Há dois conceitos para o que seja História (*):
- história como a coleta das sucessões de fatos tais como se constituíram;
- história como o ‘‘modo de ser fundamental das empiricidades‘,
entendendo ‘modo de ser fundamental das empiricidades‘ como ‘aquilo a partir do que elas sejam afirmadas, postas, dispostas, e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’. (Michel Foucault)
Na segunda acepção do termo, história é feita quando o modo de ser fundamental das empiricidade muda: empiricidade objeto, um pensamento não-articulado na experiência, passa pela ação do sujeito, a pensamento sim-articulado na experiência; em outras palavras, ocorre o nascimento de algo empírico porque agora com suporte na experiência e com um novo modo de ser fundamental, algo que agora pode ser afirmado, posto, disposto, etc. etc. Leia a seguir sobre pensamento conservador e progressista.
Configurações do pensamento vistas sob do ponto de vista
do efeito que têm na alteração ou na conservação do
‘modo de ser fundamental das empiricidades‘
É de interesse questionar as operações nos segmentos em que se situarem, quanto a se há ou não alteração no ‘modo de ser fundamental’ como resultado de sua ocorrência. Prestando atenção a qual seja o elemento ordenador da história.
História: coleção de fatos tais como se sucederam no calendário
Operação sob o pensamento de antes da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825:
- pressuposto: a existência precede a distinção;
- repositório: não há repositório específico no dado domínio e ambiente em que a operação ocorre.
- tipo de propriedades: não-originais e não-constitutivas;
- tipo da formulação: reversível durante a formulação e irreversível durante o instanciamento;
- tipo de tempo: calendário
- lugar de ocorrência: circuito das trocas;
- sem conexão entre empiricidades e história.
- propriedade emergente: fluxo
História: coleção de fatos de alterações no 'modo de ser fundamental de empiricidades
Operação sob o pensamento de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825.
- pressuposto: a existência sucede a distinção;
- repositório: é especifico para o domínio e ambiente em que a operação ocorre;
- tipo de propriedades: sim-originais e sim-constitutivas;
- tipo da formulação: irreversível durante a formulação e irreversível durante o instanciamento;
- tipo de tempo: absoluto;
- lugar de ocorrência: Lugar de nascimento do que é empírico;
- conexão entre empiricidade objeto da operação e história.
- propriedade emergente: permanência.
História: coleção de fatos tais como se sucederam no calendário
Operação sob o pensamento de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825.
- pressuposto: a existência precede a distinção;
- repositório: pode haver ou não repositório especifico no domínio e ambiente em que a operação ocorre;
- tipo de propriedades: sim/não-originais e sim/não-constitutivas;
- tipo da formulação: reversível durante a formulação e irreversível durante o instanciamento;
- lugar de ocorrência: circuito das trocas;
- existe conexão entre empiricidade objeto e história, mas estabelecida pela operação anterior ocorrida no caminho da Construção da representação objeto deste instanciamento.
- propriedade emergente: novamente fluxo
A principal – e grande – diferença entre as duas figuras abaixo é que a da direita inclui a operação na qual a empiricidade objeto muda seu modo de ser fundamental (o que se dá entre as setas amarelas (i) e (f), justamente os eventos que demarcam que história foi feita. Tomando a palavra ‘progressista’ como atenção ao novo, entre as duas configurações de pensamento a da direita (!) é a que dá atenção à construção de representação nova.


(*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII- Os limites da representação; tópico I. A idade da história
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