5. História do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’, contada por Michel Foucault

Uma história do nascimento do livro 'As palavras e as coisas',
contada pelo próprio autor, Michel Foucault, no Prefácio,
inclusive o relato das dificuldades enfrentadas.

1 - A ideia que deu origem ao livro
'As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas

No Prefácio do ‘As palavras e as coisas’, Michel Foucault faz como que um quadro sinóptico do livro inteiro mencionando conceitos importantes; a história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ contada por Foucault no Prefácio começa com uma exposição sobre o que ele chama de ‘familiaridades’ do pensamento, diz ele que “do nosso: daquele que tem a nossa idade e a nossa geografia” que seriam abaladas pelo mágico texto de uma certa enciclopédia chinesa.

Fizemos uma animação de 7:27m na qual na mesma figura representamos esse pensamento ao qual Foucault se refere como sendo o nosso, aquele com a nossa idade e geografia, e um outro pensamento com o qual também estamos familiarizados até pela circunstância de uma contaminação de entendimentos historicamente distintos.

A animação mostra ao mesmo tempo em que o texto prossegue as diferenças, estruturalmente o que se ganha o perde com uma ou outra dessas configurações.

O texto dessa história do nascimento desse livro começa alertando para os perigos da desordem – para além daquela do incongruente e da aproximação do que não convém -, a desordem da utilização simultânea de múltiplas ordens parecidas mas a tal ponto diferentes que torna-se impossível encontrar-lhes um espaço de acolhimento, definir por baixo de umas e outras, um lugar comum. (*)

Há no relato completo dessa história do Prefácio:(**)

  • o conceito de ordem: duas alternativas distintas;
  • uma série de comentários sobre os referenciais do pensamento – Utopia e Heterotopia – em dois casos diferentes de configurações do pensamento;
  • as duas sintaxes envolvidas nas configurações do pensamento;
    • a que permite a construção das frases
    • e a que autoriza a manter juntas, ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas;

O entendimento desses conceitos abordados na historia do nascimento do livro no Prefácio depende da compreensão das duas leituras possíveis para o fenômeno ‘operações’ e respectivas análises de valor, e a influência delas nos dois princípios para trabalho coexistentes entre nós.

(*) na animação que fizemos para navegar entre o texto de Foucault no Prefácio e as formulações que temos de modelos de operações e de organizações, há um exemplo de modelo de organização bastante representativo dessa utilização de múltiplas ordens parecidas.

(**) Nessa pequena história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’ Foucault se utiliza dos conceitos de ordem e de sintaxes. Mas no livro estão ainda os conceitos de Verbo, de Classificar, História, os Espaços Gerais do Saber, respectivamente para as configurações do pensamento – aquele com o qual queiramos ou não pensamos, e o anterior a este. Veja esses conceitos duplos aqui.

1. Plataforma adotada para exposição de ideias

A plataforma visual adotada para exposição das imagens feitas para ilustrar os conceitos

A Figura 2 - Diagrama ontológico ou O explicar e a experiência, de Maturana
esquadrinhamento da figura com comentários e propostas de alterações
usando o pensamento de Michel Foucault

a plataforma adotada para dar suporte às figuras ou imagens correspondentes aos conceitos encontrados no livro ‘As palavras e as coisas’ será

  • a Figura 2 – Diagrama ontológico; do tópico Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana; 

ou ainda essencialmente a mesma figura, com as observações sobre diferenças

  • a Figura 2 – O Explicar e a Experiência; do Cap. Linguagem, Emoções e Ética nos Afazeres Políticos, do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política;

ambos esses dois livros de Humberto Maturana, 

Vamos utilizar essa figura – com as alterações –  como plataforma para o trânsito de e para (ida e volta): 

Texto ↔ Imagem ↔ Ocorrências espacio-temporais 

seguindo a orientação de Flusser . 

E fizemos alterações e complementações nela, o que pode ser visto em outra animação neste trabalho.

0. Influências e inspirações

0. Influências e inspirações

1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’: 

uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais; 

e ainda, não menos importante

    • as imagens tradicionais, as imagens técnicas, as classes de abstrações que usamos cotidianamente;
Vilém-Flusser-Portrait-008
Vilém Flusser
1920-1991

2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:

objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

Humberto Maturana
1928-

3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:

a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:

    • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sínteses no espaço da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
    • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
Michel Foucault
1926-1984

3. Os caminhos (e alterações de rota) de Humberto Maturana
em De Máquinas e de seres vivos

Os caminhos (e alterações de rota) de Humberto Maturana Romesin

objeções e propostas de Maturana: resposta de Varela a críticas recebidas

A pedra fundamental do pensamento de Maturana:

No final dos anos 1950, bem no início do seu trabalho, Maturana fazia:

  • objeções ao ‘fazer’ dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos 1950;
  • propostas de alterações na modelagem dos fenômenos biológicos.

Vinte anos depois,  Francisco Varela considerava procedentes algumas das críticas recebidas ao seu trabalho conjunto com Maturana, a autopoiese.

A formulação do pensamento, feita por Humberto Maturana

A Figura 2 Diagrama ontológico
ou O explicar e a experiência,
de Humberto Maurana

Esta é a Figura 2 de Maturana, que utilizamos como uma plataforma de exposição das imagens que construímos para alguns conceitos encontrados no ‘As palavras e as coisas’.

Ela está em:

  • Figura 2 – Diagrama ontológico no capítulo Reflexões epistemológicas do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana; e ainda
  • Figura 2 – O Explicar e a experiência, no capítulo Linguagem, Emoções e Ética nos afazeres políticos do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política; (conforme original de Maturana).

Vamos usar essa figura para mostrar as paletas de ideias ou elementos de imagem requeridos para modelagem das operações de um e de outro lado da figura de acordo com o entendimento adotado, ou a episteme utilizada pelo pensamento

Objeções 

Operação na Figura 2 – LE-pensamento clássico:
sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade
das coisas entre si

Objeções de Maturana ao 'fazer'
dos pesquisadores em AI
do MIT de sua época

As objeções
 feitas por Maturana,
bem no início do seu trabalho,
ao modo como os pesquisadores em IA do MIT
faziam seus modelos
– inspirados nos modelos biológicos –
pelo que eles mesmos diziam, segundo Maturana,
são fundamentadas
no modo como funciona o pensamento filosófico clássico,
o de antes da descontinuidade epistemológica
ocorrida entre 1775 e 1825
no relato de Michel Foucault.

Por favor veja isso na animação:

Propostas

Operação na Figura 2 – LD – pensamento moderno:
sistema absoluto de articulação do impensado
com um objeto análogo passível de representação.

Propostas de Maturana para correção
do que ele via como um erro de modelagem

Ao mesmo tempo,
as propostas
que ele fez nesse início do seu trabalho,
para resolver esse problema
são totalmente consistentes com o pensamento de David Ricardo, um pensador marcadamente de depois desse evento fundamental em nossa cultura.

Os dois blocos do ‘dizer’ de Maturana
na operação de Explicar com Reformular, no lado direito da figura, um para o Operar e outro para o Suporte ao operar, correspondem à mesma separação que 
David Ricardo
fez e incorporou ao seu

  Princípio Dual de Trabalho, de 1817.

 

Note que a formulação feita para Trabalho por Ricardo é claramente construtiva e também faz a separação entre dinâmica e suporte à dinâmica –
os dois blocos imaginados por Maturana.

Veja em Conceitos homônimos mas com significados diferentes

o ponto 0.0 As duas leituras do fenômeno ‘operações’ e respectivas possibilidades de análise de valor.

Verá que essa visão de Maturana que dava sustentação às propostas que fazia para alterações que ele via necessárias nos modelos de então tem sustentação na segunda leitura de ‘operações’, na qual o ponto de inserção da análise está situado antes da disponibilidade dos objetos dado e recebido na troca. 

Análise de críticas à autopoiese, feitas por Francisco J. G. Varela

críticas à autopoiese aceitas e comentadas
por Francisco J. Garcia Varela

Entretanto há algo surpreendente
no livro

‘De máquinas e de seres vivos:
Autopoiese – a Organização do vivo;

Prefácio à segunda edição;
tópico: Além da autopoiese;

sub-tópico: Enacção e cognição,
de autoria de Francisco Varela.

A surpresa está em que
entre as críticas à autopoiese que Francisco Varela
aceita como procedentes
está a que afirma que a autopoiese
tem formulação fraca,
explicando ele, que a formulação 
é dada por fraca porque é não-construtiva, problema que seria resolvido futuramente pelo desenvolvimento então em curso denominado Enacção.

Mas a formulação construtiva é requerida desde as propostas de solução dos problemas percebidos, por Maturana.

comentários

O que terá acontecido com
 
– o bloco do Operar e o bloco do Suporte ao operar 
 no interior da operação de Explicar com Reformular ;

 e,  agora na própria representação
da empiricidade objeto da modelação

o Ser vivo no caso de Maturana,

 com os dois domínios,
 
– o domínio do Operar, na representação,
correspondente ao bloco do Operar
na operação de Explicar com Reformular

– e o domínio do Suporte ao operar, na representação,
correspondente ao Bloco do Suporte ao operar
na operação de Explicar com Reformular
imaginados por Maturana?

Este é um dos modos de ver a pergunta
que este estudo pretende responder
com a ajuda de Michel Foucault.

Comentários

    2. Imaginação e Conceituação: relação reversível entre
    textos – imagens – ocorrências no espaço-tempo.
    Imagens tradicionais e técnicas, classes de abstrações
    segundo Vilém Flusser em Filosofia da caixa preta

    Imaginação e Conceituação: funções humanas reversíveis
    no caminho [Ocorrências no espaço-tempo] - [Imagens] - [Textos]

    vilem
    Vilém Flusser 1920-1991

    Imaginação e Conceituação são propriedades humanas reversíveis com as quais codificamos e decodificamos imagens e textos para ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t: imaginação, imagens, conceituação, textos, e as imagens técnicas (com conceituação especial), aquelas imagens produzidas por aparelhos; segundo Vilém Flusser

    O circuito ida e volta possibilitado por funções
    Imaginação e Conceituação reversíveis

    A interpretação dos nossos textos precisa levar-nos de volta às imagens das quais provieram, e estas, as imagens, quando decodificadas, devem nos levar à ocorrência no espaço-tempo que representam.

    Se isso não ocorrer, estaremos diante:

    • da idolatria

    – o uso de imagens que, quando decodificadas, não mais recuperam as respectivas ocorrências espacio-temporais, e

    • da textolatria,

    – o uso de textos que continuam em uso mesmo que, quando decodificados, são incapazes de reconstituir as imagens das ocorrências no espaço-tempo a que deveria corresponder.

    Vamos utilizar como método as recomendações de Vilém Flusser, para – com a criação de imagens relacionadas a conceitos de Foucault encontrados no ‘As palavras e as coisas’ permitir a compreensão do conceito pela redução do alto grau de abstração que ele apresenta enquanto texto.

    Você pode ver o efeito dessa medida – como exemplo – nos seguintes conceitos existentes tanto sob o pensamento clássico quanto no moderno:

    • as duas leituras do fenômeno ‘operações’ e respectivas possibilidades de análise de valor;
    • conceito para o que seja um Verbo’;
    • conceito para o que seja ‘Classificar’;
    • os dois papéis atribuídos ao homem sob o pensamento moderno, e ausência deles no clássico;
    • os dois tipos de reflexão característicos do pensamento clássico e do moderno;
    • as duas sintaxes envolvidas na construção de representações novas sob o pensamento moderno;
    • os dois conceitos para História;
    • os dois modos de carregamento de valor pela ‘proposição’, segundo as possibilidades de leitura. 

    Imagens
    tradicionais

    As imagens tradicionais

    Imagens
    técnicas

    As imagens técnicas

    Classes
    de abstrações

    classes de abstrações:
    Graus da abstração;
    Dimensões próprias a cada caso
    Seu comentário, por favor

      4. Roteiro & Inspiração: as pedras no caminho de Michel Foucault e
      caminhos e descaminhos de Humberto Maturana

      Roteiro e Inspiração: as pedras no caminho de Foucault e
      os caminhos de Humberto Maturana

      A pedra no caminho de Foucault, nosso roteiro: com uma impossibilidade e uma obrigação:
      a) a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto no espaço da representação] e
      b) a constituição para além do objeto, dos quase transcendentais Vida,Trabalho e Linguagem

      Os caminhos (e rotas) de Maturana, nossa inspiração: caminhos (e descaminhos) de Humberto Maturana finalizando com as críticas feitas à autopoiese, e aceitas por Francisco Varela
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