Possibilidades, segundo Michel Foucault, de sustentação da noção de sujeito na modernidade
1. A entrada em cena do homem em nossa cultura é contemporânea de David Ricardo
Michel Foucault mostra que antes do final do século XVIII, o homem não existia, pelo menos não sob a noção que hoje temos dele através da Biologia, da Economia política e da Filologia: antes da descontinuidade epistemológica o homem era tratado como uma espécie, ou um gênero no âmbito da História natural, da Análise das Riquezas e da Gramática geral, que encerravam o que se sabia da vida, do trabalho e da linguagem na idade clássica do pensamento, antes de 1775.
“Antes do fim do século XVIII,
o homem não existia.
Não mais que a potência da vida,
a fecundidade do trabalho
ou a espessura histórica da linguagem.
(…) Certamente poder-se-ia dizer quea gramática geral,
a história natural,
a análise das riquezaseram, num certo sentido,
maneiras de reconhecer o homem,mas é preciso discernir.
Sem dúvida, as ciências naturais trataram do homem
como de uma espécie ou de um gênero:
a discussão sobre o problema das raças, no século XVIII, a testemunha.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 9 – O homem e seus duplos; II. O lugar do rei
Se deliberadamente quisermos associar ‘sujeito’ a algo realmente pertencente ao domínio do período clássico de pensamento, será necessário discernir esse ‘sujeito(clássico)’ do sujeito(moderno) ou o de depois da descontinuidade epistemológica, que não pode ser entendido como uma espécie, ou um gênero, como no entendimento clássico. E principalmente, porque esse sujeito da modernidade segundo Foucault é capaz de uma forma de reflexão como em ‘Os dois tipos de reflexão assumidos pelo pensamento.‘
Os recursos disponíveis para o pensamento antes da descontinuidade epistemológica assinalada por Foucault como tendo ocorrido entre os anos de 1775 e 1825.
Foucault mostra que antes do final do século XVIII a história natural, a gramática geral e a análise das riquezas tratavam do que fosse ‘homem’ no sentido taxinômico da palavra, como mais uma espécie, ou um gênero.
“É por isso, sem dúvida,
que a história natural, na época clássica,
não se pode constituir como biologia.Com efeito, até o fim do século XVIII,
a vida não existe.Apenas existem seres vivos.
Estes formam uma, ou antes,
várias classes na série de todas as coisas do mundo:
e se se pode falar da vida,
é somente como de um caráter
– no sentido taxinômico da palavra –
na universal distribuição dos seres.”
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. V – Classificar; VII – O discurso da natureza
2. As mudanças nas positividades, umas em relação às outras: Ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem no lugar onde havia História natural, Análise de riquezas e Gramática geral
Veja o que diz Foucault sobre as possibilidades da biologia, da filologia, da economia política e da produção na idade clássica:
“Nem vida, nem ciência da vida na época clássica;
tampouco filologia.
Mas sim uma história natural, uma gramática geral.
Do mesmo modo,
não há economia política
porque, na ordem do saber,
a produção não existe. “
As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. 6 – Trocar; tópico I – A análise das riquezas
3. A Inserção dos pais fundadores do liberalismo apropriadamente chamado de clássico, segundo Foucault
Por favor veja o posicionamento dos autores chamados ‘pais do liberalismo clássico’, feito com a ajuda de Michel Foucault – que com certeza leu nos originais, e entendeu os respectivos trabalhos de John Locke, Adam Smith, David Hume, etc. etc. na página Uma cronologia da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825 e veja a posição da maioria deles mais abaixo nessa página.





Comentários