Tempo no caminho da Construção da representação; domínio do deus 'Kairós'

Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
com duas amplitudes - abrangências muito diferentes

O que é este trabalho

Este trabalho é baseado em imagens e em vídeos (animações). Há nele muito pouco texto para ler; e na maioria das animações, há um áudio com o texto falado – que sempre você pode desligar se preferir ler diretamente. Nele, sigo o conselho/orientação de Vilém Flusser de reconstituir as imagens a  que correspondem os conceitos dos textos que usamos; e em seguida, relacionar tais imagens reconstituídas a partir dos textos, àquilo que deu origem a elas, na maioria dos casos as particulares visões de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t – obtendo com Conceituação e com Imaginação, relações reversíveis entre textos e imagens, e entre imagens (figuras) e as ocorrências espacio-temporais.

Veja o tópico 1. O conhecimento necessário para reconhecer as visões que povoaram a mente de pioneiros filósofos ao longo dos últimos dois séculos  – que serviram de estímulo para conquistas humanas no pensamento, e por outro lado o posicionamento, na história da filosofia em nossa cultura ocidental, dos conceitos embutidos em textos que usamos frequentemente, hoje, em áreas mais prosaicas como a produção, vem de Michel Foucault, este autor, a maior influência neste trabalho, e aqui, engenheiro de produção honorário, pelo que nos transmite em seu ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.
Utilizando diretamente a sugestão de Foucault quanto ao espectro de visões, (modelos e a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação) tomo então alguns poucos modelos antológicos existentes – e de muita utilização, e aplico a esses modelos os critérios de distinções obtidos neste estudo, formando esse espectro de modelos composto por três segmentos – , e para do objeto – agrupados em duas famílias e três segmentos.

Isso dará elementos para identificarmos os elementos que utilizaremos em nossas modelagens, as paletas de ideias ou elementos de imagem em cada uma dessas regiões e famílias, incluindo as relações necessárias entre essas ideias ou elementos de imagem, para que a relação texto – imagem – visão se estabeleça, nos dois sentidos; e com isso melhores condições de possibilidade de identificar e entender como são os modelos que usamos aqui e agora. E de descobrir um pouco mais de perto o modo como efetivamente pensamos.

Ainda no tópico 1. O traçado da rota a percorrer, veio de Humberto Maturana. Tomei a pedra fundamental de seu pensamento, as objeções e propostas que ele fez sobre como eram e como deveriam ser, os modelos para fenômenos, inspirados na biologia; está em De máquinas e de seres vivos: autopoiese, a organização do vivo; Vinte anos depois; História. De Maturana tomo também a Figura 2 – Diagrama ontológico; Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana; servem de inicio e de suporte para as animações.

O que é este trabalho

funcionamento das operações em função do entendimento

Perfis característicos dos entendimentos (episteme) em cada período

Características do pensamento clássico, o de antes de 1775,
perfil do entendimento (episteme) de operações clássico
Características do pensamento moderno, o de depois de 1825,
perfil do entendimento (episteme) de operações moderno

Funcionamento das operações, as de produção e outras, em função do entendimento (episteme) adotado em cada segmento do espectro de modelos identificados pela posição do par sujeito-objeto nos modelos em cada segmento. Cada segmento é então uma coleção de modelos com as seguintes características principais:

  • segmento AQUÉM do objeto (par sujeito objeto em oposição um ao outro, e fora do modelo);
  • segmento DIANTE do objeto (par sujeito-objeto em posição de concurso e ocupando posições operacionais na estrutura dos modelos);
  • segmento para ALÉM do objeto (par sujeito-objeto presente no modelo, mas modelo constituinte composto como uma combinação ponderada dos três pares constituintes das ciências
    • da Vida (Biologia [função-norma])
    • do Trabalho (Economia [conflito-regra]) e
    • da Linguagem (Filologia [significação-sistema]))

Vamos aqui aplicar a recomendação de Vilém Flusser quanto ao uso de nossas funções humanas, reversíveis, Imaginação e Conceituação (veja detalhes em Imagens tradicionais) implementando a relação

[Ocorrências no espaço-tempo] ⇔ [Imagens] ⇔ [Textos]

onde Ocorrências no espaço-tempo são as operações de produção e outras, Imagens são os modelos que fazemos para elas, e Textos carregam os conceitos com as ideias que temos durante a modelagem, e vamos então queremos mostrar esse funcionamento das operações  utilizando imagens que permitam reconstituir o sentido e a intenção dos conceitos usados na modelagem da maneira como vemos as operações em cada caso. 

Veja as duas tabelas ao lado: o modo de ver o que sejam as operações, de produção, – as de produção, de ensino, ou de pensamento, entre outras, difere substancialmente dependendo do entendimento (episteme) adotado o que faz muita diferença, como poderemos ver.

Veja no item 1.1 Posicionamento as figuras 

construídas sobre dois capítulos do livro Filosofia da caixa preta, de Vilém Flusser, que servem de base para essa explicação do funcionamento de operações usando Imaginação e Conceitualização.

10 pontos para contextualização Prefácio-texto do livro
Relação entre Textos e Imagens, e entre estas e as visões que temos da ocorrência espacio-temporal

Dez (10) pontos selecionados no texto do livro para contextualização entre o Prefácio e o restante do texto do “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”.

Vamos aplicar a esses pontos selecionados a recomendação de Vilém Flusser e estabelecer a relação

Ocorrências no espaço-tempo ⇔ Imagens ⇔ Textos

identificando as imagens que relacionam os conceitos com nossos modelos e com isso, pelo uso da nossa Imaginação e da nossa Conceituação, a dificuldade de melhor compreensão desses conceitos diminui.

 

Imagens tradicionais na visão de Vilém Flusser

Continuamos a usar aqui o pensamento de Vilém Flusser em Imagens tradicionais, um capítulo do livro Filosofia da caixa preta.

Veja a animação a que a figura ao lado dá acesso. É feita sobre um capitulo do livro de Flusser. Veja se ela faz sentido para você.

Em todos os 10 (dez) pontos escolhidos para contextualizar o Prefácio com o texto do livro ‘As palavras e as coisas’, usamos essa percepção de Flusser para como que erguer os conceitos do grau de abstração em que estão, e construí-los usando uma figura com as ideias, ou elementos de imagem que estão neles.

Para entender como e por que essa percepção de flusser ajuda na compreensão, veja ‘Classes de abstrações usadas pelo Pensamento‘ 

A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’

Uma história do nascimento do livro “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”, tal como contada pelo próprio Michel Foucault no Prefácio do livro; procuramos relacionar essa história do Prefácio – o mais que nos foi possível – com o próprio escopo do livro, seu objeto, e a razão de ser dessa obra: com a explicitação do caminho percorrido e dos achados do autor sobre os modos como configuramos nosso pensamento em nossa cultura, ao efetuar sua arqueologia das ciências humanas.

Partindo de modelos que expressam o funcionamento de operações: 

  • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775;
  • e sob o pensamento moderno, o de depois de 1825,
    • no caminho da Construção de representação nova para empiricidade objeto;
    • no caminho do Instanciamento de representação para empiricidade objeto com representação já existente no Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua. 

associamos ideias expressas por Foucault nessa história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ a elementos de imagem que fazem parte desses modelos de operações em distintos entendimentos (epistemes), tendo como suporte os dez pontos selecionados no texto do livro para os quais fechamos o circuito

[Ocorrência no espaço-tempo] ⇔ [Imagem] ⇔ [texto] 

usando nossas funções reversíveis Imaginação e Conceituação. Isso torna mais possível entender por exemplo o que sejam:

  • utopias, 
  • heterotopias 
  • a estrutura delineada pela classificação (fantástica, impensável) de uma certa enciclopédia chinesa, 
  • as duas sintaxes a que se refere o autor nesse texto, 
  • os dois conceitos para o que seja um verbo;
  • os dois conceitos para o que seja Classificar;

entre outras coisas.

Convite para diálogo sobre a Questão

Entre os modelos que apresentamos para operações, que podem ser as do próprio pensamento, da produção, de ensino, entre muitas outras, muito possivelmente estará aquela configuração de pensamento com a qual você pensa.

Usualmente pensamos com a configuração de pensamento que adquirimos meio que sem perceber o que está acontecendo, a partir do ambiente em que surgimos e iniciamos a viver.

Mas configurações do pensamento não são coisas que aparecem realmente novas, distintas, todos os anos. Michel Foucault, no ‘As palavras e as coisas’ nos dá conta de apenas duas de raiz, e mais uma que aparece a partir de uma delas. E isso no espaço de séculos.

O que se segue pode ser entendido como 

Reflexões imaginativas no espaço-tempo
dos Fluxos e das Permanências.

Descubra do que se trata e a força que essas distinções têm.

modelagem da operação do produto e a do instrumento
O Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, encontrada no livro Reengenharia, de Michael Hammer

O mago Merlin, aquele que na lenda satisfazia a todos os desejos de Arthur em um átimo, sem consumir absolutamente nada, – nenhum recurso, nem mesmo energia – e de maneira reversível, possuía o instrumento dos instrumentos: a varinha de condão. 

Esse instrumento dos instrumentos – pena que mágico – quebra várias leis da física e isso justifica a impossibilidade de utilizá-lo em operações reais.  A varinha mágica sugere uma organização do mundo – e um rebaixamento de entropia – sem qualquer custo e dispêndio de energia, por exemplo.

A visão SSS das organizações modela o objeto esperado (produto) que interessa ao grupo Clientes, e o instrumento (fábrica) capaz de obtê-lo no ambiente de realidade. 

Fica destacado nesse arranjo de como ver uma organização, o Nexo da produção de onde  surgirá o objeto que interessa aos acionistas: o lucro, ou benefícios de qualquer outra natureza.  

Essa estrutura SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica nada mais é do que a aplicação com critério da modelagem organizada pelo par sujeito-objeto. Como não é muito comum a organização de  modelos de operações organizados pelo objeto, essa estrutura pode parecer algo estranha.

Mas veja no livro Reengenharia o que Hammer diz sobre esse retângulo: 

“O processo de ‘Desenvolvimento da capacidade de fabricação’ toma uma estratégia como entrada e produz uma Fábrica como saída.”

Reengenharia: revolucionando a empresa em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência; cap. 7 – A caça às oportunidades de reengenharia, pg. 98.

Ora como o retante do mapa todo, a partir do título refere-se a produção de semicondutores, e esse último retângulo produz uma fábrica a partir de certas estratégias, então temos dois objetos nesse mesmo mapa. E muito diferentes. Podemos ter mais de um objeto em um mesmo mapa de operações, mas cada qual terá o seu modelo de operações, organizado pelos respectivos pares sujeito-objeto.

Como Hammer ainda fala em processos, e pensa em entradas que produzem saídas, ele não deve ter achado conveniente simetrizar esse mapa. A estrutura SSS é exatamente essa simetrização.

A varinha mágica de condão

Merlin
o mago Merlin, e seu instrumento imune às leis da física

Laboratório e Fábrica: sucedâneos práticos
da varinha mágica de condão

Área de projeto piloto ou Laboratório
Unidade de produção ou Fábrica

Esse instrumento mágico era indiferente quanto ao objeto de desejo do rei. Concretizava instantaneamente qualquer coisa. Pena que era um instrumento mágico.

Para a varinha mágica o objeto de desejo de Arthur era indiferente.

Ninguém hoje imagina que um objeto esperado como resultado de uma operação de produção, por exemplo, possa concretizar-se no sentido de tornar-se disponível em ambiente de realidade, sem um instrumento capaz de fazer isso. E esse instrumento é específico com relação ao objeto esperado das operações, e pode receber o nome de Unidade de produção, Fábrica, e quando ainda em desenvolvimento, Laboratório ou Área de projeto piloto.   

Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica: a organização na realidade do ambiente em que suas operações ocorrem, composta simultaneamente por:

  • a) operações que resultam no objeto esperado (produto) por um grupo de interessados (clientes), e
  • b) nas operações que resultam no instrumento indispensável para obtê-lo, que durante o caminho do Instanciamento permite o surgimento de outro objeto (benefícios, lucro), este esperado por outro grupo de interessados (acionistas);

Por detrás dessa visão SSS da organização está:

  • de um lado a convicção de que varinhas mágicas de condão, como a de Merlin não existem, e que portanto se pretendemos obter um objeto – qualquer coisa, temos de necessariamente indicar o Instrumento prático real com o qual podemos realizá-lo no ambiente em que estamos;
  • e de outro, que em ambientes de operações reais, os instrumentos substitutivos reais da varinha mágica (áreas piloto, unidades de produção, por exemplo) são imprescindíveis e devem necessariamente fazer parte do modelo de operações,

evitando o pensamento mágico – sem instrumento -, das operações, de produção e outras, e também a confusão de objetos diferentes, rebaixando a qualidade da informação no modelo de operações. 

Se modelamos operações sem especificar explicitamente o instrumento, e esse objeto, o instrumento, é imprescindível, acaba acontecendo que o modelo de operações para o objeto esperado fica contaminado pela realidade de que o instrumento precisa ser providenciado.

Porta de entrada e boas vindas

Bem vindo. Pode entrar.

Este trabalho foi feito com muito prazer, e esperamos que você, ao aceitar meu convite, sinta o mesmo ao dele tomar conhecimento.

Vilém Flusser, Michel Foucault e Humberto Maturana: pensadores nossas referências neste trabalho

Algumas boas razões para este estudo de modelos de operações (configurações do pensamento) com o apoio de filósofos como Michel Foucault

Vilém Flusser e Michel Foucault apontam formas de reflexão que se instauram (em adição, ou em substituição a outras existentes anteriormente. 

e observe quais são as ideias, ou elementos de imagem requeridos para formular modelos sob essa forma de reflexão.

Literalmente há uma unanimidade, atualmente,  quanto ao uso (e abuso) do conceito de ‘Processo’; igualmente, o mesmo ocorre com o modo de ver operações: estas são vistas praticamente sempre, como uma transformação de Entradas em Saídas, ou como um processamento de informações. 

Mostramos aqui que adotando as formas de reflexão apontadas por Flusser e Foucault, operações adquirem uma aparência totalmente diferente dessa. Veja e compare:

Nota: as animações a que os links acima dão acesso foram feitas sem áudio de narração.

No Prefácio do livro ‘As palavras e as coisas’, Michel Foucault refere-se a dois tipos de sintaxe envolvidos no funcionamento de operações. Podem ser operações de produção, de pensamento, de ensino, do que quer que seja. Veja quais são esses tipos de sintaxe:

A figura que serve de fundo para essas animações que os links acima acessam é a Figura 2 – Diagrama ontológico que está no capítulo ‘Reflexões epistemológicas’ do livro ‘Cognição e Vida cotidiana’; ou ainda é também a Figura 2 agora com o título ‘O explicar e a experiência’, no capítulo ‘Linguagem emoções e ética nos afazeres políticos’ do livro ‘Emoções e linguagem na educação e na politica’, ambos os livros de Humberto Maturana.

Menciono essa figura e sua origem neste ponto, porque a visão comparativa entre os lados esquerdo e direito, respectivamente o pensamento clássico e o moderno, permitem identificar o que o LD tem a mais em relação ao LE, para a instauração da linguagem via a formulação das operações.

Há dois conceitos, ou pode ser que um conceito e dois tratamentos para o que seja um verbo. 

“A única coisa que o verbo afirma é a coexistência de duas representações; por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte; é por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.”

“É preciso, portanto, tratar esse verbo como um ser misto, ao mesmo tempo palavra entre as palavras, preso às mesmas regras, obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado mas aquela donde se fala. Ele está na orla do discurso, na juntura entre aquilo que é dito e aquilo que se diz, exatamente lá onde os signos estão em via de se tomar linguagem.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III – A teoria do verbo

Podemos ver claramente, com a ajuda de imagens, figuras, que tornem possível entender conceitos geométricos como esse ‘em recuo em relação a elas todas’ especificando regiões espaciais que podem e devem ser identificadas, o que sugere um desnivelamento de algumas coisas em relação a outras, como e por que um conceito está para o pensamento clássico e seu sistema input-output e o outro para o pensamento moderno, com operações formuladas em coerência com o Princípio dual de trabalho de David Ricardo.

 

O tempo nas configurações do pensamento é função do lugar onde a operação ocorre.

Conceito chave para entender o tempo em função do lugar onde a operação ocorre é o que Foucault chama de ‘modo de ser fundamental das empiricidades’.

  • Modo de ser fundamental das empiricidades‘, segundo Foucault, é aquilo que permite que elas sejam afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.
  • os tipos de propriedades usadas para descrever o que acontece durante as operações:
    • propriedades não-originais e não-constitutivas são usadas para descrever o que acontece nas operações sem preocupação com origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, dentro do pressuposto de que tudo existe, desde sempre e para sempre, criado por Deus e integrando o Universo.
    • propriedades sim-originais e sim-constitutivas são usadas para descrever os resultados da operação em busca de origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites para a empiricidade objeto da operação. O pressuposto agora admite múltiplas realidades, a construção de novas representações, e toda representação construída permanece em um repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua provisoriamente, até que se evidencie a necessidade de uma reformulação.

Quanto ao lugar onde ocorrem, uma operação pode ocorrer no ‘Lugar de nascimento do que é empírico‘ e no ‘Circuito das trocas‘.

  • Lugar de nascimento do que é empírico‘ obviamente, é o lugar onde as coisas empíricas nascem, e portanto, é o lugar onde suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas são determinadas. Assim, as coisas, as empiricidades objeto das operações, são tratadas por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas já que são estas que precisam surgir com o sucesso da operação. E como decorrência da determinação desse tipo de propriedades, o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação muda, é alterado em decorrência do sucesso da operação.
  • Circuito das trocas‘ é o lugar onde ocorrem operações em que as propriedades sim-originais e sim-constitutivas não se alteram, e por isso mesmo, ficam fora do escopo dessas operações, que funcionam com propriedades não-originais e não-constitutivas, ou no modo como Maturana pensou isso, as “aparências”. Como decorrência dessa estabilidade nas propriedades sim-originais e sim-constitutivas (ou de todo, da não consideração delas) nessas operações no interior do ‘Circuito das trocas’ o ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja não muda em decorrência desse tipo de operação: tudo continua sendo afirmado, posto, disposto, etc. etc. da maneira de sempre.

 Dentro do acima, é necessário estudar o tempo nas seguintes situações:

um tempo relativo, tempo calendário, dado por uma operação reversível durante sua formulação, e irreversível na etapa de instanciamento que ocorre no interior do Circuito das trocas. Propriedade emergente Fluxo.

um tempo absoluto, e portanto não-calendário,  dado por uma operação irreversível já na sua formulação em virtude da alteração (irreversível) do ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação. Ocorre no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, lugar onde, com o sucesso das operações, o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação é alterado nesse domínio e nesse ambiente em que a operação ocorre. Propriedade emergente Permanência.

o tempo volta a ser relativo, tempo novamente calendário, dado por uma operação reversível durante sua formulação, e irreversível na etapa de instanciamento propriamente dita que ocorre no interior do Circuito das trocas. Propriedade emergente volta a ser Fluxo.

Bem, no que se refere ao que seja ‘Classificar’ Foucault é muito claro.

E pensando em modelar operações, construir modelos para elas seguindo o modo como as vemos, ‘Classificar’ é um conceito muito importante.

Veja o que diz Michel Foucault:

“Classificar, portanto,

não será mais referir o visível a si mesmo, encarregando um de seus elementos de representar os outros; 

será, num movimento que faz revolver a análise, reportar o visível ao invisível, como à sua razão profunda, depois alçar de novo dessa secreta arquitetura em direção aos seus sinais manifestos, que são dados à superfície dos corpos.”

 As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

Comentários abaixo fazem referência:

  1.  ao Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo
  2. e principalmente às diferenças entre esse princípio de Ricardo e o de Adam Smith,

estabelecidas por Michel Foucault:

“O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: 

  • está, ao mesmo tempo, no fundamento de todas as positividades

comentário: esse papel do homem corresponde ao seu engajamento em uma atividade de produção e ‘trabalho como atividade de produção é a fonte de todo valor ‘;

  • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
    no elemento das coisas empíricas.

nessa posição o trabalho que o homem oferece e o empresário compra é representável em unidades de trabalho por ser do tipo analisável em jornadas de subsistência, e que por isso pode ser expresso em unidades comuns de valor entre todas as mercadorias. 

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas; tópico I. O triedro dos saberes

Esta animação mostra as ideias, ou elementos de imagem, necessários para a formulação de operações em modelos que levem em conta essa duplicidade de papéis. Sem essa paleta de elementos de imagem, a formulação de modelos de operações em que o homem está presente é pouco mais que retórica.

 

Modelos de operações – em cada caso concreto de cada dado modelo – ocupam um segmento de um espectro de modelos organizado pela posição do par sujeito-objeto no projeto do dado modelo:

  • segmento AQUÉM,
  • segmento DIANTE,
  • e segmento para ALÉM do objeto.

A análise/projeto de modelos em qualquer um desses segmentos exige do analista/projetista que consiga descobrir em que segmento está trabalhando. E para isso, é necessário ter em mente os entendimentos possíveis, ou as características das epistemes.

Modelos em economia política, em sociologia, em psicologia, em política, de maneira geral, modelos no domínio das ciências humanas, têm modelo constituinte bastante complexo porque é uma combinação, ponderada, dos pares de modelos constituintes das ciências que compõem a região epistemológica fundamental.

Então, claramente, modelos no domínio das ciências humanas são função dos modelos das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, cada um destes com modelo constituinte formado por um par constituinte apenas, diferente para cada uma dessas ciências.

Parece sensato, em vista disso, compreender a fundo como funcionam os pares constituintes das ciências da Vida (Biologia), do Trabalho (Economia) e da Linguagem (Filologia) levando esse conhecimento prévio para a análise de ciências com modelos muito mais exigentes do pensamento.

  • Trabalho tal como visto por David Ricardo em seu princípio dual, com dois componentes:
    • essa força, esse esforço, esse tempo do operário que se compram e se vendem, (um trabalho que pode ser reduzido a jornadas de subsistência e pode servir de unidade comum de valor entre todas as mercadorias);
    • e essa atividade que está na origem do valor da coisas: (trabalho agora visto como atividade de produção e origem do valor das coisas).

A Previdência social trata da subsistência após período útil para o trabalho, daquelas pessoas, daqueles homens quem se envolveram em operações de produção oferecendo sua força, seu esforço, seu tempo, que venderam a quem se dispôs a comprar.

E quem comprou essa força, o esforço, o tempo de quem tinha para vender foram os controladores das operações de produção.

Os empresários, os controladores das operações de produção, estão fora da reforma da Previdência.

Referências sobre fundamentos filosóficos do Liberalismo

  • John Locke, 1632-1704 é considerado por muitos como o inspirador do Liberalismo.
  • Não é difícil encontrar também Adam Smith como base filosófica do Liberalismo.
  • há ainda outras citações que mencionam David Hume, Adam Smith, David Ricardo, Jeremy Bentham e Wilhelm Humbolt e outros, como sendo os principais autores do liberalismo clássico.

Acompanhando a análise feita por Foucault do que ele chama de ‘vento fundador da nossa modernidade no pensamento’, a descontinuidade epistemológica de 1775-1825, vê-se sem dificuldade que ‘o pensamento que nos é contemporâneo, e com o qual queiramos ou não, pensamos’ tem, sim a capacidade de fundar as sínteses [da representação] no domínio da Representação.

Assim sendo (e entendido) há algo de errado na fundamentação filosófica do Liberalismo tal como é apresentado na maioria das vezes.

Causa um certo desconforto a indicação de referências que listam conjuntamente Adam Smith e David Ricardo. Tal aproximação não convém, já que os entendimentos de um e de outro são substancialmente distintos.

Os modelos de operações e de organizações comumente usados em demonstrativos econômico-financeiros  são:

  • para operações: Débito e Crédito;
  • para organizações: Ativo, Passivo e Resultado.

Esses modelos são consistentes com a maneira de entendimento do pensamento filosófico de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, o pensamento clássico, portanto.

Não há sinal neles do homem em sua duplicidade de papéis, e do objeto especialmente durante a operação de construção de representação nova.

Análises econômico-financeiras tratam de trocas. Não descrevem alterações no modo de ser fundamental do objeto das operações e escopo das organizações, especificamente no modo como esses objetos podem ser afirmados, postos, dispostos e repartidos no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

Não há sinal nessa configuração de pensamento para o Lugar de nascimento do que é empírico.

Seu lugar de transcorrência é o Circuito das trocas.

Estes são os pensadores  inspiradores deste trabalho e estes são dois dos seus textos maravilhosos:

 

  • Vilém Flusser, principalmente com seus livros ‘Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia’, mas também com o pequeno ‘Da religiosidade’ onde ele discorre sobre ‘Pensamento e reflexão;
  • Michel Foucault, com o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.

As três figuras abaixo servem para demonstrar que o Filosofia da caixa preta de Flusser tem muitíssimo a ver com as caixas pretas distribuídas generosamente em meio às abstrações que usamos atualmente no dia  a dia, nossos modelos de operações, nossos modelos de sistemas, o modo como interpretamos tais modelos, e os decodificamos para compreender as imagens que geram, se é que chegamos a isso.

E o ‘As palavras e as coisas’ de Foucault descreve em riqueza de detalhes os entendimentos a partir da filosofia, para esses mesmos modelos referidos a pontos de mudança no nosso entendimento (episteme) na história recente do pensamento em nossa cultura.

Se você quiser testar se o que virá vale ou não a pena de ser visto, veja a seguir uma História do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas’, com imagens essencialmente, aplicando a sugestão de Vilém Flusser que está expressa no esquema à direita, e nas três figuras abaixo.

Este trabalho encontra razão de ser na percepção de que esses ciclos entre abstrações de diferentes dimensões e graus de abstração, criados por funções humanas – que todos temos ou deveríamos ter –  são (devem ser) reversíveis tais como descritos por Flusser nas animações abaixo, muito mais frequentemente do que supomos, não se fecham, quando examinamos mais de perto modelos largamente utilizados em nosso ambiente.

Imagens que não mais nos servem de orientação para o mundo, e mesmo assim continuarem em uso configuram idolatria. E Textos que decodificados não mais nos levam a imagens que nos servem de orientaçção para o mundo, se ainda assim continuarem em uso, configuram textolatria.

Especificamente no caso das imagens tradicionais, nossas funções como humanos Imaginação e Conceituação muito frequentemente não funcionam do modo reversível como seria de se esperar.

No caso das imagens técnicas a questão é mais exigente do pensamento analítico. Veja a animação na figura da direita acima. 

o caminho reversível desde ocorrências no espaço-tempo, passando por imagens, até textos onde estão os conceitos que elaboramos, e vice-versa.
Visão, Imaginação e Conceituação:
imagens tradicionais
classes de abstrações usadas pelo pensamento, suas dimensões e funções especificas de cada uma
Imagens técnicas: as imagens especiais geradas por aparelhos

Um dos tópicos em nossa página de entrada tem o título

“10 pontos para contextualização
entre Prefácio e o restante do texto”

do livro “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”, de Michel Foucault.

Passando seu mouse sobre as figuras você vera a capa de cada uma das animações que compõem esse tópico, com o respectivo assunto.

Dá para ver imediatamente conceitos geométricos porque fortemente dependentes de uma visão da disposição espacial  das ideias, ou dos elementos de imagem requeridos. A bem dizer, isso acontece em todos os 10 pontos, mas alguns exemplos:

  • o ponto 1: a forma de reflexão que se instaura;
  • o ponto 5, o conceito moderno para o que seja um verbo, ou o tratamento dado aos verbos nessa nova maneira de conhecer empiricidades;
  • o ponto 6: as duas sintaxes mencionadas por Foucault intervenientes em uma certa configuração do pensamento, desde o Prefácio do livro;
  • o ponto 8: o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817; por que dual? e em que domínios se instala?
  • o ponto 9: os dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
  • o ponto 10: os segmentos no espectro de modelos.

Vamos explorar o que Foucault está pensando em operações do pensamento sob diferentes configurações nesse seu Prefácio; tendo em mente todo o conteúdo do livro. No tópico:

“História do nascimento do livro “As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas”

contamos essa história com a intenção de recompor onde necessário, e mostrar a falta onde está ausente, dessas estruturas que reúnem as paletas de ideias ou elementos de imagem.

Veja primeiro, nesse tópico da história do nascimento do livro,

defasagens entre conquistas humanas no pensamento e aplicações desse conhecimento nas técnicas
Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825 mostrando Adam Smith e David Ricardo de lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento.

Essa linha de tempo mostra alguns descompassos, intervalos de tempo às vezes muito grandes, entre conquistas do campo pensamento e aplicações desse conhecimento no domínio das técnicas.

Mostra também trabalhos apresentados como inovadores, mudanças radicais no entendimento, quando em vez, a partir de um alinhamento filosófico prévio, seriam considerados aplicações de entendimentos obtidos em conquistas anteriores. Temos dois exemplos que poderiam demonstrar isso, a nosso ver:

  • o conceito de caos na ciência moderna, de Ilya Prigogine, 
  • as visões de mundo de John Dewey.

que podem ser comparadas com a visão de operações consistentes com o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo mostrando maneiras idênticas de entender o mundo e as coisas.

No início do século XX entre outras conquistas surgiu o management. Há quem diga que o management foi uma das maiores invenções do século passado. E surgiu apresentando como fundamentação filosófica Adam Smith, e adotando modelos de operações e de organizações consistentes com Adam Smith. Mas desde 1817 com a publicação do Principles of political economy and taxation de David Ricardo já havia na filosofia como visualizar operações e organizações de um modo muito mais conectado com o fenômeno operações em organizações. A defasagem nesse ponto é de aproximadamente um século.

Mas foi necessário um intervalo de mais 25 a 30 anos para que surgisse um sistema de produção cujo entendimento de operações e organizações osse consistente com o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

No final do século XX o mundo do management foi abalado por uma revolução denominada ‘Reengenharia’.

Isso ocorreu na década de 90 e não durou muito, reduzindo-se a um modismo hoje esquecido, a julgar pelos modelos hooje em dia recomendados.

Pois visto de perto, o modelo da reengenharia é consistente com o modelo de operações do Kanban, e os dois são consistentes com o entendimento filosófico da configuração de pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.

Se assim for, a Reengenharia não deveria ter sido esquecida. Veja por você mesmo, no que se segue, se as coisas são assim mesmo ou são de outro modo.

dificuldade de imaginar (construir imagens) alinhadas com o entendimento filosófico das operações
figura encontrada em material de treinamento sobre a linguagem UML de Ivar Jacobson

Veja o exemplo ao lado encontrado no livro The Unified Software Development Process, de Ivar Jacobson e outros, na Fig. 1.1 – o processo de construção de um software em poucas palavras.

A intenção do autor parece ser a de representar de um e de outro lado das operações de construção do software o próprio Sistema de software em dois estados sucessivos. Essa intenção exige um sistema absoluto no qual haja mudança no modo de ser fundamental especificamente da empiricidade objeto ‘Sistema de Software’.

Mas a figura escolhida para representar essa ideia é a de

Entradas ⇒ Saídas

construída sobre um sistema Input-Output, um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.

O exemplo é ilustrativo da falta que faz um alinhamento filosófico para o projeto de modelos em qualquer área. Esse modo de ver operações acaba condicionando a forma como os usuários usam todo o conhecimento contido no livro.

Para compreender a verdade existente na afirmação que acabo de fazer é necessário ter um critério de comparação de modelos para poder descobrir com que entendimento foram feitos.

Logo na página de entrada você encontra as paletas de ideias, ou elementos de imagem para a configuração do pensamento clássico, o de antes de 1775, e o moderno, segundo Foucault, a configuração de pensamento que se consolidou depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.

Verá que os modelos de operações como a proposta no The Unified Software Development Process tratam com propriedades sim-originais e sim-constitutivas do sistema de software, e que para que esse tratamento possa ter lugar é necessária a noção de objeto.

falta alinhamento filosófico explícito, o que provavelmente contribuiu para que a Reengenharia fosse tratada como um modismo passageiro
a Figura 7.1 Mapa da atividade semicondutores de Michael Hammer, original

Veja a Fig. 7.1 – Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, original do livro Reengenharia de Michael Hammer (a figura abaixo).

É visível que todo o mapa, desde o título, é organizado em torno do objeto. A modelagem organizada pelo objeto (e pelo sujeito, em realidade pelo par sujeito-objeto) é bastante distinta da modelagem até então utilizada, na qual o objeto no sentido no qual ele é usado nesse mapa de Hammer, era simplesmente inexistente.

Examinando mais de perto esse mapa vê-se que todos os módulos referem-se ao objeto que é esperado das operações modeladas – refiro-me ao objeto semicondutores – exceto um.

Esse bloco relacionado a objeto distinto de semicondutores é o ‘Desenvolvimento de capacidade de fabricação.

Sobre esse bloco,Hammer diz que nele um conjunto de estratégias são transformado em uma Fábrica.

Do mesmo modo como as operações das quais resulta o objeto semicondutores exige o conjunto de blocos mostrado no mapa, o objeto Fábrica igualmente exige um conjunto semelhante.

E esse conjunto de blocos que modelam operações que resultam em objetos esperados tem muito pouco de específicos em relação a semicondutores, mas ante, é apropriado para objetos esperados, quaisquer que sejam.

o detalhamento do bloco ‘Desenvolvimento de capacidade de fabricação simetriza o mapa da reengenharia e evidencia o Nexo da produção.

Além disso, acrescentamos nesse mapa todas as ideias ou elementos de imagem que tornam possível a formulação das proposições implícitas em cada um dos blocos.

as operações modeladas na estrutura SSS – Simétricas, Simbióticas e Sinérgicas uma simetrização da Fig. 7.1 da Reengenharia

Clique na figura ao lado e verá a organização SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica na qual:

  • as operações de obtenção do objeto esperado pelo grupo Clientes (produto) estão incluídas, em duas etapas importantes:
    • a construção desse objeto;
    • o instanciamento desse objeto no ambiente
  • as operações de obtenção do instrumento requerido para a obtenção do objeto esperado pelo grupo Clientes (produto) o Laboratório/Unidade de produção ou Fábrica estão também incluídas, em duas etapas importantes:
    • a construção desse objeto Instrumento;
    • o instanciamento desse objeto Instrumento  no ambiente;
    • a composição do Nexo da produção.

abrindo espaço e lugar para o objeto de interesse do grupo Acionistas, Lucro ou benefícios de qualquer natureza.

convite a uma posição receptiva

Para tratar esse tipo de questões é necessário que baixemos os nossos pressupostos.

Este é um alerta e um convite  para que nos coloquemos em uma posição receptiva a possíveis ideias novas que poderão se apresentar a seguir neste trabalho

 

a história que deu origem ao ‘As palavras e as coisas’ como contada no Prefácio por Michel Foucault

Essa figura ao lado dá acesso a uma versão nossa da história de nascimento do ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ tal como contada por Foucault no Prefácio do livro.

Nessa animação propomos uma relação entre um excerto do texto do Prefácio, com as visões aplicáveis em cada ponto da narrativa, e assim destacamos as estruturas que reúnem as ideias (ou os elementos de imagem)  necessários em cada composição da imagem respectiva.

No texto destacado do Prefácio, Foucault discorre sobre Utopias e Heterotopias, entendendo estas últimas, as heterotopias, do modo mais próximo de sua etimologia como o lugar onde

“as coisas aí são
“deitadas “, “colocadas “, “dispostas”
em lugares a tal ponto diferentes,
que é impossível
encontrar-lhes um espaço de acolhimento,
definir por baixo de umas e outras
um lugar comum”.

Neste trabalho associamos o conceito de heterotopia – especialmente levando em conta esse significado acima transcrito, dessa palavra, ao Sistema de categorias ou o Quadro, do pensamento clássico e ao uso simultâneo de diferentes ordens desse tipo, que ocorre em modelos de operações e de organizações que usamos atualmente.

O modo como contamos aqui a história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’, cujo texto está no Prefácio do livro, depende da contextualização entre o Prefácio e o restante do livro, usando para essa contextualização fragmentos de textos do próprio livro.

Por favor veja antes o tópico 10 pontos de contextualização, o primeiro no slider maior na nossa página de entrada.

Nossa intenção é mostrar que essa conceituação de heterotopia coincide bastante bem com o sistema de categorias, ou o Quadro no pensamento clássico e com o conjunto desses sistemas usados simultaneamente em modelos que usamos hoje. Enfatizamos os problemas criados por esse entendimento do pensamento, como a possibilidade de uso simultâneo de múltiplas ordens com as consequências referidas pelo pequeno trecho Prefácio que destacamos.

E procuramos esclarecer o papel das Utopias na articulação do pensamento com o impensado em um modelo de operações para o pensamento moderno, no caminho da Construção de representações.

E mostramos como abrigar as entidades mencionadas por Foucault no Prefácio como as Utopias, os dois tipos de sintaxe envolvidos, os dois conceitos para ‘Classificar’ e para o que seja um ‘Verbo’, etc. sempre em uma estrutura consistente com o princípio dual de trabalho de David Ricardo, e também, olhando para o lado da prática,  com o modelo descritivo de operações do Kanban e da Reengenharia.

a imagem que Foucault tinha na cabeça quando escreveu o Prefácio do ‘As palavras e as coisas”
estes são os elementos de imagem, ou as ideias que compõem a figura, uma operação no caminho da construção da representação, no pensamento moderno.

Temos a clara impressão de que ao escrever o Prefácio do “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas” Michel Foucault tinha em mente todo o estudo em estilo de arqueologiadas ciências humanas que desenvolveu. Por isso provavelmente o texto do Prefácio foi escrito depois de o livro estar pronto.

Esse texto permite uma imagem composta com as ideias, ou elementos de imagem que o compõem.

Esta animação faz a proposta dessa imagem, ou de uma imagem que seja ema recodificação desse texto.

A figura abaixo dá acesso a uma paleta de ideias ou elementos de imagem para o modelo de operação no caminho da Construção da representação sob o pensamento filosófico moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.

Na nossa página de entrada encontram-se também as paletas do pensamento clássico, e para o moderno, no caminho do Instanciamento da representação.

Clicando na figura abre-se um popup.

Passando o mouse por sobre os elementos de imagem são apresentados os significados de cada um, o papel de cada um na imagem de conjunto.

10 pontos, excertos de texto de Foucault, que ajudam a contextualizar o texto do Prefácio.

Uma lista de 10 pontos, de autoria de Michel Foucault, encontrados no livro

‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’,

para ajudar na contextualização do que ele diz no Prefácio com o restante do livro, e entender melhor o próprio escopo do trabalho do autor, nesse livro.

Para cada um desses pontos incluímos uma animação que estabelece a ligação do conceito embutido no texto com a imagem respectiva em função do entendimento utilizado, apresentando a paleta de ideias – ou elementos de imagem, e seus relacionamentos.

Exemplos de modelos muito utilizados atualmente, construídos sob modos de entendimento das operações (epistemes) diferentes

Exemplos antológicos, muito usados atualmente, construídos com modos de entendimento de operações diferentes:

  • modelos construídos sob a episteme do pensamento clássico, o de antes de 1775:
    • para operações

Modelo descritivo de operações de produção devido a Elwood S. Buffa, organizado por uma (ou mais de uma como alerta Foucault) ordem arbitráriamente escolhida(s)

Modelo de operações no sistema contábil-financeiro. (Débito/Crédito)

ambos organizados a partir de ordem(ns) arbitrariamente selecionadas tendo portanto como referencial a ordem pela ordem, princípios organizadores Caráter e Similitude

    • para organizações:

⇒ Modelo  para uma organização típica, adaptado de Mário Zilbovicius conforme referência, 

⇒ Modelo para uma organização no sistema contábil Financeiro: (Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido ou Resultado) 

nos quais podemos ver claramente múltiplas ordens “ligeiramente diferentes” como sobre isso diz Foucault.

  • modelos construídos sob a episteme do pensamento moderno, o de depois de 1825:
    • para operações

⇒ Modelo descritivo de operações de produção do Kanban (formulação das operações neste modelo como uma proposição com sujeito das operações e predicado do sujeito, este composto por uma Forma de produção claramente indicada na figura, e com o atributo do sujeito, a empiricidade objeto da operação. 

⇒ Modelo de operações da Reengenharia, com o Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, encontrado no livro Reengenharia.

    • para organizações:

⇒ Modelo descritivo de operações de produção do Kanban: também organizado no formato de uma proposição, coisa que não é tão evidente à primeira vista, mas que pode ser vista em animação específica neste trabalho.

⇒ Modelo de operações da Reengenharia, com o Mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, encontrado no livro Reengenharia.

A dificuldade e a obrigação cujos atendimentos contribuiram para alongar o trabalho de Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’

Nesse fragmento de texto do início do Cap. VII – Os limites da representação; tópico I – As novas empiricidades, Foucault descreve quais tinham sido as duas maiores dificuldades em seu trabalho nesse  livro. Diz ele que acaba de identificar, já entrando no final do seu trabalho, dois óbices:

  • uma dificuldade:

uma dominação do pensamento com o qual queiramos ou não pensamos, do nosso pensamento portanto, pela incapacidade de fundar as sínteses no espaço da representação, esta uma característica do pensamento que nos é contemporâneo em nossa cultura, por uma característica típica do pensamento clássico;

  • e uma obrigação:

a obrigação correlata de abrir o campo transcendental da subjetividade e de construir, para além do objeto, os quase-transcendentais da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

Quanto à dificuldade apontada, fundar as sínteses (entenda-se as sínteses da empiricidade objeto obtida pelo princípio organizador Análise) coloca o objeto em posição central; e se atentarmos para a forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, junto com o objeto vem o sujeito,  

Durante todo o trabalho até aqui Foucault já havia lidado com modelos situados quanto a sua estrutura, AQUÉM do objeto, – incapazes de lidar com esse conceito a partir de propriedades sim-originais e sim-constitutivas; e também com modelos situados quanto a sua estrutura DIANTE do objeto, porque capazes de lidar com o objeto pelas suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

E está agora indo adiante e percebendo um novo segmento nesse espectro de modelos: o dos modelos para ALÉM do objeto, cujo modelo constituinte é uma composição ponderada dos três modelos constituintes das ciências que habitam o eixo epistemológico fundamental mostrado no Triedro dos saberes, a saber, as ciências

  • da Vida, (Biologia [função-norma]);
  • do Trabalho (Economia [conflito-regra]) e
  • da Linguagem (Filologia [significação-sistema]) .

Note que os modelos nessas três áreas pertencem ao segmento de modelos DIANTE do objeto; como o modelo constituinte das ciências humanas é uma combinação ponderada desses pares constituintes, vê-se que é necessário compreender como são as operações organizadas pelos pares sujeito-objeto.

Veja isso nas animações neste trabalho

funcionamento da operação no pensamento clássico, o de antes de 1775,
mostrado no LE da figura

Funcionamento da operação sob o entendimento do pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825.

Este tipo de operações consegue tratar somente propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, e isso é o mesmo que dizer que as coisas são tratadas por “aparências”, qualidades, adjetivos, ou por propriedades não-originais e não-constitutivas, ou por .

O homem – como único ser capaz de desempenhar dois papéis:

  • estar na raiz e fundamento de toda positividade;
  • estar no elemento do que é empírico;

não havia surgido ainda no pensamento.

A forma de reflexão em que está em questão o ser do homem nessa dimensão o pensamento segundo a qual o pensamento se dirige ao impensado e com ele se articula ainda não havia surgido. Veja o ponto 11 deste tópico ‘Funcionamento’. 

operação no caminho da Construção da representação,
no LD da figura, e no interior do
Lugar de nascimento do que é empírico

A animação que mostra a Forma de reflexão que se instaura, segundo Michel Foucault depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, com as seguintes palavras:

“Instaura-se uma forma de reflexão, bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana, em que está em questão, pela primeira vez, o ser do homem, nessa dimensão segundo a qual o pensamento se dirige ao impensado, e com ele se articula.”

refletida em um modelo de operação de Construção de representação para empiricidade objeto (uma coisa); veja As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap IX – o homem e seus duplos; tópico V – O “cogito” e o impensado, de Michel Foucault

Aplicando a ideia da Forma de reflexão que se instaura em nosso pensamento a essa figura, vê-se que o circuito reversível ensinado por Vilém Flusser

Texto ⇔ Imagem ⇔ Ocorrência espacio-temporal

se fecha. O que, diga-se de passagem, não acontece quando a imagem corresponde à maioria dos modelos de operações que utilizamos.

A paleta de ideias ou elementos de imagem que compõem essa figura:

  • o Lugar de nascimento do que é empírico, as chaves verticais coloridas que delimitam um espaço parte pertencente ao domínio do Pensamento e da Língua, parte pertencente ao domínio do Discurso e da Representação;
  • o impensado, a lâmpada amarela representando o operar atribuído a uma empiricidade ainda sem representação;
  • a empiricidade objeto ainda sem representação, representada por sua arquitetura, apenas;
  • ligando esses dois elementos de imagem, a relação de analogia;
  • a pequena figura amarela no meio da seta azul, o ser do homem, como veremos, na posição de sujeito de uma proposição enunciativa dessa operação;
  • a seta encurvada azul representando o compromisso do Observador, sujeito e demais interagentes com ele, em construir a representação para a empiricidade objeto, com um operar o mais próximo possível do operar atribuído a ela;
  • a Forma de produção, o meio real encontrado para dar sustentação na experiência levando em conta o Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua. A Forma de produção é o elemento central desta formulação para a operação, e é suportada por elementos de suporte na experiência;
  • a representação objeto pronta e terminada depois da operação, no lado direito da seta azul encurvada;
  • à esquerda, o conjunto de operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, que lançando mão de todos os recursos de conhecimento disponíveis, filosofia, ciências, tecnologias, etc. têm por objetivo encontrar os elementos de suporte na experiência da Forma de produção.
  • no LD parte inferior, a Sucessão de analogias, ou o objeto análogo desenvolvido durante as operações, com o conjunto relacionado de objetos análogos parciais ou componentes da representação em construção.

Nesta operação o modo de ser fundamental da empiricidade objeto muda – propriedades sim-originais e sim-constitutivas inexistentes antes da operação tornam-se disponíveis depois dela. Com isso o modo com essa empiricidade objeto pode ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis é alterado.

Tomando esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, ao final com sucesso dessa operação, – no interior do Lugar de nascimento do que é empírico e percorrendo o Caminho da Construção da representação  – faz-se história.

operação no pensamento moderno, depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação que transcorre no interior do Circuito das trocas

No LD da figura, pensamento moderno de depois de 1825, caminho do Instanciamento da representação.

Esse caminho só é percorrido quando para o operar atribuído à empiricidade objeto de uma operação, já exista, no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, uma representação que ‘sirva’ a esse operar, ou em outras palavras uma representação cuja Forma de produção seja capaz de obter quando desencadeada no ambiente, operar semelhante a esse atribuído a essa empiricidade objeto.

Ao contrário do caminho da Construção da representação, no qual o modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação muda, no caminho do Instanciamento da representação não há mudança no modo de ser fundamental da empiricidade objeto em instanciamento, que termina a operação no mesmo modo de ser fundamental no qual foi recuperada do repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.

Entenda como modo de ser fundamental da empiricidade com as palavras que Foucault usa para isso:

‘o modo como ele pode ser afirmada, posta, disposta
e repartida no espaço do saber
para eventuais conhecimentos, e para ciências possíveis.’

tempo na operação sob o pensamento clássico, no sistema Ipunt-Output, mostrando a sim-existência de um fator K que permite cálculo da inserção calendário de um evento a partir da inserção calendário do outro.

O elemento central das operações no LE da figura, sob o pensamento clássico, é Processo.

Processo, como conjunto de ações, atividades, tasks, é da categoria dos verbos.

“A única coisa que o verbo afirma é a coexistência entre duas representações: por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou a morte. É por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.”

(…) “Assim é que o verbo ser teria essencialmente por função reportar toda linguagem à representação que ele designa. O ser em direção ao qual ele transborda os signos não é nem mais nem menos que o ser do pensamento. Comparando a linguagem a um quadro, um gramático do fim do século XVIII define os nomes como formas, os adjetivos como cores e o verbo como a própria tela onde elas aparecem.

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo. de Michel Foucault.

A operação no LE da figura funciona sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si – o sistema Input-Output, ou Entradas-Saídas.

Toda a operação funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas (esse sistema não indica ‘aquele em que as coisas existiram no absoluto’ por absoluta falta de possibilidade de tratar as condições para que as coisas existam no absoluto.

Com propriedades não-originais e não-constitutivas, e deixando fora do escopo da operação a consideração dessas ‘coisas’ que passam a existir no absoluto, tudo é pre-existente, todas as representações são pré-existentes à operação.

Como pré-existentes, suas propriedades não originais e não-constitutivas estão disponíveis antes da operação, tanto para o início desta, quanto para o seu final.

Logo, ao tempo da deflagração do evento de processo (i), com a disponibilidade das propriedades antes e depois da operação, é possível calcular a inserção no calendário do outro evento, o (f).

E inversamente, para uma inserção calendário arbitrária do evento (f), com a disponibilidade de todas as propriedades não-originais e não-constitutivas, é possível calcular a inserção calendário do evento (i).

Então, existe um fator K que permite calcular a correspondente inserção calendário de um evento (i), ou (f), a partir da inserção calendário arbitrária do outro evento.

o tempo na operação de construção da representação da empiricidade objeto, LD da figura

A figura ao lado dá acesso a uma animação cuja principal característica, em termos de tempo na operação representada, é que ao contrário da operação no LE da figura sob o pensamento clássico, aqui não existe um fator K que permita, a partir de propriedades da representação objeto da operação, e com a inserção calendário de um dos eventos (i) ou (f), calcular a inserção do outro evento.

Isso acontece porque a operação de construção da representação transcorre em um tempo em que a representação objeto passa a existir no absoluto, já que seu modo de ser fundamental nesse ambiente e com o repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, muda. Em outras palavras, e usando o modo como Foucault se refere a isso, modo de ser fundamental é o que permite que a representação possa ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

“O limiar da linguagem está onde surge o verbo.
É preciso, portanto, tratar esse verbo como um ser misto, ao mesmo tempo palavra entre as palavras, preso às mesmas regras, obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; 

e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado mas aquela donde se fala. Ele está na orla do discurso, na juntura entre aquilo que é dito e aquilo que se diz, exatamente lá onde os signos estão em via de se tomar linguagem.

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo. de Michel Foucault.

Em termos dos tempos na operação de construção da representação:

  • antes da operação e com a inserção calendário do evento (i), não existem nem antes nem depois da operação, propriedades originais e constitutivas, nem as não-originais e não-constitutivas, as “aparências”, com as quais calcular a inserção calendário do evento (f) apenas porque a representação não existe. O que temos em (i) é apenas e tão somente a arquitetura vazia da representação cuja construção se inicia.
  • e depois da operação, sim, já existem todas as propriedades porque a representação para a empiricidade objeto acaba de ser criada. Mas o intervalo de tempo entre (i) e (f) não depende de nada relacionado com a representação que acaba de ser criada, mas antes depende das buscas por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, que nada têm a ver com a representação propriamente dita.

tempo na operação de instanciamento de representação já existente no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, que ocorre no interior do Circuito das trocas.

A figura dá acesso a uma animação para a operação de Instanciamento de uma representação já existente no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.

Esse fato de que a operação de instanciamento instancia uma representação pré-existente no repositório é essencial porque durante o instanciamento não ocorre mudança no modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação. Ocorre uma mudança de estado, e não mudança no modo de ser fundamental dessa empiricidade objeto, isto é, ela continua a poder ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis exatamente do mesmo modo que estava no repositório.

Desse modo, tanto em (i) quanto em (f) pontos iniciais e finais da operação de instanciamento do objeto, existem todas as propriedades originais e constitutivas e também as não-originais e não-constitutivas, o que leva à possibilidade de que dada a inserção arbitrária de um evento, (i) ou (f), a inserção calendário do outro evento pode ser calculada por um fator K.

No caminho do Instanciamento da representação da empiricidade objeto não há alteração no modo de ser fundamental nesse ambiente e com esse Repositório.

Entenda modo de ser fundamental como aquilo a partir do que ela pode ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

o quadro clássico: a tela onde os elementos da linguagem aparecem.

Como diz Foucault abaixo, Processo é a própria janela onde as palavras aparecem. Diz ele:

“A única coisa que o verbo afirma é a coexistência de duas representações: por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte; é por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si. A coexistência, com efeito, não é um atributo da própria coisa, mas também não é nada mais que uma forma de representação: dizer que o verde e a árvore coexistem é dizer que estão ligados em todas ou na maioria das impressões que recebo.”

(…) “Assim é que o verbo ser teria essencialmente por função reportar toda linguagem à representação que ele designa. O ser em direção ao qual ele transborda os signos não é nem mais nem menos que o ser do pensamento. Comparando a linguagem a um quadro, um gramático do fim do século XVIII define os nomes como formas, os adjetivos como cores e o verbo como a própria tela onde elas aparecem. Tela invisível, inteiramente recoberta pelo brilho e o desenho das palavras, mas que fornece à linguagem o lugar onde fazer valer sua pintura; o que o verbo designa é finalmente o caráter representativo da linguagem, o fato de que ela tem seu lugar no pensamento e de que a única palavra capaz de transpor o limite dos signos e fundá-Ios na verdade não atinge jamais senão a própria representação.


De sorte que a função do verbo se acha identificada com o modo de existência da linguagem, que ela percorre em toda a sua extensão: falar é, ao mesmo tempo, representar por signos e conferir a signos uma forma sintética comandada pelo verbo”

a sintaxe que autoriza a construção das frases e orienta a formação dos elementos componentes da representação na forma de objetos análogoss

Nos modelos de operações sob o entendimento do pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825 as frases, segundo os tipos de proposição possíveis, são:

  • proposição enunciativa: o enunciado do operar atribuído à empiricidade objeto no formato de uma proposição enunciativa;
  • proposição explicativa: a seguir, ao serem obtidos os elementos de suporte na experiência à Forma de produção do operar atribuído à empiricidade objeto, portanto com a explicação do operar atribuído à empiricidade objeto na forma de uma proposição explicativa;
  • proposição instanciativa: e finalmente são a proposição instanciativa, para uma representação da empiricidade objeto já existente no Repositório.

Nesses tipos de proposições as ideias ou elementos de imagem envolvidos são:

  • o sujeito da proposição é o observador, ou o homem em seu papel de raiz e fundamento das positividades;
  • o predicado do sujeito, composto por:
    • verbo: a Forma de produção;
    • atributo: a representação da empiricidade objeto.

Vale a pena notar que essa formulação estabelece uma sorte de ordem única, que atravessa todo o modelo de operações.

a sintaxe que autoriza a manter juntas as palavras e as coisas: estabelecendo Sucessão entre componentes da representação, isto é, ou um ao mesmo tempo que outro; ou um ao lado do outro, logo depois do outro; os elementos componentes criados por analogia

O resultado de uma operação no caminho da Construção da representação é invariavelmente um objeto análogo composto por elementos componentes, outros objetos análogos. Praticamente não existe operação de construção de representação para empiricidade objeto ainda sem suporte na experiência em determinado ambiente e com um repositório existente, que se resolva com um único objeto análogo, e como é sabido, o impensado, o não articulado, a visão nunca é representada ela própria.

A sintaxe que segundo Foucault autoriza a manter juntas ao lado e em frente umas das outras palavras e coisas é aquela que toma os resultados do princípio organizador Analogia, (os objetos análogos tomados como componentes da representação em construção) e estabelece entre eles, usando o princípio organizador Sucessão, um sequenciamento estrutural lógico.

O resultado da ação desses dois princípios organizadores Analogia e Sucessão, com os métodos Análise e Síntese, resultam sempre em uma estrutura hierárquica.

o homem em seus dois papéis: raiz e fundamento de toda positividade e elemento do que é empírico, em posições operacionais em distintas posições estruturais no modelo de operações

O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis:
está, ao mesmo tempo,

  • no fundamento de todas as positividades,
  • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada, no elemento das coisas empíricas.

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas Cap. X – As ciências humanas; tópico I. O triedro dos saberes

Dada a extrema diferença existente entre esses dois papéis, necessariamente ocupam lugares distintos na estrutura do modelo de operações, e a consideração desses dois papéis para o homem implica nessa mudança de estrutura na configuração do pensamento das operações.

visão global da operação no LE da figura,
pensamento clássico

Como dito, estamos utilizando como base a Figura 2 – Diagrama ontológico ou ainda Figura 2 – O Explicar e a Experiência, de autoria de Maturana em dois de seus livros (vide animações no Ponto 1 adicional neste trabalho.

O pressuposto no LE da figura, (a existência precede a distinção). Todas as representações são pré-existentes, portanto todas as propriedades não-originais e não-constitutivas estão disponíveis e não está no escopo desse tipo de operações o tratamento de coisas ainda não existentes e portanto a preocupação com propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

A operação ocorre em uma região do espaço orientada, chamada Volume de controle.

  • representação (a): considera-se um pacote de coisas agrupado por sua aparência, ou por uma propriedade não-original e não-constitutiva, que se acerca do VC;
  • seleciona-se uma ordem arbitrariamente escolhida;
  • é feita uma consulta a essa ordem arbitrária procurando similitude entre o caráter das “aparências” e uma das categorias dessa ordem arbitrária;
  • representação (b): é essa categoria que guarda similitude com o caráter das “aparências”;
  • representação (r): é a associação dessas duas representações (a) e (b) anteriormente existentes, como ademais todas as outras nessa formulação de operação;
  • configuração de Processo: Processo é configurado levando em conta “aparências” e atividades, processos, tasks encontrados nessa categoria da ordem arbitrária.
  • Instanciamento de (r): o evento (i) marca o desencadeamento de Processo configurado como acima;
  • propriedade emergente: Fluxo
  • lugar da operação: toda a operação no LE da figura transcorre no interior do Circuito das trocas.

Operações formuladas no LE da figura ocorrem totalmente no interior do Circuito das trocas como sendo esse o lugar onde não ocorrem mudanças no modo de ser fundamental da coisas. A bem dizer, não há mesmo a possibilidade de tratar ‘empiricidades objeto’ por não caber isso no escopo desse tipo de operações.

São vistas como um processamento de informação, em uma única transformação.
A propriedade emergente é Fluxo

visão global de uma operação no caminho da Construção da representação, LD da figura e no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’

Uma visão global das operações, inicialmente no caminho da Construção da representação, no interior do Lugar de nascimento do que é empírico é a seguinte:

Há duas transformações de mesmo sinal:

  • primeira transformação: pensamento não articulado ⇒ pensamento sim-articulado;
    • pensamento não-articulado é a visão do operar atribuído à empiricidade objeto, ainda sem sustentação na experiência;
    • pensamento sim-articulado é a representação pronta e acabada depois da operação de construção da representação.
  • segunda transformação: representação não-existente ⇒ representação sim-existente;
    • representação não-existente é a arquitetura da representação, a forma vazia apenas com os dois domínios;
    • representação sim-existente é a representação totalmente construída e adicionada ao Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.

Vendo de um ponto de vista mais alto, essas duas transformações podem ser reduzidas a uma Conversão, de pensamento não articulado em representação, estabelecendo uma relação entre os domínios do Pensamento e da Língua e o do discurso e da Representação.

A propriedade emergente da operação no caminho da Construção da representação é Permanência, 

É permanência da representação construída no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua. Trata-se de uma permanência provisória, temporária, até que novas razões determinem a reforma ou reformulação dessa representação.

Como vimos, Permanência como propriedade emergente estabelece o contrário da propriedade emergente no LE da figura, que encontramos ser Fluxo.

visão global de uma operação de instanciamento de representação no LD da figura, mostrando duas transformações de sinais contrários

Uma visão global das operações, desta feita no caminho do Instanciamento da representação, no interior do Circuito das trocas é a seguinte:

Há também aqui, duas transformações, mas desta feita, de sinais contrários:

  • primeira transformação: Indisponibilidade do objeto da operação ⇒ disponibilidade do objeto da operação;
    • Indisponibilidade do objeto da operação é a situação encontrada logo após a recuperação da representação objeto do instanciamento a partir do repositório;
    • disponibilidade do objeto da operação é a representação pronta e acabada depois da operação de Instanciamento da representação.
  • segunda transformação: disponibilidade de recursos ⇒ indisponibilidade de recursos;
    • disponibilidade de recursos, é a situação de níveis de estoque recursos obtidos do ambiente no início da operação de instanciamento;
    • indisponibilidade de recursos é a situação de nível de estoque de recursos após a operação de instanciamento, denunciando que recursos viabilizadores dos elementos de suporte à forma de produção foram consumidos.

Vendo de um ponto de vista mais alto, essas duas transformações podem ser reduzidas a uma Conversão, de Disponibilidade de recursos em Disponibilidade de objeto, estabelecendo tudo transcorrendo no interior do domínio do Discurso e da Representação.

A propriedade emergente da operação no caminho do Instanciamento da representação é novamente Fluxo. 

Há dois fluxos:

  • fluxo de recursos de todos os tipos desde o ambiente para a área em que ocorre a operação de Instanciamento, onde são consumidos;
  • fluxo desde a área onde ocorre a operação de instanciamento para o ambiente, efetivando trocas seguintes posteriores ao instanciamento, de objeto da operação de instanciamento.

Como vimos, Fluxo como propriedade emergente na operação de instanciamento no LD da figura é a mesma propriedade emergente no LE da figura, que encontramos ser Fluxo.

os dois conceitos diferentes para o que seja ‘Classificar’

Há no ‘As palavras e as coisas’ dois conceitos para o que seja ‘Classificar’ que se ajustam perfeitamente bem um deles para o pensamento clássico, e o outro para o pensamento moderno, a um tempo para o caminho da Construção da representação, e a segunda parte, para o caminho do Instanciamento da representação.

  • classificar para o pensamento clássico:

“Referir o visível a si mesmo,
encarregando um dos elementos
de representar os outros.”;

  • classificar para o pensamento moderno,
    • no caminho da Construção da representação

“será, num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível
ao invisível,
como à sua razão profunda,

    • nos dois caminhos, o da Construção e do Instanciamento da representação:

depois alçar de novo dessa secreta arquitetura
em direção aos seus sinais manifestos,
que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas, Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres, de Michel Foucault

características da estrutura do entendimento de operações sob o pensamento clássico.

Características do entendimento de operações no pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775 a 1825:

  • referencial: a ordem pela ordem;
  • princípios organizadores:
    • caráter 
    • similitude
  • métodos:
    • identidade
    • semelhança

características do entendimento de operações depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775-1825
o surgimento dos princípios organizadores Analogia e Sucessão no espaço de empiricidades que se forma.

Características do entendimento de operações no pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775 a 1825:

  • referencial: a Utopia;
  • princípios organizadores:
    • Analogia 
    • Sucessão
  • métodos:
    • Análise
    • Síntese

“De sorte que se vêem surgir, como princípios organizadores desse espaço de empiricidades, a Analogia e a Sucessão: de uma organização a outra, o liame, com efeito, não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos, mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação, mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap.  VII – Os limites da representação; tópico: I – A idade da história

o segmento de modelos construídos AQUÉM do objeto
As objeções que Humberto Maturana fazia aos modelos que pesquisadores em AI do MIT faziam.
As propostas que Humberto Maturana fazia para corrigir o que reputava ser um erro dos pesquisadores em IA do MIT

Segmento do espectro de modelos situados AQUÉM do objeto pela colocação fora do escopo dessa formulação clássica a ideia de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.

Restam propriedades que estão à superfície dos corpos, as não-originais e não-constitutivas somente, as “aparências” nome que a elas dá Maturana.

As duas figuras abaixo mostram objeções e propostas que Maturana fazia para melhorar corrigindo, o que considerava um erro na modelagem de fenômenos biológicos.

segmento do espectro de modelos DIANTE do objeto

A animação que descreve as operações no LD da figura, no caminho da Construção da representação, destaca a intenção dessa formulação: a construção da nova representação para a empiricidade objeto.

Esse tipo de modelos que abrange a etapa da construção de representações são construídos, por óbvio, diante do objeto.

Modelos nesse segmento do espectro têm modelos constituintes conforme a área da região epistemológica fundamental:

  • modelos na ciência da Vida (Biologia) [função-norma]
  • modelos na ciência do Trabalho (Economia) [conflito-regra]
  • modelos na ciência da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

segmento do espectro de modelos
para ALÉM do objeto

Modelos nesse segmento para além do objeto habitam o interior do Triedro do saber delineado por Miche Foucault, onde estão as ciências humanas.

Modelos nesse segmento do espectro têm modelos constituintes que são uma combinação ponderada dos modelos das ciências da região epistemológica fundamental:

  • modelos na ciência da Vida (biologia) [função-norma]
  • modelos na ciência do Trabalho (Economia) [conflito-regra]
  • modelos na ciência da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

Note que no interior do Triedro dos saberes o modelo constituinte é uma composição dos três pares constituintes; a predominância de um deles sobre os outros acompanha o projetista de modelos em cada caso.

a forma de reflex]ao que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

A percepção feita por Michel Foucault de uma forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica por ele situada entre 1775 e 1825.

Trata-se de uma forma de reflexão ‘bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana’ e que exatamente por isso configura uma descontinuidade epistemológica, ou seja, uma alteração profunda no entendimento neste caso, das operações, mas muito mais amplo que isso.

É uma forma de reflexão organizada pelo par sujeito-objeto.

Veja a animação para certificar-se disso

o bloco padrão genérico fundamental para a construção de representações: a proposição

Proposição, é o bloco padrão fundamental genérico oferecido pela linguagem, para a construção de representações.

Diz Foucault sobre a proposição:

“A proposição é para a linguagem
o que a representação é para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo
mais geral e mais elementar,

porquanto, desde que a decomponhamos,
não reencontraremos mais o discurso,
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos.”

‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Michel Foucault

características de características ou características de segunda ordem, do entendimento no pensamento clássico

Referencial, princípios organizadores e métodos no entendimento vigente no pelsamento de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825:

  • referencial: ordem pela ordem;
  • princípios organizadores: Caráter e Similitude;
  • métodos: identidade e semelhança

características de características ou características de segunda ordem do pensamento moderno

Referencial, princípios organizadores e métodos no entendimento vigente no pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825:

  • referencial: utopia;
  • princípios organizadores: Analogia e Sucessão;
  • métodos: Análise e Síntese.

o conceito de verbo no pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Veja esta conceituação de verbo feita por Foucault, indicando suas limitações, e apontando claramente para um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, quer dizer, apontando para o sistema Input-Output.

“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, a do verde

e da árvore,
a do homem
e da existência ou da morte;
é por isso que o
tempo dos verbos
não indica aquele
em que as coisas existiram no absoluto,

mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo

Michel Foucault
 

Esse trecho indica com muita clareza que esse tipo de verbo funciona no sistema Entradas ⇒ Saídas.

E indica que o tempo assinalado por esse tipo de verbo é um tempo calendário, um tempo relativo no qual dado um evento (i) ou (f), é possível calcular correspondentemente o evento (f) ou (i) fazendo isso com propriedades existentes da representação.

E além disso, aponta para um outro tipo de tempo, um tempo absoluto, um tempo que assinala coisas que passaram a existir. Veja sobre isso o próximo tópico.

As operações que tenham esse tipo de verbo como elemento central são sempre reversíveis na etapa de formulação; todas as irreversibilidades aparecem durante o instanciamento que transcorre no interior do Circuito das trocas.

O tempo com esse tipo de verbo é relativo, um tempo calendário. Existe um fator K tal que para uma dada inserção do evento (i), é possível calcular com propriedades da representação a inserção do evento (f) e vice-versa.

A propriedade emergente na operação que em esse tipo de verbo como elemento central é Fluxo; e toda a operação transcorre no interior do Circuito das trocas.

conceito de verbo para o pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Veja nesta citação de Foucault o conceito de verbo completamente distinto do anterior, agora não mais concebido em um sistema relativo com tempo relativo (calendário) como no anterior, mas com um tempo absoluto ligado à mudanças no modo de ser fundamental das empiricidades, isto é, aquilo que permite que elas sejam afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para conhecimentos, e eventuais ciências possíveis.

“O limiar da linguagem
está onde surge o verbo.
E preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo

palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas
todas,
numa região que não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele
está na orla do discurso,
na juntura entre aquilo que é dito
e aquilo que se
diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tomar linguagem.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo

Michel Foucault

Veja a animação a que a figura ao lado dá acesso.

Ela propõe um sentido para várias coisas nesse trecho de Foucault:

  • e depois, em desnível em relação a elas todas; mostramos o que seja esse desnível em termos estruturais do modelo onde esse tipo de verbo está inserido e com referências ao Princípio dual de trabalho de David Ricardo;
  •  o que significam ‘região do falado e região daquilo que é dito, relacionado essas coisas aos domínios do Pensamento e da Língua e do Discurso e da Representação;
  • onde fica a orla do discurso em termos do modelo de operações;
  • porque, ao fim e ao cabo, esse tipo de verbo está ‘exatamente lá onde os signos estão em via de se tornar linguagem’.

a sintaxe que autoriza a construção das frases

A sintaxe que autoriza a construção das frases no formato de proposições formuladas de acordo com as regras da linguagem em uso.

Na modelagem das operações temos três tipos de proposições

  • a proposição enunciativa

é aquela proposição que inicia a operação de busca pela possibilidade de representar um certo operar atribuído à empiricidade objeto da operação. É formulada quanto após uma consulta ao Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, a resposta a essa consulta é negativa – o Repositório não tem condições de dar sustentação na experiência a esse operar.

  • a proposição explicativa

é toda proposição cuja Forma de produção já tem elementos de suporte na experiência ao operar atribuído à empiricidade objeto. Neste caso, a representação a esse nível, se nova for, é acrescentada ao Repositório.

  • a proposição instanciativa:

é toda proposição que já existe no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua. Se o operar característico da Forma de produção dessa proposição for exigido em uma operação de obtenção de uma empiricidade objeto, será parte da etapa de Instanciamento da empiricidade objeto. Durante essa etapa, o modo de ser fundamental da empiricidade objeto não muda.

a sintaxe que autoriza manter juntas palavras e coisas

Esta é a sintaxe que orienta a organização do objeto análogo composto, uma composição organizada e logicamente ordenada de objetos análogos que funcionam como elementos componentes na representação em construção.

o resultado da operação
de construção de representação nova
para empiricidade objeto
é sempre um objeto análogo composto;

nunca uma operação de construção de representação tem como resultado
um objeto análogo resultado
de uma única operação de analogia.

A decisão de desencadear operação como essa implica em enfrentar as impossibilidades de representação de um ‘operar’ qualquer dentre os atribuídos à empiricidade objeto. Essas impossibilidades são encaradas de frente.

A impossibilidade de representação de um qualquer desses atributos é submetida à análise e com auxílio das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites para cada um dos objetos análogos criados pela análise, são procurados e identificados,ou desenvolvidos os elementos de suporte na experiência respectivos.

O método Síntese relaciona logicamente os objetos análogos compondo com eles a Sucessão de analogias que constituio objeto análogo composto que resulta, via de regra, de toda operação de construção de representação.

o princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, publicado no Riqueza das Nações, em 1776

O Princípio (monolítico) de trabalho de Adam Smith foi cunhado em 1776 sob a preocupação de medir a equivalência das mercadorias que passam pelo Circuito das trocas.

Toda a operação no pensamento clássico transcorre no interior do que Foucault chama de Circuito das trocas uma vez que a construção de representações novas para empiricidades objeto, ainda não representadas ou objeto de reformulação, está fora do escopo do pensamento clássico.

Para Adam Smith o trabalho é analisável em jornadas de subsistência e pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias necessárias à subsistência.

Mas Adam Smith deixa de considerar aquela atividade que está na origem do valor das coisas, a construção de novas empiricidades objeto com específicos ‘operar’. Isso só acontece em 1817, com David Ricardo e seu princípio dual de trabalho. (veja o ponto seguinte)

Usando Foucault para entender melhor isso, ele atribui ao homem a possibilidade de desempenhar dois papéis:

  • ele está na raiz e fundamento de toda positividade;
  • e no elemento do que é empírico.

o princípio monolítico de Adam Smith, ainda que não considere o homem nessa noção com que dele fala Foucault, que a seu tempo não havia sido inventado, mas cobre apenas o primeiro desses dois papéis.

o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

O Princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817, cunhado sob a dupla preocupação de:

  • medir a equivalência das mercadorias que passam pelo Circuito das trocas; e também,
  • modelar aquela atividade que está na origem do valor das coisas; 

As operações no pensamento moderno transcorrem:

  • inicialmente no interior do Lugar de nascimento do que é empírico, durante a a operação no caminho da Construção da representação;
  • e depois, no interior do que Foucault chama de Circuito das trocas uma vez que a construção de representações para empiricidades objeto ainda não representadas está dentro, e faz parte integrante do escopo do pensamento moderno.

Para Adam Smith o trabalho é analisável em jornadas de subsistência e pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias necessárias à subsistência.

Mas Adam Smith deixa de considerar aquela atividade que está na origem do valor das coisas, a construção de novas empiricidades objeto com específicos ‘operar’.

Isso só acontece com David Ricardo. Veja a figura ao lado.

Usando Foucault para entender melhor isso, ele atribui ao homem a possibilidade de desempenhar dois papéis:

  • ele está no elemento do que é empírico;
  • e na raiz e fundamento de toda positividade

o princípio monolítico de Adam Smith, ainda que não considere o homem nessa noção com que dele fala Foucault, mas cobre apenas aspecto associável ao primeiro desses dois papéis.

legenda aqui por favor

Considere os dois papéis atribuídos ao homem:

  • raiz e fundamento de toda positividade;
  • elemento do que é empírico.

e agora as duas acepções para trabalho:

  • medida da equivalência entre as mercadorias que passam pelo circuito das trocas, podendo servir de unidade de medida de equivalência entre todas as mercadorias;
  • trabalho como atividade de produção é a origem do valor das coisas. 

O princípio de trabalho de David Ricardo permite construir um modelo de operações de todos os tipos que dá conta:

  • dos dois papéis atribuídos ao homem abrindo espaço em sua estrutura para ideias ou elementos de imagem que modelem cada um desses dois papéis;
  • e esse princípio de trabalho de David Ricardo dá conta perfeitamente das duas acepções para o que seja trabalho, evidenciando separadamente
    • o Lugar de nascimento do que é empírico onde acontecem as operações no caminho da Construção de representações novas; trabalho como ‘atividade’ de produção;
    • e o Circuito das trocas, onde acontecem as operações no caminho do Instanciamento de representação previamente existente no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua; trabalho como unidade de medida da equivalência entre mercadorias que passam pelo Circuito das trocas.

diferenças entre Adam Smith e David Ricardo,
segundo Michel Foucault

Estas são as duas acepções para trabalho:

  • medida da equivalência entre as mercadorias que passam pelo circuito das trocas, podendo servir de unidade de medida de equivalência entre todas as mercadorias;
  • trabalho como atividade de produção é a origem do valor das coisas. 

A diferença entre o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo e o de Adam Smith é que

  • em Adam Smith só é contemplada a acepção trabalho como medida da equivalência de valor entre mercadorias;
  • em David Ricardo são contempladas as duas acepções de trabalho acima mencionadas.

dois conceitos totalmente diferentes para o que seja ‘Classificar’

Tratando-se de modelagem de operações, nada mais fundamental e decisivo no resultado, o modelo, do que a função classificar utilizada.

Veja as diferenças:

  • no primeiro conceito

“Classificar é referir
o visível
a si mesmo,
encarregando um dos elementos
de representar os outros.”

  • no segundo conceito

classificar será,
num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível
[desta feita] ao invisível;
[a operação que tem lugar
no ‘Lugar de nascimento do que é empírico
e ao longo do caminho da Construção da representação]

depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura
em direção aos seus sinais manifestos,
que são dados à superfície dos corpos.
[o que tem lugar no caminho da Construção da representação interior do Lugar de nascimento do que é empírico e também no interior do caminho do Instanciamento da representação e no interior do Circuito das trocas]

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres; ponto 3

A animação à qual a figura ao lado dá acesso retrata bastante bem essas duas conceituações para o que seja ‘Classificar’

legenda aqui por favor

Segmento do espectro de modelos construídos AQUÉM do objeto.

São modelos de operações que funcionam com propriedades não-originais e não-constitutivas do que se aproxima, atravessa uma região orientada do espaço onde ocorrem as operações ou permanece fora dessa região, mas sem a noção de objeto definido por propriedades originais constitutivas; ou ainda permanece dentro dessa região orientada, e finalmente sai dela voltando novamente para seu entorno

Na falta da noção de objeto, falta também a da empiricidade objeto de uma possível operação.

Operações monitoram o fluxo de pacotes de coisas caracterizados por ‘aparências’ ou uma propriedade não-original e não-constitutiva que regula a formação do pacote.

Nesse segmento a propriedade emergente das operações é Fluxo.

segmento do espectro de modelos DIANTE do objeto

Nesse segmento modelos são construídos de modo a dar tratamento a propriedades sim-originais e sim-constitutivas, o que implica na organização do modelo pela noção de objeto e empiricidade objeto das operações, e do sujeito da operação.

A propriedade emergente é permanência (da representação nova construída) no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.

Toda a operação transcorre:

  •  no interior do Lugar de nascimento do que é empírico, e integra o caminho da Construção da representação.
    • dentro do Lugar de nascimento do que é empírico há alterações no modo de ser fundamental da empiricidade objeto, quer dizer, o modo como ela pode ser afirmada, posta, disposta, e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos, ou ciências possíveis. Eventos de objeto nesse lugar e caminho fazem história.
  • e também no interior do Caminho das trocas integrando o caminho do Instanciamento da representação.
    • no interior do Circuito das trocas, durante o caminho do Instanciamento da representação não há alteração no modo de ser fundamental da empiricidade objeto, razão pela qual eventos de objeto nesse caminho não fazem história.

segmento de modelos construídos para ALÉM do objeto

É o segmento de modelos que têm como modelo constituinte uma combinação dos modelos constituintes da região epistemológica fundamental:

  • Vida (Biologia) – função-norma;
  • Trabalho (Economia) – conflito-regra;
  • Linguagem (Filologia) – significação-sistema.

“Eis que nos adiantamos bem para além
do acontecimento histórico que se impunha

situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo de certa maneira moderna de

conhecer as empiricidades.
É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual,
queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado
pela impossibilidade,
trazida
à luz por volta do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses no espaço da representação
e pela obrigação correlativa, simultânea,
mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o
campo transcendental da subjetividade
e de constituir inversamente,
para além do objeto,

esses “quase-transcendentais” que são para nós
a Vida,
o Trabalho,
a Linguagem

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciêncis humanas; Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades,
de Michel Foucault

Estes modelos habitam o interior do Triedro dos saberes, onde estão as ciências humanas  – vide animação a respeito; e exigem a constituição, para ALÉM do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem habitantes da região epistemológica fundamental.

argumento visão SSS
o Argumento para a visão das operações na estrutura
SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica

Há vários aspectos relacionados à modelagem de operações em organizações:
Aqui a modelagem é orientada pelo par sujeito-objeto.

Para esse par corresponde um modelo de operação, especialmente com alteração do objeto. Podemos ter um grande modelo com modelos de operações para objetos diferentes, mas um mesmo modelo tem apenas um objeto.

  • modelagem das operações que terão como resultado um objeto esperado de interesse de determinado grupo;
  • modelagem do instrumento requerido para realizar no ambiente no qual as operações acontecem nas organizações.
  • detecção e monitoramento do Nexo da produção, isto é, o modo como as operações atendem aos grupos de interessados:
    • Clientes, os interessados no objeto esperado como resultado das operações propriamente ditas;
    • Acionistas, o grupo que patrocina a obtenção do instrumento exigido para a obtenção desse objeto que interessa aos Clientes, tendo em vista outro objeto que dá nexo à produção, os Lucros, ou benefícios de qualquer natureza.

Construção da estrutura SSS envolvendo o par sujeito-objeto ‘produto’ cujo interessado são os Clientes; e o par sujeito-objeto ‘Lucros” cujo interessado são os Acionistas

A construção da estrutura SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica envolvendo objeto esperado das operações, o instrumento capaz de obtê-lo na realidade do ambiente em que as operações acontecem, e o Nexo da produção, que permite avaliar o resultado da simbiose e da sinergia delineando o Nexo da produção, com o objeto esperado pelo grupo de Acionistas.

mapa geral das operações na estrutura SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica

Mapa geral das operações que consideram simultaneamente o objeto esperado pelo grupo Clientes e o objeto esperado pelo grupo Acionistas.

Essa estrutura abre espaços específicos e bem determinados para Clientes e Acionistas.

Toda essa estrutura é organizada sob uma única ordem, a da Proposição, considerada por Michel Foucault como o elemento padrão elementar básico e geral para a construção de representações.

Pensar na obtenção de qualquer coisa como resultado de operações incluindo o instrumento necessário para a concretização no ambiente desse resultado corresponde a retirar um viés mágico de operações de obtenção do que quer que seja, sem pensar o instrumento.

O pensamento de Vilém Flusser
em conexão com o de Michel Foucault

relação entre ciência, tecnologia e reflexão (filosofia)

Relação entre Ciência, Tecnologia e Reflexão (Filosofia)

No pensamento de Flusser, Ciência e Tecnologia são funções do estado da arte na Reflexão, ou na Filosofia. Havendo mudança no entendimento com relação a algo devida à reflexão (alteração filosófica) que altere a episteme, ou as características de características do modo como o pensamento é configurado, alterando portanto a paleta de ideias ou de elementos de imagem necessárias para a configuração, muda a ciência e mudam as tecnologias relacionadas às ciências.

Sendo a Tecnologia texto científico aplicado, e a Ciência, texto filosófico aplicado, em face de uma descontinuidade epistemológica, uma alteração profunda no modo como nos dispomos a entender e tratar as coisas do mundo, ciência e tecnologia precisam acompanhar essas mudanças.

o pensamento no cartesianismo

O pensamento no cartesianismo,
por Vilém Flusser

Vilém Flusser descreve no cartesianismo sujeito e objeto em situação de oposição um em relação ao outro.

Veja na animação seguinte, no que Vilém Flusser descreve como um ‘Salto para fora do cartesianismo’, a composição do par sujeito-objeto não mais em situação de oposição mas em concurso.

um salto para fora do cartesianismo
a forma de reflexão que se instaura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

Um salto para fora do cartesianismo: 

no pensamento de Vilém Flusser e no de Michel Foucault

A animação ao lado apresenta o que Vilém Flusser chama de ‘um salto para fora do cartesianismo’.

Colocando as ideias ou elementos de imagem na figura construída com os conceitos de Flusser, vê-se que o que ele chama de ‘salto para fora do cartesianismo combina perfeitamente bem com a forma de reflexão cujo surgimento Michel Foucault anuncia no ‘As palavras e as coisas’, dizendo:

“Instaura-se uma forma de reflexão,
bastante afastada do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico V – O “cogito” e o impensado, de Michel Foucault

Fazendo a correspondência entre o ‘impensado’ de Foucault e o ‘duvidoso’ de Flusser vê-se que a correspondência das ideias nas duas paletas é completa, e destas, com o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

Veja em nossa página inicial a paleta de ideias ou elementos de imagem para o pensamento moderno para conferir cada uma dessas ideias postadas na figura e participando da estrutura de operações.

visão global de operações do pensamento moderno no caminho da Construção da representação, LD da figura, e diferenças com a operação no LE, pensamento clássico

Visão global de operações sob o pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

  • visão de operações sob o pensamento clássico, no LE da figura;
    • uma única transformação de Entradas em Saídas;
    • propriedades não-originais e não-constitutivas descrevem a operação
    • propriedade emergente: Fluxo;
    • lugar de ocorrência: Circuito das trocas, 
    • sem alteração no modo de ser fundamental do que quer que seja.
visão global de operações do pensamento moderno no caminho da Construção da representação, LD da figura, e diferenças com a operação no LE, pensamento clássico

Visão global de operações sob o pensamento moderno nos dois caminhos: o da Construção da representação, LD da figura, e o do Instanciamento da representação; e diferenças entre essas operações

  • visão de operações sob o pensamento moderno, 
    no caminho da Construção da representação, LD da figura
    • duas transformações a considerar:
      • no pensamento de: não articulado ⇒ sim articulado;
      • na representação de: não-existente sim-existente;
    • resultando no total em uma conversão;
      • de impensado, ou pensamento não-articulado ⇒ em representação para a empiricidade objeto.
  • propriedades sim-originais e sim-constitutivas descrevem a operação;
  • propriedade emergente LD caminho da Construção da representação:
    • permanência da representação no repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua.
  • lugar de ocorrência da operação: Lugar de nascimento do que é empírico
  • o sucesso da operação no caminho da Construção da representação implica na alteração do modo de ser fundamental da empiricidade objeto nesse domínio e com esse repositório, quer dizer, altera-se o modo como essa empiricidade objeto da operação pode ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”
visão global de operações do pensamento moderno no caminho do Instanciamento da representação, LD da figura, e semelhanças com a operação no LE, pensamento clássico
  • visão de operações sob o pensamento moderno, caminho do Instanciamento da representação,LD da figura
    • também duas transformações a considerar:
      • no objeto da operação: de indisponibilidade ⇒  disponibilidade ;
      • em recursos: de disponibilidade ⇒  indisponibilidade;
    • resultando no total em uma conversão;
      • de disponibilidade de recursos ⇒ disponibilidade do objeto instanciado.
  • propriedades sim-originais e sim-constitutivas descrevem a operação;
  • propriedade emergente LD caminho do Instanciamento da representação:
    • fluxo de recursos de toda ordem desde o ambiente para a área em que acontece a operação.
    • fluxo de objeto disponível desde a área da operação para o ambiente
  • lugar de ocorrência da operação: Circuito onde ocorrem as trocas
  • o sucesso da operação no caminho do Instanciamento da representação não implica na alteração do modo de ser fundamental da empiricidade objeto nesse domínio e com esse repositório, quer dizer, não se altera o modo como essa empiricidade objeto da operação pode ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”; que será o mesmo com que a representação foi recuperada do repositório.

a sintaxe que autoriza
a construção das frases
  • a Primeira sintaxe:

a que autoriza a construção das frases;

Essa sintaxe funciona com as ideias ou elementos de imagem envolvidos na formulação da proposição ao longo das operações, sempre sob o pensamento moderno, LD da figura.

No pensamento de Foucault a proposição é o elemento fundamental genérico padrão fundamental para a construção de representações.

Diz Foucault:

“A proposição é para a linguagem o que a representação é para o pensamento: sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar, porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso, mas seus elementos como tantos materiais dispersos”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo

Há três momentos diferentes para as proposições:

  • proposição enunciativa;
  • proposição explicativa;
  • proposição instanciativa.

(acesse a animação com a figura da esquerda, para ver as ideias e respectivos elementos de imagem controlados por essa sintaxe, todas no domínio do Pensamento e da Língua.)

a sintaxe que autoriza a manter juntas
as palavras e as coisas
  • a Segunda sintaxe:

a que autoriza a “manter juntos”, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.

(acesse a animação com a figura da direita para ver as ideias e respectivs elementos de imagem controlados por essa sintaxe, todas no domínio do Discurso e da Representação.)

Nota: esta sintaxe tem como resultado a organização em sua estrutura, do objeto análogo composto no qual se constitui uma representação construída para uma empiricidade objeto nova. A estrutura desse objeto análogo composto, formado por objetos análogos componentes logicamente relacionados, é hierárquica.

Se o funcionamento desta segunda sintaxe fizer sentido para você, então, você concluirá necessariamente que estruturas hierárquicas são inerentes ao modo como operações no caminho da Construção de representações para empiricidades objeto novas funcionam.

o conceito de verbo para o pensamento clássico

Os dois conceitos para o que seja um verbo, um para o pensamento de antes de 1775 e outro para o pensamento de depois de 1825

  • verbo no pensamento de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações: por exemplo,
a do verde 
e da árvore,
a do homem
e da existência ou da morte;
é por isso que o 
tempo dos verbos
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, 
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade das coisas 
entre si.”

As palavras e a coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo

Verbo com essa funcionalidade é o elemento central do sistema de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si, em outras palavras, do Sistema Input-Output, o mais usado atualmente.

o conceito de verbo para o pensamento moderno, de depois de 1825
  • verbo no pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

“É preciso, portanto, tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras, preso às mesmas regras, obedecendo como elas às leis
de regência e de concordância;
e depois, em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre
aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tomar linguagem.”

As palavras e a coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo

Veja também o Principio dual de trabalho de David Ricardo, para comparação das estruturas: a sugerida pela citação acima, e a do princípio de trabalho de Ricardo.

É muito claro que o uso de um ou de outro desses dois conceitos para o que seja um verbo durante o projeto e construção de um modelo de operações de qualquer natureza terá como resultado modelos completamente diferentes.

legenda aqui por favor

Operação sob o pensamento clássico,o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Veja a figura no LE (lado esquerdo): a existência precede a distinção.

Pressuposto: todas as coisas existem desde sempre e para sempre compondo o Universo, obra de Deus. A busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites está fora do escopo das operações neste segmento que tem o rótulo ‘AQUÉM’ do objeto porque a noção de objeto descrito por esse tipo de propriedades está fora do escopo destas operações.

Restam então propriedades não-originais e não-constitutivas,as “aparências”.

Pelo pressuposto adotado todas as representações existem desde sempre, e assim, existem antes, e depois de toda operação.

Dessa forma, dada a inserção calendário de um dos eventos (i) ou (f), com as propriedades existentes das representações selecionadas para a operação é possível calcular a inserção calendário do outro evento (f) ou (i).

Esse é um tempo calendário, um tempo dado por um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, cujo elemento central é Processo.

Operação sob o pensamento moderno, e no caminho da Construção da representação

Operação sob o pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825 

Veja o LD (lado direito) da figura: a existência se constitui com a distinção, ou em outras palavras, a existência sucede a distinção.

A existência das coisas decorre de uma busca, empreendida pelo homem, raiz e fundamento de toda positividade, por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para um pensamento não articulado, para o impensado, etc. etc. tomado como empiricidade objeto da operação.

O pensamento somente percorre o caminho da Construção da representação – veja a animação a que a figura dá acesso – quando um certo ‘operar’ é atribuído a essa empiricidade objeto da operação, e uma representação capaz de explicar na experiência esse ‘operar’, esse modo de ser da empiricidade objeto escolhida, ainda não existe em um Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da linguagem em uso no ambiente e domínio em que a operação ocorre.

Caso a consulta ao Repositório tenha resposta negativa (ainda não existe representação para empiricidade objeto com o ‘operar’ atribuído) então o pensamento desencadeia uma operação de Analogia que procura um objeto análogo à empiricidade objeto com o ‘operar’ atribuído e  prepara para a possível representação uma arquitetura padrão e inteiramente vazia. Não existem propriedades originais e constitutivas, ou não originais e não constitutivas além das próprias à arquitetura.

São desencadeadas operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites estabelecidos pelo domínio e ambiente.Essas buscas lançam mão de todo o conhecimento disponível em todas as áreas, filosofia, ciências, tecnologias.

Pode acontecer que o objeto análogo construído não seja ainda representável; mas a julgamento do sujeito da operação, esse objeto análogo pode ser considerado um caminho para uma possível representação.

Via de regra isso sempre acontece. Muito raramente uma representação é encontrada logo para o primeiro objeto análogo construído.

Então, o pensamento aplica a esse objeto análogo considerado como ‘caminho’ – resultado da aplicação do princípio organizador Analogia- o método Análise que substitui esse objeto análogo não representável por um conjunto logicamente organizado de outros objetos análogos. Esse conjunto de objetos análogos formam um objeto análogo composto substitutivo ao objeto análogo inicial.

A aplicação do método Síntese garante o mesmo ‘operar’ entre o objeto análogo inicial e o objeto análogo composto.

A construção do objeto análogo composto é orientada pelo princípio organizador Sucessão.

Com o sucesso da operação são encontrados os elementos de suporte na experiência à Forma de produção, o elemento central deste modelo de operações.

Essa determinação (seleção e ou desenvolvimento) de elementos de suporte na experiência da Forma de produção é feita para todos os objetos componentes do objeto análogo composto.

Quando todos os objetos análogos componentes do objeto análogo composto forem identificados e selecionados, a representação para a empiricidade objeto com ‘operar’ aceitável como sendo o ‘operar’ atribuído inicialmente, dentro de um critério de aceitação, está pronta e é incluída no Repositório onde permanece a título precário, até que uma outra representação para a mesma empiricidade objeto seja desenvolvida.

O tempo na operação com esse funcionamento

 

operação no caminho do Instanciamento da representação

A operação de Instanciamento da representação acontece em duas situações:

  • ao final de uma operação de Construção da representação, por uma decisão do sujeito da operação de dar continuidade a ela;
  • em resposta a uma consulta ao Repositório, feita no início ou em qualquer ponto de uma operação em que seja atribuido à empiricidade objeto da operação um certo ‘operar’.

Nesses dois casos a consulta ao repositório foi positiva no sentido de que já existe uma representação com ‘operar’ aceitável tendo em vista o operar atribuído à empiricidade objeto e um critério de aceitação.

Então, com essa resposta do repositório, o primeiro passo é recuperar dele a representação nele existente cujo ‘operar’ serve ao ser comparado com o ‘operar’ atribuído.

Dá-se a recuperação desde o repositório, da representação completa que ‘serve’ para a operação de Instanciamento em curso.

Na posição estrutural do ponto (i) depois da recuperação da representação que ‘serve’, tempos todas as propriedades dessa representação. E isso vale também para a posição estrutural do evento (f). A representação já existia no repositório.

A operação se desenvolve desencadeando os elementos de suporte na experiência da(s) Forma(s) de produção necessárias à representação recuperada do repositório.

Toda a operação transcorre no interior do Circuito das trocas, uma vez que durante toda a operação de Instanciamento da representação não acontecem alterações no ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, mas tão somente alterações no estado em que a empiricidade objeto se encontra.

 

legenda aqui por favor

Por favor, veja o resumo das operações sob o pensamento moderno, no caminho da Construção da representação.

Ao tempo do evento (i) de início da operação de Construção da representação, após a consulta ao repositório com resposta negativa para a existência de representação para essa empiricidade objeto com ‘operar’ semelhante aceitável, 
  • não existem propriedades da representação em construção, sejam elas originais e constitutivas, ou não.
  • a esse tempo do evento (i), por óbvio também não existem as propriedades originais e constitutivas, ou não, na posição estrutural da operação em que está o evento (f); isso ao contrário do que ocorria na operação sob o pensamento clássico.

Nessa situação não existe a possibilidade de cálculo, com propriedades da representação, da inserção calendário do evento (f) a partir da inserção calendário do evento (i). Não existe um fator K que permita esse cálculo – com propriedades da representação.

Toda a operação de Construção da representação transcorre no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, o espaço compreendido pelos dois retângulos um vermelho e outro amarelo. É nesse espaço do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’ que ocorrem as mudanças no ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto cuja representação está em construção.

Ao final da operação de Construção da representação, na posição estrutural do evento (f), e com o sucesso da operação, passaram a existir, como consequência da operação, as propriedades originais e constitutivas da representação que acaba de ser construída, e também as outras propriedades, as não-originais e não-constitutivas, ou as “aparências”.

Veja que a inserção calendário do evento (f) que assinala o final da operação de Construção da representação não depende dos tempos de desencadeamento dos elementos de suporte na experiência da Forma de produção, porque esses elementos foram identificados, selecionados e quando necessário desenvolvidos, mas somente atribuídos à Forma de produção e não desencadeados.

O intervalo de tempo entre (i) e (f) nessa operação de construção da representação depende das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites; e essas operações não fazem parte da representação em construção, mas da operação de Construção da representação.

Assim, com propriedades da representação em construção, essas que acabam de ser obtidas com o sucesso da operação, não é possível calcular a inserção calendário do evento (i) a partir da inserção calendário do evento (f) (ao contrário do que ocorria sob o pensamento clássico.

Esse tempo dos eventos (i) e (f) é um tempo absoluto, aquele tempo em que as coisas existiram no absoluto como diz Foucault.

Não existe, então, um fator K que permita o cálculo da inserção calendário de um evento a partir da inserção calendário do outro, novamente ao contrário do que acontecia sob o pensamento clássico.

A propriedade emergente para esta operação de Construção da representação é Permanência da representação construída no repositório de proposições explicativas formuladas em conformidade com as regras da língua. Uma permanência precária e temporária, mas permanência.

Na operação de Construção da representação não há Fluxos. 

 

legenda aqui por favor

Durante uma operação sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, ‘operar'(es) são atribuídos a empiricidades objeto ou objetos análogos componentes de representações em construção para empiricidades objeto.

Uma consulta é feita ao repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua em uso.

A operação só deriva para o caminho do Instanciamento da representação caso essa consulta tenha resposta afirmativa: sim, já existe no repositório representação (com suporte na experiência, portanto) para o operar em questão em dado ponto da operação.

A representação com suporte na experiência é então recuperada do repositório já completa, com todas as suas propriedades sejam ou não originais e constitutivas.

Nessa situação, na posição estrutural do evento (i) de inicio da operação de Instanciamento, existem todas as propriedades da representação em instanciamento; essas propriedades quando na posição de (i) também existem na posição de (f).

Então, dada a inserção calendário do evento (i), é possível calcular, com propriedades da representação, a inserção calendário do evento (f).

E com o sucesso da operação de instanciamento, na posição calendário do evento (f), e com propriedades da representação em instanciamento, e possível calcular a posição calendário do evento (i).

Logo, existe um fator K tal que dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f), é possível calcular a posição calendário do outro evento (f) ou (i).

Toda a operação de instanciamento transcorre no Circuito das trocas no interior do qual não há alteração no ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação.

Note que o intervalo de tempo entre (I) e (f) no caminho do Instanciamento da representação é função direta dos tempos dos elementos de suporte na experiência da Forma de produção.

os dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
um para o pensamento clássico, e outro para o pensamento moderno

♦ Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar’, um para o pensamento de antes de 1775 e outro para o pensamento de depois de 1825

“Classificar, portanto,

  • conceito consistente com o pensamento clássico

não será mais referir o visível a si mesmo, encarregando
um de seus elementos de representar os outros;

  • conceito consistente com o pensamento moderno

será, num movimento que faz revolver a análise, reportar o visível ao invisível, como à sua razão profunda, depois alçar de novo dessa secreta arquitetura em direção aos seus sinais manifestos, que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

É muito claro que o uso de um ou de outro desses dois conceitos para Classificar durante o projeto e construção de um modelo de operações de qualquer natureza terá como resultado modelos completamente diferentes.

legenda aqui por favor

“O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: está, ao mesmo tempo,

  • no fundamento de todas as  positividades,
  • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada, no elemento das coisas empíricas.

Esse fato – e não se trata aí da essência em geral do homem, mas pura e simplesmente desse a priori histórico que, desde o século XIX, serve de solo quase evidente ao nosso pensamento – esse fato é, sem dúvida, decisivo para o estatuto a ser dado às “ciências humanas”, a esse corpo de conhecimentos (mas mesmo esta palavra é talvez demasiado forte: digamos, para sermos mais neutros ainda, a esse conjunto de discursos) que toma por objeto o homem no que ele tem de empírico.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas; tópico: I. O Triedro dos saberes

A figura ao lado dá acesso a uma animação que mostra a ideia desses dois papéis na estrutura da operação, com os respectivos elementos de imagem.

A relação entre os modelos constituintes das ciências que compõem o eixo epistemológico fundamental e o modelo constituinte composto de qualquer Ciência humana

O Espaço Geral do Saber moderno: o Triedro dos saberes

o modelo das ciêncis humanas, uma composição dos pares constituintes das ciências da Vida (Biologia) do Trabalho (Economia) da Linguagem (Filosogia)

A referência é “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas;
tópico I – O Triedro dos saberes.”

Nesse capítulo está uma orientação sobre como pensar as coisas a partir dos pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

É evidente que é muito mais fácil pensar um modelo do segmento DIANTE do objeto em que esteja em questão, por exemplo, o trabalho, no domínio da Economia, pensando a partir do respectivo par constituinte (conflito-regra); ou mesmo um modelo no domínio da Biologia pelo respectivo par constituinte (função-norma).

E a familiaridade do pensamento com tais pares constituintes abre o caminho para pensar modelos em que o modelo constituinte é uma combinação dos três pares constituintes.

Para Michel Foucault os modelos constituintes de modelos que integram esses pares constituintes são como que “categorias” para as ciências humanas

O modelo constituinte composto padrão para as Ciências humanas:
uma composição dos pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem

o modelo das ciêncis humanas, uma composição dos pares constituintes das ciências da Vida (Biologia) do Trabalho (Economia) da Linguagem (Filosogia)
modelos de CH com maior destaque ao par constituinte da Linguagem.

A referência é “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. X – As ciências humanas; tópico III – os três modelos.”

Nesse capítulo está uma orientação sobre como pensar as coisas a partir dos pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

É evidente que é muito mais fácil pensar um modelo do segmento DIANTE do objeto em que esteja em questão, por exemplo, o trabalho, no domínio da Economia, pensando a partir do respectivo par constituinte (conflito-regra); ou mesmo um modelo no domínio da Biologia pelo respectivo par constituinte (função-norma).

E a familiaridade do pensamento com tais pares constituintes abre o caminho para pensar modelos em que o modelo constituinte é uma combinação dos três pares constituintes.

Para Michel Foucault os modelos constituintes de modelos que integram esses pares constituintes são como que “categorias” para as ciências humanas

O espectro de modelos segundo sua relação com o par sujeito-objeto

O espectro de modelos com os segmentos
AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto
em função da relação modelo X objeto
– espectro esse depreendido do pensamento de Michel Foucault,

relação modelos constituintes 
das CH X modelos constituinte das ciências da região epistemológica fundamental

modelos sem espaço para o par sujeito-objeto, 

modelos com espaço para o par sujeito-objeto

O arranjo dos modelos em um espectro segundo sua relação com o objeto (e com o sujeito)

segmento de modelos construídos AQUÉM do objeto
segmento de modelos construídos DIANTE do objeto
segmento de modelos construídos para ALÈM do objeto
relação Eixo epistemológico fundamental x modelos constituintes Ciência Humana

Indo da esquerda para a direita nas quatro figuras acima,

  • nos modelos sem espaço para o objeto (e para o sujeito), na figura mais à esquerda podemos ter modelos com inúmeros sistemas de categorias e com um número qualquer de categorias no total entre todos os sistemas de categorias usados.
  • nos modelos com espaço para o par sujeito-objeto na modelagem de operações, há uma ordem única dada pela gramática da língua utilizada, e as categorias principais são as do bloco padrão fundamental genérico para construção de representações, a proposição. Modelo organizado pelo par sujeito-objeto.
  • e nos modelos que habitam o interior do Triedro dos saberes, concebidos como diz Foucault ‘para além do objeto’, os modelos das Ciências humanas, voltamos a ter “categorias“, os modelos constituintes que integram os pares constituintes da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

o funcionamento das operações em cada um desses espectros de modelos

modelos sem espaço para o objeto, e também para o sujeito

modelos com espaço para o objeto, e para o sujeito

operação no pensamento clássico
o de antes de 1775, que transcorre
no interior do Circuito das trocas
operação no pensamento moderno, depois de 1825, no caminho da Construção da representação que transcorre no interior do Lugar de nascimento do que é empírico
operação no pensamento moderno, depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação que transcorre no interior do Circuito das trocas

lugar das operações em cada segmento e caminho percorrido pelas operações.

operações ocorrem no interior do

Circuito das trocas,

lugar onde o modo de ser fundamental do que quer que seja objeto da operação, não muda.

operações ocorrem no interior do

Lugar de nascimento do que é empírico,

lugar onde o modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação muda.

operações ocorrem no interior do

Circuito das trocas,

uma vez que o modo de ser fundamental da empiricidade objeto da operação não se altera.

Note que a organização de todo o espectro de modelos de operações é também função do conceito ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto’, ou história, se entendido com o sentido de elemento organizador da história que Michel Foucault dá a ele.

Isso porque é a possibilidade ou não de mudança no ‘modo de ser fundamental da empiricidade objeto o que define o lugar onde a operação ocorre:

modo de ser fundamental é aquilo a partir de que
a empiricidade objeto pode ser afirmada, posta, disposta
e repartida no espaço do saber
para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.  

Veja o que Foucault diz sobre esse conceito:

“Mas vê-se bem que a História não deve ser aqui entendida como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram; ela é o
modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis. Assim como a Ordem no pensamento clássico não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaço próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim também a História, a partir do século XIX, define o lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe é próprio.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico I. A idade da história; 

relação Eixo epistemológico fundamental x modelos constituintes Ciência Humana
o funcionamento dos modelos sob o entendimento clássico, antes de 1775, segmento AQUÉM do objeto
a forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
o funcionamento dos modelos sob o entendimento moderno, depois de 1825, segmentos DIANTE e para ALÉM do objeto

Modelos altamente complexos como são os habitantes do espaço interior do Triedro dos saberes como os da Sociologia, da Psicologia, da Política, ou da Análise da produção têm sido analisados sem antes ter a familiaridade com modelos no segmento DIANTE do objeto pertencentes aos domínios das ciências da região epistemológica fundamental, levando em conta os pares de modelos constituintes das ciências:

  • da Vida (Biologia)
    par constituinte [função-norma]
  • do Trabalho (Economia)
    par constituinte [conflito-regra]
  • e da Linguagem (Filologia)
    par constituinte [significação-sistema];

E podemos mostrar que, em muitos casos, essa análise tem sido feita tendo como paradigma para o que sejam operações o paradigma de modelos do segmento AQUÉM do objeto. É que quando o alinhamento filosófico é deixado de lado, o nosso pensamento funciona com o entendimento com o qual está configurado desde sempre e de modo pouco consciente.

Isso quando acontece, corresponde a um evidente desalinhamento epistemológico e certamente não produz bons resultados.

A forma de reflexão adotada na análise desses modelos das ciências humanas precisa ser:

“Instaura-se uma forma de reflexão,
bastante afastada do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico V – O “cogito” e o impensado, de Michel Foucault

Note que essa forma de reflexão só se sustenta pelo par sujeito-objeto; note ainda que uma grande parte dos modelos de operações atualmente em uso não têm espaço em suas estruturas para essas duas ideias, ou elementos de imagem. Isso tem como resultado que o projetista de modelos usando a forma de reflexão do pensamento clássico, acaba por introduzir outras ordens além da ordem arbitrária selecionada, o que diminui a qualidade de informação que o modelo sendo projetado pode oferecer.

o Princípio monolítico de trabalho
de Adam Smith, de 1776
a importância de David Ricardo
segundo Michel Foucault
exemplos ilustrativos mostrando modelos muito utilizados atualmente
o Princípio dual de trabalho
de David Ricardo, de 1817
as diferenças entre Smith e Ricardo,
segundo Michel Foucault

Em resumo, o conceito do que seja ‘trabalho’:

  • como visto por David Ricardo, com dois componentes:
    • essa força, esse esforço, esse tempo do operário que se compram e se vendem, (um trabalho que pode ser reduzido a jornadas de subsistência e pode servir de unidade comum de valor entre todas as mercadorias);
    • e essa atividade que está na origem do valor da coisas: (trabalho agora visto como atividade de produção e origem do valor das coisas).
  • como visto por Adam Smith, com apenas um componente (o conceito é monolítico)
    • essa força, esse esforço, esse tempo do operário que se compram e se vendem, (um trabalho que pode ser reduzido a jornadas de subsistência e pode servir de unidade comum de valor entre todas as mercadorias);
      (colocado por Adam Smith  pela capacidade que ele via de o trabalho ser analisável em jornadas de subsistência podendo portanto servir de unidade comum a todas as outras mercadorias.) 

isto é, o conceito somente contempla o primeiro dos componentes incluídos no conceito de Ricardo.

A reforma de previdência trata:

  • quem vende e vendeu durante sua vida útil de trabalho, sua força, seu esforço, seu tempo, a quem o quis comprar, sem ligação permanente com as atividades de produção das quais participou, e que estiveram na origem do valor das coisas, e com os empresários que as controlam.
  • mas deixa de fora exatamente os empresários, aqueles que quiseram comprar o trabalho que os que se aposentam  venderam durante toda a vida; os controladores das unidades de produção, ou melhor, das atividades de produção que estão na origem do valor das coisas, estes, parece que estão de fora dos ajustes a serem feitos pela reforma da previdência.

A figura ao lado mostra alguns modelos para operações, e para organizações, inclusive:

  • o modelo de operações de Elwood S. Buffa;
  • o modelo de organizações adaptado de M. Zilbovicius;
  • o modelo de operações do Kanban;
  • o modelo de organização da Reengenharia;
  • o modelo de operações Débito/Crédito;
  • o modelo para organizações Ativo/Passivo e Resultado.

mostrando que nos modelos consistentes com o pensamento moderno os dois componentes do Princípio dual de trabalho de David Ricardo estão imbricados.

200px-JohnLocke
John Locke, 1632-1704, empirismo
AdamSmith
Adam Smith, 1723-1790
_David Ricardo
David Ricardo,
1772-1823
_CronologiaDescEpistemologica
Cronologia básica da descontinuidade epistemológica
de 1775-1825

Referências sobre fundamentos filosóficos do Liberalismo

  • John Locke, 1632-1704 é considerado por muitos como o inspirador do Liberalismo.
  • Não é difícil encontrar também Adam Smith como base filosófica do Liberalismo.
  • há ainda outras citações que mencionam David Hume, Adam Smith, David Ricardo, Jeremy Bentham e Wilhelm Humbolt e outros, como sendo os principais autores do liberalismo clássico.

As obras de Locke como filósofo são da segunda metade do século XVII, e entre elas e o Riqueza das Nações de Adam Smith há algo como um século.

O aviso da alteração no entendimento (episteme) em nossa cultura

Falando sobre a descontinuidade epistemológica em nossa cultura, situada por ele entre 1775 e 1825, Michel Foucault diz o seguinte:

“Os últimos anos do século XVIII são rompidos por uma descontinuidade simétrica àquela que, no começo do século XVII, cindira o pensamento do Renascimento; então, as grandes figuras circulares em que se encerrava a similitude tinham-se deslocado e aberto para que o quadro das identidades pudesse desdobrar-se; e esse quadro agora vai por sua vez desfazer-se, alojando-se o saber num espaço novo.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; cap. VII – Os limites da representação; tópico I. A  idade da história

O relato das dificuldades e dos problemas encontrados

Discorrendo sobre os achados e as dificuldades que enfrentou ao longo do trabalho nesse livro, Foucault diz o seguinte:

“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado

  • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII, de fundar as sínteses no espaço da representação 
  • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma, de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, para além do objeto, esses “quase-transcendentais” que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. VII – As novas empiricidades; tópico I – A idade da história

As diferenças entre Adam Smith e David Ricardo e respectivas inserções no pensamento

Examinando a cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, vê-se que Adam Smith e David Ricardo estão de lados opostos da fase de ruptura dessa descontinuidade no entendimento do mundo e das coisas. 

Há, entre esses dois autores, diferenças profundas no entendimento, por exemplo, do que seja trabalho. 

Vendo agora o período de vida de Locke, todo ele durante o século XVII com publicações concentradas na segunda metade, vê-se a distância em tempo existente entre o pensamento dele e o de Ricardo. 

A principal diferença especificamente entre Adam Smith e David Ricardo – no pensamento de Michel Foucault – é a capacidade de Ricardo em seu princípio dual de trabalho, de dar conta daquela atividade que está na origem do valor das coisas. Você pode ver a importância de David Ricardo e pode ver também as diferenças entre os pensamentos dele e de Adam Smith, nas palavras de Michel Foucault.

Mas no que respeita aos entendimentos de antes e de depois desse evento, Foucault descreve várias outras diferenças entre as quais destaco:

Usando o pensamento de Foucault, e entendendo essas características dos dois pensamentos, quem cita Adam Smith e David Ricardo como referências do Liberalismo certamente não fez um alinhamento filosófico do modo como pensa. E uma doutrina  econômica que tome como base um e outro desses autores, com certeza resultará em ‘ismos’ essencialmente diferentes.

loperação no pensamento clássico,
o de antes de 1775
operação no pensamento moderno, o de depois de 1825,
no caminho da construção da representação
operação no pensamento moderno, o de depois de 1825,
no caminho do Instanciamento da representação

Discursos de economistas – análises conjunturais, tendências, têm como objeto operações no campo da economia.

É possível dizer coisa semelhante para o que dizem cientistas políticos.

Mas com que modelo de operações esses discursos são proferidos. E nesses modelos, em que espaço exatamente estão as operações objeto desses discursos.

modelo relacional de banco de dados do sistema dedicado a gestão de projetos Microsoft Project 4.0
modelo relacional do Open Plan Professional, mostrando entendimento semelhante ao do MS Project 4.0

Modelo relacional de banco de dados dos SDGP’s – Sistemas Dedicados a Gestão de Projetos

Esse modelo relacional tem como elemento central Projeto, (atividade, tasks), o mesmo modelo central dos sistemas baseados na estrutura Input-Output.

Processo, nessa posição estrutural, é um verbo do tipo clássico. Veja a funcionalidade desse tipo de verbo aqui.

legenda aqui por favor

Usando a função de ler e escrever de e para um banco de dados, criamos em um banco de dados:

  • ADM – uma lista de sujeitos – autonomias gerenciais – sobre operações;
  • VRB – uma coleção de Formas de produção cada uma com um conjunto logicamente organizado de processos;
  • EAN – uma coleção de Sucessões de analogias, ou objetos análogos componentes de objetos cuja operação de obtenção se pretende gerenciar.

O aplicativo permite construir a operação de instanciamento de um objeto anteriormente projetado. O operador seleciona o elemento componente da estrutura analítica, e associa a ele a Forma de produção capaz de executá-lo naquele ambiente, e a autonomia gerencial que terá isso a seu cargo.

A geração do modelo de operações é automático e rigorosamente construído levando em conta as regras gramaticais que têm a Forma de produção como elemento central. Veja a funcionalidade desse tipo de verbo aqui.

Proposição

QUEM

exemplo de estrutura administrativa ou coleção de autonomias gerenciais

Exemplo de uma estrutura administrativa, ou coleção de autonomias gerenciais, sujeitos das operações que se pretende gerenciar.

COMO

exemplo de Forma de produção em banco de dados

Exemplo de Forma de produção presente no repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua. Há uma Forma de produção semelhante para cada uma das linhas da EAN – Estrutura Analítica cujo modelo de operação se deseja gerar.

O QUE

exemplo de coleção de componentes, ou estrutura analítica

Exemplo de uma Sucessão de analogias, uma coleção logicamente estruturada de elementos análogos componentes do objeto cuja operação de instanciamento se pretende gerenciar.

exemplo do modelo de instanciamento do objeto estruturado pelo aplicativo

O modelo da operação de instanciamento do objeto cuja EAN – Estrutura Analítica escolhemos no lado esquerdo da tela central do aplicativo.

o objeto de demonstração:
um Cogumelo de jardim e componentes

]
Caos como um tipo de ordem instável
em que as sequências temporais são muito complexas e revelam estruturas
que nos permitem melhor entender o mundo que nos cerca

Paleta de ideias ou elementos de imagem
presentes na configuração de pensamento clássico

Las meninas, Diego Velázquez, 1656; óleo sobre tela; Museu do Prado, Madrid, Espanha

O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

Proposição instanciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
designações primitivas inativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes e ativados; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
recuperada desde o Repositório para objeto desta operação
Proposição explicativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
Proposição enunciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção inexistentes; linguagem de ação ou raiz não contém a representação para essa empiricidade objeto
a proposição no pensamento clássico
ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca
a proposição no pensamento moderno: ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca
ECA-moderno
Características do pensamento moderno
o de depois de 1825
ECA-Clássico
Características do pensamento clássico
o de antes de 1775
homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775,
considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
como um gênero, ou uma espécie
os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
caminho do Instanciamento da representação, com valor já atribuído;
que tem início novamente no interior do Circuito das trocas
fontes de valor para a representação em construção: a) designações primitivas; b) linguagem de ação ou taiz.

Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
do pensamento
funcionamento das operações no pensamento clássico
Modelo de
Operação de produção
relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
e o sistema Input-Output
do LE da figura.
Modelo da 
Organização de produção
Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
múltiplos sistemas de categorias
Modelo de operações
e de organização
Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
Modelo de  Operação
contábil-financeira
O modelo de operação
no sistema contábil-financeiro
Modelo da  Organização
ponto de vista financeiro
a organização no sistema contábil-financeiro

Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
de operação do pensamento
O funcionamento das operações no pensamento moderno
Modelo de
Operação de produção
relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e 'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'
Modelo da 
Organização de produção
o modelo de organização 'Mapa da atividade semicondutores', da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
instanciamento de representação
O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
do movimento Reengenharia

O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

Assim, estes três pares,

  • função e norma,
  • conflito e regra,
  • significação e sistema,

cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

  • do nível da psicologia,
  • da sociologia
  • ou da análise das linguagens

é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

  • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X  – As ciências humanas;
 III. Os três modelos
Michel Foucault 

O Triedro dos saberes: eixos e faces
espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
O interior ao Triedro dos saberes
o espaço das Ciências humanas

Aquém do objeto

Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

  • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.

Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

Diante do objeto

No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

  • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

  • Ciências da vida (Biologia):


    função-norma
    ;

  • Ciências do trabalho (Economia):


    conflito-regra;

  • Ciências da Linguagem (Filologia):

    significação-sistema.

Além do objeto

No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

  • da Vida-(Biologia),
  • do Trabalho-(Economia)
  • e da Linguagem-(Filologia).

O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

  • Ciências da vida  (Biologia):
    função-norma;

    +
    Ciências do trabalho (Economia):

    conflito-regra;
    +
    Ciências da Linguagem (Filologia):
    significação-sistema.

Sob ciências humanas como:

  • economia política;
  • sociologia,
  • psicologia e psicanálise

estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

- Lugar do nascimento do que é empírico:
pensamento moderno - caminho da Construção da representação
- Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

Encontra-se 

  • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
  • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
O Lugar de nascimento do que é empírico
lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
O Circuito das trocas
as chaves horizontais amarelas
onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
não se altera

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

ela é
o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

[veja citação 2 à esquerda]

A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

Qual será a explicação para isso?

Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

3assim também a História,
a partir do século XIX,
define o
lugar de nascimento
do que é empírico,
lugar onde,
aquém
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault 

- Lugar do nascimento do que é empírico:
pensamento moderno - caminho da Construção da representação
- Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

Encontra-se 

  • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
  • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

ela é
o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

[veja citação 2 à esquerda]

assim também a História,
a partir do século XIX,
define o
lugar de nascimento
do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

Qual será a explicação para isso?

Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault 

Questões/Perguntas

_thumb história do livro

A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,
 – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

- Lugar do nascimento do que é empírico:
pensamento moderno - caminho da Construção da representação
- Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

Encontra-se 

  • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
  • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
O Lugar de nascimento do que é empírico
lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
O Circuito das trocas
as chaves horizontais amarelas
onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
não se altera

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

ela é
o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

[veja citação 2 à esquerda]

A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

Qual será a explicação para isso?

Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

3assim também a História,
a partir do século XIX,
define o
lugar de nascimento
do que é empírico,
lugar onde,
aquém
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault 

Questões/Perguntas

_thumb história do livro

A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,  – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço no caminho,
encontradas por Foucault durante seu trabalho no livro
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’

exemplos de modelos de operações e de organizações muito usados ainda hoje, mostrando esses dois obstáculos presentes entre nós atualmente.

os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
Michel Foucault
1926-1984

“Eis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico
que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo de certa
maneira moderna de conhecer as empiricidades.

É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado

1 pela impossibilidade
trazida à luz por volta 
do fim do século XVIII, 
de fundar as sínteses
no espaço da representação:

2 e pela obrigação 
correlativa, simultânea, 

mas logo dividida contra si mesma, 
de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, 
para além do objeto, 

esses “quase-transcendentais” 
que são para nós 
Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;

Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
tópico I – As novas empiricidades

no pensamento clássico
aquém do objeto
antes de 1775

no pensamento moderno
diante do objeto
depois de 1825

espaço interior
Triedro dos saberes
para além do objeto
reservado às
Ciências humanas

comparações de diferentes configurações de pensamento feitas por Michel Foucault
A impossibilidade
[no pensamento clássico,
LE da figura]
contra a sim-possibilidade
[no pensamento moderno,
LD da figura]
de fundar as sínteses
[da empiricidade objeto]
no espaço da representação.
o espaço interno do
Triedro dos saberes
- o habitat das ciências humanas -
mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as Ciências Humanas

Os obstáculos no caminho de Foucault 

aquém do objeto

diante do objeto

para além do objeto

0 Foucault havia anteriormente identificado o perfil do pensamento no período clássico, com uma configuração tal que a capacidade (ou a possibilidade – e mesmo a intenção) de fundar as sínteses – dos objetos de operações cujas representações resultassem dessas operações – no espaço da representação não era sequer cogitada:

  • em razão dos pressupostos adotados,

e principalmente, em razão 

  • do tipo de leitura feita do fenômeno ‘operações’ das trocas, 
    • na leitura então feita, o ponto de início do fenômeno  ‘operações’, estava inserido no exato momento em que a troca tem todas as condições para acontecer; (os dois objetos da troca – o dado e o obtido –  tinham representações disponíveis e já carregadas de valor).

1 Michel Foucault relata a seguinte situação:

  • ele havia delineado um tipo de pensamento ‘com o qual queiramos ou não pensamos’, um pensamento que segundo ele ‘tem a nossa idade e a nossa geografia’,
    • com a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto da operação) no espaço da representação;

para conseguir fundar as sínteses no espaço da representação,

  • foi necessário alterar profundamente todos os pressupostos

e a leitura feita do que seja uma operação e a análise de valor, exigiram:

  • o deslocamento do ponto de inserção da análise desde o ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  • para um ponto antes da possibilidade da troca, quando os elementos que dão as condições de efetivação dessa troca, ainda não existissem,

incorporando à análise, a operação de construção da representação nova. 

E ele havia percebido que esse pensamento com o qual queiramos ou não pensamos

  • estava muito contaminadodominado, mesmo –
    • justamente pela impossibilidade de fazer isso (essa fundação das sínteses do objeto da operação no espaço da representação), sendo esta impossibilidade  uma característica do pensamento clássico.

2 Ele percebia ainda uma obrigação a cumprir:

  • a de abrir o campo transcendental da subjetividade
    • e constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.

Ele descobre que operações nos domínios das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem podem ser expressos completamente em cada domínio, por pares de modelos constituintes:

  • Vida(Biologia)
    • função-norma;
  • Trabalho(Economia)
    • conflito-regra;
  • Linguagem(Filologia)
    • significação sistema;

e que os modelos constituintes das Ciências humanas são sempre compostos por uma combinação desses três pares de modelos constituintes.

O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

  • Ciências da vida  (Biologia):
    [função-norma];

    +
    Ciências do trabalho (Economia):
    [conflito-regra];
    +
    Ciências da Linguagem (Filologia):
    [significação-sistema].

Podemos ver a atualidade dessa percepção de Foucault
com Exemplos de modelos para operações e organizações
construídos sobre estruturas de conceitos
uns que não permitem, e outros que ao contrário sim permitem
a fundação das sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação.

Veja isso aqui.

Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
com os respectivos tratamentos dados ao homem

homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
como um gênero, ou uma espécie
homem no sistema de operações do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papéis:
1. raiz e fundamento de toda positividade
2. elemento do que é empírico.

“Instaura-se
uma forma de reflexão
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão
segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado,
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
V. O cogito e o impensado
Michel Foucault 

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

“No pensamento clássico,
aquele para quem
a representação existe,
e que nela se representa a si mesmo,
aí se reconhecendo
por imagem ou reflexo,
aquele que trama
todos os fios entrecruzados
da “representação em quadro” -,
esse [o ser do homem]
jamais se encontra lá presente.

Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.

Sem dúvida,
as ciências naturais
trataram do homem como 

  • de uma espécie
  • ou de um gênero

a discussão
sobre o problema das raças,
no século XVIII, o testemunha.
A gramática e a economia,
por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
de desejo,
ou de memória
e de imaginação.”

Mas não havia
consciência epistemológica

do homem como tal.

“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.”

“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está, ao mesmo tempo,

  • no fundamento
    de todas as positividades,
  • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
    no elemento
    das coisas empíricas.

Esse fato
– e não se trata aí
da essência em geral do homem,
mas pura e simplesmente
desse a priori histórico que,
desde o século XIX,
serve de solo quase evidente
ao nosso pensamento –
esse fato é, sem dúvida, decisivo
para o estatuto a ser dado
às “ciências humanas”,
a esse corpo de conhecimentos
(mas mesmo esta palavra
é talvez demasiado forte:
digamos,
para sermos mais neutros ainda,
a esse conjunto de discursos)
que toma por objeto o homem
no que ele tem de empírico.”

É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IX – O homem e seus duplos;
II. O lugar do rei
Michel Foucault 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X  – As ciências humanas;
 I. O triedro dos saberes
Michel Foucault 

Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”

Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.

O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
com duas amplitudes - duas abrangências muito diferentes

Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

  • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
  • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

O que não muda entre essas duas possibilidades

A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

A proposição é para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo
mais geral e mais elementar,
porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV  – Falar;
tópico III – Teoria do verbo
Michel Foucault 

(…) Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

O que sim muda entre essas duas possibilidades

A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

“Valer, para o pensamento clássico,
é primeiramente valer alguma coisa,
poder substituir essa coisa num processo de troca.

A moeda só foi inventada,
os preços só foram fixados e só se modificam
na medida em que essa troca existe.

Ora, a troca é um fenômeno simples
apenas na aparência.

Com efeito, só se troca numa permuta,
quando cada um dos dois parceiros
reconhece um valor
para aquilo que o outro possui.

Num sentido, é preciso, pois,
que as coisas permutáveis,
com seu valor próprio,
existam antecipadamente nas mãos de cada um,
para que a dupla cessão e a dupla aquisição
finalmente se produzam.

Mas, por outro lado,

  • o que cada um come e bebe,
    aquilo de que precisa para viver
    não tem valor
    enquanto não o cede;
  • e aquilo de que não tem necessidade
    é igualmente desprovido de valor
    enquanto não for usado
    para adquirir alguma coisa de que necessite.

Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação

  • (atual [troca imediata]
  • ou possível [permutabilidade]),

isto é, no interior

  1. da troca
    [representação existente]
  2. ou da permutabilidade
    [representação possível]
    .

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca

“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

  1. leitura já dadas as condições de troca;
  2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

1 uma analisa o valor
no ato mesmo da troca,
no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;

  • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
    • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

2 outra analisa-o
como anterior à troca
e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.

  • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
    • designações primitivas
    • linguagem de ação ou raiz;

4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

fora de si mesma e como que

    • na natureza, ou nas   
    • analogias das coisas;

a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

Esta segunda leitura para ‘operações’
– que orienta a análise de valor
desde antes do momento da troca -,
não é possível sem a presença do homem
na estrutura dos modelos.

Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
mostrados nos modelos de operações

Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

As características das duas configurações do pensamento:

  • a do pensamento clássico, de antes de 1775;
  • e a do pensamento moderno, de depois de 1825

características de características, ou características de segunda ordem,
das configurações do pensamento em cada caso.

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

_Estrutura IO-transformação
Os princípios organizadores
sob o pensamento clássico:
o de antes de 1775
'Caráter' e 'Similitude'
Características do pensamento clássico, o de antes de 1775
Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
o de depois de 1825
'Analogia' e 'Sucessão'
Características do pensamento moderno, o de depois de 1825

“Instaura-se
uma forma de reflexão
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão
segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado,
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
V. O cogito e o impensado
Michel Foucault 

“Assim o círculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

  • que há aqui um caráter 

no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

  • – É a semelhança

Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia, 
  • o da analogia na emulação, 
  • o da emulação na conveniência, 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

  • a marca da simpatia… 

A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

  • a Analogia 
  • e a Sucessão

de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
não pode mais ser
a identidade de um
ou vários elementos,
mas a identidade
da relação entre os elementos
(onde a visibilidade
não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham
por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
localizações próximas
num espaço de classificação,
mas sim porque
foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias
não fazia mais que percorrer
o espaço prévio e mais fundamental
de um quadro
que de antemão apresentava
todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observáveis simultaneamente
no espaço não serão mais que
as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clássica
distribuía num espaço permanente
as identidades
e as diferenças não-quantitativas
que separavam e uniam as coisas:
era essa a ordem
que reinava soberanamente,
mas a cada vez
segundo formas e leis
ligeiramente diferentes,
sobre o discurso dos homens,
o quadro dos seres naturais
e a troca das riquezas.

A partir do século XIX,
a História
vai desenrolar
numa série temporal
as analogias
que aproximam umas das outras
as organizações distintas.

É essa História que,
progressivamente,
imporá suas leis

  • à análise da produção,
  • à dos seres organizados, enfim,
  • à dos grupos linguísticos.

A História dá lugar
às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenças sucessivas.

Essa forma de reflexão surgida será decorrência da segunda leitura do que seja uma operação de troca e portanto não pode prescindir do homem e do objeto?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo II – A prosa do mundo;
II. As assinalações
Michel Foucault 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault 

os lugares onde ocorrem as operações: 

  • Lugar de nascimento do que é empírico
    – operações de Construção de representações;
    • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades sim muda
  • Circuito onde ocorrem as trocas‘ ou Mercado
    – operações de Instanciamento de representações já existentes;
    • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
Lugar do nascimento do que é empírico:
pensamento moderno – caminho da Construção da representação
Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

Encontra-se 

  • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
  • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, apenas no caminho do Instanciamento da representação.

Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, e apenas no caminho da Construção da representação

O 'Circuito das trocas',
ou 'Mercado'
as chaves amarelas no LE da figura, lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
O Lugar de nascimento do que é empírico - fora e antes do Mercado -
lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
e onde se dá a articulação
do pensamento do homem,
com o impensado
O Circuito das trocas
as chaves horizontais amarelas
no LD da figura, onde ocorrem operações durante as quais
o 'modo de ser fundamental'
não se altera; é novamente o Mercado, agora no pensamento moderno

‘modo de ser fundamental das empiricidades’ é o conceito chave aqui.

No pensamento clássico, o de antes de 1775, pelos pressupostos adotados, é impossível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades cuja definição escapa ao escopo destas operações.

Estas operações transcorrem no interior do Circuito das trocas, a chave amarela horizontal, lugar onde não há alteração no modo como as coisas se apresentam à operação.

No pensamento moderno, o de depois de 1825, pelos pressupostos adotados é sim possível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades objeto da operação de Construção da representação que, se nova nesse domínio e ambiente, é o próprio escopo destas operações.

Operações no caminho da Construção da representação transcorrem no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, as chaves coloridas verticais, em um espaço que engloba os lugares  desde onde se fala e do falado. O sucesso dessas operações altera ‘o modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, e com isso, faz-se História.

No pensamento moderno, o de depois de 1825, em uma operação de Instanciamento de representação objeto cuja construção da representação foi anteriormente feita e incorporada ao Repositório, a representação objeto de Instanciamento é recuperada do Repositório.

Assim, a operação de Instanciamento não altera o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto de instanciamento.

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

2Assim como a Ordem
no pensamento clássico
não era
a harmonia visível
das coisas,
seu ajustamento,
sua regularidade
ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que,
antes de todo
conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,

1″Mas vê-se bem
que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

ela é

o modo de ser fundamental
das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são

  • afirmadas,
  • postas,
  • dispostas
  • e repartidas no espaço do saber

para eventuais conhecimentos
e para ciências possíveis.

3 assim também
a História,
a partir do século XIX,
define o

lugar de nascimento
do que é empírico,

lugar onde,
aquém
de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser
que lhe é próprio.

A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

Qual será a explicação para isso?

Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault 

os princípios organizadores dos modelos de operações que fazemos

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

_Estrutura IO-transformação
Os princípios organizadores
sob o pensamento clássico:
o de antes de 1775
‘Caráter’ e ‘Similitude’
Características do pensamento clássico
o de antes de 1775

“Assim o círculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

  • que há aqui um caráter 

no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

  • – É a semelhança

Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia, 
  • o da analogia na emulação, 
  • o da emulação na conveniência, 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

  • a marca da simpatia… 

A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
o de depois de 1825
'Analogia' e 'Sucessão'
Características do pensamento moderno
o de depois de 1825

De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

  • a Analogia 
  • e a Sucessão

de uma organização a outra,
o liame, com efeito,
não pode mais ser
a identidade de um
ou vários elementos,
mas a identidade
da relação entre os elementos
(onde a visibilidade
não tem mais papel)
e da função que asseguram;
ademais, se porventura essas organizações se avizinham
por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
localizações próximas
num espaço de classificação,
mas sim porque
foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
no devir das sucessões.
Enquanto, no pensamento clássico,
a seqüência das cronologias
não fazia mais que percorrer
o espaço prévio e mais fundamental
de um quadro
que de antemão apresentava
todas as suas possibilidades,
doravante
as semelhanças contemporâneas
e observáveis simultaneamente
no espaço não serão mais que
as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
de analogia em analogia.
A ordem clássica
distribuía num espaço permanente
as identidades
e as diferenças não-quantitativas
que separavam e uniam as coisas:
era essa a ordem
que reinava soberanamente,
mas a cada vez
segundo formas e leis
ligeiramente diferentes,
sobre o discurso dos homens,
o quadro dos seres naturais
e a troca das riquezas.

A partir do século XIX,
a História
vai desenrolar
numa série temporal
as analogias
que aproximam umas das outras
as organizações distintas.

É essa História que,
progressivamente,
imporá suas leis

  • à análise da produção,
  • à dos seres organizados, enfim,
  • à dos grupos linguísticos.

A História dá lugar
às organizações analógicas,
assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades
e das diferenças sucessivas.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo II – A prosa do mundo;
II. As assinalações
Michel Foucault 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
I. A idade da história
Michel Foucault 

os lugares contidos dentro do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’:

  • o lugar ‘desde onde se fala
  • e o lugar ‘do falado‘;

consistentes com os blocos do ‘operar‘ e do ‘suporte ao operar‘ de Humberto Maturana

Esses dois lugares – o ‘desde onde se fala’ e o ‘do falado’ –
juntos delimitam o espaço onde se dá a articulação
do pensamento do homem com o impensado feita
no domínio do Pensamento e da Língua
e sua ligação com o domínio do Discurso e da Representação

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico

Lugar desde onde se fala

Lugar do falado

são sub-espaços do Lugar de nascimento do que é empírico o que implica que o pensamento está funcionando com o entendimento do pensamento moderno, o de depois de 1825, a coluna ao lado, portanto.

  • Lugar desde onde se fala não pode ser delineado sob o pensamento clássico pela falta da ideia e do elemento de imagem ‘homem’, aquele que fala, raiz e fundamento de toda positividade, e também da ideia do objeto resultado da articulação do pensamento com o impensado, feita pelo homem,;
  • e o Lugar do falado, analogamente, não pode ser delineado no LE da figura. 

todo o espaço  corresponde, no LE da figura, ao domínio todo em que ocorrem as operações sob o pensamento clássico, a saber, o domínio do Discurso e da Representação.

A leitura do que sejam Operações sob o entendimento no pensamento clássico pressupõe o ponto de inserção para análise no exato cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca, cuja condição de possibilidade está, desse modo, dada.

Lugar deste onde se fala:
ideias que formulam a proposição /
(sujeito e predicado do sujeito);
Lugar do falado:
ideias que dão suporte na experiência ao instanciamento da representação
no domínio e ambiente

Lugar do nascimento do que é empírico: espaço ocupado por:

  • Lugar desde onde se fala;
  • Lugar do falado

O Lugar de nascimento do que é empírico, como o nome sugere, está situado antes do circuito das trocas, e em seu interior ocorre a construção de representação nova.

Essa visão do que sejam operações corresponde à leitura de operações, ou visão desse fenômeno como desde um ponto de inserção anterior à troca

Lugar desde onde se fala

As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidas na formulação da proposição estão contidas no espaço chamado de Lugar desde onde se fala:

  • sujeito: o homem na posição de raiz de toda positividade
  • predicado do sujeito
    • verbo: Forma de produção, o elemento central da operação de construção da representação;
    • atributo: a representação em construção, nas posições extremas da operação de construção.

Esse espaço coincide com o espaço chamado por Humberto Maturana de ‘operar’, o retângulo vermelho na figura ao lado, parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas no interior do domínio do Pensamento e da Língua.

Lugar do falado

As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidos na sustentação da Forma de produção na experiência estão no lugar do falado:

  • elementos de suporte na experiência à Forma de produção, onde se encontram
    • processos, atividades, tasks

A operação de construção da representação escolhe os elementos de suporte na experiência à Forma de produção, que deve ser capaz de produzir quando implementada, uma instância da representação com o operar vislumbrado – ou o mais próximo disso possível. Humberto Maturana chama esse espaço de ‘suporte ao operar’, o retângulo amarelo na figura ao lado. 

O Lugar do falado é parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas suas ideias – ou elementos de imagem – fazem parte do domínio do Discurso e da Representação.

“É preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,

ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,

preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência
e de concordância;


e depois,


em recuo em relação a elas todas,

numa região que

  • não é
    aquela do falado

  • mas aquela 
    donde se fala.

Ele está na orla do discurso,
na juntura entre

  • aquilo que é dito

  • e aquilo que se diz,

exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

Há correspondências que precisam ser anotadas, entre elas:

  • no princípio dual de trabalho de David Ricardo
    • aquela atividade que está na origem do valor das coisas 
    • tem suas ideias – ou seus elementos de imagem no lugar desde onde se fala
  • no LD – lado direito da figura 2 de Humberto Maturana
    • os dois blocos do ‘Explicar com Reformular’ em que Maturana divide suas explicações
      • sobre o que acontecia com o ser vivo,
      • e o modo como ele o via no seu espaço de distinções
    • correspondem apropriadamente com o que Foucault chama respectivamente de 
      • Lugar desde onde se fala e 
      • Lugar do falado.

Processo e Mercado são os conceitos largamente utilizados;
e ao mesmo tempo não se ouve falar 

  • em Forma de produção
  • ou em Lugar de nascimento do que é empírico,
  • e menos ainda em Nexo da produção

como ideias – ou elementos de imagem – em modelos de operações e organizações

no pensamento clássico
aquém do objeto
antes de 1775

no pensamento moderno
diante do objeto
depois de 1825

espaço interior Triedro dos saberes
para além do objeto
reservado às Ciências humanas

Aquém do objeto:
Processo

Diante do objeto:
Forma de produção

Além do objeto
Nexo da operação

o elemento central em operações
no pensamento clássico
Processo
o elemento central em operações
no pensamento moderno
Forma de produção
o Nexo da produção,
o elemento central do modelo de organização no formato SSS
  • Elemento central:
    • Processo

entendido sob o primeiro conceito de verbo explicado por Michel Foucault, como elemento gerador de um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, que o mais que faz é indicar a coexistência de duas representações.

  • característica emergente: 
    • fluxo
  • metáfora 
    • transformação única
  • Elemento central:
    • Forma de produção

entendida sob o segundo conceito de verbo explicado por Michel Foucault, tratado como um ser misto, inicialmente palavra entre palavras, preso às mesmas regras às mesmas regras, obedecendo como elas às mesmas leis de regência e concordância, e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado, mas aquela donde se fala.

  • característica emergente:
    • permanência
  • metáfora
    • conversão ou duas transformações
  • Elemento central:
    • Nexo da produção

a formulação para além do objeto associa o sistema cujo resultado é o produto, aquilo que se quer obter, com o instrumento imprescindível para obtê-lo.

  • propriedades emergentes:
    • simetria, simbiose e sinergia

Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais nada, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Verbo’;
para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

Ideias – ou elementos de imagem – centrais no LE e no LD da figura
Processo o elemento central no pensamento clássico
Forma de produção o elemento central no pensamento moderno, com as
designações primitivas e a linguagem de ação ou raiz

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

Aquém do objeto

Conceito de Verbo 'Processo'
na configuração de pensamento
do período clássico, antes de 1775

Verbo como
Processo

“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, 

  • a do verde
    e da árvore,

  • a do homem
    e da existência

    ou da morte; 

é por isso que
o tempo dos verbos

não indica
aquele [tempo]

em que as coisas existiram
no absoluto,

mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”

Diante e Além do objeto

Conceito de Verbo 'Forma de produção'
na configuração de pensamento
do período moderno, depois de 1825

Verbo como
Forma de produção

“É preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,

ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,

preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência
e de concordância;


e depois,


em recuo em relação a elas todas,

  • numa região que não é
    aquela do falado

  • mas aquela
    donde se fala.

Ele está na orla do discurso,
na juntura entre

  • aquilo que é dito

  • e aquilo que se diz,

exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”

Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, para o que seja um ‘Verbo’, e a total consistência entre o segundo conceito/tratamento e ‘Forma de produção’

  • por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Classificar’;
para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

Aquém
do objeto

O conceito de 'Classificar'
no pensamento clássico
o de antes de 1775

‘Classificar’
no pensamento clássico

Aquém do objeto,
isto é,
no pensamento filosófico Classico
o de antes de 1775

nessa faixa do espectro de modelos
que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

Classificar
é referir

  • o visível
  • a si mesmo,

encarregando um dos elementos
de representar os outros.”

Diante e Além
do objeto

O conceito de 'Classificar'
no pensamento moderno
o de depois de 1825

‘Classificar’
no pensamento moderno

Diante, e Além do objeto, 
isto é, 
no pesamento filosófico moderno,
o de depois de 1825

nessa faixa do espectro de modelos 
que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

“Em um movimento
que faz revolver a análise

Classificar
é referir

  • o visível 
  • ao invisível 

– como a sua razão profunda -, 

e depois,
alçar de novo
dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus
sinais manifestos,
que são dados
à superfície dos corpos.”

Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

pares de modelos constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental

  • da Vida(Biologia) [função-norma],
  • do Trabalho(Economia) [conflito-regra]
  • e da Linguagem(Filologia) [significação-sistema]

e o modelo constituinte padrão, comum a todas das ciências humanas; um modelo composto por uma combinação entre esses três pares de modelos constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem

no pensamento clássico
antes de 1775
aquém do objeto

no pensamento moderno
depois de 1825
diante do objeto

no pensamento moderno
também depois de 1825
para além do objeto

não há modelos constituintes sob o pensamento clássico

O Triedro dos saberes: eixos e faces
espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
O interior ao Triedro dos saberes
o espaço das Ciências humanas

Aquém do objeto

Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.

Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

Diante do objeto

A modelagem em cada área do saber é feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

  • Ciências da vida (Biologia):


    [função-norma]
    ;

  • Ciências do trabalho (Economia):


    [conflito-regra];

  • Ciências da Linguagem (Filologia):

    [significação-sistema].

Além do objeto

No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
da Vida
-(Biologia), do Trabalho-(Economia) e da Linguagem-(Filologia).

O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

  • Ciências da vida  (Biologia):
    [função-norma];

    +
    Ciências do trabalho (Economia):
    [conflito-regra];

    +
    Ciências da Linguagem (Filologia):
    [significação-sistema].

Proposição: o bloco construtivo

  • padrão,
  • genérico
  • e fundamental

oferecido pela gramática da língua para construção de representações.

Esse bloco construtivo ‘proposição’ carrega valor para as representações, mas faz isso de ao menos dois modos diferentes e com duas visões distintas para o que sejam ‘operações’.

“Valer, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que

  • a dupla cessão
  • e a dupla aquisição

finalmente se produzam.

Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra,

  • é preciso que elas existam já carregadas de valor;
    • e, contudo, o valor só existe no interior da representação
      (atual ou possível), isto é,
    • no interior da troca ou da permutabilidade.

“A proposição é
para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento
sua forma,
ao mesmo tempo
mais geral
e mais elementar
porquanto,
desde que a decomponhamos,
não encontremos mais o discurso
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar;
tópico: III – A teoria do verbo
Michel Foucault

no pensamento clássico
antes de 1775

no pensamento moderno
depois de 1825

questão/pergunta

a proposição no pensamento clássico
ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca

a toda a essência da linguagem  encerrada – diretamente – na própria proposição;

junto com esse ‘encerramento’ vão as ideias – ou elementos de imagem – necessários para a formulação da proposição, que assim, não participam do modelo de operações.

a proposição no pensamento moderno ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca

a descoberta da essência da linguagem  fora dela mesma, linguagem; a proposição formulada no modelo por suas ideias ou elementos de imagem presentes; inicialmente vazia, apenas um enunciado, é preenchida de valor a partir de duas fontes:

  • as designações primitivas;
  • a linguagem de ação ou raiz

ambas assinaladas na figura.

“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

1 uma analisa o valor

  • no ato mesmo da troca,

no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;

  • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da
    • proposição;

3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

2 outra analisa-o

  • como anterior à troca 

e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.

  • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem
    do lado das
    • designações primitivas
    • linguagem de ação ou raiz;

4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

  • fora de si mesma e como que
    • na natureza, ou nas   
    • analogias das coisas;

a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor,

  • antes da troca
  • e das medidas recíprocas da necessidade.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

Ideias – ou elementos de imagem – requeridos para a
Formulação da proposição, e valor carregado 

Ideias – ou elementos de imagem requeridos para formulação da proposição ausentes da estrutura do modelo de operação.

Valor carregado diretamente na proposição.

impossibilidade de formulação da proposição com ideias – ou elementos de imagem – requeridos, pela ausência do homem em sua duplicidade de papéis, e pela noção de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.

Proposição formulada com ideias ou elementos de imagem pertencentes à estrutura interna do modelo de operações;

Valor carregado pela proposição com origem fora da linguagem

  • designações primitivas

a busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para a representação da empiricidade objeto no domínio e ambiente em que a operação acontece. 

  • linguagem de ação ou raiz

todo o conteúdo do Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, à disposição da construção de novas representações.

Os tipos de sistemas que dão suporte a operações,
em função da configuração do pensamento:

  • no pensamento clássico: o sistema Input-Output, ou um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
  • no pensamento moderno: um sistema construído no interior do Lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde as empiricidades objeto das operações adquirem ‘o ser que lhes é próprio’.

no pensamento clássico
antes de 1775
verbo ‘Processo

no pensamento moderno
depois de 1825
verbo ‘Forma de produção

questão/pergunta

Operação clássica sob o conceito de Verbo 'Processo'
na configuração de pensamento
do período clássico, antes de 1775

“A única coisa
que o verbo afirma

é a coexistência de duas representações:
por exemplo, 

  • a do verde
    e da árvore,

  • a do homem
    e da existência

    ou da morte; 

é por isso
que o tempo dos verbos

não indica
aquele [tempo]

em que as coisas existiram
no absoluto,

mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”

Operação moderna sob o conceito de
Verbo 'Forma de produção'
na configuração de pensamento
do período moderno, depois de 1825

“É preciso, portanto,
tratar esse verbo
como um ser misto,

ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,

preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência
e de concordância;


e depois,


em recuo em relação a elas todas,

  • numa região que não é
    aquela do falado

  • mas aquela
    donde se fala.

Ele está na orla do discurso,
na juntura entre

  • aquilo que é dito

  • e aquilo que se diz,

exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

O tipo de sistema

O conceito acima é explícito em fornecer uma descrição do tipo de sistema para operações sob o pensamento clássico.

Trata-se de 

  • um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si; 

uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

asdf

Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

O tipo de leitura

asdf

Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

asdf

Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

o tempo nas operações, em função dos sistemas
em cada segmento do espectro de modelos

no pensamento clássico
antes de 1775
aquém do objeto

no pensamento moderno
depois de 1825
diante e para além do objeto

no pensamento moderno
também depois de 1825
diante e para além do objeto

formulação reversível
e somente 
instanciamento
da representação;
deus Chronos

formulação irreversível
e operação de construção
da representação 
deus Kairós

formulação reversível
 e operação instanciamento
da representação
deus Chronos

pensamento clássico, o de antes de 1775
tempo calendário no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada
pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação
pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

Aquém do objeto

Diante ou para além do objeto

Nota: a existência precede as distinções feitas na operação.

Tempo na formulação e no instanciamento da representação:

  • formulação reversível durante a formulação;
  • tempo calendário, ou tempo relativo no sentido de que
    • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f),
    • a posição calendário do outro evento (f) ou (i) pode ser calculada com as propriedades aparentes disponíveis antes e depois da operação;
  • irreversibilidades somente na etapa de instanciamento da representação

Não há nada que possa ser afirmado, posto, disposto e repartido no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis e assim não se pode falar em ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja. 

Assim, no pensamento clássico, não é possível adotar esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, que é compreendida como sucessão de fatos assim como se sucedem.

caminho da
Construção da representação
Nota: a existência se constitui com as distinções feitas na operação

Durante essa operação, a empiricidade objeto da operação, sim, muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

Tempo no caminho da Construção da representação, durante a formulação da representação:

  • formulação irreversível durante a formulação;
  • tempo absoluto no sentido de que a empiricidade objeto ‘assume o ser que lhe é próprio’ em decorrência da operação, e então:
    • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f)
    • não é possível o cálculo da inserção calendário do outro evento (f) ou (i) a partir dessa inserção calendário do evento anterior em virtude da não disponibilidade das propriedades antes/depois da operação;
  •  irreversibilidades ocorrem na formulação da operação de construção da representação.

A empiricidade objeto da operação tem um novo ‘modo de ser fundamental’, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’.

Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operações, sim, faz-se história.

 caminho do
Instanciamento da representação

Nota: a existência volta a preceder as distinções feitas na operação.
 

Durante essa operação a empiricidade objeto não muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

Tempo  no caminho do Instanciamento da representação previamente existente no Repositório e dele recuperada para a posição de empiricidade objeto na presente operação de instanciamento:

  • formulação volta a ser reversível; (é possível descartar uma formulação de instanciamento e formular outra com novas escolhas, sem perdas;
  • tempo volta a ser tempo calendário, ou tempo relativo;
  • irreversibilidades no caminho do Instanciamento da representação ocorrem em decorrência do desencadeamento dos elementos de suporte na experiência à Forma de produção.

A empiricidade objeto da operação tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ com que foi recuperada do repositório, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’ exatamente da mesma forma como havia sido acrescentada ao repositório.

Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da História, durante esse tipo de operações não se faz história.

Modelagem de operações e organizações organizadas pelo par sujeito-objeto, com operações específicas e separadas para cada um desses pares, porém relacionadas:

 

  • um modelo para a operação e organização para o objeto esperado pelo Cliente (Produto);
  • e um modelo para a operação e organização  para o instrumento capaz de obter o Produto, bem como obter o objeto esperado pelo Acionista (Benefícios de toda espécie, Lucros)

Mapa geral das operações na disposição SSS

Modelagem para uma organização incluindo o objeto esperado de interesse do Cliente
e o instrumento capaz de obtê-lo, e também o objeto esperado de interesse do Acionista
identificando o nexo da produção

Argumento: a modelagem de operações
organizada pelo par sujeito-objeto

Construção da estrutura de operações na disposição SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica

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Cronologia básica da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura ocidental entre os anos 1775-1825 segundo Michel Foucault.

  • fases e ponto de ruptura desse evento;
  • linha de tempo com as defasagens entre conquistas no pensamento e respectivo uso nas áreas técnicas;
  • alguns autores importantes de um e de outro lado desse evento;
  • ponto de entrada do homem em nossa cultura;
  • alguns autores citados como referências em modelos sociais, econômicos e políticos
Michel Foucault
1926-1984

“E foi realmente necessário 
um acontecimento fundamental
– um dos mais radicais, sem dúvida, 1
que ocorreram na cultura ocidental,
para que se desfizesse a positividade do saber clássico
e se constituísse uma positividade de que, por certo,
não saímos inteiramente.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prática

cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prática

O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

 “É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.

Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,

  • é a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
    • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros, 
    • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e de articulação, 
    • como chegam, pelo jogo das comparações, a estabelecer uma ordem. “

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap.VII – Os limites da representação
tópico I. A idade da história

Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

  • autores clássicos:
    • Adam Smith,
    • John Locke, 
    • David Hume, 
    • J. J. Rousseau, 
    • Jeremy Bentham, 
    • e J. M. Keynes (este, expressamente classificado por Foucault como não moderno)
  • autores modernos:
    • David Ricardo
    • Sigmund Schlomo Freud 
    • entre muitos outros.

Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

  • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
  • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
  • David Ricardo, economista, 1772-1823

Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
do pensamento
funcionamento das operações no pensamento clássico
Modelo de
Operação de produção
relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
e o sistema Input-Output
do LE da figura.
Modelo da 
Organização de produção
Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
múltiplos sistemas de categorias
Modelo de operações
e de organização
Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
Modelo de  Operação
contábil-financeira
O modelo de operação
no sistema contábil-financeiro
Modelo da  Organização
ponto de vista financeiro
a organização no sistema contábil-financeiro

Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

Funcionamento
de operação do pensamento
O funcionamento das operações no pensamento moderno
Modelo de
Operação de produção
relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e 'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'
Modelo da 
Organização de produção
o modelo de organização 'Mapa da atividade semicondutores', da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
instanciamento de representação
O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
do movimento Reengenharia

O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

Assim, estes três pares,

  • função e norma,
  • conflito e regra,
  • significação e sistema,

cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

  • do nível da psicologia,
  • da sociologia
  • ou da análise das linguagens

é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

  • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X  – As ciências humanas;
 III. Os três modelos
Michel Foucault 

O Triedro dos saberes: eixos e faces
espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
O interior ao Triedro dos saberes
o espaço das Ciências humanas

Aquém do objeto

Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

  • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
existem desde sempre e para sempre,
e integram o Universo em uma visão única.

Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

Diante do objeto

No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

  • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

  • Ciências da vida (Biologia):


    função-norma
    ;

  • Ciências do trabalho (Economia):


    conflito-regra;

  • Ciências da Linguagem (Filologia):

    significação-sistema.

Além do objeto

No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

  • da Vida-(Biologia),
  • do Trabalho-(Economia)
  • e da Linguagem-(Filologia).

O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

  • Ciências da vida  (Biologia):
    função-norma;

    +
    Ciências do trabalho (Economia):

    conflito-regra;
    +
    Ciências da Linguagem (Filologia):
    significação-sistema.

Sob ciências humanas como:

  • economia política;
  • sociologia,
  • psicologia e psicanálise

estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

A descrição feita por Michel Foucault de duas possibilidades
de posicionamento do pensamento com relação a valor

“Valor, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que a dupla cessão e a dupla aquisição finalmente se produzam.

Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra, é preciso que elas existam já carregadas de valor; e, contudo, o valor só existe no interior da representação (atual ou possível), isto é, no interior da troca ou da permutabilidade.

Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

  1. uma analisa o valor no ato mesmo da troca, no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  2. outra analisa-o como anterior à troca e como condição primeira para que esta ossa ocorrer.

Os dois pontos de partida distintos adotados pelo pensamento para análise de valor

1. a primeira possibilidade de leitura

A análise de valor no ato mesmo da troca,
no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido

2. a segunda possibilidade de leitura

A análise de valor como anterior à troca
e como condição primeira para que esta possa ocorrer.

A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da proposição;

  • no [neste] primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tomando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

a outra, [corresponde] a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das designações primitivas – linguagem de ação ou raiz(*);

  • na outra [nesta] forma de análise, a linguagem está enraizada fora de si mesma e como que na natureza ou nas analogias das coisas; a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.

Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho do Instanciamento da representação

Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento clássico, antes de 1775

Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho da Construção da representação

ReflexõesImaginativas

Reflexões imaginativas no espaço-tempo das Permanências e dos Fluxos

com a licença de Augusto de Franco pelo enxerto (quase paráfrase) feito sobre o título de um de seus trabalhos.

  • O espírito com que estou escrevendo e pistas sugestivas de espaço para mudanças

  • Influências, inspirações, a plataforma adotada para exposição de ideias
  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, de 1966, a nossa Cartilha; cujo autor, Michel Foucault, merece o título de Engenheiro de Produção emérito
  • O fenômeno das das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia, dos modelos; Metáforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento
  • Unanimidades em conceitos, seja pelo uso, seja pelo desuso:
  • Alguns (7) exemplos de modelos descritivos da produção e de organizações, existentes;
  • A visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica, para organizações de qualquer tipo: modelagem simultânea do objeto esperado, e do instrumento necessário para obter esse objeto
  • Influências e inspirações;
  • Plataforma adotada para exposição de ideias;
  • Imaginação e Conceituação: funções humanas reversíveis entre ocorrências espacio-temporais – imagens – textos;
  • Os caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana Romesin;
  • Nosso roteiro e nossa inspiração. 

Influências e inspirações

1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’: 

uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais; 

e ainda, não menos importante

    • as imagens tradicionais, as imagens técnicas, as classes de abstrações que usamos cotidianamente;
Vilém-Flusser-Portrait-008
Vilém Flusser
1920-1991

2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:

objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

Humberto Maturana
1928-

3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:

a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:

    • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sínteses no espaço da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
    • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
Michel Foucault
1926-1984

Roteiro e inspiração

Veja aqui os seguintes pontos:

  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ tal como visto por seu autor, Michel Foucault;
  • A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ contada por Michel Foucault no Prefácio desse livro, associada a imagens;
  • O espaço a ser ocupado pelo estudo em estilo de arqueologia realizado no ‘As palavras e as coisas’;
  • A descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura, posicionada por Michel Foucault entre os anos de 1775 e 1825;
  • O que exatamente Foucault via quanto ao que acontecia com as formas de
  • A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura e os dois perfis de conceitos característicos das duas configurações do pensamento; 
  • pensamento em nossa cultura e a modos distintos de absorver o mundo;
  • O espectro de modelos com três segmentos – AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto, traçado a partir dessa visão e da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, por Michel Foucault
  • As duas opções alternativas para a visão do fenômeno ‘operações’, com diferentes abrangências, e as respectivas duas origens do valor carregado pelas proposições para as representações; as correspondentes duas configurações de funcionamento da própria linguagem e do pensamento, e os modelos resultantes em cada caso.
  • Conceitos homônimos mas com significados diferentes entre o pensamento clássico, o de antes de 1775, e o moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault;
  • A análise das riquezas: (riquezas: um domínio, solo e objeto da “economia” na idade clássica, segundo Michel Foucault);

Veja esses pontos a seguir:

O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, na visão de Michel Foucault

“Ora, esta investigação arqueológica mostrou duas grandes descontinuidades na epistémê da cultura ocidental:

  • aquela que inaugura a idade clássica (por volta dos meados do século XVII)
  • e aquela que, no início do século XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

A ordem,
sobre cujo fundamento pensamos,
não tem o mesmo modo de ser
que a dos clássicos.

Por muito forte que seja a impressão que temos de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,

  • por mais que pensemos que a classificação de Lineu, mais ou menos adaptada, pode de modo geral continuar a ter uma espécie de validade,
  • que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do século XIX,
  • que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias análises com as de Cantillon,
  • que o propósito da Gramática geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em Bauzée) não está tão afastado de nossa atual linguística 

 – toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.

Não que a razão tenha feito progressos;

  • mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; é que foi profundamente alterado.

Se a história natural de Tournefort, de Lineu e de Buffon tem relação com alguma coisa que não ela mesma,

  • não é com a biologia, a anatomia comparada de Cuvier ou o evolucionismo de Darwin,
  • mas com a gramática geral de Bauzée, com a análise da moeda e da riqueza tal como a encontramos em Law, em Véron de Fortbonnais ou em Turgot.

Os conhecimentos chegam talvez a se engendrar; as ideias a se transformar e a agir umas sobre as outras (mas como? até o presente os historiadores não no-lo disseram);

  • uma coisa, em todo o caso, é certa:
    • a arqueologia,
      • dirigindo-se ao espaço geral do sabe!;
      • a suas configurações
      • e ao modo de ser das coisas que aí aparecem,
    • define sistemas de simultaneidade, assim como a série de mutações necessárias e suficientes para circunscrever o limiar de uma positividade nova.

Assim, a análise pôde mostrar a coerência que existiu, durante toda a idade clássica, entre

  • a teoria da representação e as
    • da linguagem,
    • das ordens naturais,
    • da riqueza e do valor:

É esta configuração que, a partir do século XIX, muda inteiramente;

  • a teoria da representação desaparece como fundamento geral de todas as ordens possíveis;
  • a linguagem, por sua vez, como quadro espontâneo e quadriculado primeiro das coisas, como suplemento indispensável entre a representação e os seres, desvanece-se;
  • uma historicidade profunda penetra no coração das coisas, isola-as e as define na sua coerência própria.

Impõe-lhes formas de ordem que são implicadas pela continuidade do tempo;

  • a análise das trocas e da moeda cede lugar ao estudo da produção,
  • a do organismo toma dianteira sobre a pesquisa dos caracteres taxinômicos;
  • e, sobretudo, a linguagem perde seu lugar privilegiado e torna-se, por sua vez, uma figura da história coerente com a espessura de seu passado.

Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas,

  • reclamando para seu devir não mais que o princípio de sua inteligibilidade
  • e abandonando o espaço da representação,

o homem,
por seu turno, entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.

Estranhamente, o homem – cujo conhecimento passa, a olhos ingênuos, como a mais velha busca desde Sócrates – não é, sem dúvida, nada mais que uma certa brecha na ordem das coisas, uma configuração, em todo o caso, desenhada pela disposição nova que ele assumiu recentemente no saber:

Daí nasceram todas as quimeras dos novos humanismos, todas as facilidades de uma “antropologia “, entendida como reflexão geral, meio positiva, meio filosófica, sobre o homem.

Contudo, é um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que

  • o homem não passa de uma invenção recente, uma figura que não tem dois séculos, uma simples dobra de nosso saber;
  • e que desaparecerá desde que este houver encontrado uma forma nova.”

“Vê-se que esta investigação responde um pouco, como em eco, ao projeto de escrever uma história da loucura na idade clássica; ela tem, em relação ao tempo, as mesmas articulações, tomando como seu ponto de partida o fim do Renascimento e encontrando, também ela, na virada do século XIX; o limiar de uma modernidade de que ainda não saímos.

Enquanto, na história da loucura,

  • se interrogava a maneira como uma cultura pode colocar sob uma forma maciça e geral a diferença que a limita, 

trata-se aqui  

  • de observar a maneira como ela experimenta a proximidade das coisas, como ela estabelece o quadro de seus parentescos e a ordem segundo a qual é preciso percorrê-los.

Trata-se, em suma, de uma história da semelhança:

  • sob que condições o pensamento clássico pôde refletir, entre as coisas, relações de similaridade ou de equivalência que fundam e justificam as palavras, as classificações, as trocas?
  • A partir de qual a priori histórico foi possível definir o grande tabuleiro das identidades distintas que se estabelece sobre o fundo confuso, indefinido, sem fisionomia e como que indiferente, das diferenças?

A história da loucura
seria a história do Outro

– daquilo que, para uma cultura  
é ao mesmo tempo
interior e estranho,
a ser portanto excluído
(para conjurar-lhe o perigo interior),
encerrando-o porém
(para reduzir-lhe a alteridade);

a história da ordem das coisas
seria a história do Mesmo
 

– daquilo que, para uma cultura,
é ao mesmo tempo
disperso e aparentado,
a ser portanto distinguido por marcas
e recolhido em identidades.

E se se pensar que a doença é, ao mesmo tempo, 

  • a desordem, a perigosa alteridade no corpo humano e até o cerne da vida, 

mas também 

  • um fenômeno da natureza que tem suas regularidades, suas semelhanças e seus tipos –

vê-se que lugar poderia ter uma arqueologia do olhar médico.

Da experiência-limite do Outro às formas constitutivas do saber médico e, destas, à ordem das coisas e ao pensamento do Mesmo, o que se oferece à análise arqueológica 

  • é todo o saber clássico, 
  • ou melhor; esse limiar que nos separa do pensamento clássico e constitui nossa modernidade.

Nesse limiar apareceu pela primeira vez esta estranha figura do saber que se chama homem e que abriu um espaço próprio às ciências humanas.

Tentando trazer à luz esse profundo desnível da cultura ocidental, é a nosso solo silencioso e ingenuamente imóvel que restituímos suas rupturas, sua instabilidade, suas falhas; e é ele que se inquieta novamente sob nossos passos.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Prefácio

Veja essa história em uma animação abaixo. Esta animação relaciona o texto de Foucault com as estruturas de operações sob as duas configurações do pensamento, a do clássico, de antes de 1775, e a do moderno, depois de 1825.

Provavelmente você vai se sentir mais confortável se antes de ver esta figura, visualizar o funcionamento das operações nesses dois casos.

A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’,
de Michel Foucault, contada por ele mesmo

1 – A ideia que deu origem ao livro ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas

que pode ser vista junto com outras animações  mais, nesta página:

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio

Se quiser ver o funcionamento das operações no pensamento clássico e no moderno (usando os critérios de Foucault para essa identificação, veja a página seguinte:

Funcionamento das operações para as configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Essa história está contada por Foucault no Prefácio do ‘As palavras e as coisas’, e está aqui  no início desta apresentação pela ideia de sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis que podem ser associados às configurações do pensamento  nos períodos de antes e de depois de um evento ao qual Foucault dá o status de ‘evento fundador da nossa modernidade’ – uma descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825 -, tendo o pensamento clássico, antes de 1775, e o moderno, depois de 1825:

  • o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clássico;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
  • associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operações)
  • o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso.
  • Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
    • seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham,
    • porque arruínam de antemão a sintaxe
      • e não somente a sintaxe que constrói as frases
      • também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operações, e também modelos de organizações.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do Prefácio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

Este estudo em estilo de arqueologia feito por Michel Foucault no
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’,
tem como tema:

  • não propriamente produções de pensamento formuladas e configuradas, 
  • e ainda menos, produções do pensamento já em funcionamento – com seus sucessos e insucessos, e submetidas a possíveis desvirtuamentos; 
  • mas o tema inerente a esse estilo em arqueologia é quais são 
    • as condições de possibilidade no pensamento nas quais esta ou aquela produção do pensamento – teoria, modelo ou sistema – pode ser formulada. 

Enquanto com inventividade e laivos de criatividade conseguimos criar infinidades de formulações sobre um mesmo perfil de condições de possibilidade do pensamento, que acabam muitas vezes sendo combinações lineares de formulações anteriores, mesmo com muita criatividade e toda a inventividade possível os conjuntos determinantes de condições de possibilidade não proliferam do mesmo modo.

A análise, compreensão e utilização
de produções do pensamento
– teorias, modelos e sistemas –
tomadas quando já formuladas e configuradas,
é extremamente (mais) difícil;
e ainda tanto mais o será,
se o conhecimento consciente
das respectivas condições de possibilidade
no pensamento não se verificar.
Essas dificuldades se agravarão
se a produção do pensamento objeto de análise
estiver em pleno uso em um ambiente,
influindo sobre ele – e dele recebendo influências
– que certamente incidirão sobre a análise.

O excerto da Cartilha, o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, – abaixo selecionado descreve o que é esse estudo em estilo de arqueologia realizado por Foucault, e como são as operações no antes e no depois desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento, a descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825, descrita por ele.

Você pode ver agora a nossa interpretação do que conseguimos apreender desse texto, ou primeiro ler o texto original e depois ver esta animação:

A idade da história em três tempos:
uma descrição de Foucault, do que seja sua arqueologia das ciências humanas

o que também pode ser visto na página seguinte:

A idade da história em três tempos: uma descrição de Foucault do que seja a sua arqueologia das ciências humanas.

Poderá ser útil ver também o funcionamento das operações

Funcionamento das operações em função das configurações do pensamento de antes de 1775 e de depois de 1825, datas limites da ocorrência desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento. 

AVISO: tudo o que se segue neste trabalho depende da distinção estabelecida entre os dois modos de ver ‘operações’ correspondentes às duas configurações do pensamento, expressas nas animações acima
a partir do texto de Foucault abaixo.

Diz Foucault: 

“A arqueologia, essa,
deve percorrer o acontecimento
segundo sua disposição manifesta;

ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
(ela analisa por exemplo, 

                      • para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome
                        e a importância nova dos sistemas de flexão; 

                      • ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função); 

ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

                      • (a substituição do discurso pelas línguas, 

                      • das riquezas pela produção); 

estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras

                    • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia); 

enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber

                      • não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável, 

                      • mas um espaço feito de organizações, isto é,
                        de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;

mostrará que essas organizações são descontínuas,
que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas,
mas que algumas são do mesmo nível
enquanto outras traçam séries ou sequências lineares. 

De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,

a Analogia e a Sucessão:


de uma organização a outra,

o liame, com efeito,
•  não pode mais ser
a identidade de um ou vários elementos,
•  mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel)
e da função que asseguram;

ademais, se porventura essas organizações se avizinham

por efeito de uma densidade
singularmente grande
de analogias,
↓ não é porque ocupem localizações próximas

num espaço de classificação,
↑ mas sim porque foram formadas
uma ao mesmo tempo que a outra
e uma logo após a outra

no devir das sucessões. 

Enquanto, no pensamento clássico, 

                • a sequência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades, 

doravante 

                • as semelhanças contemporâneas
                  e observáveis simultaneamente no espaço
                  não serão mais que as formas depositadas e fixadas

                  de uma sucessão que procede
                  de analogia em analogia. 

A ordem clássica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas. 

A partir do século XIX,
a História vai desenrolar numa série temporal
as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas. 

É essa História que, progressivamente, imporá suas leis

                      •  à análise da produção, 

                      • à dos seres organizados, enfim, 

                      • à dos grupos linguísticos. 

A História
dá lugar às organizações analógicas,

assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades

e das diferenças sucessivas.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

Veja isto em 

A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825,
segundo o pensamento de Michel Foucault

ou ainda na seguinte página

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault

De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:

  • antes de 1775 – pensamento clássico ou idade clássica do pensamento, com modelos com a (im)possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação;
  • depois de 1825 – pensamento moderno ou a nossa modernidade no pensamento, com modelos com a possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação.

Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dá o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.

Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clássico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clássica.

Michel Foucault vê o pensamento que nos é contemporâneo – e com o qual queiramos ou não pensamos – muito dominado por:

  • uma impossibilidade – a de fundar as sínteses do objeto das operações de pensamento, no espaço da representação;
  • e uma obrigação ainda não cumprida – a de abrir o campo transcendental da subjetividade e constituir, para além do objeto, esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho e a Linguagem.

e aparentemente ele imputa a esse domínio do nosso pensamento por essas questões, o tempo e dificuldades em acréscimo que precisou enfrentar em seu trabalho no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.

Impossibilidade X Possibilidade
de fundar as sínteses (da empiricidade objeto)
no espaço da representação

A impossibilidade [no pensamento clássico, antes de 1775]
contra a sim-possibilidade [no pensamento moderno, depois de 1825]
de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação.

A obrigação cumprida:
os quase-transcendentais
Vida, Trabalho e Linguagem constituídos

A classe de modelos das ciências humanas: um modelo composto pelos três pares constituintes
da Vida(Biologia) [função-norma]
do Trabalho (Economia) [conflito-regra]
da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

Veja o que ele diz, o mesmo texto colocado em duas animações e no excerto abaixo em seu original, que têm a finalidade de reunir as ideias em elementos de imagem que compõem duas estruturas diferentes, nos dois lados de uma mesma imagem:

“Eis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas
dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo 
e com o qual, queiramos ou não, pensamos, 
se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade,
    trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses
    no espaço da representação.

  • e pela obrigação 
    correlativa, simultânea,
    mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental
    da subjetividade 
    e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha);
Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades
de Michel Foucault

as animações acima também podem ser vistas nesta página

Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,

com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.

E o funcionamento das operações tanto no pensamento clássico, o de antes de 1775, como no moderno, depois de 1825, usando o critério de Foucault, pode ser visto na seguinte página:

 

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’: 

Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:  

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem 

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a impossibilidade 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituídos, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos para além do objeto, os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
        estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

“Instaura-se uma forma de reflexão, 
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana, 
em que está em questão,
pela primeira vez, 
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento se dirige ao impensado 
e com ele se articula.”
 

Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado

Veja isso associado a uma figura na qual os elementos de imagem escolhidos compõem uma estrutura que pode ser comparada com por exemplo, o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817 

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura
com esse perfil de conceitos do pensamento moderno, o de depois de 1825

Veja também o funcionamento das operações, especificamente no segmento DIANTE do objeto e na etapa da Construção da representação.

Nesse excerto da Cartilha, Foucault modela dinamicamente uma proposição que se ajusta a cada etapa da operação, coloca em cada proposição:

  • o ser do homem (o sujeito)
  • dirigindo-se ao objeto, o impensado,  (atributo do predicado do sujeito). 

Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura, ‘o ser do homem’ não se dirige ao intangível, mas ao impensado! (que pode ser também intangível, sem problemas)  Muitas vezes o intangível continua exatamente assim, intangível, mesmo depois que o pensamento tenha dado um jeito no seu aspecto impensado.   

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrário do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.  

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a impossibilidade 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituídos, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos para além do objeto, os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
        estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Resumidamente, podemos ler operações, as que ocorrem no circuito das trocas (Mercado) ou outras, de qualquer tipo –  posicionando o ponto de  início da leitura desse fenômeno de duas maneiras diferentes:
  1. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ colocado no  cruzamento da disponibilidade entre dois objetos intervenientes na operação de troca: o que é dado e o que é recebido, testando as condições de troca;
  2. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ antes do cruzamento da disponibilidade entre os dois objetos – o que é dado e o que é recebido – e portanto antes da disponibilidade de um dos objetos, testando desta vez a permutabilidade futura desse objeto e não imediatamente as condições de troca.

O carregamento de valor na proposição em cada caso:

  1. valor é carregado diretamente na proposição desde dentro do espaço da representação;
  2. valor é carregado na proposição desde fora do espaço da representação, com origens de valor externas ao espaço da representação, provenientes de:
    1. designações primitivas;
    2. linguagem de ação ou raiz.

Operações inspiradas no Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, têm valor carregado na proposição diretamente de dentro do espaço da representação;

Operações calcadas no Princípio Dual de trabalho de David Ricardo têm valor carregado na proposição e por elas para as representações como no segundo caso acima.

As diferenças nas visões de ‘operações’ decorrentes de diferenças no posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno, podem ser vistas nas animações que descrevem o funcionamento das operações em cada caso:

 
essas diferenças também podem ser vistas na página seguinte:
  • a animação correspondente ao pensamento clássico posiciona o início da leitura de ‘operações’ no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, pressupondo portanto, a disponibilidade desses dois objetos;
  • a animação correspondente ao pensamento moderno posiciona o início de leitura de ‘operações’ antes desse ponto, quando ainda um dos objetos envolvidos em uma futura troca está indisponível.
O texto de Foucault sobre essas duas alternativas de inserção do ponto de início da visão de ‘operações’ está na página seguinte:
E essas mudanças estão refletidas no tópico 
‘Uma anatomia ou uma Cartografia de modelos de operações em função da configuração do pensamento’
 
Para entender melhor os elementos de imagem que representam a origem de valor para as proposições desde fora da linguagem e fora do espaço da representação: 
  • ‘designações primitivas’
  • ‘linguagem de ação ou raiz’
veja a figura seguinte.

Operação de Construção de representação nova, no caminho da Construção da representação
sob o pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825 segundo Michel Foucault;
mostrando a origem de valor nas proposições externa à linguagem:
a) designações primitivas e b) linguagem de ação e a função que desempenham na operação.
 
 
Se essa figura lhe parecer ‘poluída’, pense o seguinte:
  • ela mostra uma fotografia de um instante na operação de construção da representação nova;
    • a representação para o objeto dessa operação foi concluída;
    • os elementos de suporte na experiência à Forma de produção foram nada mais do que selecionados – encontrados e/ou desenvolvidos;
    • foi construído um objeto análogo ao vislumbrado para essa empiricidade objeto, representado na figura pela Sucessão de analogias.
  • acaba de ser formulada uma proposição explicativa porque foi obtida sustentação na experiência para todos os quesitos atribuídos ao objeto cuja representação aca acaba de ser construída.
  • as designações primitivas, ao lado da linguagem de ação ou de uso são as origens do valor atribuído a essa proposição.

Se a figura ainda lhe parecer confusa, e achar que vale a pena esclarece-la, veja novamente o Funcionamento das operações.

Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clássico e sob o moderno. 

Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:

  • 0. os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo;
    • diferenças na paleta de ideias ou elementos de imagem e suas estruturas;
    • comparações entre os dois princípios feitas por Michel Foucault;
    • as duas diferentes origens de valor atribuído à proposição pela distinta opção de leitura do fenômeno ‘operações’.
  • 1. dois conceitos para o que seja um verbo;
  • 2. dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
  • 3. dois papéis atribuídos ao homem;
  • 4. dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento;
  • 5. duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova;
  • 6. dois conceitos para História;
  • 7. dois espaços gerais do saber;
  • 8. dois conceitos para tempo: calendário e absoluto;
  • 9. a proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações.
  • 10. Tabela de propriedades das duas configurações do pensamento.

Veja abaixo as diferenças entre os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, usando as palavras de Michel Foucault

Aquém do objeto
Adam Smith, 1776

Princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das Nações, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

Princípio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

Comparações entre os dois princípios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princípios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparações entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

As duas diferentes origens de valor para a proposição, em função da configuração de pensamento adotada

Os elementos de imagem, as ideias, que permitem formular o modelo de operações baseado diretamente na linguagem e na representação
Os elementos de imagem, as ideias,
que permitem formular o modelo de operações
desde fora da linguagem
a partir das designações primitivas
– e da linguagem de ação ou de raiz(*)

Conceito de Verbo ‘Processo’ na configuração de pensamento
do período clássico, antes de 1775
Conceito de Verbo ‘Forma de produção’ na configuração
de pensamento do período moderno, depois de 1825

Processo
como verbo

 

“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, 

          • a do verde
            e da árvore,

          • a do homem
            e da existência

            ou da morte; 

é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele [tempo]
em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”

‘Forma de produção’
como verbo

“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância;

e depois,


em recuo em relação a elas todas,

numa região que

          • não é aquela do falado

          • mas aquela donde se fala.

Ele está na orla do discurso,
na juntura entre

          • aquilo que é dito

          • e aquilo que se diz,

exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar

Classificar, portanto,
não será mais
referir o visível
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;

Será
num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível,
ao invisível,
como a sua razão profunda;
depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparências”]
que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault

pensamento clássico, antes de 1775
segmento AQUÉM do objeto

o homem está fora da paleta de ideias
no pensamento clássico, o de antes de 1775
era tratado como um gênero, ou uma espécie
do Sistema de Categorias

pensamento moderno, depois de 1825
segmento DIANTE  do objeto

os dois papéis do homem no pensamento moderno,
o de depois de 1825:
a) raiz e fundamento de toda positividade;
b) elemento do que é empírico

O modo de ser do homem,
tal como se constituiu no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está, ao mesmo tempo,

  • no fundamento de todas as positividades,

  • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada, no elemento das coisas empíricas.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cao. 10. As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes

“Assim o círculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,

que há aqui um
caráter

no qual convém se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo? 

– É a semelhança.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude). 

Contudo, 

  • não é a homologia que ele assinala, 

pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; 

  • trata-se de outra semelhança, 

uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. 

De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia, 
  • o da analogia na emulação, 
  • o da emulação na conveniência, 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

  • a marca da simpatia… 

A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram 

  • (ela analisa por exemplo, para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome e a importância nova dos sistemas de flexão; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função); 

ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

  • (a substituição do discurso pelas línguas, das riquezas pela produção); 

estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras 

  • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia); 

enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável, 

  • mas um espaço feito de organizações, isto é, de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função; 
  • mostrará que essas organizações são descontínuas, que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas são do mesmo nível enquanto outras traçam séries ou sequências lineares. 

 De sorte que se vêem surgir, 

como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

a Analogia
e a Sucessão:

de uma organização a outra, o liame, com efeito, 

  • não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos,
  • mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel) 
  • e da função que asseguram; 

ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,

  • não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação,
  • mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões. 

Enquanto, no pensamento clássico,

a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,

doravante

as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia.  (*)

 

 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

A sintaxe que autoriza
a construção das frases
A sintaxe que autoriza a manter juntas,
ao lado ou em frente umas das outras,
as palavras e as coisas

pensamento clássico,
de antes de 1775

pensamento moderno,
de depois de 1825

História entendida como

  • a coleta das sucessões de fatos
    tais como se constituíram.

História entendida como 

  • o modo de ser fundamental das empiricidades,

     

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas, 

    • postas, 

    • dispostas 

    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis

Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber
para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio. 

As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Aquém do objeto

espaço geral do saber sob o pensamento filosófico clássico

Diante do objeto

o Triedro dos saberes
exceto as ciências humanas

 Além do objeto

o espaço interno do Triedro dos saberes
– o habitat das ciências humanas –
mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as Ciências Humanas

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

Aquém do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clássico, o de antes de 1775
tempo calendário no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

também Diante do objeto

formulação sim reversível
 e instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

A análise das riquezas, junto com a gramática geral e a história natural, no pensamento clássico- o de antes de 1775, são contrapostas à análise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.

“Nem vida,
nem ciência da vida
na época clássica;
tampouco filologia.

Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral.

Do mesmo modo,
não há economia política

porque, na ordem do saber,
a produção não existe.


Em contrapartida,
existe, nos séculos XVII e XVIII,

uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econômicos

que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.

Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,

que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.


Esse domínio,

solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.

 Inútil colocar-lhe questões
vindas de uma economia de tipo diferente,

organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;

 inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,

com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de riquezas do pensamento filosófico clássico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)

O mínimo que somos chamados a fazer é esclarecer as razões pelas quais o conceito ‘riquezas’ é tão largamente utilizado; e as razões pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao período clássico.

Veja a seguir os pontos:

  • O funcionamento de operações – do pensamento, as de produção, as de troca, antes e depois desse evento fundamental em nossa cultura, antes e depois dele;
  • As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessárias para cada operacionalidade;
  • Os domínios nos quais as operações acontecem, em função da configuração do pensamento;
  • O tempo nas operações em função da configuração do pensamento e da etapa da operação;
  • O lugar dado ao homem em cada configuração do pensamento;
  • Uma Anatomia ou uma Cartografia de modelos de operações em função da configuração do pensamento;
  • Um verdadeiro manual para construção de modelos para qualquer ciência humana, modelos nos quais o campo transcendental da subjetividade foi aberto e foram constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, escrito pelo próprio Michel Foucault
  • Metáforas adequadas para modelos de operações respectivamente para cada configuração do pensamento;
  • Propriedades emergentes dos modelos de operações e organizações em função da configuração do pensamento utilizada.

Veja a relação entre cada formulação de operações e o respectivo perfil de características da configuração do pensamento adotada em cada formulação, na página: 

modelos de operações formuladas para cada configuração do pensamento

clássico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

condições de possibilidade no pensamento

clássico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

veja também tópico seguinte, o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.

Note que a amplitude da visão do fenômeno ‘operações’ é muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visão do fenômeno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e também o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua; enquanto que sob o pensamento clássico o fenômeno é visto apenas a partir da fase de instanciamento.

Veja que há uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clássico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

Certifique-se dessa correspondência visualizando as figuras feitas para os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

a página que o link acima dá acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com

as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ com as duas origens da essência da linguagem (interna e externa), e correspondentes duas possibilidades de análise de valor;

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ‘Trabalho’:
o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

Aquém do objeto
Adam Smith, 1776

Princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das Nações, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

Princípio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

Comparações entre os dois princípios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princípios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparações entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

Aquém do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clássico, o de antes de 1775
tempo calendário no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

Diante do objeto

formulação sim reversível
e instanciamento de representação existente
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está ao mesmo tempo,

                      • no fundamento de todas as positividades,
                      • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
                        no elemento das coisas empíricas.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
Michel Foucault 

“Na medida, porém, 
em que as coisas
giram 
sobre si mesmas,
reclamando para seu devir
não mais que
o princípio de 
sua inteligibilidade
e abandonando o espaço da representação,
o homem,

por seu turno,
entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Prefácio
Michel Foucault 

Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:

pensamento clássico, o de antes de 1775;

  • a leitura do fenômeno ‘operação’  é feita a partir do ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca (todas as representações são pré-existentes à operação;
  • a formulação da representação é reversível; não há construção de novas representações, e a operação transcorre  no caminho do Instanciamento da representação combinada entre duas representações anteriores pré-existentes;
    • não há construção de representações; 
  • domínio: do Discurso e da Representação;
  • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (estrutura Input-Output)
  • elemento central: Processo
  • tempo: relativo ou tempo calendário sob o deus Cronos
  • ordem: Quadro de simultaneidades com um Sistema de categorias. (pode ser múltipla, e de uso simultâneo).

pensamento moderno, o de depois de 1825;

  • a leitura do fenômeno ‘operações’ é feita em um ponto situado antes do cruzamento  do que é dado e o que é recebido em uma operação de troca; o pensamento é capaz de construir representações novas;
  • caminho da Construção da representação; formulação da representação irreversível; operação ocorre no
    • Lugar do nascimento do que é empírico; com os subespaços:
      • Lugar desde onde se fala: domínio do Pensamento e da Língua;
      • Lugar do falado: domínio do Discurso e da Representação.
    • elemento central: Forma de produção;
    • tempo: absoluto (não relativo e não calendário) sob o deus Kairós;
    • ordem: única, dada pelas regras da gramática da língua utilizada.
    • origens de valor
      • designações primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório
    • caminho do Instanciamento da representação;
      • domínio do Discurso e da Representação;
        • Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório.

Veja isso também na seguinte página:

Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece, em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações.

Os domínios no interior dos quais transcorrem as operações, antes e depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

operação sob o pensamento clássico, antes de 1775

    • operação de construção da representação:
      • inexistente na leitura do fenômeno ‘operações’ feita no pensamento clássico
    • Operação de instanciamento ocorre no circuito das trocas (Mercado),
      • no interior do domínio do Discurso e da representação.

operação sob o pensamento moderno, depois de 1825

    • operação de Construção da representação transcorre no interior 
      do Lugar de nascimento do que é empírico;

um lugar composto por dois blocos em dois domínios diferentes:

      • o domínio do Pensamento e da língua;
        • o Lugar desde onde se fala;
      • o domínio do Discurso e da representação.
        • o Lugar do falado.

 

    • operação de Instanciamento de representação anteriormente construída
      • a operação de troca ocorre no Circuito das trocas (Mercado).
        • no interior do domínio do Discurso e da Representação

Um ‘manual’ para construção de modelos para ciências humanas, por Michel Foucault

O espaço interior
do triedro dos saberes: o habitat das ciências humanas
A classe de modelos das ciências humanas: um modelo composto pelos três pares constituintes
Uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram criados

Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metáfora adequada: transformação única Entradas ⇒ Saídas
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: Permanência
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que é empírico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

Visão da operação clássica
Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informações

A. Pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775

1.   Transformação única, de Entradas Saídas, sobre a estrutura Input-Output, ou um processamento de informações

A metáfora da transformação de Entradas  ⇒ Saídas, sobre a estrutura Input-Output, que dá lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si é válida aqui, e é a famosa caixa preta. 

Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência

Com a opção pela leitura do fenômeno ‘operações’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que é dado com o que é recebido na troca, essa metáfora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e já carregada de valor diretamente atribuído à proposição.

Toda a etapa da construção de representação nova está fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.

Veja aqui em Conceitos homônimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho da Construção da representação
A metáfora adequada às operações no caminho
da Construção de representação
para a empiricidade objeto

B. Pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825

1.  Metáforas no caminho da Construção da representação:
uma Conversão, ou um par de transformações de mesmos sinais

Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • Conversão, de pensamento não articulado em representação.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

  • Primeira transformação:
    • [não – sim] pensamento não-articulado em pensamento sim-articulado;
  • Segunda transformação:
    • [sim – não] representação não-existente para representação sim-existente.

 

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação
Metáfora adequada para operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação:
uma Conversão ou um par de transformações com sinais trocados

2.  Metáforas no caminho do Instanciamento da representação: outra Conversão, ou um par de transformações mas agora de sinais opostos

Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • Conversão,
    • de uma disponibilidade de recursos 
    • para disponibilidade de objeto da produção.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

    • Primeira transformação: [não – sim] Consumo, ou disponibilidade de recursos para indisponibilidade de recursos;
    • Segunda transformação: [não – sim] Produção: indisponibilidade de objeto para disponibilidade de objeto.

Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metáfora adequada: transformação única Entradas ⇒ Saídas
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: Permanência
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que é empírico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

A.  Modelos de operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775

1.  Fluxo na etapa de instanciamento de representação anteriormente formulada reversivelmente

Veja em Funcionamento das operações… a animação sob o título Aquém do objeto. Essa é uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representações existentes. O apontador de início da operação está no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.

Sob o pensamento clássico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:

  • O tipo de pensamento usado tem a impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação – o primeiro obstáculo vislumbrado por Foucault em seu trabalho;
  • Essa impossibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para o cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca, ou o ponto em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estão disponíveis;
    • valor é atribuído diretamente sobre a proposição;
  • A operação pode acontecer no Circuito das trocas já que os objetos envolvidos nesse tipo de operação estão disponíveis; essa operação transcorre inteiramente em um domínio único, o domínio do Discurso e da representação.
  • História, nesse tipo de operações, é entendida como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram.
  • O tipo de propriedades possíveis de serem consideradas na modelagem das operações é propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, que são selecionadas para participar das operações por suas propriedades consistentes com esse tipo, ou por “aparências”.
  • O elemento central desse modelo de operações é ‘Processo’, sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
  • Resta nesse modelo de operações a contabilidade do que se aproxima de uma região do espaço em que ocorrem operações, do que entra nessa região, do que fica nessa região ou que Sai dela. A análise se restringe a esse Fluxo, pela total ausência da noção de objeto definido pelas suas propriedades originais e constitutivas, e pela pressuposição de que tudo existe, desde sempre e para sempre prescindindo assim da noção de sujeito.

Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informações
propriedade emergente FLUXO

1.  Permanência: no caminho da Construção da representação, em uma formulação irreversível.

Veja agora em Funcionamento das operações… a animação sob o título Diante do objeto. A operação modelada é de formulação da representação para empiricidade objeto ainda não representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponível para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, está resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda está indisponível. Para que ele esteja disponível será necessário o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recém criada. Então, a aposta é que essa representação permaneça em um repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, de onde será selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.

  • O tipo de pensamento utilizado tem desta vez a possibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.
  • Essa possibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para antes do ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca, ou para o ponto em que pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca não está disponível;
    • valor carregado pela proposição para a representação tem origem fora da representação e da linguagem:
      • nas designações primitivas;
      • na linguagem de ação ou de uso.
  • A operação transcorre no, ‘ interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico: “Assim como a Ordem no pensamento clássico não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaço próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim também a História, a partir do século XIX, define o lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe é próprio.”
  • História, nesse tipo de operação é o “modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”
  • O tipo de propriedades consideradas na modelagem de operações é propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, exatamente aquele objeto que falta para compor uma operação de troca.
  • O elemento central deste modelo de operações agora é a Forma de produção, em um sistema absoluto no qual “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [o objeto da operação, aquele que falta para compor a operação de troca] assume o ser que lhe é próprio.
  • Nesse modelo de operações a representação (projeto) daquele objeto que faltava para eventual operação de troca é construída e dessa construção de nova representação surgem as propriedades sim-originais e sim-constitutivas que descrevem essa representação construída.

Propriedade emergente PERMANÊNCiA
no caminho da Construção da representação
metáfora adequada Conversão

B.    Modelos de operações sob o pensamento moderno, depois de 1825

 2.  Fluxo: no caminho do Instanciamento da representação:

A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.

A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.

A empiricidade objeto será instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento não muda.

Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e há fluxos vários, que são mostrados na página indicada.

A metáfora adequada às operações
no caminho do Instanciamento da representação
propriedade emergente novmente FLUXO

 

Veja a seguir os pontos:

  • Temos um samba de uma nota só (com três ritmos):
    • unanimidades pelo uso dos conceitos:

Mercado‘, ‘Processo‘, ‘Riquezas;

  • quando poderíamos ter uma sinfonia
    • eliminando a unanimidade pelo não uso dos conceitos:

Lugar de nascimento do que é empírico‘, ‘Forma de produção‘ e ‘Análise da produção‘;

As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso:

  • ‘Mercado’, ‘Processo’, ‘Riquezas’ conceitos de antes da descontinuidade epistemológica e portanto na idade clássica, são campeões de unanimidade pelo uso;
  • e os correspondentes conceitos do após a descontinuidade epistemológica e portanto da nossa modernidade no pensamento, campeões absolutos pelo não-uso: ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, ‘Forma de produção’, ‘Análise da produção unânimes pelo não uso.

“Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.

Lugar do nascimento do que é empírico é o lugar onde, “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empíricas] assume o ser que lhe é próprio”.

Veja o modelo de operações – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que é empírico‘ é um lugar, mesmo, e não o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.

É um lugar onde as empiricidades objeto de operações têm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.

modo de ser fundamental de uma empiricidade é aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.

Os detalhes estão a seguir:

“Certamente, para Ricardo como para Smith, 
o trabalho pode realmente 
medir a equivalência das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:”

“Na infância das sociedades, 
o valor permutável das coisas 
ou a regra que fixa a quantidade que se deve dar 
de um objeto por outro 
só depende da quantidade comparativa de trabalho 
que foi empregada na produção de cada um deles.” 

A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    •  não apenas porque este seja representável  em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmente porque
      o trabalho como atividade de produção
      é a fonte de todo valor”.

Já não pode este ser definido, como na idade clássica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras. 

O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto. 
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou, 
ou se, pelo menos, seu valor está em proporção a esse trabalho, 
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante 
e permutável sob todos os céus e em todos os tempos, 
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho. 
E a melhor prova disso está em que o valor das coisas 
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salários 
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.”

Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros, 
os valores realmente têm ainda um poder de representação. 
Extraem esse poder, porém, de outra parte – 
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação 
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.

Enquanto no pensamento clássico 
o comércio e a troca 
servem de base insuperável para a análise das riquezas 
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, 
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),

desde Ricardo, 
a possibilidade da troca está assentada no trabalho; 
e a teoria da produção, doravante, 
deverá sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; 
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenômeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.

Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

Qualquer coisa para a qual for possível estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação à região onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como Saída. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade não-original e não-constitutiva, ou uma “aparência”. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas não são utilizadas.

Veja aqui duas coisas:

“A única coisa que o verbo afirma 
é a coexistência de duas representações: 
por exemplo, a do verde e da árvore, 
a do homem e da existência ou da morte; 
é por isso que o tempo dos verbos 
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, 
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III.  A teoria do verbo

para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clássica, veja na página sobre o funcionamento das operações, as animações sobre o tempo nos dois períodos, e associe o tempo ‘calendário’ à parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos. 

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica; 
tampouco filologia. 
Mas sim uma história natural, uma gramática geral. 
Do mesmo modo, não há economia política 
porque, na ordem do saber, 
a produção não existe. 
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII, 
uma noção que nos permaneceu familiar, 
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial. 
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito, 
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econômicos 
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral: 
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada, 
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais, 
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.

Esse domínio, 
solo e objeto da “economia” na idade clássica, 
é o da riqueza.

Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente, 
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos 
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram, 
com alguma analogia de sentido), 
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.” 

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; 
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de valor do pensamento filosófico anterior, o clássico, de antes de 1775.

 

Veja novamente a animação central sob o título ‘Diante do objeto’ na página

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenômeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação está em desenvolvimento e que, futuramente, poderá ser levada ao circuito das trocas.

O Lugar de nascimento do que é empírico compreende dois sub-espaços:

  • o Lugar desde onde se fala, no interior do domínio do Pensamento e da Língua;
  • e o Lugar do falado, no interior do domínio do Discurso e da Representação.

É parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaço das representações, no interior do domínio do Discurso e da Representação.

É assim que funciona o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.

A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:

“É preciso, portanto, 
tratar esse verbo como um ser misto, 
ao mesmo tempo 
palavra entre as palavras, 
preso às mesmas regras, 
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; 
e depois
em recuo em relação a elas todas, 
numa região que não é aquela do falado 
mas aquela donde se fala. 
Ele está na orla do discurso, 
na juntura entre aquilo que é dito 
e aquilo que se diz, 
exatamente lá onde os signos 
estão em via de se tomar linguagem.” 
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
 Cap. IV – Falar; tópico III.  A teoria do verbo

Veja agora que esse verbo está postado na região ‘desde onde se fala’, um sub-espaço do ‘Lugar do nascimento do que é empírico’, e no interior do domínio do Pensamento e da Língua, onde a articulação com o impensado pode ter início para uma representação ainda não existente, – e não na região do falado, esta no interior do domínio do Discurso e da Representação. Foucault é preciso a esse respeito: ‘Ele está na orla do discurso, na juntura…’

Veja a página

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith e o de David Ricardo, de 1817

Nessa mesma página, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.

A animação central da página Funcionamento… com o título ‘Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda não representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponível em uma operação de troca já descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.

Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:

  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho,
    mas primeiro e fundamentalmente
    porque o trabalho como atividade de produção
    é “a fonte de todo valor”.

Tudo o que está representado na página Funcionamento… na animação central ‘Diante do objeto’ está completamente fora do pensamento que pensa operações no cruzamento do que é dado e o que é recebido.

Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação está fora do modo como operações são vistas como fenômeno.

Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.

O pensamento clássico, aquele que dispunha da História natural, da Análise das riquezas e da Gramática geral, fazia a Análise das riquezas.

O pensamento moderno efetua em seu lugar, a Análise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clássico, a Análise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.

  • modelos com estrutura clássica
    • o modelo descritivo de operações de produção de Elwood S. Buffa;
    • o Diagrama FEPSC(SIPOC)/Six Sigma;
    • os modelos na visão contábil-financeira:
      • de operações (Débito/Crédito)
      • e de organização (Ativo – Passivo – Resultados) ;

  • modelos com estrutura moderna
    • o modelo descritivo de operações de produção do Kanban;
    • o modelo expresso na Figura 7.1 – mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, de Michael Hammer;

  • modelos com estrutura moderna
    • o triedro dos saberes;
    • o espaço interior do triedro;
    • o uso dos pares de modelos constituintes, inclusive fora do domínio próprio.

Tópico V. Psicanálise e etnologia, do Cap. 10 – As ciências humanas,
do livro As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas

Um exercício de uso do modelo composto característico das ciências humanas,
uma combinação dos pares constituintes das ciências 

  • da Vida (Biologia) [função-norma]; 
  • do Trabalho (Economia) [função-norma]; 
  • da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

além do conhecimento do papel dessas duas ciências em nossa cultura.

“A psicanálise e a etnologia ocupam, no nosso saber, um lugar privilegiado. 

Não certamente 

  • porque teriam, melhor que qualquer outra ciência humana, embasado sua positividade e realizado enfim o velho projeto de serem verdadeiramente científicas; 

antes porque, 

  • nos confins de todos os conhecimentos sobre o homem, elas formam seguramente um tesouro inesgotável de experiências e de conceitos, mas, sobretudo, um perpétuo princípio de inquietude, de questionamento, de crítica e de contestação daquilo que, por outro lado, pôde parecer adquirido. 

Ora, há para isto uma razão que tem a ver com o objeto que respectivamente cada uma se atribui, mas tem mais ainda a ver com a posição que ocupam e com a função que exercem no espaço geral da epistémê. 

A psicanálise, com efeito, mantém-se o mais próximo possível desta função crítica acerca da qual se viu que era interior a todas as ciências humanas.

Dando-se por tarefa fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente, 

a psicanálise avança na direção desta região fundamental onde se travam as relações entre a representação e a finitude. 

Enquanto todas as ciências humanas

  •  só se dirigem ao inconsciente virando-lhe as costas, esperando que ele se desvele à medida que se faz, como que por recuos, a análise da consciência, 

já a psicanálise 

  • aponta diretamente para ele, de propósito deliberado – 
    • não em direção ao que deve explicitar-se pouco a pouco na iluminação progressiva do implícito, 
    • mas em direção ao que está aí e se furta, que existe com a solidez muda de uma coisa, de um texto fechado sobre si mesmo, ou de uma lacuna branca num texto visível e que assim se defende. 

Não há que supor que o empenho freudiano seja o componente de uma interpretação do sentido e de uma dinâmica da resistência ou da barreira; 

  • seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas, 

mas com o olhar voltado em sentido contrário, 

  • a psicanálise se encaminha 

em direção ao momento –inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem, a toda apreensão contínua em termos 

        • de significação
        • de conflito 
        • ou de função

– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem. 

Isto quer dizer que, 

  • ao contrário das ciências humanas que, 
    • retrocedendo embora em direção ao inconsciente, 
      • permanecem sempre no espaço do representável, 
  • a psicanálise 
    • avança para transpor a representação, extravasá-la do lado da finitude
    • e fazer assim surgir, lá onde se esperavam 
      • as funções portadoras de suas normas
      • os conflitos carregados de regras 
      • e as significações formando sistema
    • o fato nu de que pode haver 
      • sistema (portanto, significação), 
      • regra (portanto, oposição), 
      • norma (portanto, função). 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso, à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude, desenham-se as três figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funções e suas normas, vem fundar-se na repetição muda da Morte, 
  • os conflitos e as regras, na abertura desnudada do Desejo, 
  • as significações e os sistemas, numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei. “

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. X – As ciências humanas;
tópico V – Psicanálise, etnologia 

A figura da Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica parte de duas ideias:

  • a ideia de que cada objeto demanda operação específica para ele;
  • a ideia de que não é possível a obtenção de um objeto (produto) sem dispor de um instrumento (laboratório, área de desenvolvimento, fábrica). Claramente não temos acesso à Varinha Mágica de condão de Merlin, o Mago, instrumento habil para instanciar qualquer objeto.
    • pensar na obtenção do objeto sem o respectivo instrumento é semelhante a pensar magicamente;
    • o pensamento conjunto dos dois objetos, o produto e a fábrica, reduz a qualidade dos modelos de operações;
    • a Visão SSS permite a modelagem do Nexo da produção.

Essa ideia está embutida na Figura 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, basta analisar tendo em mente as condições de possibilidade no pensamento daquela figura.

Veja também



  • Sistema Formulador – uma alteração no modelo de dados clássico de um SDGP – Sistema Dedicado à Gestão de Projetos  – como o MS Project 4.0 por exemplo, fazendo com que ele passe a funcionar a partir de banco de dados 9com a linguagem de uso) e com um modelo sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto que se pretende concretizar.

Partindo dos dois obstáculos, ou as duas pedras de tropeço que Foucault declara ter encontrado em seu trabalho, traçamos – usando apenas interpretação de texto – um espectro de produções do pensamento, teorias, modelos e sistemas, com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto.

Da forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura no depois da descontinuidade epistemológica, vemos que o pensamento funciona organizado em torno do par sujeito-objeto. Mudando o objeto, muda a operação que pode ou não ser conduzida por um sujeito diferente, mas com um sujeito a conduzi-la.

Aplicando esse elemento organizador par sujeito-objeto às operações em organizações, vê-se que já existem operações e organizações organizadas com esse critério: o modelo descritivo da produção do Kanban, e a Fig. 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, são exemplos.

Se examinamos mais de perto este último exemplo, veremos que há dois pares sujeito-objeto incluídos nesse mapa – segundo Hammer, de ‘processos’ (ele não conseguiu se livrar dessa unanimidade mesmo mapeando claramente Formas de produção e não processos.

A Visão SSS resume-se a respeitar a relação um objeto – um modelo de operações. E isso leva a uma organização SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica que torna evidente o nexo da produção.

  • a) Canal Inconsciente Coletivo, vídeo Jorge Forbes: estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos, de 28/07/2020;

  • b) Canal Falando Nisso, vídeo 150 – Signo, significação e significado de 08/10/2017;

  • c) Canal Falando, Nisso vídeo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, de 31/08/2019;

  • d) Canal Quem Somos Nós? – vídeo Desigualdade: Concentração de renda com Eduardo Moreira;

  • e) Canal Monica de Bolle, vídeo 31 – Imaginando o “Novo Normal”;

  • f) Canal Monica de Bolle, vídeo 32 – O “Novo Normal”: Bens Públicos”;

  • g) Canal Inconsciente Coletivo – vídeo Ivaldo Bertazzo, que testou positivo para o Covid-19: “o grande problema do corpo é o medo”, de 12/08/2020.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Introdução do vídeo: ‘O mundo de hoje é parecido com o de ontem, apenas na fotografia!’
  • Direcionamento do pensamento: ao intangível, ou ao impensado? 
  • Relação com o intangível
  • Jorge Forbes: Entrevista ao canal Inconsciente coletivo em 28/07/2020: “estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos”
  • O incômodo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrão e genérico, constituinte das ciências humanas em geral, todas elas, proposto por Michel Foucault. 
  • Sobre as qualidades de terra1 e terra2 (rótulos dispensáveis se significar pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, e pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault. 
  • Freud explica ⇒ Freud implica: uma frase de efeito que depende de qual seja a configuração do pensamento sob a qual é proferida; 

Meus comentários usando o pensamento de Michel Foucault:

Veja também 

Reflexões imaginativas >

O fenômeno das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia dos modelos; Metáforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento >

As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessárias para cada operacionalidade

Claramente a determinação ou não dessa parecença depende do modo como você olha para a fotografia, ou seja, com que recursos de pensamento faz isso. E o que procura na fotografia, com o seu olhar.

Ivaldo Bertazzo ensina que a gente olha e ouve o que nos chega do mundo sempre de acordo com o mesmo padrão.

E há mais do que um padrão que pode ser usado para absorver o que nos chega do mundo.

Michel Foucault, olhando para o estado em que ele percebia encontrar-se a nossa cultura, e adotando a estratégia de questionar não diretamente as teorias, modelos e sistemas mas as condições de possibilidade destes no pensamento, viu modelos com e modelos sem a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto do pensamento) no espaço da representação. Ele estava questionando as condições de possibilidade do pensamento, evidentemente.

E ele foi além disso: viu o imperativo de que todo o campo das ciências humanas fosse configurado tendo como pressuposto a constituição do que ele chama de os ‘quase-transcendentais’ Vida, Trabalho e Linguagem, podendo então identificar um modelo composto padrão e genérico para todas as ciências humanas nesse espaço, a partir de modelos constituintes das três ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida (Biologia) [função-norma], do Trabalho (Economia política) [conflito-regra] e da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]. 

Vê-se que dessa percepção de Foucault é possível vislumbrar um espectro de modelos em nossa cultura. Esse espectro tem três segmentos:

AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto (e do sujeito)

Pouca gente vê isso, mas você pode ver adiante neste trabalho.

Mas, olhando para a fotografia de hoje com os padrões que usamos ontem e desde sempre, fica estabelecida uma semelhança pela intermediação do padrão utilizado. Se é o padrão de sempre, as diferenças porventura existentes, causadoras de diferenciações, mas aparentes somente sob outro padrão, não aparecem.

Sempre é necessário percebermos quais são os critérios dos quais se compõe o modo como olhamos para o mundo. Dependendo do que surge dessa procura daquilo que integra nossos padrões, pode ser que percebamos que ocorreram, sim, mudanças que nos passaram despercebidas; e mudanças de tal monta que sim, foram revoluções, mas localizadas no passado, e hoje já distante.

Mas que a gente possa manter um savoir faire – um saber fazer, numa relação da harmonia do homem agora não mais com a natureza, não mais com os deuses, não mais com a razão, mas com o intangível. Então, nesse intangível, isso me leva a pensar numa ética – em dois tempos para cada um – de inventar uma surresposta singular da sua intangibilidade, e de colocá-la no mundo (que é o que faz o artista); não é? um Van Gogh vê um girassol que só ele viu – ele inventou um girassol – e inscreveu esse girassol no mundo.

Esse ‘savoir faire’ parece-me que seja a boa e antiga de dois séculos ‘Forma de produção’ de David Ricardo

Desde logo esse ‘savoir faire‘ é interessante porque me dá a oportunidade de, ao invés da tradução óbvia ‘saber fazer‘, optar por traduzir essa ideia como ‘forma de produção‘ como a maneira encontrada para fazer aquilo que sei fazer; e se fizer isso guiado pela ideia por trás do nome, estarei usando justamente o nome dado por David Ricardo, em 1817, para o elemento central do seu modelo de operações que, segundo Foucault, ele publicou com o nome de Princípio Dual de Trabalho (e é interessante descobrir por que esse ‘dual’ no nome do principio.

O pensamento bem frequentemente consegue dar conta do ‘impensado’, mas ao contrário, o ‘intangível’ permanece tal e qual na maioria das vezes.

Desde logo, estabelecer um saber fazer voltado ao intangível – o que quer que essa palavra signifique neste contexto – é organizar “a relação da harmonia do homem não mais com a natureza, os deuses, a razão”, mas levando em conta, agora, o objeto, um objeto definido como ‘intangível’, aquela coisa que não se pode tocar, parece que seja um grande passo adiante. 

Veja que toda a mecânica celeste funciona perfeitamente e artefatos são colocados em órbita e chegam sem acidentes a outros planetas, e em sua grande maioria todos permanecem intangíveis – no sentido original da palavra ‘intocáveis’ – depois de estudados. Mas todos deixam de ser impensados. E graças a um pensamento organizado pelo par sujeito-objeto.

Pensando em um buraco negro, e nas teorias da relatividade que ajudam a compreendê-los, não se pode dizer que eles, buracos negros – e outros entes cósmicos – de alguma forma possam tornar-se tangíveis. Mas a ciência os converte de ‘impensados’ cada vez mais em ‘pensados’. E essa conversão faz mais sentido do que a proposta por Forbes de intangíveis para tangíveis. Até mesmo no caso do Sars Cov-2.

Seja com ‘intangível’ seja com ‘impensado’, mas o pensamento proposto é voltado para o objeto, o que já é um grande passo”

Mas, porém, todavia, contudo, o direcionamento do pensamento para o que seja ‘intangível’ já requer uma alteração radical na configuração do próprio pensamento: para um pensamento definido com relação a um determinado objeto, – embora um objeto genérico; isso porque exige um pensamento sim-discriminativo com relação ao objeto escolhido e seus elementos componentes, em contraposição a um pensamento indefinido porque não-discriminativo com relação a qualquer objeto como é (sim, é, porque ainda agora, muito usado entre nós) o pensamento terra1 – como diz Forbes, voltado aos transcendentais natureza, deuses, razão.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura desde o início do século XIX

Na filosofia de Michel Foucault, pensando em David Ricardo na economia política, Franz Bopp na Filologia, Georges Cuvier na Biologia, o pensamento volta-se para o impensado em vez de para o intangível.

Instaura-se
uma forma de reflexão, 

bastante afastada 
do cartesianismo 
e da análise kantiana, 
em que está em questão, 
pela primeira vez, 
o ser do homem, 
nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento 
se dirige ao impensado 
e com ele se articula. 

Isso tem duas conseqüências.”

 (…) 

“A outra consequência é positiva. 
Concerne à relação 
do homem 
com o impensado, 
ou mais exatamente, 
ao seu aparecimento gêmeo 
na cultura ocidental.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado

Veja a forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura quando mudança como essa foi realizada:

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

Essa mudança no modo de organização do pensamento aconteceu, segundo Foucault, entre 1775 e 1825, nos cinquenta anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX (vinte e cinto anos para cada lado). Grosso modo há dois séculos; mudança bem mais recente do que os 28 séculos atrás em que  Forbes posiciona o evento marcador antecedente da revolução que aponta também nos laços sociais.

A mudança em decorrência dessa forma de reflexão

Trata-se de uma mudança com a seguinte natureza:

  • de operações organizadas por uma (ou pode ser mais de uma) Ordem(ns) arbitrariamente escolhida(s) nas quais o homem era tratado como um gênero, ou uma espécie integrando uma das categorias do sistema de categorias clássico; 
  • para operações organizadas pelo par sujeito-objeto em uma ordem única dada pelas regras da gramática da língua, usando o bloco padrão construtivo genérico para construção de representações proposição. 

A primeira consequência evidente é que não é mais possível modelar operações, empresariais ou outras, usando a metáfora da transformação única de Entradas  Saídas ou do processamento de informações sobre a estrutura Input-Output cujo sistema é relativo, de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si. Veja que o elemento central desse modelo, Processo, tem a natureza de um verbo, e note que há dois conceitos para o que seja um verbo, e esse de um sistema relativo, etc. etc. é o primeiro que transcrevo a seguir.

“A única coisa que o verbo afirma, é a coexistência de duas representações; por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte. É por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências  humanas; Cap. 4 – Falar; tópico III. A teoria do verbo 

A segunda consequência é que partindo do conhecimento de que usualmente operações são modeladas sobre a estrutura Input-Output, e isso não é mais adequado, é preciso encontrar um outro padrão, um outro modelo. Isso é necessário para que operações em organizações reais sejam modeladas convenientemente.

E esse outro modelo é consistente não mais com o pensamento de Adam Smith (Processo, estrutura Input-Output) mas sobre o pensamento de David Ricardo e seu Principio Dual de Trabalho, cujo elemento central é o ‘savoir faire’ ou a forma de fazer, com o nome de Forma de produção.

Veja as seguintes páginas, comparando:

Modelos construídos dentro desse padrão: 

Veja, o que gera uma vacina para o Sars-Cov-2 é uma operação na qual o pensamento do cientista que, tendo em vista os aspectos ainda impensados, porque não pensados, desse vírus, desencadeia uma operação no seguinte formato:

  • coloca-se como sujeito de uma operação científica na qual
  • o vírus é o atributo do predicado do cientista sujeito dessa operação, e assim é o objeto da operação da ciência,
    • que funciona à luz do que se sabe sobre vacinas
    • e sobre sistema imunológico humano, entre outros saberes.

Essa operação científica considera entre outras coisas o que a ciência sabe sobre vírus em geral e o Sars-Cov-2 em particular. 

Tangibilidade ou intangibilidade são qualidades, aparências, ou propriedades não-originais e não-constitutivas desse vírus. O impensado, ao contrário, toma o objeto dessa operação de conhecimento por inteiro, mesmo que de início, não haja qualquer propriedade sejam as não-originais e não-constitutivas sejam as sim-originais e sim-constitutivas.

O interesse da ciência é pelas propriedades sim-originais e sim-constitutivas desse vírus, que são essas que podem levar a conquistas como por exemplo, uma vacina. E encontrar esse conjunto de propriedades é o que converte o impensado em representação. 

Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura no pensamento filosófico de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,’ o ser do homem’ não se dirige ao intangível!  

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrário do impensado, que mediante articulação feita pelo pensamento e patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação (e a vacina!), o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.

Há uma confusão entre os vocábulos intangível e impensado. 

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

Esse título faz alusão a uma revolução nos laços sociais única – pelo seu tamanho, porque a maior – nos últimos 2800 anos. E nos laços sociais.

Volto ao redirecionamento da ‘harmonia do homem’ desde os transcendentais natureza, deuses, razão, para o intangível como diz Forbes. Se o argumento que fiz acima, a substituição do ‘intangível‘ pelo ‘impensado‘ for aceito – ao menos para efeito deste texto, essa revolução a que o título alude já ocorreu, e há exatos 203 anos. E teve exatamente a mesma intenção, atingiu ‘os laços sociais’ e todas as áreas do conhecimento humano. E mais, marcou a entrada de nada mais nada menos do que o homem em nossa cultura.

Não foi pouca coisa.

Esse título, com a afirmativa nele expressa, parece conter em seu significado, um descarte histórico desse evento que tem, na avaliação de Michel Foucault, o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento; e um desconhecimento do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade, em nossa cultura em tempo muito mais próximo de nós que os 28 séculos. 

Gostaria que Jorge Forbes relesse sobre isso na minha Cartilha – o livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, desse autor. 

Forbes alude a um movimento do pensamento que parte dos transcendentais natureza, deuses, razão e chega ao intangível.

Foucault fala de um outro movimento que identifica modelos feitos por um pensamento postado AQUÉM do objeto – referido à Ordem arbitrariamente escolhida em que vige um sistema de categorias, para por um pensamento DIANTE do objeto no qual a ordem é dada pelas regras da gramática da língua usada, e chega a um pensamento para ALÉM do objeto em que encontramos constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, e não múltiplas categorias mas três somente: função-norma; conflito-regra, significação-sistema. 

Tendo em mente especificamente a mudança proposta por Forbes para um pensamento voltado a um objeto ‘intangível’, e tendo consciência de que isso resulta em um certo esforço do pensamento e além disso, um pensamento organizado por esse objeto ‘intangível’ escolhido, exatamente essa alteração – modelos organizados pelo objeto – aconteceu em nossa cultura em um espaço de tempo muito menor, pouco mais de dois séculos atrás em vez dos 28 séculos mencionados por Forbes.

Nesse meio tempo, e por falar não em revoluções mas em descontinuidades epistemológicas em nossa cultura, podemos ver esse evento em nossa cultura na página seguinte.

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

Essa mudança no pensamento exigiu uma forma de reflexão também nova. Segundo Michel Foucault, essa mudança ocorreu em um movimento do pensamento muito mais recente e importante que surgiu em momento muito mais próximo do nosso tempo. Veja essa forma de reflexão associada a uma imagem para o conceito, que torna aparentes os elementos de imagem utilizados, a estrutura que ocupam e os relacionamentos que estabelecem.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

E os efeitos de tal movimentação das positividades umas em relação às outras pode ser constatado nas produções do pensamento efetivamente feitas e utilizadas em teorias, modelos e sistemas existentes e muito utilizados. Essa mudança não ficou apenas no pensamento teórico mas atingiu a prática, embora não tenha sido avaliada de maneira alinhada com o pensamento filosófico.

A página a seguir mostra:

  • os dois perfis do pensamento antes e depois desse evento segundo Foucault fundador da nossa modernidade no pensamento  expressos por suas características de características, ou pelos respectivos referenciais, princípios organizadores e métodos;
  • esses elementos nas palavras de Foucault;
  • os modelos de operações possíveis com um e outro desses perfis;
  • as grandes áreas do pensamento possíveis antes e depois desse evento;
  • e a Forma de reflexão que se instaura depois desse evento

Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo Michel Foucault; (…) Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento (…) a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

Esse título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer “– Esqueça o que você sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo está errado” trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e há, a denúncia, como se atual fosse, de uma revolução já ocorrida em passado nem tão remoto. Em termos históricos, foi ontem.

A Cartilha mostra como e por que isso é verdade.

Se estou entendendo o que ele chama de ‘época anterior’, ou terra1 isso já tem um nome: idade clássica ou pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1. 

Usando ‘pensamento filosófico clássico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse período – a virada dos séculos XVIII para o XIX, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc.  E usando a contraparte ‘pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamará de terra2 igualmente sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relações com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.

“Me incomoda a noção de norma no sentido de que você sai de um laço social 

estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado

que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1. 

Eu chamo de terra1 toda organização, todo laço social vertical – independente do que esteja, na verticalidade, no ponto da transcendência, esteja (como esteve durante muitos séculos) primeiro a natureza, depois  os deuses, depois a razão. As transcendências mudam mas a estrutura arquitetônica arquitetural vertical se manteve. Então eu entendo que há uma revolução monumental neste momento, sobre 2800 anos de história, em que nós saímos de uma forma de nos comportarmos verticalmente e temos a chance de nos comportarmos horizontalmente; o que implica em que nós temos a chance de viver num laço social flexível, criativo, múltiplo, responsável, – responsável antepõe responsabilidade e disciplina – (…) Então você tem um laço social de características, como eu disse, 

colaborativo, múltiplo, reticular, flexível, criativo, [responsável]; 

e eu acho que o interessante quando nós sairmos dessa pandemia, é nós guardarmos um aspecto dela, que é a relação do homem com o intangível.

 Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.

Neste comentário, faço uso, claro, do meu particular e pessoal entendimento do pensamento de Michel Foucault, e afirmo: 

1. que no que Forbes chama terra2 – (entendido como a configuração moderna do pensamento, o de depois de 1825, como aquilo que sucede e substitui, se opondo, ao pensamento ‘anterior’), ‘hierarquia’ é uma estrutura intrínseca e inseparável do resultado de uma operação de construção de representação nova, porque é uma estrutura ligada ao resultado (uma representação) dessa operação sempre organizada pelo par sujeito-objeto, com princípios organizadores Analogia e Sucessão e com os métodos Análise e Síntese;

e no entanto a qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento em terra1 (entendido agora como o pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, o que Forbes chama de ‘anterior’). 

Dado que no pensamento clássico não existem as noções de objeto (noção à qual a ideia de hierarquia está ligada em um modelo de operações) e de sujeito (homem), essa qualidade atribuída a terra1 deve estar referida a outra coisa que mereça esse atributo, mas que não está clara no texto, e valeria a pena esclarecer o que seja que tem essa qualidade. 

2. que o incômodo de Forbes com a ‘norma’ – se aplicada a terra2 com o entendimento acima, e usando aquilo que consigo apreender do pensamento de Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, – sugere uma simplificação em dose dupla.
 
  • A primeira simplificação: 

norma é um dos modelo constituintes das ciências humanas que juntamente com função, compõe o par constituinte da ciência da Vida, a Biologia no período moderno do pensamento e no segmento do espectro de modelos para ALÉM do objeto.

  • A segunda simplificação: 

há outros dois pares de modelos constituintes no modelo constituinte padrão, genérico para todas as ciências humanas, a saber

        • conflitoregra, o par constituinte da ciência do Trabalho (Economia política); e
        • significaçãosistema, o par constituinte da ciência da Linguagem, (Filologia). 

A descrição feita por Michel Foucault desse  modelo constituinte padrão e genérico, composto dos pares constituintes das ciências que habitam a região epistemológica fundamental, e o eixo vertical do Triedro dos saberes:

        • ciência da Vida (Biologia), par constituinte [funçãonorma];
        • ciência do Trabalho (Economia política), par constituinte [conflitoregra];
        • e ciência da Linguagem (Filologia), par constituinte [significaçãosistema],

acaba sendo quase que um manual para formulação de teorias, modelos e sistemas nesse campo, e por isso faço este comentário.

Portanto este comentário vai a seguir em dois pontos:

  • 1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2; 

  • e 2. Quanto ao incômodo com a ‘norma’

  • e ao final, o que eu chamo de um Manual (em uma animação ilustrada) para o projeto e uso de modelos no campo das ciências humanas, usando diretamente as palavras de Michel Foucault

1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2

Note que as características tanto em terra1 quanto em terra2 são dadas no excerto acima, e nos dois casos, por qualidades dos laços sociais.

Tomando terra1 como sendo a configuração do pensamento filosófico no período clássico, nesse período o pensamento funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as aparências, estas, qualidades. Para o pensamento assim configurado não existem a noção de homem como ser capaz de desempenhar uma duplicidade de papéis, e a noção de objeto.

O elenco de qualidades atribuídas ao laço social – estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado – pode ser objeto de reflexão interessante. 

A qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento terra1 que eu, aqui, presumo que se refira ao pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo Foucault. 

Tomando posição em terra2, que eu presumo referir-se ao pensamento moderno, o de depois de 1825 segundo Foucault, essa qualidade ‘hierárquico’ seria dada por uma estrutura de conformação definida no objeto, uma hierarquia.

Enfatizando, no pensamento moderno os princípios organizadores de uma operação no caminho da Construção de representação nova são Analogia e Sucessão com os métodos Análise e Síntese

 “De sorte que se vêem surgir, 
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades, 
Analogia e a Sucessão
de uma organização a outra, 
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vários elementos, 
mas a identidade da relação entre os elementos 
(onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; (…) 

Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história

Tomemos (ainda posicionados em terra2!) um ‘impensado’ em Foucault ou um ‘intangível’ em Forbes; não existe representação para isso – ou não seria um impensado ou um intangível no domínio de trabalho. Por isso, se for feita a decisão de resolver essa situação de intangibilidade ou não representatividade, esse ‘impensado’ será objeto em uma operação de construção de uma representação. 

O pensamento converte o impensado em representação.

Aquilo que antes dessa operação era o ‘impensado‘ de Foucault, depois dessa operação de construção de representação nova – conduzida em cada etapa pelo sujeito – nada mais será do que um pacote logicamente organizado de objetos análogos ao impensado e seus aspectos, objetos esses adotados em seu conjunto como substitutivos – dentro de certos critérios de aceitação – daquele ‘impensado’ para o qual não havia representação no espaço no qual a operação acontece. 

O princípio organizador do pensamento Analogia estabelece relações de analogia das quais surgem objetos análogos ao impensado mais representáveis. Usando como diz Foucault ‘a sintaxe que autoriza a construção das frases’, esse objeto análogo é arrastado para o modelo de operações construído segundo as regras da linguagem por meio de uma proposição na qual o homem é sujeito, e o predicado do sujeito é composto por um verbo – a forma de produção, e um atributo, o objeto análogo que acaba de ser criado na relação de analogia. Agora cada um desses objetos análogos são testados quanto às respectivas possibilidades de representação nesse espaço em que a operação acontece. Caso necessário, o método Análise entra em cena e quebra cada objeto análogo eventualmente ainda não representável em outros objetos análogos mais próximos de suas respectivas possibilidades de representação nesse espaço; e o método Síntese garante que o objeto análogo inicial ainda pode ser composto pelo conjunto de objetos análogos resultantes da Análise.

Aí entra o princípio organizador Sucessão. Usando como diz Foucault ‘aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas ao lado e em frente umas das outra, as palavras e as coisas‘, a Sucessão posiciona ao lado, ou em frente uns dos outros, os objetos análogos criados em substituição ao objeto análogo não representável, estabelecendo entre eles relações lógicas – de sucessão. 

Você pode ver isso em uma animação nesta página, sob DIANTE do objeto. Se necessário, posso dar mais detalhes sobre como isso funciona.

Nota: essa descrição do funcionamento de uma operação de construção de representação para algo antes impensado não explica suficientemente o ‘laço social’, mas podemos chegar lá.

Continuando. Assim, supondo que terra2 seja de fato o que eu estou pensando que é, o pensamento filosófico moderno – o de depois de 1825, como diz Foucault ‘aquele [pensamento] com o qual queiramos ou não, pensamos‘, então, hierárquico é uma qualidade intrínseca a esse tipo de pensamento, terra2, desde que entendido como referente ao objeto. Como humanos não nos é possível construir representação para qualquer ‘impensado’ sem que o resultado seja um objeto expresso por uma representação com uma estrutura em hierarquia.

Fechando o longo parênteses, e voltando ao ponto, supondo que terra1 seja de fato o que penso que é, – o pensamento filosófico clássico.

Em assim sendo, a noção de impensado cuja representação é construída pelo pensamento, nesse tipo de pensamento, não existe. Porque não existe a noção de objeto e também não existe a noção de sujeito da operação, como o homem, que seria capaz de construir representação nova. O homem está fora da paleta de ideias no pensamento clássico. ‘Antes do final do século XVIII o homem não existe em nossa cultura. Não mais do que um gênero, ou uma espécie’ é o que nos alerta Foucault.

Logo, nesse tipo de pensamento, sem a noção de objeto prima irmã da noção de hierarquia, a qualidade ‘hierárquico’ deve referir-se a outra coisa que não o objeto. Então o que é danoso, prejudicial, e justifica mudanças é essa outra coisa que está associada a essa qualidade ‘hierárquico’, e que vista mais de perto, não pertence a esse pensamento. 

E essa coisa não é declarada por Forbes, o que poderia gerar confusão.

Mas a palavra hierarquia é muito usada, e mesmo em terra1; as organizações foram bem ou mal se organizando e apresentando problemas. Sem atentar para que tipo de pensamento estavam usando. E aí, por diferentes razões, alguns autores passaram a demonizar a organização hierárquica sem dizer especificamente o que estavam demonizando. Isso sem noção de que a estrutura hierárquica é inerente, indissociável, ao pensamento moderno, e às operações que transcorrem organizadas sob essa configuração do pensamento.

Então, se estou sendo entendido, hierárquico em terra1, nada tem, nem pode ter, a ver com o objeto de operações sob o pensamento moderno que terminam construindo representações novas. E o pensamento voltado para o ‘intangível’ de Forbes ou ‘impensado’ de Foucault não pára de pé sem o objeto e sem o sujeito; e portanto necessariamente com a qualidade ‘hierárquico’ que em Forbes está posta em terra1.

Pode haver confusão aí, demonizando a hierarquia, o que, em se tratando de pensamento moderno (terra2) em qualquer caso, é na verdade é uma missão impossível. 

Obviamente não sei como essa qualidade afeta o laço social descrito por Forbes, mas posso ver com alguma clareza como essa qualidade afeta a estrutura do pensamento nas operações sob o pensamento filosófico moderno, no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. E a hierarquia é característica integrante e indissociável do resultado nessa configuração do pensamento, arrastada para a representação (projeto) decorrente do referencial, dos princípios organizadores e dos métodos utilizados em um pensamento orientado pelo par sujeito-objeto.

Veja isso na seguinte página

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Não se ganha nada ao retirar a qualidade hierárquica da estrutura inerente à construção de representação nova (projeto); ao contrário perde-se muito, essa tentativa empobrece a visão da operação, oblitera o funcionamento das duas sintaxes da língua usada para modelar operações; por essas razões, mas acima de tudo, essa parece ser uma missão impossível. A estrutura hierárquica da operação da qual resulta uma representação nova é resultado do perfil de configuração do pensamento.

2. Quanto ao incômodo de Forbes com a ‘norma’

Quanto ao incômodo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo à Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’, que me permite uma visão de conjunto muito mais completa e útil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domínio das ciências humanas.

A ‘norma‘ que incomoda Forbes, é a expressão de uma convenção, um acordo feito para atender às condições requeridas por uma ‘função‘; esse acordo, essa convenção, visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, e o compartilhamento dessa ‘norma‘ isto é, da solução conseguida e convencionada para a obtenção prática dessa ‘função’.

Vale a pena examinar, usando o pensamento de Michel Foucault, o que se configura quase como 

Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domínio das ciências humanas

em três tempos:

  • o espaço geral dos saberes sob o pensamento moderno chamado por Foucault de Triedro dos saberes; com as faces e eixos do Triedro dos saberes;
  • a classe de modelos das ciências humanas;
  • o uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram formados.

examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:

“Assim, estes três pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.” Cartilha; Cap. 10 – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes

Esse excerto da Cartilha dá-nos conta de que esses três pares de modelos constituintes, das ciências 

  • da Vida (Biologia) par constituinte  [função-norma] 
  • do Trabalho (Economia)  par constituinte [conflito-regra] e 
  • da Linguagem (Filologia) par constituinte  [significação-sistema] 

estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a análise da produção. Essas três ciências compõem, segundo Foucault, a região epistemológica fundamental.

Forbes supostamente está analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, está elaborando bem no campo de uma ciência humana. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual 

  • o par constituinte dominante é escolhido, em cada caso específico, por quem formula o modelo, 
  • e os coeficientes que determinam o mix da composição no modelo específico, que estabelecem a proporção em que entram no modelo os três pares constituintes – e a predominância de um deles sobre os outros – são também escolhidos pelo analista formulador. 

Isso evidencia que esse incômodo de Forbes com a ‘norma‘ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laços sociais porque estes estão afetos, 

  • desde logo às ‘funções’ normatizadas pela ‘norma’ (o par constituinte do quase-transcendental Vida), 

mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais: 

  • [conflito-regra] da Economia, 
  • e [significação-sistema] da Filologia.

É claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirável do espaço dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto. 

Mas por que exatamente faríamos isso?

Um

Manual para uso e projeto de modelos no campo das ciências humanas, já constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

A frase citada por Forbes:

“Freud explica Freud implica:

  • no ‘explica’ você tem um saber anterior ao ato; 

  • no ‘implica’ você tem um ato anterior ao saber.”

Significado da palavra ‘Implica’ no Dicionário Online de português

Implica vem do verbo implicar. O mesmo que: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde.

Significado de implicar

Expressar desdém, deboche, zombaria; hostilizar: ele implica com seu irmão constantemente; implicava-se com o vizinho.

Obter como resultado, efeito ou consequência; originar: a devolução do imóvel implica multa.

Fazer com que algo se torne necessário; requerer: o trabalho não implica sua participação.

Sinônimos de Implica

Implica é sinônimo de: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde

Antônimos de Implica

Implica é antônimo de: desimplica

Significado da palavra ‘Explica’ no Dicionário Online de português

verbo transitivo diretoFazer com que fique claro e compreensível; descomplicar uma ambiguidade: explicar um mistério.Ser a causa de: a desgraça explica sua amargura.Conseguir interpretar o significado de: explicar um texto irônico.verbo transitivo direto e bitransitivoFazer com que alguma coisa seja entendida; explanar: explicar uma teoria; explicar a matéria aos alunos.verbo transitivo direto e pronominalProvidenciar uma justificativa ou desculpa; desculpar-se: preciso explicar meu comportamento; o presidente explicou-se ao povo.Manifestar-se através das palavras; exprimir-se: explicar uma paixão; explicou-se numa linguagem bem popular.Etimologia (origem da palavra explicar). Do latim explicare.

Sinônimos de Explicar

Explicar é sinônimo de: lecionarpontificaradestraramestrardoutrinareducarensinarformarinstruir

Antônimos de Explicar

Explicar é o contrário de: obscurecercomplicar

É bem implicante o leque de significados das palavras ‘explica’ e ‘implica’. Implica pode significar até confunde! mas é também ‘origina’.

Implica é origina, requer. Explicar é formar, instruir. Complicar, é antônimo de explicar. 

Etimologicamente complicar é dobrar junto; implicar é entrelaçar, juntar, reunir. Muito próximos os significados, não?

Pensando o ‘Explicar’, em uma operação, como a procura de elementos que deem sustentação na experiência para o que se  afirma com respeito ao objeto da operação – inclusive indicando sua origem no pensamento, Explica‘ e ‘Implica‘ são palavras com dois conjuntos de significados diferentes mas cuja intersecção é não vazia; há significados em comum; veja a etimologia das duas palavras. 

Essa relação de sucessão ou de precedência entre ato e conhecimento tem bastante mais a ver com:

  • o modo como o pensamento é configurado
  • com a natureza – construção de representação nova ou instanciamento de representação existente – da operação envolvida em cada específico movimento do pensamento, 

do que propriamente com o significado escolhido para essas duas palavras. 

Se assim for, é melhor declarar explicitamente quais são as condições de possibilidade do pensamento selecionadas, e qual a natureza da operação em que estamos pensando, se de construção de representação nova, se de instanciamento de representação anteriormente existente.  

Além disso, dependendo dessa natureza da operação, a operação pode acomodar-se, desde logo, a uma configuração do pensamento clássico, anterior a 1775, ou a uma configuração do pensamento moderno, o de depois de 1825. 

Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Foucault:
os pensamentos clássico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)

pensamento clássico,
antes de 1775

perfil do pensamento clássico,
o de antes de 1775

pensamento moderno,
depois de 1775

perfil do pensamento moderno,
o de depois de 1825

Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825.

Aquém do objeto

Operação de pensamento no período clássico, antes de 1775
operação de instanciamento de representação formulada
modo de ser fundamental não muda
Ordem arbitrária ou Quadro de simultaneidades

Diante do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825,
no caminho da Construção da representação:
‘modo de ser fundamental’ sim, muda.
Ordem dada pela gramática da língua

 Além do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho
do Instanciamento da representação:
‘modo de ser fundamental’ não muda.

saber anterior ao ato

ato anterior ao saber 

saber anterior ao ato

Muito diferentes, uma da outra, se atentarmos ao pensamento de Foucault. Você pode ver essas diferenças aqui. Isso, se o modo de ser do pensamento não for explicitado onde e quando devido.

Esta argumentação tem como pano de fundo o pensamento de Foucault. E a frase acima é a expressão de um pensamento atual tal como ele aflora. Vale, portanto, rever como Foucault avaliava o pensamento em geral, tal como aflorava durante o seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’, em 1966, o que, pelo que vejo, não mudou.

Veja Os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho.

usando essa citação de modo mais restrito, Foucault via um pensamento contaminado, nas palavras dele, ‘dominado’ por um pensamento de idade anterior. Ele via um pensamento ‘dominado pela impossibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto) no espaço da representação’. 

Nessa frase acima, eu vejo esse mesmo tipo de contaminação, que gera uma dubiedade, que queremos levantar com a ajuda do mestre, Michel Foucault.

Para a situação sugerida no caso do ‘implica’ no lado direito da frase – um ato anterior ao saber -, a configuração do pensamento deve, necessariamente, permitir a geração de saber novo (ser capaz de fundar as sínteses no espaço da representação); deve portanto permitir a construção de representação nova para o objeto do ato, ou da operação. 

Essa possibilidade – inerente ao proposto no lado direito da frase -, é privativa do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Mas só ocorre quando o ‘Freud’ da frase estiver com um pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno, e na etapa da Construção da representação. O mesmo ‘Freud’, no pensamento moderno, mas na etapa de Instanciamento de representação relativa a saber anteriormente obtido, estará diante de um saber anterior ao ato.

O pensamento clássico, em suas teorias, modelos e sistemas, não permite construção de representação nova (porque era marcado pela impossibilidade de fundar as sínteses …, esse o obstáculo vislumbrado por Foucault); no pensamento clássico tudo o que existe está lá desde sempre e para sempre, e por obra de Deus compondo o Universo.

Para a situação sugerida no ‘Explica”, o lado direito da frase – saber anterior ao ato – nessa perspectiva do pensamento de Foucault, gera uma dubiedade que só pode ser resolvida tendo presentes, em detalhe, como são as operações as que sim, podem, e as que não podem ‘fundar as sínteses no espaço da representação’. Sem discernimento, o pensamento fica ‘dominado’ porque pode estar imerso no perfil do pensamento clássico, ou no perfil do pensamento moderno, mas no caminho do Instanciamento da representação.

Pensando nessas relações de precedência ou sucessão entre ato e saber, e nas operações em suas possíveis etapas, suas configurações e perfis ou estruturas de conceitos sobre os quais são concebidas, não há razão para que essa frase se restrinja a Freud. Poderia ser qualquer outro sujeito. Mas se levarmos em conta a menção especificamente a Freud, ela arrasta para a frase o modo de ser do pensamento desse grande autor, classificado por Michel Foucault como um pensador moderno, com estrutura de pensamento daquela configuração de pensamento de depois de 1825.

Dado esse conjunto de significados em comum, esses dois conceitos ‘Explica‘ e ‘Implica‘ e essas relações de precedência ou de sucessão entre ato e saber me fazem lembrar do pensamento de Humberto Maturana, que pode ser visto em uma animação de menos de 4 minutos, na seguinte página; 

Figura 2 – Diagrama ontológico; capítulo Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana; ou ainda a Figura 2 – O explicar e a Experiência; capítulo Linguagem, Emoções e Ética nos Afazeres Políticos, do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política, de Humberto Maturana Romesin

Essa Figura 2 é original de Maturana (apenas a arte foi editada – os elementos gráficos que representam as ideias foram modificados) mas em vez de usar dois rótulos como explica e implica, Maturana usa um pensamento no qual emprega duas formas para o mesmo rótulo ‘Explicar’, com diferentes significados correspondentes á mudança que está discutindo: 

  • lado esquerdo da figura: ‘Explicar sem reformular’ no que ele chama de Objetividade sem parênteses: 

(saber anterior ao ato, ou o ‘Explica’ no lado esquerdo da frase)

  • lado direito da figura: ‘Explicar com Reformular’, no que ele chama de Objetividade entre parênteses.

(saber posterior ao ato, ou o ‘Implica’ do lado direito da frase)

Nesse pensamento, no original de Maturana, ele atribui pressupostos para o tipo de pensamento desenvolvido em cada lado da figura:

  • do lado esquerdo dessa Figura 2, o pressuposto é ‘a existência precede a distinção‘ (aquela distinção feita na operação);
    • o que leva a uma única realidade, Universo, transcendência.

e reflete o saber anterior ao ato (operação)

  • e no lado direito dessa Figura 2, ‘a existência se constitui na distinção‘ ou ‘a existência sucede à distinção’
    • o que conduz a múltiplas realidades.

e reflete o saber posterior ao ato (operação)

Usando agora o pensamento de Michel Foucault. Veja, por favor, e novamente, as páginas seguintes com animações que  colocam palavras de Foucault sobre paletas de elementos de imagem e respectivas estruturas:

primeiro, a operação de construção de representação nova (projeto) sob o pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno:

Funcionamento das operações (…) operação Diante do objeto

e depois, veja a página

Formas de reflexão que se instauram em nossa cultura, segundo o pensamento de Michel Foucault, e correspondentes perfis de conceitos que permitem identificar cada um deles.

Resumidamente – e para facilitar – os dois perfis ou estruturas de conceitos, são:

  • para o pensamento clássico, o de antes de 1775
    • referencial: Ordem pela ordem;
    • princípios organizadores: caráter e similitude;
    • métodos: identidade e semelhança; 
  • pensamento moderno, o de depois de 1825
    • referencial: Utopia;
    • princípios organizadores: Analogia e Sucessão;
    • métodos: Análise e Síntese 

 Examinando os dois perfis característicos das duas configurações do pensamento, vê-se que: 

(Aviso: é melhor examinar primeiro o perfil do pensamento moderno, com suas capacidades de tratar propriedades originais e constitutivas e depois o perfil do pensamento clássico)

  • com o perfil de características do pensamento clássico, o de antes de 1775, realmente a suposição é que tudo o que existe compõe o Universo que está lá desde sempre e para sempre como obra de Deus, e que a existência precede a distinção;
    • a todo ato, precede todo o saber existente: (sim, sempre temos um saber anterior ao ato) o perfil do pensamento clássico não comporta a construção de representações novas e assim todo saber é anterior a qualquer ato (operação) do qual resulta uma explicação que é uma composição de saberes (representações) anteriormente existentes;
  • e com o perfil do pensamento moderno, o de depois de 1825, a suposição é que há múltiplas realidades, que o pensamento pode construir representações novas como resultado das distinções que faz, e que a existência, portanto, sucede a distinção,
    • a todo ato, sucede saber novo – ato desencadeado pelo sujeito (operação) com um objeto -, desde que o ato seja bem sucedido, e que a natureza da operação seja a construção de saber novo. 

Nota: não se trata de afirmar que na idade clássica não se produzia representações novas; mas dizer que as teorias, modelos e sistemas sob essa configuração do pensamento não abrangiam a etapa de construção de representações novas.

Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação nova (projeto) para uma empiricidade objeto, com um pensamento configurado de acordo com o pensamento moderno, o de depois de 1825 – uma vez que a configuração do pensamento anterior, o clássico, não pode construir novas representações.

Fica claro – entendida essa sistemática de funcionamento – que no pensamento moderno, e na etapa de construção de saber novo, (caminho da Construção da representação)

  • a operação tem início sem qualquer conhecimento sobre o que é objeto da operação ou da explicação, ou ainda daquele algo a ser implicado. Salvo a arquitetura do que seja uma representação, como classe de produções do pensamento; 
  • e termina com esse conhecimento.

Como reza a frase no lado direito, sim, tem-se um ato anterior ao saber, mas… somente no caso do pensamento moderno, e no caminho da Construção da representação. Porém, estando no mesmo lado direito, e também no pensamento moderno, se estivermos no caminho do Instanciamento de representação previamente existente – o que mais acontece em situações de realidade – a situação se inverte, e teremos um saber anterior ao ato, como no caso anterior do pensamento clássico.

Dado que a possibilidade de saber novo só acontece com um pensamento configurado com o perfil característico do pensamento moderno, essa frase (de efeito) depende de quais sejam as visões de operações adotadas (o ato) em qual etapa da operação e de qual configuração do pensamento.

A relação de precedência ou de sucessão entre o ato e o saber é essencial nessa frase e podemos deixar de lado, e em segundo plano, os nomes ‘explica‘ e ‘implica‘. 

Essa relação de sucessão corresponde ao que ocorre nas operações sob as configurações do pensamento clássico e moderno da seguinte forma:

  • pensamento clássico, o de antes de 1775:
    • o saber (o conhecimento representado pelas representações previamente existentes) 
    • é, sempre, anterior ao ato (a operação); e o resultado, nesse modelo de operações, é uma combinação de representações anteriormente existentes.
  • no pensamento moderno, o de depois de 1825:
    • no caminho da Construção de representação nova, não existente no ambiente em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação) 
      • é posterior ao ato (a operação de construção da representação).
    • no caminho do Instanciamento de representação já existente no domínio em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação)
      • é anterior (volta a ser) ao ato (a operação de Instanciamento da representação objeto da operação) – tal como no lado esquerdo e pensamento clássico.

Então, para que a frase faça algum sentido, é necessário atentar qual seja o perfil de configuração do pensamento diferente, e em qualquer caso, uma visão clara do que sejam operações, em cada lado da seta que está no meio dessa frase: 

  • no lado esquerdo da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clássico, o de antes de 1775
      • sim, o saber precede o ato (tanto em uma explicação quanto em uma implicação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825,
      • não, o saber não precede o ato se a operação estiver no caminho da Construção da representação (seja no explica ou no implica)
      • sim, o saber precede ao ato se o caminho for o do Instanciamento de representação existente
  • no lado direito da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clássico, o de antes de 1775,
      • sempre temos o saber anterior ao ato (a operação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825;
      • só teremos ato (operação) anterior ao saber no caso da operação estar no caminho da Construção da representação; 
      • caso a operação esteja no caminho do Instanciamento da representação, o saber é anterior ao ato (a operação).
  • e a seta do meio da frase passará a indicar entre um lado e outro, dependendo do caso, uma descontinuidade epistemológica.

Até agora Freud entrou nessa frase como Pilatos no credo.

E essa referência a Freud nessa frase também cria mais problemas, desde que usemos o pensamento de Michel Foucault.

Segundo Foucault, Freud é um pensador moderno

Logo, ele teria noção dos modelos de operações no pensamento moderno; e também os do pensamento clássico, se não, não teria escolhido pensar com o missal do pensamento moderno.

E assim, todas as opções condicionadas ao pensamento clássico acima deixam de valer no caso de Freud.

Então, o pensador moderno Freud

  • no lado esquerdo da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • não dispõe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber já existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispõe de saber antes do ato.
  • no lado direito da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • não dispõe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber já existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispõe de saber antes do ato.

O comportamento do pensador moderno Freud não é função do nome dado à operação, se ‘explica’ ou se ‘implica’, mas o que a operação pretende com respeito ao seu objeto e o estado em que se encontra esse objeto no ambiente em que a operação acontece – já existe ou ainda não existe representação para ele nesse ambiente.

Então um ato de ‘explicar’ de Freud pode não ter um saber anterior; o que contradiz a frase no lado esquerdo. E também o estabelecimento de uma implicação dele pode ter um saber anterior, o que contraditaria o lado direito da frase. 

Mostramos isso no Funcionamento de operações, e um ato (operação) desse tipo preenche a etapa de Instanciamento de representações anteriormente construídas.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Aparentemente há uma inconsistência entre o pensamento no vídeo 150 e o pensamento de Michel Foucault: o movimento do pensamento entre a psicanálise de Freud e a de Lacan: o movimento feito desde uma psicanálise (pelo menos alegadamente) baseada na representação, em Freud, para uma outra baseada fora da representação, em Lacan
  • as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ segundo o posicionamento do ponto de início de leitura 
    • no cruzamento das disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca; 
    • ou antes da possibilidade da troca, quando um dos objetos envolvidos não está disponível, investigando a permutabilidade;

e as duas correspondentes origens da essência da linguagem e do valor carregado pela proposição para a representação.

  • Uma possível contradição:
    • a aparente descontinuidade epistemológica na apresentação das teorias modelos e sistemas relacionados à psicanálise no vídeo 150, consistente na mudança de bases da psicanálise na representação para fora dela entre Freud e Lacan;
    • e ao contrário, uma continuidade epistemológica na apresentação de teorias, modelos e sistemas do liberalismo e variantes, no vídeo 254: usando o pensamento de Michel Foucault sobre isso, essa alteração certamente aconteceu;

Comentários

1. Tendo como referência o pensamento de Michel Foucault, não há dúvida de que Freud foi um pensador moderno; assim, o movimento que teria sido feito por Lacan desde uma psicanálise de Freud, com base na representação para uma outra, de Lacan, fora da representação pode não ter sido possível uma vez que a psicanálise de Freud já tinha sua base fora da representação.

2. Teorias, modelos e sistemas, como produções do pensamento, transcorrem sempre com a presença de uma linguagem; o veículo de carregamento de valor é sempre a proposição e o destino do valor carregado é sempre a representação. A questão parece ser, então, a origem – se interna ou externa à linguagem – do valor atribuído à proposição. 

3. A alteração de uma origem de valor interna à linguagem para uma externa à linguagem implica em uma mudança no modo de conhecer o que dizemos que conhecemos, uma mudança epistemológica. 

Seguem comentários em tópicos:

A descrição feita por Michel Foucault da psicanálise de Freud dá-nos conta ser Freud um pensador moderno.

Em nossa Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’) Foucault não hesita em classificar Freud como um autor moderno, e caracteriza o pensamento clássico como ‘aquele para o qual a representação existe’.

No livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 10 – As Ciências humanas; tópico V – Psicanálise e etnologia, de Michel Foucault, encontramos subsídios para afirmar que o autor discorda frontalmente dessa afirmativa de que a psicanálise de Freud tivesse suas bases na representação; nesse texto Foucault mostra que, ao contrário, o pensamento de Freud já tem suas bases fora da representação; e expõe como e por que ele faz esse juízo mostrando o funcionamento da psicanálise – tendo como elemento organizador dessa argumentação o modelo constituinte padrão, comum a todas ciências humanas por ele desenvolvido nesse livro, um modelo composto pelos pares de modelos constituintes das ciências da Vida (Biologia) [função-norma]; do Trabalho (Economia) [conflito-regra]; da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].

“Não há que supor que o empenho freudiano
seja o componente de uma interpretação do sentido
e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;

seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
a psicanálise se encaminha em direção ao momento
– inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem,

a toda apreensão contínua em termos de significação, de conflito ou de função
– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
ao contrário das ciências humanas que, retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
permanecem sempre no espaço do representável,
a psicanálise avança para transpor a representação,
extravasá-la do lado da finitude e fazer assim surgir, lá onde se esperavam 

  • as funções portadoras de suas normas
  • os conflitos carregados de regras 
  • e as significações formando sistema

o fato nu de que 

  • pode haver sistema (portanto, significação), 
  • regra (portanto, oposição), 
  • norma (portanto, função). 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso,
à margem dela mesma,
aberta, de certo modo ao fechamento da finitude,
desenham-se as três figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funções e suas normas,

vem fundar-se na repetição muda da Morte, 

  • os conflitos e as regras,

na abertura desnudada do Desejo, 

  • as significações e os sistemas,

numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;

Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia

e especial destaque para o modo como Foucault vê que isso é interpretado:

Sabe-se como psicólogos e filósofos
denominaram tudo isso:

mitologia freudiana. 

Era realmente necessário
que este empenho de Freud
assim lhes parecesse;

para um saber que se aloja no representável,
aquilo que margeia e define, em direção ao exterior,
a possibilidade mesma da representação
não pode ser senão mitologia.” 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;

Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia

Isso permite pensar que a razão de ser da psicanálise de Lacan, encontre seu fundamento em outro movimento de pensamento feito por ele, porque a psicanálise de Freud já estava formulada desde fora da representação.

Em que consiste, então, a contribuição feita por Lacan?

Lembrando os obstáculos percebidos por Foucault em seu trabalho, uma impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, arriscaria dizer que a contribuição de Lacan foi formular uma psicanálise para além do objeto.  

 

Essas duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ situam-se de lados opostos em relação à descontinuidade epistemológica posicionada por Michel Foucault como tendo ocorrido entre 1775 e 1825. Isso colocaria uma produção do pensamento baseada na representação do lado oposto a uma outra, baseada desde fora da representação. (O movimento de pensamento que o vídeo informa ter sido feito por Lacan com relação a Freud.

Podemos ver isso sob o ponto de vista das alterações na própria linguagem em decorrência da visão que temos do fenômeno ‘operações’ de pensamento ou outra, e de acordo com as explicações de Michel Foucault:

i)      As diferenças de funcionamento da linguagem para modelos baseados na representação e modelos fora da representação, – como o que vai descrito no vídeo 254 teria ocorrido entre as psicanálises de Freud e de Lacan, – e em geral, no funcionamento da linguagem em qualquer construção do pensamento, tendo em vista quais sejam as bases em que se sustentam essas construções do pensamento, se na representação ou se fora da representação.

As duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’.

Esse link mostra uma figura com a visão ampla do que entendemos como o fenômeno ‘operações’ com representações, incluindo as operações de troca, mostrando os dois pontos nos quais podemos inserir o início da leitura que fazemos desse fenômeno:

  • No ponto de cruzamento entre as disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca: o momento em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estão já disponíveis; discutindo a 
  • Em um ponto anterior a esse, quando pelo menos um dos objetos ainda não está disponível.

A página mostra:

(1)    O que não muda entre as duas possibilidades de inserção do ponto de leitura de ‘operações’

A proposição é o bloco construtivo padrão fundamental para construção de representações.

“A proposição é para a linguagem
o que a representação é para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar
porquanto, desde que a decomponhamos,
não encontraremos mais o discurso,
mas seus elementos como tantos materiais dispersos.”
As palavras e as coisas; Cap. 4 – Falar; tópico III – Teoria do verbo

A representação carregada de valor como condição para que uma coisa possa representar outra em uma operação de troca.

(…) “Em outras palavras, para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam já carregadas de valor;
e, contudo, o valor só existe no interior da representação.”
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

(2)    O que sim, muda entre essas duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura

Antes de mais nada, muda a abrangência da visão que temos do que seja uma operação, em decorrência do ponto de inserção do início de leitura que fazemos desse fenômeno. Há duas possibilidades de inserção desse ponto de início de leitura de operações:

  • No ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, já disponíveis os dois objetos intervenientes em uma operação de troca;
  • Antes desse ponto, quando ainda um dos objetos não está disponível

A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação é nos dois casos, a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações  com origens de valor distintas.

No primeiro caso o valor é carregado na proposição diretamente. Aliás, a proposição já chega carregada de valor.

No segundo caso, o valor chega à proposição no bojo de uma operação de construção da representação para o objeto ainda não disponível. Isso em outras palavras quer dizer durante o projeto desse objeto. E as fontes de valor neste caso são

  • as designações primitivas;
  • e a linguagem de ação ou de uso.

ii)    O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’.

A citação acima prossegue da seguinte forma:

(…) “o valor só existe no interior da representação

  • atual [representação do objeto envolvido na troca já existente]

  • ou possível [objeto cuja representação foi construída quando no teste de permutabilidade]

 isto é, no interior

  1. da troca [objetos envolvidos na operação de troca já existentes]

  2. ou da permutabilidade [a prospecção da possibilidade da troca com a construção da representação do objeto a ser levado ao circuito das trocas, se possível]”

As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

  • uma analisa o valor no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  • outra analisa-o como anterior à troca
    e como condição primeira para que esta possa ocorrer”

A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
toda a essência da linguagem no interior da proposição;
e a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem

  • do lado das designações primitivas
  • e da linguagem de ação ou raiz
  1. “no primeiro caso, com efeito,
    a linguagem encontra seu lugar de possibilidade
    numa atribuição assegurada pelo verbo
    – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras
    mas que as reporta umas às outras;
    o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem
    a partir de seu liame proposicional,
    corresponde à troca que funda,
    como um ato mais primitivo que os outros,
    o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;
  2. a outra forma de análise,
    a linguagem está enraizada fora de si mesma
    e como que na natureza, ou nas analogias das coisas;
    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras
    antes mesmo que a linguagem tivesse nascido,
    corresponde à formação imediata do valor,
    antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas: Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

Veja, por favor, o funcionamento das operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775 e o moderno, depois de 1825 em 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Podemos ver, do entendimento de como se desenvolvem as operações em um caso e em outro, a correspondência bastante estreita entre as explicações dadas por Foucault na citação acima.

Veja também os dois conceitos para o que seja um verbo, e identifique o verbo envolvido no primeiro caso em que a atribuição de valor é assegurada diretamente por ele; e o verbo no segundo caso, em outra configuração da linguagem na qual o valor atribuído à representação via a proposição, tem origem fora da linguagem nas designações primitivas e na linguagem de ação ou de uso. 

Conceitos homônimos mas com significados diferentes entre a configuração do pensamento na idade clássica e no pensamento moderno

Há, aparentemente, uma contradição entre os dois vídeos do Canal Falando nisso, os de números 150 e 254.

No vídeo 150 há a percepção de que efetivamente existem produções do pensamento – teorias, modelos e sistemas, baseados na representação, e outras, baseadas fora da representação; e esse é um movimento de pensamento importante – nada mais nada menos do que uma descontinuidade epistemológica segundo o pensamento de Foucault,

Embora segundo o pensamento de Michel Foucault a psicanálise de Freud já tivesse suas bases fora da representação, mas uma mudança de bases como essa sem dúvida significaria uma alteração epistemológica.

Evento dessa mesma natureza, uma descontinuidade epistemológica, também aconteceu para as produções do pensamento associadas ao liberalismo e neoliberalismo, no período histórico abrangido pelo vídeo 254 . Isso está relatado em bastantes detalhes por Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, e é inerente ao estilo de arqueologia adotado nesse livro.

 Mas esse movimento do pensamento deixa de ser considerado para as teorias, modelos e sistemas ligados ao Liberalismo e Neoliberalismo nos questionamentos feitos no vídeo 254 – ‘Neoliberalismo e sofrimento’. Isso leva a crer que a natureza dessa mudança de embasamento desde na representação para fora dela foi tratada, no vídeo 150, não como uma questão constituinte, mas como uma 

Enquanto no vídeo 150 os modelos estão predominantemente no domínio da Linguagem, no liberalismo e variações, estão no domínio das ciências do Trabalho (Economia).qualidade apenas.

Veja nesta página

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ‘Trabalho’: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817, e as diferenças entre esses dois conceitos segundo Michel Foucault.

exatamente essa mudança de bases.

Entre esses dois pensadores há uma diferença na visão do que sejam operações avaliável pela amplitude da visão do fenômeno ‘operação’ entre esses dois princípios para trabalho. Na parte inferior da página que o link acima dá acesso, a explicação dada por Foucault deixa  bem clara essa diferença de amplitude na visão de ‘operações’. 

David Ricardo inclui, em seu Princípio Dual de Trabalho, de 1817, também a etapa da construção de representação nova enquanto que Adam Smith não faz isso.

Essa alteração na inserção do ponto de início do fenômeno ‘operações’ altera o modo como uma operação é vista e implica em uma reconfiguração da linguagem no que ela tem de essencial: o modo como a proposição é formada, e como o valor carregado na proposição é levado por esta para a representação.

Isso pode ser visto em 

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ 

e também na argumentação abaixo.

Havia uma confusão em Adam Smith, que consistia em estabelecer uma assimilação entre:

  • o trabalho como atividade de produção;
  • e o trabalho como mercadoria que se pode comprar e vender.

Essa assimilação, feita em Adam Smith, passa a ser em Ricardo uma distinção entre:

  • essa força, esse esforço, esse tempo do operário que se compram e se vendem, tomados como mercadoria que se pode comprar e vender,
  • e essa atividade que está na origem do valor das coisas, tomada como atividade de produção.

distinção essa que, segundo Foucault, foi feita, pela primeira vez, e de forma radical, pelo pensamento de David Ricardo, em nossa cultura; e isso implica em uma expansão da visão do fenômeno ‘operações’.

Vista desse modo,

  • como uma assimilação, entre ‘atividade de produção’ e ‘mercadoria que se pode comprar ou vender’ ou ‘força, esforço, tempo do operário, que se compram e se vendem’, em Adam Smith, 
  • ou como uma distinção, entre essas duas coisas, no pensamento de David Ricardo,

pode ficar difícil perceber que essa mesma alteração feita em Ricardo na economia, é a mesma que Lacan teria feito na sua psicanálise;

Seria necessário perceber que com o termo ‘atividade de produção’ compreende-se a produção de algo ainda inexistente o que alarga a visão de operações para o caminho da Construção de representação nova; mas encaixando essas duas coisas em uma visão ampla do que sejam operações, de todos os tipos, obtida entre outros lugares na descrição de Foucault sobre as duas configurações da linguagem,

  • e vendo o que acontece nas operações, em decorrência das duas origens do valor carregado pela proposição para a representação como consequência das duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do que seja essa operação – se antes ou se no ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido – e os efeitos em cada opção, (veja o link acima)

vê-se que os dois movimentos – o de Ricardo em relação a Smith e o de Lacan em relação supostamente a Freud, são idênticos quanto a suas bases no pensamento, porque:

  • O pensamento de Adam Smith leva a um modelo de operações com ponto de leitura posicionado no ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, ou o ponto em que os objetos envolvidos em uma operação de troca estão disponíveis; a operação de processamento de informações sob Adam Smith abrange o instanciamento, pelo desencadeamento de Processo anteriormente formulado, de representação anteriormente formulada e configurada dentre alternativas já existentes. Nesse tipo de operações sob o pensamento clássico, não há construção de representações novas;
  • No pensamento de David Ricardo o modelo de operações tem ponto de leitura posicionado antes da disponibilidade dos objetos envolvidos em uma possível futura operação de troca. E abrange toda a operação no caminho da Construção de representação nova.

E dessa forma

  • colocar o ponto de início da leitura exatamente no cruzamento entre disponibilidades do que é dado e o que é recebido (com a disponibilidade simultânea dos dois objetos envolvidos na operação de troca), coloca o fenômeno ‘operação’ na etapa de instanciamento de objeto cuja representação foi anteriormente feita;
    • e o valor carregado pela proposição para a representação é atribuído diretamente na proposição, determinando a configuração correspondente da linguagem;
  • e colocar o início de leitura antes desse ponto de disponibilidade, (com a indisponibilidade de pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca) implica em investigar a permutabilidade e obriga a ‘operação’ a incluir a etapa de construção da representação do objeto ainda não representado, que será levado ao circuito das trocas depois de instanciado; e também a posterior operação de instanciamento, e o valor carregado pela proposição terá sua origem
    • nas designações primitivas
    • e na linguagem de ação.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • A lista de referências bibliográficas do vídeo 254
  • As possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade, através de uma matriz constituída por autores associados ao liberalismo, todos eles inseridos no pensamento clássico.
  • A indicação de Adam Smith e de David Ricardo juntos, como pertencentes ao mesmo bloco de sustentação de uma noção de sujeito na modernidade; á luz do pensamento de Michel Foucault
  • Sobre as possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade através de uma matriz constituída por autores associados ao liberalismo
  • Sobre as possibilidades – usando o pensamento de Michel Foucault – de que as teorias, modelos e sistemas ligados ao liberalismo clássico, possam dar sustentação a uma psicologia, mesmo dando ao homem o tratamento como uma espécie, ou um gênero.

 

Clips do vídeo Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento, para comentário

Comentários 

O livro ‘Nascimento da biopolítica’, de 1978-1979, sim, figura na lista de referências do vídeo 254;

  • mas o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, do mesmo autor, publicado em 1966 pela primeira vez, está fora dessa lista; e é nessa obra que o surgimento da classe especial de saberes que chamamos ‘ciências humanas’ como a biopolítica, é descrita, dando conta dos seus modelos constituintes.

A importância disso – se atentarmos para o pensamento de Michel Foucault  no ‘As palavras e as coisas’ pode ser avaliada sob dois aspectos:

  • Foucault questiona as produções do pensamento – teorias, modelos e sistemas –  sob suas condições de possibilidade no pensamento;
  • Foucault não analisa teorias, modelos e sistemas quando já formulados e configurados, prontos e em utilização, mas antes, analisa-os sob suas condições de possibilidade no pensamento, que ele identifica criteriosamente em cada período.

É que nesse livro o autor identifica as condições de possibilidade no pensamento de produções do pensamento ao longo do tempo e distingue dois períodos separados justamente por uma mudança epistemológica, ou uma alteração nessas condições de possibilidade do pensamento usado.

E teorias, modelos e sistemas, como construções do pensamento, foram construídas por autores imersos nos dois períodos históricos, no antes,  e no depois desse evento; e as mudanças enquanto estavam sendo feitas, no durante.

Por favor veja 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

e depois, veja 

A forma dos modelos em cada configuração do pensamento

 

e por favor veja ainda

Funcionamento das operações, para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775 e 1825

Na descrição desse evento, ao qual Foucault atribui o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento, temos

  • amplitude das alterações no modo de ser do pensamento: entre os anos de 1775 e 1825;
  • primeira fase: entre 1775 e 1795;
  • fase de ruptura: os últimos 5 anos do século XVIII;
  • Segunda fase: entre 1800 e 1825.
  • idade clássica, ou pensamento clássico, para o qual ele estabelece o limite superior de tempo como o final do século XVIII com fase de ruptura nos últimos 5 anos desse século;
  • idade moderna, ou nossa modernidade no pensamento: depois de 1825.

Como última atenção ao que Foucault tem a dizer nesse grande livro, veja

Condições de possibilidade das ciências humanas: consciência epistemológica do homem

“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia. 
Não mais que a potência da vida,
a fecundidade do trabalho 
ou a espessura histórica da linguagem. (…) 

Certamente poder-se-ia dizer que 
a gramática geral, a história natural, a análise das riquezas 
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem, 
mas é preciso discernir. 

Sem dúvida, as ciências naturais – 
trataram do homem 
como de uma espécie ou de um gênero
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.

Mas não havia consciência epistemológica do homem como tal. 

A episteme clássica se articula segundo linhas que
de modo algum 
isolam
o domínio próprio e específico do homem.” 

Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia. 
Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral. 
Do mesmo modo, 
não há economia política
porque, 
na ordem do saber,
a produção não existe. “ 
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas

Isso é o que nos ensina a Cartilha. 

Como seria uma noção denominada ‘sujeito’ cunhada por pensadores clássicos e que, portanto trataram do homem como de uma espécie ou de um gênero

Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero

E como seria uma psicologia sustentada por um pensamento que leve o homem nessa conta?

No pensamento de Foucault, vê-se claramente duas rupturas duas descontinuidades epistemológicas em nossa cultura:

  • aquela que inaugura a idade clássica (por volta de meados do século XVII) ,
  • e aquela que no início do século XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

Essa última ruptura é situada por Foucault na virada dos séculos XVIII para o XIX, e pode ser vista por este link:

A cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

em uma animação que coloca em uma imagem, o texto de Michel Foucault em ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.

Mas Adam Smith e David Ricardo pensavam de maneira bastante distinta. Podemos ver isso em

Os dois conceitos filosóficos para o que seja trabalho,
as operações de troca, e comparações entre os dois princípios de trabalho, feitas por Foucault

E as diferenças, explicitadas com palavras de Foucault, são muito grandes. O modo de ver o que sejam ‘operações’ é muito mais amplo em Ricardo do que em Smith, com as consequências que isso acarreta.

E existem atualmente, e entre nós, teorias, modelos e sistemas utilizados, que modelam operações dos dois modos, sem consciência epistemológica do que está envolvido nisso.

Veja isso nos links abaixo:

Essa cronologia posiciona Adam Smith e David Ricardo em lados opostos desse evento, ao qual Foucault atribui o papel de ‘evento fundador da nossa modernidade’ no pensamento.

“A partir de Ricardo, o trabalho,
desnivelado em relação à representação,
e instalando-se em uma região
onde ela não tem mais domínio,
organiza-se segundo uma causalidade que lhe é própria.”
Cartilha;  Cap. 8 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico II. Ricardo

Esse movimento do pensamento que Foucault percebe em Ricardo é o mesmo movimento feito por um autor que construa sua teoria, modelo ou sistema baseado na representação.

“A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte: 

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa, 
    • não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmente 
      porque o trabalho
      como atividade de produção 
      é “a fonte de todo valor”.

“Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca servem
de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem
a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta), 

desde Ricardo,
a possibilidade da troca
está assentada no trabalho; 
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.”
 

Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Vê-se que a amplitude da visão do que sejam operações, em David Ricardo, é muito maior se comparada à amplitude da visão de Adam Smith. Para Ricardo toda ‘aquela atividade que está na raiz do valor das coisas’, a produção, está incluída, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que não acontece em Adam Smith.

Veja novamente 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Note que as diferenças nas operações, inclusive as de troca, são muito grandes no pensamento de Adam Smith e no pensamento de David Ricardo. Se consideramos os dois modelos de operações, essas diferenças são físicas. O pensamento de David Ricardo amplia sobremaneira a amplitude da visão do que sejam operações, incluindo a fase de ‘projeto’ ou de construção de representação nova.

Além disso, decorrentes das diferenças nas operações, altera-se a configuração da linguagem no antes e no depois desse evento. Muda, nas palavras de Foucault, a origem da essência da linguagem. Veja isso na página

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função dessa inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’;

Mesmo assim, no vídeo Falando nisso 254, e no contexto da análise da incidência do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo são tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ‘matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!

 Complexity: 

 the emerging science at the edge
of order and chaos, 

de M. Mitchell Waldrop
1992

Os vídeos e animações (parciais) a seguir mostram duas maneiras de ver o que seja Complexidade:

  • Mônica de Bolle, vê o conteúdo do livro ‘Complexidade’ como sendo um pouco coisa de nerd, muito embora ela ache o assunto fascinante.
    • no vídeo 32 seguinte,  Mônica também se posiciona fora daquele grupo de economistas que vê a economia como uma maquininha da qual as pessoas estão fora; um pensamento mecanicista, ela diz. Mas não diz qual seja o seu modo próprio de ver a economia dos nossos dias.
  • Ilya Prigogine, prêmio Nobel de Química de 1977 e pioneiro da ciência do não equilíbrio, diz que a nova ciência do caos e da complexidade lida com a própria ciência moderna, e com o novo tipo de ordem que lhe é próprio, o caos.

A coleção de animações que se segue a esta mostra os modelos de operações:

  • no pensamento clássico, o de antes de 1775;
  • e no pensamento moderno, o de depois de 1825.

Esses modelos de operações têm entre eles uma descontinuidade epistemológica que segundo Foucault, ocorreu em nossa cultura entre os anos de 1775 e 1825 – os 50 anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX.

Se depois da compreensão dos modelos de operações mostrados for possível concluir que

  • o tipo de ordem a que alude Prigogine 
  • o tipo de ordem adotado no pensamento moderno

são ao fim e ao cabo a mesma ordem, teremos ajudado. E se isso acontecer, teremos um modelo de pensamento que pode substituir o modelo mecanicista ao qual Mônica se refere.

Clips desse vídeo para comentar

Comentários 

para comparar o que dizem os filósofos de diferentes áreas, – e também os economistas – uns mais e outros menos voltados aos fenômenos que acontecem ao seu redor, veja os seguintes modelos de operações:

  • pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, 
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825:
    • caminho da Construção da representação;
    • caminho do Instanciamento da representação.
  • origem de valor carregado pela proposição para a representação no pensamento moderno, caminho da Construção da representação.

NOTA: clicando na figura da origem do valor, você tem acesso ao pensamento de Michel Foucault sobre isso.

Sobre origem do valor carregado pela proposição para a representação, nas palavras de Michel Foucault, veja a seguinte página:  

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’

com as seguintes origens de valor atribuído à proposição:

  • designações primitivas;
  • linguagem de ação ou raiz.

Veja ainda sobre as duas opções de atribuição de valor à proposição:

  • a operação sob o pensamento clássico tem o ponto de início na visão do fenômeno ‘operações’ colocado sobre o cruzamento entre os objetos dado e recebido, ainda que nesse tipo de pensamento a noção de objeto seja distinta da que vige no pensamento moderno;
    • o valor é atribuído diretamente à proposição.
  • a operação sob o pensamento moderno – quando no caminho da Construção da representação, tem o ponto de início na visão do fenômeno ‘operações’ bem antes desse cruzamento, quando ainda o objeto da operação modelada ainda não existe;
    • a origem do valor está em dois elementos externos à linguagem:
      • designações primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso.
    • a visão do fenômeno ‘operações’ é muito ampliada englobando toda a etapa da construção de representação nova (projeto).

Monica de Bolle identifica entre os economistas, não ela, mas economistas como categoria, quem pense em um modelo mecanicista.

Comentários

Reflexões-Imaginativas

Reflexões imaginativas no espaço-tempo das Permanências e dos Fluxos

com a licença de Augusto de Franco pelo enxerto (quase paráfrase) feito sobre o título de um de seus trabalhos.

  • O espírito com que estou escrevendo e pistas sugestivas de espaço para mudanças

  • Influências, inspirações, a plataforma adotada para exposição de ideias
  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, de 1966, a nossa Cartilha; cujo autor, Michel Foucault, merece o título de Engenheiro de Produção emérito
  • O fenômeno das das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia, dos modelos; Metáforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento
  • Unanimidades em conceitos, seja pelo uso, seja pelo desuso:
  • Alguns (7) exemplos de modelos descritivos da produção e de organizações, existentes;
  • A visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica, para organizações de qualquer tipo: modelagem simultânea do objeto esperado, e do instrumento necessário para obter esse objeto
  • Influências e inspirações;
  • Plataforma adotada para exposição de ideias;
  • Imaginação e Conceituação: funções humanas reversíveis entre ocorrências espacio-temporais – imagens – textos;
  • Os caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana Romesin;
  • Nosso roteiro e nossa inspiração. 

Influências e inspirações

1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’: 

uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais; 

e ainda, não menos importante

    • as imagens tradicionais, as imagens técnicas, as classes de abstrações que usamos cotidianamente;
Vilém-Flusser-Portrait-008
Vilém Flusser
1920-1991

2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:

objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

Humberto Maturana
1928-

3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:

a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:

    • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sínteses no espaço da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
    • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
Michel Foucault
1926-1984

Roteiro e inspiração

Veja aqui os seguintes pontos:

  • O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ tal como visto por seu autor, Michel Foucault;
  • A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ contada por Michel Foucault no Prefácio desse livro, associada a imagens;
  • O espaço a ser ocupado pelo estudo em estilo de arqueologia realizado no ‘As palavras e as coisas’;
  • A descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura, posicionada por Michel Foucault entre os anos de 1775 e 1825;
  • O que exatamente Foucault via quanto ao que acontecia com as formas de
  • A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura e os dois perfis de conceitos característicos das duas configurações do pensamento; 
  • pensamento em nossa cultura e a modos distintos de absorver o mundo;
  • O espectro de modelos com três segmentos – AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto, traçado a partir dessa visão e da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, por Michel Foucault
  • As duas opções alternativas para a visão do fenômeno ‘operações’, com diferentes abrangências, e as respectivas duas origens do valor carregado pelas proposições para as representações; as correspondentes duas configurações de funcionamento da própria linguagem e do pensamento, e os modelos resultantes em cada caso.
  • Conceitos homônimos mas com significados diferentes entre o pensamento clássico, o de antes de 1775, e o moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault;
  • A análise das riquezas: (riquezas: um domínio, solo e objeto da “economia” na idade clássica, segundo Michel Foucault);

Veja esses pontos a seguir:

O livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, na visão de Michel Foucault

“Ora, esta investigação arqueológica mostrou duas grandes descontinuidades na epistémê da cultura ocidental:

  • aquela que inaugura a idade clássica (por volta dos meados do século XVII)
  • e aquela que, no início do século XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

A ordem,
sobre cujo fundamento pensamos,
não tem o mesmo modo de ser
que a dos clássicos.

Por muito forte que seja a impressão que temos de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,

  • por mais que pensemos que a classificação de Lineu, mais ou menos adaptada, pode de modo geral continuar a ter uma espécie de validade,
  • que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do século XIX,
  • que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias análises com as de Cantillon,
  • que o propósito da Gramática geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em Bauzée) não está tão afastado de nossa atual linguística 

 – toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.

Não que a razão tenha feito progressos;

  • mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; é que foi profundamente alterado.

Se a história natural de Tournefort, de Lineu e de Buffon tem relação com alguma coisa que não ela mesma,

  • não é com a biologia, a anatomia comparada de Cuvier ou o evolucionismo de Darwin,
  • mas com a gramática geral de Bauzée, com a análise da moeda e da riqueza tal como a encontramos em Law, em Véron de Fortbonnais ou em Turgot.

Os conhecimentos chegam talvez a se engendrar; as ideias a se transformar e a agir umas sobre as outras (mas como? até o presente os historiadores não no-lo disseram);

  • uma coisa, em todo o caso, é certa:
    • a arqueologia,
      • dirigindo-se ao espaço geral do sabe!;
      • a suas configurações
      • e ao modo de ser das coisas que aí aparecem,
    • define sistemas de simultaneidade, assim como a série de mutações necessárias e suficientes para circunscrever o limiar de uma positividade nova.

Assim, a análise pôde mostrar a coerência que existiu, durante toda a idade clássica, entre

  • a teoria da representação e as
    • da linguagem,
    • das ordens naturais,
    • da riqueza e do valor:

É esta configuração que, a partir do século XIX, muda inteiramente;

  • a teoria da representação desaparece como fundamento geral de todas as ordens possíveis;
  • a linguagem, por sua vez, como quadro espontâneo e quadriculado primeiro das coisas, como suplemento indispensável entre a representação e os seres, desvanece-se;
  • uma historicidade profunda penetra no coração das coisas, isola-as e as define na sua coerência própria.

Impõe-lhes formas de ordem que são implicadas pela continuidade do tempo;

  • a análise das trocas e da moeda cede lugar ao estudo da produção,
  • a do organismo toma dianteira sobre a pesquisa dos caracteres taxinômicos;
  • e, sobretudo, a linguagem perde seu lugar privilegiado e torna-se, por sua vez, uma figura da história coerente com a espessura de seu passado.

Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas,

  • reclamando para seu devir não mais que o princípio de sua inteligibilidade
  • e abandonando o espaço da representação,

o homem,
por seu turno, entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.

Estranhamente, o homem – cujo conhecimento passa, a olhos ingênuos, como a mais velha busca desde Sócrates – não é, sem dúvida, nada mais que uma certa brecha na ordem das coisas, uma configuração, em todo o caso, desenhada pela disposição nova que ele assumiu recentemente no saber:

Daí nasceram todas as quimeras dos novos humanismos, todas as facilidades de uma “antropologia “, entendida como reflexão geral, meio positiva, meio filosófica, sobre o homem.

Contudo, é um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que

  • o homem não passa de uma invenção recente, uma figura que não tem dois séculos, uma simples dobra de nosso saber;
  • e que desaparecerá desde que este houver encontrado uma forma nova.”

“Vê-se que esta investigação responde um pouco, como em eco, ao projeto de escrever uma história da loucura na idade clássica; ela tem, em relação ao tempo, as mesmas articulações, tomando como seu ponto de partida o fim do Renascimento e encontrando, também ela, na virada do século XIX; o limiar de uma modernidade de que ainda não saímos.

Enquanto, na história da loucura,

  • se interrogava a maneira como uma cultura pode colocar sob uma forma maciça e geral a diferença que a limita, 

trata-se aqui  

  • de observar a maneira como ela experimenta a proximidade das coisas, como ela estabelece o quadro de seus parentescos e a ordem segundo a qual é preciso percorrê-los.

Trata-se, em suma, de uma história da semelhança:

  • sob que condições o pensamento clássico pôde refletir, entre as coisas, relações de similaridade ou de equivalência que fundam e justificam as palavras, as classificações, as trocas?
  • A partir de qual a priori histórico foi possível definir o grande tabuleiro das identidades distintas que se estabelece sobre o fundo confuso, indefinido, sem fisionomia e como que indiferente, das diferenças?

A história da loucura
seria a história do Outro

– daquilo que, para uma cultura  
é ao mesmo tempo
interior e estranho,
a ser portanto excluído
(para conjurar-lhe o perigo interior),
encerrando-o porém
(para reduzir-lhe a alteridade);

a história da ordem das coisas
seria a história do Mesmo
 

– daquilo que, para uma cultura,
é ao mesmo tempo
disperso e aparentado,
a ser portanto distinguido por marcas
e recolhido em identidades.

E se se pensar que a doença é, ao mesmo tempo, 

  • a desordem, a perigosa alteridade no corpo humano e até o cerne da vida, 

mas também 

  • um fenômeno da natureza que tem suas regularidades, suas semelhanças e seus tipos –

vê-se que lugar poderia ter uma arqueologia do olhar médico.

Da experiência-limite do Outro às formas constitutivas do saber médico e, destas, à ordem das coisas e ao pensamento do Mesmo, o que se oferece à análise arqueológica 

  • é todo o saber clássico, 
  • ou melhor; esse limiar que nos separa do pensamento clássico e constitui nossa modernidade.

Nesse limiar apareceu pela primeira vez esta estranha figura do saber que se chama homem e que abriu um espaço próprio às ciências humanas.

Tentando trazer à luz esse profundo desnível da cultura ocidental, é a nosso solo silencioso e ingenuamente imóvel que restituímos suas rupturas, sua instabilidade, suas falhas; e é ele que se inquieta novamente sob nossos passos.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Prefácio

Veja essa história em uma animação abaixo. Esta animação relaciona o texto de Foucault com as estruturas de operações sob as duas configurações do pensamento, a do clássico, de antes de 1775, e a do moderno, depois de 1825.

Provavelmente você vai se sentir mais confortável se antes de ver esta figura, visualizar o funcionamento das operações nesses dois casos.

A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’,
de Michel Foucault, contada por ele mesmo

1 – A ideia que deu origem ao livro ‘As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas

que pode ser vista junto com outras animações  mais, nesta página:

Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio

Se quiser ver o funcionamento das operações no pensamento clássico e no moderno (usando os critérios de Foucault para essa identificação, veja a página seguinte:

Funcionamento das operações para as configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Essa história está contada por Foucault no Prefácio do ‘As palavras e as coisas’, e está aqui  no início desta apresentação pela ideia de sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis que podem ser associados às configurações do pensamento  nos períodos de antes e de depois de um evento ao qual Foucault dá o status de ‘evento fundador da nossa modernidade’ – uma descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825 -, tendo o pensamento clássico, antes de 1775, e o moderno, depois de 1825:

  • o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clássico;
  • efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
  • associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operações)
  • o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
  • o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso.
  • Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
  • a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
    • seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
  • o consolo das Utopias;
  • a inquietação causada pelas heterotopias;
    • porque solapam secretamente a linguagem;
    • porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham,
    • porque arruínam de antemão a sintaxe
      • e não somente a sintaxe que constrói as frases
      • também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Neste trabalho mostramos como essas coisas mencionadas nesse texto se relacionam com modelos de operações, e também modelos de organizações.
Colocamos ao fundo da narrativa desse texto do Prefácio as diferentes configurações do pensamento em modelos de operações e de organizações, e como vão se alterando à medida que a narrativa prossegue.

Este estudo em estilo de arqueologia feito por Michel Foucault no
‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’,
tem como tema:

  • não propriamente produções de pensamento formuladas e configuradas, 
  • e ainda menos, produções do pensamento já em funcionamento – com seus sucessos e insucessos, e submetidas a possíveis desvirtuamentos; 
  • mas o tema inerente a esse estilo em arqueologia é quais são 
    • as condições de possibilidade no pensamento nas quais esta ou aquela produção do pensamento – teoria, modelo ou sistema – pode ser formulada. 

Enquanto com inventividade e laivos de criatividade conseguimos criar infinidades de formulações sobre um mesmo perfil de condições de possibilidade do pensamento, que acabam muitas vezes sendo combinações lineares de formulações anteriores, mesmo com muita criatividade e toda a inventividade possível os conjuntos determinantes de condições de possibilidade não proliferam do mesmo modo.

A análise, compreensão e utilização
de produções do pensamento
– teorias, modelos e sistemas –
tomadas quando já formuladas e configuradas,
é extremamente (mais) difícil;
e ainda tanto mais o será,
se o conhecimento consciente
das respectivas condições de possibilidade
no pensamento não se verificar.
Essas dificuldades se agravarão
se a produção do pensamento objeto de análise
estiver em pleno uso em um ambiente,
influindo sobre ele – e dele recebendo influências
– que certamente incidirão sobre a análise.

O excerto da Cartilha, o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, – abaixo selecionado descreve o que é esse estudo em estilo de arqueologia realizado por Foucault, e como são as operações no antes e no depois desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento, a descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825, descrita por ele.

Você pode ver agora a nossa interpretação do que conseguimos apreender desse texto, ou primeiro ler o texto original e depois ver esta animação:

A idade da história em três tempos:
uma descrição de Foucault, do que seja sua arqueologia das ciências humanas

o que também pode ser visto na página seguinte:

A idade da história em três tempos: uma descrição de Foucault do que seja a sua arqueologia das ciências humanas.

Poderá ser útil ver também o funcionamento das operações

Funcionamento das operações em função das configurações do pensamento de antes de 1775 e de depois de 1825, datas limites da ocorrência desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento. 

AVISO: tudo o que se segue neste trabalho depende da distinção estabelecida entre os dois modos de ver ‘operações’ correspondentes às duas configurações do pensamento, expressas nas animações acima
a partir do texto de Foucault abaixo.

Diz Foucault: 

“A arqueologia, essa,
deve percorrer o acontecimento
segundo sua disposição manifesta;

ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram
(ela analisa por exemplo, 

                      • para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome
                        e a importância nova dos sistemas de flexão; 

                      • ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função); 

ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

                      • (a substituição do discurso pelas línguas, 

                      • das riquezas pela produção); 

estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras

                    • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia); 

enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber

                      • não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável, 

                      • mas um espaço feito de organizações, isto é,
                        de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função;

mostrará que essas organizações são descontínuas,
que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas,
mas que algumas são do mesmo nível
enquanto outras traçam séries ou sequências lineares. 

De sorte que se vêem surgir,
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,

a Analogia e a Sucessão:


de uma organização a outra,

o liame, com efeito,
•  não pode mais ser
a identidade de um ou vários elementos,
•  mas a identidade da relação entre os elementos
(onde a visibilidade não tem mais papel)
e da função que asseguram;

ademais, se porventura essas organizações se avizinham

por efeito de uma densidade
singularmente grande
de analogias,
↓ não é porque ocupem localizações próximas

num espaço de classificação,
↑ mas sim porque foram formadas
uma ao mesmo tempo que a outra
e uma logo após a outra

no devir das sucessões. 

Enquanto, no pensamento clássico, 

                • a sequência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades, 

doravante 

                • as semelhanças contemporâneas
                  e observáveis simultaneamente no espaço
                  não serão mais que as formas depositadas e fixadas

                  de uma sucessão que procede
                  de analogia em analogia. 

A ordem clássica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas. 

A partir do século XIX,
a História vai desenrolar numa série temporal
as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas. 

É essa História que, progressivamente, imporá suas leis

                      •  à análise da produção, 

                      • à dos seres organizados, enfim, 

                      • à dos grupos linguísticos. 

A História
dá lugar às organizações analógicas,

assim como a Ordem
abria o caminho
das identidades

e das diferenças sucessivas.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

Veja isto em 

A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825,
segundo o pensamento de Michel Foucault

ou ainda na seguinte página

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

segundo Michel Foucault

De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:

  • antes de 1775 – pensamento clássico ou idade clássica do pensamento, com modelos com a (im)possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação;
  • depois de 1825 – pensamento moderno ou a nossa modernidade no pensamento, com modelos com a possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação.

Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dá o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.

Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clássico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clássica.

Michel Foucault vê o pensamento que nos é contemporâneo – e com o qual queiramos ou não pensamos – muito dominado por:

  • uma impossibilidade – a de fundar as sínteses do objeto das operações de pensamento, no espaço da representação;
  • e uma obrigação ainda não cumprida – a de abrir o campo transcendental da subjetividade e constituir, para além do objeto, esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho e a Linguagem.

e aparentemente ele imputa a esse domínio do nosso pensamento por essas questões, o tempo e dificuldades em acréscimo que precisou enfrentar em seu trabalho no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.

Impossibilidade X Possibilidade
de fundar as sínteses (da empiricidade objeto)
no espaço da representação

A impossibilidade [no pensamento clássico, antes de 1775]
contra a sim-possibilidade [no pensamento moderno, depois de 1825]
de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação.

A obrigação cumprida:
os quase-transcendentais
Vida, Trabalho e Linguagem constituídos

A classe de modelos das ciências humanas: um modelo composto pelos três pares constituintes
da Vida(Biologia) [função-norma]
do Trabalho (Economia) [conflito-regra]
da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

Veja o que ele diz, o mesmo texto colocado em duas animações e no excerto abaixo em seu original, que têm a finalidade de reunir as ideias em elementos de imagem que compõem duas estruturas diferentes, nos dois lados de uma mesma imagem:

“Eis que nos adiantamos
bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas
dessa ruptura
que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades. 

É que o pensamento que nos é contemporâneo 
e com o qual, queiramos ou não, pensamos, 
se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade,
    trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses
    no espaço da representação.

  • e pela obrigação 
    correlativa, simultânea,
    mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental
    da subjetividade 
    e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
    esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha);
Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades
de Michel Foucault

as animações acima também podem ser vistas nesta página

Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,

com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.

E o funcionamento das operações tanto no pensamento clássico, o de antes de 1775, como no moderno, depois de 1825, usando o critério de Foucault, pode ser visto na seguinte página:

 

Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças. 

Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’: 

Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:  

    1. uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação
    2. e uma obrigação a ser cumprida:
      a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir, inversamente, para além do objeto, 
      os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem 

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a impossibilidade 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituídos, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos para além do objeto, os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
        estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

“Instaura-se uma forma de reflexão, 
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana, 
em que está em questão,
pela primeira vez, 
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento se dirige ao impensado 
e com ele se articula.”
 

Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado

Veja isso associado a uma figura na qual os elementos de imagem escolhidos compõem uma estrutura que pode ser comparada com por exemplo, o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817 

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura
com esse perfil de conceitos do pensamento moderno, o de depois de 1825

Veja também o funcionamento das operações, especificamente no segmento DIANTE do objeto e na etapa da Construção da representação.

Nesse excerto da Cartilha, Foucault modela dinamicamente uma proposição que se ajusta a cada etapa da operação, coloca em cada proposição:

  • o ser do homem (o sujeito)
  • dirigindo-se ao objeto, o impensado,  (atributo do predicado do sujeito). 

Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura, ‘o ser do homem’ não se dirige ao intangível, mas ao impensado! (que pode ser também intangível, sem problemas)  Muitas vezes o intangível continua exatamente assim, intangível, mesmo depois que o pensamento tenha dado um jeito no seu aspecto impensado.   

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrário do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.  

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto

 O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.   

Os segmentos do espectro de modelos compostos com os critérios acima são os seguintes

    • AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • sem espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a impossibilidade 
        de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e portanto sem a constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • sem essa impossibilidade, ou melhor, com a possibilidade
        de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação;
      • sem a abertura do campo transcendental da subjetividade e constituídos, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.
    • para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas:
      • com espaço em suas estruturas para o par sujeito-objeto;
      • com a possibilidade de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação.
      • nos quais foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos para além do objeto, os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
        estes, os modelos no domínio das ciências humanas. 

Efeito do levantamento da impossibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação;
e da constituição, para além do objeto, dos quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Resumidamente, podemos ler operações, as que ocorrem no circuito das trocas (Mercado) ou outras, de qualquer tipo –  posicionando o ponto de  início da leitura desse fenômeno de duas maneiras diferentes:
  1. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ colocado no  cruzamento da disponibilidade entre dois objetos intervenientes na operação de troca: o que é dado e o que é recebido, testando as condições de troca;
  2. ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ antes do cruzamento da disponibilidade entre os dois objetos – o que é dado e o que é recebido – e portanto antes da disponibilidade de um dos objetos, testando desta vez a permutabilidade futura desse objeto e não imediatamente as condições de troca.

O carregamento de valor na proposição em cada caso:

  1. valor é carregado diretamente na proposição desde dentro do espaço da representação;
  2. valor é carregado na proposição desde fora do espaço da representação, com origens de valor externas ao espaço da representação, provenientes de:
    1. designações primitivas;
    2. linguagem de ação ou raiz.

Operações inspiradas no Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, têm valor carregado na proposição diretamente de dentro do espaço da representação;

Operações calcadas no Princípio Dual de trabalho de David Ricardo têm valor carregado na proposição e por elas para as representações como no segundo caso acima.

As diferenças nas visões de ‘operações’ decorrentes de diferenças no posicionamento do ponto de início de leitura do fenômeno, podem ser vistas nas animações que descrevem o funcionamento das operações em cada caso:

 
essas diferenças também podem ser vistas na página seguinte:
  • a animação correspondente ao pensamento clássico posiciona o início da leitura de ‘operações’ no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, pressupondo portanto, a disponibilidade desses dois objetos;
  • a animação correspondente ao pensamento moderno posiciona o início de leitura de ‘operações’ antes desse ponto, quando ainda um dos objetos envolvidos em uma futura troca está indisponível.
O texto de Foucault sobre essas duas alternativas de inserção do ponto de início da visão de ‘operações’ está na página seguinte:
E essas mudanças estão refletidas no tópico 
‘Uma anatomia ou uma Cartografia de modelos de operações em função da configuração do pensamento’
 
Para entender melhor os elementos de imagem que representam a origem de valor para as proposições desde fora da linguagem e fora do espaço da representação: 
  • ‘designações primitivas’
  • ‘linguagem de ação ou raiz’
veja a figura seguinte.

Operação de Construção de representação nova, no caminho da Construção da representação
sob o pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825 segundo Michel Foucault;
mostrando a origem de valor nas proposições externa à linguagem:
a) designações primitivas e b) linguagem de ação e a função que desempenham na operação.
 
 
Se essa figura lhe parecer ‘poluída’, pense o seguinte:
  • ela mostra uma fotografia de um instante na operação de construção da representação nova;
    • a representação para o objeto dessa operação foi concluída;
    • os elementos de suporte na experiência à Forma de produção foram nada mais do que selecionados – encontrados e/ou desenvolvidos;
    • foi construído um objeto análogo ao vislumbrado para essa empiricidade objeto, representado na figura pela Sucessão de analogias.
  • acaba de ser formulada uma proposição explicativa porque foi obtida sustentação na experiência para todos os quesitos atribuídos ao objeto cuja representação aca acaba de ser construída.
  • as designações primitivas, ao lado da linguagem de ação ou de uso são as origens do valor atribuído a essa proposição.

Se a figura ainda lhe parecer confusa, e achar que vale a pena esclarece-la, veja novamente o Funcionamento das operações.

Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clássico e sob o moderno. 

Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:

  • 0. os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo;
    • diferenças na paleta de ideias ou elementos de imagem e suas estruturas;
    • comparações entre os dois princípios feitas por Michel Foucault;
    • as duas diferentes origens de valor atribuído à proposição pela distinta opção de leitura do fenômeno ‘operações’.
  • 1. dois conceitos para o que seja um verbo;
  • 2. dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
  • 3. dois papéis atribuídos ao homem;
  • 4. dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento;
  • 5. duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova;
  • 6. dois conceitos para História;
  • 7. dois espaços gerais do saber;
  • 8. dois conceitos para tempo: calendário e absoluto;
  • 9. a proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações.
  • 10. Tabela de propriedades das duas configurações do pensamento.

Veja abaixo as diferenças entre os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, usando as palavras de Michel Foucault

Aquém do objeto
Adam Smith, 1776

Princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das Nações, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

Princípio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

Comparações entre os dois princípios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princípios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparações entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

As duas diferentes origens de valor para a proposição, em função da configuração de pensamento adotada

Os elementos de imagem, as ideias, que permitem formular o modelo de operações baseado diretamente na linguagem e na representação
Os elementos de imagem, as ideias,
que permitem formular o modelo de operações
desde fora da linguagem
a partir das designações primitivas
– e da linguagem de ação ou de raiz(*)

Conceito de Verbo ‘Processo’ na configuração de pensamento
do período clássico, antes de 1775
Conceito de Verbo ‘Forma de produção’ na configuração
de pensamento do período moderno, depois de 1825

Processo
como verbo

 

“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, 

          • a do verde
            e da árvore,

          • a do homem
            e da existência

            ou da morte; 

é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele [tempo]
em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo
de anterioridade ou de simultaneidade
das coisas entre si.”

‘Forma de produção’
como verbo

“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas
às leis de regência e de concordância;

e depois,


em recuo em relação a elas todas,

numa região que

          • não é aquela do falado

          • mas aquela donde se fala.

Ele está na orla do discurso,
na juntura entre

          • aquilo que é dito

          • e aquilo que se diz,

exatamente lá onde os signos
estão em via de se tornar linguagem.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar;
tópico III. A teoria do verbo
por Michel Foucault

Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar

Classificar, portanto,
não será mais
referir o visível
a si mesmo,
encarregando um de seus elementos
de representar todos os outros;

Será
num movimento que faz revolver a análise,
reportar o visível,
ao invisível,
como a sua razão profunda;
depois,
alçar de novo dessa secreta arquitetura,
em direção aos seus sinais manifestos
[as “aparências”]
que são dados à superfície dos corpos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas’;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres
por Michel Foucault

pensamento clássico, antes de 1775
segmento AQUÉM do objeto

o homem está fora da paleta de ideias
no pensamento clássico, o de antes de 1775
era tratado como um gênero, ou uma espécie
do Sistema de Categorias

pensamento moderno, depois de 1825
segmento DIANTE  do objeto

os dois papéis do homem no pensamento moderno,
o de depois de 1825:
a) raiz e fundamento de toda positividade;
b) elemento do que é empírico

O modo de ser do homem,
tal como se constituiu no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está, ao mesmo tempo,

  • no fundamento de todas as positividades,

  • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada, no elemento das coisas empíricas.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cao. 10. As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes

“Assim o círculo se fecha.

Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

Mas que são esses sinais? 

Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,

que há aqui um
caráter

no qual convém se deter,
porque ele indica uma secreta
e essencial semelhança? 

Que forma constitui o signo
no seu singular valor de signo? 

– É a semelhança.
Ele significa na medida
em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude). 

Contudo, 

  • não é a homologia que ele assinala, 

pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; 

  • trata-se de outra semelhança, 

uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. 

De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

  • o signo da simpatia resida na analogia, 
  • o da analogia na emulação, 
  • o da emulação na conveniência, 

que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

  • a marca da simpatia… 

A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

“A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram 

  • (ela analisa por exemplo, para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome e a importância nova dos sistemas de flexão; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função); 

ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

  • (a substituição do discurso pelas línguas, das riquezas pela produção); 

estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras 

  • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia); 

enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável, 

  • mas um espaço feito de organizações, isto é, de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função; 
  • mostrará que essas organizações são descontínuas, que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas são do mesmo nível enquanto outras traçam séries ou sequências lineares. 

 De sorte que se vêem surgir, 

como princípios organizadores
desse espaço de empiricidades, 

a Analogia
e a Sucessão:

de uma organização a outra, o liame, com efeito, 

  • não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos,
  • mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel) 
  • e da função que asseguram; 

ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,

  • não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação,
  • mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões. 

Enquanto, no pensamento clássico,

a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,

doravante

as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia.  (*)

 

 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – II. A prosa do mundo;
tópico II. As assinalações
de Michel Foucault

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
Cap. – VII. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história
de Michel Foucault

A sintaxe que autoriza
a construção das frases
A sintaxe que autoriza a manter juntas,
ao lado ou em frente umas das outras,
as palavras e as coisas

pensamento clássico,
de antes de 1775

pensamento moderno,
de depois de 1825

História entendida como

  • a coleta das sucessões de fatos
    tais como se constituíram.

História entendida como 

  • o modo de ser fundamental das empiricidades,

     

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas, 

    • postas, 

    • dispostas 

    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis

Mas vê-se bem que a História
não deve ser aqui entendida
como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
ela é o modo de ser fundamental das empiricidades,
aquilo a partir de que elas são
afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber
para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas,
seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde,
aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio. 

As palavras as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7. Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Aquém do objeto

espaço geral do saber sob o pensamento filosófico clássico

Diante do objeto

o Triedro dos saberes
exceto as ciências humanas

 Além do objeto

o espaço interno do Triedro dos saberes
– o habitat das ciências humanas –
mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as Ciências Humanas

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

Aquém do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clássico, o de antes de 1775
tempo calendário no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

também Diante do objeto

formulação sim reversível
 e instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

A análise das riquezas, junto com a gramática geral e a história natural, no pensamento clássico- o de antes de 1775, são contrapostas à análise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.

“Nem vida,
nem ciência da vida
na época clássica;
tampouco filologia.

Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral.

Do mesmo modo,
não há economia política

porque, na ordem do saber,
a produção não existe.


Em contrapartida,
existe, nos séculos XVII e XVIII,

uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econômicos

que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.

Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,

que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.


Esse domínio,

solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.

 Inútil colocar-lhe questões
vindas de uma economia de tipo diferente,

organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;

 inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,

com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de riquezas do pensamento filosófico clássico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)

O mínimo que somos chamados a fazer é esclarecer as razões pelas quais o conceito ‘riquezas’ é tão largamente utilizado; e as razões pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao período clássico.

Veja a seguir os pontos:

  • O funcionamento de operações – do pensamento, as de produção, as de troca, antes e depois desse evento fundamental em nossa cultura, antes e depois dele;
  • As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessárias para cada operacionalidade;
  • Os domínios nos quais as operações acontecem, em função da configuração do pensamento;
  • O tempo nas operações em função da configuração do pensamento e da etapa da operação;
  • O lugar dado ao homem em cada configuração do pensamento;
  • Uma Anatomia ou uma Cartografia de modelos de operações em função da configuração do pensamento;
  • Um verdadeiro manual para construção de modelos para qualquer ciência humana, modelos nos quais o campo transcendental da subjetividade foi aberto e foram constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, escrito pelo próprio Michel Foucault
  • Metáforas adequadas para modelos de operações respectivamente para cada configuração do pensamento;
  • Propriedades emergentes dos modelos de operações e organizações em função da configuração do pensamento utilizada.

Veja a relação entre cada formulação de operações e o respectivo perfil de características da configuração do pensamento adotada em cada formulação, na página: 

modelos de operações formuladas para cada configuração do pensamento

clássico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

condições de possibilidade no pensamento

clássico, antes de 1775

moderno, depois de 1825

instanciamento

construção

instanciamento

veja também tópico seguinte, o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.

Note que a amplitude da visão do fenômeno ‘operações’ é muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visão do fenômeno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e também o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua; enquanto que sob o pensamento clássico o fenômeno é visto apenas a partir da fase de instanciamento.

Veja que há uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clássico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.

Certifique-se dessa correspondência visualizando as figuras feitas para os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

a página que o link acima dá acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com

as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ com as duas origens da essência da linguagem (interna e externa), e correspondentes duas possibilidades de análise de valor;

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ‘Trabalho’:
o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

Aquém do objeto
Adam Smith, 1776

Princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das Nações, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

Princípio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

Comparações entre os dois princípios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princípios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparações entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault
A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

Aquém do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clássico, o de antes de 1775
tempo calendário no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

Diante do objeto

formulação sim reversível
e instanciamento de representação existente
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está ao mesmo tempo,

                      • no fundamento de todas as positividades,
                      • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
                        no elemento das coisas empíricas.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
Michel Foucault 

“Na medida, porém, 
em que as coisas
giram 
sobre si mesmas,
reclamando para seu devir
não mais que
o princípio de 
sua inteligibilidade
e abandonando o espaço da representação,
o homem,

por seu turno,
entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Prefácio
Michel Foucault 

Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:

pensamento clássico, o de antes de 1775;

  • a leitura do fenômeno ‘operação’  é feita a partir do ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca (todas as representações são pré-existentes à operação;
  • a formulação da representação é reversível; não há construção de novas representações, e a operação transcorre  no caminho do Instanciamento da representação combinada entre duas representações anteriores pré-existentes;
    • não há construção de representações; 
  • domínio: do Discurso e da Representação;
  • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (estrutura Input-Output)
  • elemento central: Processo
  • tempo: relativo ou tempo calendário sob o deus Cronos
  • ordem: Quadro de simultaneidades com um Sistema de categorias. (pode ser múltipla, e de uso simultâneo).

pensamento moderno, o de depois de 1825;

  • a leitura do fenômeno ‘operações’ é feita em um ponto situado antes do cruzamento  do que é dado e o que é recebido em uma operação de troca; o pensamento é capaz de construir representações novas;
  • caminho da Construção da representação; formulação da representação irreversível; operação ocorre no
    • Lugar do nascimento do que é empírico; com os subespaços:
      • Lugar desde onde se fala: domínio do Pensamento e da Língua;
      • Lugar do falado: domínio do Discurso e da Representação.
    • elemento central: Forma de produção;
    • tempo: absoluto (não relativo e não calendário) sob o deus Kairós;
    • ordem: única, dada pelas regras da gramática da língua utilizada.
    • origens de valor
      • designações primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório
    • caminho do Instanciamento da representação;
      • domínio do Discurso e da Representação;
        • Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas;
      • linguagem de ação ou de uso: Repositório.

Veja isso também na seguinte página:

Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece, em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações.

Os domínios no interior dos quais transcorrem as operações, antes e depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

operação sob o pensamento clássico, antes de 1775

    • operação de construção da representação:
      • inexistente na leitura do fenômeno ‘operações’ feita no pensamento clássico
    • Operação de instanciamento ocorre no circuito das trocas (Mercado),
      • no interior do domínio do Discurso e da representação.

operação sob o pensamento moderno, depois de 1825

    • operação de Construção da representação transcorre no interior 
      do Lugar de nascimento do que é empírico;

um lugar composto por dois blocos em dois domínios diferentes:

      • o domínio do Pensamento e da língua;
        • o Lugar desde onde se fala;
      • o domínio do Discurso e da representação.
        • o Lugar do falado.

 

    • operação de Instanciamento de representação anteriormente construída
      • a operação de troca ocorre no Circuito das trocas (Mercado).
        • no interior do domínio do Discurso e da Representação

Um ‘manual’ para construção de modelos para ciências humanas, por Michel Foucault

O espaço interior
do triedro dos saberes: o habitat das ciências humanas
A classe de modelos das ciências humanas: um modelo composto pelos três pares constituintes
Uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram criados

Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metáfora adequada: transformação única Entradas ⇒ Saídas
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: Permanência
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que é empírico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

Visão da operação clássica
Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informações

A. Pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775

1.   Transformação única, de Entradas Saídas, sobre a estrutura Input-Output, ou um processamento de informações

A metáfora da transformação de Entradas  ⇒ Saídas, sobre a estrutura Input-Output, que dá lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si é válida aqui, e é a famosa caixa preta. 

Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência

Com a opção pela leitura do fenômeno ‘operações’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que é dado com o que é recebido na troca, essa metáfora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e já carregada de valor diretamente atribuído à proposição.

Toda a etapa da construção de representação nova está fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.

Veja aqui em Conceitos homônimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho da Construção da representação
A metáfora adequada às operações no caminho
da Construção de representação
para a empiricidade objeto

B. Pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825

1.  Metáforas no caminho da Construção da representação:
uma Conversão, ou um par de transformações de mesmos sinais

Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • Conversão, de pensamento não articulado em representação.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

  • Primeira transformação:
    • [não – sim] pensamento não-articulado em pensamento sim-articulado;
  • Segunda transformação:
    • [sim – não] representação não-existente para representação sim-existente.

 

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação
Metáfora adequada para operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação:
uma Conversão ou um par de transformações com sinais trocados

2.  Metáforas no caminho do Instanciamento da representação: outra Conversão, ou um par de transformações mas agora de sinais opostos

Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.

Toda a operação pode ser reduzida a uma

  • Conversão,
    • de uma disponibilidade de recursos 
    • para disponibilidade de objeto da produção.

Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:

    • Primeira transformação: [não – sim] Consumo, ou disponibilidade de recursos para indisponibilidade de recursos;
    • Segunda transformação: [não – sim] Produção: indisponibilidade de objeto para disponibilidade de objeto.

Resumo Metáfora adequada para operações e Propriedades emergentes

  • pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775
    • propriedade emergente: Fluxo
    • metáfora adequada: transformação única Entradas ⇒ Saídas
    • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output)
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825;
    • caminho da Construção da representação;
      • propriedade emergente: Permanência
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de mesmo sinal;
      • sistema: absoluto no interior do Lugar de nascimento do que é empírico
    • caminho do Instanciamento da representação
      • propriedade emergente: Fluxo
      • metáfora adequada: Conversão, ou um par de transformações de sinais trocados;
      • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si ou absoluto, dependendo do projeto da operação.

A.  Modelos de operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775

1.  Fluxo na etapa de instanciamento de representação anteriormente formulada reversivelmente

Veja em Funcionamento das operações… a animação sob o título Aquém do objeto. Essa é uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representações existentes. O apontador de início da operação está no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.

Sob o pensamento clássico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:

  • O tipo de pensamento usado tem a impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação – o primeiro obstáculo vislumbrado por Foucault em seu trabalho;
  • Essa impossibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para o cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca, ou o ponto em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estão disponíveis;
    • valor é atribuído diretamente sobre a proposição;
  • A operação pode acontecer no Circuito das trocas já que os objetos envolvidos nesse tipo de operação estão disponíveis; essa operação transcorre inteiramente em um domínio único, o domínio do Discurso e da representação.
  • História, nesse tipo de operações, é entendida como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram.
  • O tipo de propriedades possíveis de serem consideradas na modelagem das operações é propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, que são selecionadas para participar das operações por suas propriedades consistentes com esse tipo, ou por “aparências”.
  • O elemento central desse modelo de operações é ‘Processo’, sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
  • Resta nesse modelo de operações a contabilidade do que se aproxima de uma região do espaço em que ocorrem operações, do que entra nessa região, do que fica nessa região ou que Sai dela. A análise se restringe a esse Fluxo, pela total ausência da noção de objeto definido pelas suas propriedades originais e constitutivas, e pela pressuposição de que tudo existe, desde sempre e para sempre prescindindo assim da noção de sujeito.

Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informações
propriedade emergente FLUXO

1.  Permanência: no caminho da Construção da representação, em uma formulação irreversível.

Veja agora em Funcionamento das operações… a animação sob o título Diante do objeto. A operação modelada é de formulação da representação para empiricidade objeto ainda não representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponível para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, está resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda está indisponível. Para que ele esteja disponível será necessário o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recém criada. Então, a aposta é que essa representação permaneça em um repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, de onde será selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.

  • O tipo de pensamento utilizado tem desta vez a possibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.
  • Essa possibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para antes do ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca, ou para o ponto em que pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca não está disponível;
    • valor carregado pela proposição para a representação tem origem fora da representação e da linguagem:
      • nas designações primitivas;
      • na linguagem de ação ou de uso.
  • A operação transcorre no, ‘ interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico: “Assim como a Ordem no pensamento clássico não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaço próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim também a História, a partir do século XIX, define o lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe é próprio.”
  • História, nesse tipo de operação é o “modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”
  • O tipo de propriedades consideradas na modelagem de operações é propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, exatamente aquele objeto que falta para compor uma operação de troca.
  • O elemento central deste modelo de operações agora é a Forma de produção, em um sistema absoluto no qual “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [o objeto da operação, aquele que falta para compor a operação de troca] assume o ser que lhe é próprio.
  • Nesse modelo de operações a representação (projeto) daquele objeto que faltava para eventual operação de troca é construída e dessa construção de nova representação surgem as propriedades sim-originais e sim-constitutivas que descrevem essa representação construída.

Propriedade emergente PERMANÊNCiA
no caminho da Construção da representação
metáfora adequada Conversão

B.    Modelos de operações sob o pensamento moderno, depois de 1825

 2.  Fluxo: no caminho do Instanciamento da representação:

A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.

A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.

A empiricidade objeto será instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento não muda.

Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e há fluxos vários, que são mostrados na página indicada.

A metáfora adequada às operações
no caminho do Instanciamento da representação
propriedade emergente novmente FLUXO

 

Veja a seguir os pontos:

  • Temos um samba de uma nota só (com três ritmos):
    • unanimidades pelo uso dos conceitos:

Mercado‘, ‘Processo‘, ‘Riquezas;

  • quando poderíamos ter uma sinfonia
    • eliminando a unanimidade pelo não uso dos conceitos:

Lugar de nascimento do que é empírico‘, ‘Forma de produção‘ e ‘Análise da produção‘;

As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso:

  • ‘Mercado’, ‘Processo’, ‘Riquezas’ conceitos de antes da descontinuidade epistemológica e portanto na idade clássica, são campeões de unanimidade pelo uso;
  • e os correspondentes conceitos do após a descontinuidade epistemológica e portanto da nossa modernidade no pensamento, campeões absolutos pelo não-uso: ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, ‘Forma de produção’, ‘Análise da produção unânimes pelo não uso.

“Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 7 – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.

Lugar do nascimento do que é empírico é o lugar onde, “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empíricas] assume o ser que lhe é próprio”.

Veja o modelo de operações – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que é empírico‘ é um lugar, mesmo, e não o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.

É um lugar onde as empiricidades objeto de operações têm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.

modo de ser fundamental de uma empiricidade é aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.

Os detalhes estão a seguir:

“Certamente, para Ricardo como para Smith, 
o trabalho pode realmente 
medir a equivalência das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:”

“Na infância das sociedades, 
o valor permutável das coisas 
ou a regra que fixa a quantidade que se deve dar 
de um objeto por outro 
só depende da quantidade comparativa de trabalho 
que foi empregada na produção de cada um deles.” 

A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    •  não apenas porque este seja representável  em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmente porque
      o trabalho como atividade de produção
      é a fonte de todo valor”.

Já não pode este ser definido, como na idade clássica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras. 

O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto. 
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou, 
ou se, pelo menos, seu valor está em proporção a esse trabalho, 
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante 
e permutável sob todos os céus e em todos os tempos, 
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho. 
E a melhor prova disso está em que o valor das coisas 
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salários 
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.”

Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros, 
os valores realmente têm ainda um poder de representação. 
Extraem esse poder, porém, de outra parte – 
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação 
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.

Enquanto no pensamento clássico 
o comércio e a troca 
servem de base insuperável para a análise das riquezas 
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, 
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),

desde Ricardo, 
a possibilidade da troca está assentada no trabalho; 
e a teoria da produção, doravante, 
deverá sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; 
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenômeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.

Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

Qualquer coisa para a qual for possível estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação à região onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como Saída. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade não-original e não-constitutiva, ou uma “aparência”. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas não são utilizadas.

Veja aqui duas coisas:

“A única coisa que o verbo afirma 
é a coexistência de duas representações: 
por exemplo, a do verde e da árvore, 
a do homem e da existência ou da morte; 
é por isso que o tempo dos verbos 
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, 
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III.  A teoria do verbo

para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clássica, veja na página sobre o funcionamento das operações, as animações sobre o tempo nos dois períodos, e associe o tempo ‘calendário’ à parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos. 

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica; 
tampouco filologia. 
Mas sim uma história natural, uma gramática geral. 
Do mesmo modo, não há economia política 
porque, na ordem do saber, 
a produção não existe. 
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII, 
uma noção que nos permaneceu familiar, 
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial. 
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito, 
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econômicos 
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral: 
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada, 
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais, 
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.

Esse domínio, 
solo e objeto da “economia” na idade clássica, 
é o da riqueza.

Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente, 
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos 
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram, 
com alguma analogia de sentido), 
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.” 

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; 
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas

Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de valor do pensamento filosófico anterior, o clássico, de antes de 1775.

 

Veja novamente a animação central sob o título ‘Diante do objeto’ na página

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenômeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação está em desenvolvimento e que, futuramente, poderá ser levada ao circuito das trocas.

O Lugar de nascimento do que é empírico compreende dois sub-espaços:

  • o Lugar desde onde se fala, no interior do domínio do Pensamento e da Língua;
  • e o Lugar do falado, no interior do domínio do Discurso e da Representação.

É parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaço das representações, no interior do domínio do Discurso e da Representação.

É assim que funciona o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.

A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:

“É preciso, portanto, 
tratar esse verbo como um ser misto, 
ao mesmo tempo 
palavra entre as palavras, 
preso às mesmas regras, 
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância; 
e depois
em recuo em relação a elas todas, 
numa região que não é aquela do falado 
mas aquela donde se fala. 
Ele está na orla do discurso, 
na juntura entre aquilo que é dito 
e aquilo que se diz, 
exatamente lá onde os signos 
estão em via de se tomar linguagem.” 
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
 Cap. IV – Falar; tópico III.  A teoria do verbo

Veja agora que esse verbo está postado na região ‘desde onde se fala’, um sub-espaço do ‘Lugar do nascimento do que é empírico’, e no interior do domínio do Pensamento e da Língua, onde a articulação com o impensado pode ter início para uma representação ainda não existente, – e não na região do falado, esta no interior do domínio do Discurso e da Representação. Foucault é preciso a esse respeito: ‘Ele está na orla do discurso, na juntura…’

Veja a página

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho: o de Adam Smith e o de David Ricardo, de 1817

Nessa mesma página, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.

A animação central da página Funcionamento… com o título ‘Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda não representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponível em uma operação de troca já descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.

Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:

  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
    não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho,
    mas primeiro e fundamentalmente
    porque o trabalho como atividade de produção
    é “a fonte de todo valor”.

Tudo o que está representado na página Funcionamento… na animação central ‘Diante do objeto’ está completamente fora do pensamento que pensa operações no cruzamento do que é dado e o que é recebido.

Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação está fora do modo como operações são vistas como fenômeno.

Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.

O pensamento clássico, aquele que dispunha da História natural, da Análise das riquezas e da Gramática geral, fazia a Análise das riquezas.

O pensamento moderno efetua em seu lugar, a Análise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clássico, a Análise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.

  • modelos com estrutura clássica
    • o modelo descritivo de operações de produção de Elwood S. Buffa;
    • o Diagrama FEPSC(SIPOC)/Six Sigma;
    • os modelos na visão contábil-financeira:
      • de operações (Débito/Crédito)
      • e de organização (Ativo – Passivo – Resultados) ;

  • modelos com estrutura moderna
    • o modelo descritivo de operações de produção do Kanban;
    • o modelo expresso na Figura 7.1 – mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, de Michael Hammer;

  • modelos com estrutura moderna
    • o triedro dos saberes;
    • o espaço interior do triedro;
    • o uso dos pares de modelos constituintes, inclusive fora do domínio próprio.

Tópico V. Psicanálise e etnologia, do Cap. 10 – As ciências humanas,
do livro As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas

Um exercício de uso do modelo composto característico das ciências humanas,
uma combinação dos pares constituintes das ciências 

  • da Vida (Biologia) [função-norma]; 
  • do Trabalho (Economia) [função-norma]; 
  • da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]

além do conhecimento do papel dessas duas ciências em nossa cultura.

“A psicanálise e a etnologia ocupam, no nosso saber, um lugar privilegiado. 

Não certamente 

  • porque teriam, melhor que qualquer outra ciência humana, embasado sua positividade e realizado enfim o velho projeto de serem verdadeiramente científicas; 

antes porque, 

  • nos confins de todos os conhecimentos sobre o homem, elas formam seguramente um tesouro inesgotável de experiências e de conceitos, mas, sobretudo, um perpétuo princípio de inquietude, de questionamento, de crítica e de contestação daquilo que, por outro lado, pôde parecer adquirido. 

Ora, há para isto uma razão que tem a ver com o objeto que respectivamente cada uma se atribui, mas tem mais ainda a ver com a posição que ocupam e com a função que exercem no espaço geral da epistémê. 

A psicanálise, com efeito, mantém-se o mais próximo possível desta função crítica acerca da qual se viu que era interior a todas as ciências humanas.

Dando-se por tarefa fazer falar através da consciência o discurso do inconsciente, 

a psicanálise avança na direção desta região fundamental onde se travam as relações entre a representação e a finitude. 

Enquanto todas as ciências humanas

  •  só se dirigem ao inconsciente virando-lhe as costas, esperando que ele se desvele à medida que se faz, como que por recuos, a análise da consciência, 

já a psicanálise 

  • aponta diretamente para ele, de propósito deliberado – 
    • não em direção ao que deve explicitar-se pouco a pouco na iluminação progressiva do implícito, 
    • mas em direção ao que está aí e se furta, que existe com a solidez muda de uma coisa, de um texto fechado sobre si mesmo, ou de uma lacuna branca num texto visível e que assim se defende. 

Não há que supor que o empenho freudiano seja o componente de uma interpretação do sentido e de uma dinâmica da resistência ou da barreira; 

  • seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas, 

mas com o olhar voltado em sentido contrário, 

  • a psicanálise se encaminha 

em direção ao momento –inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem, a toda apreensão contínua em termos 

        • de significação
        • de conflito 
        • ou de função

– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem. 

Isto quer dizer que, 

  • ao contrário das ciências humanas que, 
    • retrocedendo embora em direção ao inconsciente, 
      • permanecem sempre no espaço do representável, 
  • a psicanálise 
    • avança para transpor a representação, extravasá-la do lado da finitude
    • e fazer assim surgir, lá onde se esperavam 
      • as funções portadoras de suas normas
      • os conflitos carregados de regras 
      • e as significações formando sistema
    • o fato nu de que pode haver 
      • sistema (portanto, significação), 
      • regra (portanto, oposição), 
      • norma (portanto, função). 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso, à margem dela mesma, aberta, de certo modo ao fechamento da finitude, desenham-se as três figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funções e suas normas, vem fundar-se na repetição muda da Morte, 
  • os conflitos e as regras, na abertura desnudada do Desejo, 
  • as significações e os sistemas, numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei. “

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. X – As ciências humanas;
tópico V – Psicanálise, etnologia 

A figura da Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica parte de duas ideias:

  • a ideia de que cada objeto demanda operação específica para ele;
  • a ideia de que não é possível a obtenção de um objeto (produto) sem dispor de um instrumento (laboratório, área de desenvolvimento, fábrica). Claramente não temos acesso à Varinha Mágica de condão de Merlin, o Mago, instrumento habil para instanciar qualquer objeto.
    • pensar na obtenção do objeto sem o respectivo instrumento é semelhante a pensar magicamente;
    • o pensamento conjunto dos dois objetos, o produto e a fábrica, reduz a qualidade dos modelos de operações;
    • a Visão SSS permite a modelagem do Nexo da produção.

Essa ideia está embutida na Figura 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, basta analisar tendo em mente as condições de possibilidade no pensamento daquela figura.

Veja também



  • Sistema Formulador – uma alteração no modelo de dados clássico de um SDGP – Sistema Dedicado à Gestão de Projetos  – como o MS Project 4.0 por exemplo, fazendo com que ele passe a funcionar a partir de banco de dados 9com a linguagem de uso) e com um modelo sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto que se pretende concretizar.

Partindo dos dois obstáculos, ou as duas pedras de tropeço que Foucault declara ter encontrado em seu trabalho, traçamos – usando apenas interpretação de texto – um espectro de produções do pensamento, teorias, modelos e sistemas, com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto.

Da forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura no depois da descontinuidade epistemológica, vemos que o pensamento funciona organizado em torno do par sujeito-objeto. Mudando o objeto, muda a operação que pode ou não ser conduzida por um sujeito diferente, mas com um sujeito a conduzi-la.

Aplicando esse elemento organizador par sujeito-objeto às operações em organizações, vê-se que já existem operações e organizações organizadas com esse critério: o modelo descritivo da produção do Kanban, e a Fig. 7.1 Mapa de processos da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, são exemplos.

Se examinamos mais de perto este último exemplo, veremos que há dois pares sujeito-objeto incluídos nesse mapa – segundo Hammer, de ‘processos’ (ele não conseguiu se livrar dessa unanimidade mesmo mapeando claramente Formas de produção e não processos.

A Visão SSS resume-se a respeitar a relação um objeto – um modelo de operações. E isso leva a uma organização SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica que torna evidente o nexo da produção.

  • a) Canal Inconsciente Coletivo, vídeo Jorge Forbes: estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos, de 28/07/2020;

  • b) Canal Falando Nisso, vídeo 150 – Signo, significação e significado de 08/10/2017;

  • c) Canal Falando, Nisso vídeo 254 – Neoliberalismo e sofrimento, de 31/08/2019;

  • d) Canal Quem Somos Nós? – vídeo Desigualdade: Concentração de renda com Eduardo Moreira;

  • e) Canal Monica de Bolle, vídeo 31 – Imaginando o “Novo Normal”;

  • f) Canal Monica de Bolle, vídeo 32 – O “Novo Normal”: Bens Públicos”;

  • g) Canal Inconsciente Coletivo – vídeo Ivaldo Bertazzo, que testou positivo para o Covid-19: “o grande problema do corpo é o medo”, de 12/08/2020.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Introdução do vídeo: ‘O mundo de hoje é parecido com o de ontem, apenas na fotografia!’
  • Direcionamento do pensamento: ao intangível, ou ao impensado? 
  • Relação com o intangível
  • Jorge Forbes: Entrevista ao canal Inconsciente coletivo em 28/07/2020: “estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos”
  • O incômodo de Jorge Forbes com a noção de ‘norma’ e o modelo composto padrão e genérico, constituinte das ciências humanas em geral, todas elas, proposto por Michel Foucault. 
  • Sobre as qualidades de terra1 e terra2 (rótulos dispensáveis se significar pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, e pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825, segundo Michel Foucault. 
  • Freud explica ⇒ Freud implica: uma frase de efeito que depende de qual seja a configuração do pensamento sob a qual é proferida; 

Meus comentários usando o pensamento de Michel Foucault:

Veja também 

Reflexões imaginativas >

O fenômeno das operações; o tempo, uma Anatomia ou Cartografia dos modelos; Metáforas adequadas para modelos de operações; Propriedades emergentes em função das configurações do pensamento >

As paletas de ideias, e respectivos elementos de imagem, necessárias para cada operacionalidade

Claramente a determinação ou não dessa parecença depende do modo como você olha para a fotografia, ou seja, com que recursos de pensamento faz isso. E o que procura na fotografia, com o seu olhar.

Ivaldo Bertazzo ensina que a gente olha e ouve o que nos chega do mundo sempre de acordo com o mesmo padrão.

E há mais do que um padrão que pode ser usado para absorver o que nos chega do mundo.

Michel Foucault, olhando para o estado em que ele percebia encontrar-se a nossa cultura, e adotando a estratégia de questionar não diretamente as teorias, modelos e sistemas mas as condições de possibilidade destes no pensamento, viu modelos com e modelos sem a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto do pensamento) no espaço da representação. Ele estava questionando as condições de possibilidade do pensamento, evidentemente.

E ele foi além disso: viu o imperativo de que todo o campo das ciências humanas fosse configurado tendo como pressuposto a constituição do que ele chama de os ‘quase-transcendentais’ Vida, Trabalho e Linguagem, podendo então identificar um modelo composto padrão e genérico para todas as ciências humanas nesse espaço, a partir de modelos constituintes das três ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida (Biologia) [função-norma], do Trabalho (Economia política) [conflito-regra] e da Linguagem (Filologia) [significação-sistema]. 

Vê-se que dessa percepção de Foucault é possível vislumbrar um espectro de modelos em nossa cultura. Esse espectro tem três segmentos:

AQUÉM, DIANTE e para ALÉM do objeto (e do sujeito)

Pouca gente vê isso, mas você pode ver adiante neste trabalho.

Mas, olhando para a fotografia de hoje com os padrões que usamos ontem e desde sempre, fica estabelecida uma semelhança pela intermediação do padrão utilizado. Se é o padrão de sempre, as diferenças porventura existentes, causadoras de diferenciações, mas aparentes somente sob outro padrão, não aparecem.

Sempre é necessário percebermos quais são os critérios dos quais se compõe o modo como olhamos para o mundo. Dependendo do que surge dessa procura daquilo que integra nossos padrões, pode ser que percebamos que ocorreram, sim, mudanças que nos passaram despercebidas; e mudanças de tal monta que sim, foram revoluções, mas localizadas no passado, e hoje já distante.

Mas que a gente possa manter um savoir faire – um saber fazer, numa relação da harmonia do homem agora não mais com a natureza, não mais com os deuses, não mais com a razão, mas com o intangível. Então, nesse intangível, isso me leva a pensar numa ética – em dois tempos para cada um – de inventar uma surresposta singular da sua intangibilidade, e de colocá-la no mundo (que é o que faz o artista); não é? um Van Gogh vê um girassol que só ele viu – ele inventou um girassol – e inscreveu esse girassol no mundo.

Esse ‘savoir faire’ parece-me que seja a boa e antiga de dois séculos ‘Forma de produção’ de David Ricardo

Desde logo esse ‘savoir faire‘ é interessante porque me dá a oportunidade de, ao invés da tradução óbvia ‘saber fazer‘, optar por traduzir essa ideia como ‘forma de produção‘ como a maneira encontrada para fazer aquilo que sei fazer; e se fizer isso guiado pela ideia por trás do nome, estarei usando justamente o nome dado por David Ricardo, em 1817, para o elemento central do seu modelo de operações que, segundo Foucault, ele publicou com o nome de Princípio Dual de Trabalho (e é interessante descobrir por que esse ‘dual’ no nome do principio.

O pensamento bem frequentemente consegue dar conta do ‘impensado’, mas ao contrário, o ‘intangível’ permanece tal e qual na maioria das vezes.

Desde logo, estabelecer um saber fazer voltado ao intangível – o que quer que essa palavra signifique neste contexto – é organizar “a relação da harmonia do homem não mais com a natureza, os deuses, a razão”, mas levando em conta, agora, o objeto, um objeto definido como ‘intangível’, aquela coisa que não se pode tocar, parece que seja um grande passo adiante. 

Veja que toda a mecânica celeste funciona perfeitamente e artefatos são colocados em órbita e chegam sem acidentes a outros planetas, e em sua grande maioria todos permanecem intangíveis – no sentido original da palavra ‘intocáveis’ – depois de estudados. Mas todos deixam de ser impensados. E graças a um pensamento organizado pelo par sujeito-objeto.

Pensando em um buraco negro, e nas teorias da relatividade que ajudam a compreendê-los, não se pode dizer que eles, buracos negros – e outros entes cósmicos – de alguma forma possam tornar-se tangíveis. Mas a ciência os converte de ‘impensados’ cada vez mais em ‘pensados’. E essa conversão faz mais sentido do que a proposta por Forbes de intangíveis para tangíveis. Até mesmo no caso do Sars Cov-2.

Seja com ‘intangível’ seja com ‘impensado’, mas o pensamento proposto é voltado para o objeto, o que já é um grande passo”

Mas, porém, todavia, contudo, o direcionamento do pensamento para o que seja ‘intangível’ já requer uma alteração radical na configuração do próprio pensamento: para um pensamento definido com relação a um determinado objeto, – embora um objeto genérico; isso porque exige um pensamento sim-discriminativo com relação ao objeto escolhido e seus elementos componentes, em contraposição a um pensamento indefinido porque não-discriminativo com relação a qualquer objeto como é (sim, é, porque ainda agora, muito usado entre nós) o pensamento terra1 – como diz Forbes, voltado aos transcendentais natureza, deuses, razão.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura desde o início do século XIX

Na filosofia de Michel Foucault, pensando em David Ricardo na economia política, Franz Bopp na Filologia, Georges Cuvier na Biologia, o pensamento volta-se para o impensado em vez de para o intangível.

Instaura-se
uma forma de reflexão, 

bastante afastada 
do cartesianismo 
e da análise kantiana, 
em que está em questão, 
pela primeira vez, 
o ser do homem, 
nessa dimensão segundo a qual 
o pensamento 
se dirige ao impensado 
e com ele se articula. 

Isso tem duas conseqüências.”

 (…) 

“A outra consequência é positiva. 
Concerne à relação 
do homem 
com o impensado, 
ou mais exatamente, 
ao seu aparecimento gêmeo 
na cultura ocidental.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado

Veja a forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura quando mudança como essa foi realizada:

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

Essa mudança no modo de organização do pensamento aconteceu, segundo Foucault, entre 1775 e 1825, nos cinquenta anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX (vinte e cinto anos para cada lado). Grosso modo há dois séculos; mudança bem mais recente do que os 28 séculos atrás em que  Forbes posiciona o evento marcador antecedente da revolução que aponta também nos laços sociais.

A mudança em decorrência dessa forma de reflexão

Trata-se de uma mudança com a seguinte natureza:

  • de operações organizadas por uma (ou pode ser mais de uma) Ordem(ns) arbitrariamente escolhida(s) nas quais o homem era tratado como um gênero, ou uma espécie integrando uma das categorias do sistema de categorias clássico; 
  • para operações organizadas pelo par sujeito-objeto em uma ordem única dada pelas regras da gramática da língua, usando o bloco padrão construtivo genérico para construção de representações proposição. 

A primeira consequência evidente é que não é mais possível modelar operações, empresariais ou outras, usando a metáfora da transformação única de Entradas  Saídas ou do processamento de informações sobre a estrutura Input-Output cujo sistema é relativo, de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si. Veja que o elemento central desse modelo, Processo, tem a natureza de um verbo, e note que há dois conceitos para o que seja um verbo, e esse de um sistema relativo, etc. etc. é o primeiro que transcrevo a seguir.

“A única coisa que o verbo afirma, é a coexistência de duas representações; por exemplo, a do verde e da árvore, a do homem e da existência ou da morte. É por isso que o tempo dos verbos não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências  humanas; Cap. 4 – Falar; tópico III. A teoria do verbo 

A segunda consequência é que partindo do conhecimento de que usualmente operações são modeladas sobre a estrutura Input-Output, e isso não é mais adequado, é preciso encontrar um outro padrão, um outro modelo. Isso é necessário para que operações em organizações reais sejam modeladas convenientemente.

E esse outro modelo é consistente não mais com o pensamento de Adam Smith (Processo, estrutura Input-Output) mas sobre o pensamento de David Ricardo e seu Principio Dual de Trabalho, cujo elemento central é o ‘savoir faire’ ou a forma de fazer, com o nome de Forma de produção.

Veja as seguintes páginas, comparando:

Modelos construídos dentro desse padrão: 

Veja, o que gera uma vacina para o Sars-Cov-2 é uma operação na qual o pensamento do cientista que, tendo em vista os aspectos ainda impensados, porque não pensados, desse vírus, desencadeia uma operação no seguinte formato:

  • coloca-se como sujeito de uma operação científica na qual
  • o vírus é o atributo do predicado do cientista sujeito dessa operação, e assim é o objeto da operação da ciência,
    • que funciona à luz do que se sabe sobre vacinas
    • e sobre sistema imunológico humano, entre outros saberes.

Essa operação científica considera entre outras coisas o que a ciência sabe sobre vírus em geral e o Sars-Cov-2 em particular. 

Tangibilidade ou intangibilidade são qualidades, aparências, ou propriedades não-originais e não-constitutivas desse vírus. O impensado, ao contrário, toma o objeto dessa operação de conhecimento por inteiro, mesmo que de início, não haja qualquer propriedade sejam as não-originais e não-constitutivas sejam as sim-originais e sim-constitutivas.

O interesse da ciência é pelas propriedades sim-originais e sim-constitutivas desse vírus, que são essas que podem levar a conquistas como por exemplo, uma vacina. E encontrar esse conjunto de propriedades é o que converte o impensado em representação. 

Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura no pensamento filosófico de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,’ o ser do homem’ não se dirige ao intangível!  

Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.

Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)

Ao contrário do impensado, que mediante articulação feita pelo pensamento e patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação (e a vacina!), o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.

Há uma confusão entre os vocábulos intangível e impensado. 

Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em   

Os  perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Michel Foucault:
e Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento

Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

Veja em imagens 

Os dois conceitos filosóficos para o que seja Trabalho, o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, de 1817; veja também as diferenças entre esses dois conceitos, nas palavras de Michel Foucault

que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.

Esse título faz alusão a uma revolução nos laços sociais única – pelo seu tamanho, porque a maior – nos últimos 2800 anos. E nos laços sociais.

Volto ao redirecionamento da ‘harmonia do homem’ desde os transcendentais natureza, deuses, razão, para o intangível como diz Forbes. Se o argumento que fiz acima, a substituição do ‘intangível‘ pelo ‘impensado‘ for aceito – ao menos para efeito deste texto, essa revolução a que o título alude já ocorreu, e há exatos 203 anos. E teve exatamente a mesma intenção, atingiu ‘os laços sociais’ e todas as áreas do conhecimento humano. E mais, marcou a entrada de nada mais nada menos do que o homem em nossa cultura.

Não foi pouca coisa.

Esse título, com a afirmativa nele expressa, parece conter em seu significado, um descarte histórico desse evento que tem, na avaliação de Michel Foucault, o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento; e um desconhecimento do modo como se alterou ao longo do tempo o modo de ser fundamental do pensamento e suas condições de possibilidade, em nossa cultura em tempo muito mais próximo de nós que os 28 séculos. 

Gostaria que Jorge Forbes relesse sobre isso na minha Cartilha – o livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, desse autor. 

Forbes alude a um movimento do pensamento que parte dos transcendentais natureza, deuses, razão e chega ao intangível.

Foucault fala de um outro movimento que identifica modelos feitos por um pensamento postado AQUÉM do objeto – referido à Ordem arbitrariamente escolhida em que vige um sistema de categorias, para por um pensamento DIANTE do objeto no qual a ordem é dada pelas regras da gramática da língua usada, e chega a um pensamento para ALÉM do objeto em que encontramos constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, e não múltiplas categorias mas três somente: função-norma; conflito-regra, significação-sistema. 

Tendo em mente especificamente a mudança proposta por Forbes para um pensamento voltado a um objeto ‘intangível’, e tendo consciência de que isso resulta em um certo esforço do pensamento e além disso, um pensamento organizado por esse objeto ‘intangível’ escolhido, exatamente essa alteração – modelos organizados pelo objeto – aconteceu em nossa cultura em um espaço de tempo muito menor, pouco mais de dois séculos atrás em vez dos 28 séculos mencionados por Forbes.

Nesse meio tempo, e por falar não em revoluções mas em descontinuidades epistemológicas em nossa cultura, podemos ver esse evento em nossa cultura na página seguinte.

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825

Essa mudança no pensamento exigiu uma forma de reflexão também nova. Segundo Michel Foucault, essa mudança ocorreu em um movimento do pensamento muito mais recente e importante que surgiu em momento muito mais próximo do nosso tempo. Veja essa forma de reflexão associada a uma imagem para o conceito, que torna aparentes os elementos de imagem utilizados, a estrutura que ocupam e os relacionamentos que estabelecem.

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura, segundo Michel Foucault

E os efeitos de tal movimentação das positividades umas em relação às outras pode ser constatado nas produções do pensamento efetivamente feitas e utilizadas em teorias, modelos e sistemas existentes e muito utilizados. Essa mudança não ficou apenas no pensamento teórico mas atingiu a prática, embora não tenha sido avaliada de maneira alinhada com o pensamento filosófico.

A página a seguir mostra:

  • os dois perfis do pensamento antes e depois desse evento segundo Foucault fundador da nossa modernidade no pensamento  expressos por suas características de características, ou pelos respectivos referenciais, princípios organizadores e métodos;
  • esses elementos nas palavras de Foucault;
  • os modelos de operações possíveis com um e outro desses perfis;
  • as grandes áreas do pensamento possíveis antes e depois desse evento;
  • e a Forma de reflexão que se instaura depois desse evento

Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo Michel Foucault; (…) Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento (…) a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

Esse título do vídeo da entrevista de Jorge Forbes imediatamente me lembra do movimento Reengenharia, e da capa do livro de mesmo nome de Michael Hammer “– Esqueça o que você sabe sobre como as empresas devem funcionar: quase tudo está errado” trombeteava ele. Seja em Hammer, ou em Forbes, nos dois casos havia e há, a denúncia, como se atual fosse, de uma revolução já ocorrida em passado nem tão remoto. Em termos históricos, foi ontem.

A Cartilha mostra como e por que isso é verdade.

Se estou entendendo o que ele chama de ‘época anterior’, ou terra1 isso já tem um nome: idade clássica ou pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo a Cartilha. E chamado por esse nome, suficiente, podemos prescindir do nome fantasia terra1. 

Usando ‘pensamento filosófico clássico’ podemos fazer o relacionamento com o modo de ser do pensamento de autores importantes desse período – a virada dos séculos XVIII para o XIX, como Adam Smith, John Locke, Jeremy Bentham, etc.  E usando a contraparte ‘pensamento moderno’ – que possivelmente Forbes chamará de terra2 igualmente sem necessidade e com desvantagens – podemos estabelecer relações com pensadores como David Ricardo, Franz Bopp, Georges Cuvier, Sigmund Freud, John Maynard Keynes, entre muitos outros.

“Me incomoda a noção de norma no sentido de que você sai de um laço social 

estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado

que são algumas das características que eu entendo da época anterior que eu chamo de terra1. 

Eu chamo de terra1 toda organização, todo laço social vertical – independente do que esteja, na verticalidade, no ponto da transcendência, esteja (como esteve durante muitos séculos) primeiro a natureza, depois  os deuses, depois a razão. As transcendências mudam mas a estrutura arquitetônica arquitetural vertical se manteve. Então eu entendo que há uma revolução monumental neste momento, sobre 2800 anos de história, em que nós saímos de uma forma de nos comportarmos verticalmente e temos a chance de nos comportarmos horizontalmente; o que implica em que nós temos a chance de viver num laço social flexível, criativo, múltiplo, responsável, – responsável antepõe responsabilidade e disciplina – (…) Então você tem um laço social de características, como eu disse, 

colaborativo, múltiplo, reticular, flexível, criativo, [responsável]; 

e eu acho que o interessante quando nós sairmos dessa pandemia, é nós guardarmos um aspecto dela, que é a relação do homem com o intangível.

 Ref. Jorge Forbes, em Estamos vivendo a maior revolução dos laços sociais dos últimos 2800 anos do canal Inconsciente coletivo.

Neste comentário, faço uso, claro, do meu particular e pessoal entendimento do pensamento de Michel Foucault, e afirmo: 

1. que no que Forbes chama terra2 – (entendido como a configuração moderna do pensamento, o de depois de 1825, como aquilo que sucede e substitui, se opondo, ao pensamento ‘anterior’), ‘hierarquia’ é uma estrutura intrínseca e inseparável do resultado de uma operação de construção de representação nova, porque é uma estrutura ligada ao resultado (uma representação) dessa operação sempre organizada pelo par sujeito-objeto, com princípios organizadores Analogia e Sucessão e com os métodos Análise e Síntese;

e no entanto a qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento em terra1 (entendido agora como o pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, o que Forbes chama de ‘anterior’). 

Dado que no pensamento clássico não existem as noções de objeto (noção à qual a ideia de hierarquia está ligada em um modelo de operações) e de sujeito (homem), essa qualidade atribuída a terra1 deve estar referida a outra coisa que mereça esse atributo, mas que não está clara no texto, e valeria a pena esclarecer o que seja que tem essa qualidade. 

2. que o incômodo de Forbes com a ‘norma’ – se aplicada a terra2 com o entendimento acima, e usando aquilo que consigo apreender do pensamento de Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, – sugere uma simplificação em dose dupla.
 
  • A primeira simplificação: 

norma é um dos modelo constituintes das ciências humanas que juntamente com função, compõe o par constituinte da ciência da Vida, a Biologia no período moderno do pensamento e no segmento do espectro de modelos para ALÉM do objeto.

  • A segunda simplificação: 

há outros dois pares de modelos constituintes no modelo constituinte padrão, genérico para todas as ciências humanas, a saber

        • conflitoregra, o par constituinte da ciência do Trabalho (Economia política); e
        • significaçãosistema, o par constituinte da ciência da Linguagem, (Filologia). 

A descrição feita por Michel Foucault desse  modelo constituinte padrão e genérico, composto dos pares constituintes das ciências que habitam a região epistemológica fundamental, e o eixo vertical do Triedro dos saberes:

        • ciência da Vida (Biologia), par constituinte [funçãonorma];
        • ciência do Trabalho (Economia política), par constituinte [conflitoregra];
        • e ciência da Linguagem (Filologia), par constituinte [significaçãosistema],

acaba sendo quase que um manual para formulação de teorias, modelos e sistemas nesse campo, e por isso faço este comentário.

Portanto este comentário vai a seguir em dois pontos:

  • 1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2; 

  • e 2. Quanto ao incômodo com a ‘norma’

  • e ao final, o que eu chamo de um Manual (em uma animação ilustrada) para o projeto e uso de modelos no campo das ciências humanas, usando diretamente as palavras de Michel Foucault

1. Quanto às qualidades atribuídas a terra1 e terra2

Note que as características tanto em terra1 quanto em terra2 são dadas no excerto acima, e nos dois casos, por qualidades dos laços sociais.

Tomando terra1 como sendo a configuração do pensamento filosófico no período clássico, nesse período o pensamento funciona com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as aparências, estas, qualidades. Para o pensamento assim configurado não existem a noção de homem como ser capaz de desempenhar uma duplicidade de papéis, e a noção de objeto.

O elenco de qualidades atribuídas ao laço social – estandardizado, padronizado, rígido, hierárquico, linear, focado – pode ser objeto de reflexão interessante. 

A qualidade ‘hierárquico’ está atribuída ao pensamento terra1 que eu, aqui, presumo que se refira ao pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 segundo Foucault. 

Tomando posição em terra2, que eu presumo referir-se ao pensamento moderno, o de depois de 1825 segundo Foucault, essa qualidade ‘hierárquico’ seria dada por uma estrutura de conformação definida no objeto, uma hierarquia.

Enfatizando, no pensamento moderno os princípios organizadores de uma operação no caminho da Construção de representação nova são Analogia e Sucessão com os métodos Análise e Síntese

 “De sorte que se vêem surgir, 
como princípios organizadores desse espaço de empiricidades, 
Analogia e a Sucessão
de uma organização a outra, 
o liame, com efeito, não pode ser mais a identidade de um ou vários elementos, 
mas a identidade da relação entre os elementos 
(onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; (…) 

Cartilha; Cap. 7. Os limites da representação; tópico I. A idade da história

Tomemos (ainda posicionados em terra2!) um ‘impensado’ em Foucault ou um ‘intangível’ em Forbes; não existe representação para isso – ou não seria um impensado ou um intangível no domínio de trabalho. Por isso, se for feita a decisão de resolver essa situação de intangibilidade ou não representatividade, esse ‘impensado’ será objeto em uma operação de construção de uma representação. 

O pensamento converte o impensado em representação.

Aquilo que antes dessa operação era o ‘impensado‘ de Foucault, depois dessa operação de construção de representação nova – conduzida em cada etapa pelo sujeito – nada mais será do que um pacote logicamente organizado de objetos análogos ao impensado e seus aspectos, objetos esses adotados em seu conjunto como substitutivos – dentro de certos critérios de aceitação – daquele ‘impensado’ para o qual não havia representação no espaço no qual a operação acontece. 

O princípio organizador do pensamento Analogia estabelece relações de analogia das quais surgem objetos análogos ao impensado mais representáveis. Usando como diz Foucault ‘a sintaxe que autoriza a construção das frases’, esse objeto análogo é arrastado para o modelo de operações construído segundo as regras da linguagem por meio de uma proposição na qual o homem é sujeito, e o predicado do sujeito é composto por um verbo – a forma de produção, e um atributo, o objeto análogo que acaba de ser criado na relação de analogia. Agora cada um desses objetos análogos são testados quanto às respectivas possibilidades de representação nesse espaço em que a operação acontece. Caso necessário, o método Análise entra em cena e quebra cada objeto análogo eventualmente ainda não representável em outros objetos análogos mais próximos de suas respectivas possibilidades de representação nesse espaço; e o método Síntese garante que o objeto análogo inicial ainda pode ser composto pelo conjunto de objetos análogos resultantes da Análise.

Aí entra o princípio organizador Sucessão. Usando como diz Foucault ‘aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas ao lado e em frente umas das outra, as palavras e as coisas‘, a Sucessão posiciona ao lado, ou em frente uns dos outros, os objetos análogos criados em substituição ao objeto análogo não representável, estabelecendo entre eles relações lógicas – de sucessão. 

Você pode ver isso em uma animação nesta página, sob DIANTE do objeto. Se necessário, posso dar mais detalhes sobre como isso funciona.

Nota: essa descrição do funcionamento de uma operação de construção de representação para algo antes impensado não explica suficientemente o ‘laço social’, mas podemos chegar lá.

Continuando. Assim, supondo que terra2 seja de fato o que eu estou pensando que é, o pensamento filosófico moderno – o de depois de 1825, como diz Foucault ‘aquele [pensamento] com o qual queiramos ou não, pensamos‘, então, hierárquico é uma qualidade intrínseca a esse tipo de pensamento, terra2, desde que entendido como referente ao objeto. Como humanos não nos é possível construir representação para qualquer ‘impensado’ sem que o resultado seja um objeto expresso por uma representação com uma estrutura em hierarquia.

Fechando o longo parênteses, e voltando ao ponto, supondo que terra1 seja de fato o que penso que é, – o pensamento filosófico clássico.

Em assim sendo, a noção de impensado cuja representação é construída pelo pensamento, nesse tipo de pensamento, não existe. Porque não existe a noção de objeto e também não existe a noção de sujeito da operação, como o homem, que seria capaz de construir representação nova. O homem está fora da paleta de ideias no pensamento clássico. ‘Antes do final do século XVIII o homem não existe em nossa cultura. Não mais do que um gênero, ou uma espécie’ é o que nos alerta Foucault.

Logo, nesse tipo de pensamento, sem a noção de objeto prima irmã da noção de hierarquia, a qualidade ‘hierárquico’ deve referir-se a outra coisa que não o objeto. Então o que é danoso, prejudicial, e justifica mudanças é essa outra coisa que está associada a essa qualidade ‘hierárquico’, e que vista mais de perto, não pertence a esse pensamento. 

E essa coisa não é declarada por Forbes, o que poderia gerar confusão.

Mas a palavra hierarquia é muito usada, e mesmo em terra1; as organizações foram bem ou mal se organizando e apresentando problemas. Sem atentar para que tipo de pensamento estavam usando. E aí, por diferentes razões, alguns autores passaram a demonizar a organização hierárquica sem dizer especificamente o que estavam demonizando. Isso sem noção de que a estrutura hierárquica é inerente, indissociável, ao pensamento moderno, e às operações que transcorrem organizadas sob essa configuração do pensamento.

Então, se estou sendo entendido, hierárquico em terra1, nada tem, nem pode ter, a ver com o objeto de operações sob o pensamento moderno que terminam construindo representações novas. E o pensamento voltado para o ‘intangível’ de Forbes ou ‘impensado’ de Foucault não pára de pé sem o objeto e sem o sujeito; e portanto necessariamente com a qualidade ‘hierárquico’ que em Forbes está posta em terra1.

Pode haver confusão aí, demonizando a hierarquia, o que, em se tratando de pensamento moderno (terra2) em qualquer caso, é na verdade é uma missão impossível. 

Obviamente não sei como essa qualidade afeta o laço social descrito por Forbes, mas posso ver com alguma clareza como essa qualidade afeta a estrutura do pensamento nas operações sob o pensamento filosófico moderno, no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. E a hierarquia é característica integrante e indissociável do resultado nessa configuração do pensamento, arrastada para a representação (projeto) decorrente do referencial, dos princípios organizadores e dos métodos utilizados em um pensamento orientado pelo par sujeito-objeto.

Veja isso na seguinte página

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

Não se ganha nada ao retirar a qualidade hierárquica da estrutura inerente à construção de representação nova (projeto); ao contrário perde-se muito, essa tentativa empobrece a visão da operação, oblitera o funcionamento das duas sintaxes da língua usada para modelar operações; por essas razões, mas acima de tudo, essa parece ser uma missão impossível. A estrutura hierárquica da operação da qual resulta uma representação nova é resultado do perfil de configuração do pensamento.

2. Quanto ao incômodo de Forbes com a ‘norma’

Quanto ao incômodo de Forbes com a noção de ‘norma’, isso me remete imediatamente de novo à Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’, que me permite uma visão de conjunto muito mais completa e útil para quem pensa em formular e configurar, e depois operar com sucesso, modelos no domínio das ciências humanas.

A ‘norma‘ que incomoda Forbes, é a expressão de uma convenção, um acordo feito para atender às condições requeridas por uma ‘função‘; esse acordo, essa convenção, visa a estabilidade temporal, em mais de um aspecto, e o compartilhamento dessa ‘norma‘ isto é, da solução conseguida e convencionada para a obtenção prática dessa ‘função’.

Vale a pena examinar, usando o pensamento de Michel Foucault, o que se configura quase como 

Um ‘manual’ para projeto e construção de modelos no domínio das ciências humanas

em três tempos:

  • o espaço geral dos saberes sob o pensamento moderno chamado por Foucault de Triedro dos saberes; com as faces e eixos do Triedro dos saberes;
  • a classe de modelos das ciências humanas;
  • o uso dos pares de modelos constituintes fora do domínio próprio em que foram formados.

examinando o modelo constituinte padrão das ciências humanas composto de uma combinação ponderada dos pares constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem:

“Assim, estes três pares, função e norma, conflito e regra, significação e sistema, cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem.” Cartilha; Cap. 10 – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes

Esse excerto da Cartilha dá-nos conta de que esses três pares de modelos constituintes, das ciências 

  • da Vida (Biologia) par constituinte  [função-norma] 
  • do Trabalho (Economia)  par constituinte [conflito-regra] e 
  • da Linguagem (Filologia) par constituinte  [significação-sistema] 

estão na base de toda e qualquer ciência humana, incluindo a economia política, e a biopolítica, e também a análise da produção. Essas três ciências compõem, segundo Foucault, a região epistemológica fundamental.

Forbes supostamente está analisando o que acontece nas, e com as organizações empresariais e, portanto, está elaborando bem no campo de uma ciência humana. Essa ciência humana que segundo Foucault, tem esse modelo constituinte padrão no qual 

  • o par constituinte dominante é escolhido, em cada caso específico, por quem formula o modelo, 
  • e os coeficientes que determinam o mix da composição no modelo específico, que estabelecem a proporção em que entram no modelo os três pares constituintes – e a predominância de um deles sobre os outros – são também escolhidos pelo analista formulador. 

Isso evidencia que esse incômodo de Forbes com a ‘norma‘ precisa ser bastante ampliado quando se fala de laços sociais porque estes estão afetos, 

  • desde logo às ‘funções’ normatizadas pela ‘norma’ (o par constituinte do quase-transcendental Vida), 

mas também estão regidos pelos pares constituintes dos outros dois quase-transcendentais: 

  • [conflito-regra] da Economia, 
  • e [significação-sistema] da Filologia.

É claro que podemos desconsiderar esse mapeamento admirável do espaço dos saberes moderno feito por Foucault e pensar de modo compartimentado e muito mais incompleto. 

Mas por que exatamente faríamos isso?

Um

Manual para uso e projeto de modelos no campo das ciências humanas, já constituídos os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

A frase citada por Forbes:

“Freud explica Freud implica:

  • no ‘explica’ você tem um saber anterior ao ato; 

  • no ‘implica’ você tem um ato anterior ao saber.”

Significado da palavra ‘Implica’ no Dicionário Online de português

Implica vem do verbo implicar. O mesmo que: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde.

Significado de implicar

Expressar desdém, deboche, zombaria; hostilizar: ele implica com seu irmão constantemente; implicava-se com o vizinho.

Obter como resultado, efeito ou consequência; originar: a devolução do imóvel implica multa.

Fazer com que algo se torne necessário; requerer: o trabalho não implica sua participação.

Sinônimos de Implica

Implica é sinônimo de: hostiliza, origina, requer, requere, discorda, compromete, confunde

Antônimos de Implica

Implica é antônimo de: desimplica

Significado da palavra ‘Explica’ no Dicionário Online de português

verbo transitivo diretoFazer com que fique claro e compreensível; descomplicar uma ambiguidade: explicar um mistério.Ser a causa de: a desgraça explica sua amargura.Conseguir interpretar o significado de: explicar um texto irônico.verbo transitivo direto e bitransitivoFazer com que alguma coisa seja entendida; explanar: explicar uma teoria; explicar a matéria aos alunos.verbo transitivo direto e pronominalProvidenciar uma justificativa ou desculpa; desculpar-se: preciso explicar meu comportamento; o presidente explicou-se ao povo.Manifestar-se através das palavras; exprimir-se: explicar uma paixão; explicou-se numa linguagem bem popular.Etimologia (origem da palavra explicar). Do latim explicare.

Sinônimos de Explicar

Explicar é sinônimo de: lecionarpontificaradestraramestrardoutrinareducarensinarformarinstruir

Antônimos de Explicar

Explicar é o contrário de: obscurecercomplicar

É bem implicante o leque de significados das palavras ‘explica’ e ‘implica’. Implica pode significar até confunde! mas é também ‘origina’.

Implica é origina, requer. Explicar é formar, instruir. Complicar, é antônimo de explicar. 

Etimologicamente complicar é dobrar junto; implicar é entrelaçar, juntar, reunir. Muito próximos os significados, não?

Pensando o ‘Explicar’, em uma operação, como a procura de elementos que deem sustentação na experiência para o que se  afirma com respeito ao objeto da operação – inclusive indicando sua origem no pensamento, Explica‘ e ‘Implica‘ são palavras com dois conjuntos de significados diferentes mas cuja intersecção é não vazia; há significados em comum; veja a etimologia das duas palavras. 

Essa relação de sucessão ou de precedência entre ato e conhecimento tem bastante mais a ver com:

  • o modo como o pensamento é configurado
  • com a natureza – construção de representação nova ou instanciamento de representação existente – da operação envolvida em cada específico movimento do pensamento, 

do que propriamente com o significado escolhido para essas duas palavras. 

Se assim for, é melhor declarar explicitamente quais são as condições de possibilidade do pensamento selecionadas, e qual a natureza da operação em que estamos pensando, se de construção de representação nova, se de instanciamento de representação anteriormente existente.  

Além disso, dependendo dessa natureza da operação, a operação pode acomodar-se, desde logo, a uma configuração do pensamento clássico, anterior a 1775, ou a uma configuração do pensamento moderno, o de depois de 1825. 

Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Foucault:
os pensamentos clássico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)

pensamento clássico,
antes de 1775

perfil do pensamento clássico,
o de antes de 1775

pensamento moderno,
depois de 1775

perfil do pensamento moderno,
o de depois de 1825

Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825.

Aquém do objeto

Operação de pensamento no período clássico, antes de 1775
operação de instanciamento de representação formulada
modo de ser fundamental não muda
Ordem arbitrária ou Quadro de simultaneidades

Diante do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825,
no caminho da Construção da representação:
‘modo de ser fundamental’ sim, muda.
Ordem dada pela gramática da língua

 Além do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho
do Instanciamento da representação:
‘modo de ser fundamental’ não muda.

saber anterior ao ato

ato anterior ao saber 

saber anterior ao ato

Muito diferentes, uma da outra, se atentarmos ao pensamento de Foucault. Você pode ver essas diferenças aqui. Isso, se o modo de ser do pensamento não for explicitado onde e quando devido.

Esta argumentação tem como pano de fundo o pensamento de Foucault. E a frase acima é a expressão de um pensamento atual tal como ele aflora. Vale, portanto, rever como Foucault avaliava o pensamento em geral, tal como aflorava durante o seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’, em 1966, o que, pelo que vejo, não mudou.

Veja Os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho.

usando essa citação de modo mais restrito, Foucault via um pensamento contaminado, nas palavras dele, ‘dominado’ por um pensamento de idade anterior. Ele via um pensamento ‘dominado pela impossibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto) no espaço da representação’. 

Nessa frase acima, eu vejo esse mesmo tipo de contaminação, que gera uma dubiedade, que queremos levantar com a ajuda do mestre, Michel Foucault.

Para a situação sugerida no caso do ‘implica’ no lado direito da frase – um ato anterior ao saber -, a configuração do pensamento deve, necessariamente, permitir a geração de saber novo (ser capaz de fundar as sínteses no espaço da representação); deve portanto permitir a construção de representação nova para o objeto do ato, ou da operação. 

Essa possibilidade – inerente ao proposto no lado direito da frase -, é privativa do pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Mas só ocorre quando o ‘Freud’ da frase estiver com um pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno, e na etapa da Construção da representação. O mesmo ‘Freud’, no pensamento moderno, mas na etapa de Instanciamento de representação relativa a saber anteriormente obtido, estará diante de um saber anterior ao ato.

O pensamento clássico, em suas teorias, modelos e sistemas, não permite construção de representação nova (porque era marcado pela impossibilidade de fundar as sínteses …, esse o obstáculo vislumbrado por Foucault); no pensamento clássico tudo o que existe está lá desde sempre e para sempre, e por obra de Deus compondo o Universo.

Para a situação sugerida no ‘Explica”, o lado direito da frase – saber anterior ao ato – nessa perspectiva do pensamento de Foucault, gera uma dubiedade que só pode ser resolvida tendo presentes, em detalhe, como são as operações as que sim, podem, e as que não podem ‘fundar as sínteses no espaço da representação’. Sem discernimento, o pensamento fica ‘dominado’ porque pode estar imerso no perfil do pensamento clássico, ou no perfil do pensamento moderno, mas no caminho do Instanciamento da representação.

Pensando nessas relações de precedência ou sucessão entre ato e saber, e nas operações em suas possíveis etapas, suas configurações e perfis ou estruturas de conceitos sobre os quais são concebidas, não há razão para que essa frase se restrinja a Freud. Poderia ser qualquer outro sujeito. Mas se levarmos em conta a menção especificamente a Freud, ela arrasta para a frase o modo de ser do pensamento desse grande autor, classificado por Michel Foucault como um pensador moderno, com estrutura de pensamento daquela configuração de pensamento de depois de 1825.

Dado esse conjunto de significados em comum, esses dois conceitos ‘Explica‘ e ‘Implica‘ e essas relações de precedência ou de sucessão entre ato e saber me fazem lembrar do pensamento de Humberto Maturana, que pode ser visto em uma animação de menos de 4 minutos, na seguinte página; 

Figura 2 – Diagrama ontológico; capítulo Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana; ou ainda a Figura 2 – O explicar e a Experiência; capítulo Linguagem, Emoções e Ética nos Afazeres Políticos, do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política, de Humberto Maturana Romesin

Essa Figura 2 é original de Maturana (apenas a arte foi editada – os elementos gráficos que representam as ideias foram modificados) mas em vez de usar dois rótulos como explica e implica, Maturana usa um pensamento no qual emprega duas formas para o mesmo rótulo ‘Explicar’, com diferentes significados correspondentes á mudança que está discutindo: 

  • lado esquerdo da figura: ‘Explicar sem reformular’ no que ele chama de Objetividade sem parênteses: 

(saber anterior ao ato, ou o ‘Explica’ no lado esquerdo da frase)

  • lado direito da figura: ‘Explicar com Reformular’, no que ele chama de Objetividade entre parênteses.

(saber posterior ao ato, ou o ‘Implica’ do lado direito da frase)

Nesse pensamento, no original de Maturana, ele atribui pressupostos para o tipo de pensamento desenvolvido em cada lado da figura:

  • do lado esquerdo dessa Figura 2, o pressuposto é ‘a existência precede a distinção‘ (aquela distinção feita na operação);
    • o que leva a uma única realidade, Universo, transcendência.

e reflete o saber anterior ao ato (operação)

  • e no lado direito dessa Figura 2, ‘a existência se constitui na distinção‘ ou ‘a existência sucede à distinção’
    • o que conduz a múltiplas realidades.

e reflete o saber posterior ao ato (operação)

Usando agora o pensamento de Michel Foucault. Veja, por favor, e novamente, as páginas seguintes com animações que  colocam palavras de Foucault sobre paletas de elementos de imagem e respectivas estruturas:

primeiro, a operação de construção de representação nova (projeto) sob o pensamento configurado com o perfil do pensamento moderno:

Funcionamento das operações (…) operação Diante do objeto

e depois, veja a página

Formas de reflexão que se instauram em nossa cultura, segundo o pensamento de Michel Foucault, e correspondentes perfis de conceitos que permitem identificar cada um deles.

Resumidamente – e para facilitar – os dois perfis ou estruturas de conceitos, são:

  • para o pensamento clássico, o de antes de 1775
    • referencial: Ordem pela ordem;
    • princípios organizadores: caráter e similitude;
    • métodos: identidade e semelhança; 
  • pensamento moderno, o de depois de 1825
    • referencial: Utopia;
    • princípios organizadores: Analogia e Sucessão;
    • métodos: Análise e Síntese 

 Examinando os dois perfis característicos das duas configurações do pensamento, vê-se que: 

(Aviso: é melhor examinar primeiro o perfil do pensamento moderno, com suas capacidades de tratar propriedades originais e constitutivas e depois o perfil do pensamento clássico)

  • com o perfil de características do pensamento clássico, o de antes de 1775, realmente a suposição é que tudo o que existe compõe o Universo que está lá desde sempre e para sempre como obra de Deus, e que a existência precede a distinção;
    • a todo ato, precede todo o saber existente: (sim, sempre temos um saber anterior ao ato) o perfil do pensamento clássico não comporta a construção de representações novas e assim todo saber é anterior a qualquer ato (operação) do qual resulta uma explicação que é uma composição de saberes (representações) anteriormente existentes;
  • e com o perfil do pensamento moderno, o de depois de 1825, a suposição é que há múltiplas realidades, que o pensamento pode construir representações novas como resultado das distinções que faz, e que a existência, portanto, sucede a distinção,
    • a todo ato, sucede saber novo – ato desencadeado pelo sujeito (operação) com um objeto -, desde que o ato seja bem sucedido, e que a natureza da operação seja a construção de saber novo. 

Nota: não se trata de afirmar que na idade clássica não se produzia representações novas; mas dizer que as teorias, modelos e sistemas sob essa configuração do pensamento não abrangiam a etapa de construção de representações novas.

Acabamos de ver o funcionamento da operação de construção de uma representação nova (projeto) para uma empiricidade objeto, com um pensamento configurado de acordo com o pensamento moderno, o de depois de 1825 – uma vez que a configuração do pensamento anterior, o clássico, não pode construir novas representações.

Fica claro – entendida essa sistemática de funcionamento – que no pensamento moderno, e na etapa de construção de saber novo, (caminho da Construção da representação)

  • a operação tem início sem qualquer conhecimento sobre o que é objeto da operação ou da explicação, ou ainda daquele algo a ser implicado. Salvo a arquitetura do que seja uma representação, como classe de produções do pensamento; 
  • e termina com esse conhecimento.

Como reza a frase no lado direito, sim, tem-se um ato anterior ao saber, mas… somente no caso do pensamento moderno, e no caminho da Construção da representação. Porém, estando no mesmo lado direito, e também no pensamento moderno, se estivermos no caminho do Instanciamento de representação previamente existente – o que mais acontece em situações de realidade – a situação se inverte, e teremos um saber anterior ao ato, como no caso anterior do pensamento clássico.

Dado que a possibilidade de saber novo só acontece com um pensamento configurado com o perfil característico do pensamento moderno, essa frase (de efeito) depende de quais sejam as visões de operações adotadas (o ato) em qual etapa da operação e de qual configuração do pensamento.

A relação de precedência ou de sucessão entre o ato e o saber é essencial nessa frase e podemos deixar de lado, e em segundo plano, os nomes ‘explica‘ e ‘implica‘. 

Essa relação de sucessão corresponde ao que ocorre nas operações sob as configurações do pensamento clássico e moderno da seguinte forma:

  • pensamento clássico, o de antes de 1775:
    • o saber (o conhecimento representado pelas representações previamente existentes) 
    • é, sempre, anterior ao ato (a operação); e o resultado, nesse modelo de operações, é uma combinação de representações anteriormente existentes.
  • no pensamento moderno, o de depois de 1825:
    • no caminho da Construção de representação nova, não existente no ambiente em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação) 
      • é posterior ao ato (a operação de construção da representação).
    • no caminho do Instanciamento de representação já existente no domínio em que a operação ocorre,
      • o saber (o conhecimento da representação objeto da operação)
      • é anterior (volta a ser) ao ato (a operação de Instanciamento da representação objeto da operação) – tal como no lado esquerdo e pensamento clássico.

Então, para que a frase faça algum sentido, é necessário atentar qual seja o perfil de configuração do pensamento diferente, e em qualquer caso, uma visão clara do que sejam operações, em cada lado da seta que está no meio dessa frase: 

  • no lado esquerdo da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clássico, o de antes de 1775
      • sim, o saber precede o ato (tanto em uma explicação quanto em uma implicação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825,
      • não, o saber não precede o ato se a operação estiver no caminho da Construção da representação (seja no explica ou no implica)
      • sim, o saber precede ao ato se o caminho for o do Instanciamento de representação existente
  • no lado direito da frase, temos
    • caso a configuração do pensamento seja a do clássico, o de antes de 1775,
      • sempre temos o saber anterior ao ato (a operação)
    • caso a configuração do pensamento seja a do moderno, o de depois de 1825;
      • só teremos ato (operação) anterior ao saber no caso da operação estar no caminho da Construção da representação; 
      • caso a operação esteja no caminho do Instanciamento da representação, o saber é anterior ao ato (a operação).
  • e a seta do meio da frase passará a indicar entre um lado e outro, dependendo do caso, uma descontinuidade epistemológica.

Até agora Freud entrou nessa frase como Pilatos no credo.

E essa referência a Freud nessa frase também cria mais problemas, desde que usemos o pensamento de Michel Foucault.

Segundo Foucault, Freud é um pensador moderno

Logo, ele teria noção dos modelos de operações no pensamento moderno; e também os do pensamento clássico, se não, não teria escolhido pensar com o missal do pensamento moderno.

E assim, todas as opções condicionadas ao pensamento clássico acima deixam de valer no caso de Freud.

Então, o pensador moderno Freud

  • no lado esquerdo da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • não dispõe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber já existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispõe de saber antes do ato.
  • no lado direito da frase
    • se no caminho da Construção de saber novo relacionado a dado objeto;
      • não dispõe de saber antes do ato;
    • se no caminho do uso de saber já existente relacionado a dado objeto; (instanciamento de representação existente);
      • sim dispõe de saber antes do ato.

O comportamento do pensador moderno Freud não é função do nome dado à operação, se ‘explica’ ou se ‘implica’, mas o que a operação pretende com respeito ao seu objeto e o estado em que se encontra esse objeto no ambiente em que a operação acontece – já existe ou ainda não existe representação para ele nesse ambiente.

Então um ato de ‘explicar’ de Freud pode não ter um saber anterior; o que contradiz a frase no lado esquerdo. E também o estabelecimento de uma implicação dele pode ter um saber anterior, o que contraditaria o lado direito da frase. 

Mostramos isso no Funcionamento de operações, e um ato (operação) desse tipo preenche a etapa de Instanciamento de representações anteriormente construídas.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • Aparentemente há uma inconsistência entre o pensamento no vídeo 150 e o pensamento de Michel Foucault: o movimento do pensamento entre a psicanálise de Freud e a de Lacan: o movimento feito desde uma psicanálise (pelo menos alegadamente) baseada na representação, em Freud, para uma outra baseada fora da representação, em Lacan
  • as duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ segundo o posicionamento do ponto de início de leitura 
    • no cruzamento das disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca; 
    • ou antes da possibilidade da troca, quando um dos objetos envolvidos não está disponível, investigando a permutabilidade;

e as duas correspondentes origens da essência da linguagem e do valor carregado pela proposição para a representação.

  • Uma possível contradição:
    • a aparente descontinuidade epistemológica na apresentação das teorias modelos e sistemas relacionados à psicanálise no vídeo 150, consistente na mudança de bases da psicanálise na representação para fora dela entre Freud e Lacan;
    • e ao contrário, uma continuidade epistemológica na apresentação de teorias, modelos e sistemas do liberalismo e variantes, no vídeo 254: usando o pensamento de Michel Foucault sobre isso, essa alteração certamente aconteceu;

Comentários

1. Tendo como referência o pensamento de Michel Foucault, não há dúvida de que Freud foi um pensador moderno; assim, o movimento que teria sido feito por Lacan desde uma psicanálise de Freud, com base na representação para uma outra, de Lacan, fora da representação pode não ter sido possível uma vez que a psicanálise de Freud já tinha sua base fora da representação.

2. Teorias, modelos e sistemas, como produções do pensamento, transcorrem sempre com a presença de uma linguagem; o veículo de carregamento de valor é sempre a proposição e o destino do valor carregado é sempre a representação. A questão parece ser, então, a origem – se interna ou externa à linguagem – do valor atribuído à proposição. 

3. A alteração de uma origem de valor interna à linguagem para uma externa à linguagem implica em uma mudança no modo de conhecer o que dizemos que conhecemos, uma mudança epistemológica. 

Seguem comentários em tópicos:

A descrição feita por Michel Foucault da psicanálise de Freud dá-nos conta ser Freud um pensador moderno.

Em nossa Cartilha, (o livro ‘As palavras e as coisas’) Foucault não hesita em classificar Freud como um autor moderno, e caracteriza o pensamento clássico como ‘aquele para o qual a representação existe’.

No livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 10 – As Ciências humanas; tópico V – Psicanálise e etnologia, de Michel Foucault, encontramos subsídios para afirmar que o autor discorda frontalmente dessa afirmativa de que a psicanálise de Freud tivesse suas bases na representação; nesse texto Foucault mostra que, ao contrário, o pensamento de Freud já tem suas bases fora da representação; e expõe como e por que ele faz esse juízo mostrando o funcionamento da psicanálise – tendo como elemento organizador dessa argumentação o modelo constituinte padrão, comum a todas ciências humanas por ele desenvolvido nesse livro, um modelo composto pelos pares de modelos constituintes das ciências da Vida (Biologia) [função-norma]; do Trabalho (Economia) [conflito-regra]; da Linguagem (Filologia) [significação-sistema].

“Não há que supor que o empenho freudiano
seja o componente de uma interpretação do sentido
e de uma dinâmica da resistência ou da barreira;

seguindo o mesmo caminho que as ciências humanas,
mas com o olhar voltado em sentido contrário,
a psicanálise se encaminha em direção ao momento
– inacessível, por definição, a todo conhecimento teórico do homem,

a toda apreensão contínua em termos de significação, de conflito ou de função
– em que os conteúdos da consciência se articulam com,
ou antes, ficam abertos para a finitude do homem.
Isto quer dizer que,
ao contrário das ciências humanas que, retrocedendo embora em direção ao inconsciente,
permanecem sempre no espaço do representável,
a psicanálise avança para transpor a representação,
extravasá-la do lado da finitude e fazer assim surgir, lá onde se esperavam 

  • as funções portadoras de suas normas
  • os conflitos carregados de regras 
  • e as significações formando sistema

o fato nu de que 

  • pode haver sistema (portanto, significação), 
  • regra (portanto, oposição), 
  • norma (portanto, função). 

E, nessa região onde a representação fica em suspenso,
à margem dela mesma,
aberta, de certo modo ao fechamento da finitude,
desenham-se as três figuras pelas quais 

  • a vida, com suas funções e suas normas,

vem fundar-se na repetição muda da Morte, 

  • os conflitos e as regras,

na abertura desnudada do Desejo, 

  • as significações e os sistemas,

numa linguagem que é ao mesmo tempo Lei.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;

Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia

e especial destaque para o modo como Foucault vê que isso é interpretado:

Sabe-se como psicólogos e filósofos
denominaram tudo isso:

mitologia freudiana. 

Era realmente necessário
que este empenho de Freud
assim lhes parecesse;

para um saber que se aloja no representável,
aquilo que margeia e define, em direção ao exterior,
a possibilidade mesma da representação
não pode ser senão mitologia.” 

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;

Cap. 10 – As Ciências humanas;
tópico V – Psicanálise e etnologia

Isso permite pensar que a razão de ser da psicanálise de Lacan, encontre seu fundamento em outro movimento de pensamento feito por ele, porque a psicanálise de Freud já estava formulada desde fora da representação.

Em que consiste, então, a contribuição feita por Lacan?

Lembrando os obstáculos percebidos por Foucault em seu trabalho, uma impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem, arriscaria dizer que a contribuição de Lacan foi formular uma psicanálise para além do objeto.  

 

Essas duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações’ situam-se de lados opostos em relação à descontinuidade epistemológica posicionada por Michel Foucault como tendo ocorrido entre 1775 e 1825. Isso colocaria uma produção do pensamento baseada na representação do lado oposto a uma outra, baseada desde fora da representação. (O movimento de pensamento que o vídeo informa ter sido feito por Lacan com relação a Freud.

Podemos ver isso sob o ponto de vista das alterações na própria linguagem em decorrência da visão que temos do fenômeno ‘operações’ de pensamento ou outra, e de acordo com as explicações de Michel Foucault:

i)      As diferenças de funcionamento da linguagem para modelos baseados na representação e modelos fora da representação, – como o que vai descrito no vídeo 254 teria ocorrido entre as psicanálises de Freud e de Lacan, – e em geral, no funcionamento da linguagem em qualquer construção do pensamento, tendo em vista quais sejam as bases em que se sustentam essas construções do pensamento, se na representação ou se fora da representação.

As duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’.

Esse link mostra uma figura com a visão ampla do que entendemos como o fenômeno ‘operações’ com representações, incluindo as operações de troca, mostrando os dois pontos nos quais podemos inserir o início da leitura que fazemos desse fenômeno:

  • No ponto de cruzamento entre as disponibilidades do que é dado e o que é recebido na troca: o momento em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estão já disponíveis; discutindo a 
  • Em um ponto anterior a esse, quando pelo menos um dos objetos ainda não está disponível.

A página mostra:

(1)    O que não muda entre as duas possibilidades de inserção do ponto de leitura de ‘operações’

A proposição é o bloco construtivo padrão fundamental para construção de representações.

“A proposição é para a linguagem
o que a representação é para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar
porquanto, desde que a decomponhamos,
não encontraremos mais o discurso,
mas seus elementos como tantos materiais dispersos.”
As palavras e as coisas; Cap. 4 – Falar; tópico III – Teoria do verbo

A representação carregada de valor como condição para que uma coisa possa representar outra em uma operação de troca.

(…) “Em outras palavras, para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam já carregadas de valor;
e, contudo, o valor só existe no interior da representação.”
As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

(2)    O que sim, muda entre essas duas possibilidades de inserção do ponto de início de leitura

Antes de mais nada, muda a abrangência da visão que temos do que seja uma operação, em decorrência do ponto de inserção do início de leitura que fazemos desse fenômeno. Há duas possibilidades de inserção desse ponto de início de leitura de operações:

  • No ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, já disponíveis os dois objetos intervenientes em uma operação de troca;
  • Antes desse ponto, quando ainda um dos objetos não está disponível

A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação é nos dois casos, a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações  com origens de valor distintas.

No primeiro caso o valor é carregado na proposição diretamente. Aliás, a proposição já chega carregada de valor.

No segundo caso, o valor chega à proposição no bojo de uma operação de construção da representação para o objeto ainda não disponível. Isso em outras palavras quer dizer durante o projeto desse objeto. E as fontes de valor neste caso são

  • as designações primitivas;
  • e a linguagem de ação ou de uso.

ii)    O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’.

A citação acima prossegue da seguinte forma:

(…) “o valor só existe no interior da representação

  • atual [representação do objeto envolvido na troca já existente]

  • ou possível [objeto cuja representação foi construída quando no teste de permutabilidade]

 isto é, no interior

  1. da troca [objetos envolvidos na operação de troca já existentes]

  2. ou da permutabilidade [a prospecção da possibilidade da troca com a construção da representação do objeto a ser levado ao circuito das trocas, se possível]”

As palavras e as coisas; Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

  • uma analisa o valor no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
  • outra analisa-o como anterior à troca
    e como condição primeira para que esta possa ocorrer”

A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
toda a essência da linguagem no interior da proposição;
e a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem

  • do lado das designações primitivas
  • e da linguagem de ação ou raiz
  1. “no primeiro caso, com efeito,
    a linguagem encontra seu lugar de possibilidade
    numa atribuição assegurada pelo verbo
    – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras
    mas que as reporta umas às outras;
    o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem
    a partir de seu liame proposicional,
    corresponde à troca que funda,
    como um ato mais primitivo que os outros,
    o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;
  2. a outra forma de análise,
    a linguagem está enraizada fora de si mesma
    e como que na natureza, ou nas analogias das coisas;
    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras
    antes mesmo que a linguagem tivesse nascido,
    corresponde à formação imediata do valor,
    antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas: Cap. 6 – Trocar; tópico V. A formação de valor

Veja, por favor, o funcionamento das operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775 e o moderno, depois de 1825 em 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Podemos ver, do entendimento de como se desenvolvem as operações em um caso e em outro, a correspondência bastante estreita entre as explicações dadas por Foucault na citação acima.

Veja também os dois conceitos para o que seja um verbo, e identifique o verbo envolvido no primeiro caso em que a atribuição de valor é assegurada diretamente por ele; e o verbo no segundo caso, em outra configuração da linguagem na qual o valor atribuído à representação via a proposição, tem origem fora da linguagem nas designações primitivas e na linguagem de ação ou de uso. 

Conceitos homônimos mas com significados diferentes entre a configuração do pensamento na idade clássica e no pensamento moderno

Há, aparentemente, uma contradição entre os dois vídeos do Canal Falando nisso, os de números 150 e 254.

No vídeo 150 há a percepção de que efetivamente existem produções do pensamento – teorias, modelos e sistemas, baseados na representação, e outras, baseadas fora da representação; e esse é um movimento de pensamento importante – nada mais nada menos do que uma descontinuidade epistemológica segundo o pensamento de Foucault,

Embora segundo o pensamento de Michel Foucault a psicanálise de Freud já tivesse suas bases fora da representação, mas uma mudança de bases como essa sem dúvida significaria uma alteração epistemológica.

Evento dessa mesma natureza, uma descontinuidade epistemológica, também aconteceu para as produções do pensamento associadas ao liberalismo e neoliberalismo, no período histórico abrangido pelo vídeo 254 . Isso está relatado em bastantes detalhes por Michel Foucault no ‘As palavras e as coisas’, e é inerente ao estilo de arqueologia adotado nesse livro.

 Mas esse movimento do pensamento deixa de ser considerado para as teorias, modelos e sistemas ligados ao Liberalismo e Neoliberalismo nos questionamentos feitos no vídeo 254 – ‘Neoliberalismo e sofrimento’. Isso leva a crer que a natureza dessa mudança de embasamento desde na representação para fora dela foi tratada, no vídeo 150, não como uma questão constituinte, mas como uma 

Enquanto no vídeo 150 os modelos estão predominantemente no domínio da Linguagem, no liberalismo e variações, estão no domínio das ciências do Trabalho (Economia).qualidade apenas.

Veja nesta página

Os dois conceitos filosóficos para o que seja ‘Trabalho’: o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817, e as diferenças entre esses dois conceitos segundo Michel Foucault.

exatamente essa mudança de bases.

Entre esses dois pensadores há uma diferença na visão do que sejam operações avaliável pela amplitude da visão do fenômeno ‘operação’ entre esses dois princípios para trabalho. Na parte inferior da página que o link acima dá acesso, a explicação dada por Foucault deixa  bem clara essa diferença de amplitude na visão de ‘operações’. 

David Ricardo inclui, em seu Princípio Dual de Trabalho, de 1817, também a etapa da construção de representação nova enquanto que Adam Smith não faz isso.

Essa alteração na inserção do ponto de início do fenômeno ‘operações’ altera o modo como uma operação é vista e implica em uma reconfiguração da linguagem no que ela tem de essencial: o modo como a proposição é formada, e como o valor carregado na proposição é levado por esta para a representação.

Isso pode ser visto em 

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ 

e também na argumentação abaixo.

Havia uma confusão em Adam Smith, que consistia em estabelecer uma assimilação entre:

  • o trabalho como atividade de produção;
  • e o trabalho como mercadoria que se pode comprar e vender.

Essa assimilação, feita em Adam Smith, passa a ser em Ricardo uma distinção entre:

  • essa força, esse esforço, esse tempo do operário que se compram e se vendem, tomados como mercadoria que se pode comprar e vender,
  • e essa atividade que está na origem do valor das coisas, tomada como atividade de produção.

distinção essa que, segundo Foucault, foi feita, pela primeira vez, e de forma radical, pelo pensamento de David Ricardo, em nossa cultura; e isso implica em uma expansão da visão do fenômeno ‘operações’.

Vista desse modo,

  • como uma assimilação, entre ‘atividade de produção’ e ‘mercadoria que se pode comprar ou vender’ ou ‘força, esforço, tempo do operário, que se compram e se vendem’, em Adam Smith, 
  • ou como uma distinção, entre essas duas coisas, no pensamento de David Ricardo,

pode ficar difícil perceber que essa mesma alteração feita em Ricardo na economia, é a mesma que Lacan teria feito na sua psicanálise;

Seria necessário perceber que com o termo ‘atividade de produção’ compreende-se a produção de algo ainda inexistente o que alarga a visão de operações para o caminho da Construção de representação nova; mas encaixando essas duas coisas em uma visão ampla do que sejam operações, de todos os tipos, obtida entre outros lugares na descrição de Foucault sobre as duas configurações da linguagem,

  • e vendo o que acontece nas operações, em decorrência das duas origens do valor carregado pela proposição para a representação como consequência das duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do que seja essa operação – se antes ou se no ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido – e os efeitos em cada opção, (veja o link acima)

vê-se que os dois movimentos – o de Ricardo em relação a Smith e o de Lacan em relação supostamente a Freud, são idênticos quanto a suas bases no pensamento, porque:

  • O pensamento de Adam Smith leva a um modelo de operações com ponto de leitura posicionado no ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido, ou o ponto em que os objetos envolvidos em uma operação de troca estão disponíveis; a operação de processamento de informações sob Adam Smith abrange o instanciamento, pelo desencadeamento de Processo anteriormente formulado, de representação anteriormente formulada e configurada dentre alternativas já existentes. Nesse tipo de operações sob o pensamento clássico, não há construção de representações novas;
  • No pensamento de David Ricardo o modelo de operações tem ponto de leitura posicionado antes da disponibilidade dos objetos envolvidos em uma possível futura operação de troca. E abrange toda a operação no caminho da Construção de representação nova.

E dessa forma

  • colocar o ponto de início da leitura exatamente no cruzamento entre disponibilidades do que é dado e o que é recebido (com a disponibilidade simultânea dos dois objetos envolvidos na operação de troca), coloca o fenômeno ‘operação’ na etapa de instanciamento de objeto cuja representação foi anteriormente feita;
    • e o valor carregado pela proposição para a representação é atribuído diretamente na proposição, determinando a configuração correspondente da linguagem;
  • e colocar o início de leitura antes desse ponto de disponibilidade, (com a indisponibilidade de pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca) implica em investigar a permutabilidade e obriga a ‘operação’ a incluir a etapa de construção da representação do objeto ainda não representado, que será levado ao circuito das trocas depois de instanciado; e também a posterior operação de instanciamento, e o valor carregado pela proposição terá sua origem
    • nas designações primitivas
    • e na linguagem de ação.

Os pontos comentados são os seguintes:

  • A lista de referências bibliográficas do vídeo 254
  • As possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade, através de uma matriz constituída por autores associados ao liberalismo, todos eles inseridos no pensamento clássico.
  • A indicação de Adam Smith e de David Ricardo juntos, como pertencentes ao mesmo bloco de sustentação de uma noção de sujeito na modernidade; á luz do pensamento de Michel Foucault
  • Sobre as possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade através de uma matriz constituída por autores associados ao liberalismo
  • Sobre as possibilidades – usando o pensamento de Michel Foucault – de que as teorias, modelos e sistemas ligados ao liberalismo clássico, possam dar sustentação a uma psicologia, mesmo dando ao homem o tratamento como uma espécie, ou um gênero.

 

Clips do vídeo Falando nisso 254 – Neoliberalismo e sofrimento, para comentário

Comentários 

O livro ‘Nascimento da biopolítica’, de 1978-1979, sim, figura na lista de referências do vídeo 254;

  • mas o ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, do mesmo autor, publicado em 1966 pela primeira vez, está fora dessa lista; e é nessa obra que o surgimento da classe especial de saberes que chamamos ‘ciências humanas’ como a biopolítica, é descrita, dando conta dos seus modelos constituintes.

A importância disso – se atentarmos para o pensamento de Michel Foucault  no ‘As palavras e as coisas’ pode ser avaliada sob dois aspectos:

  • Foucault questiona as produções do pensamento – teorias, modelos e sistemas –  sob suas condições de possibilidade no pensamento;
  • Foucault não analisa teorias, modelos e sistemas quando já formulados e configurados, prontos e em utilização, mas antes, analisa-os sob suas condições de possibilidade no pensamento, que ele identifica criteriosamente em cada período.

É que nesse livro o autor identifica as condições de possibilidade no pensamento de produções do pensamento ao longo do tempo e distingue dois períodos separados justamente por uma mudança epistemológica, ou uma alteração nessas condições de possibilidade do pensamento usado.

E teorias, modelos e sistemas, como construções do pensamento, foram construídas por autores imersos nos dois períodos históricos, no antes,  e no depois desse evento; e as mudanças enquanto estavam sendo feitas, no durante.

Por favor veja 

Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos de 1775 e 1825

e depois, veja 

A forma dos modelos em cada configuração do pensamento

 

e por favor veja ainda

Funcionamento das operações, para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775 e 1825

Na descrição desse evento, ao qual Foucault atribui o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento, temos

  • amplitude das alterações no modo de ser do pensamento: entre os anos de 1775 e 1825;
  • primeira fase: entre 1775 e 1795;
  • fase de ruptura: os últimos 5 anos do século XVIII;
  • Segunda fase: entre 1800 e 1825.
  • idade clássica, ou pensamento clássico, para o qual ele estabelece o limite superior de tempo como o final do século XVIII com fase de ruptura nos últimos 5 anos desse século;
  • idade moderna, ou nossa modernidade no pensamento: depois de 1825.

Como última atenção ao que Foucault tem a dizer nesse grande livro, veja

Condições de possibilidade das ciências humanas: consciência epistemológica do homem

“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia. 
Não mais que a potência da vida,
a fecundidade do trabalho 
ou a espessura histórica da linguagem. (…) 

Certamente poder-se-ia dizer que 
a gramática geral, a história natural, a análise das riquezas 
eram, num certo sentido, maneiras de reconhecer o homem, 
mas é preciso discernir. 

Sem dúvida, as ciências naturais – 
trataram do homem 
como de uma espécie ou de um gênero
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.
A gramática e a economia, por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade, de desejo, ou de memória e de imaginação.

Mas não havia consciência epistemológica do homem como tal. 

A episteme clássica se articula segundo linhas que
de modo algum 
isolam
o domínio próprio e específico do homem.” 

Cartilha; Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei

“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia. 
Mas sim
uma história natural,
uma gramática geral. 
Do mesmo modo, 
não há economia política
porque, 
na ordem do saber,
a produção não existe. “ 
Cartilha; Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas

Isso é o que nos ensina a Cartilha. 

Como seria uma noção denominada ‘sujeito’ cunhada por pensadores clássicos e que, portanto trataram do homem como de uma espécie ou de um gênero

Como seria um sujeito na modernidade, visto como uma espécie ou um gênero

E como seria uma psicologia sustentada por um pensamento que leve o homem nessa conta?

No pensamento de Foucault, vê-se claramente duas rupturas duas descontinuidades epistemológicas em nossa cultura:

  • aquela que inaugura a idade clássica (por volta de meados do século XVII) ,
  • e aquela que no início do século XIX, marca o limiar de nossa modernidade.

Essa última ruptura é situada por Foucault na virada dos séculos XVIII para o XIX, e pode ser vista por este link:

A cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

em uma animação que coloca em uma imagem, o texto de Michel Foucault em ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’.

Mas Adam Smith e David Ricardo pensavam de maneira bastante distinta. Podemos ver isso em

Os dois conceitos filosóficos para o que seja trabalho,
as operações de troca, e comparações entre os dois princípios de trabalho, feitas por Foucault

E as diferenças, explicitadas com palavras de Foucault, são muito grandes. O modo de ver o que sejam ‘operações’ é muito mais amplo em Ricardo do que em Smith, com as consequências que isso acarreta.

E existem atualmente, e entre nós, teorias, modelos e sistemas utilizados, que modelam operações dos dois modos, sem consciência epistemológica do que está envolvido nisso.

Veja isso nos links abaixo:

Essa cronologia posiciona Adam Smith e David Ricardo em lados opostos desse evento, ao qual Foucault atribui o papel de ‘evento fundador da nossa modernidade’ no pensamento.

“A partir de Ricardo, o trabalho,
desnivelado em relação à representação,
e instalando-se em uma região
onde ela não tem mais domínio,
organiza-se segundo uma causalidade que lhe é própria.”
Cartilha;  Cap. 8 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico II. Ricardo

Esse movimento do pensamento que Foucault percebe em Ricardo é o mesmo movimento feito por um autor que construa sua teoria, modelo ou sistema baseado na representação.

“A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte: 

  • para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
  • para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa, 
    • não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho,
    • mas primeiro e fundamentalmente 
      porque o trabalho
      como atividade de produção 
      é “a fonte de todo valor”.

“Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca servem
de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith, para quem
a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta), 

desde Ricardo,
a possibilidade da troca
está assentada no trabalho; 
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.”
 

Cartilha, Cap. 8. Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo

Vê-se que a amplitude da visão do que sejam operações, em David Ricardo, é muito maior se comparada à amplitude da visão de Adam Smith. Para Ricardo toda ‘aquela atividade que está na raiz do valor das coisas’, a produção, está incluída, juntamente e ao lado de trabalho como mercadoria, o que não acontece em Adam Smith.

Veja novamente 

Funcionamento das operações para configurações do pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre os anos 1775-1825

Note que as diferenças nas operações, inclusive as de troca, são muito grandes no pensamento de Adam Smith e no pensamento de David Ricardo. Se consideramos os dois modelos de operações, essas diferenças são físicas. O pensamento de David Ricardo amplia sobremaneira a amplitude da visão do que sejam operações, incluindo a fase de ‘projeto’ ou de construção de representação nova.

Além disso, decorrentes das diferenças nas operações, altera-se a configuração da linguagem no antes e no depois desse evento. Muda, nas palavras de Foucault, a origem da essência da linguagem. Veja isso na página

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função dessa inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’;

Mesmo assim, no vídeo Falando nisso 254, e no contexto da análise da incidência do trabalho na formação da subjetividade, Adam Smith e Ricardo são tomados juntos e indiferenciados, como pertencentes ao mesmo bloco ‘matriz’ que permitiria a construção da noção de sujeito na modernidade!

 Complexity: 

 the emerging science at the edge
of order and chaos, 

de M. Mitchell Waldrop
1992

Os vídeos e animações (parciais) a seguir mostram duas maneiras de ver o que seja Complexidade:

  • Mônica de Bolle, vê o conteúdo do livro ‘Complexidade’ como sendo um pouco coisa de nerd, muito embora ela ache o assunto fascinante.
    • no vídeo 32 seguinte,  Mônica também se posiciona fora daquele grupo de economistas que vê a economia como uma maquininha da qual as pessoas estão fora; um pensamento mecanicista, ela diz. Mas não diz qual seja o seu modo próprio de ver a economia dos nossos dias.
  • Ilya Prigogine, prêmio Nobel de Química de 1977 e pioneiro da ciência do não equilíbrio, diz que a nova ciência do caos e da complexidade lida com a própria ciência moderna, e com o novo tipo de ordem que lhe é próprio, o caos.

A coleção de animações que se segue a esta mostra os modelos de operações:

  • no pensamento clássico, o de antes de 1775;
  • e no pensamento moderno, o de depois de 1825.

Esses modelos de operações têm entre eles uma descontinuidade epistemológica que segundo Foucault, ocorreu em nossa cultura entre os anos de 1775 e 1825 – os 50 anos centrados na virada dos séculos XVIII para o XIX.

Se depois da compreensão dos modelos de operações mostrados for possível concluir que

  • o tipo de ordem a que alude Prigogine 
  • o tipo de ordem adotado no pensamento moderno

são ao fim e ao cabo a mesma ordem, teremos ajudado. E se isso acontecer, teremos um modelo de pensamento que pode substituir o modelo mecanicista ao qual Mônica se refere.

Clips desse vídeo para comentar

Comentários 

para comparar o que dizem os filósofos de diferentes áreas, – e também os economistas – uns mais e outros menos voltados aos fenômenos que acontecem ao seu redor, veja os seguintes modelos de operações:

  • pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775, 
  • pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825:
    • caminho da Construção da representação;
    • caminho do Instanciamento da representação.
  • origem de valor carregado pela proposição para a representação no pensamento moderno, caminho da Construção da representação.

NOTA: clicando na figura da origem do valor, você tem acesso ao pensamento de Michel Foucault sobre isso.

Sobre origem do valor carregado pela proposição para a representação, nas palavras de Michel Foucault, veja a seguinte página:  

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’

com as seguintes origens de valor atribuído à proposição:

  • designações primitivas;
  • linguagem de ação ou raiz.

Veja ainda sobre as duas opções de atribuição de valor à proposição:

  • a operação sob o pensamento clássico tem o ponto de início na visão do fenômeno ‘operações’ colocado sobre o cruzamento entre os objetos dado e recebido, ainda que nesse tipo de pensamento a noção de objeto seja distinta da que vige no pensamento moderno;
    • o valor é atribuído diretamente à proposição.
  • a operação sob o pensamento moderno – quando no caminho da Construção da representação, tem o ponto de início na visão do fenômeno ‘operações’ bem antes desse cruzamento, quando ainda o objeto da operação modelada ainda não existe;
    • a origem do valor está em dois elementos externos à linguagem:
      • designações primitivas;
      • linguagem de ação ou de uso.
    • a visão do fenômeno ‘operações’ é muito ampliada englobando toda a etapa da construção de representação nova (projeto).

Monica de Bolle identifica entre os economistas, não ela, mas economistas como categoria, quem pense em um modelo mecanicista.

Comentários

Manual de uso e projeto de modelos no campo das ciências humanas, por Michel Foucault

Manual de uso e projeto de modelos no campo das ciências humanas, por Michel Foucault

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

A forma de reflexão que se instaura
com esse perfil de conceitos do pensamento moderno, o de depois de 1825

“Instaura-se
uma forma de reflexão,
bastante afastada
do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula. 

 

Isso tem duas conseqüências.

A primeira é negativa
e de ordem puramente histórica.
Pode parecer que a fenomenologia juntou,
um ao outro,
o tema cartesiano do cogito
e o motivo transcendental
que Kant extraíra de Hume; (…)”

 A outra consequência é positiva.
Concerne à relação
do homem
com o impensado,
ou mais exatamente,
ao seu aparecimento gêmeo
na cultura ocidental.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; tópico V. O “cogito” e o impensado
de Michel Foucault

Funcionamento de operações no pensamento moderno

Funcionamento de operações no pensamento moderno

[wpforo]

espaço para discussão de conceitos

icone-MFoucault-01
Michel Foucault 1926-1984

A percepção da contaminação do pensamento com o qual pensamos, pela impossibilidade de fundar as sínteses na representação

“Eis que nos adiantamos bem para além
do acontecimento histórico que se impunha situar
– bem para além das margens cronológicas
dessa ruptura que divide, em sua profundidade,
a epistémê do mundo ocidental
e isola para nós o começo
de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.

É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado
pela impossibilidade,
trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses no espaço da representação
e pela obrigação
correlativa, simultânea,

mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental da subjetividade
e de constituir inversamente,
para além do objeto,
esses “quase-transcendentais” que são para nós
a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

A nova forma de reflexão se instaura no pensamento em nossa cultura, o motor constituinte “dessa maneira moderna de conhecer empiricidades”

“Instaura-se um tipo de reflexão
bastante afastado do cartesianismo
e da análise kantiana,
em que está em questão,
pela primeira vez,
o ser do homem,
nessa dimensão segundo a qual
o pensamento
se dirige ao impensado
e com ele se articula.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos ;
tópico V – O “cogito” e o impensado.

  • a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé clássica.
  • essa impossibilidade de fundar as sínteses implica na seleção da visão de ‘operações’ e análise de valor no exato ponto de cruzamento entre o dado e o recebido, e para a primeira possibilidade de análise de valor. 
  • a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé moderna.
  • essa possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação implica em uma visão de ‘operações’ e análise de valor antes do ponto de cruzamento acima, o que leva o modelo para a segunda possibilidade de análise de valor.
  • essa forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura exige duas coisas: 
    • o ‘ser do homem’;
    • o impensado e sua contrapartida no espaço da representação

a percepção  dessa contaminação, dominação mesmo,
do pensamento com o qual ‘queiramos ou não‘ pensamos,
– hoje em dia, e aqui e agora –
por configurações de pensamento
com a possibilidade, e também
com impossibilidade
de fundar as sínteses – da empiricidade objeto – 
no espaço da representação
muda completamente os domínios e os lugares onde ocorrem as operações,
 as paletas de ideias ou elementos de imagem, assim como as estruturas e os relacionamentos entre eles.

A primeira pedra de tropeço
no caminho de Michel Foucault
comparações feitas por Foucault de diferentes configurações de pensamento
Uma operação, de pensamento, de produção, etc. com a paleta de ideias e a estrutura do pensamento moderno, de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida no período 1775-1825, segundo Michel Foucault

Há diferentes modelos
que formulamos para 
visões de ocorrências 
no espaço-tempo x, y, z e t.

Ao suspeitar
da contaminação do pensamento
– do nosso, daquele com o qual queiramos ou não pensamos –
por essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, ele manifesta sua percepção de que de fato isso acontece em volta de nós e conosco.

Esses modelos,
diferentes em seus fundamentos,
são usados juntos
e/ou simultaneamente
no mesmo domínio e ambiente 
em um pensamento
contaminado
por duas epistemologias,
ou por duas maneiras
de conhecer
aquilo que dizemos
que conhecemos.

Existem modelos,
todos em uso atualmente,
que podem ser agrupados
em duas famílias:

  • aqueles com a possibilidade
  • e aqueles com a impossibilidade 

 de fundar as sínteses
 – da empiricidade objeto da operação-
no espaço da representação.

Essa a distinção entre modelos
  com e modelos sem essa possibilidade
de fundar as sínteses
[da empiricidade objeto da operação]
no espaço da representação,
que Michel Foucault faz sugere que analisemos os modelos de operações e de organizações existentes, isto é, nos modelos que usamos hoje, em busca de características de características, ou características de segunda ordem, pelas quais podem ser associados com o pensamento antes, depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, oferecendo os necessários elementos para identificação.

A figura na coluna do meio acima mostra a configuração do pensamento (o clássico,  de antes de 1775), com a impossibilidade de fundar as sínteses (da(s) empiricidade(s) objeto da operação) no espaço da representação.

Clicando nessa figura, a animação mostrará as alterações em toda a configuração do pensamento, para levantar essa impossibilidade.

A alteração se passa no lado direito da figura. 

A primeira coisa que muda é o tipo de reflexão que se instaura. 

Como decorrência, muda toda a paleta de ideias, ou elementos de imagem; 

Muda ainda o perfil do pensamento em cada configuração: 

  • o referencial
      • a ordem pela ordem
      • dá lugar à utopia do não articulado;
  • os princípios organizadores
      • que eram Caráter e Similitude
      • passam a ser Analogia e Sucessão;
  • e os métodos,
      • que eram identidade e semelhança
      • passam a ser Análise e Síntese.

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dez (10) pontos para contextualização entre Prefácio e texto do livro
'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'

1. A Forma de Reflexão que se instaura em nossa cultura
2. Proposição: o bloco padrão genérico e fundamental
para construção de representações
3. Princípios organizadores do pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
4. O Conceito de verbo no pensamento clássico,
o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
5. O conceito de verbo no pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
6. As duas sintaxes mencionadas por Foucault no Prefácio
6.1 A sintaxe que autoriza a construção das frases
6.2 A sintaxe que autoriza manter juntas
as palavras e as coisas
7. O princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
de 1776
8. O princípio dual de trabalho de David Ricardo,
de 1817
8.1 A importância de David Ricardo,

Nosso roteiro (Michel Foucault) e nossa inspiração (Humberto Maturana)

Fale conosco

O sistema SIPOC/FEPSC

O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

- História, modo de ser fundamental das empiricidades,
. o Circuito das trocas e o Lugar de nascimento do que é empírico
. Pensamento conservador e pensamento progressista

Posição relativa do par sujeito-objeto e o modelo de operações

Aquém 

história como sucessão de fatos
tais como se sucederam

História como sucessão de fatos tais como se sucederam

Diante e Além

história como alterações no ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades

História como mudança no 'modo de ser fundamental'

Duas possibilidades de leitura de operações;
duas origens de valor (interna e externa na linguagem) para representações

Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
com duas amplitudes - duas abrangências muito diferentes

Ciência e Tecnologia dependem da Filosofia e são funções das ferramentas de pensamento de que dispõe a configuração do pensamento utilizada em sua geração.

Os três movimentos do pensamento segundo Vilém Flusser

Usando o pensamento de Vilém Flusser:

  • Pensamento é um transformador do duvidoso em língua;
  • Filosofia, ou Reflexão, é texto produzido pelo pensamento ao voltar-se contra si mesmo para corrigir-se e renovar-se.
  • ciência, como o resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo, para compreendê-lo, é texto filosófico aplicado. 
  • e tecnologia, como resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo para modificá-lo, é texto científico aplicado; 

Descontinuidades epistemológicas refletem conquistas humanas no pensamento e são aprimoramentos na maneira que usamos para conhecer.  Há portanto uma relação entre, de um lado, o modo como colocamos em marcha nosso desejo de transformar o duvidoso em língua a cada nível, e de outro lado, a filosofia que temos, e a Ciência que temos, ou a tecnologia de que dispomos. Filosofia, Ciência e Tecnologia são funções do como como vemos o mundo e as coisas.

Michel Foucault (*) descreve uma descontinuidade epistemológica (uma alteração no modo como nos voltamos para o mundo para conhecer o que dizemos que conhecemos), e aponta com toda clareza diferentes jogos de ferramentas de pensamento ou estruturas conceituais, características de uma e de outra dessas epistemologias, de um e de outro lado desse evento. E aponta um período em nossa cultura ocidental, em que o pensamento esteve dominado por uma característica do período anterior.

A solução de questões trazidas à luz por essa nova maneira de conhecer (a nova epistemologia) não poderão ser resolvidas se correspondentes ciência e tecnologia não forem desenvolvidas também.

Pensamento conservador e progressista

Acompanhando o trabalho arqueológico de Michel Foucault em direção a essa classe especial de saberes, a esse conjunto de discursos chamado de ciências humanas, vê-se que em certo período consolidou-se um tipo de pensamento em cuja configuração a etapa de construção de novas representações foi incorporada. Antes disso, essa etapa de construção da representação nova ficava fora do escopo do pensamento, e depois disso essa etapa permaneceu definitivamente incorporada.

Para a configuração de pensamento que deixa fora do seu escopo a etapa de construção de novas representações a alternativa é conviver com tudo o que existe desde sempre e para sempre, tomando as coisas como pré-existentes e pertencentes ao Universo. Esse modo de pensar tem características de conservadorismo, enquanto aquela outra configuração do pensamento que inclui em seu escopo a geração de novas representações, as características de progressismo.

Neste trabalho algumas – bastantes – características de uma e de outra dessas duas características de configurações do pensamento foram apresentadas o que de certa forma pode ser usado para qualificar com algo mais do que a qualidade ‘conservador’ um pensamento de direita; e com a qualidade ‘progressista’ um pensamento de esquerda, delineando com mais precisão uma e outra dessas configurações.

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Panorama visto desde meu posto de observação

É real hoje, aqui, agora, e entre nós, a percepção – feita por Foucault – do domínio/contaminação do pensamento – ‘com o qual queiramos ou não pensamos‘ – pela impossibilidade de fundar as sínteses (do pensamento sobre a empiricidade objeto da operação) no espaço da representação(*).

Esse tipo de pensamento dominante, aquele com a impossibilidade de fundar as sínteses, é ao mesmo tempo o tipo de pensamento que não inclui a operação de construção de novas representações. E a estrutura das operações sem essa etapa reforça essa impossibilidade. Nesse contexto modelos com e modelos sem essa impossibilidade são tratados como se variações sobre o mesmo tema fossem, e não produções do pensamento completamente diferentes.

Estamos projetando e usando hoje, modelos para operações e organizações, de produção e outras, com o pensamento de exatos dois séculos atrás.

Para que isso possa ser percebido pelo projetista de modelos em diversas áreas é necessário o rompimento das condições em que se dá essa contaminação e esse domínio de uma das configurações de pensamento sobre a outra, obliterando justamente aquela que corresponde a uma conquista humana no pensamento. Para que isso aconteça é necessário que seja atendido um requisito: a construção de um critério para identificação e comparação de modelos, e sua aplicação no caso presente.

Daqui de onde vejo as coisas, é unânime a visão das coisas em termos de processo. Ninguém fala de nada além de processos: mapeia-se processos, otimiza-se processos, etc. etc. o que quer que seja, mas sempre processos. Sem que nos demos conta de como sejam as diferentes estruturas das operações em que tais ‘processos’ ocupam posição operacional. 

Michel Foucault pode fornecer os elementos necessários para a construção desse critério. Nossa intenção aqui é destacar em Foucault o que pode ser usado para o estabelecimento de uma relação pensamento – e sua aplicação na modelagem de operações em organizações. 

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

Cronologia do evento fundador da nossa modernidade no pensamento;
linha de tempo com os períodos de contaminação do pensamento
por configurações diferentes.

uma cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
o evento fundador da nossa modernidade no pensamento
Linha de tempo das conquistas humanas no pensamento e respectiva utilização prática

Acoplamentos estruturais do sistema descrito no LD - o Explicar com Reformular: os internos e aqueles com o ambiente externo

Diante e para Além do objeto

Acoplamento estrutural interno:
condições de possibilidade
Acoplamento estrutural interno:
pontos de acoplamento
Acoplamento estrutural externo:
parcial quando há diferenças nas estruturas
  • os domínios do Operar – retângulo vermelho; e do Suporte ao operar – domínio amarelo, que compõem o ‘Lugar de nascimento do que é empírico’ parte do ‘Explicar com ‘Reformular’ a empiricidade objeto, durante o caminho da Construção da representação, são exemplo do primeiro acoplamento interno. Acoplamento semelhante ocorre durante o caminho do Instanciamento da representação.(*)

     

  • há ainda acoplamentos externos ‘por cima’, lateralmente, e por baixo da estrutura no LD da figura nos dois caminhos o da Construção e o do Instanciamento. O acoplamento externo ‘por cima’ depende da estrutura com a qual se dará acopamento, e pode ser parcial.

Playground para projetistas de modelos: uma coleção de modelos de diversos tipos, para aplicação dos conceitos apresentados

Uma coleção com mais de duas dúzias de modelos, (*) para descobrir com que tipo de pensamento foram feitos:

  • se COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; ou
  • ou se SEM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação

(*) Proposta de metodologia para o planejamento e implantação de manufatura integrada por computador
de Bremer, C. F. USP SC fev 1995; entre outras fontes

Estruturas dos modelos, resultantes da utilização do referencial,dos princípios organizadores e dos métodos usados pelo pensamento, por segmento de modelos 

Aquém do objeto

Modelo de operações de Buffa e modelo de uma organização adaptado de Mauro Zilbovicius

Diante do objeto

Modelo de operações do Kanban e modelo de organização da Reengenharia

Além do objeto

Modelo de uma ciência humana Análise da produção como exemplo de qualquer outro modelo de ciência humana
Estrutura matricial – Quadro de categorias clássico. Utilização de várias ordens ligeiramente diferentes em um mesmo modelo de operações.
Estrutura hierárquica característica do objeto análogo composto substitutivo ao vislumbrado. Utilização de uma única ordem ao longo do modelo.
Mesmas características dos modelos para o segmento Diante do objeto, mas aqui, com um modelo constituinte combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

O modelo 5W2H, de um lado, e de outro, o modelo de operações do Kanban
e o modelo proposto no LD da Figura 2: usos diferentes para as mesmas ideias
ou elementos de imagem envolvidos na formulação da proposição

Aquém do objeto

Diante e Além do objeto

Modelo Provision Workbench, da Proforma
Modelo de operações de produção do Kanban
Modelo proposto para 'uma certa maneira de conhecer empiricidades'

O exame dessas três figuras mostra que ideias, elementos de imagem, homônimos, podem ser usados de modo diferente em modelos feitos sob estruturas conceituais diferentes.

No modelo 5W e 2H no lado esquerdo acima, o destaque dado pelo losango em vermelho é nosso. Não estava na figura original. A figura é organizada por um sistema de categorias composto pelas 7 perguntas 5W2H. 

O modelo da produção do Kanban é sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto da operação de produção, e é formulado como uma proposição instanciativa de um objeto previamente projetado, e portanto cuja representação foi anteriormente construída

O modelo de operações de construção de representação para empiricidade objeto (LD da figura) é feito calcado no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo; está evidenciada a formulação no formato de uma proposição. A origem de valor adotada está nas designações primitivas ( conjunto de operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites) e da linguagem de uso (o Repositório)

O pensamento de outros grandes pensadores:
John Dewey e seus dois modos de ver o mundo;
Ilya Prigogine e o conceito de caos para a ciência moderna

Diante do objeto

Ver [homem e experiência] e [natureza] vistos juntos
Os conceitos de caos, na ciência moderna;
e de Arte como a formulação com leis e eventos

As duas animações acima – a nosso ver – apenas mostram que tanto John Dewey na sua visão [homem] [experiência] e [natureza] juntos; quanto Ilya Prigogine  na sua visão do que seja caos na ciência moderna, estão pensando com uma configuração de pensamento COM a possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, o que não era comum para a ciência clássica, toda reversível.

Sistema Formulador

Aquém do objeto

Modelo relacional de dados do Microsoft Project 4.0

Diante do objeto

Módulo central do Sistema Formulador

O Sistema Formulador:

É um ante-projeto de um sistema para gestão de projetos com estrutura conceitual consistente com o pensamento moderno. 
O módulo principal do sistema é uma unidade lógica que relaciona entidades envolvidas na proposição enunciadora de operações, mantidas em banco de dados, e gera sistematicamente o modelo de operações. O Microsoft Project, então, importa o modelo gerado como se fosse próprio, e a gestão continua, agora com um modelo gramaticalmente correto e criteriosamente estruturado.

Este é um ante-projeto de um sistema de gestão COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; esse sistema pode evoluir para um sistema visual de gestão e outros aplicativos.

Destaque para dois modelos existentes:
1) LE, o SIPOC (FEPSC) do SixSigma; 2) LD e o Visão da PHD, da PHD Brasil
e no centro, as diferenças entre eles

Aquém do objeto

O diagrama FEPSC (SIPOC) mostrando a estrutura

diferenças

Comparação

Diante do objeto

A Visão da PHD

Comparação do modelo SIPOC ou FEPSC – SixSigma(*) com o modelo Visão da PHD(**) do ponto de vista das estruturas respectivas.
A animação central mostra o que falta – estruturalmente – ao SixSigma para ter a estrutura do modelo da direita.

(*) Gestão integrada de processos e da tecnologia da informação; capítulo Identificação, análise e melhoria de processos críticos Figura 3.1 Representação da FEPSC, de Roberto Gilioli Rotondaro
Coordenadores: Fernando José Barbin Laurindo e Roberto Gilioli Rotondaro, Editora Atlas, jan/2006
(**) A Visão da PHD, da empresa PHD Brasil

O mapa de operações de produção do Kanban;
e o mapa da organização segundo a Reengenharia

Diante do objeto

Modelo de operações
do Kanban

Modelo de operações do Kanban

Mapa da organização
segundo a Reengenharia

Mapa da Reengenharia (modificado) e comentado

Temos à esquerda, o modelo do Kanban com a referência (*) abaixo. e á direita, a Figura 7.1 do livro Reengenharia, referência (**) abaixo. São organizados sobre a proposição, e pertencem à configuração do pensamento moderno.  Você pode certificar-se  da veracidade dessas duas afirmativas neste ponto (17).

(*) Artigo ‘A comparison of Kanban and MRP concepts for the control of Repetitive Manufacturing Systems’ de:
James W. Rice da Western Kentucky University e Takeo Yoshikawa da Yolohama National University
(**) Reengenharia – revolucionando a empresa: em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência 
de Michael Hammer e James Champy

Exemplos de modelos existentes, e muito usados,
nas diferentes estruturas conceituais

Aquém do objeto

Diante do objeto

Modelos de: operação de produção; e organização típica
Modelos de: operação contábil/financeira e modelo de organização
Modelos de: operação de produção do Kanban; e modelo de organização da Reengenharia

Exemplos de modelos muito conhecidos para operações e para as organizações

  • operação: Operações de produção, de Elwood S. Buffa;
  • organização: adaptação de Organização típica.
  • operação: operação contábil financeira débito e crédito;
  • organização: Ativo, Passivo e Resultados.
  • operação: modelo do Kanban;
  • organização: mapa da reengenharia.

A proposição como o bloco construtivo padrão  (Lego)
fundamental para a construção de representações

Aquém do objeto

Proposição ausente
do sistema Input-Output

Diante do objeto

A proposição no caminho
da Construção da representação

Além do objeto

A proposição no caminho
do Instanciamento da Representação

‘A proposição é, para a linguagem,
o que a representação é para o pensamento:
sua forma ao mesmo tempo mais geral e mais elementar porquanto, desde que a decomponhamos, não encontraremos mais o discurso, mas seus elementos como tantos materiais dispersos.’(*)

“A língua é
a mais complexa,
a mais milagrosa,
a mais estranha,
a mais gigantesca e variada
invenção humana.” (**)

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

 


(**) Frases de Millor Fernandes

Os dois conceitos para o que seja um verbo:
verbo Processo, e verbo Forma de produção

Aquém do objeto
verbo ‘Processo

Verbo tratado como Processo

Diante e Além do objeto
verbo ‘Forma de produção’

Verbo tratado como Forma de produção

“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações; 
por exemplo
a do verde e da árvore,
a do homem e da existência ou da morte. 

É por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele em que
as coisas aconteceram no absoluto, 
mas um sistema relativo  
de anterioridade
ou simultaneidade 
das coisas entre si.”
(*)

“O limiar da linguagem
está onde surge o verbo.
É preciso portanto 
tratar esse verbo como um ser misto, 
ao mesmo tempo palavra entre palavras,
preso às mesmas regras 
de regência
e de concordância;
e depois, em recuo em relação a elas todas, 
numa região que não é aquela do falado 
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso, na juntura entre 
aquilo que é dito e aquilo que se diz; 
exatamente lá onde os signos 
estão em via de se tornar linguagem.
(*)

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

Os dois conceitos para o que seja 'Classificar'

Aquém do objeto

Classificar como uma referência
do visível a si mesmo

Diante e Além do objeto

Classificar como uma referência
do visível ao invisível

Classificar é referir
o visível a si mesmo,
encarregando um dos elementos
de representar os outros.(*)

Classificar é referir
o visível ao invisível
– como a sua razão profunda –
e depois, alçar de novo dessa secreta arquitetura, em direção aos seus sinais manifestos, que são dados
à superfície dos corpos.
(*)


(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
cap. VII – Os limites da representação;
tópico III. A organização dos seres; sub-item 3

Os dois princípios filosóficos para o que seja de trabalho

Aquém do objeto
Adam Smith, de 1776(*)

Princípio monolítico de trabalho
de Adam Smith, de 1776

Diante e Além do objeto
David Ricardo, de 1817(**)

Princípio dual de trabalho
de David Ricardo, de 1817


As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas; 
(*) Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico II. A medida do trabalho;


As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
(**) Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico II. Ricardo

Elementos centrais em cada formulação por segmento do espectro

Aquém do objeto
PROCESSO

Diante do objeto
Forma de produção

Além do objeto
NEXO DA PRODUÇÃO

Processo: elemento central
no modelo de operação clássico
Forma de produção: elemento central
no modelo de operações moderno
Nexo da produção: resultante da visão
SSS da organização

Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais qualquer providência, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento (laboratório piloto, fábrica) com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV – Falar; tópico II. Gramática geral
Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; I. As novas empiricidades

Espaços Gerais do Saber
em cada segmento do espectro

Aquém do objeto

Diante do objeto

Além do objeto

Espaço Geral do Saber Clássico
Espaço Geral do Saber no pensamento Moderno
Espaço interior do Triedro do Saber

As mudanças nas configurações do pensamento promoveram reposicionamentos das positividades umas em relação às outras, resultando em três espaços gerais do saber.(*)

(*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo III – Representar; tópico VI. Mathésis e Taxinomia;
Capítulo X – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes; 
de Michel Foucault

O tempo em cada uma das faixas do espectro;
e para as diferentes etapas das operações indicadas

Aquém
do objeto
qualquer operação

Diante 
do objeto
caminho da Construção 

Diante 
do objeto
caminho da Instanciamento

Tempo no LE, em qualquer operação no sistema Input-Output, sob o deus Chronos
Tempo LD, operação no caminho da Construção da representação,
sob o deus Kairós
Tempo LD, operação no caminho do Instanciamento da representação,
novamente sob o deus Chronos

Tempo, em cada um dos segmentos do espectro, muda:

  • aquém do objeto, na estrutura input-output sob o pensamento clássico, temos um tempo relativo, ou um tempo calendário, cujo deus é Chronos;
  • diante do objeto mas no caminho da Construção da representação, sob o pensamento filosófico moderno, temos um tempo absoluto, um tempo não-calendário, cujo deus é Kairós;
  • e ainda diante, e também além do objeto, tempos um tempo que volta a ser relativo, calendário, e a soberania volta a ser a de Chronos.

O espaço dado ao homem - 'naquilo que ele tem de empírico' -
na estrutura dos modelos

Aquém do objeto

Diante e Além do objeto

Sistema clássico de pensamento:
sem espaço em sua estrutura
para os dois papéis do homem.
Os dois papéis do homem
presentes e operativos na estrutura
d'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'

Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia. (…)
Sem dúvida,
as ciências naturais trataram do homem
como de uma espécie ou de um gênero.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico II. O lugar do rei

‘Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas, reclamando para seu devir não mais que o princípio de sua inteligibilidade e abandonando o espaço da representação, o homem, por seu turno, entra e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental’ (*)

“O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: está, ao mesmo tempo, 

  • no fundamento de todas as positividades,
  • presente, de uma forma
    que não se pode sequer dizer privilegiada,
    no elemento das coisas empíricas.” (**)

 (*) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas; 
Prefácio

(**) As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;  
Capítulo X – As ciências humanas;
I. O triedro dos saberes

Desenvolvimento das operações
por segmento do espectro de modelos

Aquém do objeto

Diante do objeto

Além do objeto

  • no sistema Input-Output; usando uma ordem arbitrariamente escolhida;
  • e com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as chamadas ‘aparências’;
  • No sistema correspondente ao que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, que tem como elemento construtivo padrão fundamental a proposição, da qual herda as categorias de ideias ou elementos de imagem de primeiro nível;
  • e com propriedades sim-originais e sim-constitutivas daquilo que se constitui na existência em decorrência das operações.
  • No sistema formulado no campo das ciências humanas, com modelos constituintes compostos por uma combinação dos modelos constituintes das ciências que integram a região epistemológica fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
  • Nexo da operação.

Veja mais detalhes nas animações que podem ser encontradas nas páginas de detalhe deste tópico.

Funcionamento do pensamento
em cada um dos segmentos desse espectro

Antes do objeto

Diante do objeto

Além do objeto

Operação no sistema Input-Output
sobre representações pré-existentes
Operação de construção de representação não existente no repositório
Operação de instanciamento de representação pré-existente no repositório

Paletas com o conjunto completo de ideias ou elementos de imagem necessários para a formulação das respectivas imagens das ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t ; incluindo relacionamentos entre esses elementos de imagem.(*)

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
tópico I. As novas empiricidades, de Michel Foucault

Estruturas de conceitos em cada ambiente de formulação identificado pela possibilidade ou pela impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação

Posição em relação ao par sujeito-objeto

Estrutura conceitual
para o pensamento clássico
Estrutura conceitual
para o pensamento moderno

Referencial:

  • Ordem pela ordem;

Princípios organizadores: 

  • Caráter e similitude;

Métodos:

  • Identidade e semelhança

Referencial:

  • Utopia;

Princípios organizadores: 

  • Analogia e Sucessão;

Métodos:

  • Análise e Síntese

‘Assim, estes três pares,
função-norma,
conflito-regra,
significação-sistema,

cobrem, por completo,
o domínio inteiro
do conhecimento do homem.'(*)

São essas as ferramentas de que se arma o pensamento – em cada segmento do espectro de modelos, para produzir as imagens que servem de mapas, para orientação na construção das representações.

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

Imaginação e Conceituação - funções humanas reversíveis:
Imagens tradicionais e Técnicas

Imagens tradicionais

Imagens técnicas

Classes de abstrações

As imagens tradicionais
Imagens técnicas, as imagens produzidas por aparelhos (computadores)
Classes de abstrações
  • Imaginação e Conceituação, funções humanas reversíveis que todos temos para codificar e decodificar imagens tradicionais e textos;
    • idolatria é o uso continuado de imagens que, quando decodificadas, não mais nos levam à visão da ocorrência no espaço-tempo x, y, z e t, isto é, imagens que não mais nos servem de guias para o mundo, mas de biombos;
    • textolatria é o uso continuado de textos que, quando decodificados, não mais nos levam às imagens que fizemos para as ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t
  • e as Imagens técnicas, especiais, aquelas imagens produzidas por aparelhos (computadores em destaque); as Imagens técnicas exigem, para seu entendimento, uma Conceituação especial.(*)

(*) Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia;
Capítulos I – A imagem; e II – A imagem técnica,
de Vilém Flusser 

Modelos constituintes de modelos
em cada uma das faixas desse espectro

Posição relativa modelo de operações - sujeito-objeto

Aquém

não há modelos constituintes nesse segmento do espectro, já que, pelos pressupostos adotados (Universo, realidade única) nada é constituído na existência em decorrência das operações feitas

Diante

modelo constituinte composto pelo par constituinte correspondente ao campo em que o modelo é formulado, tomados isoladamente em cada área: 

  • Vida (Biologia) –
    [função-norma]; 
  • Trabalho (Economia) –
    [conflito-regra]; 
  • Linguagem (Filologia)- [significação-sistema]

para Além

campo das Ciências Humanas com modelos constituintes formados por uma combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, tomados todos em conjunto em cada modelo, dada ênfase a uma das áreas das ciências da região epistemológica fundamental

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

 

O espectro de modelos, segundo essa possibilidade de sim-fundar, ou não-fundar, as sínteses no espaço da representação: Aquém, Diante e para Além do objeto - os segmentos do espectro de modelos de visões de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t

O modo como Foucault descreve o problema que encontrou em seu trabalho pode ser mapeado em um espectro de modelos agrupados segundo os dois fatores por ele percebidos:  fator 1, com duas regiões quanto à fundação das sínteses na representação e com três regiões quanto à posição relativa ao objeto e ao sujeito: 
Aquém, Diante e para Além do objeto. 

Fundação das sínteses no espaço da representação

Impossibilidade

Possibilidade

Aquém

do objeto
(e do sujeito)

Diante

do objeto
(e do sujeito)

para Além

do objeto
(e do sujeito)

Fator 1 – o domínio/contaminação do pensamento com o uso simultâneo de configurações de pensamento 

  • com a  impossibilidade 
  • e também com a possibilidade,

de fundar as sínteses da representação da empiricidade objeto, no espaço da representação’; com duas regiões em um espectro de modelos:

Fator 2 – dar conta da obrigação correlativa (…) de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os “quase-transcendentais”

com as seguintes regiões no espectro de modelos:

 1. região do espectro: ‘Aquém do objeto’ (na impossibilidade);

 2. região do espectro: ‘Diante do objeto’ (na possibilidade)

    • da Vida, (Biologia) par constituinte função-norma
    • do Trabalho, (Economia) par conflito-regra
    • e da Linguagem. (Filologia) par significação-sistema

 3. região do espectro: ‘para Além do objeto’, (na possibilidade) e no campo das ciências humanas, no espaço interior do triedro dos saberes.

outra região no espectro de modelos, com modelo constituinte único composto dos três pares constituintes das três regiões epistemológicas fundamentais

- A pedra de tropeço no caminho de Michel Foucault e
- Os caminhos (e alterações de rota) de Maturana

Michel Foucault
1926-1984

“É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado 

  • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII, de fundar as sínteses [da empiricidade objeto do pensamento] no espaço da representação;
  • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o 
    campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, para além do objeto, esses “quase-transcendentais” que são para nós a Vida, o Trabalho, e a Linguagem.”  (*)
Humberto Maturana
1928-

“Substituir 

  • a noção de input-output 
  • pela de acoplamento estrutural 

foi um passo importante na boa direção por evitar a armadilha da linguagem clássica de fazer do organismo um sistema de processamento de informação.
(…) Contudo é uma formulação fraca por não propor uma alternativa construtiva e deixar a interação na bruma de uma simples perturbação. (…) Frequentemente se tem feito a crítica de que a autopoiese leva a uma posição solipsista. (**)

(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico: I. As novas empiricidades
(**) De máquinas e de seres vivos: autopoiese – a organização do vivo; Prefácio à segunda edição; tópico Além da autopoiese; sub-tópico: Enacção e cognição, de Francisco José Garcia Varela

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Modelo descritivo da produção clássico

Paleta de ideias ou elementos de imagem
presentes na configuração de pensamento clássico

Mapa resumo das operações SSS na organização
centrada no par sujeito-objeto

A organização das operações na estrutura SSS

Mapeamento da disposição SSS das operações em uma organização