8. Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação

8. Os dois conceitos para o tempo, em função do segmento do espectro de modelos e do tipo de operação em curso

Aquém do objeto

formulação sim reversível
e
instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento clássico, o de antes de 1775
tempo calendário no sistema Input-Output
operação de instanciamento de representação anteriormente formulada

Diante do objeto

formulação não reversível
e construção da representação nova
deus Kairós 

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo absoluto sistema absoluto
no caminho da Construção da representação

também Diante do objeto

formulação sim reversível
 e instanciamento da representação
deus Chronos

pensamento moderno, o de depois de 1825
tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
no caminho do Instanciamento da representação

Aquém do objeto

qualquer operação

Nota: a existência precede as distinções feitas na operação.

Tempo na formulação e no instanciamento da representação:

  • formulação reversível durante a formulação;
  • tempo calendário, ou tempo relativo no sentido de que
    • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f),
    • a posição calendário do outro evento (f) ou (i) pode ser calculada com as propriedades aparentes disponíveis antes e depois da operação;
  • irreversibilidades somente na etapa de instanciamento da representação

Não há nada que possa ser afirmado, posto, disposto e repartido no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis e assim não se pode falar em ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja. 

Assim, no pensamento clássico, não é possível adotar esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, que é compreendida como sucessão de fatos assim como se sucedem.

Diante do objeto

caminho da Construção da representação
Nota: a existência se constitui com as distinções feitas na operação

Durante essa operação a empiricidade objeto sim, muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

Tempo no caminho da Construção da representação, durante a formulação da representação:

  • formulação irreversível durante a formulação;
  • tempo absoluto no sentido de que
    • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f)
    • não é possível o cálculo da inserção calendário de outro evento (f) ou (i) a partir da inserção calendário do evento anterior em virtude da não disponibilidade das propriedades antes/depois da operação;
  •  irreversibilidades tanto na formulação da operação quanto no seu instanciamento da representação.

A empiricidade objeto da operação tem um novo ‘modo de ser fundamental’, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’.

Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operações sim, faz-se história.

 também Diante do objeto

caminho do Instanciamento da representação
Nota: a existência volta a preceder as distinções feitas na operação.
 

Durante essa operação a empiricidade objeto não muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

Tempo  no caminho do Instanciamento da representação na formulação da operação de instanciamento e na própria operação de instanciamento de representação anteriormente existente:

  • formulação volta a ser reversível;
  • tempo volta a ser tempo calendário, ou tempo relativo;
  • irreversibilidades no caminho do Instanciamento da representação ocorrem em decorrência do desencadeamento dos elementos de suporte na experiência à Forma de produção.

A empiricidade objeto da operação tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ com que foi recuperada do repositório, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’ exatamente da mesma forma como havia sido acrescentada ao repositório.

Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operações não se faz história.

0.0. As duas leituras do fenômeno ‘operações’ e respectivas possibilidades de análise de valor

O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
com duas amplitudes - duas abrangências muito diferentes

Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

  • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
  • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

O que não muda entre essas duas possibilidades

A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

A proposição é para a linguagem
o que a representação é
para o pensamento:
sua forma, ao mesmo tempo
mais geral e mais elementar,
porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
mas seus elementos
como tantos materiais dispersos.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IV  – Falar;
tópico III – Teoria do verbo
Michel Foucault 

(…) Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

O que sim muda entre essas duas possibilidades

A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

“Valer, para o pensamento clássico,
é primeiramente valer alguma coisa,
poder substituir essa coisa num processo de troca.

A moeda só foi inventada,
os preços só foram fixados e só se modificam
na medida em que essa troca existe.

Ora, a troca é um fenômeno simples
apenas na aparência.

Com efeito, só se troca numa permuta,
quando cada um dos dois parceiros
reconhece um valor
para aquilo que o outro possui.

Num sentido, é preciso, pois,
que as coisas permutáveis,
com seu valor próprio,
existam antecipadamente nas mãos de cada um,
para que a dupla cessão e a dupla aquisição
finalmente se produzam.

Mas, por outro lado,

  • o que cada um come e bebe,
    aquilo de que precisa para viver
    não tem valor
    enquanto não o cede;
  • e aquilo de que não tem necessidade
    é igualmente desprovido de valor
    enquanto não for usado
    para adquirir alguma coisa de que necessite.

Em outras palavras,
para que, numa troca,
uma coisa possa representar outra,
é preciso que elas existam
já carregadas de valor;
e, contudo,
o valor só existe
no interior da representação

  • (atual [troca imediata]
  • ou possível [permutabilidade]),

isto é, no interior

  1. da troca
    [representação existente]
  2. ou da permutabilidade
    [representação possível]
    .

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

“Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

  1. leitura já dadas as condições de troca;
  2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

1 uma analisa o valor
no ato mesmo da troca,
no ponto de cruzamento
entre o dado e o recebido;

  • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
    • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

2 outra analisa-o
como anterior à troca
e como condição primeira
para que esta possa ocorrer.

  • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
    • designações primitivas
    • linguagem de ação ou raiz;

4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

fora de si mesma e como que

    • na natureza, ou nas   
    • analogias das coisas;

a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VI – Trocar;
V. A formação do valor
Michel Foucault 

Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
mostrados nos modelos de operações

Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

7. Os dois espaços gerais do saber em cada segmento do espectro de modelos

Os dois espaços gerais do saber em cada segmento do espectro de modelos

Aquém do objeto

espaço geral do saber sob o pensamento filosófico clássico

Diante do objeto

o Triedro dos saberes
exceto as ciências humanas

 Além do objeto

o espaço interno do Triedro dos saberes
- o habitat das ciências humanas -
mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as Ciências Humanas

os saberes são desenvolvidos a partir de um par de representações pré-existentes: propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas (as aparências); e uma das categorias  – escolhida por identidade e semelhança com ‘aparências’ – de um quadro – um sistema de categorias, que dá de antemão todas as possibilidades .

os saberes ocupam qualquer eixo e qualquer face do triedro, chamado por Foucault de Triedro dos saberes – sob a orientação de um dos pares constituintes das ciências que ocupam a região epistemológica fundamental, eixo no qual estão as ciências 

  • da Vida, 
  • do Trabalho 
  • e da Linguagem.

com o respectivo par de modelos constituintes

as Ciências humanas ocupam o espaço interior do Triedro dos saberes, onde todas as ciências humanas têm modelo constituinte comum, que é uma composição dos modelos constituintes das ciências

  • da Vida (Biologia)
    •  função-norma;
  • do Trabalho (Economia)
    • conflito-regra;
  • e da Linguagem (Filologia)
    • significação-sistema
Comentários

    6. Os dois conceitos para História

    Os dois conceitos ordenadores para História

    • História como a coleta das sucessões de fatos tais como se constituíram; e
    • História como o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis.

    O conceito 'modo de ser fundamental' de uma empiricidade objeto e o conceito de História

    “Mas vê-se bem que a História não deve ser aqui entendida como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;
    ela [
    a História] é

    o modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são 

    • afirmadas, 
    • postas, 
    • dispostas 
    • e repartidas no espaço do saber 
    • para eventuais conhecimentos 
    • e para ciências possíveis.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Os limites da representação;
    tópico I – A idade da História

    Os fundamentos do conceito como o elemento ordenador da História

    “Assim como a Ordem no pensamento clássico 

    não era 

    • a harmonia visível das coisas, 
    • seu ajustamento, 
    • sua regularidade 
    • ou sua simetria constatados, 

    mas 

    • o espaço próprio de seu ser 
    • e aquilo que, antes de todo conhecimento efetivo, as estabelecia no saber, 

    assim também a História,
    [no pensamento moderno] a partir do século XIX, define o 

    lugar de nascimento
    do que é empírico,

    lugar onde, 

    • aquém de toda cronologia estabelecida, 
    • ele [o objeto – o que é empírico] assume o ser que lhe é próprio.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Os limites da representação;
    tópico I – A idade da História

    Comentários

      4.0 Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento e os respectivos perfis
      que permitem identificar cada um deles

      Os perfis das duas configurações do pensamento, segundo o pensamento de Foucault:
      os pensamentos clássico (de antes de 1775); e moderno( de depois de 1825)

      e veja mais abaixo:

      Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento
      vistos pelos perfis (estruturas conceituais) que permitem identificar cada um deles

      pensamento clássico,
      antes de 1775

      perfil do pensamento clássico,
      o de antes de 1775

      pensamento moderno,
      depois de 1775

      perfil do pensamento moderno,
      o de depois de 1825

      “Assim o círculo se fecha.

      Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

      As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

      Mas que são esses sinais? 

      Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam,

      que há aqui um
      caráter

      no qual convém se deter,
      porque ele indica uma secreta
      e essencial semelhança? 

      Que forma constitui o signo
      no seu singular valor de signo? 

      – É a semelhança.
      Ele significa na medida
      em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude). 

      Contudo, 

      • não é a homologia que ele assinala, 

      pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; 

      • trata-se de outra semelhança, 

      uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

      Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. 

      De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

      • o signo da simpatia resida na analogia, 
      • o da analogia na emulação, 
      • o da emulação na conveniência, 

      que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

      • a marca da simpatia… 

      A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

      “A arqueologia, essa, deve percorrer o acontecimento segundo sua disposição manifesta; ela dirá como as configurações próprias a cada positividade se modificaram 

      • (ela analisa por exemplo, para a gramática, o desaparecimento do papel maior atribuído ao nome e a importância nova dos sistemas de flexão; ou ainda, a subordinação, no ser vivo, do caráter à função); 

      ela analisará a alteração dos seres empíricos que povoam as positividades 

      • (a substituição do discurso pelas línguas, das riquezas pela produção); 

      estudará o deslocamento das positividades umas em relação às outras 

      • (por exemplo, a relação nova entre a biologia, as ciências da linguagem e a economia); 

      enfim e sobretudo, mostrará que o espaço geral do saber não é mais o das identidades e das diferenças, o das ordens não-quantitativas, o de uma caracterização universal, de uma taxinomia geral, de uma máthêsis do não-mensurável, 

      • mas um espaço feito de organizações, isto é, de relações internas entre elementos, cujo conjunto assegura uma função; 
      • mostrará que essas organizações são descontínuas, que não formam, pois, um quadro de simultaneidades sem rupturas, mas que algumas são do mesmo nível enquanto outras traçam séries ou sequências lineares. 

       De sorte que se vêem surgir, 

      como princípios organizadores
      desse espaço de empiricidades, 

      a Analogia
      e a Sucessão:

      de uma organização a outra, o liame, com efeito, 

      • não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos,
      • mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel) 
      • e da função que asseguram; 

      ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias,

      • não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação,
      • mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões. 

      Enquanto, no pensamento clássico,

      a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades,

      doravante

      as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia.  (*)

       

       

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap. – II. A prosa do mundo;
      tópico II. As assinalações
      de Michel Foucault

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap. – VII. Os limites da representação;
      tópico I. A idade da história
      de Michel Foucault

      Operações possíveis sob as condições de pensamento dadas pelos respectivos perfís do pensamento filosófico clássico, o de antes de 1775 e pelo moderno, de depois de 1825.

      Operação de pensamento no período clássico, antes de 1775
      operação de instanciamento de representação formulada
      modo de ser fundamental não muda
      Ordem arbitrária ou Quadro de simultaneidades
      Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825,
      no caminho da Construção da representação:
      'modo de ser fundamental' sim, muda.
      Ordem dada pela gramática da língua

      (*) A ordem clássica

      distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas:

      era essa a ordem que reinava soberanamente,

      mas a cada vez segundo formas e leis
      ligeiramente diferentes,

      • sobre o discurso dos homens, [gramática geral]
      • o quadro dos seres naturais [história natural]
      • e a troca das riquezas. [análise das riquezas] (**)

      (**) A partir do século XIX, a História 
      vai desenrolar numa série temporal 
      as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas. 
      É essa História que, 
      progressivamente, imporá suas leis 

      • à análise da produção, [análise da produção]
      • à dos seres organizados,  [biologia] enfim, 
      • à dos grupos linguísticos [filologia]. 

      A História 
      dá lugar às organizações analógicas, 

      assim como a Ordem 
      abria o caminho 
      das identidades e das diferenças sucessivas.

      A forma de reflexão que se instaura depois de 1825 no pensamento moderno,
       e o perfil dado por essa condição de possibilidade do pensamento:
      referencial, princípios organizadores e métodos; com as duas sintaxes envolvidas

      A forma de reflexão que se instaura
      com esse perfil de conceitos do pensamento moderno, o de depois de 1825
      Princípios organizadores do pensamento
      de depois da descontinuidade epistemológica
      de 1775-1825

      “Instaura-se
      uma forma de reflexão,
      bastante afastada
      do cartesianismo
      e da análise kantiana,
      em que está em questão,
      pela primeira vez,
      o ser do homem,
      nessa dimensão segundo a qual
      o pensamento
      se dirige ao impensado
      e com ele se articula. Isso tem duas conseqüências.”

       (…) “A outra consequência é positiva.
      Concerne à relação
      do homem
      com o impensado,
      ou mais exatamente,
      ao seu aparecimento gêmeo
      na cultura ocidental.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap. – IX. O homem e seus duplos;
      tópico V. O “cogito” e o impensado
      de Michel Foucault

      A partir de Ricardo,
      o trabalho, desnivelado em relação à representação,
      e instalando-se em uma região
      em que ela não tem mais domínio,
      organiza-se segundo uma causalidade
      que lhe é própria

       (…)

      A quantidade de trabalho
      necessária para a fabricação de uma coisa
      (ou para sua colheita, ou para seu transporte)
      e que determina seu valor
      depende das formas de produção:
      segundo o grau de divisão no trabalho,
      a quantidade e a natureza dos instrumentos,
      o volume de capital de que dispõe o empresário
      e o que ele investiu nas instalações de sua fábrica,
      a produção será modificada;
      em certos casos será dispendiosa;
      em outros, o será menos.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap. – VIII. Trabalho, Vida e Linguagem;
      tópico II. Ricardo
      de Michel Foucault

      A Utopia – tomada como referencial – é o impensado a que Foucault se refere na animação acima referindo-se àquilo em direção ao qual o pensamento (do homem) se dirige; essa ideia – ou elemento de imagem – pode ser chamado de

      • visão,
      • limite da estratégia,
      • direção na qual se expande o pensamento,

      e outros modos de denominar a mesma coisa.

      O homem – aquele cujo pensamento se dirige ao impensado com a intenção de articular-se com este – é o sujeito da operação de articulação cujo resultado é a representação para o que antes era inarticulado.

      O predicado do sujeito é composto por:

      • um verbo – a Forma de produção encontrada para proceder a articulação;
      • um atributo – o objeto da articulação, a representação possível para o pensamento antes não-articulado.

      Vê-se com bastante clareza que a articulação feita pelo pensamento com o impensado tem a forma de uma proposição em uma linguagem natural falada.

      8. O princípio dual de trabalho
      de David Ricardo, de 1817

      “A quantidade de trabalho
      necessária para a fabricação
      de uma coisa [atributo do predicado]
      (ou para sua colheita,
      ou para seu transporte)
      e que determina seu valor depende
      das  formas de produção:
      [verbo do predicado do sujeito]
      segundo o grau de divisão no trabalho,
      a quantidade e
      a natureza dos instrumentos,
      o volume de capital de que dispõe
      o empresário
      [sujeito da operação de produção]
      e o que ele investiu nas instalações
      de sua fábrica, a produção será modificada; em certos casos será dispendiosa;
      em outros, o será menos.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap.  8 – Trabalho, vida e linguagem;
      tópico II. Ricardo
      de Michel Foucault
      (citando Obras completas de David Ricardo)

      Comentários

        5.2 A segunda sintaxe: a que autoriza a manter juntas as palavras e as coisas

        A segunda sintaxe: a que autoriza a manter juntas,
        ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas

        A sintaxe que organiza os objetos análogos criados pelo método Analise
        e os posiciona uns em relação aos outros, em uma hierarquia, com o método Síntese.

        Praticamente não existe representação para empiricidade objeto que seja representável por um único objeto análogo.

        Representações são o resultado dos princípios organizadores Analogia e Sucessão utilizando os métodos Análise e Síntese. 

        O objeto composto ‘Sucessão de analogias’ referido por Foucault, ilustra os efeitos dos princípios organizadores Analogia e Sucessão por meio dos métodos Análise e Síntese.

        “De sorte que se vêem surgir, como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,

        • a Analogia
        • e a Sucessão:

        de uma organização a outra, o liame, com efeito, não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos, mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação, mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões. Enquanto, no pensamento clássico, a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades, doravante as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia. A ordem clássica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas. A partir do século XIX, a História vai desenrolar numa série temporal as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas. É essa História que, progressivamente, imporá suas leis à análise da produção, à dos seres organizados, enfim, à dos grupos lingüísticos. A História dá lugar às organizações analógicas, assim como a Ordem abria o caminho das identidades e das diferenças sucessivas.

        Mas vê-se bem que a História não deve ser aqui entendida como 

        • a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

        ela é

        • o modo de ser fundamental das empiricidades,

        aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”

        As palavras e as coisas:
        uma arqueologia das ciências humanas;
        Capítulo VII – Os limites da representação;
        tópico I. A idade da história

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          5.1 A primeira sintaxe: a que autoriza a construção das frases

          A descrição feita por Michel Foucault dessas duas possibilidades simultâneas de leitura da operação, e de posicionamento do pensamento com relação a análise de valor

          a extensão e abrangência dessas leituras em termos do fenômeno modelado

          Veja aqui a descrição feita por Michel Foucault de duas possibilidades de leitura abertas para o pensamento, simultaneamente, para entender operações e valor a partir da linguagem, e a primeira sintaxe mostrada a seguir.

          A primeira sintaxe: a que autoriza a construção das frases

          visão de conjunto da primeira sintaxe, a da construção de frases

          Preposições: Enunciativa, Explicativa e Instanciativa,
          no modelo de operações do pensamento moderno

          no pensamento filosófico clássico, antes de 1775

          A sintaxe na operação, sob o pensamento clássico

          Estamos no pensamento clássico, o de antes de 1775.

          Aqui, no dizer de Foucault no Prefácio do ‘As palavras e as coisas’, a linguagem encontra-se secretamente solapada.

          Há aqui a suspeita de que os modelos de operações estão expostos ao perigo maior:

          • maior do que a desordem produzida pelo incongruente e pela aproximação do que não convém;
          • seria a desordem que faz cintilar um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito.

          e importa entender esta palavra ‘heteróclito’ no sentido mais próximo de sua etimologia: as coisas aí são “deitadas “, “colocadas “, “dispostas” em lugares a tal ponto diferentes, que é impossível encontrar-lhes um espaço de acolhimento, definir por baixo de umas e outras um lugar comum.

          pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825,
          no caminho da Construção da representação

          Efeitos da sintaxe que autoriza a construção das frases

          antes do início da operação: proposição enunciativa

          Proposição Enunciativa da representação em construção
          antes do início da operação de construção da representação.

          Estamos no pensamento moderno, o de depois de 1825, e portanto após a descontinuidade epistemológica de 1775-1825 assinalada por Michel Foucault.

          Modelos sob esta configuração do pensamento são organizados sob ordem única: a das regras da linguagem tendo como bloco padrão genérico e fundamental para construção de representações a proposição.

          O perfil de conceitos sob essa ordem e nessa forma de reflexão instaurada, é:

          • referencial: a utopia do pensamento ainda não articulado;
          • princípios organizadores: Analogia e sucessão;
          • métodos: Análise e Síntese.

          Antes do início da operação no caminho da Construção da representação todas as propriedades originais e constitutivas da representação em construção ainda não existem.

          Nessa situação a sintaxe que autoriza a construção de frases somente pode construir uma proposição enunciativa da operação, já que os elementos de suporte na experiência à Forma de produção não existem.

           

          ao final com sucesso da operação: proposição explicativa

          Proposição Explicativa do operar requerido pela representação em construção no caminho da Construção da representação

          Com o sucesso da operação de construção da representação, depois da operação, todas as propriedades da representação construída, sejam elas as originais e constitutivas, sejam as “aparências” passam a existir.

          A representação da empiricidade objeto da operação que acaba de ser construída, se aceita como boa para representá-la, é acrescentada ao Repositório de proposições explicativas da experiência, formuladas de acordo com as regras da linguagem.

          A sintaxe que autoriza a construção de frases acaba de formular uma proposição explicativa do operar requerido para a empiricidade objeto.

          no pensamento filosófico moderno, depois de 1825,
          no caminho do Instanciamento da representação

          indiferentemente, tanto antes ou depois da operação: proposição instanciativa

          Proposição Instanciativa de representação previamente existente no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.

          O pré-requisito para a operação de instanciamento de representação da empiricidade objeto é que tal representação existe no repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da linguagem.

          A primeira providência então é questionar o repositório quanto a esse fato, e caso positivo, recuperar a representação adequada.

          Assim que recuperada do repositório para instanciamento, a representação se apresenta com todas as suas propriedades, originais e constitutivas ou “aparências”.

          Assim, essas propriedades existem imediatamente antes do ponto de início da operação de instanciamento, e nesse instante, existem também para o instante de fim da operação de instanciamento – caso esta tenha sucesso.

          Não há alteração no ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto no caminho do Instanciamento da representação.

          A sintaxe que autoriza a construção de frases acaba de formular uma proposição instanciativa.

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            2. Os dois conceitos para o que seja ‘Classificar’

            O conceito 'Classificar' respectivamente nas configurações dos pensamentos clássico (antes de 1775) e moderno (depois de 1825)

            As diferenças são de tal monta que é impossível imaginar que semelhantes sejam
            dois modelos de operações construídos com um ou outro desses dois conceitos.

            Os dois conceitos para o que seja 'Classificar

            Classificar, portanto,
            não será mais
            referir o visível
            a si mesmo,
            encarregando um de seus elementos
            de representar todos os outros;

            Será
            num movimento que faz revolver a análise,
            reportar o visível,
            ao invisível,
            como a sua razão profunda;
            depois,
            alçar de novo dessa secreta arquitetura,
            em direção aos seus sinais manifestos
            [as “aparências”]
            que são dados à superfície dos corpos.

            As palavras e as coisas:
            uma arqueologia das ciências humanas’;
            Capítulo VII – Os limites da representação;
            tópico III. A organização dos seres
            por Michel Foucault

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