Metáforas adequadas para operações em cada segmento do espectro de modelos:
transformação ou conversão; processo ou forma de produção

Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações
em cada segmento do espectro de modelos

Transformação (única) ou Processamento de informações:
a estrutura Input-Output no pensamento clássico, de antes de 1775
propriedade aparente - Fluxo; metáfora Transformação -unica

Visão da operação clássica
Transformação única de Entradas em Saídas,
ou Processamento de informações

Conversão ou um par de transformações de mesmo sinal
no caminho da Construção da representação, pensamento moderno, depois de 1825
propriedade aparente Permanência; metáfora: Conversão

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho da Construção da representação
A metáfora adequada às operações no caminho
da Construção de representação
para a empiricidade objeto

Conversão ou um par de transformações de sinais trocados
caminho do Instanciamento da representação, pensamento moderno, depois de 1825
propriedade aparente: Fluxo; metáfora: Conversão

Visão da operação do pensamento moderno
no caminho do Instanciamento da representação
A metáfora adequada às operações
no caminho do Instanciamento da representação

Os dois princípios filosóficos para o que seja ‘Trabalho’
dando fundamento filosófico simultaneamente a modelos muito usados hoje em dia

Os dois conceitos filosóficos para o que seja 'Trabalho':
o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

Veja abaixo as diferenças entre os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, usando as palavras de Michel Foucault

Aquém do objeto
Adam Smith, 1776

Princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
publicado no Riqueza das Nações, de 1776

Diante e  Além do objeto
David Ricardo, 1817

Princípio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

Na análise de Adam Smith, o trabalho devia seu privilégio ao poder que se lhe reconhecia de estabelecer entre os valores das coisas urna medida constante: 

  • permitia fazer equivaler na troca objetos de necessidade cujo aferimento de outro modo teria sido exposto à mudança ou submetido a uma essencial relatividade. 

No entanto, só podia assumir tal papel à custa de uma condição: 

era preciso supor 

  • que a quantidade de trabalho indispensável para produzir uma coisa 
  • fosse igual à quantidade de trabalho que essa coisa, em retorno, pudesse comprar no processo da troca. 

Ora, como justificar essa identidade, em que fundá-Ia a não ser sobre uma certa assimilação, admitida na sombra mais que esclarecida, entre 

  • o trabalho como atividade de produção
  • e o trabalho como mercadoria que se pode comprar e vender? 

Nesse segundo sentido, ele não pode ser utilizado como medida constante, pois “experimenta tantas variações quanto as mercadorias ou bens com os quais pode ser comparado”. 

Essa confusão, em Adam Smith, tinha sua origem no primado concedido à representação: 

  • toda mercadoria representava certo trabalho,

  • e todo trabalho
    podia representar certa quantidade de mercadoria. 

A atividade dos homens e o valor das coisas comunicavam-se no elemento transparente da representação.

É aí que a análise de Ricardo encontra seu lugar e a razão de sua importância decisiva. 

Ela não é a primeira a organizar um lugar importante para o trabalho no jogo da economia; mas faz explodir a unidade da noção, e distingue, pela primeira vez, de uma forma radical, 

  1. essa força, esse esforço, esse tempo do operário que se compram e se vendem,
  2. e essa atividade que está na origem do valor das coisas.

Ter-se-á pois, por um lado,

  • o trabalho que os operários oferecem, que os empresários aceitam ou demandam e que é retribuído pelos salários;

por outro, ter-se-á

  • o trabalho que extrai os metais, produz os bens, fabrica os objetos, transporta as mercadorias e forma assim valores permutáveis que antes dele não existiam e sem ele não teriam aparecido.

“A partir de Ricardo,
o trabalho,
desnivelado em relação à representação,
e instalando-se
em uma região
onde ela não tem mais domínio,
organiza-se
segundo uma causalidade
que lhe é própria.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Cap. VII – Trabalho, Vida e Linguagem
tópico II – Ricardo

Essa diferença
quanto a bases fundamentais
de produções do pensamento:
na representação ou fora dela
é exatamente a objeção
de Lacan à psicanálise de Freud.

Elementos integrantes dos modelos de operação de um e outro lado,
vão refletir-se concretamente em diferenças estruturais
de modelos práticos feitos com pensamento configurado de uma ou de outra forma.

O elemento central no Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, é Processo, um verbo, que ‘a única coisa que afirma é a anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si’ Por isso, o tempo de ‘Processo’ não indica aquele tempo em que as coisas existiram no absoluto, mas antes indica um tempo relativo.

O princípio monolítico de trabalho de Adam Smith analisa valor no ato mesmo da troca, no momento em que a permuta é possível. Deixa de fora, portanto, toda a operação de construção de representação para empiricidade objeto nova.

Esse momento caracteriza-se pela existência simultânea dos objetos envolvidos na troca:

  • o que é dado;
  • e o que é recebido;

Operação modelada sob esse princípio transcorre toda no interior do 

  • Lugar onde ocorrem as trocas,
    • o popularmente conhecido Mercado

e no interior do 

  • domínio do Discurso e da Representação

O elemento central no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817, é a Forma de produção. A maneira escolhida para a produção do objeto a ser dado na operação de troca.

O apontador de início da análise de valor está posicionado no início da produção, em um momento, portanto,em que 

  • a ‘coisa’ ainda não existe; 

o apontador está posicionado em um ponto anterior à existência do objeto da troca e a operação procura as condições nas quais a permutabilidade pode acontecer.

Operação modelada sob este princípio de David Ricardo transcorre toda no interior do

  • Lugar de nascimento do que é empírico
  • com seus sub-espaços
    • Lugar desde onde se fala
    • no domínio do Pensamento e da Língua, e
    • Lugar do falado
    • no domínio do Discurso e da Representação

A construção da representação para essa ‘coisa’ – ou empiricidade objeto da operação de produção correspondente à Forma de produção – é feita desde fora da linguagem, por meio de:

  • designações primitivas;

são as operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, que resultam na identificação e ou desenvolvimento dos elementos de suporte na experiência à Forma de produção.

  • linguagem de ação ou de uso;

é o conteúdo do Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, uma coleção de representações relacionadas a empiricidades objeto anteriormente tratadas, que permanece disponível a qualquer tempo no domínio e ambiente em que a presente operação acontece.

Veja

O fenômeno da operação de troca:
amplitudes da visão do fenômeno da troca em cada caso
e as duas origens de valor para a proposição na linguagem,
ou as linguagens de acordo com ascduas alternativas de fontes para de valor

a descrição feita por Michel Foucault das duas possibilidades de leitura abertas para o pensamento, simultaneamente, para entender operações e valor a partir da linguagem. Um resumo vai abaixo:

O pensamento de Foucault em resumo diz o seguinte:

Podemos ver o que sejam operações, segundo duas possibilidades de inserção do ponto de início do fenômeno ‘operações’ e ‘operações de troca’, segundo a disponibilidade ou não dos dois objetos envolvidos em uma troca. A cada possibilidade de inserção do ponto de início do fenômeno corresponde uma diferente origem do valor carregado pela proposição para a representação.

Ora, uma operação de troca envolve dois objetos e como fenômeno, portanto, guarda relação com as operações de obtenção de cada um desses dois objetos, e está sobreposta a estas.

Assim, uma operação pode ser vista:

  • No exato momento do cruzamento (do andamento das respectivas operações) entre o que é dado e o que é recebido na troca; ou
  • Antes desse momento, quando pelo menos um dos objetos ainda não está disponível, e nesse momento inicia-se a prospecção da sua permutabilidade. Faz-se, então, uma aposta de que esse objeto poderá, no futuro, fazer par com um outro em uma operação em que um é dado e outro é recebido em uma dupla troca.

As duas origens de valor carregado pela proposição para a representação são os seguintes:

  • no ponto de cruzamento entre o objeto que é dado e o objeto que é recebido, o valor é atribuído diretamente à proposição que o carrega para a representação;
  • no ponto de início da prospecção da permutabilidade do objeto ainda não disponível para troca, o valor é carregado para a proposição a partir de sua origem em:
    • designações primitivas;
    • linguagem de ação ou raiz (linguagem de uso).

Veja nos modelos de operações desta página, que ‘designações primitivas e linguagem de ação ou raiz são ideias que admitem os respectivos elementos de imagem, e estão colocados nas figuras, em posições operacionais e integrantes da estrutura do modelo. 

E veja que essas duas fontes originárias do valor associado à proposição só têm espaço no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

A segunda possibilidade de leitura de ‘operações’ e ‘operações de troca’ não funciona sem as ideias de sujeito e de objeto da operação colocados em posições operacionais na estrutura da operação.

1 Primeira possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

No lado esquerdo o valor que chega à representação através da proposição é carregado nela diretamente, até porque não há intenção de formular operações levando em conta como elemento organizador o objeto tomado como descrito por suas propriedades originais e constitutivas, isto é, de modo relacionado com o objeto. 

Na visão de ‘operações’ no pensamento clássico não há a ideia de objeto como constituído por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas, pelos pressupostos considerados.

Refiro-me ao Princípio Monolítico de trabalho de Adam Smith. Na avaliação de Foucault, nesta alternativa de leitura do que seja trabalho a partir da linguagem toda a essência da linguagem está na proposição.

Toda a essência da linguagem está no interior da proposição.

A proposição já nasce emprenhada do valor que carrega.

2 Segunda possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

No princípio de trabalho de David Ricardo é visível a modelagem de uma proposição, usando ideias – ou elementos de imagem – todos eles em posições operacionais na estrutura do modelo.

  • o sujeito, o empresário;
  • e seu predicado
    • o atributo, representado na figura pela representação do objeto da operação; 
    • o verbo: representado na figura pela Forma de produção

Essa mesma essência da linguagem encontra raízes fora dela mesma, do lado das

  • designações primitivas;
  • linguagem de ação ou raiz

No lado direito, sim, existem, ideias – ou elementos de imagem, que modelam padronizada e genericamente o elemento construtivo padrão fundamental para construção de representações – a proposição – e o escopo da operação é justamente articular o impensado, pelo pensamento, no espaço da representação. Refiro-me agora ao Princípio Dual de trabalho de David Ricardo. 

A proposição assim que formulada está vazia, inclusive do valor que pode carregar; consiste tão somente em uma arquitetura que é comum a toda e qualquer proposição no curso desse tipo de operação.

Essa modelagem padronizada, genérica, organizadora de uma ordem única ao longo de toda a operação, descobre a essência da linguagem fora dela, nas operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, às quais Foucault denomina “designações primitivas – linguagem de ação ou raiz”.

Relacionamento entre

  • o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo e o modelo de operações proposto no LD da Figura 2, a nossa Plataforma para exposição;
  • as fontes externas á linguagem e ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’ no LD da Figura 2, com:
    • designações primitivas e
    • linguagem de ação ou de uso, 
Relação entre
o texto do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo,
de 1817, e as ideias - ou elementos de imagem -
do modelo de operações no LD da figura
Os elementos de imagem, as ideias,
que permitem formular o modelo de operações
desde fora da linguagem
a partir das designações primitivas
- e da linguagem de ação ou de raiz(*)

Comparações entre os dois princípios de trabalho,
e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

Comparação, feita por Michel Foucault,
entre os princípios de trabalho
o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

comparações entre Adam Smith
e David Ricardo,
por Michel Foucault

1 Primeira possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

Inserção do ponto de leitura de operações e análise de valor no exato cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

A importância de David Ricardo,
segundo Michel Foucault

2 Segunda possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

Na animação acima vê-se nas palavras de Michel Foucault a inclusão daquela atividade que está na origem do valor das coisas como característica do Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.

Isso implica em que a inserção do ponto de leitura de operações e análise de valor está colocado antes da existência do que é dado e do que é recebido, e portanto antes do cruzamento entre os dois, na operação de troca.

Isso coloca toda a operação no princípio de Ricardo fora do circuito das trocas e no espaço reservado ao ‘Lugar de nascimento do que é empírico’.

Comentários

    Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
    no ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’

    Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço, encontrados por Michel Foucault em seu trabalho

    os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
    no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'
    Michel Foucault 1926-1984
    Michel Foucault
    1926-1984

    “É que o pensamento
    que nos é contemporâneo

    e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
    se acha ainda muito dominado

    1

    pela impossibilidade,

    trazida à luz
    por volta do fim do século XVIII,

    de fundar as sínteses

    [da empiricidade
    objeto da operação] 

    no espaço da representação

    2

    e pela obrigação

    correlativa, simultânea,
    mas logo dividida
    contra si mesma,

    de abrir o campo transcendental
    da subjetividade e
     

    de constituir
    inversamente,
    para além do objeto,

    esses “quase-transcendentais”
    que são para nós
    a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;

    Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
    tópico I – As novas empiricidades

    O problema está na coexistência de configurações de pensamento:

    • com a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação;
    • e simultaneamente, e no mesmo espaço,
      sem essa possibilidade, isto é, com a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação. 

    O pensamento que chamamos ‘nosso’, aquele que tem ‘a nossa idade e geografia’ e com o qual ‘queiramos ou não, pensamos’, sim, tem a possibilidade de fundar as sínteses da empiricidade objeto da operação, no espaço da representação. 

    Esse é o pensamento cuja configuração corresponde ao depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825. Trata-se da configuração de pensamento que se consolidou no início do século XIX.

    Em contrapartida, a configuração de pensamento comum até o final do século XVIII, chamado de pensamento clássico, não tem essa possibilidade, ou apresenta a impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação.

    Temos modelos que atestam essa contaminação

    Esse “para além do objeto” autoriza a suposição de que a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto] no espaço da representação foi conseguida pelo pensamento; 

    • o que implica no posicionamento do apontador de início da visão que temos do que sejam operações antes da possibilidade da troca e portanto antes da disponibilidade dos objetos envolvidos nela.
    • implica ainda em que a fonte de valor na linguagem seja proveniente de fontes externas a ela, e tenham origem
      • nas designações primitivas;
      • na linguagem de uso.

    Isso se confirma quando vemos o modelo constituinte composto proposto por Foucault para ser o modelo constituinte comum a todas as ciências humanas.

    Ele é um modelo combinação dos pares constituintes das ciências da região epistemológica fundamental:

    Vida (Biologia) par [função-norma];

    Trabalho (Economia) par [conflito-regra];

    Linguagem (Filologia) par [significação-sistema]. 

    Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece,
    em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações

    Anatomia ou cartografia dos modelos: os diferentes lugares onde o pensamento acontece,
    em função do perfil de pensamento e do caminho no qual seguem as operações.
    Os lugares onde o pensamento acontece - e as operações também

    Lugar do nascimento do que é empírico: pensamento moderno - caminho da Construção da representação
    Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se sob o pensamento clássico, o de ante de 1775, e também pode ocorrer no caminho do Instanciamento da representação, sob o pensamento moderno.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

    No pensamento moderno
    o conceito 'modo de se fundamental das empiricidades' é o elemento ordenador da História.
    As setas amarelas dirigidas para baixo indicam mudança nesse conceito,
    e que história foi feita em decorrência do sucesso desta operação.
    A ênfase que em geral é dada ao Mercado
    pode ser um indicador da falta de percepção conceitual
    do pensamento filosófico moderno

    o Lugar de nascimento do que é empírico e o Circuito das trocas

    No pensamento clássico, o de antes de 1775
    toda a operação transcorre no interior do Circuito das trocas

    O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
    lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico

    Na palheta de ideias do pensamento clássico não há o conceito de objeto definido por propriedades originais e constitutivas; as coisas são vistas a partir de “aparências” ou propriedades não-originais e não-constitutivas.

    A partir do pressuposto que caracteriza o lado esquerdo da figura, 

    “A existência precede a distinção” 

    tudo é considerado pré-existente e integrante do Universo.

    Assim, na operação clássica sobre o sistema Input-Output, não há como definir o conceito ‘modo de ser fundamental’ de empiricidade objeto já que as coisas não são pensadas desse modo, usando propriedades sim-originais e sim-constitutivas.

    No pensamento clássico as operações são formuladas e desencadeadas a partir de propriedades não-originais e não-constitutivas, ou as “aparências”.
     

    O que há são 

    • Entradas (caracterizadas por uma propriedade não-original e não-constitutiva) 

    • e Saídas (idem idem)

    E toda a operação transcorre no interior do Circuito das trocas, ou  o Mercado.

    No pensamento moderno, o de depois de 1825

    no caminho da Construção da representação nova,
    a operação transcorre no interior do Lugar de nascimento do que é empírico

    Lugar do nascimento do que é empírico
    é o lugar onde o pensamento altera
    o ‘modo de ser fundamental’
    da empiricidade objeto da operação.

    O que acontece no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’ está antes de toda a possibilidade de cronologia, e aquém de qualquer operação no âmbito do Mercado 

    O Lugar de nascimento do que é empírico
    lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
    e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado

    A palheta de ideias – ou elementos de imagem – do pensamento moderno, é construída a partir do tipo de reflexão que se instaura em nossa cultura:

    “Instaura-se uma forma de reflexão,
    bastante afastada do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. IX – O homem e seus duplos;
    tópico V – O “cogito” e o impensado

    “Assim como a Ordem
    no pensamento clássico

    não era a harmonia visível das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
     e aquilo que,
    antes de todo conhecimento efetivo,

    as estabelecia no saber,

    assim também a História,
    a partir do século XIX,
    define
    o lugar de nascimento do que é empírico,

    lugar onde,
    aquém de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser que lhe é próprio.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Os limites da representação;
    tópico I – A idade da história

    O Lugar de nascimento do que é empírico, na figura e animação ao lado –  é o espaço demarcado pelas chaves verticais composto de duas áreas em domínios diferentes:

    • o retângulo vermelho, parte do domínio do Pensamento e da Língua, abriga a parte da operação de construção de representação nova que define a dinâmica consistente cm o ‘operar’ vislumbrado para a empiricidade objeto;

    • o retângulo amarelo, parte do domínio do Discurso e da Representação, abriga a parte da operação de construção da nova representação com o suporte na experiência ao operar vislumbrado para a empiricidade objeto.

    Alteração no 'modo de ser fundamental' da empiricidade objeto implica em fazer História

    O ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades é o elemento ordenador dessa História que define o lugar de nascimento do que é empírico, entendendo esse conceito como sendo “aquilo a partir do que elas podem ser afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”  

    Assim, o evento de objeto (f) – a seta amarela vertical para baixo que marca o fim da operação de construção da representação – marca também que história foi feita. 

    Esse é um tempo absoluto, um tempo aquém de toda cronologia estabelecida. Essa percepção contrapõe-se ao tempo relativo, tempo calendário, que caracteriza as operações sob o pensamento clássico, e de maneira semelhante, as operações de instanciamento de operações recuperadas do Repositório.

    Isso determina distinção fundamental entre eventos (i) e (f) de objeto no caminho da construção da representação, e eventos (i) e (f) de inicio e fim de processos suporte da Forma de produção, estes, não relacionados a objeto.

    O escopo da operação de construção de representação nova é poder descrever uma representação para a empiricidade objeto por meio de propriedades originais e constitutivas.

    Antes da operação de construção da representação nova, as propriedades da representação em construção não existem. No ponto de início da operação existe somente a arquitetura comum a todas as representações, na qual tais propriedades descrevem representações. Ao final da operação essas propriedades sim-originais e sim-constitutivas passam a existir.

    no caminho do Instanciamento de representação pré-existente no Repositório
    a operação de Instanciamento transcorre novamente no Circuito das trocas

    O Circuito das trocas
    as chaves horizontais amarelas
    onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental' não se altera

    Vislumbrado um ‘operar’ atribuído a uma empiricidade objeto, sempre, a primeira providência é uma consulta ao repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da linguagem sobre a existência de representação capaz de resolver esse ‘operar’.

    • no caso negativo (inexistência de representação que sirva a esse ‘operar’, é desencadeada a operação de Construção da representação;
    • no caso positivo, sim, já existe representação para o ‘operar’ atribuído à empiricidade objeto, então, mantida a decisão de continuidade da operação, essa representação existente no Repositório é recuperada, e a operação de Instanciamento pode ser desencadeada.

    A representação recuperada para instanciamento tem todas as suas propriedades, sejam as originais e constitutivas, sejam as não-originais e não-constitutivas, ou as “aparências” existentes. 

    Desse modo, durante a operação de Instanciamento o ‘modo de ser fundamental’ dessa empiricidade objeto em instanciamento não são alteradas e permanece o mesmo que ela tinha ao ser recuperada do Repositório. 

    Assim, toda a operação de Instanciamento passa a ocorrer no interior do Circuito das trocas, ou Mercado, tal como acontecia sob o pensamento clássico.

    Comentários

      A descontinuidade epistemológica de 1775-1825:
      conceitos homônimos com significados diferentes para o antes e o depois desse evento fundador da nossa modernidade no pensamento

      Conceitos homônimos mas com significados diferentes para o pensamento nos períodos de antes e de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825; as duas sintaxes envolvidas na construção de representação nova, sob o pensamento moderno, o sedimentado após 1825

      Propriedades emergentes – Fluxo ou Permanência –
      e elementos principais das operações em função do perfil do pensamento

      Propriedades emergentes em cada modelo de operações
      e elementos de imagem principais

      Propriedade emergente do modelo de operações no pensamento clássico, o de antes de 1775
      no interior do Circuito das trocas (Mercado)

      Modelo de operação clássico sobre o sistema Input-Output
      propriedade emergente Fluxo
      Ideias importantes nesse modelo clássico
      • formulação da operação é reversível até o desencadeamento do evento (i):
      • domínio do Discurso e da Representação
      • tempo nessa operação é calendário, no sentido de tempo relativo:
      • operação transcorre no interior do Circuito das trocas(mercado):
      • propriedade emergente FLUXO:
      • (a) e (b) são representações pré-existentes;
      • Ordem arbitrária selecionada ou um sistema de categorias;
      • Circuito das trocas: indicado pela chave amarela;
      • (r) é uma representação combinação de (a) e (b);
      • Propriedades não-originais e não-constitutivas ou “aparências” todas existentes antes da operação.
      • não existe a noção de objeto definido por propriedades originais e constitutivas;
      • não existe a noção de sujeito uma vez que todas as coisas são pré-existentes desde sempre e para sempre.

      Propriedades emergentes dos modelos de operações no pensamento moderno, o de depois de 1825

      no caminho da Construção da representação,
      no interior do Lugar do nascimento do que é empírico

      • formulação da operação é irreversível desde o início da operação de construção da representação:
      • domínios do Pensamento e da Língua e do Discurso e da Representação:
      • tempo nessa operação é absoluto, no sentido de não ser um tempo relativo (deus Kairós):
      • operação transcorre toda no interior do Lugar de nascimento do que é empírico:
      • propriedade emergente é PERMANÊNCIA (da representação no Repositório)
      • Pensamento não articulado, visão, 
      • Lugar de nascimento do que é empírico
      • Forma de produção e elementos de suporte
      • Coleção de analogias organizadas por Sucessão

       

      • Sujeito da operação – homem no seu 1º papel de raiz de toda positividade;
      • Objeto da operação em dois estados sucessivos
      • Propriedades originais constitutivas nos 2 estados
      Modelo de operação moderno, no caminho da Construção da representação
      Ideias importantes nesse modelo moderno
      no caminho da Construção da representação

      no caminho do Instanciamento da representação,
      novamente no interior do Circuito das trocas (Mercado)

      Modelo de operação moderno, no caminho
      do Instanciamento da representação
      Ideias importantes nesse modelo moderno
      no caminho do Instanciamento da representação
      • formulação da operação de instanciamento é reversível novamente:
      • domínio do Discurso e da Representação:
      • tempo nesta operação de instanciamento volta a ser relativo, calendário:
      • operação transcorre toda no interior do Circuito das trocas:
      • propriedade emergente volta a ser FLUXO:
      • Circuito das trocas
      • Busca por origem, possibilidade, generalidade, limites
      • Propriedades originais, etc. bem como “aparências”
      • Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua com a representação objeto de instanciamento antes da operação.

      A forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura
      depois da descontinuidade epistemológica entre 1775-1825,
      e que inspira o Princípio Dual de Trabalho, de 1817, devido a David Ricardo.

      A forma de reflexão que se instaura com a DE(1775-1825)

      que inspira o princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

      A Forma de reflexão que se instaura no depois
      da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
      O princípio dual de trabalho de David Ricardo, de 1817

      Instaura-se uma forma de reflexão
      bastante afastada do cartesianismo e da análise kantiana
      em que está em questão,
      pela primeira vez
      o ser do homem
      nessa dimensão segundo a qual
      o pensamento
      se dirige ao impensado
      e com ele se articula

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap. IX –  O homem e seus duplos;
      tópico V – O “cogito’ e o impensado

      e que torna possível modelar operações e organizações com ideias e respectivos elementos de imagem necessários para compor o bloco construtivo padrão genérico e fundamental 'proposição' para construção de representações

      Proposição: o bloco construtivo padrão fundamental
      para a construção de representações, segundo Michel Foucault.

      A proposição é
      para a linguagem
      o que a representação é
      para o pensamento:
      sua forma,
      ao mesmo tempo mais geral
      e mais elementar;
      porquanto,
      desde que a decomponhamos,
      não reencontraremos mais o discurso,
      mas seus elementos
      como tantos materiais dispersos.

      As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Capítulo IV – Falar; tópico
      III. A teoria do verbo

      A descontinuidade epistemológica de 1775-1825:
      a cronologia básica, fases, período de ruptura

      A descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Michel Foucault
      1926-1984

      "E foi realmente necessário 
      um acontecimento fundamental
      - um dos mais radicais, sem dúvida,
      que ocorreram na cultura ocidental,
      para que se desfizesse
      a positividade do saber clássico
      e se constituísse uma positividade
      de que, por certo,
      não saímos inteiramente."

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      tópico I. A idade da história

      Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
      defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prática

      cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
      uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prática

      “Esse acontecimento, sem dúvida porque estamos ainda presos na sua abertura, nos escapa em grande parte. Sua amplitude, as camadas profundas que atingiu, todas as positividades que ele pode subverter e recompor, a potência soberana que lhe permitiu atravessar, em alguns anos apenas, o espaço inteiro de nossa cultura, tudo isso só poderia ser estimado e medido ao termo de uma inquirição quase infinita que só concerniria, nem mais nem menos, ao ser mesmo de nossa modernidade.

      A constituição de tantas ciências positivas, o aparecimento da literatura, a volta da filosofia sobre seu próprio devir, a emergência da história ao mesmo tempo como saber e como modo de ser da empiricidade, não são mais que sinais de uma ruptura profunda.

      Sinais dispersos no espaço do saber, pois que se deixam perceber na formação, aqui de uma filologia, ali de uma economia política, ali ainda de uma biologia.

      Dispersão também na cronologia: certamente, o conjunto do fenômeno se situa entre datas facilmente assinaláveis

      •  (os pontos extremos são
        os anos 1775 e 1825);

      podem-se porém reconhecer, em cada um dos domínios estudados, duas fases sucessivas que se articulam uma à outra, mais ou menos por volta dos anos 1795-1800.

      Na primeira dessas fases, o modo de ser fundamental das positividades não muda; as riquezas dos homens, as espécies da natureza, as palavras de que as línguas são povoadas permanecem ainda o que eram na idade clássica: representações duplicadas – representações cujo papel consiste em designar representações, analisá-las, decompô-las e compô-las, para fazer nelas surgir, com o sistema de suas identidades e de suas diferenças, o princípio geral de uma ordem.

      O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

       “É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.

      Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,

      • é a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
        • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros, 
        • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e de articulação, 
        • como chegam, pelo jogo das comparações, a estabelecer uma ordem.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap.VII – Os limites da representação
      tópico I. A idade da história

      Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

      Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

      • autores clássicos:
        • Adam Smith, 1723-1790
        • John Locke, 1632-1704
        • David Hume, 1711-1776
        • J. J. Rousseau, 1712-1778
        • Jeremy Bentham, 1748-1832
      • autores modernos:
        • Immanuel Kant, 1724-1804
        • David Ricardo, 1772-1823
        • Georges Cuvier, 1769-1832
        • Franz Bopp, 1792-1867
        • Sigmund Schlomo Freud, 1856-1939
        • e John Maynard Keynes, 1883-1936
        • entre muitos outros.

      Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

      • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
      • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
      • David Ricardo, economista, 1772-1823

      Em face da Ideologia, a critica kantiana marca, em contra partida, o limiar de nossa modernidade; interroga a representação,

      • não segundo o movimento indefinido que vai do elemento simples a todas as suas combinações possíveis,
      • mas a partir de seus limites de direito. 

      Sanciona assim, pela primeira vez, este acontecimento da cultura européia que é contemporâneo do fim do século XVIII: 

      a retirada do saber e do pensamento
      para fora do espaço da representação.

      Subsídios para uma alteração de nossa avaliação sobre a continuidade da ratio em nossa cultura, oferecidos pelo desenvolvimento da arqueologia das ciências humanas no As palavras e as coisas

      Por muito forte que seja a impressão que temos
      de um movimento quase ininterrupto da ratio européia desde o Renascimento até nossos dias,

      • por mais que pensemos que a classificação de Lineu,
        mais ou menos adaptada, pode de modo geral
        continuar a ter uma espécie de validade, 
      • que a teoria do valor de Condillac se encontra em parte no marginalismo do século XIX, 
      • que Keynes realmente sentiu a afinidade de suas próprias análises com as de Cantillon, 
      • que o propósito da Gramática geral (tal como o encontramos nos autores de Port-Royal ou em Bauzée) não está tão afastado de nossa atual linguística 

      – toda esta quase-continuidade ao nível das idéias e dos temas não passa, certamente, de um efeito de superfície; 

      no nível arqueológico, vê-se que o sistema das positividades mudou de maneira maciça na curva dos séculos XVIII e XIX.

      Não que a razão tenha feito progressos; mas o modo de ser das coisas e da ordem que, distribuindo-as, oferece-as ao saber; é que foi profundamente alterado.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Prefácio

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