Cópia da 'Sanfona' original completa
Veja essa história em uma animação que está em
Uma história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas,
contada pelo próprio autor no Prefácio
A ideia aqui é sobrepor o texto dessa historinha a uma imagem em que estão representadas as duas estruturas exigidas pelos modelos de operações em dois perfis
- o texto de Borges, que deu origem ao livro, associado a uma heterotopia e ao pensamento clássico;
- efeitos desse texto sobre as familiaridades do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todos os planos e todas as superfícies ordenadas que tornam para nós sensata a profusão dos seres; e fazendo vacilar e inquietando por muito tempo, nossa prática milenar do Mesmo e do Outro;
- associação da Utopia ao pensamento moderno (o impensado organizando as operações)
- o texto da Enciclopédia chinesa uma taxinomia sob o pensamento clássico;
- o limite do nosso pensamento: a impossibilidade de pensar isso.
- Que coisa é impossível pensar? e de que impossibilidade se trata?
- a desordem pior que aquela do incongruente, ou da aproximação daquilo que não convém:
- seria a utilização de um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito;
- o consolo das Utopias;
- a inquietação causada pelas heterotopias;
- porque solapam secretamente a linguagem;
- porque impedem de nomear as coisas, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham,
- porque arruínam de antemão a sintaxe
- e não somente a sintaxe que constrói as frases
- também aquela sintaxe, menos manifesta, que autoriza manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas.
Michel Foucault vê dois obstáculos que adiaram o término do seu trabalho no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Ele via:
- uma impossibilidade que dominava o nosso pensamento;
- e uma obrigação
- de abrir o campo transcendental da subjetividade
- e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais
Vida, Trabalho e Linguagem.
Veja isso em
Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu caminho,
com especial destaque para o segundo obstáculo, a saber, o cumprimento da obrigação de abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, o espaço em que habitam os modelos das ciências humanas.
Em nenhum momento Foucault solicita ao seu leitor que faça um ato de fé no que ele diz.
Foucault argumenta sempre, a partir de dados levantados quanto ao modo de ser do pensamento em uma vasta plêiade de autores contemporâneos às mudanças.
Foucault via no conjunto de teorias, modelos e sistemas em nossa cultura, um espectro de modelos com três segmentos, que decorre dessa visão, e que aponta para o futuro; e que lhe sugeria a necessidade de distinções entre esses diferentes modos de ser do pensamento, e todo o trabalho com a arqueologia feita no ‘As palavras e as coisas’:
“Eis que nos adiantamos bem para além do acontecimento histórico que se impunha situar – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura que divide, em sua profundidade, a epistémê do mundo ocidental e isola para nós o começo de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.
É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado
- pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
de fundar as sínteses no espaço da representação.- e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental da subjetividade
e de constituir, inversamente, para além do objeto,
esses quase-transcendentais que são para nós a Vida, o Trabalho, a Linguagem.As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (Cartilha); Capítulo 7 – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades
Como se vê pelo ponto em que se insere na ‘Cartilha’ essa citação, o capítulo 7 de um trabalho em dez capítulos, quando escreveu esse trecho Foucault já tinha bem adiantado seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’; nesse momento ele aponta dois obstáculos, duas pedras de tropeço que precisou enfrentar e que tiveram o poder de dilatar em muito o tempo necessário para fazer esse livro; ele via:
- uma impossibilidade, a de fundar as sínteses [da representação para a empiricidade objeto de cada operação] no espaço da representação;
- e uma obrigação a ser cumprida:
a de abrir o campo transcendental da subjetividade
e de constituir, inversamente, para além do objeto,
os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem
O espectro de modelos com três segmentos: AQUÉM, DIANTE e ALÉM do objeto
O espectro de modelos com três segmentos, que abriga teorias, modelos e sistemas desde o século XVII até o século XXI, usando essa análise de Michel Foucault decorre desse momento intenso de Foucault.
- AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas com a impossibilidade
de fundar as sínteses dos objetos das operações no espaço da representação; - DIANTE do objeto – teorias, modelos e sistemas sem essa impossibilidade, com a possibilidade,
de fundar as sínteses dos objetos das operações, no espaço da representação; - para ALÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas nos quais
foi aberto o campo transcendental da subjetividade e foram constituídos
os “quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:
estes, os modelos no domínio das ciências humanas.
- AQUÉM do objeto – teorias, modelos e sistemas com a impossibilidade
Veja isto em
Cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura entre 1775 e 1825
segundo Michel Foucault
De um lado e de outro dessa descontinuidade epistemológica temos:
- antes de 1775 – pensamento clássico ou idade clássica do pensamento, com modelos com a (im)possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação;
- depois de 1825 – pensamento moderno ou a nossa modernidade no pensamento, com modelos com a possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação.
Note que Adam Smith e David Ricardo estão posicionados em lados opostos com relação à fase de ruptura desse evento ao qual Foucault dá o status de evento fundador da nossa modernidade no pensamento.
Note ainda que todos os autores que formam a base do liberalismo clássico também estão posicionados por Foucault antes desse evento, em plena idade clássica.
eúdo da sanfona
“Instaura-se uma forma de reflexão,
bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana,
em que está em questão, pela primeira vez,
o ser do homem, nessa dimensão segundo a qual
o pensamento se dirige ao impensado
e com ele se articula.”
Cartilha; Cap. 9. O homem e seus duplos; V – O “cogito” e o impensado
Nesse excerto da Cartilha, Foucault coloca na proposição:
- o ser do homem (o sujeito)
- dirigindo-se ao objeto, o impensado, (atributo do predicado do sujeito).
Nota: Nessa forma de reflexão que se instaura ‘ o ser do homem’ não se dirige ao intangível!
Intangível é uma qualidade de algo e não faz parte das propriedades originais e constitutivas desse algo.
Essa forma de reflexão sim, dirige-se ao impensado, o objeto por inteiro, em relação ao qual o Pensamento pode muito. Pode descobrir suas propriedades originais e constitutivas, propriedades substantivas, e não adjetivas, aparências, como é o intangível.
(Ref. Entrevista de Jorge Forbes)
Ao contrário do impensado, que mediante articulação no pensamento patrocinada pelo sujeito, pode ganhar o espaço da representação, o intangível na maioria dos casos, permanece exatamente isso: intangível.
Veja as bases de sustentação e essa forma de reflexão em
Essa forma de reflexão é consistente e está na base do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.
Veja em imagens
que ilustram essa forma de reflexão no depois da descontinuidade epistemológica, e a reflexão no período anterior.
Veja isso na página:
veja também o tempo respectivamente para cada operação levando em conta, no pensamento moderno, as operações de Construção de representação nova, e as de Instanciamento de representação previamente existente.
Note que a amplitude da visão do fenômeno ‘operações’ é muito maior no pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825. Neste caso a visão do fenômeno abrange a construção da representação para a empiricidade objeto, e também o instanciamento de representação previamente existente em um repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua; enquanto que sob o pensamento clássico o fenômeno é visto apenas a partir da fase de instanciamento.
Veja que há uma correspondência entre as visões de operações no pensamento clássico e no princípio monolítico de trabalho de Adam Smith, de 1776, e pensamento moderno e o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817.
Certifique-se dessa correspondência visualizando as figuras feitas para os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo.
a página que o link acima dá acesso mostra também as diferenças entre esses dois princípios de trabalho nas palavras de Michel Foucault. Mas por favor certifique-se de que essas diferenças apontadas por Foucault entre os dois princípios de trabalho correspondem também, e são consistentes, com
Uma Anatomia ou uma Cartografia para modelos de operações segundo a configuração do pensamento:
- pensamento clássico, o de antes de 1775;
- não há construção de representações;
- domínio: do Discurso e da Representação;
- elemento central: Processo
- ordem: Quadro de simultaneidades com um Sistema de categorias. (pode ser múltipla, e de uso simultâneo).
- pensamento moderno, o de depois de 1825;
- caminho da Construção da representação;
- Lugar do nascimento do que é empírico;
- Lugar desde onde se fala: domínio do Pensamento e da Língua;
- Lugar do falado: domínio do Discurso e da Representação.
- elemento central: Forma de produção;
- ordem: única, dada pelas regras da gramática da língua utilizada.
- origens de valor
- designações primitivas;
- linguagem de ação ou de uso: Repositório
- Lugar do nascimento do que é empírico;
- caminho do Instanciamento da representação;
- domínio do Discurso e da Representação;
- Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas;
- linguagem de ação ou de uso: Repositório.
- domínio do Discurso e da Representação;
- caminho da Construção da representação;
- operação sob o pensamento clássico, antes de 1775
- O circuito das trocas (Mercado),
- no interior do domínio do Discurso e da representação.
- operação sob o pensamento moderno, depois de 1825
- operação de Construção da representação: o Lugar de nascimento do que é empírico;
- no interior de dois domínios
- o domínio do Pensamento e da língua;
- o Lugar desde onde se fala;
- o domínio do Discurso e da representação.
- o Lugar do falado.
- o domínio do Pensamento e da língua;
- o Circuito das trocas (Mercado) nas operações de instanciamento de representação anteriormente existente sob o pensamento moderno.
Veja novamente a página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos
A. Pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775
1. Transformação única, de Entradas ⇒ Saídas, sobre a estrutura Input-Output, ou um processamento de informações
A metáfora da transformação de Entradas ⇒ Saídas, sobre a estrutura Input-Output, que dá lugar a um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si é válida aqui, e é a famosa caixa preta.
Seu elemento central é Processo, um verbo, que a única coisa que afirma é a coexistência de duas representações indicando a coexistência
Com a opção pela leitura do fenômeno ‘operações’ desde um ponto de vista posicionado no cruzamento do que é dado com o que é recebido na troca, essa metáfora representa apelas a operação de instanciamento de representação anteriormente feita e já carregada de valor diretamente atribuído à proposição.
Toda a etapa da construção de representação nova está fora desse escopo e por isso, a transformação pode ser única.
Veja aqui em Conceitos homônimos mas com significados diferentes, os conceitos para o que seja um verbo.
B. Pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825
1. Metáforas no caminho da Construção da representação:
uma Conversão, ou um par de transformações de mesmos sinais
Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos sob o título Conversão ou um par de transformações de mesmos sinais no caminho da Construção da representação.
Toda a operação pode ser reduzida a uma
- Conversão, de pensamento não articulado em representação.
Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:
- Primeira transformação:
- [não – sim] pensamento não-articulado em pensamento sim-articulado;
- Segunda transformação:
- [sim – não] representação não-existente para representação sim-existente.
2. Metáforas no caminho do Instanciamento da representação: outra Conversão, ou um par de transformações mas agora de sinais opostos
Veja novamente página Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações em cada segmento do espectro de modelos agora sob o título Conversão ou um par de transformações de sinais trocados no caminho do Instanciamento da representação.
Toda a operação pode ser reduzida a uma
- Conversão,
- de uma disponibilidade de recursos
- para disponibilidade de objeto da produção.
Essa conversão pode ser desdobrada em um par de transformações de mesmos sinais:
- Primeira transformação: [não – sim] Consumo, ou disponibilidade de recursos para indisponibilidade de recursos;
- Segunda transformação: [não – sim] Produção: indisponibilidade de objeto para disponibilidade de objeto.
A. Modelos de operações sob o pensamento clássico, o de antes de 1775
1. Fluxo
Veja em Funcionamento das operações… a animação sob o título Aquém do objeto. Essa é uma operação de instanciamento de representação formulada anteriormente como uma composição de representações existentes. O apontador de início da operação está no cruzamento entre o dado e o recebido, ou na disponibilidade dos dois objetos envolvidos em uma eventual operação de troca.
Sob o pensamento clássico, o de antes de 1725 e anterior à descontinuidade epistemológica temos:
- O tipo de pensamento usado tem a impossibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação – o primeiro obstáculo vislumbrado por Foucault em seu trabalho;
- Essa impossibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para o cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca, ou o ponto em que os dois objetos envolvidos na operação de troca estão disponíveis;
- A operação pode acontecer no Circuito das trocas já que os objetos envolvidos nesse tipo de operação estão disponíveis; essa operação transcorre inteiramente em um domínio único, o domínio do Discurso e da representação.
- História, nesse tipo de operações, é entendida como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram.
- O tipo de propriedades possíveis de serem consideradas na modelagem das operações é propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, que são selecionadas para participar das operações por suas propriedades consistentes com esse tipo, ou por “aparências”.
- O elemento central desse modelo de operações é ‘Processo’, sobre um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
- Resta nesse modelo de operações a contabilidade do que se aproxima de uma região do espaço em que ocorrem operações, do que entra nessa região, do que fica nessa região ou que Sai dela. A análise se restringe a esse Fluxo, pela total ausência da noção de objeto definido pelas suas propriedades originais e constitutivas, e pela pressuposição de que tudo existe, desde sempre e para sempre prescindindo assim da noção de sujeito.
B. Modelos de operações sob o pensamento moderno, depois de 1825
1. Permanência: no caminho da Construção da representação:
Veja agora em Funcionamento das operações… a animação sob o título Diante do objeto. A operação modelada é de formulação da representação para empiricidade objeto ainda não representada. Ao final dessa operação passa a existir a representação, ou o projeto, do objeto antes indisponível para eventual operação de troca. E esse objeto, com o fim dessa operação com sucesso, está resolvido (seu projeto foi executado) mas ainda está indisponível. Para que ele esteja disponível será necessário o desencadeamento da etapa de instanciamento dessa representação recém criada. Então, a aposta é que essa representação permaneça em um repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, de onde será selecionado para essa ulterior operação de instanciamento.
- O tipo de pensamento utilizado tem desta vez a possibilidade de fundar as sínteses [do objeto das operações] no espaço da representação.
- Essa possibilidade arrasta o ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ para antes do ponto de cruzamento entre o que é dado e o que é recebido em uma operação de troca, ou para o ponto em que pelo menos um dos objetos envolvidos na operação de troca não está disponível;
- A operação transcorre no, ‘ interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico: “Assim como a Ordem no pensamento clássico não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento, sua regularidade ou sua simetria constatados, mas o espaço próprio de seu ser e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, assim também a História, a partir do século XIX, define o lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele assume o ser que lhe é próprio.”
- História, nesse tipo de operação é o “modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”
- O tipo de propriedades consideradas na modelagem de operações é propriedades sim-originais e sim-constitutivas do objeto da operação, exatamente aquele objeto que falta para compor uma operação de troca.
- O elemento central deste modelo de operações agora é a Forma de produção, em um sistema absoluto no qual “aquém de toda cronologia estabelecida, ele [o objeto da operação, aquele que falta para compor a operação de troca] assume o ser que lhe é próprio.
- Nesse modelo de operações a representação (projeto) daquele objeto que faltava para eventual operação de troca é construída e dessa construção de nova representação surgem as propriedades sim-originais e sim-constitutivas que descrevem essa representação construída.
2. Fluxo: no caminho do Instanciamento da representação:
A propriedade emergente volta a ser Fluxo, no caminho do Instanciamento da representação.
A representação objeto da operação de instanciamento é recuperada do Repositório no estado em que ela se encontrava quando foi adicionada a ele.
A empiricidade objeto será instanciada nesse estado em que foi recuperada; assim, o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto da operação de instanciamento não muda.
Processos, atividades, etc. que compõem os elementos de suporte na experiência da Forma de produção são desencadeados, e há fluxos vários, que são mostrados na página indicada.
Veja uma coleção de conceitos chamados pelos mesmos nomes, mas consignificados muito distintos, sob o pensamento clássico e sob o moderno.
Veja isso na seguinte página:
Uma lista de alguns conceitos distintos no significado mas chamados pelos mesmos nomes:
- 0. as duas leituras para o fenômeno ‘operações’, as duas origens para a essência da linguagem e correspondentes duas possibilidades de análise de valor;
- 1. dois conceitos para o que seja um verbo;
- 2. dois conceitos para o que seja ‘Classificar’;
- 3. dois papéis atribuídos ao homem;
- 4. dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento;
- 5. duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova;
- 6. dois conceitos para História;
- 7. dois espaços gerais do saber;
- 8. dois conceitos para tempo: calendário e absoluto;
- 9. a proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações.
- 10. Tabela de propriedades das duas configurações do pensamento.
Poderia transcrever aqui o conteúdo da página ‘Conceitos homônimos…’ cujo link acima dá acesso. Mas estaria fazendo uma repetição desnecessária: por favor, veja a página com os Conceitos homônimos com significados diferentes no antes e no depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. que já vai ajudar bastante.
A análise das riquezas, junto com a gramática geral e a história natural, no pensamento clássico- o de antes de 1775, são contrapostas à análise da produção, filologia e biologia no pensamento de depois de 1825.
“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe.
Em contrapartida,
existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior
de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente,
confiscando um pouco de seu sentido
ou corroendo sua extensão.Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente
e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação,
de renda, de interesse.
Esse domínio,
solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.
Inútil colocar-lhe questões
vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo,
em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes
em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta
o sistema em que assumem sua positividade.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas
Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de riquezas do pensamento filosófico clássico. (o que nem é difícil de perceber que é feito, em nosso meio)
O mínimo que somos chamados a fazer é esclarecer as razões pelas quais o conceito ‘riquezas’ é tão largamente utilizado; e as razões pelas quais Michel Foucault escreve “economia” assim, entre aspas, quando se refere ao período clássico.
- ‘designações primitivas’
- e ‘linguagem de ação ou raiz’,
- ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ colocado no cruzamento da disponibilidade entre dois objetos intervenientes na operação de troca: o que é dado e o que é recebido, testando as condições de troca;
- ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ antes da disponibilidade de um dos objetos, testando desta vez a permutabilidade futura desse objeto e não imediatamente as condições de troca.
O carregamento de valor na proposição em cada caso:
- valor é carregado diretamente na proposição desde dentro do espaço da representação;
- valor é carregado na proposição desde fora do espaço da representação, com origens de valor externas ao espaço da representação, provenientes de:
- designações primitivas;
- linguagem de ação ou raiz.
Operações calcadas no Princípio Dual de trabalho de David Ricardo têm valor carregado na proposição e por elas para as representações como no segundo caso acima.
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- Unanimidades de conceitos pelo uso:
- ‘Mercado’,
- ‘Processo’,
- ‘Riquezas’;
- Unanimidades de conceitos pelo não uso:
- ‘Lugar de nascimento do que é empírico’,
- ‘Forma de produção’,
- ‘Análise da produção’
As unanimidades nos conceitos, pelo seu uso, e pelo não uso: ‘Mercado’, ‘Processo’, ‘Riquezas’ conceitos de antes da descontinuidade epistemológica e portanto na idade clássica, são campeões de unanimidade pelo uso; e os correspondentes conceitos do após a descontinuidade epistemológica e portanto da nossa modernidade no pensamento, campeões absolutos pelo não-uso: ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, ‘Forma de produção’, ‘Análise da produção unânimes pelo não uso.
“Assim como a Ordem no pensamento clássico
não era a harmonia visível das coisas, seu ajustamento,
sua regularidade ou sua simetria constatados,
mas o espaço próprio de seu ser
e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo,
as estabelecia no saber,
assim também a História, a partir do século XIX,
define o lugar de nascimento do que é empírico,
lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida,
ele assume o ser que lhe é próprio.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história
Mercado é o lugar onde ocorrem as trocas; Foucault chama isso de Circuito das trocas, e nós chamamos de Mercado.
Lugar do nascimento do que é empírico é o lugar onde, aquém de toda cronologia estabelecida, ele [as coisas empíricas] assume o ser que lhe é próprio.
Veja o modelo de operações – de produção e outras – sob o pensamento moderno, e note que ‘Lugar do nascimento do que é empírico‘ é um lugar, mesmo, e não o uso de ‘lugar’ como um cacoete retórico.
É um lugar onde as empiricidades objeto de operações têm alterado o seu ‘modo de ser fundamental‘, definido por Michel Foucault como o elemento ordenador da história sob o pensamento filosófico moderno.
modo de ser fundamental de uma empiricidade é aquilo a partir do que ela pode ser “afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.” Cartilha; Cap. 7 – Os limites da representação; tópico I. A idade da história.
A. Unanimidades de conceitos pelo seu uso:
‘Mercado‘, “Processo‘, ‘Riquezas
1. A primeira unanimidade pelo uso, é a utilização de ‘Mercado’, economia de mercado, e variações.
“Certamente, para Ricardo como para Smith,
o trabalho pode realmente
medir a equivalência das mercadorias que passam pelo circuito das trocas:”“Na infância das sociedades,
o valor permutável das coisas
ou a regra que fixa a quantidade que se deve dar
de um objeto por outro
só depende da quantidade comparativa de trabalho
que foi empregada na produção de cada um deles.”A diferença, porém, entre Smith e Ricardo está no seguinte:
- para o primeiro, o trabalho, porque analisável em jornadas de subsistência, pode servir de unidade comum a todas as outras mercadorias (de que fazem parte os próprios bens necessários à subsistência);
- para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
- não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho,
- mas primeiro e fundamentalmente porque
o trabalho como atividade de produção
é a fonte de todo valor”.Já não pode este ser definido, como na idade clássica, partir do sistema total de equivalências e da capacidade que podem ter as mercadorias de se representarem umas às outras.
O valor deixou de ser signo, tomou-se um produto.
Se as coisas valem tanto quanto o trabalho que a elas se consagrou,
ou se, pelo menos, seu valor está em proporção a esse trabalho,
não é porque o trabalho seja um valor fixo, constante
e permutável sob todos os céus e em todos os tempos,
mas sim porque todo valor, qualquer que seja, extrai sua origem do trabalho.
E a melhor prova disso está em que o valor das coisas
aumenta com a quantidade de trabalho que lhes temos de consagrar se as quisermos produzir; porém não muda com o aumento ou baixa dos salários
pelos quais o trabalho se troca como qualquer outra mercadoria.”Circulando nos mercados, trocando-se uns por outros,
os valores realmente têm ainda um poder de representação.
Extraem esse poder, porém, de outra parte –
desse trabalho mais primitivo e radical do que toda representação
e que, portanto, não pode definir-se pela troca.Enquanto no pensamento clássico
o comércio e a troca
servem de base insuperável para a análise das riquezas
(e isso mesmo ainda em Adam Smith,
para quem a divisão do trabalho é comandada pelos critérios da permuta),desde Ricardo,
a possibilidade da troca está assentada no trabalho;
e a teoria da produção, doravante,
deverá sempre preceder a da circulação.
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 8 Trabalho, vida e linguagem; tópico II – Ricardo
2. A segunda unanimidade pelo uso, é ‘Processo’
Processo é o elemento central daquele tipo de operações que o mais que fazem é assinalar a coexistência de duas representações aceitando sua existência prévia, e tomando como bons os valores a elas carregados pelas proposições em uma linguagem que lê operações como fenômeno, a partir da disponibilidade dos dois objetos envolvidos na troca.
Para modelar esse tipo de operação a estrutura Input-Output é mais do que suficiente; e a natureza das operações é uma contabilidade focalizada na região do espaço onde a operação transcorre, tomando conta do que entra, do que sai, do que permanece dentro ou nem entra nem sai. Nada a ver com o homem, ou com qualquer objeto definido por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas.
Qualquer coisa para a qual for possível estabelecer uma relação de anterioridade ou simultaneidade com relação à região onde ocorre a operação serve como Entrada, ou como Saída. E essa relação pode ser estabelecida por meio de uma propriedade não-original e não-constitutiva, ou uma “aparência”. Propriedades sim-originais e sim-constitutivas não são utilizadas.
Veja aqui duas coisas:
- o Funcionamento das operações sob o pensamento clássico;
a animação mais à esquerda, no sub-título Aquém do objeto - o conceito de verbo na idade clássica que transcrevo abaixo
“A única coisa que o verbo afirma
é a coexistência de duas representações:
por exemplo, a do verde e da árvore,
a do homem e da existência ou da morte;
é por isso que o tempo dos verbos
não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto,
mas um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si.” As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
para certificar-se de que esse conceito acima corresponde realmente ao pensamento na idade clássica, veja na página sobre o funcionamento das operações, as animações sobre o tempo nos dois períodos, e associe o tempo ‘calendário’ à parte do excerto acima sobre o tempo dos verbos.
3. A terceira unanimidade pelo uso é ‘Riquezas’
“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo, não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe.
Em contrapartida, existe, nos séculos XVII e XVIII,
uma noção que nos permaneceu familiar,
embora tenha perdido para nós sua precisão essencial.
Nem é de “noção” que se deveria falar a seu respeito,
pois não tem lugar no interior de um jogo de conceitos econômicos
que ela deslocaria levemente, confiscando um pouco de seu sentido ou corroendo sua extensão. Trata-se antes de um domínio geral:
de uma camada bastante coerente e muito bem estratificada,
que compreende e aloja, como tantos objetos parciais,
as noções de valor, de preço, de comércio, de circulação, de renda, de interesse.
Esse domínio, solo e objeto da “economia” na idade clássica,
é o da riqueza.Inútil colocar-lhe questões vindas de uma economia de tipo diferente,
organizada, por exemplo, em torno da produção ou do trabalho;
inútil igualmente analisar seus diversos conceitos
(mesmo e sobretudo se seus nomes em seguida se perpetuaram,
com alguma analogia de sentido),
sem levar em conta o sistema em que assumem sua positividade.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I. A análise das riquezas
Sem fazer um alinhamento filosófico das ideias, das noções, para respectivamente cada período histórico em nossa cultura, o padrão é ficar com a análise de valor do pensamento filosófico anterior, o clássico, de antes de 1775.
B. Unanimidades de conceitos pelo não uso: ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, ‘Forma de produção’, ‘Análise da produção’
1. Primeira unanimidade pelo não uso:
‘Lugar de nascimento do que é empírico’
Veja novamente a animação central sob o título ‘Diante do objeto’ na página
Toda essa operação acontece no Lugar do nascimento do que é empírico, no caminho da Construção de representação nova. A operação vê o fenômeno a partir de um ponto de inserção do início de leitura da operação antes da disponibilidade do objeto cuja representação está em desenvolvimento e que, futuramente, poderá ser levada ao circuito das trocas.
O Lugar de nascimento do que é empírico compreende dois sub-espaços:
- o Lugar desde onde se fala, no interior do domínio do Pensamento e da Língua;
- e o Lugar do falado, no interior do domínio do Discurso e da Representação.
É parte da preparação para receber os resultados da articulação do pensamento com o impensado, encaminhando o resultado para o espaço das representações, no interior do domínio do Discurso e da Representação.
É assim que funciona o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.
2. Segunda unanimidade pelo não uso: ‘Forma de produção’
A Forma de produção é o elemento central das operações sob o pensamento moderno. Nessa posição, a forma de produção tem também a natureza de um verbo, mas em um conceito totalmente diferente, que transcrevo abaixo:
“É preciso, portanto,
tratar esse verbo como um ser misto,
ao mesmo tempo
palavra entre as palavras,
preso às mesmas regras,
obedecendo como elas às leis de regência e de concordância;
e depois,
em recuo em relação a elas todas,
numa região que não é aquela do falado
mas aquela donde se fala.
Ele está na orla do discurso,
na juntura entre aquilo que é dito
e aquilo que se diz,
exatamente lá onde os signos
estão em via de se tomar linguagem.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. IV – Falar; tópico III. A teoria do verbo
Veja agora que esse verbo está postado na região ‘desde onde se fala’, um sub-espaço do ‘Lugar do nascimento do que é empírico’, e no interior do domínio do Pensamento e da Língua, onde a articulação com o impensado pode ter início para uma representação ainda não existente, – e não na região do falado, esta no interior do domínio do Discurso e da Representação. Foucault é preciso a esse respeito: ‘Ele está na orla do discurso, na juntura…’
Veja a página
Nessa mesma página, mais embaixo, veja Comparações entre os dois princípios de trabalho, e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo, segundo Michel Foucault.
A animação central da página Funcionamento… com o título ‘Diante do objeto’ descreve a operação de construção de uma representação para empiricidade objeto ainda não representada. Trata-se daquele objeto ainda indisponível em uma operação de troca já descrito nas duas possibilidades de leitura… etc.
Veja logo acima o item II.8.a.i especialmente o trecho:
- para o segundo, a quantidade de trabalho permite fixar o valor de uma coisa,
não apenas porque este seja representável em unidades de trabalho,
mas primeiro e fundamentalmente
porque o trabalho como atividade de produção
é “a fonte de todo valor”.
Tudo o que está representado na página Funcionamento… na animação central ‘Diante do objeto’ está completamente fora do pensamento que pensa operações no cruzamento do que é dado e o que é recebido.
Toda a operação que acontece no caminho da Construção da representação está fora do modo como operações são vistas como fenômeno.
Mesmo quando diante de um modelo descritivo da produção que considere a Construção de representação, o analista supõe que se trata de um modelo que reza pela cartilha anterior, e segue pensando do modo como sempre pensou.
3. Terceira unanimidade pelo não uso: ‘Análise da produção’
O pensamento clássico, aquele que dispunha da História natural, da Análise das riquezas e da Gramática geral, fazia a Análise das riquezas.
O pensamento moderno efetua em seu lugar, a Análise da produção, o que implica na inclusão do que acontece no caminho da Construção da representação nova para a empiricidade objeto. Como esse pensamento não é considerado em suas diferenças com relação ao clássico, a Análise da produção acaba sendo feita meio que sem consistência no pensamento.
- modelos com estrutura clássica
- o modelo descritivo de operações de produção de Elwood S. Buffa;
- o Diagrama FEPSC(SIPOC)/Six Sigma;
- os modelos na visão contábil-financeira:
- de operações (Débito/Crédito)
- e de organização (Ativo – Passivo – Resultados) ;
- modelos com estrutura moderna
- o modelo descritivo de operações de produção do Kanban;
- o modelo expresso na Figura 7.1 – mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments, do livro Reengenharia, de Michael Hammer;
Note que, visto mais de perto, e desde que com a perspectiva de procura de quais são as condições de possibilidade do pensamento, o modelo da Reengenharia é claramente um modelo moderno.
E ele sugere a disposição SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica que apresentamos explicitamente formulada, a seguir.
- Funcionamento das operações em modelos feitos sob as configurações de pensamento de antes e de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
- Sistema Formulador – uma alteração no modelo de dados clássico de um SDGP – Sistema Dedicado à Gestão de Projetos – como o MS Project 4.0 por exemplo, fazendo com que ele passe a funcionar a partir de banco de dados 9com a linguagem de uso) e com um modelo sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto que se pretende concretizar.
- Visão SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica para operações e organizações – evidenciando o Nexo da produção Uma organização de produção modelada com o par sujeito-objeto como elemento organizador dos modelos.