
1. Tendo como referência o pensamento de Michel Foucault, não há dúvida de que Freud foi um pensador moderno; assim, o movimento que teria sido feito por Lacan desde uma psicanálise de Freud, com base na representação para uma outra, de Lacan, fora da representação pode não ter sido possível uma vez que a psicanálise de Freud já tinha sua base fora da representação.
2. Teorias, modelos e sistemas, como produções do pensamento, transcorrem sempre com a presença de uma linguagem; o veículo de carregamento de valor é sempre a proposição e o destino do valor carregado é sempre a representação. A questão parece ser, então, a origem – se interna ou externa à linguagem – do valor atribuído à proposição.
3. A alteração de uma origem de valor interna à linguagem para uma externa à linguagem implica em uma mudança no modo de conhecer o que dizemos que conhecemos, uma mudança epistemológica.
Seguem comentários em tópicos:
A descrição feita por Michel Foucault da psicanálise de Freud dá-nos conta ser Freud um pensador moderno.
Em nossa Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’) Foucault não hesita em classificar Freud como um autor moderno, e caracteriza o pensamento clássico como ‘aquele para o qual a representação existe’.
No livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 10 – As Ciências humanas; tópico V – Psicanálise e etnologia, de Michel Foucault, encontramos subsídios para afirmar que o autor discorda frontalmente dessa afirmativa de que a psicanálise de Freud tivesse suas bases na representação; nesse texto Foucault mostra que, ao contrário, o pensamento de Freud já tem suas bases fora da representação; e expõe como e por que ele faz esse juízo mostrando o funcionamento da psicanálise – tendo como elemento organizador dessa argumentação o modelo constituinte padrão, comum a todas ciências humanas por ele desenvolvido nesse livro, um modelo composto pelos pares de modelos constituintes das ciências da Vida (Biologia) [função-norma]; do Trabalho (Economia) [conflito-regra]; da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].
“Não há que supor que o empenho freudiano
seja o componente de uma interpretação do sentido
e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;
seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
a psicanálise se encaminha em direção ao momento
– inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem,
a toda apreensão contínua em termos de significação, de conflito ou de função
– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
ao contrário das ciências humanas que, retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
permanecem sempre no espaço do representável,
a psicanálise avança para transpor a representação,
extravasá-la do lado da finitude e fazer assim surgir, lá onde se esperavam
- as funções portadoras de suas normas,
- os conflitos carregados de regras
- e as significações formando sistema,
o fato nu de que
- pode haver sistema (portanto, significação),
- regra (portanto, oposição),
- norma (portanto, função).
E, nessa região onde a representação fica em suspenso,
à margem dela mesma,
aberta, de certo modo ao fechamento da finitude,
desenham-se as três figuras pelas quais
- a vida, com suas funções e suas normas,
vem fundar-se na repetição muda da Morte,
- os conflitos e as regras,
na abertura desnudada do Desejo,
- as significações e os sistemas,
numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia
e especial destaque para o modo como Foucault vê que isso é interpretado:
Sabe-se como psicólogos e filósofos
denominaram tudo isso:mitologia freudiana.
Era realmente necessário
que este empenho de Freud
assim lhes parecesse;para um saber que se aloja no representável,
aquilo que margeia e define, em direção ao exterior,
a possibilidade mesma da representação
não pode ser senão mitologia.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia
Isso permite pensar que a razão de ser da psicanálise de Lacan, encontre seu fundamento em outro movimento de pensamento feito por ele, porque a psicanálise de Freud já estava formulada desde fora da representação.
Em que consiste, então, a contribuição feita por Lacan?
Lembrando os obstáculos percebidos por Foucault em seu trabalho, uma impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, arriscaria dizer que a contribuição de Lacan foi formular uma psicanálise para além do objeto.
Essas duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ situam-se de lados opostos em relação à descontinuidade epistemológica posicionada por Michel Foucault como tendo ocorrido entre 1775 e 1825. Isso colocaria uma produção do pensamento baseada na representação do lado oposto a uma outra, baseada desde fora da representação. (O movimento de pensamento que o vídeo informa ter sido feito por Lacan com relação a Freud.
Podemos ver isso sob o ponto de vista das alterações na própria linguagem em decorrência da visão que temos do fenômeno ‘operações’ de pensamento ou outra, e de acordo com as explicações de Michel Foucault:
Esse link mostra uma figura com a visão ampla do que entendemos como o fenômeno ‘operações’ com representações, incluindo as operações de troca, mostrando os dois pontos nos quais podemos inserir o início da leitura que fazemos desse fenômeno:
A página mostra:
A proposição é o bloco construtivo padrão fundamental para construção de representações.
“A proposição é para a linguagem
o que a representação é para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar
porquanto, desde que a decomponhamos,
não encontraremos mais o discurso,
mas seus elementos como tantos materiais dispersos.”
As palavras e as coisas; Cap. 4 – Falar; tópico III – Teoria do verbo
A representação carregada de valor como condição para que uma coisa possa representar outra em uma operação de troca.
(…) “Em outras palavras, para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam já carregadas de valor;
e, contudo, o valor só existe no interior da representação.”
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor
Antes de mais nada, muda a abrangência da visão que temos do que seja uma operação, em decorrência do ponto de inserção do início de leitura que fazemos desse fenômeno. Há duas possibilidades de inserção desse ponto de início de leitura de operações:
A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação é nos dois casos, a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.
No primeiro caso o valor é carregado na proposição diretamente. Aliás, a proposição já chega carregada de valor.
No segundo caso, o valor chega à proposição no bojo de uma operação de construção da representação para o objeto ainda não disponível. Isso em outras palavras quer dizer durante o projeto desse objeto. E as fontes de valor neste caso são
A citação acima prossegue da seguinte forma:
(…) “o valor só existe no interior da representação
atual [representação do objeto envolvido na troca já existente]
ou possível [objeto cuja representação foi construída quando no teste de permutabilidade]
isto é, no interior
da troca [objetos envolvidos na operação de troca já existentes]
ou da permutabilidade [a prospecção da possibilidade da troca com a construção da representação do objeto a ser levado ao circuito das trocas, se possível]”
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor
“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:
A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
toda a essência da linguagem no interior da proposição;
e a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem
Veja, por favor, o funcionamento das operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775 e o moderno, depois de 1825 em
Podemos ver, do entendimento de como se desenvolvem as operações em um caso e em outro, a correspondência bastante estreita entre as explicações dadas por Foucault na citação acima.
Veja também os dois conceitos para o que seja um verbo, e identifique o verbo envolvido no primeiro caso em que a atribuição de valor é assegurada diretamente por ele; e o verbo no segundo caso, em outra configuração da linguagem na qual o valor atribuído à representação via a proposição, tem origem fora da linguagem nas designações primitivas e na linguagem de ação ou de uso.
Há, aparentemente, uma contradição entre os dois vídeos do Canal Falando nisso, os de números 150 e 254.
No vídeo 150 há a percepção de que efetivamente existem produções do pensamento – teorias, modelos e sistemas, baseados na representação, e outras, baseadas fora da representação; e esse é um movimento de pensamento importante – nada mais nada menos do que uma descontinuidade epistemológica segundo o pensamento de Foucault,
Embora segundo o pensamento de Michel Foucault a psicanálise de Freud já tivesse suas bases fora da representação, mas uma mudança de bases como essa sem dúvida significaria uma alteração epistemológica.
Evento dessa mesma natureza, uma descontinuidade epistemológica, também aconteceu para as produções do pensamento associadas ao liberalismo e neoliberalismo, no período histórico abrangido pelo vídeo 254 . Isso está relatado em bastantes detalhes por Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, e é inerente ao estilo de arqueologia adotado nesse livro.
Mas esse movimento do pensamento deixa de ser considerado para as teorias, modelos e sistemas ligados ao Liberalismo e Neoliberalismo nos questionamentos feitos no vídeo 254 – ‘Neoliberalismo e sofrimento’. Isso leva a crer que a natureza dessa mudança de embasamento desde na representação para fora dela foi tratada, no vídeo 150, não como uma questão constituinte, mas como uma
Enquanto no vídeo 150 os modelos estão predominantemente no domínio da Linguagem, no liberalismo e variações, estão no domínio das ciências do Trabalho (Economia).qualidade apenas.
Veja nesta página
exatamente essa mudança de bases.
Entre esses dois pensadores há uma diferença na visão do que sejam operações avaliável pela amplitude da visão do fenômeno ‘operação’ entre esses dois princípios para trabalho. Na parte inferior da página que o link acima dá acesso, a explicação dada por Foucault deixa bem clara essa diferença de amplitude na visão de ‘operações’.
David Ricardo inclui, em seu Princípio Dual de Trabalho, de 1817, também a etapa da construção de representação nova enquanto que Adam Smith não faz isso.
Essa alteração na inserção do ponto de início do fenômeno ‘operações’ altera o modo como uma operação é vista e implica em uma reconfiguração da linguagem no que ela tem de essencial: o modo como a proposição é formada, e como o valor carregado na proposição é levado por esta para a representação.
Isso pode ser visto em
As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’
e também na argumentação abaixo.
Havia uma confusão em Adam Smith, que consistia em estabelecer uma assimilação entre:
Essa assimilação, feita em Adam Smith, passa a ser em Ricardo uma distinção entre:
distinção essa que, segundo Foucault, foi feita, pela primeira vez, e de forma radical, pelo pensamento de David Ricardo, em nossa cultura; e isso implica em uma expansão da visão do fenômeno ‘operações’.
Vista desse modo,
pode ficar difícil perceber que essa mesma alteração feita em Ricardo na economia, é a mesma que Lacan teria feito na sua psicanálise;
Seria necessário perceber que com o termo ‘atividade de produção’ compreende-se a produção de algo ainda inexistente o que alarga a visão de operações para o caminho da Construção de representação nova; mas encaixando essas duas coisas em uma visão ampla do que sejam operações, de todos os tipos, obtida entre outros lugares na descrição de Foucault sobre as duas configurações da linguagem,
vê-se que os dois movimentos – o de Ricardo em relação a Smith e o de Lacan em relação supostamente a Freud, são idênticos quanto a suas bases no pensamento, porque:
E dessa forma
Os pontos comentados são os seguintes:
Clips do vídeo Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento, para comentário
Comentários
O livro ‘Nascimento da biopolítica’, de 1978-1979, sim, figura na lista de referências do vídeo 254;
A importância disso – se atentarmos para o pensamento de Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’ pode ser avaliada sob dois aspectos:
É que nesse livro o autor identifica as condições de possibilidade no pensamento de produções do pensamento ao longo do tempo e distingue dois períodos separados justamente por uma mudança epistemológica, ou uma alteração nessas condições de possibilidade do pensamento usado.
E teorias, modelos e sistemas, como construções do pensamento, foram construídas por autores imersos nos dois períodos históricos, no antes, e no depois desse evento; e as mudanças enquanto estavam sendo feitas, no durante.
Por favor veja
Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825
e depois, veja
A forma dos modelos em cada configuração do pensamento
e por favor veja ainda
Na descrição desse evento, ao qual Foucault atribui o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento, temos
Como última atenção ao que Foucault tem a dizer nesse grande livro, veja
Condições de possibilidade das ciências humanas: consciência epistemológica do homem
“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.
Não mais que a potência da vida,
a fecundidade do trabalho
ou a espessura histórica da linguagem. (…)Certamente poder-se-ia dizer que
a gramática geral, a história natural, a análise das riquezas
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem,
mas é preciso discernir.Sem dúvida, as ciências naturais –
trataram do homem
como de uma espécie ou de um gênero:
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.Mas não havia consciência epistemológica do homem como tal.
A episteme clássica se articula segundo linhas que
de modo algum isolam
o domínio próprio e específico do homem.”
Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política
porque,
na ordem do saber,
a produção não existe. “
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas
Isso é o que nos ensina a Cartilha.
Como seria uma noção denominada ‘sujeito’ cunhada por pensadores clássicos e que, portanto trataram do homem como de uma espécie ou de um gênero.
Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero?
E como seria uma psicologia sustentada por um pensamento que leve o homem nessa conta?
No pensamento de Foucault, vê-se claramente duas rupturas duas descontinuidades epistemológicas em nossa cultura:
Essa última ruptura é situada por Foucault na virada dos séculos XVIII para o XIX, e pode ser vista por este link:
A cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
em uma animação que coloca em uma imagem, o texto de Michel Foucault em ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.
Mas Adam Smith e David Ricardo pensavam de maneira bastante distinta. Podemos ver isso em
E as diferenças, explicitadas com palavras de Foucault, são muito grandes. O modo de ver o que sejam ‘operações’ é muito mais amplo em Ricardo do que em Smith, com as consequências que isso acarreta.
E existem atualmente, e entre nós, teorias, modelos e sistemas utilizados, que modelam operações dos dois modos, sem consciência epistemológica do que está envolvido nisso.
Veja isso nos links abaixo:
Essa cronologia posiciona Adam Smith e David Ricardo em lados opostos desse evento, ao qual Foucault atribui o papel de ‘evento fundador da nossa modernidade’ no pensamento.
“A partir de Ricardo, o trabalho,
desnivelado em relação à representação,
e instalando-se em uma região
onde ela não tem mais domínio,
organiza-se segundo uma causalidade que lhe é própria.”
Cartilha; Cap. 8 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico II. Ricardo
Esse movimento do pensamento que Foucault percebe em Ricardo é o mesmo movimento feito por um autor que construa sua teoria, modelo ou sistema baseado na representação.
“A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:
“Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca servem
de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem
a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),desde Ricardo,
a possibilidade da troca
está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.”
Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo
Vê-se que a amplitude da visão do que sejam operações, em David Ricardo, é muito maior se comparada à amplitude da visão de Adam Smith. Para Ricardo toda ‘aquela atividade que está na raiz do valor das coisas’, a produção, está incluída, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que não acontece em Adam Smith.
Veja novamente
Note que as diferenças nas operações, inclusive as de troca, são muito grandes no pensamento de Adam Smith e no pensamento de David Ricardo. Se consideramos os dois modelos de operações, essas diferenças são físicas. O pensamento de David Ricardo amplia sobremaneira a amplitude da visão do que sejam operações, incluindo a fase de ‘projeto’ ou de construção de representação nova.
Além disso, decorrentes das diferenças nas operações, altera-se a configuração da linguagem no antes e no depois desse evento. Muda, nas palavras de Foucault, a origem da essência da linguagem. Veja isso na página
Mesmo assim, no vídeo Falando nisso 254, e no contexto da análise da incidência do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo são tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ‘matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!
Comentários
Complexity:
the emerging science at the edge
of order and chaos,
de M. Mitchell Waldrop
1992
Os vídeos e animações (parciais) a seguir mostram duas maneiras de ver o que seja Complexidade:
A coleção de animações que se segue a esta mostra os modelos de operações:
Esses modelos de operações têm entre eles uma descontinuidade epistemológica que segundo Foucault, ocorreu em nossa cultura entre os anos de 1775 e 1825 – os 50 anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX.
Se depois da compreensão dos modelos de operações mostrados for possível concluir que
são ao fim e ao cabo a mesma ordem, teremos ajudado. E se isso acontecer, teremos um modelo de pensamento que pode substituir o modelo mecanicista ao qual Mônica se refere.
Clips desse vídeo para comentar
Comentários
para comparar o que dizem os filósofos de diferentes áreas, – e também os economistas – uns mais e outros menos voltados aos fenômenos que acontecem ao seu redor, veja os seguintes modelos de operações:
NOTA: clicando na figura da origem do valor, você tem acesso ao pensamento de Michel Foucault sobre isso.
Sobre origem do valor carregado pela proposição para a representação, nas palavras de Michel Foucault, veja a seguinte página:
com as seguintes origens de valor atribuído à proposição:
Veja ainda sobre as duas opções de atribuição de valor à proposição:
Monica de Bolle identifica entre os economistas, não ela, mas economistas como categoria, quem pense em um modelo mecanicista.
Comentários
com a licença de Augusto de Franco pelo enxerto (quase paráfrase) feito sobre o título de um de seus trabalhos.
O espírito com que estou escrevendo e pistas sugestivas de espaço para mudanças
Influências e inspirações
1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’:
uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre
textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais;
e ainda, não menos importante
2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:
objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;
3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:
a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:
Veja aqui os seguintes pontos:
Veja esses pontos a seguir:
“Ora, esta investigação arqueológica mostrou duas grandes descontinuidades na epistémê da cultura ocidental:
Por muito forte que seja a impressão que temos de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,
– toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.
Não que a razão tenha feito progressos;
Se a história natural de Tournefort, de Lineu e de Buffon tem relação com alguma coisa que não ela mesma,
Os conhecimentos chegam talvez a se engendrar; as ideias a se transformar e a agir umas sobre as outras (mas como? até o presente os historiadores não no-lo disseram);
Assim, a análise pôde mostrar a coerência que existiu, durante toda a idade clássica, entre
É esta configuração que, a partir do século XIX, muda inteiramente;
Impõe-lhes formas de ordem que são implicadas pela continuidade do tempo;
Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas,
Estranhamente, o homem – cujo conhecimento passa, a olhos ingênuos, como a mais velha busca desde Sócrates – não é, sem dúvida, nada mais que uma certa brecha na ordem das coisas, uma configuração, em todo o caso, desenhada pela disposição nova que ele assumiu recentemente no saber:
Daí nasceram todas as quimeras dos novos humanismos, todas as facilidades de uma “antropologia “, entendida como reflexão geral, meio positiva, meio filosófica, sobre o homem.
Contudo, é um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que
“Vê-se que esta investigação responde um pouco, como em eco, ao projeto de escrever uma história da loucura na idade clássica; ela tem, em relação ao tempo, as mesmas articulações, tomando como seu ponto de partida o fim do Renascimento e encontrando, também ela, na virada do século XIX; o limiar de uma modernidade de que ainda não saímos.
Enquanto, na história da loucura,
trata-se aqui
Trata-se, em suma, de uma história da semelhança:
– daquilo que, para uma cultura
é ao mesmo tempo
interior e estranho,
a ser portanto excluído
(para conjurar-lhe o perigo interior),
encerrando-o porém
(para reduzir-lhe a alteridade);
– daquilo que, para uma cultura,
é ao mesmo tempo
disperso e aparentado,
a ser portanto distinguido por marcas
e recolhido em identidades.
E se se pensar que a doença é, ao mesmo tempo,
mas também
vê-se que lugar poderia ter uma arqueologia do olhar médico.
Da experiência-limite do Outro às formas constitutivas do saber médico e, destas, à ordem das coisas e ao pensamento do Mesmo, o que se oferece à análise arqueológica
Nesse limiar apareceu pela primeira vez esta estranha figura do saber que se chama homem e que abriu um espaço próprio às ciências humanas.
Tentando trazer à luz esse profundo desnível da cultura ocidental, é a nosso solo silencioso e ingenuamente imóvel que restituímos suas rupturas, sua instabilidade, suas falhas; e é ele que se inquieta novamente sob nossos passos.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Prefácio
Veja essa história em uma animação abaixo. Esta animação relaciona o texto de Foucault com as estruturas de operações sob as duas configurações do pensamento, a do clássico, de antes de 1775, e a do moderno, depois de 1825.
Provavelmente você vai se sentir mais confortável se antes de ver esta figura, visualizar o funcionamento das operações nesses dois casos.
que pode ser vista junto com outras animações mais, nesta página:
Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio
Se quiser ver o funcionamento das operações no pensamento clássico e no moderno (usando os critérios de Foucault para essa identificação, veja a página seguinte:
Essa história está contada por Foucault no Prefácio do ‘As palavras e as coisas’, e está aqui no início desta apresentação pela ideia de sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis que podem ser associados às configurações do pensamento nos períodos de antes e de depois de um evento ao qual Foucault dá o status de ‘evento fundador da nossa modernidade’ – uma descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825 -, tendo o pensamento clássico, antes de 1775, e o moderno, depois de 1825:
Este estudo em estilo de arqueologia feito por Michel Foucault no
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’,
tem como tema:
- não propriamente produções de pensamento formuladas e configuradas,
- e ainda menos, produções do pensamento já em funcionamento – com seus sucessos e insucessos, e submetidas a possíveis desvirtuamentos;
- mas o tema inerente a esse estilo em arqueologia é quais são
- as condições de possibilidade no pensamento nas quais esta ou aquela produção do pensamento – teoria, modelo ou sistema – pode ser formulada.
Enquanto com inventividade e laivos de criatividade conseguimos criar infinidades de formulações sobre um mesmo perfil de condições de possibilidade do pensamento, que acabam muitas vezes sendo combinações lineares de formulações anteriores, mesmo com muita criatividade e toda a inventividade possível os conjuntos determinantes de condições de possibilidade não proliferam do mesmo modo.
A análise, compreensão e utilização
de produções do pensamento
– teorias, modelos e sistemas –
tomadas quando já formuladas e configuradas,
é extremamente (mais) difícil;
e ainda tanto mais o será,
se o conhecimento consciente
das respectivas condições de possibilidade
no pensamento não se verificar.
Essas dificuldades se agravarão
se a produção do pensamento objeto de análise
estiver em pleno uso em um ambiente,
influindo sobre ele – e dele recebendo influências
– que certamente incidirão sobre a análise.
O excerto da Cartilha, o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, – abaixo selecionado descreve o que é esse estudo em estilo de arqueologia realizado por Foucault, e como são as operações no antes e no depois desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento, a descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825, descrita por ele.
Você pode ver agora a nossa interpretação do que conseguimos apreender desse texto, ou primeiro ler o texto original e depois ver esta animação:
o que também pode ser visto na página seguinte:
Poderá ser útil ver também o funcionamento das operações
AVISO: tudo o que se segue neste trabalho depende da distinção estabelecida entre os dois modos de ver ‘operações’ correspondentes às duas configurações do pensamento, expressas nas animações acima
a partir do texto de Foucault abaixo.
Diz Foucault:
“A arqueologia, essa,
deve percorrer o acontecimento
segundo sua disposição manifesta;
ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
(ela analisa por exemplo,
para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome
e a importância nova dos sistemas de flexão;
ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função);
ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades
(a substituição do discurso pelas línguas,
das riquezas pela produção);
estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras
(por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia);
enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber
não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável,
mas um espaço feito de organizações, isto é,
de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;
mostrará que essas organizações são descontínuas,
que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas,
mas que algumas são do mesmo nível
enquanto outras traçam séries ou sequências lineares.
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,
a Analogia e a Sucessão:
de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
• não pode mais ser
a identidade de um ou vários elementos,
• mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham
por efeito de uma densidade
singularmente grande
de analogias,
↓ não é porque ocupem localizações próximas
num espaço de classificação,
↑ mas sim porque foram formadas
uma ao mesmo tempo que a outra
e uma logo após a outra
no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a sequência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observáveis simultaneamente no espaço
não serão mais que as formas depositadas e fixadas
de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clássica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas.
A partir do século XIX,
a História vai desenrolar numa série temporal
as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas.
É essa História que, progressivamente, imporá suas leis
à análise da produção,
à dos seres organizados, enfim,
à dos grupos linguísticos.
A História
dá lugar às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenças sucessivas.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault
Veja isto em
ou ainda na seguinte página
Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825
segundo Michel Foucault
De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:
Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dá o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.
Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clássico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clássica.
Michel Foucault vê o pensamento que nos é contemporâneo – e com o qual queiramos ou não pensamos – muito dominado por: e aparentemente ele imputa a esse domínio do nosso pensamento por essas questões, o tempo e dificuldades em acréscimo que precisou enfrentar em seu trabalho no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’. Veja o que ele diz, o mesmo texto colocado em duas animações e no excerto abaixo em seu original, que têm a finalidade de reunir as ideias em elementos de imagem que compõem duas estruturas diferentes, nos dois lados de uma mesma imagem: As palavras e as coisas:
Impossibilidade X Possibilidade
de fundar as sínteses (da empiricidade objeto)
no espaço da representação“Eis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas
dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado pela impossibilidade,
trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses
no espaço da representação.e pela obrigação
correlativa, simultânea,
mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental
da subjetividade e de constituir, inversamente, para além do objeto,
esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.
uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha);
Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades
de Michel Foucault
as animações acima também podem ser vistas nesta página
Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,
com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.
E o funcionamento das operações tanto no pensamento clássico, o de antes de 1775, como no moderno, depois de 1825, usando o critério de Foucault, pode ser visto na seguinte página:
Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças.
Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’:
Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:
O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.
Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes
“Instaura-se uma forma de reflexão,
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento se dirige ao impensado
e com ele se articula.”Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado
Veja isso associado a uma figura na qual os elementos de imagem escolhidos compõem uma estrutura que pode ser comparada com por exemplo, o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817
Veja também o funcionamento das operações, especificamente no segmento DIANTE do objeto e na etapa da Construção da representação.
Nesse excerto da Cartilha, Foucault modela dinamicamente uma proposição que se ajusta a cada etapa da operação, coloca em cada proposição:
Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura, ‘o ser do homem’ não se dirige ao intangível, mas ao impensado! (que pode ser também intangível, sem problemas) Muitas vezes o intangível continua exatamente assim, intangível, mesmo depois que o pensamento tenha dado um jeito no seu aspecto impensado.
Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.
Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)
Ao contrário do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.
Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em
Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.
Veja em imagens
que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.
O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.
Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes
O carregamento de valor na proposição em cada caso:
As diferenças nas visões de ‘operações’ decorrentes de diferenças no posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno, podem ser vistas nas animações que descrevem o funcionamento das operações em cada caso:
Se a figura ainda lhe parecer confusa, e achar que vale a pena esclarece-la, veja novamente o Funcionamento das operações.
Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clássico e sob o moderno.
Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo,
a do verde
e da árvore,
a do homem
e da existência
ou da morte;
é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele [tempo]
em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que
não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault
Classificar, portanto,
não será mais
referir o visível
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;
Será
num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível,
ao invisível,
como a sua razão profunda;
depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparências”]
que são dados à superfície dos corpos.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault
pensamento clássico, antes de 1775
segmento AQUÉM do objeto
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cao. 10. As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
“Assim o círculo se fecha.
Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos.
As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada.
Mas que são esses sinais?
Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,
que há aqui um caráter
no qual convém se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança?
Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo?
– É a semelhança.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).
Contudo,
pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo;
uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira.
Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança.
De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que
que, por sua vez, para ser reconhecida, requer
A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”
“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades
estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras
enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável,
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades,a Analogia
e a Sucessão:
de uma organização a outra, o liame, com efeito,
ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia. (*)
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault
pensamento clássico,
de antes de 1775
pensamento moderno,
de depois de 1825
aquilo a partir de que elas são
Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber
para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.
As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
A análise das riquezas, junto com a gramática geral e a história natural, no pensamento clássico- o de antes de 1775, são contrapostas à análise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.
“Nem vida,
nem ciência da vida
na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe.
Em contrapartida,
existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.
Esse domínio,
solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.
Inútil colocar-lhe questões
vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas
Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de riquezas do pensamento filosófico clássico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)
O mínimo que somos chamados a fazer é esclarecer as razões pelas quais o conceito ‘riquezas’ é tão largamente utilizado; e as razões pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao período clássico.
Veja a seguir os pontos:
Veja a relação entre cada formulação de operações e o respectivo perfil de características da configuração do pensamento adotada em cada formulação, na página:
veja também tópico seguinte, o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.
Note que a amplitude da visão do fenômeno ‘operações’ é muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visão do fenômeno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e também o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua; enquanto que sob o pensamento clássico o fenômeno é visto apenas a partir da fase de instanciamento.
Veja que há uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clássico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.
Certifique-se dessa correspondência visualizando as figuras feitas para os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.
a página que o link acima dá acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com
“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está ao mesmo tempo,
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
Michel Foucault
“Na medida, porém,
em que as coisas
giram sobre si mesmas,
reclamando para seu devir
não mais que
o princípio de sua inteligibilidade
e abandonando o espaço da representação,
o homem,
por seu turno,
entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Prefácio
Michel Foucault
Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:
Veja isso também na seguinte página:
um lugar composto por dois blocos em dois domínios diferentes:
Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes
A metáfora da transformação de Entradas ⇒ Saídas, sobre a estrutura Input-Output, que dá lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si é válida aqui, e é a famosa caixa preta.
Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência
Com a opção pela leitura do fenômeno ‘operações’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que é dado com o que é recebido na troca, essa metáfora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e já carregada de valor diretamente atribuído à proposição.
Toda a etapa da construção de representação nova está fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.
Veja aqui em Conceitos homônimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.
Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.
Toda a operação pode ser reduzida a uma
Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:
Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.
Toda a operação pode ser reduzida a uma
Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:
Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes
Veja em Funcionamento das operações… a animação sob o título Aquém do objeto. Essa é uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representações existentes. O apontador de início da operação está no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.
Sob o pensamento clássico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:
Veja agora em Funcionamento das operações… a animação sob o título Diante do objeto. A operação modelada é de formulação da representação para empiricidade objeto ainda não representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponível para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, está resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda está indisponível. Para que ele esteja disponível será necessário o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recém criada. Então, a aposta é que essa representação permaneça em um repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, de onde será selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.
A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.
A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.
A empiricidade objeto será instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento não muda.
Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e há fluxos vários, que são mostrados na página indicada.
Veja a seguir os pontos:
‘Mercado‘, ‘Processo‘, ‘Riquezas‘;
‘Lugar de nascimento do que é empírico‘, ‘Forma de produção‘ e ‘Análise da produção‘;
As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso:
“Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.
Lugar do nascimento do que é empírico é o lugar onde, “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empíricas] assume o ser que lhe é próprio”.
Veja o modelo de operações – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que é empírico‘ é um lugar, mesmo, e não o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.
É um lugar onde as empiricidades objeto de operações têm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.
modo de ser fundamental de uma empiricidade é aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.
Os detalhes estão a seguir:
“Certamente, para Ricardo como para Smith,
o trabalho pode realmente
medir a equivalência das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:”
“Na infância das sociedades,
o valor permutável das coisas
ou a regra que fixa a quantidade que se deve dar
de um objeto por outro
só depende da quantidade comparativa de trabalho
que foi empregada na produção de cada um deles.”
A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:
Já não pode este ser definido, como na idade clássica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras.
O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto.
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou,
ou se, pelo menos, seu valor está em proporção a esse trabalho,
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante
e permutável sob todos os céus e em todos os tempos,
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho.
E a melhor prova disso está em que o valor das coisas
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salários
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.”
Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros,
os valores realmente têm ainda um poder de representação.
Extraem esse poder, porém, de outra parte –
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.
Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca
servem de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith,
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),
desde Ricardo,
a possibilidade da troca está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo
Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenômeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.
Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.
Qualquer coisa para a qual for possível estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação à região onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como Saída. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade não-original e não-constitutiva, ou uma “aparência”. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas não são utilizadas.
Veja aqui duas coisas:
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, a do verde e da árvore,
a do homem e da existência ou da morte;
é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clássica, veja na página sobre o funcionamento das operações, as animações sobre o tempo nos dois períodos, e associe o tempo ‘calendário’ à parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos.
“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo, não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe.
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.Esse domínio,
solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas
Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de valor do pensamento filosófico anterior, o clássico, de antes de 1775.
Veja novamente a animação central sob o título ‘Diante do objeto’ na página
Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenômeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação está em desenvolvimento e que, futuramente, poderá ser levada ao circuito das trocas.
O Lugar de nascimento do que é empírico compreende dois sub-espaços:
É parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaço das representações, no interior do domínio do Discurso e da Representação.
É assim que funciona o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.
A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tomar linguagem.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Veja agora que esse verbo está postado na região ‘desde onde se fala’, um sub-espaço do ‘Lugar do nascimento do que é empírico’, e no interior do domínio do Pensamento e da Língua, onde a articulação com o impensado pode ter início para uma representação ainda não existente, – e não na região do falado, esta no interior do domínio do Discurso e da Representação. Foucault é preciso a esse respeito: ‘Ele está na orla do discurso, na juntura…’
Veja a página
Nessa mesma página, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.
A animação central da página Funcionamento… com o título ‘Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda não representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponível em uma operação de troca já descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.
Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:
Tudo o que está representado na página Funcionamento… na animação central ‘Diante do objeto’ está completamente fora do pensamento que pensa operações no cruzamento do que é dado e o que é recebido.
Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação está fora do modo como operações são vistas como fenômeno.
Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.
O pensamento clássico, aquele que dispunha da História natural, da Análise das riquezas e da Gramática geral, fazia a Análise das riquezas.
O pensamento moderno efetua em seu lugar, a Análise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clássico, a Análise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.
Um exercício de uso do modelo composto característico das ciências humanas,
uma combinação dos pares constituintes das ciências
além do conhecimento do papel dessas duas ciências em nossa cultura.
“A psicanálise e a etnologia ocupam, no nosso saber, um lugar privilegiado.
Não certamente
antes porque,
Ora, há para isto uma razão que tem a ver com o objeto que respectivamente cada uma se atribui, mas tem mais ainda a ver com a posição que ocupam e com a função que exercem no espaço geral da epistémê.
A psicanálise, com efeito, mantém-se o mais próximo possível desta função crítica acerca da qual se viu que era interior a todas as ciências humanas.
Dando-se por tarefa fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente,
a psicanálise avança na direção desta região fundamental onde se travam as relações entre a representação e a finitude.
Enquanto todas as ciências humanas
já a psicanálise
Não há que supor que o empenho freudiano seja o componente de uma interpretação do sentido e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
em direção ao momento –inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem, a toda apreensão contínua em termos
– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
E, nessa região onde a representação fica em suspenso, à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude, desenham-se as três figuras pelas quais
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. X – As ciências humanas;
tópico V – Psicanálise, etnologia
A figura da Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica parte de duas ideias:
Essa ideia está embutida na Figura 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, basta analisar tendo em mente as condições de possibilidade no pensamento daquela figura.
Veja também
Partindo dos dois obstáculos, ou as duas pedras de tropeço que Foucault declara ter encontrado em seu trabalho, traçamos – usando apenas interpretação de texto – um espectro de produções do pensamento, teorias, modelos e sistemas, com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto.
Da forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura no depois da descontinuidade epistemológica, vemos que o pensamento funciona organizado em torno do par sujeito-objeto. Mudando o objeto, muda a operação que pode ou não ser conduzida por um sujeito diferente, mas com um sujeito a conduzi-la.
Aplicando esse elemento organizador par sujeito-objeto às operações em organizações, vê-se que já existem operações e organizações organizadas com esse critério: o modelo descritivo da produção do Kanban, e a Fig. 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, são exemplos.
Se examinamos mais de perto este último exemplo, veremos que há dois pares sujeito-objeto incluídos nesse mapa – segundo Hammer, de ‘processos’ (ele não conseguiu se livrar dessa unanimidade mesmo mapeando claramente Formas de produção e não processos.
A Visão SSS resume-se a respeitar a relação um objeto – um modelo de operações. E isso leva a uma organização SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica que torna evidente o nexo da produção.
a) Canal Inconsciente Coletivo, vídeo Jorge Forbes: estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos, de 28/07/2020;
b) Canal Falando Nisso, vídeo 150 – Signo, significação e significado de 08/10/2017;
c) Canal Falando, Nisso vídeo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, de 31/08/2019;
d) Canal Quem Somos Nós? – vídeo Desigualdade: Concentração de renda com Eduardo Moreira;
e) Canal Monica de Bolle, vídeo 31 – Imaginando o “Novo Normal”;
f) Canal Monica de Bolle, vídeo 32 – O “Novo Normal”: Bens Públicos”;
g) Canal Inconsciente Coletivo – vídeo Ivaldo Bertazzo, que testou positivo para o Covid-19: “o grande problema do corpo é o medo”, de 12/08/2020.
Os pontos comentados são os seguintes:
Meus comentários usando o pensamento de Michel Foucault:
Veja também Reflexões imaginativas >
O fenômeno das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia dos modelos; Metáforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento >
As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessárias para cada operacionalidade
Claramente a determinação ou não dessa parecença depende do modo como você olha para a fotografia, ou seja, com que recursos de pensamento faz isso. E o que procura na fotografia, com o seu olhar.
Ivaldo Bertazzo ensina que a gente olha e ouve o que nos chega do mundo sempre de acordo com o mesmo padrão.
E há mais do que um padrão que pode ser usado para absorver o que nos chega do mundo.
Michel Foucault, olhando para o estado em que ele percebia encontrar-se a nossa cultura, e adotando a estratégia de questionar não diretamente as teorias, modelos e sistemas mas as condições de possibilidade destes no pensamento, viu modelos com e modelos sem a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto do pensamento) no espaço da representação. Ele estava questionando as condições de possibilidade do pensamento, evidentemente.
E ele foi além disso: viu o imperativo de que todo o campo das ciências humanas fosse configurado tendo como pressuposto a constituição do que ele chama de os ‘quase-transcendentais’ Vida, Trabalho e Linguagem, podendo então identificar um modelo composto padrão e genérico para todas as ciências humanas nesse espaço, a partir de modelos constituintes das três ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida (Biologia) [função-norma], do Trabalho (Economia política) [conflito-regra] e da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].
Vê-se que dessa percepção de Foucault é possível vislumbrar um espectro de modelos em nossa cultura. Esse espectro tem três segmentos:
AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto (e do sujeito)
Pouca gente vê isso, mas você pode ver adiante neste trabalho.
Mas, olhando para a fotografia de hoje com os padrões que usamos ontem e desde sempre, fica estabelecida uma semelhança pela intermediação do padrão utilizado. Se é o padrão de sempre, as diferenças porventura existentes, causadoras de diferenciações, mas aparentes somente sob outro padrão, não aparecem.
Sempre é necessário percebermos quais são os critérios dos quais se compõe o modo como olhamos para o mundo. Dependendo do que surge dessa procura daquilo que integra nossos padrões, pode ser que percebamos que ocorreram, sim, mudanças que nos passaram despercebidas; e mudanças de tal monta que sim, foram revoluções, mas localizadas no passado, e hoje já distante.
Mas que a gente possa manter um savoir faire – um saber fazer, numa relação da harmonia do homem agora não mais com a natureza, não mais com os deuses, não mais com a razão, mas com o intangível. Então, nesse intangível, isso me leva a pensar numa ética – em dois tempos para cada um – de inventar uma surresposta singular da sua intangibilidade, e de colocá-la no mundo (que é o que faz o artista); não é? um Van Gogh vê um girassol que só ele viu – ele inventou um girassol – e inscreveu esse girassol no mundo.
Desde logo esse ‘savoir faire‘ é interessante porque me dá a oportunidade de, ao invés da tradução óbvia ‘saber fazer‘, optar por traduzir essa ideia como ‘forma de produção‘ como a maneira encontrada para fazer aquilo que sei fazer; e se fizer isso guiado pela ideia por trás do nome, estarei usando justamente o nome dado por David Ricardo, em 1817, para o elemento central do seu modelo de operações que, segundo Foucault, ele publicou com o nome de Princípio Dual de Trabalho (e é interessante descobrir por que esse ‘dual’ no nome do principio.
O pensamento bem frequentemente consegue dar conta do ‘impensado’, mas ao contrário, o ‘intangível’ permanece tal e qual na maioria das vezes.
Desde logo, estabelecer um saber fazer voltado ao intangível – o que quer que essa palavra signifique neste contexto – é organizar “a relação da harmonia do homem não mais com a natureza, os deuses, a razão”, mas levando em conta, agora, o objeto, um objeto definido como ‘intangível’, aquela coisa que não se pode tocar, parece que seja um grande passo adiante.
Veja que toda a mecânica celeste funciona perfeitamente e artefatos são colocados em órbita e chegam sem acidentes a outros planetas, e em sua grande maioria todos permanecem intangíveis – no sentido original da palavra ‘intocáveis’ – depois de estudados. Mas todos deixam de ser impensados. E graças a um pensamento organizado pelo par sujeito-objeto.
Pensando em um buraco negro, e nas teorias da relatividade que ajudam a compreendê-los, não se pode dizer que eles, buracos negros – e outros entes cósmicos – de alguma forma possam tornar-se tangíveis. Mas a ciência os converte de ‘impensados’ cada vez mais em ‘pensados’. E essa conversão faz mais sentido do que a proposta por Forbes de intangíveis para tangíveis. Até mesmo no caso do Sars Cov-2.
Mas, porém, todavia, contudo, o direcionamento do pensamento para o que seja ‘intangível’ já requer uma alteração radical na configuração do próprio pensamento: para um pensamento definido com relação a um determinado objeto, – embora um objeto genérico; isso porque exige um pensamento sim-discriminativo com relação ao objeto escolhido e seus elementos componentes, em contraposição a um pensamento indefinido porque não-discriminativo com relação a qualquer objeto como é (sim, é, porque ainda agora, muito usado entre nós) o pensamento terra1 – como diz Forbes, voltado aos transcendentais natureza, deuses, razão.
Na filosofia de Michel Foucault, pensando em David Ricardo na economia política, Franz Bopp na Filologia, Georges Cuvier na Biologia, o pensamento volta-se para o impensado em vez de para o intangível.
“Instaura-se
uma forma de reflexão,
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.Isso tem duas conseqüências.”
(…)
“A outra consequência é positiva.
Concerne à relação
do homem
com o impensado,
ou mais exatamente,
ao seu aparecimento gêmeo
na cultura ocidental.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado
Veja a forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura quando mudança como essa foi realizada:
A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault
Essa mudança no modo de organização do pensamento aconteceu, segundo Foucault, entre 1775 e 1825, nos cinquenta anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX (vinte e cinto anos para cada lado). Grosso modo há dois séculos; mudança bem mais recente do que os 28 séculos atrás em que Forbes posiciona o evento marcador antecedente da revolução que aponta também nos laços sociais.
Trata-se de uma mudança com a seguinte natureza:
A primeira consequência evidente é que não é mais possível modelar operações, empresariais ou outras, usando a metáfora da transformação única de Entradas ⇒ Saídas ou do processamento de informações sobre a estrutura Input-Output cujo sistema é relativo, de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si. Veja que o elemento central desse modelo, Processo, tem a natureza de um verbo, e note que há dois conceitos para o que seja um verbo, e esse de um sistema relativo, etc. etc. é o primeiro que transcrevo a seguir.
“A única coisa que o verbo afirma, é a coexistência de duas representações; por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte. É por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 4 – Falar; tópico III. A teoria do verbo
A segunda consequência é que partindo do conhecimento de que usualmente operações são modeladas sobre a estrutura Input-Output, e isso não é mais adequado, é preciso encontrar um outro padrão, um outro modelo. Isso é necessário para que operações em organizações reais sejam modeladas convenientemente.
E esse outro modelo é consistente não mais com o pensamento de Adam Smith (Processo, estrutura Input-Output) mas sobre o pensamento de David Ricardo e seu Principio Dual de Trabalho, cujo elemento central é o ‘savoir faire’ ou a forma de fazer, com o nome de Forma de produção.
Veja as seguintes páginas, comparando:
Modelos construídos dentro desse padrão:
Veja, o que gera uma vacina para o Sars-Cov-2 é uma operação na qual o pensamento do cientista que, tendo em vista os aspectos ainda impensados, porque não pensados, desse vírus, desencadeia uma operação no seguinte formato:
Essa operação científica considera entre outras coisas o que a ciência sabe sobre vírus em geral e o Sars-Cov-2 em particular.
Tangibilidade ou intangibilidade são qualidades, aparências, ou propriedades não-originais e não-constitutivas desse vírus. O impensado, ao contrário, toma o objeto dessa operação de conhecimento por inteiro, mesmo que de início, não haja qualquer propriedade sejam as não-originais e não-constitutivas sejam as sim-originais e sim-constitutivas.
O interesse da ciência é pelas propriedades sim-originais e sim-constitutivas desse vírus, que são essas que podem levar a conquistas como por exemplo, uma vacina. E encontrar esse conjunto de propriedades é o que converte o impensado em representação.
Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura no pensamento filosófico de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,’ o ser do homem’ não se dirige ao intangível!
Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.
Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)
Ao contrário do impensado, que mediante articulação feita pelo pensamento e patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação (e a vacina!), o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.
Há uma confusão entre os vocábulos intangível e impensado.
Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em
Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.
Veja em imagens
que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.
Esse título faz alusão a uma revolução nos laços sociais única – pelo seu tamanho, porque a maior – nos últimos 2800 anos. E nos laços sociais.
Volto ao redirecionamento da ‘harmonia do homem’ desde os transcendentais natureza, deuses, razão, para o intangível como diz Forbes. Se o argumento que fiz acima, a substituição do ‘intangível‘ pelo ‘impensado‘ for aceito – ao menos para efeito deste texto, essa revolução a que o título alude já ocorreu, e há exatos 203 anos. E teve exatamente a mesma intenção, atingiu ‘os laços sociais’ e todas as áreas do conhecimento humano. E mais, marcou a entrada de nada mais nada menos do que o homem em nossa cultura.
Não foi pouca coisa.
Esse título, com a afirmativa nele expressa, parece conter em seu significado, um descarte histórico desse evento que tem, na avaliação de Michel Foucault, o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento; e um desconhecimento do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade, em nossa cultura em tempo muito mais próximo de nós que os 28 séculos.
Gostaria que Jorge Forbes relesse sobre isso na minha Cartilha – o livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, desse autor.
Forbes alude a um movimento do pensamento que parte dos transcendentais natureza, deuses, razão e chega ao intangível.
Foucault fala de um outro movimento que identifica modelos feitos por um pensamento postado AQUÉM do objeto – referido à Ordem arbitrariamente escolhida em que vige um sistema de categorias, para por um pensamento DIANTE do objeto no qual a ordem é dada pelas regras da gramática da língua usada, e chega a um pensamento para ALÉM do objeto em que encontramos constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, e não múltiplas categorias mas três somente: função-norma; conflito-regra, significação-sistema.
Tendo em mente especificamente a mudança proposta por Forbes para um pensamento voltado a um objeto ‘intangível’, e tendo consciência de que isso resulta em um certo esforço do pensamento e além disso, um pensamento organizado por esse objeto ‘intangível’ escolhido, exatamente essa alteração – modelos organizados pelo objeto – aconteceu em nossa cultura em um espaço de tempo muito menor, pouco mais de dois séculos atrás em vez dos 28 séculos mencionados por Forbes.
Nesse meio tempo, e por falar não em revoluções mas em descontinuidades epistemológicas em nossa cultura, podemos ver esse evento em nossa cultura na página seguinte.
Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825,
Essa mudança no pensamento exigiu uma forma de reflexão também nova. Segundo Michel Foucault, essa mudança ocorreu em um movimento do pensamento muito mais recente e importante que surgiu em momento muito mais próximo do nosso tempo. Veja essa forma de reflexão associada a uma imagem para o conceito, que torna aparentes os elementos de imagem utilizados, a estrutura que ocupam e os relacionamentos que estabelecem.
A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault
E os efeitos de tal movimentação das positividades umas em relação às outras pode ser constatado nas produções do pensamento efetivamente feitas e utilizadas em teorias, modelos e sistemas existentes e muito utilizados. Essa mudança não ficou apenas no pensamento teórico mas atingiu a prática, embora não tenha sido avaliada de maneira alinhada com o pensamento filosófico.
A página a seguir mostra:
Esse título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer “– Esqueça o que você sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo está errado” trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e há, a denúncia, como se atual fosse, de uma revolução já ocorrida em passado nem tão remoto. Em termos históricos, foi ontem.
A Cartilha mostra como e por que isso é verdade.
Se estou entendendo o que ele chama de ‘época anterior’, ou terra1 isso já tem um nome: idade clássica ou pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1.
Usando ‘pensamento filosófico clássico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse período – a virada dos séculos XVIII para o XIX, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc. E usando a contraparte ‘pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamará de terra2 igualmente sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relações com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.
“Me incomoda a noção de norma no sentido de que você sai de um laço social
estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado,
que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1.
Eu chamo de terra1 toda organização, todo laço social vertical – independente do que esteja, na verticalidade, no ponto da transcendência, esteja (como esteve durante muitos séculos) primeiro a natureza, depois os deuses, depois a razão. As transcendências mudam mas a estrutura arquitetônica arquitetural vertical se manteve. Então eu entendo que há uma revolução monumental neste momento, sobre 2800 anos de história, em que nós saímos de uma forma de nos comportarmos verticalmente e temos a chance de nos comportarmos horizontalmente; o que implica em que nós temos a chance de viver num laço social flexível, criativo, múltiplo, responsável, – responsável antepõe responsabilidade e disciplina – (…) Então você tem um laço social de características, como eu disse,
colaborativo, múltiplo, reticular, flexível, criativo, [responsável];
e eu acho que o interessante quando nós sairmos dessa pandemia, é nós guardarmos um aspecto dela, que é a relação do homem com o intangível.
” Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.
Neste comentário, faço uso, claro, do meu particular e pessoal entendimento do pensamento de Michel Foucault, e afirmo:
1. que no que Forbes chama terra2 – (entendido como a configuração moderna do pensamento, o de depois de 1825, como aquilo que sucede e substitui, se opondo, ao pensamento ‘anterior’), ‘hierarquia’ é uma estrutura intrínseca e inseparável do resultado de uma operação de construção de representação nova, porque é uma estrutura ligada ao resultado (uma representação) dessa operação sempre organizada pelo par sujeito-objeto, com princípios organizadores Analogia e Sucessão e com os métodos Análise e Síntese;
e no entanto a qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento em terra1 (entendido agora como o pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, o que Forbes chama de ‘anterior’).
Dado que no pensamento clássico não existem as noções de objeto (noção à qual a ideia de hierarquia está ligada em um modelo de operações) e de sujeito (homem), essa qualidade atribuída a terra1 deve estar referida a outra coisa que mereça esse atributo, mas que não está clara no texto, e valeria a pena esclarecer o que seja que tem essa qualidade.
norma é um dos modelo constituintes das ciências humanas que juntamente com função, compõe o par constituinte da ciência da Vida, a Biologia no período moderno do pensamento e no segmento do espectro de modelos para ALÉM do objeto.
há outros dois pares de modelos constituintes no modelo constituinte padrão, genérico para todas as ciências humanas, a saber
A descrição feita por Michel Foucault desse modelo constituinte padrão e genérico, composto dos pares constituintes das ciências que habitam a região epistemológica fundamental, e o eixo vertical do Triedro dos saberes:
acaba sendo quase que um manual para formulação de teorias, modelos e sistemas nesse campo, e por isso faço este comentário.
Portanto este comentário vai a seguir em dois pontos:
1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2;
e 2. Quanto ao incômodo com a ‘norma’
1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2
Note que as características tanto em terra1 quanto em terra2 são dadas no excerto acima, e nos dois casos, por qualidades dos laços sociais.
Tomando terra1 como sendo a configuração do pensamento filosófico no período clássico, nesse período o pensamento funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as aparências, estas, qualidades. Para o pensamento assim configurado não existem a noção de homem como ser capaz de desempenhar uma duplicidade de papéis, e a noção de objeto.
O elenco de qualidades atribuídas ao laço social – estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado – pode ser objeto de reflexão interessante.
A qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento terra1 que eu, aqui, presumo que se refira ao pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo Foucault.
Tomando posição em terra2, que eu presumo referir-se ao pensamento moderno, o de depois de 1825 segundo Foucault, essa qualidade ‘hierárquico’ seria dada por uma estrutura de conformação definida no objeto, uma hierarquia.
Enfatizando, no pensamento moderno os princípios organizadores de uma operação no caminho da Construção de representação nova são Analogia e Sucessão com os métodos Análise e Síntese.
“De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,
a Analogia e a Sucessão:
de uma organização a outra,
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vários elementos,
mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; (…)
Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história
Tomemos (ainda posicionados em terra2!) um ‘impensado’ em Foucault ou um ‘intangível’ em Forbes; não existe representação para isso – ou não seria um impensado ou um intangível no domínio de trabalho. Por isso, se for feita a decisão de resolver essa situação de intangibilidade ou não representatividade, esse ‘impensado’ será objeto em uma operação de construção de uma representação.
O pensamento converte o impensado em representação.
Aquilo que antes dessa operação era o ‘impensado‘ de Foucault, depois dessa operação de construção de representação nova – conduzida em cada etapa pelo sujeito – nada mais será do que um pacote logicamente organizado de objetos análogos ao impensado e seus aspectos, objetos esses adotados em seu conjunto como substitutivos – dentro de certos critérios de aceitação – daquele ‘impensado’ para o qual não havia representação no espaço no qual a operação acontece.
O princípio organizador do pensamento Analogia estabelece relações de analogia das quais surgem objetos análogos ao impensado mais representáveis. Usando como diz Foucault ‘a sintaxe que autoriza a construção das frases’, esse objeto análogo é arrastado para o modelo de operações construído segundo as regras da linguagem por meio de uma proposição na qual o homem é sujeito, e o predicado do sujeito é composto por um verbo – a forma de produção, e um atributo, o objeto análogo que acaba de ser criado na relação de analogia. Agora cada um desses objetos análogos são testados quanto às respectivas possibilidades de representação nesse espaço em que a operação acontece. Caso necessário, o método Análise entra em cena e quebra cada objeto análogo eventualmente ainda não representável em outros objetos análogos mais próximos de suas respectivas possibilidades de representação nesse espaço; e o método Síntese garante que o objeto análogo inicial ainda pode ser composto pelo conjunto de objetos análogos resultantes da Análise.
Aí entra o princípio organizador Sucessão. Usando como diz Foucault ‘aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas ao lado e em frente umas das outra, as palavras e as coisas‘, a Sucessão posiciona ao lado, ou em frente uns dos outros, os objetos análogos criados em substituição ao objeto análogo não representável, estabelecendo entre eles relações lógicas – de sucessão.
Você pode ver isso em uma animação nesta página, sob DIANTE do objeto. Se necessário, posso dar mais detalhes sobre como isso funciona.
Nota: essa descrição do funcionamento de uma operação de construção de representação para algo antes impensado não explica suficientemente o ‘laço social’, mas podemos chegar lá.
Continuando. Assim, supondo que terra2 seja de fato o que eu estou pensando que é, o pensamento filosófico moderno – o de depois de 1825, como diz Foucault ‘aquele [pensamento] com o qual queiramos ou não, pensamos‘, então, hierárquico é uma qualidade intrínseca a esse tipo de pensamento, terra2, desde que entendido como referente ao objeto. Como humanos não nos é possível construir representação para qualquer ‘impensado’ sem que o resultado seja um objeto expresso por uma representação com uma estrutura em hierarquia.
Fechando o longo parênteses, e voltando ao ponto, supondo que terra1 seja de fato o que penso que é, – o pensamento filosófico clássico.
Em assim sendo, a noção de impensado cuja representação é construída pelo pensamento, nesse tipo de pensamento, não existe. Porque não existe a noção de objeto e também não existe a noção de sujeito da operação, como o homem, que seria capaz de construir representação nova. O homem está fora da paleta de ideias no pensamento clássico. ‘Antes do final do século XVIII o homem não existe em nossa cultura. Não mais do que um gênero, ou uma espécie’ é o que nos alerta Foucault.
Logo, nesse tipo de pensamento, sem a noção de objeto prima irmã da noção de hierarquia, a qualidade ‘hierárquico’ deve referir-se a outra coisa que não o objeto. Então o que é danoso, prejudicial, e justifica mudanças é essa outra coisa que está associada a essa qualidade ‘hierárquico’, e que vista mais de perto, não pertence a esse pensamento.
E essa coisa não é declarada por Forbes, o que poderia gerar confusão.
Mas a palavra hierarquia é muito usada, e mesmo em terra1; as organizações foram bem ou mal se organizando e apresentando problemas. Sem atentar para que tipo de pensamento estavam usando. E aí, por diferentes razões, alguns autores passaram a demonizar a organização hierárquica sem dizer especificamente o que estavam demonizando. Isso sem noção de que a estrutura hierárquica é inerente, indissociável, ao pensamento moderno, e às operações que transcorrem organizadas sob essa configuração do pensamento.
Então, se estou sendo entendido, hierárquico em terra1, nada tem, nem pode ter, a ver com o objeto de operações sob o pensamento moderno que terminam construindo representações novas. E o pensamento voltado para o ‘intangível’ de Forbes ou ‘impensado’ de Foucault não pára de pé sem o objeto e sem o sujeito; e portanto necessariamente com a qualidade ‘hierárquico’ que em Forbes está posta em terra1.
Pode haver confusão aí, demonizando a hierarquia, o que, em se tratando de pensamento moderno (terra2) em qualquer caso, é na verdade é uma missão impossível.
Obviamente não sei como essa qualidade afeta o laço social descrito por Forbes, mas posso ver com alguma clareza como essa qualidade afeta a estrutura do pensamento nas operações sob o pensamento filosófico moderno, no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. E a hierarquia é característica integrante e indissociável do resultado nessa configuração do pensamento, arrastada para a representação (projeto) decorrente do referencial, dos princípios organizadores e dos métodos utilizados em um pensamento orientado pelo par sujeito-objeto.
Veja isso na seguinte página
Não se ganha nada ao retirar a qualidade hierárquica da estrutura inerente à construção de representação nova (projeto); ao contrário perde-se muito, essa tentativa empobrece a visão da operação, oblitera o funcionamento das duas sintaxes da língua usada para modelar operações; por essas razões, mas acima de tudo, essa parece ser uma missão impossível. A estrutura hierárquica da operação da qual resulta uma representação nova é resultado do perfil de configuração do pensamento.
2. Quanto ao incômodo de Forbes com a ‘norma’
Quanto ao incômodo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo à Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’, que me permite uma visão de conjunto muito mais completa e útil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domínio das ciências humanas.
A ‘norma‘ que incomoda Forbes, é a expressão de uma convenção, um acordo feito para atender às condições requeridas por uma ‘função‘; esse acordo, essa convenção, visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, e o compartilhamento dessa ‘norma‘ isto é, da solução conseguida e convencionada para a obtenção prática dessa ‘função’.
Vale a pena examinar, usando o pensamento de Michel Foucault, o que se configura quase como
Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domínio das ciências humanas
em três tempos:
examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:
“Assim, estes três pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.” Cartilha; Cap. 10 – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes
Esse excerto da Cartilha dá-nos conta de que esses três pares de modelos constituintes, das ciências
estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a análise da produção. Essas três ciências compõem, segundo Foucault, a região epistemológica fundamental.
Forbes supostamente está analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, está elaborando bem no campo de uma ciência humana. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual
Isso evidencia que esse incômodo de Forbes com a ‘norma‘ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laços sociais porque estes estão afetos,
mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais:
É claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirável do espaço dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto.
Mas por que exatamente faríamos isso?
Um
A frase citada por Forbes:
“Freud explica ⇒ Freud implica:
no ‘explica’ você tem um saber anterior ao ato;
no ‘implica’ você tem um ato anterior ao saber.”
Implica vem do verbo implicar. O mesmo que: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde.
Expressar desdém, deboche, zombaria; hostilizar: ele implica com seu irmão constantemente; implicava-se com o vizinho.
Obter como resultado, efeito ou consequência; originar: a devolução do imóvel implica multa.
Fazer com que algo se torne necessário; requerer: o trabalho não implica sua participação.
Implica é sinônimo de: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde
Implica é antônimo de: desimplica
verbo transitivo diretoFazer com que fique claro e compreensível; descomplicar uma ambiguidade: explicar um mistério.Ser a causa de: a desgraça explica sua amargura.Conseguir interpretar o significado de: explicar um texto irônico.verbo transitivo direto e bitransitivoFazer com que alguma coisa seja entendida; explanar: explicar uma teoria; explicar a matéria aos alunos.verbo transitivo direto e pronominalProvidenciar uma justificativa ou desculpa; desculpar-se: preciso explicar meu comportamento; o presidente explicou-se ao povo.Manifestar-se através das palavras; exprimir-se: explicar uma paixão; explicou-se numa linguagem bem popular.Etimologia (origem da palavra explicar). Do latim explicare.
Explicar é sinônimo de: lecionar, pontificar, adestrar, amestrar, doutrinar, educar, ensinar, formar, instruir
Explicar é o contrário de: obscurecer, complicar
É bem implicante o leque de significados das palavras ‘explica’ e ‘implica’. Implica pode significar até confunde! mas é também ‘origina’.
Implica é origina, requer. Explicar é formar, instruir. Complicar, é antônimo de explicar.
Etimologicamente complicar é dobrar junto; implicar é entrelaçar, juntar, reunir. Muito próximos os significados, não?
Essa relação de sucessão ou de precedência entre ato e conhecimento tem bastante mais a ver com:
do que propriamente com o significado escolhido para essas duas palavras.
Se assim for, é melhor declarar explicitamente quais são as condições de possibilidade do pensamento selecionadas, e qual a natureza da operação em que estamos pensando, se de construção de representação nova, se de instanciamento de representação anteriormente existente.
Além disso, dependendo dessa natureza da operação, a operação pode acomodar-se, desde logo, a uma configuração do pensamento clássico, anterior a 1775, ou a uma configuração do pensamento moderno, o de depois de 1825.
Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Foucault: Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825. saber anterior ao ato ato anterior ao saber saber anterior ao ato
os pensamentos clássico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)
Muito diferentes, uma da outra, se atentarmos ao pensamento de Foucault. Você pode ver essas diferenças aqui. Isso, se o modo de ser do pensamento não for explicitado onde e quando devido.
Esta argumentação tem como pano de fundo o pensamento de Foucault. E a frase acima é a expressão de um pensamento atual tal como ele aflora. Vale, portanto, rever como Foucault avaliava o pensamento em geral, tal como aflorava durante o seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’, em 1966, o que, pelo que vejo, não mudou.
Veja Os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho.
usando essa citação de modo mais restrito, Foucault via um pensamento contaminado, nas palavras dele, ‘dominado’ por um pensamento de idade anterior. Ele via um pensamento ‘dominado pela impossibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto) no espaço da representação’.
Nessa frase acima, eu vejo esse mesmo tipo de contaminação, que gera uma dubiedade, que queremos levantar com a ajuda do mestre, Michel Foucault.
Para a situação sugerida no caso do ‘implica’ no lado direito da frase – um ato anterior ao saber -, a configuração do pensamento deve, necessariamente, permitir a geração de saber novo (ser capaz de fundar as sínteses no espaço da representação); deve portanto permitir a construção de representação nova para o objeto do ato, ou da operação.
Essa possibilidade – inerente ao proposto no lado direito da frase -, é privativa do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Mas só ocorre quando o ‘Freud’ da frase estiver com um pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno, e na etapa da Construção da representação. O mesmo ‘Freud’, no pensamento moderno, mas na etapa de Instanciamento de representação relativa a saber anteriormente obtido, estará diante de um saber anterior ao ato.
O pensamento clássico, em suas teorias, modelos e sistemas, não permite construção de representação nova (porque era marcado pela impossibilidade de fundar as sínteses …, esse o obstáculo vislumbrado por Foucault); no pensamento clássico tudo o que existe está lá desde sempre e para sempre, e por obra de Deus compondo o Universo.
Para a situação sugerida no ‘Explica”, o lado direito da frase – saber anterior ao ato – nessa perspectiva do pensamento de Foucault, gera uma dubiedade que só pode ser resolvida tendo presentes, em detalhe, como são as operações as que sim, podem, e as que não podem ‘fundar as sínteses no espaço da representação’. Sem discernimento, o pensamento fica ‘dominado’ porque pode estar imerso no perfil do pensamento clássico, ou no perfil do pensamento moderno, mas no caminho do Instanciamento da representação.
Pensando nessas relações de precedência ou sucessão entre ato e saber, e nas operações em suas possíveis etapas, suas configurações e perfis ou estruturas de conceitos sobre os quais são concebidas, não há razão para que essa frase se restrinja a Freud. Poderia ser qualquer outro sujeito. Mas se levarmos em conta a menção especificamente a Freud, ela arrasta para a frase o modo de ser do pensamento desse grande autor, classificado por Michel Foucault como um pensador moderno, com estrutura de pensamento daquela configuração de pensamento de depois de 1825.
Dado esse conjunto de significados em comum, esses dois conceitos ‘Explica‘ e ‘Implica‘ e essas relações de precedência ou de sucessão entre ato e saber me fazem lembrar do pensamento de Humberto Maturana, que pode ser visto em uma animação de menos de 4 minutos, na seguinte página;
Essa Figura 2 é original de Maturana (apenas a arte foi editada – os elementos gráficos que representam as ideias foram modificados) mas em vez de usar dois rótulos como explica e implica, Maturana usa um pensamento no qual emprega duas formas para o mesmo rótulo ‘Explicar’, com diferentes significados correspondentes á mudança que está discutindo:
(saber anterior ao ato, ou o ‘Explica’ no lado esquerdo da frase)
(saber posterior ao ato, ou o ‘Implica’ do lado direito da frase)
Nesse pensamento, no original de Maturana, ele atribui pressupostos para o tipo de pensamento desenvolvido em cada lado da figura:
e reflete o saber anterior ao ato (operação)
e reflete o saber posterior ao ato (operação)
Usando agora o pensamento de Michel Foucault. Veja, por favor, e novamente, as páginas seguintes com animações que colocam palavras de Foucault sobre paletas de elementos de imagem e respectivas estruturas:
primeiro, a operação de construção de representação nova (projeto) sob o pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno:
Funcionamento das operações (…) operação Diante do objeto
e depois, veja a página
Resumidamente – e para facilitar – os dois perfis ou estruturas de conceitos, são:
Examinando os dois perfis característicos das duas configurações do pensamento, vê-se que:
(Aviso: é melhor examinar primeiro o perfil do pensamento moderno, com suas capacidades de tratar propriedades originais e constitutivas e depois o perfil do pensamento clássico)
Nota: não se trata de afirmar que na idade clássica não se produzia representações novas; mas dizer que as teorias, modelos e sistemas sob essa configuração do pensamento não abrangiam a etapa de construção de representações novas.
Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação nova (projeto) para uma empiricidade objeto, com um pensamento configurado de acordo com o pensamento moderno, o de depois de 1825 – uma vez que a configuração do pensamento anterior, o clássico, não pode construir novas representações.
Fica claro – entendida essa sistemática de funcionamento – que no pensamento moderno, e na etapa de construção de saber novo, (caminho da Construção da representação)
Como reza a frase no lado direito, sim, tem-se um ato anterior ao saber, mas… somente no caso do pensamento moderno, e no caminho da Construção da representação. Porém, estando no mesmo lado direito, e também no pensamento moderno, se estivermos no caminho do Instanciamento de representação previamente existente – o que mais acontece em situações de realidade – a situação se inverte, e teremos um saber anterior ao ato, como no caso anterior do pensamento clássico.
Dado que a possibilidade de saber novo só acontece com um pensamento configurado com o perfil característico do pensamento moderno, essa frase (de efeito) depende de quais sejam as visões de operações adotadas (o ato) em qual etapa da operação e de qual configuração do pensamento.
A relação de precedência ou de sucessão entre o ato e o saber é essencial nessa frase e podemos deixar de lado, e em segundo plano, os nomes ‘explica‘ e ‘implica‘.
Essa relação de sucessão corresponde ao que ocorre nas operações sob as configurações do pensamento clássico e moderno da seguinte forma:
Então, para que a frase faça algum sentido, é necessário atentar qual seja o perfil de configuração do pensamento diferente, e em qualquer caso, uma visão clara do que sejam operações, em cada lado da seta que está no meio dessa frase:
Até agora Freud entrou nessa frase como Pilatos no credo.
E essa referência a Freud nessa frase também cria mais problemas, desde que usemos o pensamento de Michel Foucault.
Segundo Foucault, Freud é um pensador moderno.
Logo, ele teria noção dos modelos de operações no pensamento moderno; e também os do pensamento clássico, se não, não teria escolhido pensar com o missal do pensamento moderno.
E assim, todas as opções condicionadas ao pensamento clássico acima deixam de valer no caso de Freud.
Então, o pensador moderno Freud
O comportamento do pensador moderno Freud não é função do nome dado à operação, se ‘explica’ ou se ‘implica’, mas o que a operação pretende com respeito ao seu objeto e o estado em que se encontra esse objeto no ambiente em que a operação acontece – já existe ou ainda não existe representação para ele nesse ambiente.
Então um ato de ‘explicar’ de Freud pode não ter um saber anterior; o que contradiz a frase no lado esquerdo. E também o estabelecimento de uma implicação dele pode ter um saber anterior, o que contraditaria o lado direito da frase.
Mostramos isso no Funcionamento de operações, e um ato (operação) desse tipo preenche a etapa de Instanciamento de representações anteriormente construídas.
Os pontos comentados são os seguintes:
e as duas correspondentes origens da essência da linguagem e do valor carregado pela proposição para a representação.
Comentários
1. Tendo como referência o pensamento de Michel Foucault, não há dúvida de que Freud foi um pensador moderno; assim, o movimento que teria sido feito por Lacan desde uma psicanálise de Freud, com base na representação para uma outra, de Lacan, fora da representação pode não ter sido possível uma vez que a psicanálise de Freud já tinha sua base fora da representação.
2. Teorias, modelos e sistemas, como produções do pensamento, transcorrem sempre com a presença de uma linguagem; o veículo de carregamento de valor é sempre a proposição e o destino do valor carregado é sempre a representação. A questão parece ser, então, a origem – se interna ou externa à linguagem – do valor atribuído à proposição.
3. A alteração de uma origem de valor interna à linguagem para uma externa à linguagem implica em uma mudança no modo de conhecer o que dizemos que conhecemos, uma mudança epistemológica.
Seguem comentários em tópicos:
A descrição feita por Michel Foucault da psicanálise de Freud dá-nos conta ser Freud um pensador moderno.
Em nossa Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’) Foucault não hesita em classificar Freud como um autor moderno, e caracteriza o pensamento clássico como ‘aquele para o qual a representação existe’.
No livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 10 – As Ciências humanas; tópico V – Psicanálise e etnologia, de Michel Foucault, encontramos subsídios para afirmar que o autor discorda frontalmente dessa afirmativa de que a psicanálise de Freud tivesse suas bases na representação; nesse texto Foucault mostra que, ao contrário, o pensamento de Freud já tem suas bases fora da representação; e expõe como e por que ele faz esse juízo mostrando o funcionamento da psicanálise – tendo como elemento organizador dessa argumentação o modelo constituinte padrão, comum a todas ciências humanas por ele desenvolvido nesse livro, um modelo composto pelos pares de modelos constituintes das ciências da Vida (Biologia) [função-norma]; do Trabalho (Economia) [conflito-regra]; da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].
“Não há que supor que o empenho freudiano
seja o componente de uma interpretação do sentido
e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;
seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
a psicanálise se encaminha em direção ao momento
– inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem,
a toda apreensão contínua em termos de significação, de conflito ou de função
– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
ao contrário das ciências humanas que, retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
permanecem sempre no espaço do representável,
a psicanálise avança para transpor a representação,
extravasá-la do lado da finitude e fazer assim surgir, lá onde se esperavam
- as funções portadoras de suas normas,
- os conflitos carregados de regras
- e as significações formando sistema,
o fato nu de que
- pode haver sistema (portanto, significação),
- regra (portanto, oposição),
- norma (portanto, função).
E, nessa região onde a representação fica em suspenso,
à margem dela mesma,
aberta, de certo modo ao fechamento da finitude,
desenham-se as três figuras pelas quais
- a vida, com suas funções e suas normas,
vem fundar-se na repetição muda da Morte,
- os conflitos e as regras,
na abertura desnudada do Desejo,
- as significações e os sistemas,
numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia
e especial destaque para o modo como Foucault vê que isso é interpretado:
Sabe-se como psicólogos e filósofos
denominaram tudo isso:mitologia freudiana.
Era realmente necessário
que este empenho de Freud
assim lhes parecesse;para um saber que se aloja no representável,
aquilo que margeia e define, em direção ao exterior,
a possibilidade mesma da representação
não pode ser senão mitologia.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia
Isso permite pensar que a razão de ser da psicanálise de Lacan, encontre seu fundamento em outro movimento de pensamento feito por ele, porque a psicanálise de Freud já estava formulada desde fora da representação.
Em que consiste, então, a contribuição feita por Lacan?
Lembrando os obstáculos percebidos por Foucault em seu trabalho, uma impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, arriscaria dizer que a contribuição de Lacan foi formular uma psicanálise para além do objeto.
Essas duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ situam-se de lados opostos em relação à descontinuidade epistemológica posicionada por Michel Foucault como tendo ocorrido entre 1775 e 1825. Isso colocaria uma produção do pensamento baseada na representação do lado oposto a uma outra, baseada desde fora da representação. (O movimento de pensamento que o vídeo informa ter sido feito por Lacan com relação a Freud.
Podemos ver isso sob o ponto de vista das alterações na própria linguagem em decorrência da visão que temos do fenômeno ‘operações’ de pensamento ou outra, e de acordo com as explicações de Michel Foucault:
Esse link mostra uma figura com a visão ampla do que entendemos como o fenômeno ‘operações’ com representações, incluindo as operações de troca, mostrando os dois pontos nos quais podemos inserir o início da leitura que fazemos desse fenômeno:
A página mostra:
A proposição é o bloco construtivo padrão fundamental para construção de representações.
“A proposição é para a linguagem
o que a representação é para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar
porquanto, desde que a decomponhamos,
não encontraremos mais o discurso,
mas seus elementos como tantos materiais dispersos.”
As palavras e as coisas; Cap. 4 – Falar; tópico III – Teoria do verbo
A representação carregada de valor como condição para que uma coisa possa representar outra em uma operação de troca.
(…) “Em outras palavras, para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam já carregadas de valor;
e, contudo, o valor só existe no interior da representação.”
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor
Antes de mais nada, muda a abrangência da visão que temos do que seja uma operação, em decorrência do ponto de inserção do início de leitura que fazemos desse fenômeno. Há duas possibilidades de inserção desse ponto de início de leitura de operações:
A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação é nos dois casos, a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.
No primeiro caso o valor é carregado na proposição diretamente. Aliás, a proposição já chega carregada de valor.
No segundo caso, o valor chega à proposição no bojo de uma operação de construção da representação para o objeto ainda não disponível. Isso em outras palavras quer dizer durante o projeto desse objeto. E as fontes de valor neste caso são
A citação acima prossegue da seguinte forma:
(…) “o valor só existe no interior da representação
atual [representação do objeto envolvido na troca já existente]
ou possível [objeto cuja representação foi construída quando no teste de permutabilidade]
isto é, no interior
da troca [objetos envolvidos na operação de troca já existentes]
ou da permutabilidade [a prospecção da possibilidade da troca com a construção da representação do objeto a ser levado ao circuito das trocas, se possível]”
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor
“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:
A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
toda a essência da linguagem no interior da proposição;
e a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem
Veja, por favor, o funcionamento das operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775 e o moderno, depois de 1825 em
Podemos ver, do entendimento de como se desenvolvem as operações em um caso e em outro, a correspondência bastante estreita entre as explicações dadas por Foucault na citação acima.
Veja também os dois conceitos para o que seja um verbo, e identifique o verbo envolvido no primeiro caso em que a atribuição de valor é assegurada diretamente por ele; e o verbo no segundo caso, em outra configuração da linguagem na qual o valor atribuído à representação via a proposição, tem origem fora da linguagem nas designações primitivas e na linguagem de ação ou de uso.
Há, aparentemente, uma contradição entre os dois vídeos do Canal Falando nisso, os de números 150 e 254.
No vídeo 150 há a percepção de que efetivamente existem produções do pensamento – teorias, modelos e sistemas, baseados na representação, e outras, baseadas fora da representação; e esse é um movimento de pensamento importante – nada mais nada menos do que uma descontinuidade epistemológica segundo o pensamento de Foucault,
Embora segundo o pensamento de Michel Foucault a psicanálise de Freud já tivesse suas bases fora da representação, mas uma mudança de bases como essa sem dúvida significaria uma alteração epistemológica.
Evento dessa mesma natureza, uma descontinuidade epistemológica, também aconteceu para as produções do pensamento associadas ao liberalismo e neoliberalismo, no período histórico abrangido pelo vídeo 254 . Isso está relatado em bastantes detalhes por Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, e é inerente ao estilo de arqueologia adotado nesse livro.
Mas esse movimento do pensamento deixa de ser considerado para as teorias, modelos e sistemas ligados ao Liberalismo e Neoliberalismo nos questionamentos feitos no vídeo 254 – ‘Neoliberalismo e sofrimento’. Isso leva a crer que a natureza dessa mudança de embasamento desde na representação para fora dela foi tratada, no vídeo 150, não como uma questão constituinte, mas como uma
Enquanto no vídeo 150 os modelos estão predominantemente no domínio da Linguagem, no liberalismo e variações, estão no domínio das ciências do Trabalho (Economia).qualidade apenas.
Veja nesta página
exatamente essa mudança de bases.
Entre esses dois pensadores há uma diferença na visão do que sejam operações avaliável pela amplitude da visão do fenômeno ‘operação’ entre esses dois princípios para trabalho. Na parte inferior da página que o link acima dá acesso, a explicação dada por Foucault deixa bem clara essa diferença de amplitude na visão de ‘operações’.
David Ricardo inclui, em seu Princípio Dual de Trabalho, de 1817, também a etapa da construção de representação nova enquanto que Adam Smith não faz isso.
Essa alteração na inserção do ponto de início do fenômeno ‘operações’ altera o modo como uma operação é vista e implica em uma reconfiguração da linguagem no que ela tem de essencial: o modo como a proposição é formada, e como o valor carregado na proposição é levado por esta para a representação.
Isso pode ser visto em
As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’
e também na argumentação abaixo.
Havia uma confusão em Adam Smith, que consistia em estabelecer uma assimilação entre:
Essa assimilação, feita em Adam Smith, passa a ser em Ricardo uma distinção entre:
distinção essa que, segundo Foucault, foi feita, pela primeira vez, e de forma radical, pelo pensamento de David Ricardo, em nossa cultura; e isso implica em uma expansão da visão do fenômeno ‘operações’.
Vista desse modo,
pode ficar difícil perceber que essa mesma alteração feita em Ricardo na economia, é a mesma que Lacan teria feito na sua psicanálise;
Seria necessário perceber que com o termo ‘atividade de produção’ compreende-se a produção de algo ainda inexistente o que alarga a visão de operações para o caminho da Construção de representação nova; mas encaixando essas duas coisas em uma visão ampla do que sejam operações, de todos os tipos, obtida entre outros lugares na descrição de Foucault sobre as duas configurações da linguagem,
vê-se que os dois movimentos – o de Ricardo em relação a Smith e o de Lacan em relação supostamente a Freud, são idênticos quanto a suas bases no pensamento, porque:
E dessa forma
Os pontos comentados são os seguintes:
Clips do vídeo Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento, para comentário
Comentários
O livro ‘Nascimento da biopolítica’, de 1978-1979, sim, figura na lista de referências do vídeo 254;
A importância disso – se atentarmos para o pensamento de Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’ pode ser avaliada sob dois aspectos:
É que nesse livro o autor identifica as condições de possibilidade no pensamento de produções do pensamento ao longo do tempo e distingue dois períodos separados justamente por uma mudança epistemológica, ou uma alteração nessas condições de possibilidade do pensamento usado.
E teorias, modelos e sistemas, como construções do pensamento, foram construídas por autores imersos nos dois períodos históricos, no antes, e no depois desse evento; e as mudanças enquanto estavam sendo feitas, no durante.
Por favor veja
Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825
e depois, veja
A forma dos modelos em cada configuração do pensamento
e por favor veja ainda
Na descrição desse evento, ao qual Foucault atribui o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento, temos
Como última atenção ao que Foucault tem a dizer nesse grande livro, veja
Condições de possibilidade das ciências humanas: consciência epistemológica do homem
“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.
Não mais que a potência da vida,
a fecundidade do trabalho
ou a espessura histórica da linguagem. (…)Certamente poder-se-ia dizer que
a gramática geral, a história natural, a análise das riquezas
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem,
mas é preciso discernir.Sem dúvida, as ciências naturais –
trataram do homem
como de uma espécie ou de um gênero:
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.Mas não havia consciência epistemológica do homem como tal.
A episteme clássica se articula segundo linhas que
de modo algum isolam
o domínio próprio e específico do homem.”
Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política
porque,
na ordem do saber,
a produção não existe. “
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas
Isso é o que nos ensina a Cartilha.
Como seria uma noção denominada ‘sujeito’ cunhada por pensadores clássicos e que, portanto trataram do homem como de uma espécie ou de um gênero.
Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero?
E como seria uma psicologia sustentada por um pensamento que leve o homem nessa conta?
No pensamento de Foucault, vê-se claramente duas rupturas duas descontinuidades epistemológicas em nossa cultura:
Essa última ruptura é situada por Foucault na virada dos séculos XVIII para o XIX, e pode ser vista por este link:
A cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
em uma animação que coloca em uma imagem, o texto de Michel Foucault em ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.
Mas Adam Smith e David Ricardo pensavam de maneira bastante distinta. Podemos ver isso em
E as diferenças, explicitadas com palavras de Foucault, são muito grandes. O modo de ver o que sejam ‘operações’ é muito mais amplo em Ricardo do que em Smith, com as consequências que isso acarreta.
E existem atualmente, e entre nós, teorias, modelos e sistemas utilizados, que modelam operações dos dois modos, sem consciência epistemológica do que está envolvido nisso.
Veja isso nos links abaixo:
Essa cronologia posiciona Adam Smith e David Ricardo em lados opostos desse evento, ao qual Foucault atribui o papel de ‘evento fundador da nossa modernidade’ no pensamento.
“A partir de Ricardo, o trabalho,
desnivelado em relação à representação,
e instalando-se em uma região
onde ela não tem mais domínio,
organiza-se segundo uma causalidade que lhe é própria.”
Cartilha; Cap. 8 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico II. Ricardo
Esse movimento do pensamento que Foucault percebe em Ricardo é o mesmo movimento feito por um autor que construa sua teoria, modelo ou sistema baseado na representação.
“A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:
“Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca servem
de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem
a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),desde Ricardo,
a possibilidade da troca
está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.”
Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo
Vê-se que a amplitude da visão do que sejam operações, em David Ricardo, é muito maior se comparada à amplitude da visão de Adam Smith. Para Ricardo toda ‘aquela atividade que está na raiz do valor das coisas’, a produção, está incluída, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que não acontece em Adam Smith.
Veja novamente
Note que as diferenças nas operações, inclusive as de troca, são muito grandes no pensamento de Adam Smith e no pensamento de David Ricardo. Se consideramos os dois modelos de operações, essas diferenças são físicas. O pensamento de David Ricardo amplia sobremaneira a amplitude da visão do que sejam operações, incluindo a fase de ‘projeto’ ou de construção de representação nova.
Além disso, decorrentes das diferenças nas operações, altera-se a configuração da linguagem no antes e no depois desse evento. Muda, nas palavras de Foucault, a origem da essência da linguagem. Veja isso na página
Mesmo assim, no vídeo Falando nisso 254, e no contexto da análise da incidência do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo são tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ‘matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!
Comentários
Complexity:
the emerging science at the edge
of order and chaos,
de M. Mitchell Waldrop
1992
Os vídeos e animações (parciais) a seguir mostram duas maneiras de ver o que seja Complexidade:
A coleção de animações que se segue a esta mostra os modelos de operações:
Esses modelos de operações têm entre eles uma descontinuidade epistemológica que segundo Foucault, ocorreu em nossa cultura entre os anos de 1775 e 1825 – os 50 anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX.
Se depois da compreensão dos modelos de operações mostrados for possível concluir que
são ao fim e ao cabo a mesma ordem, teremos ajudado. E se isso acontecer, teremos um modelo de pensamento que pode substituir o modelo mecanicista ao qual Mônica se refere.
Clips desse vídeo para comentar
Comentários
para comparar o que dizem os filósofos de diferentes áreas, – e também os economistas – uns mais e outros menos voltados aos fenômenos que acontecem ao seu redor, veja os seguintes modelos de operações:
NOTA: clicando na figura da origem do valor, você tem acesso ao pensamento de Michel Foucault sobre isso.
Sobre origem do valor carregado pela proposição para a representação, nas palavras de Michel Foucault, veja a seguinte página:
com as seguintes origens de valor atribuído à proposição:
Veja ainda sobre as duas opções de atribuição de valor à proposição:
Monica de Bolle identifica entre os economistas, não ela, mas economistas como categoria, quem pense em um modelo mecanicista.
Comentários
“Instaura-se
uma forma de reflexão,
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.
Isso tem duas conseqüências.
A primeira é negativa
e de ordem puramente histórica.
Pode parecer que a fenomenologia juntou,
um ao outro,
o tema cartesiano do cogito
e o motivo transcendental
que Kant extraíra de Hume; (…)”
A outra consequência é positiva.
Concerne à relação
do homem
com o impensado,
ou mais exatamente,
ao seu aparecimento gêmeo
na cultura ocidental.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado
de Michel Foucault
espaço para discussão de conceitos
A percepção da contaminação do pensamento com o qual pensamos, pela impossibilidade de fundar as sínteses na representação
“Eis que nos adiantamos bem para além
do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas
dessa ruptura que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.
É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado
pela impossibilidade,
trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses no espaço da representação
e pela obrigação
correlativa, simultânea,
mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental da subjetividade
e de constituir inversamente,
para além do objeto,
esses “quase-transcendentais” que são para nós
a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”
A nova forma de reflexão se instaura no pensamento em nossa cultura, o motor constituinte “dessa maneira moderna de conhecer empiricidades”
“Instaura-se um tipo de reflexão
bastante afastado do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos ;
tópico V – O “cogito” e o impensado.
a percepção dessa contaminação, dominação mesmo,
do pensamento com o qual ‘queiramos ou não‘ pensamos,
– hoje em dia, e aqui e agora –
por configurações de pensamento
com a possibilidade, e também
com a impossibilidade
de fundar as sínteses – da empiricidade objeto – no espaço da representação
muda completamente os domínios e os lugares onde ocorrem as operações,
as paletas de ideias ou elementos de imagem, assim como as estruturas e os relacionamentos entre eles.
Há diferentes modelos
que formulamos para
visões de ocorrências
no espaço-tempo x, y, z e t.
Ao suspeitar
da contaminação do pensamento
– do nosso, daquele com o qual queiramos ou não pensamos –
por essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, ele manifesta sua percepção de que de fato isso acontece em volta de nós e conosco.
Esses modelos,
diferentes em seus fundamentos,
são usados juntos
e/ou simultaneamente
no mesmo domínio e ambiente
em um pensamento
contaminado
por duas epistemologias,
ou por duas maneiras
de conhecer
aquilo que dizemos
que conhecemos.
Existem modelos,
todos em uso atualmente,
que podem ser agrupados
em duas famílias:
de fundar as sínteses
– da empiricidade objeto da operação-
no espaço da representação.
Essa a distinção entre modelos
com e modelos sem essa possibilidade
de fundar as sínteses
[da empiricidade objeto da operação]
no espaço da representação,
que Michel Foucault faz sugere que analisemos os modelos de operações e de organizações existentes, isto é, nos modelos que usamos hoje, em busca de características de características, ou características de segunda ordem, pelas quais podem ser associados com o pensamento antes, depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, oferecendo os necessários elementos para identificação.
A figura na coluna do meio acima mostra a configuração do pensamento (o clássico, de antes de 1775), com a impossibilidade de fundar as sínteses (da(s) empiricidade(s) objeto da operação) no espaço da representação.
Clicando nessa figura, a animação mostrará as alterações em toda a configuração do pensamento, para levantar essa impossibilidade.
A alteração se passa no lado direito da figura.
A primeira coisa que muda é o tipo de reflexão que se instaura.
Como decorrência, muda toda a paleta de ideias, ou elementos de imagem;
Muda ainda o perfil do pensamento em cada configuração:
Reflexões imaginativas no espaço-tempo das Permanências e dos Fluxos com a licença de Augusto de Franco pelo enxerto (quase paráfrase) feito sobre o título de
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Posição relativa do par sujeito-objeto e o modelo de operações
Usando o pensamento de Vilém Flusser:
Descontinuidades epistemológicas refletem conquistas humanas no pensamento e são aprimoramentos na maneira que usamos para conhecer. Há portanto uma relação entre, de um lado, o modo como colocamos em marcha nosso desejo de transformar o duvidoso em língua a cada nível, e de outro lado, a filosofia que temos, e a Ciência que temos, ou a tecnologia de que dispomos. Filosofia, Ciência e Tecnologia são funções do como como vemos o mundo e as coisas.
Michel Foucault (*) descreve uma descontinuidade epistemológica (uma alteração no modo como nos voltamos para o mundo para conhecer o que dizemos que conhecemos), e aponta com toda clareza diferentes jogos de ferramentas de pensamento ou estruturas conceituais, características de uma e de outra dessas epistemologias, de um e de outro lado desse evento. E aponta um período em nossa cultura ocidental, em que o pensamento esteve dominado por uma característica do período anterior.
A solução de questões trazidas à luz por essa nova maneira de conhecer (a nova epistemologia) não poderão ser resolvidas se correspondentes ciência e tecnologia não forem desenvolvidas também.
Acompanhando o trabalho arqueológico de Michel Foucault em direção a essa classe especial de saberes, a esse conjunto de discursos chamado de ciências humanas, vê-se que em certo período consolidou-se um tipo de pensamento em cuja configuração a etapa de construção de novas representações foi incorporada. Antes disso, essa etapa de construção da representação nova ficava fora do escopo do pensamento, e depois disso essa etapa permaneceu definitivamente incorporada.
Para a configuração de pensamento que deixa fora do seu escopo a etapa de construção de novas representações a alternativa é conviver com tudo o que existe desde sempre e para sempre, tomando as coisas como pré-existentes e pertencentes ao Universo. Esse modo de pensar tem características de conservadorismo, enquanto aquela outra configuração do pensamento que inclui em seu escopo a geração de novas representações, as características de progressismo.
Neste trabalho algumas – bastantes – características de uma e de outra dessas duas características de configurações do pensamento foram apresentadas o que de certa forma pode ser usado para qualificar com algo mais do que a qualidade ‘conservador’ um pensamento de direita; e com a qualidade ‘progressista’ um pensamento de esquerda, delineando com mais precisão uma e outra dessas configurações.
(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades
É real hoje, aqui, agora, e entre nós, a percepção – feita por Foucault – do domínio/contaminação do pensamento – ‘com o qual queiramos ou não pensamos‘ – pela impossibilidade de fundar as sínteses (do pensamento sobre a empiricidade objeto da operação) no espaço da representação(*).
Esse tipo de pensamento dominante, aquele com a impossibilidade de fundar as sínteses, é ao mesmo tempo o tipo de pensamento que não inclui a operação de construção de novas representações. E a estrutura das operações sem essa etapa reforça essa impossibilidade. Nesse contexto modelos com e modelos sem essa impossibilidade são tratados como se variações sobre o mesmo tema fossem, e não produções do pensamento completamente diferentes.
Estamos projetando e usando hoje, modelos para operações e organizações, de produção e outras, com o pensamento de exatos dois séculos atrás.
Para que isso possa ser percebido pelo projetista de modelos em diversas áreas é necessário o rompimento das condições em que se dá essa contaminação e esse domínio de uma das configurações de pensamento sobre a outra, obliterando justamente aquela que corresponde a uma conquista humana no pensamento. Para que isso aconteça é necessário que seja atendido um requisito: a construção de um critério para identificação e comparação de modelos, e sua aplicação no caso presente.
Daqui de onde vejo as coisas, é unânime a visão das coisas em termos de processo. Ninguém fala de nada além de processos: mapeia-se processos, otimiza-se processos, etc. etc. o que quer que seja, mas sempre processos. Sem que nos demos conta de como sejam as diferentes estruturas das operações em que tais ‘processos’ ocupam posição operacional.
Michel Foucault pode fornecer os elementos necessários para a construção desse critério. Nossa intenção aqui é destacar em Foucault o que pode ser usado para o estabelecimento de uma relação pensamento – e sua aplicação na modelagem de operações em organizações.
(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades
Uma coleção com mais de duas dúzias de modelos, (*) para descobrir com que tipo de pensamento foram feitos:
(*) Proposta de metodologia para o planejamento e implantação de manufatura integrada por computador
de Bremer, C. F. USP SC fev 1995; entre outras fontes
O exame dessas três figuras mostra que ideias, elementos de imagem, homônimos, podem ser usados de modo diferente em modelos feitos sob estruturas conceituais diferentes.
No modelo 5W e 2H no lado esquerdo acima, o destaque dado pelo losango em vermelho é nosso. Não estava na figura original. A figura é organizada por um sistema de categorias composto pelas 7 perguntas 5W2H.
O modelo da produção do Kanban é sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto da operação de produção, e é formulado como uma proposição instanciativa de um objeto previamente projetado, e portanto cuja representação foi anteriormente construída
O modelo de operações de construção de representação para empiricidade objeto (LD da figura) é feito calcado no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo; está evidenciada a formulação no formato de uma proposição. A origem de valor adotada está nas designações primitivas ( conjunto de operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites) e da linguagem de uso (o Repositório)
As duas animações acima – a nosso ver – apenas mostram que tanto John Dewey na sua visão [homem] [experiência] e [natureza] juntos; quanto Ilya Prigogine na sua visão do que seja caos na ciência moderna, estão pensando com uma configuração de pensamento COM a possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, o que não era comum para a ciência clássica, toda reversível.
O Sistema Formulador:
É um ante-projeto de um sistema para gestão de projetos com estrutura conceitual consistente com o pensamento moderno.
O módulo principal do sistema é uma unidade lógica que relaciona entidades envolvidas na proposição enunciadora de operações, mantidas em banco de dados, e gera sistematicamente o modelo de operações. O Microsoft Project, então, importa o modelo gerado como se fosse próprio, e a gestão continua, agora com um modelo gramaticalmente correto e criteriosamente estruturado.
Este é um ante-projeto de um sistema de gestão COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; esse sistema pode evoluir para um sistema visual de gestão e outros aplicativos.
Comparação do modelo SIPOC ou FEPSC – SixSigma(*) com o modelo Visão da PHD(**) do ponto de vista das estruturas respectivas.
A animação central mostra o que falta – estruturalmente – ao SixSigma para ter a estrutura do modelo da direita.
Temos à esquerda, o modelo do Kanban com a referência (*) abaixo. e á direita, a Figura 7.1 do livro Reengenharia, referência (**) abaixo. São organizados sobre a proposição, e pertencem à configuração do pensamento moderno. Você pode certificar-se da veracidade dessas duas afirmativas neste ponto (17).
(*) Artigo ‘A comparison of Kanban and MRP concepts for the control of Repetitive Manufacturing Systems’ de:
James W. Rice da Western Kentucky University e Takeo Yoshikawa da Yolohama National University
(**) Reengenharia – revolucionando a empresa: em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência
de Michael Hammer e James Champy
Exemplos de modelos muito conhecidos para operações e para as organizações
(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo
(**) Frases de Millor Fernandes
(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo
Classificar é referir
o visível a si mesmo,
encarregando um dos elementos
de representar os outros.(*)
Classificar é referir
o visível ao invisível
– como a sua razão profunda –
e depois, alçar de novo dessa secreta arquitetura, em direção aos seus sinais manifestos, que são dados
à superfície dos corpos.(*)
(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
cap. VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres; sub-item 3
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
(*) Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico II. A medida do trabalho;
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
(**) Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico II. Ricardo
Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ – é possível desejar algo e, sem mais qualquer providência, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!!
Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento (laboratório piloto, fábrica) com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção
(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar; tópico II. Gramática geral
Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; I. As novas empiricidades
As mudanças nas configurações do pensamento promoveram reposicionamentos das positividades umas em relação às outras, resultando em três espaços gerais do saber.(*)
(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo III – Representar; tópico VI. Mathésis e Taxinomia;
Capítulo X – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes;
de Michel Foucault
Tempo, em cada um dos segmentos do espectro, muda:
“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia. (…)
Sem dúvida,
as ciências naturais trataram do homem
como de uma espécie ou de um gênero.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico II. O lugar do rei
‘Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas, reclamando para seu devir não mais que o princípio de sua inteligibilidade e abandonando o espaço da representação, o homem, por seu turno, entra e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental’ (*)
“O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: está, ao mesmo tempo,
(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Prefácio
(**) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
I. O triedro dos saberes
Veja mais detalhes nas animações que podem ser encontradas nas páginas de detalhe deste tópico.
Paletas com o conjunto completo de ideias ou elementos de imagem necessários para a formulação das respectivas imagens das ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t ; incluindo relacionamentos entre esses elementos de imagem.(*)
(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades, de Michel Foucault
Posição em relação ao par sujeito-objeto
Referencial:
Princípios organizadores:
Métodos:
Referencial:
Princípios organizadores:
Métodos:
‘Assim, estes três pares,
função-norma,
conflito-regra,
significação-sistema,
cobrem, por completo,
o domínio inteiro
do conhecimento do homem.'(*)
São essas as ferramentas de que se arma o pensamento – em cada segmento do espectro de modelos, para produzir as imagens que servem de mapas, para orientação na construção das representações.
(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos
(*) Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia;
Capítulos I – A imagem; e II – A imagem técnica,
de Vilém Flusser
não há modelos constituintes nesse segmento do espectro, já que, pelos pressupostos adotados (Universo, realidade única) nada é constituído na existência em decorrência das operações feitas
modelo constituinte composto pelo par constituinte correspondente ao campo em que o modelo é formulado, tomados isoladamente em cada área:
campo das Ciências Humanas com modelos constituintes formados por uma combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, tomados todos em conjunto em cada modelo, dada ênfase a uma das áreas das ciências da região epistemológica fundamental
(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos
O modo como Foucault descreve o problema que encontrou em seu trabalho pode ser mapeado em um espectro de modelos agrupados segundo os dois fatores por ele percebidos: fator 1, com duas regiões quanto à fundação das sínteses na representação e com três regiões quanto à posição relativa ao objeto e ao sujeito:
Aquém, Diante e para Além do objeto.
Fator 1 – o domínio/contaminação do pensamento com o uso simultâneo de configurações de pensamento
e também com a possibilidade,
de fundar as sínteses da representação da empiricidade objeto, no espaço da representação’; com duas regiões em um espectro de modelos:
Fator 2 – dar conta da obrigação correlativa (…) de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os “quase-transcendentais”
com as seguintes regiões no espectro de modelos:
1. região do espectro: ‘Aquém do objeto’ (na impossibilidade);
2. região do espectro: ‘Diante do objeto’ (na possibilidade)
3. região do espectro: ‘para Além do objeto’, (na possibilidade) e no campo das ciências humanas, no espaço interior do triedro dos saberes.
outra região no espectro de modelos, com modelo constituinte único composto dos três pares constituintes das três regiões epistemológicas fundamentais
“É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado
“Substituir
foi um passo importante na boa direção por evitar a armadilha da linguagem clássica de fazer do organismo um sistema de processamento de informação.
(…) Contudo é uma formulação fraca por não propor uma alternativa construtiva e deixar a interação na bruma de uma simples perturbação. (…) Frequentemente se tem feito a crítica de que a autopoiese leva a uma posição solipsista. (**)
(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico: I. As novas empiricidades
(**) De máquinas e de seres vivos: autopoiese – a organização do vivo; Prefácio à segunda edição; tópico Além da autopoiese; sub-tópico: Enacção e cognição, de Francisco José Garcia Varela
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