O espaço dado ao homem na estrutura dos modelos
em cada segmento do espectro de modelos

O tratamento dado ao homem no pensamento clássico, o de antes de 1775, e portanto
antes da descontinuidade epistemológica assinalada por Foucault entre 1775 e 1825

“Em tantas ignorâncias,
em tantas interrogações
permanecidas em suspenso,
seria preciso, sem dúvida, deter-se:
aí está fixado o fim do 
discurso,
e o recomeço talvez do trabalho.
Há ainda, no entanto, algumas palavras a dizer.

Palavras cujo estatuto é, sem dúvida,
difícil de justificar,
pois se trata de introduzir no último instante
e como que por um lance de teatro artificial,
uma personagem
que não figurara ainda
no grande jogo clássico das representações.” (…)

“No pensamento clássico,
aquele para quem a representação existe,
e que nela se representa a si mesmo,
aí se reconhecendo por imagem ou reflexo,
aquele que trama todos os fios entrecruzados
da “representação em quadro” -,
esse [o homem] jamais se encontra lá presente.”

“Antes do fim do século
XVIII, o homem não existia.

Sem dúvida,
as ciências naturais
trataram do homem

como de uma espécie 
ou de um gênero

a discussão sobre
o problema das raças,
no século XVIII,
o testemunha.

“Mas não havia
consciência epistemológica
do homem como tal.

A epistémê clássica
se articula
segundo 
linhas
que de modo algum isolam
o domínio próprio e específico
do homem.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo IX – O homem e seus duplos;
II. O lugar do rei
Michel Foucault 

Entrada em cena do homem no campo do saber ocidental, depois de 1825 e portanto,
depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825,
com uma duplicidade de papéis

“Na medida, porém, 
em que as coisas
giram
sobre si mesmas,
reclamando para seu devir
não mais que
o princípio de
sua inteligibilidade
e abandonando o espaço da representação,
o homem,

por seu turno, entra,
e pela primeira vez,
no campo do saber ocidental.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Prefácio
Michel Foucault 

“O modo de ser do homem,
tal como se constituiu
no pensamento moderno,
permite-lhe desempenhar dois papéis:
está ao mesmo tempo,

  • no fundamento de todas as positividades,
  • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
    no elemento das coisas empíricas.”
As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo X – As ciências humanas;
tópico I. O triedro dos saberes
Michel Foucault 

A ideia 'homem', com seus diferentes papéis
e respectivos elementos de imagem
- nos sistemas em cada faixa do espectro de modelos

Aquém do objeto
o homem está fora da paleta de ideias
no pensamento clássico, o de antes de 1775

Não há, na estrutura do pensamento clássico, espaço para a figura do homem em qualquer um de seus dois papéis, e portanto inexistem os respectivos elementos de imagem.

Diante e Além do objeto
os dois papéis do homem
no pensamento moderno, o de depois de 1825

Há, na estrutura do que Foucault chama de ‘essa estranha maneira de conhecer empiricidades’ espaço para o homem ‘naquilo que ele tem de empírico’, permitindo o desempenho dos seus dois papéis:

  • raiz e fundamento de toda a empiricidade;
  • elemento do que é empírico.

Não há espaço estrutural na estrutura do sistema input-output, para as ideias ou elementos de imagem requeridas para os dois papéis do homem – ‘no que ele tem de empírico’ como diz Foucault.

Claramente a afirmativa acima vale para a noção ‘homem’ como na citação acima à direita. Podemos rotular ‘homem’, sujeito, etc. qualquer coisa, porém fora da noção acima.

Podemos ver com alguma clareza a ausência do homem como ideia, e respectivo elemento de imagem, no pensamento clássico de várias maneiras, entre elas:

  • pelo funcionamento do pensamento na formulação da operação, e também no instanciamento da representação formulada;
  • nos exemplos de modelos de operações de produção e de organizações que examinamos a seguir.

Acontece que por vezes, em vista da ausência de espaço estrutural para a ideia ‘homem’, alguns projetistas de modelos optem pela inclusão não da entidade homem propriamente, mas de um rótulo com esse nome, acrescentado como meta-dado, a entidades anteriormente existentes.

Na estrutura daquilo que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, o homem – ‘naquilo que ele tem de empírico’ tem importância determinante, e na sua duplicidade de papéis: 1) raiz e fundamento de toda positividade; 2) elemento do que é empírico. 

Podemos ver claramente a presença do homem como ideia, e respectivo elemento de imagem, no pensamento moderno também de várias maneiras, entre elas:

  • também pelo funcionamento do pensamento na formulação da representação e da sua operação construtiva, e também no instanciamento da representação anteriormente formulada, construída e adicionada ao Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.
  • a proposição – o bloco construtivo fundamental padrão para construção de representações pode ser formulada com todos seus elementos ocupando posições estruturais operacionais;
  • também podemos ver essa presença de várias maneiras, mas por exemplo, no modelo de operações de produção (instanciamento de uma representação) no modelo descritivo da produção do Kanban
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