O segundo dos dois obstáculos encontrados por Michel Foucault
no curso do seu trabalho de arqueologia das ciências humanas:
a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e constituir,
para além do objeto,os quase-transcendentais da Vida, do Trabalho e da Linguagem

O segundo dos dois obstáculos encontrados por Michel Foucault
em seu trabalho de arqueologia das ciências humanas no 'As palavras e as coisas'

A abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo,
para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem:
O passo adiante do objeto: o espaço e o modelo constituinte das ciências humanas

Em seguida à percepção de que o pensamento contemporâneo, com o qual queiramos ou não pensamos, estava contaminado pela impossibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto cuja representação havia sido delineada pela análise) no espaço da representação, Foucault descobre uma obrigação, e relata a empreitada seguinte que empreendeu para dar conta dela. Trata-se de:

“a obrigação correlativa, simultânea,
mas logo dividida contra si mesma,
de abrir o campo transcendental da subjetividade
e de constituir inversamente, para além do objeto,
esses “quase-transcendentais” que são para nós
a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem,
tópico I. As novas empiricidades
O Triedro dos saberes: faces e espaço interior
As ciências humanas: modelo constituinte composto por uma combinação dos três modelos constituintes das ciências
que integram o eixo epistemológico fundamental

Mas é preciso ir mais longe

Com a ajuda de Michel Foucault, intentamos enfrentar os desafios:

  • de obter a fundação das sínteses no espaço da representação, 
  • de abrir o campo transcendental da subjetividade e constituir os “quase-transcendentais” Vida, Trabalho e Linguagem

Neste tópico – a partir do alerta de Michel Foucault de que “É preciso ir mais longe”

O texto está em “As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas”;
Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

Trata-se de um quase manual com instruções dadas por Michel Foucault sobre como utilizar os modelos constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem no projeto do modelo constituinte composto dessa classe especial de saberes chamada Ciências humanas.

É preciso ir mais longe:
como usar os modelos constituintes de cada par, na construção de um modelo no espaço das ciências humanas
Uma crítica ao metodo de construção de modelos no espaço das ciências humanas, feita por Michel Foucault

O primeiro dos dois obstáculos encontrados por Michel Foucault
no curso do seu trabalho de arqueologia das ciências humanas:
a possibilidade/impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação

O primeiro dos dois obstáculos encontrados por Michel Foucault no desenvolvimento do seu trabalho no 'As palavras e as coisas'

A impossibilidade [no pensamento clássico]
contra a sim-possibilidade [no pensamento moderno]
de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação.

“É que o pensamento que nos é contemporâneo
e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
se acha ainda muito dominado

  1. pela impossibilidade,
    trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação
  2. e pela obrigação
    correlativ
    a, simultânea,
    mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir inversamente,
    para além do objeto,
    esses “quase-transcendentais” que são para nós
    a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

Comparações feitas por Michel Foucault entre
diferentes configurações do pensamento com e sem essas dificuldades

comparações feitas por Foucault de diferentes configurações de pensamento

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
tópico I – As novas empiricidades

A descontinuidade epistemológica de 1775-1825: diferenças e semelhanças (nem tudo é o que parece ser)

As configurações do pensamento antes e depois
da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825

as configurações do pensamento antes e depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

Configurações do pensamento: perfis de diferenças e semelhanças
(nem tudo é o que parece ser)

“Ora, esta investigação arqueológica mostrou duas grandes descontinuidades na epistémê da cultura ocidental:

  •  aquela que inaugura a idade clássica
    (por volta dos meados do século XVII)
  •  e aquela que, no início do século XIX,
    marca o limiar de nossa modemidade.

A ordem, sobre cujo fundamento pensamos, não tem o mesmo modo de ser que a dos clássicos.

Por muito forte que seja a impressão que temos de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias, por mais que pensemos

  •  que a classificação de Lineu, mais ou menos adaptada, pode de modo geral continuar a ter uma espécie de validade,
  •  que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do século XIX,
  •  que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias análises com as de Cantillon,
  •  que o propósito da Gramática geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em Bauzée) não está tão afastado de nossa atual Linguística;

– toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.

Não que a razão tenha feito progressos; mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; é que foi profundamente alterado. 

Se a história natural de Toumefort, de Lineu e de Buffon tem relação com alguma coisa que não ela mesma, não é com a biologia, a anatomia comparada de Cuvier ou o evolucionismo de Darwin, mas com a gramática geral de Bauzée, com a análise da moeda e da riqueza tal como a encontramos em Law, em Véron de Fortbonnais ou em Turgot.

Os conhecimentos chegam talvez a se engendrar; as idéias a se transformar e a agir umas sobre as outras (mas como? até o presente os historiadores não no-lo disseram); uma coisa, em todo o caso, é certa: a arqueologia, dirigindo-se ao espaço geral do saber; a suas configurações e ao modo de ser das coisas que aí aparecem, define sistemas de simultaneidade, assim como a série de mutações necessárias e suficientes para circunscrever o limiar de uma positividade nova.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Prefácio;
Michel Foucault

Observação: na citação acima do ‘As palavras e as coisas’ dá a impressão de que Foucault está questionando o alinhamento filosófico consciente de Keynes. Note que Richard Cantillon, 1680-1734 teve um período de vida situado bem antes da descontinuidade epistemológica na cultura ocidental situado por Foucault entre 1775-1825.

Richard Cantillon (c. década de 1680 – maio de 1734foi um economista franco-irlandês e autor de Essai sur la Nature du Commerce en Général, livro considerado por William Stanley Jevons como o “berço da economia política”.

William Stanley Jevons (Liverpool, 1 de setembro de 1835 — Bexhill, 13 de agosto de 1882) foi um economista britânico.

Foi um dos fundadores da Economia Neoclássica e formulador da teoria da utilidade marginal, que imprimiu novo rumo ao pensamento econômico mundial, especialmente no que se refere à questão da determinação do valor, solucionando o paradoxo utilidade na determinação dos valores das coisas (por que o pão, tão útil, é barato, e o brilhante, quase inútil, é caro?) que até então confundia os economistas.