Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Foucault:
os pensamentos clássico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)
e veja mais abaixo:
Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento
vistos pelos perfis (estruturas conceituais) que permitem identificar cada um deles
pensamento clássico,
antes de 1775

o de antes de 1775
pensamento moderno,
depois de 1775

o de depois de 1825
“Assim o círculo se fecha.
Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos.
As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada.
Mas que são esses sinais?
Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,
que há aqui um caráter
no qual convém se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança?
Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo?
– É a semelhança.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).
Contudo,
- não é a homologia que ele assinala,
pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo;
- trata-se de outra semelhança,
uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira.
Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança.
De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que
- o signo da simpatia resida na analogia,
- o da analogia na emulação,
- o da emulação na conveniência,
que, por sua vez, para ser reconhecida, requer
- a marca da simpatia…
A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”
“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
- (ela analisa por exemplo, para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome e a importância nova dos sistemas de flexão; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função);
ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades
- (a substituição do discurso pelas línguas, das riquezas pela produção);
estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras
- (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia);
enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável,
- mas um espaço feito de organizações, isto é, de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;
- mostrará que essas organizações são descontínuas, que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas são do mesmo nível enquanto outras traçam séries ou sequências lineares.
De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades,a Analogia
e a Sucessão:
de uma organização a outra, o liame, com efeito,
- não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos,
- mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel)
- e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,
- não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação,
- mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia. (*)
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault
Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825.
(*) A ordem clássica
distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas:
era essa a ordem que reinava soberanamente,
mas a cada vez segundo formas e leis
ligeiramente diferentes,
- sobre o discurso dos homens, [gramática geral]
- o quadro dos seres naturais [história natural]
- e a troca das riquezas. [análise das riquezas] (**)
(**) A partir do século XIX, a História
vai desenrolar numa série temporal
as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas.
É essa História que,
progressivamente, imporá suas leis
- à análise da produção, [análise da produção]
- à dos seres organizados, [biologia] enfim,
- à dos grupos linguísticos [filologia].
A História
dá lugar às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades e das diferenças sucessivas.
A forma de reflexão que se instaura depois de 1825 no pensamento moderno,
e o perfil dado por essa condição de possibilidade do pensamento:
referencial, princípios organizadores e métodos; com as duas sintaxes envolvidas
“Instaura-se
uma forma de reflexão,
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula. Isso tem duas conseqüências.”
(…) “A outra consequência é positiva.
Concerne à relação
do homem
com o impensado,
ou mais exatamente,
ao seu aparecimento gêmeo
na cultura ocidental.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – IX. O homem e seus duplos;
tópico V. O “cogito” e o impensado
de Michel Foucault
A partir de Ricardo,
o trabalho, desnivelado em relação à representação,
e instalando-se em uma região
em que ela não tem mais domínio,
organiza-se segundo uma causalidade
que lhe é própria
(…)
A quantidade de trabalho
necessária para a fabricação de uma coisa
(ou para sua colheita, ou para seu transporte)
e que determina seu valor
depende das formas de produção:
segundo o grau de divisão no trabalho,
a quantidade e a natureza dos instrumentos,
o volume de capital de que dispõe o empresário
e o que ele investiu nas instalações de sua fábrica,
a produção será modificada;
em certos casos será dispendiosa;
em outros, o será menos.
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VIII. Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico II. Ricardo
de Michel Foucault
A Utopia – tomada como referencial – é o impensado a que Foucault se refere na animação acima referindo-se àquilo em direção ao qual o pensamento (do homem) se dirige; essa ideia – ou elemento de imagem – pode ser chamado de
- visão,
- limite da estratégia,
- direção na qual se expande o pensamento,
e outros modos de denominar a mesma coisa.
O homem – aquele cujo pensamento se dirige ao impensado com a intenção de articular-se com este – é o sujeito da operação de articulação cujo resultado é a representação para o que antes era inarticulado.
O predicado do sujeito é composto por:
- um verbo – a Forma de produção encontrada para proceder a articulação;
- um atributo – o objeto da articulação, a representação possível para o pensamento antes não-articulado.
Vê-se com bastante clareza que a articulação feita pelo pensamento com o impensado tem a forma de uma proposição em uma linguagem natural falada.
“A quantidade de trabalho
necessária para a fabricação
de uma coisa [atributo do predicado]
(ou para sua colheita,
ou para seu transporte)
e que determina seu valor depende
das formas de produção:
[verbo do predicado do sujeito]
segundo o grau de divisão no trabalho,
a quantidade e
a natureza dos instrumentos,
o volume de capital de que dispõe
o empresário
[sujeito da operação de produção]
e o que ele investiu nas instalações
de sua fábrica, a produção será modificada; em certos casos será dispendiosa;
em outros, o será menos.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. 8 – Trabalho, vida e linguagem;
tópico II. Ricardo
de Michel Foucault
(citando Obras completas de David Ricardo)
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