Estamos propositalmente agrupando, aqui, dois tópicos:
- a pedra de tropeço no caminho de Michel Foucault;
- os caminhos (e alterações de rota) de Maturana.
O início da análise do problema, nos dois pontos, é o mesmo. As propostas feitas por Maturana para correção daquilo que ele reputava um erro dos pesquisadores em IA no MIT de sua época – o objeto do pensamento durante operações, aquilo cuja síntese obtém fundamento na representação; e o sujeito, o Observador, o artífice da operação – podem ser identificadas no pensamento de David Ricardo, um filósofo economista com pensamento configurado com a possibilidade de fundar as sínteses do seu objeto de pensamento na representação. Você pode ver a seguir a pedra fundamental do pensamento de Maturana, e o Princípio Dual de trabalho de David Ricardo, e compará-los.
Mas enquanto Michel Foucault mantém suas descobertas e nos ajuda a ir além delas, distribuindo modelos resultados de configurações do pensamento em três segmentos de um espectro – aquém, diante a para além do objeto, Maturana e co-autores fazem um desvio, e vinte anos depois, parece que fazem uma autocrítica.
As duas configurações sem e com a possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, e um roteiro para este estudo
Nossa orientação neste estudo
Seguiremos Vilém Flusser quanto às consequências do uso de conceitos em textos que não mais nos levam a imagens que correspondam a como vemos o que ocorre no espaço-tempo (uma operação de produção, por exemplo); e imagens que não mais nos servem como mapas de orientação no mundo.
Veja o que ele diz nestas animações:
Essas duas animações foram construídas sobre textos de dois capítulos de nomes correspondentes no livro Filosofia da caixa preta, de Vilém Flusser.
Neste estudo procuraremos reconstituir imagens de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t – como operações de produção por exemplo -, a partir de conceitos que compõem textos; e fazer a correspondência entre essas imagens reconstituídas – com respectiva paleta de ideias, ou elementos de imagem, incluindo as relações estabelecidas – com a maneira como vemos essa ocorrência.
No livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ Michel Foucault descreve o que ele chama de ‘o modo de ser fundamental das empiricidades’, aquilo que permite que elas possam ser
‘afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis‘.
Foucault atribui ao conceito – ‘modo de ser fundamental das empiricidades‘ o papel de elemento ordenador da história em substituição à coleta de fatos na sequência em que aconteceram.
Dito de outro modo, faz-se história quando há mudanças no ‘modo de se fundamental das empiricidades’. E a oportunidade desse conceito – ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ – só aparece em modelos COM a possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, porque essa fundação das sínteses no espaço da representação é consequência de mudança no ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação cuja síntese foi fundada.
O que procuramos fazer neste estudo é obter a correspondência entre os conceitos expressos por Foucault em textos, nas ideias ou elementos de imagens a eles relacionados, e os diferentes modos como as empiricidades são vistas.
No caminho resultam evidenciadas características de características dos objetos, ou estruturas conceituais.
A nossa Forma de produção
Vamos utilizar a Figura 2 – Diagrama ontológico, do capítulo ‘Reflexões Epistemológicas’; do livro ‘Cognição, Ciência e Vida cotidiana’, ou ainda a Figura 2 – ‘O explicar e a experiência’, do capítulo ‘Linguagem, Emoções e Ética nos afazeres políticos’, do livro ‘Emoções e Linguagem na Educação e na Política’, ambos de Humberto Maturana.
Essa figura será utilizada como um mapa para desenhar as ideias, os elementos de imagem que precisamos para representar as duas configurações do pensamento, uma de cada lado da figura.
Vamos usar para dar a partida neste estudo, a pedra fundamental do pensamento de Humberto Maturana, e para isso, fazemos referência ao livro ‘De Máquinas e de Seres vivos – autopoiese, a organização do vivo; Capítulo Vinte anos depois; Tópico: História.
Vamos então examinar as reflexões de Maturana sobre como eram e como deveriam ser os modelos para fenômenos biológicos,
- as objeções que ele fazia ao modo de modelar dos pesquisadores em IA do MIT,
- e as propostas que ele fez sobre como resolver o problema.
Examinaremos também as análises de Francisco José Garcia Varela sobre algumas críticas feitas ao trabalho dele e de Maturana, aceitando especificamente duas delas:
- a formulação dada à autopoiese é fraca porque é não construtiva;
- a atribuição à autopoiese de caráter solipsista.
Argumentamos que a aceitação dessas críticas especialmente a primeira, é indicador de que o encaminhamento inicial do pensamento de Maturana sofreu um desvio ou mesmo foi abandonado.
Pensamos que as propostas feitas por maturana estão alinhadas com o pensamento filosófico moderno, especificamente com o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817. Vamos então manter as propostas iniciais de Maturana e completar a Figura 2 – o Explicar e a Experiência – com os elementos de imagem necessários, mantendo estritamente o caminho inicial dele, usando para isso o pensamento de Michel Foucault.
A idade da história em três tempos:
uma descrição de Foucault, do que seja sua arqueologia das ciências humanas