A história do nascimento do livro ‘As palavras e as coisas’

A história do nascimento do livro 'As palavras e as coisas' de Michel Foucault, baseada no relato feito por ele mesmo no Prefácio, com imagens.

1 - A ideia que deu origem ao livro 'As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas'
2 - A imagem que Michel Foucault tinha na cabeça ao escrever
o livro 'As palavras e as coisas'
3 - dez (10) pontos selecionados no texto do livro e ilustrados, para contextualizar o Prefácio com o restante do livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'
4 - Exemplos de modelos antológicos, de modelos muito usados
concebidos sob entendimentos (epistemes) muito diferentes
5 - As duas dificuldades enfrentadas por Michel Foucault
no desenvolvimento deste livro.
Comentários

    Metáforas adequadas para operações em cada segmento do espectro de modelos:
    transformação ou conversão; processo ou forma de produção

    Metáforas adequadas e propriedades emergentes dos modelos de operações
    em cada segmento do espectro de modelos

    Transformação (única) ou Processamento de informações:
    a estrutura Input-Output no pensamento clássico, de antes de 1775
    propriedade aparente - Fluxo; metáfora Transformação -unica

    Visão da operação clássica
    Transformação única de Entradas em Saídas,
    ou Processamento de informações

    Conversão ou um par de transformações de mesmo sinal
    no caminho da Construção da representação, pensamento moderno, depois de 1825
    propriedade aparente Permanência; metáfora: Conversão

    Visão da operação do pensamento moderno
    no caminho da Construção da representação
    A metáfora adequada às operações no caminho
    da Construção de representação
    para a empiricidade objeto

    Conversão ou um par de transformações de sinais trocados
    caminho do Instanciamento da representação, pensamento moderno, depois de 1825
    propriedade aparente: Fluxo; metáfora: Conversão

    Visão da operação do pensamento moderno
    no caminho do Instanciamento da representação
    A metáfora adequada às operações
    no caminho do Instanciamento da representação

    Os dois princípios filosóficos para o que seja ‘Trabalho’
    dando fundamento filosófico simultaneamente a modelos muito usados hoje em dia

    Os dois conceitos filosóficos para o que seja 'Trabalho':
    o de Adam Smith, de 1776, e o de David Ricardo, de 1817

    Veja abaixo as diferenças entre os dois princípios de trabalho, o de Adam Smith e o de David Ricardo, usando as palavras de Michel Foucault

    Aquém do objeto
    Adam Smith, 1776

    Princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
    publicado no Riqueza das Nações, de 1776

    Diante e  Além do objeto
    David Ricardo, 1817

    Princípio dual de trabalho de David Ricardo, publicado no Principle of Political Economy and Taxation, em 1817

    Na análise de Adam Smith, o trabalho devia seu privilégio ao poder que se lhe reconhecia de estabelecer entre os valores das coisas urna medida constante: 

    • permitia fazer equivaler na troca objetos de necessidade cujo aferimento de outro modo teria sido exposto à mudança ou submetido a uma essencial relatividade. 

    No entanto, só podia assumir tal papel à custa de uma condição: 

    era preciso supor 

    • que a quantidade de trabalho indispensável para produzir uma coisa 
    • fosse igual à quantidade de trabalho que essa coisa, em retorno, pudesse comprar no processo da troca. 

    Ora, como justificar essa identidade, em que fundá-Ia a não ser sobre uma certa assimilação, admitida na sombra mais que esclarecida, entre 

    • o trabalho como atividade de produção
    • e o trabalho como mercadoria que se pode comprar e vender? 

    Nesse segundo sentido, ele não pode ser utilizado como medida constante, pois “experimenta tantas variações quanto as mercadorias ou bens com os quais pode ser comparado”. 

    Essa confusão, em Adam Smith, tinha sua origem no primado concedido à representação: 

    • toda mercadoria representava certo trabalho,

    • e todo trabalho
      podia representar certa quantidade de mercadoria. 

    A atividade dos homens e o valor das coisas comunicavam-se no elemento transparente da representação.

    É aí que a análise de Ricardo encontra seu lugar e a razão de sua importância decisiva. 

    Ela não é a primeira a organizar um lugar importante para o trabalho no jogo da economia; mas faz explodir a unidade da noção, e distingue, pela primeira vez, de uma forma radical, 

    1. essa força, esse esforço, esse tempo do operário que se compram e se vendem,
    2. e essa atividade que está na origem do valor das coisas.

    Ter-se-á pois, por um lado,

    • o trabalho que os operários oferecem, que os empresários aceitam ou demandam e que é retribuído pelos salários;

    por outro, ter-se-á

    • o trabalho que extrai os metais, produz os bens, fabrica os objetos, transporta as mercadorias e forma assim valores permutáveis que antes dele não existiam e sem ele não teriam aparecido.

    “A partir de Ricardo,
    o trabalho,
    desnivelado em relação à representação,
    e instalando-se
    em uma região
    onde ela não tem mais domínio,
    organiza-se
    segundo uma causalidade
    que lhe é própria.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Trabalho, Vida e Linguagem
    tópico II – Ricardo

    Essa diferença
    quanto a bases fundamentais
    de produções do pensamento:
    na representação ou fora dela
    é exatamente a objeção
    de Lacan à psicanálise de Freud.

    Elementos integrantes dos modelos de operação de um e outro lado,
    vão refletir-se concretamente em diferenças estruturais
    de modelos práticos feitos com pensamento configurado de uma ou de outra forma.

    O elemento central no Princípio Monolítico de Trabalho de Adam Smith, de 1776, é Processo, um verbo, que ‘a única coisa que afirma é a anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si’ Por isso, o tempo de ‘Processo’ não indica aquele tempo em que as coisas existiram no absoluto, mas antes indica um tempo relativo.

    O princípio monolítico de trabalho de Adam Smith analisa valor no ato mesmo da troca, no momento em que a permuta é possível. Deixa de fora, portanto, toda a operação de construção de representação para empiricidade objeto nova.

    Esse momento caracteriza-se pela existência simultânea dos objetos envolvidos na troca:

    • o que é dado;
    • e o que é recebido;

    Operação modelada sob esse princípio transcorre toda no interior do 

    • Lugar onde ocorrem as trocas,
      • o popularmente conhecido Mercado

    e no interior do 

    • domínio do Discurso e da Representação

    O elemento central no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo, de 1817, é a Forma de produção. A maneira escolhida para a produção do objeto a ser dado na operação de troca.

    O apontador de início da análise de valor está posicionado no início da produção, em um momento, portanto,em que 

    • a ‘coisa’ ainda não existe; 

    o apontador está posicionado em um ponto anterior à existência do objeto da troca e a operação procura as condições nas quais a permutabilidade pode acontecer.

    Operação modelada sob este princípio de David Ricardo transcorre toda no interior do

    • Lugar de nascimento do que é empírico
    • com seus sub-espaços
      • Lugar desde onde se fala
      • no domínio do Pensamento e da Língua, e
      • Lugar do falado
      • no domínio do Discurso e da Representação

    A construção da representação para essa ‘coisa’ – ou empiricidade objeto da operação de produção correspondente à Forma de produção – é feita desde fora da linguagem, por meio de:

    • designações primitivas;

    são as operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, que resultam na identificação e ou desenvolvimento dos elementos de suporte na experiência à Forma de produção.

    • linguagem de ação ou de uso;

    é o conteúdo do Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua, uma coleção de representações relacionadas a empiricidades objeto anteriormente tratadas, que permanece disponível a qualquer tempo no domínio e ambiente em que a presente operação acontece.

    Veja

    O fenômeno da operação de troca:
    amplitudes da visão do fenômeno da troca em cada caso
    e as duas origens de valor para a proposição na linguagem,
    ou as linguagens de acordo com ascduas alternativas de fontes para de valor

    a descrição feita por Michel Foucault das duas possibilidades de leitura abertas para o pensamento, simultaneamente, para entender operações e valor a partir da linguagem. Um resumo vai abaixo:

    O pensamento de Foucault em resumo diz o seguinte:

    Podemos ver o que sejam operações, segundo duas possibilidades de inserção do ponto de início do fenômeno ‘operações’ e ‘operações de troca’, segundo a disponibilidade ou não dos dois objetos envolvidos em uma troca. A cada possibilidade de inserção do ponto de início do fenômeno corresponde uma diferente origem do valor carregado pela proposição para a representação.

    Ora, uma operação de troca envolve dois objetos e como fenômeno, portanto, guarda relação com as operações de obtenção de cada um desses dois objetos, e está sobreposta a estas.

    Assim, uma operação pode ser vista:

    • No exato momento do cruzamento (do andamento das respectivas operações) entre o que é dado e o que é recebido na troca; ou
    • Antes desse momento, quando pelo menos um dos objetos ainda não está disponível, e nesse momento inicia-se a prospecção da sua permutabilidade. Faz-se, então, uma aposta de que esse objeto poderá, no futuro, fazer par com um outro em uma operação em que um é dado e outro é recebido em uma dupla troca.

    As duas origens de valor carregado pela proposição para a representação são os seguintes:

    • no ponto de cruzamento entre o objeto que é dado e o objeto que é recebido, o valor é atribuído diretamente à proposição que o carrega para a representação;
    • no ponto de início da prospecção da permutabilidade do objeto ainda não disponível para troca, o valor é carregado para a proposição a partir de sua origem em:
      • designações primitivas;
      • linguagem de ação ou raiz (linguagem de uso).

    Veja nos modelos de operações desta página, que ‘designações primitivas e linguagem de ação ou raiz são ideias que admitem os respectivos elementos de imagem, e estão colocados nas figuras, em posições operacionais e integrantes da estrutura do modelo. 

    E veja que essas duas fontes originárias do valor associado à proposição só têm espaço no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo.

    A segunda possibilidade de leitura de ‘operações’ e ‘operações de troca’ não funciona sem as ideias de sujeito e de objeto da operação colocados em posições operacionais na estrutura da operação.

    1 Primeira possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

    No lado esquerdo o valor que chega à representação através da proposição é carregado nela diretamente, até porque não há intenção de formular operações levando em conta como elemento organizador o objeto tomado como descrito por suas propriedades originais e constitutivas, isto é, de modo relacionado com o objeto. 

    Na visão de ‘operações’ no pensamento clássico não há a ideia de objeto como constituído por suas propriedades sim-originais e sim-constitutivas, pelos pressupostos considerados.

    Refiro-me ao Princípio Monolítico de trabalho de Adam Smith. Na avaliação de Foucault, nesta alternativa de leitura do que seja trabalho a partir da linguagem toda a essência da linguagem está na proposição.

    Toda a essência da linguagem está no interior da proposição.

    A proposição já nasce emprenhada do valor que carrega.

    2 Segunda possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

    No princípio de trabalho de David Ricardo é visível a modelagem de uma proposição, usando ideias – ou elementos de imagem – todos eles em posições operacionais na estrutura do modelo.

    • o sujeito, o empresário;
    • e seu predicado
      • o atributo, representado na figura pela representação do objeto da operação; 
      • o verbo: representado na figura pela Forma de produção

    Essa mesma essência da linguagem encontra raízes fora dela mesma, do lado das

    • designações primitivas;
    • linguagem de ação ou raiz

    No lado direito, sim, existem, ideias – ou elementos de imagem, que modelam padronizada e genericamente o elemento construtivo padrão fundamental para construção de representações – a proposição – e o escopo da operação é justamente articular o impensado, pelo pensamento, no espaço da representação. Refiro-me agora ao Princípio Dual de trabalho de David Ricardo. 

    A proposição assim que formulada está vazia, inclusive do valor que pode carregar; consiste tão somente em uma arquitetura que é comum a toda e qualquer proposição no curso desse tipo de operação.

    Essa modelagem padronizada, genérica, organizadora de uma ordem única ao longo de toda a operação, descobre a essência da linguagem fora dela, nas operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, às quais Foucault denomina “designações primitivas – linguagem de ação ou raiz”.

    Relacionamento entre

    • o Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo e o modelo de operações proposto no LD da Figura 2, a nossa Plataforma para exposição;
    • as fontes externas á linguagem e ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’ no LD da Figura 2, com:
      • designações primitivas e
      • linguagem de ação ou de uso, 
    Relação entre
    o texto do Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo,
    de 1817, e as ideias - ou elementos de imagem -
    do modelo de operações no LD da figura
    Os elementos de imagem, as ideias,
    que permitem formular o modelo de operações
    desde fora da linguagem
    a partir das designações primitivas
    - e da linguagem de ação ou de raiz(*)

    Comparações entre os dois princípios de trabalho,
    e a importância do princípio de trabalho de David Ricardo segundo Michel Foucault

    Comparação, feita por Michel Foucault,
    entre os princípios de trabalho
    o de Adam Smith, de 1776 e o de David Ricardo, 1817

    comparações entre Adam Smith
    e David Ricardo,
    por Michel Foucault

    1 Primeira possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

    Inserção do ponto de leitura de operações e análise de valor no exato cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

    A importância de David Ricardo,
    segundo Michel Foucault

    2 Segunda possibilidade simultânea de leitura de operações e análise de valor

    Na animação acima vê-se nas palavras de Michel Foucault a inclusão daquela atividade que está na origem do valor das coisas como característica do Princípio Dual de trabalho de David Ricardo.

    Isso implica em que a inserção do ponto de leitura de operações e análise de valor está colocado antes da existência do que é dado e do que é recebido, e portanto antes do cruzamento entre os dois, na operação de troca.

    Isso coloca toda a operação no princípio de Ricardo fora do circuito das trocas e no espaço reservado ao ‘Lugar de nascimento do que é empírico’.

    Comentários

      A descontinuidade epistemológica de 1775-1825:
      a forma dos modelos de operações em cada configuração do pensamento

      Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
      sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
      sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
      com duas amplitudes - abrangências muito diferentes
      Proposição enunciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
      designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção inexistentes; linguagem de ação ou raiz não contém a representação para essa empiricidade objeto
      ]
      Caos como um tipo de ordem instável
      em que as sequências temporais são muito complexas e revelam estruturas
      que nos permitem melhor entender o mundo que nos cerca

      Designações primitivas
      (inoperantes no Instanciamento) 

      Representação objeto do Instanciamento
      recuperada do Repositório

      Ambiente de onde são importados 
      os recursos e insumos de todos os tipos,
      consumidos durante o Instanciamento

      Circuito das trocas 
      operação inteiramente no interior do
      Domínio do Discurso e da Representação

      Circuito das trocas 
      operação inteiramente no interior do
      Domínio do Discurso e da Representação

      Representação da empiricidade 
      objeto da operação de Instanciamento
      recuperada do Repositório, antes da operação

      Representação da empiricidade   
      objeto da operação de Instanciamento
      recuperada do Repositório, depois da operação

      Propriedades da empiricidade 
      objeto da operação de Instanciamento
      idênticas às da representação recuperada do Repositório,
      antes da operação

      Propriedades da empiricidade  
      objeto da operação de Instanciamento
      idênticas às da representação recuperada do Repositório,
      depois da operação

      Operação de instanciamento de representação
      de empiricidade objeto pré-existente no Repositório
      (sem alteração no modo de ser fundamental da empiricidade)

      Processos, atividades, tasks
      suporte da Forma de produção
      desencadeados durante a operação de instanciamento

      Evento (i) de início
      da operação de instanciamento
      da representação da empiricidade objeto

      Evento (f) de fim  
      da operação de instanciamento
      da representação da empiricidade objeto

      Operação de instanciamento ocorre
      sem alteração  no modo de ser fundamental
      da empiricidade objeto

      Operação de instanciamento ocorre
      sem alteração  no modo de ser fundamental
      da empiricidade objeto

      Domínio do Discurso e da Representação
      (perfil amarelo)

      Domínio do Pensamento e da Língua
      (perfil vermelho)

      Visão, utopia,
      limite da estratégia, etc

      Homem
      na posição de sujeito

      Compromisso de obtenção 
      da representação para esta empiricidade objeto

      Operação transcorre
      com alteração do modo de ser fundamental
      da empiricidade objeto

      Empiricidade objeto
      (antes da operação)

      Propriedades da empiricidade objeto
      sim e não originais constitutivas
      (inexistentes antes da operação)

      Propriedades da empiricidade objeto
      sim e não originais constitutivas
      (existentes depois da operação) 

      Designações primitivas
      (ativas e parte da origem da linguagem)

      Repositório
      linguagem de uso

      Evento de início da operação
      de construção da representação
      para a empiricidade objeto

      Evento de fim da operação
      de construção da representação
      para a empiricidade objeto

      Empiricidade objeto 
      (depois da operação) 

      Forma de produção
      (elemento central do modelo de operação)

      Processos, atividades, tasks
      como elementos de suporte
      à Forma de produção

      Sucessão de analogias
      coleção relacionada de objetos análogos
      que compõem representação em construção

      Lugar de nascimento do que é empírico

      Lugar de nascimento do que é empírico

      Domínio do Discurso e da Representação
      (perímetro amarelo)

      Domínio do Pensamento e da Língua 
      (perímetro vermelho)

      Representação A
      (pré-existente)

      Representação B
      (pré-existente)

      Quadro ordenado
      (ordem arbitrária selecionada)

      Categoria selecionada na ordem arbitrária
      que guarda similitude com aparências

      Representação R 
      (composição de (a) e (b), pré-existentes)  

      Circuito das trocas 

      Domínio do Discurso e da Representação 

      Domínio do Discurso e da Representação

      Circuito das trocas

      Pacote de coisas
      selecionadas por "aparências" 
      Entradas

      Evento (i) de início
      do instanciamento de (r)  

      VC - Volume de controle
      espaço orientado onde ocorre a operação

      Evento (f) de final
      do instanciamento de (r)

      Propriedades "aparências" 
      não-originais e não-constitutivas das coisas
      existentes antes da operação

      Propriedades "aparências" 
      não-originais e não-constitutivas das coisas
      existentes depois da operação

      Pacote de coisas
      selecionadas por "aparências" 
      Saídas 

      Paleta de ideias ou elementos de imagem
      presentes na configuração de pensamento clássico

      Las meninas, Diego Velázquez, 1656; óleo sobre tela; Museu do Prado, Madrid, Espanha

      O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

      Proposição instanciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
      designações primitivas inativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes e ativados; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
      recuperada desde o Repositório para objeto desta operação
      Proposição explicativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
      designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
      a proposição no pensamento clássico
      ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca
      a proposição no pensamento moderno: ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca
      ECA-moderno
      Características do pensamento moderno
      o de depois de 1825
      ECA-Clássico
      Características do pensamento clássico
      o de antes de 1775
      homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775,
      considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
      como um gênero, ou uma espécie
      os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
      no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
      caminho do Instanciamento da representação, com valor já atribuído;
      que tem início novamente no interior do Circuito das trocas
      fontes de valor para a representação em construção: a) designações primitivas; b) linguagem de ação ou taiz.

      Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

      Funcionamento
      do pensamento
      funcionamento das operações no pensamento clássico
      Modelo de
      Operação de produção
      relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
      e o sistema Input-Output
      do LE da figura.
      Modelo da 
      Organização de produção
      Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
      múltiplos sistemas de categorias
      Modelo de operações
      e de organização
      Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
      Modelo de  Operação
      contábil-financeira
      O modelo de operação
      no sistema contábil-financeiro
      Modelo da  Organização
      ponto de vista financeiro
      a organização no sistema contábil-financeiro

      Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

      Funcionamento
      de operação do pensamento
      O funcionamento das operações no pensamento moderno
      Modelo de
      Operação de produção
      relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e 'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'
      Modelo da 
      Organização de produção
      o modelo de organização 'Mapa da atividade semicondutores', da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
      O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
      instanciamento de representação
      O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
      do movimento Reengenharia

      O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

      Assim, estes três pares,

      • função e norma,
      • conflito e regra,
      • significação e sistema,

      cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

      Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

      • do nível da psicologia,
      • da sociologia
      • ou da análise das linguagens

      é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

      • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

      Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

      Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo X  – As ciências humanas;
       III. Os três modelos
      Michel Foucault 

      O Triedro dos saberes: eixos e faces
      espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
      O interior ao Triedro dos saberes
      o espaço das Ciências humanas

      Aquém do objeto

      Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

      • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

      Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
      existem desde sempre e para sempre,
      e integram o Universo em uma visão única.

      Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

      Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

      Diante do objeto

      No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

      • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

      No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

      • Ciências da vida (Biologia):


        função-norma
        ;

      • Ciências do trabalho (Economia):


        conflito-regra;

      • Ciências da Linguagem (Filologia):

        significação-sistema.

      Além do objeto

      No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

      Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

      • da Vida-(Biologia),
      • do Trabalho-(Economia)
      • e da Linguagem-(Filologia).

      O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

      O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

      • Ciências da vida  (Biologia):
        função-norma;

        +
        Ciências do trabalho (Economia):

        conflito-regra;
        +
        Ciências da Linguagem (Filologia):
        significação-sistema.

      Sob ciências humanas como:

      • economia política;
      • sociologia,
      • psicologia e psicanálise

      estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

      - Lugar do nascimento do que é empírico:
      pensamento moderno - caminho da Construção da representação
      - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

      Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

      Encontra-se 

      • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
      • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

      Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

      Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

      O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
      lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
      O Lugar de nascimento do que é empírico
      lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
      e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
      O Circuito das trocas
      as chaves horizontais amarelas
      onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
      não se altera

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      2Assim como a Ordem
      no pensamento clássico
      não era
      a harmonia visível
      das coisas,
      seu ajustamento,
      sua regularidade
      ou sua simetria constatados,
      mas o espaço próprio de seu ser
      e aquilo que,
      antes de todo
      conhecimento efetivo,
      as estabelecia no saber,

      1″Mas vê-se bem
      que a História
      não deve ser aqui entendida
      como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

      ela é
      o modo de ser fundamental
      das empiricidades,

      aquilo a partir de que elas são

      • afirmadas,
      • postas,
      • dispostas
      • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

      [veja citação 2 à esquerda]

      A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

      Qual será a explicação para isso?

      Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

      Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

      3assim também a História,
      a partir do século XIX,
      define o
      lugar de nascimento
      do que é empírico,
      lugar onde,
      aquém
      de toda cronologia estabelecida,
      ele assume o ser
      que lhe é próprio.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      I. A idade da história
      Michel Foucault 

      - Lugar do nascimento do que é empírico:
      pensamento moderno - caminho da Construção da representação
      - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

      Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

      Encontra-se 

      • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
      • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

      Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

      Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      2Assim como a Ordem
      no pensamento clássico
      não era
      a harmonia visível
      das coisas,
      seu ajustamento,
      sua regularidade
      ou sua simetria constatados,
      mas o espaço próprio de seu ser
      e aquilo que,
      antes de todo
      conhecimento efetivo,
      as estabelecia no saber,

      1″Mas vê-se bem
      que a História
      não deve ser aqui entendida
      como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

      ela é
      o modo de ser fundamental
      das empiricidades,

      aquilo a partir de que elas são

      • afirmadas,
      • postas,
      • dispostas
      • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

      [veja citação 2 à esquerda]

      assim também a História,
      a partir do século XIX,
      define o
      lugar de nascimento
      do que é empírico,
      lugar onde,
      aquém de toda cronologia estabelecida,
      ele assume o ser
      que lhe é próprio.

      A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

      Qual será a explicação para isso?

      Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

      Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      I. A idade da história
      Michel Foucault 

      Questões/Perguntas

      _thumb história do livro

      A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,
       – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

      tratamento dado ao homem em nossa cultura

      Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

      e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
      com os respectivos tratamentos dados ao homem

      homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
      como um gênero, ou uma espécie
      homem no sistema de operações do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papéis:
      1. raiz e fundamento de toda positividade
      2. elemento do que é empírico.

      “Instaura-se
      uma forma de reflexão
      bastante afastada
      do cartesianismo
      e da análise kantiana,
      em que está em questão,
      pela primeira vez,
      o ser do homem,
      nessa dimensão
      segundo a qual
      o pensamento
      se dirige ao impensado,
      e com ele se articula.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
      V. O cogito e o impensado
      Michel Foucault 

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      “No pensamento clássico,
      aquele para quem
      a representação existe,
      e que nela se representa a si mesmo,
      aí se reconhecendo
      por imagem ou reflexo,
      aquele que trama
      todos os fios entrecruzados
      da “representação em quadro” -,
      esse [o ser do homem]
      jamais se encontra lá presente.

      Antes do fim do século XVIII,
      o homem não existia.

      Sem dúvida,
      as ciências naturais
      trataram do homem como 

      • de uma espécie
      • ou de um gênero

      a discussão
      sobre o problema das raças,
      no século XVIII, o testemunha.
      A gramática e a economia,
      por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
      de desejo,
      ou de memória
      e de imaginação.”

      Mas não havia
      consciência epistemológica

      do homem como tal.

      “Antes do fim do século XVIII,
      o homem não existia.”

      “O modo de ser do homem,
      tal como se constituiu
      no pensamento moderno,
      permite-lhe desempenhar dois papéis:
      está, ao mesmo tempo,

      • no fundamento
        de todas as positividades,
      • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
        no elemento
        das coisas empíricas.

      Esse fato
      – e não se trata aí
      da essência em geral do homem,
      mas pura e simplesmente
      desse a priori histórico que,
      desde o século XIX,
      serve de solo quase evidente
      ao nosso pensamento –
      esse fato é, sem dúvida, decisivo
      para o estatuto a ser dado
      às “ciências humanas”,
      a esse corpo de conhecimentos
      (mas mesmo esta palavra
      é talvez demasiado forte:
      digamos,
      para sermos mais neutros ainda,
      a esse conjunto de discursos)
      que toma por objeto o homem
      no que ele tem de empírico.”

      É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IX – O homem e seus duplos;
      II. O lugar do rei
      Michel Foucault 

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo X  – As ciências humanas;
       I. O triedro dos saberes
      Michel Foucault 

      Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”

      Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.

      as possibilidades de leitura do fenômeno 'operações de troca' e as respectivas possibilidades de análises de valor

      O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

      As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

      Duas visões, duas leituras do fenômeno ‘operações’:
      sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
      sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
      com duas amplitudes – duas abrangências muito diferentes

      Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

      • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
      • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

      Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

      O que não muda entre essas duas possibilidades

      A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

      A proposição é para a linguagem
      o que a representação é
      para o pensamento:
      sua forma, ao mesmo tempo
      mais geral e mais elementar,
      porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
      mas seus elementos
      como tantos materiais dispersos.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV  – Falar;
      tópico III – Teoria do verbo
      Michel Foucault 

      (…) Em outras palavras,
      para que, numa troca,
      uma coisa possa representar outra,
      é preciso que elas existam
      já carregadas de valor;
      e, contudo,
      o valor só existe
      no interior da representação

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      O que sim muda entre essas duas possibilidades

      A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

      “Valer, para o pensamento clássico,
      é primeiramente valer alguma coisa,
      poder substituir essa coisa num processo de troca.

      A moeda só foi inventada,
      os preços só foram fixados e só se modificam
      na medida em que essa troca existe.

      Ora, a troca é um fenômeno simples
      apenas na aparência.

      Com efeito, só se troca numa permuta,
      quando cada um dos dois parceiros
      reconhece um valor
      para aquilo que o outro possui.

      Num sentido, é preciso, pois,
      que as coisas permutáveis,
      com seu valor próprio,
      existam antecipadamente nas mãos de cada um,
      para que a dupla cessão e a dupla aquisição
      finalmente se produzam.

      Mas, por outro lado,

      • o que cada um come e bebe,
        aquilo de que precisa para viver
        não tem valor
        enquanto não o cede;
      • e aquilo de que não tem necessidade
        é igualmente desprovido de valor
        enquanto não for usado
        para adquirir alguma coisa de que necessite.

      Em outras palavras,
      para que, numa troca,
      uma coisa possa representar outra,
      é preciso que elas existam
      já carregadas de valor;
      e, contudo,
      o valor só existe
      no interior da representação

      • (atual [troca imediata]
      • ou possível [permutabilidade]),

      isto é, no interior

      1. da troca
        [representação existente]
      2. ou da permutabilidade
        [representação possível]
        .

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca

      “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

      1. leitura já dadas as condições de troca;
      2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

      1 uma analisa o valor
      no ato mesmo da troca,
      no ponto de cruzamento
      entre o dado e o recebido;

      • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
        • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

      3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

      2 outra analisa-o
      como anterior à troca
      e como condição primeira
      para que esta possa ocorrer.

      • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
        • designações primitivas
        • linguagem de ação ou raiz;

      4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

      fora de si mesma e como que

        • na natureza, ou nas   
        • analogias das coisas;

      a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      Esta segunda leitura para ‘operações’
      – que orienta a análise de valor
      desde antes do momento da troca -,
      não é possível sem a presença do homem
      na estrutura dos modelos.

      Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
      mostrados nos modelos de operações

      Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

      a forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

      o lugar onde ocorrem as operações de troca tais como as vemos nas leituras que fazemos

      - Lugar do nascimento do que é empírico:
      pensamento moderno - caminho da Construção da representação
      - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

      Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

      Encontra-se 

      • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
      • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

      Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

      Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

      O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
      lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
      O Lugar de nascimento do que é empírico
      lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
      e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
      O Circuito das trocas
      as chaves horizontais amarelas
      onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
      não se altera

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      2Assim como a Ordem
      no pensamento clássico
      não era
      a harmonia visível
      das coisas,
      seu ajustamento,
      sua regularidade
      ou sua simetria constatados,
      mas o espaço próprio de seu ser
      e aquilo que,
      antes de todo
      conhecimento efetivo,
      as estabelecia no saber,

      1″Mas vê-se bem
      que a História
      não deve ser aqui entendida
      como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

      ela é
      o modo de ser fundamental
      das empiricidades,

      aquilo a partir de que elas são

      • afirmadas,
      • postas,
      • dispostas
      • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

      [veja citação 2 à esquerda]

      A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

      Qual será a explicação para isso?

      Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

      Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

      3assim também a História,
      a partir do século XIX,
      define o
      lugar de nascimento
      do que é empírico,
      lugar onde,
      aquém
      de toda cronologia estabelecida,
      ele assume o ser
      que lhe é próprio.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      I. A idade da história
      Michel Foucault 

      Questões/Perguntas

      _thumb história do livro

      A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,  – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

      Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço no caminho,
      encontradas por Foucault durante seu trabalho no livro
      ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’

      exemplos de modelos de operações e de organizações muito usados ainda hoje, mostrando esses dois obstáculos presentes entre nós atualmente.

      os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
      no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
      Michel Foucault
      1926-1984

      “Eis que nos adiantamos
      bem para além do acontecimento histórico
      que se impunha situar
      – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura
      que divide, em sua profundidade,
      a epistémê do mundo ocidental
      e isola para nós o começo de certa
      maneira moderna de conhecer as empiricidades.

      É que o pensamento que nos é contemporâneo
      e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
      se acha ainda muito dominado

      1 pela impossibilidade
      trazida à luz por volta 
      do fim do século XVIII, 
      de fundar as sínteses
      no espaço da representação:

      2 e pela obrigação 
      correlativa, simultânea, 

      mas logo dividida contra si mesma, 
      de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, 
      para além do objeto, 

      esses “quase-transcendentais” 
      que são para nós 
      Vida, o Trabalho, a Linguagem.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;

      Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
      tópico I – As novas empiricidades

      no pensamento clássico
      aquém do objeto
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      diante do objeto
      depois de 1825

      espaço interior
      Triedro dos saberes
      para além do objeto
      reservado às
      Ciências humanas

      comparações de diferentes configurações de pensamento feitas por Michel Foucault
      A impossibilidade
      [no pensamento clássico,
      LE da figura]
      contra a sim-possibilidade
      [no pensamento moderno,
      LD da figura]
      de fundar as sínteses
      [da empiricidade objeto]
      no espaço da representação.
      o espaço interno do
      Triedro dos saberes
      – o habitat das ciências humanas –
      mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as Ciências Humanas

      Os obstáculos no caminho de Foucault 

      aquém do objeto

      diante do objeto

      para além do objeto

      0 Foucault havia anteriormente identificado o perfil do pensamento no período clássico, com uma configuração tal que a capacidade (ou a possibilidade – e mesmo a intenção) de fundar as sínteses – dos objetos de operações cujas representações resultassem dessas operações – no espaço da representação não era sequer cogitada:

      • em razão dos pressupostos adotados,

      e principalmente, em razão 

      • do tipo de leitura feita do fenômeno ‘operações’ das trocas, 
        • na leitura então feita, o ponto de início do fenômeno  ‘operações’, estava inserido no exato momento em que a troca tem todas as condições para acontecer; (os dois objetos da troca – o dado e o obtido –  tinham representações disponíveis e já carregadas de valor).

      1 Michel Foucault relata a seguinte situação:

      • ele havia delineado um tipo de pensamento ‘com o qual queiramos ou não pensamos’, um pensamento que segundo ele ‘tem a nossa idade e a nossa geografia’,
        • com a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto da operação) no espaço da representação;

      para conseguir fundar as sínteses no espaço da representação,

      • foi necessário alterar profundamente todos os pressupostos

      e a leitura feita do que seja uma operação e a análise de valor, exigiram:

      • o deslocamento do ponto de inserção da análise desde o ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
      • para um ponto antes da possibilidade da troca, quando os elementos que dão as condições de efetivação dessa troca, ainda não existissem,

      incorporando à análise, a operação de construção da representação nova. 

      E ele havia percebido que esse pensamento com o qual queiramos ou não pensamos

      • estava muito contaminadodominado, mesmo –
        • justamente pela impossibilidade de fazer isso (essa fundação das sínteses do objeto da operação no espaço da representação), sendo esta impossibilidade  uma característica do pensamento clássico.

      2 Ele percebia ainda uma obrigação a cumprir:

      • a de abrir o campo transcendental da subjetividade
        • e constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.

      Ele descobre que operações nos domínios das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem podem ser expressos completamente em cada domínio, por pares de modelos constituintes:

      • Vida(Biologia)
        • função-norma;
      • Trabalho(Economia)
        • conflito-regra;
      • Linguagem(Filologia)
        • significação sistema;

      e que os modelos constituintes das Ciências humanas são sempre compostos por uma combinação desses três pares de modelos constituintes.

      O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

      • Ciências da vida  (Biologia):
        [função-norma];

        +
        Ciências do trabalho (Economia):
        [conflito-regra];
        +
        Ciências da Linguagem (Filologia):
        [significação-sistema].

      Podemos ver a atualidade dessa percepção de Foucault
      com Exemplos de modelos para operações e organizações
      construídos sobre estruturas de conceitos
      uns que não permitem, e outros que ao contrário sim permitem
      a fundação das sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação.

      Veja isso aqui.

      Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

      e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
      com os respectivos tratamentos dados ao homem

      homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
      como um gênero, ou uma espécie
      homem no sistema de operações do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papéis:
      1. raiz e fundamento de toda positividade
      2. elemento do que é empírico.

      “Instaura-se
      uma forma de reflexão
      bastante afastada
      do cartesianismo
      e da análise kantiana,
      em que está em questão,
      pela primeira vez,
      o ser do homem,
      nessa dimensão
      segundo a qual
      o pensamento
      se dirige ao impensado,
      e com ele se articula.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
      V. O cogito e o impensado
      Michel Foucault 

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      “No pensamento clássico,
      aquele para quem
      a representação existe,
      e que nela se representa a si mesmo,
      aí se reconhecendo
      por imagem ou reflexo,
      aquele que trama
      todos os fios entrecruzados
      da “representação em quadro” -,
      esse [o ser do homem]
      jamais se encontra lá presente.

      Antes do fim do século XVIII,
      o homem não existia.

      Sem dúvida,
      as ciências naturais
      trataram do homem como 

      • de uma espécie
      • ou de um gênero

      a discussão
      sobre o problema das raças,
      no século XVIII, o testemunha.
      A gramática e a economia,
      por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
      de desejo,
      ou de memória
      e de imaginação.”

      Mas não havia
      consciência epistemológica

      do homem como tal.

      “Antes do fim do século XVIII,
      o homem não existia.”

      “O modo de ser do homem,
      tal como se constituiu
      no pensamento moderno,
      permite-lhe desempenhar dois papéis:
      está, ao mesmo tempo,

      • no fundamento
        de todas as positividades,
      • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
        no elemento
        das coisas empíricas.

      Esse fato
      – e não se trata aí
      da essência em geral do homem,
      mas pura e simplesmente
      desse a priori histórico que,
      desde o século XIX,
      serve de solo quase evidente
      ao nosso pensamento –
      esse fato é, sem dúvida, decisivo
      para o estatuto a ser dado
      às “ciências humanas”,
      a esse corpo de conhecimentos
      (mas mesmo esta palavra
      é talvez demasiado forte:
      digamos,
      para sermos mais neutros ainda,
      a esse conjunto de discursos)
      que toma por objeto o homem
      no que ele tem de empírico.”

      É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IX – O homem e seus duplos;
      II. O lugar do rei
      Michel Foucault 

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo X  – As ciências humanas;
       I. O triedro dos saberes
      Michel Foucault 

      Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”

      Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.

      O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

      As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

      Duas visões, duas leituras do fenômeno ‘operações’:
      sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
      sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
      com duas amplitudes – duas abrangências muito diferentes

      Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

      • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
      • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

      Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

      O que não muda entre essas duas possibilidades

      A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

      A proposição é para a linguagem
      o que a representação é
      para o pensamento:
      sua forma, ao mesmo tempo
      mais geral e mais elementar,
      porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
      mas seus elementos
      como tantos materiais dispersos.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV  – Falar;
      tópico III – Teoria do verbo
      Michel Foucault 

      (…) Em outras palavras,
      para que, numa troca,
      uma coisa possa representar outra,
      é preciso que elas existam
      já carregadas de valor;
      e, contudo,
      o valor só existe
      no interior da representação

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      O que sim muda entre essas duas possibilidades

      A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

      “Valer, para o pensamento clássico,
      é primeiramente valer alguma coisa,
      poder substituir essa coisa num processo de troca.

      A moeda só foi inventada,
      os preços só foram fixados e só se modificam
      na medida em que essa troca existe.

      Ora, a troca é um fenômeno simples
      apenas na aparência.

      Com efeito, só se troca numa permuta,
      quando cada um dos dois parceiros
      reconhece um valor
      para aquilo que o outro possui.

      Num sentido, é preciso, pois,
      que as coisas permutáveis,
      com seu valor próprio,
      existam antecipadamente nas mãos de cada um,
      para que a dupla cessão e a dupla aquisição
      finalmente se produzam.

      Mas, por outro lado,

      • o que cada um come e bebe,
        aquilo de que precisa para viver
        não tem valor
        enquanto não o cede;
      • e aquilo de que não tem necessidade
        é igualmente desprovido de valor
        enquanto não for usado
        para adquirir alguma coisa de que necessite.

      Em outras palavras,
      para que, numa troca,
      uma coisa possa representar outra,
      é preciso que elas existam
      já carregadas de valor;
      e, contudo,
      o valor só existe
      no interior da representação

      • (atual [troca imediata]
      • ou possível [permutabilidade]),

      isto é, no interior

      1. da troca
        [representação existente]
      2. ou da permutabilidade
        [representação possível]
        .

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca

      “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

      1. leitura já dadas as condições de troca;
      2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

      1 uma analisa o valor
      no ato mesmo da troca,
      no ponto de cruzamento
      entre o dado e o recebido;

      • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
        • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

      3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

      2 outra analisa-o
      como anterior à troca
      e como condição primeira
      para que esta possa ocorrer.

      • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
        • designações primitivas
        • linguagem de ação ou raiz;

      4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

      fora de si mesma e como que

        • na natureza, ou nas   
        • analogias das coisas;

      a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      Esta segunda leitura para ‘operações’
      – que orienta a análise de valor
      desde antes do momento da troca -,
      não é possível sem a presença do homem
      na estrutura dos modelos.

      Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
      mostrados nos modelos de operações

      Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

      As características das duas configurações do pensamento:

      • a do pensamento clássico, de antes de 1775;
      • e a do pensamento moderno, de depois de 1825

      características de características, ou características de segunda ordem,
      das configurações do pensamento em cada caso.

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      _Estrutura IO-transformação
      Os princípios organizadores
      sob o pensamento clássico:
      o de antes de 1775
      ‘Caráter’ e ‘Similitude’
      Características do pensamento clássico, o de antes de 1775
      Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
      o de depois de 1825
      ‘Analogia’ e ‘Sucessão’
      Características do pensamento moderno, o de depois de 1825

      “Instaura-se
      uma forma de reflexão
      bastante afastada
      do cartesianismo
      e da análise kantiana,
      em que está em questão,
      pela primeira vez,
      o ser do homem,
      nessa dimensão
      segundo a qual
      o pensamento
      se dirige ao impensado,
      e com ele se articula.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
      V. O cogito e o impensado
      Michel Foucault 

      “Assim o círculo se fecha.

      Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

      As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

      Mas que são esses sinais? 

      Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

      • que há aqui um caráter 

      no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

      Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

      • – É a semelhança

      Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

      Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

      Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

      • o signo da simpatia resida na analogia, 
      • o da analogia na emulação, 
      • o da emulação na conveniência, 

      que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

      • a marca da simpatia… 

      A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

      De sorte que se vêem surgir,
      como princípios organizadores
      desse espaço de empiricidades, 

      • a Analogia 
      • e a Sucessão

      de uma organização a outra,
      o liame, com efeito,
      não pode mais ser
      a identidade de um
      ou vários elementos,
      mas a identidade
      da relação entre os elementos
      (onde a visibilidade
      não tem mais papel)
      e da função que asseguram;
      ademais, se porventura essas organizações se avizinham
      por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
      localizações próximas
      num espaço de classificação,
      mas sim porque
      foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
      no devir das sucessões.
      Enquanto, no pensamento clássico,
      a seqüência das cronologias
      não fazia mais que percorrer
      o espaço prévio e mais fundamental
      de um quadro
      que de antemão apresentava
      todas as suas possibilidades,
      doravante
      as semelhanças contemporâneas
      e observáveis simultaneamente
      no espaço não serão mais que
      as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
      de analogia em analogia.
      A ordem clássica
      distribuía num espaço permanente
      as identidades
      e as diferenças não-quantitativas
      que separavam e uniam as coisas:
      era essa a ordem
      que reinava soberanamente,
      mas a cada vez
      segundo formas e leis
      ligeiramente diferentes,
      sobre o discurso dos homens,
      o quadro dos seres naturais
      e a troca das riquezas.

      A partir do século XIX,
      a História
      vai desenrolar
      numa série temporal
      as analogias
      que aproximam umas das outras
      as organizações distintas.

      É essa História que,
      progressivamente,
      imporá suas leis

      • à análise da produção,
      • à dos seres organizados, enfim,
      • à dos grupos linguísticos.

      A História dá lugar
      às organizações analógicas,
      assim como a Ordem
      abria o caminho
      das identidades
      e das diferenças sucessivas.

      Essa forma de reflexão surgida será decorrência da segunda leitura do que seja uma operação de troca e portanto não pode prescindir do homem e do objeto?

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo II – A prosa do mundo;
      II. As assinalações
      Michel Foucault 

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      I. A idade da história
      Michel Foucault 

      os lugares onde ocorrem as operações: 

      • Lugar de nascimento do que é empírico
        – operações de Construção de representações;
        • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades sim muda
      • Circuito onde ocorrem as trocas‘ ou Mercado
        – operações de Instanciamento de representações já existentes;
        • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
      Lugar do nascimento do que é empírico:
      pensamento moderno – caminho da Construção da representação
      Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

      Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

      Encontra-se 

      • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
      • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, apenas no caminho do Instanciamento da representação.

      Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

      Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, e apenas no caminho da Construção da representação

      O ‘Circuito das trocas’,
      ou ‘Mercado’
      as chaves amarelas no LE da figura, lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
      O Lugar de nascimento do que é empírico – fora e antes do Mercado –
      lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
      e onde se dá a articulação
      do pensamento do homem,
      com o impensado
      O Circuito das trocas
      as chaves horizontais amarelas
      no LD da figura, onde ocorrem operações durante as quais
      o ‘modo de ser fundamental’
      não se altera; é novamente o Mercado, agora no pensamento moderno

      ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ é o conceito chave aqui.

      No pensamento clássico, o de antes de 1775, pelos pressupostos adotados, é impossível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades cuja definição escapa ao escopo destas operações.

      Estas operações transcorrem no interior do Circuito das trocas, a chave amarela horizontal, lugar onde não há alteração no modo como as coisas se apresentam à operação.

      No pensamento moderno, o de depois de 1825, pelos pressupostos adotados é sim possível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades objeto da operação de Construção da representação que, se nova nesse domínio e ambiente, é o próprio escopo destas operações.

      Operações no caminho da Construção da representação transcorrem no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, as chaves coloridas verticais, em um espaço que engloba os lugares  desde onde se fala e do falado. O sucesso dessas operações altera ‘o modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, e com isso, faz-se História.

      No pensamento moderno, o de depois de 1825, em uma operação de Instanciamento de representação objeto cuja construção da representação foi anteriormente feita e incorporada ao Repositório, a representação objeto de Instanciamento é recuperada do Repositório.

      Assim, a operação de Instanciamento não altera o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto de instanciamento.

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      2Assim como a Ordem
      no pensamento clássico
      não era
      a harmonia visível
      das coisas,
      seu ajustamento,
      sua regularidade
      ou sua simetria constatados,
      mas o espaço próprio de seu ser
      e aquilo que,
      antes de todo
      conhecimento efetivo,
      as estabelecia no saber,

      1″Mas vê-se bem
      que a História
      não deve ser aqui entendida
      como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

      ela é

      o modo de ser fundamental
      das empiricidades,

      aquilo a partir de que elas são

      • afirmadas,
      • postas,
      • dispostas
      • e repartidas no espaço do saber

      para eventuais conhecimentos
      e para ciências possíveis.

      3 assim também
      a História,
      a partir do século XIX,
      define o

      lugar de nascimento
      do que é empírico,

      lugar onde,
      aquém
      de toda cronologia estabelecida,
      ele assume o ser
      que lhe é próprio.

      A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

      Qual será a explicação para isso?

      Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

      Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      I. A idade da história
      Michel Foucault 

      os princípios organizadores dos modelos de operações que fazemos

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      _Estrutura IO-transformação
      Os princípios organizadores
      sob o pensamento clássico:
      o de antes de 1775
      ‘Caráter’ e ‘Similitude’
      Características do pensamento clássico
      o de antes de 1775

      “Assim o círculo se fecha.

      Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

      As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

      Mas que são esses sinais? 

      Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

      • que há aqui um caráter 

      no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

      Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

      • – É a semelhança

      Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

      Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

      Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

      • o signo da simpatia resida na analogia, 
      • o da analogia na emulação, 
      • o da emulação na conveniência, 

      que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

      • a marca da simpatia… 

      A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

      Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
      o de depois de 1825
      ‘Analogia’ e ‘Sucessão’
      Características do pensamento moderno
      o de depois de 1825

      De sorte que se vêem surgir,
      como princípios organizadores
      desse espaço de empiricidades, 

      • a Analogia 
      • e a Sucessão

      de uma organização a outra,
      o liame, com efeito,
      não pode mais ser
      a identidade de um
      ou vários elementos,
      mas a identidade
      da relação entre os elementos
      (onde a visibilidade
      não tem mais papel)
      e da função que asseguram;
      ademais, se porventura essas organizações se avizinham
      por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
      localizações próximas
      num espaço de classificação,
      mas sim porque
      foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
      no devir das sucessões.
      Enquanto, no pensamento clássico,
      a seqüência das cronologias
      não fazia mais que percorrer
      o espaço prévio e mais fundamental
      de um quadro
      que de antemão apresentava
      todas as suas possibilidades,
      doravante
      as semelhanças contemporâneas
      e observáveis simultaneamente
      no espaço não serão mais que
      as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
      de analogia em analogia.
      A ordem clássica
      distribuía num espaço permanente
      as identidades
      e as diferenças não-quantitativas
      que separavam e uniam as coisas:
      era essa a ordem
      que reinava soberanamente,
      mas a cada vez
      segundo formas e leis
      ligeiramente diferentes,
      sobre o discurso dos homens,
      o quadro dos seres naturais
      e a troca das riquezas.

      A partir do século XIX,
      a História
      vai desenrolar
      numa série temporal
      as analogias
      que aproximam umas das outras
      as organizações distintas.

      É essa História que,
      progressivamente,
      imporá suas leis

      • à análise da produção,
      • à dos seres organizados, enfim,
      • à dos grupos linguísticos.

      A História dá lugar
      às organizações analógicas,
      assim como a Ordem
      abria o caminho
      das identidades
      e das diferenças sucessivas.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo II – A prosa do mundo;
      II. As assinalações
      Michel Foucault 

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      I. A idade da história
      Michel Foucault 

      os lugares contidos dentro do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’:

      • o lugar ‘desde onde se fala
      • e o lugar ‘do falado‘;

      consistentes com os blocos do ‘operar‘ e do ‘suporte ao operar‘ de Humberto Maturana

      Esses dois lugares – o ‘desde onde se fala’ e o ‘do falado’ –
      juntos delimitam o espaço onde se dá a articulação
      do pensamento do homem com o impensado feita
      no domínio do Pensamento e da Língua
      e sua ligação com o domínio do Discurso e da Representação

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      O ‘Circuito das trocas’, ou ‘Mercado’
      lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico

      Lugar desde onde se fala

      Lugar do falado

      são sub-espaços do Lugar de nascimento do que é empírico o que implica que o pensamento está funcionando com o entendimento do pensamento moderno, o de depois de 1825, a coluna ao lado, portanto.

      • Lugar desde onde se fala não pode ser delineado sob o pensamento clássico pela falta da ideia e do elemento de imagem ‘homem’, aquele que fala, raiz e fundamento de toda positividade, e também da ideia do objeto resultado da articulação do pensamento com o impensado, feita pelo homem,;
      • e o Lugar do falado, analogamente, não pode ser delineado no LE da figura. 

      todo o espaço  corresponde, no LE da figura, ao domínio todo em que ocorrem as operações sob o pensamento clássico, a saber, o domínio do Discurso e da Representação.

      A leitura do que sejam Operações sob o entendimento no pensamento clássico pressupõe o ponto de inserção para análise no exato cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca, cuja condição de possibilidade está, desse modo, dada.

      Lugar deste onde se fala:
      ideias que formulam a proposição /
      (sujeito e predicado do sujeito);
      Lugar do falado:
      ideias que dão suporte na experiência ao instanciamento da representação
      no domínio e ambiente

      Lugar do nascimento do que é empírico: espaço ocupado por:

      • Lugar desde onde se fala;
      • Lugar do falado

      O Lugar de nascimento do que é empírico, como o nome sugere, está situado antes do circuito das trocas, e em seu interior ocorre a construção de representação nova.

      Essa visão do que sejam operações corresponde à leitura de operações, ou visão desse fenômeno como desde um ponto de inserção anterior à troca

      Lugar desde onde se fala

      As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidas na formulação da proposição estão contidas no espaço chamado de Lugar desde onde se fala:

      • sujeito: o homem na posição de raiz de toda positividade
      • predicado do sujeito
        • verbo: Forma de produção, o elemento central da operação de construção da representação;
        • atributo: a representação em construção, nas posições extremas da operação de construção.

      Esse espaço coincide com o espaço chamado por Humberto Maturana de ‘operar’, o retângulo vermelho na figura ao lado, parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas no interior do domínio do Pensamento e da Língua.

      Lugar do falado

      As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidos na sustentação da Forma de produção na experiência estão no lugar do falado:

      • elementos de suporte na experiência à Forma de produção, onde se encontram
        • processos, atividades, tasks

      A operação de construção da representação escolhe os elementos de suporte na experiência à Forma de produção, que deve ser capaz de produzir quando implementada, uma instância da representação com o operar vislumbrado – ou o mais próximo disso possível. Humberto Maturana chama esse espaço de ‘suporte ao operar’, o retângulo amarelo na figura ao lado. 

      O Lugar do falado é parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas suas ideias – ou elementos de imagem – fazem parte do domínio do Discurso e da Representação.

      “É preciso, portanto,
      tratar esse verbo
      como um ser misto,

      ao mesmo tempo
      palavra entre as palavras,

      preso às mesmas regras,
      obedecendo como elas
      às leis de regência
      e de concordância;


      e depois,


      em recuo em relação a elas todas,

      numa região que

      • não é
        aquela do falado

      • mas aquela 
        donde se fala.

      Ele está na orla do discurso,
      na juntura entre

      • aquilo que é dito

      • e aquilo que se diz,

      exatamente lá onde os signos
      estão em via de se tornar linguagem.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar;
      tópico III. A teoria do verbo
      por Michel Foucault

      Há correspondências que precisam ser anotadas, entre elas:

      • no princípio dual de trabalho de David Ricardo
        • aquela atividade que está na origem do valor das coisas 
        • tem suas ideias – ou seus elementos de imagem no lugar desde onde se fala
      • no LD – lado direito da figura 2 de Humberto Maturana
        • os dois blocos do ‘Explicar com Reformular’ em que Maturana divide suas explicações
          • sobre o que acontecia com o ser vivo,
          • e o modo como ele o via no seu espaço de distinções
        • correspondem apropriadamente com o que Foucault chama respectivamente de 
          • Lugar desde onde se fala e 
          • Lugar do falado.

      Processo e Mercado são os conceitos largamente utilizados;
      e ao mesmo tempo não se ouve falar 

      • em Forma de produção
      • ou em Lugar de nascimento do que é empírico,
      • e menos ainda em Nexo da produção

      como ideias – ou elementos de imagem – em modelos de operações e organizações

      no pensamento clássico
      aquém do objeto
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      diante do objeto
      depois de 1825

      espaço interior Triedro dos saberes
      para além do objeto
      reservado às Ciências humanas

      Aquém do objeto:
      Processo

      Diante do objeto:
      Forma de produção

      Além do objeto
      Nexo da operação

      o elemento central em operações
      no pensamento clássico
      Processo
      o elemento central em operações
      no pensamento moderno
      Forma de produção
      o Nexo da produção,
      o elemento central do modelo de organização no formato SSS
      • Elemento central:
        • Processo

      entendido sob o primeiro conceito de verbo explicado por Michel Foucault, como elemento gerador de um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, que o mais que faz é indicar a coexistência de duas representações.

      • característica emergente: 
        • fluxo
      • metáfora 
        • transformação única
      • Elemento central:
        • Forma de produção

      entendida sob o segundo conceito de verbo explicado por Michel Foucault, tratado como um ser misto, inicialmente palavra entre palavras, preso às mesmas regras às mesmas regras, obedecendo como elas às mesmas leis de regência e concordância, e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado, mas aquela donde se fala.

      • característica emergente:
        • permanência
      • metáfora
        • conversão ou duas transformações
      • Elemento central:
        • Nexo da produção

      a formulação para além do objeto associa o sistema cujo resultado é o produto, aquilo que se quer obter, com o instrumento imprescindível para obtê-lo.

      • propriedades emergentes:
        • simetria, simbiose e sinergia

      Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais nada, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

      Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

      o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Verbo’;
      para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

      Ideias – ou elementos de imagem – centrais no LE e no LD da figura
      Processo o elemento central no pensamento clássico
      Forma de produção o elemento central no pensamento moderno, com as
      designações primitivas e a linguagem de ação ou raiz

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      Aquém do objeto

      Conceito de Verbo ‘Processo’
      na configuração de pensamento
      do período clássico, antes de 1775

      Verbo como
      Processo

      “A única coisa que o verbo afirma
      é a coexistência de duas representações:
      por exemplo, 

      • a do verde
        e da árvore,

      • a do homem
        e da existência

        ou da morte; 

      é por isso que
      o tempo dos verbos

      não indica
      aquele [tempo]

      em que as coisas existiram
      no absoluto,

      mas um sistema relativo
      de anterioridade ou de simultaneidade
      das coisas entre si.”

      Diante e Além do objeto

      Conceito de Verbo ‘Forma de produção’
      na configuração de pensamento
      do período moderno, depois de 1825

      Verbo como
      Forma de produção

      “É preciso, portanto,
      tratar esse verbo
      como um ser misto,

      ao mesmo tempo
      palavra entre as palavras,

      preso às mesmas regras,
      obedecendo como elas
      às leis de regência
      e de concordância;


      e depois,


      em recuo em relação a elas todas,

      • numa região que não é
        aquela do falado

      • mas aquela
        donde se fala.

      Ele está na orla do discurso,
      na juntura entre

      • aquilo que é dito

      • e aquilo que se diz,

      exatamente lá onde os signos
      estão em via de se tornar linguagem.”

      Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, para o que seja um ‘Verbo’, e a total consistência entre o segundo conceito/tratamento e ‘Forma de produção’

      • por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar;
      tópico III. A teoria do verbo
      por Michel Foucault

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar;
      tópico III. A teoria do verbo
      por Michel Foucault

      o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Classificar’;
      para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      Aquém
      do objeto

      O conceito de ‘Classificar’
      no pensamento clássico
      o de antes de 1775

      ‘Classificar’
      no pensamento clássico

      Aquém do objeto,
      isto é,
      no pensamento filosófico Classico
      o de antes de 1775

      nessa faixa do espectro de modelos
      que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

      Classificar
      é referir

      • o visível
      • a si mesmo,

      encarregando um dos elementos
      de representar os outros.”

      Diante e Além
      do objeto

      O conceito de ‘Classificar’
      no pensamento moderno
      o de depois de 1825

      ‘Classificar’
      no pensamento moderno

      Diante, e Além do objeto, 
      isto é, 
      no pesamento filosófico moderno,
      o de depois de 1825

      nessa faixa do espectro de modelos 
      que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

      “Em um movimento
      que faz revolver a análise

      Classificar
      é referir

      • o visível 
      • ao invisível 

      – como a sua razão profunda -, 

      e depois,
      alçar de novo
      dessa secreta arquitetura,
      em direção aos seus
      sinais manifestos,
      que são dados
      à superfície dos corpos.”

      Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

      pares de modelos constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental

      • da Vida(Biologia) [função-norma],
      • do Trabalho(Economia) [conflito-regra]
      • e da Linguagem(Filologia) [significação-sistema]

      e o modelo constituinte padrão, comum a todas das ciências humanas; um modelo composto por uma combinação entre esses três pares de modelos constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem

      no pensamento clássico
      antes de 1775
      aquém do objeto

      no pensamento moderno
      depois de 1825
      diante do objeto

      no pensamento moderno
      também depois de 1825
      para além do objeto

      não há modelos constituintes sob o pensamento clássico

      O Triedro dos saberes: eixos e faces
      espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
      O interior ao Triedro dos saberes
      o espaço das Ciências humanas

      Aquém do objeto

      Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

      Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
      existem desde sempre e para sempre,
      e integram o Universo em uma visão única.

      Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

      Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

      Diante do objeto

      A modelagem em cada área do saber é feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

      No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

      • Ciências da vida (Biologia):


        [função-norma]
        ;

      • Ciências do trabalho (Economia):


        [conflito-regra];

      • Ciências da Linguagem (Filologia):

        [significação-sistema].

      Além do objeto

      No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
      da Vida
      -(Biologia), do Trabalho-(Economia) e da Linguagem-(Filologia).

      O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

      • Ciências da vida  (Biologia):
        [função-norma];

        +
        Ciências do trabalho (Economia):
        [conflito-regra];

        +
        Ciências da Linguagem (Filologia):
        [significação-sistema].

      Proposição: o bloco construtivo

      • padrão,
      • genérico
      • e fundamental

      oferecido pela gramática da língua para construção de representações.

      Esse bloco construtivo ‘proposição’ carrega valor para as representações, mas faz isso de ao menos dois modos diferentes e com duas visões distintas para o que sejam ‘operações’.

      “Valer, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

      Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

      Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

      Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que

      • a dupla cessão
      • e a dupla aquisição

      finalmente se produzam.

      Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

      Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra,

      • é preciso que elas existam já carregadas de valor;
        • e, contudo, o valor só existe no interior da representação
          (atual ou possível), isto é,
        • no interior da troca ou da permutabilidade.

      “A proposição é
      para a linguagem
      o que a representação é
      para o pensamento
      sua forma,
      ao mesmo tempo
      mais geral
      e mais elementar
      porquanto,
      desde que a decomponhamos,
      não encontremos mais o discurso
      mas seus elementos
      como tantos materiais dispersos

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Cap. IV – Falar;
      tópico: III – A teoria do verbo
      Michel Foucault

      no pensamento clássico
      antes de 1775

      no pensamento moderno
      depois de 1825

      questão/pergunta

      a proposição no pensamento clássico
      ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca

      a toda a essência da linguagem  encerrada – diretamente – na própria proposição;

      junto com esse ‘encerramento’ vão as ideias – ou elementos de imagem – necessários para a formulação da proposição, que assim, não participam do modelo de operações.

      a proposição no pensamento moderno ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca

      a descoberta da essência da linguagem  fora dela mesma, linguagem; a proposição formulada no modelo por suas ideias ou elementos de imagem presentes; inicialmente vazia, apenas um enunciado, é preenchida de valor a partir de duas fontes:

      • as designações primitivas;
      • a linguagem de ação ou raiz

      ambas assinaladas na figura.

      “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

      1 uma analisa o valor

      • no ato mesmo da troca,

      no ponto de cruzamento
      entre o dado e o recebido;

      • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da
        • proposição;

      3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

      2 outra analisa-o

      • como anterior à troca 

      e como condição primeira
      para que esta possa ocorrer.

      • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem
        do lado das
        • designações primitivas
        • linguagem de ação ou raiz;

      4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

      • fora de si mesma e como que
        • na natureza, ou nas   
        • analogias das coisas;

      a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor,

      • antes da troca
      • e das medidas recíprocas da necessidade.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VI – Trocar;
      V. A formação do valor
      Michel Foucault 

      Ideias – ou elementos de imagem – requeridos para a
      Formulação da proposição, e valor carregado 

      Ideias – ou elementos de imagem requeridos para formulação da proposição ausentes da estrutura do modelo de operação.

      Valor carregado diretamente na proposição.

      impossibilidade de formulação da proposição com ideias – ou elementos de imagem – requeridos, pela ausência do homem em sua duplicidade de papéis, e pela noção de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.

      Proposição formulada com ideias ou elementos de imagem pertencentes à estrutura interna do modelo de operações;

      Valor carregado pela proposição com origem fora da linguagem

      • designações primitivas

      a busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para a representação da empiricidade objeto no domínio e ambiente em que a operação acontece. 

      • linguagem de ação ou raiz

      todo o conteúdo do Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, à disposição da construção de novas representações.

      Os tipos de sistemas que dão suporte a operações,
      em função da configuração do pensamento:

      • no pensamento clássico: o sistema Input-Output, ou um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
      • no pensamento moderno: um sistema construído no interior do Lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde as empiricidades objeto das operações adquirem ‘o ser que lhes é próprio’.

      no pensamento clássico
      antes de 1775
      verbo ‘Processo

      no pensamento moderno
      depois de 1825
      verbo ‘Forma de produção

      questão/pergunta

      Operação clássica sob o conceito de Verbo ‘Processo’
      na configuração de pensamento
      do período clássico, antes de 1775

      “A única coisa
      que o verbo afirma

      é a coexistência de duas representações:
      por exemplo, 

      • a do verde
        e da árvore,

      • a do homem
        e da existência

        ou da morte; 

      é por isso
      que o tempo dos verbos

      não indica
      aquele [tempo]

      em que as coisas existiram
      no absoluto,

      mas um sistema relativo
      de anterioridade ou de simultaneidade
      das coisas entre si.”

      Operação moderna sob o conceito de
      Verbo ‘Forma de produção’
      na configuração de pensamento
      do período moderno, depois de 1825

      “É preciso, portanto,
      tratar esse verbo
      como um ser misto,

      ao mesmo tempo
      palavra entre as palavras,

      preso às mesmas regras,
      obedecendo como elas
      às leis de regência
      e de concordância;


      e depois,


      em recuo em relação a elas todas,

      • numa região que não é
        aquela do falado

      • mas aquela
        donde se fala.

      Ele está na orla do discurso,
      na juntura entre

      • aquilo que é dito

      • e aquilo que se diz,

      exatamente lá onde os signos
      estão em via de se tornar linguagem.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar;
      tópico III. A teoria do verbo
      por Michel Foucault

      O tipo de sistema

      O conceito acima é explícito em fornecer uma descrição do tipo de sistema para operações sob o pensamento clássico.

      Trata-se de 

      • um sistema relativo
        de anterioridade ou de simultaneidade
        das coisas entre si; 

      uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

      asdf

      Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

      O tipo de leitura

      asdf

      Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

      asdf

      Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

      o tempo nas operações, em função dos sistemas
      em cada segmento do espectro de modelos

      no pensamento clássico
      antes de 1775
      aquém do objeto

      no pensamento moderno
      depois de 1825
      diante e para além do objeto

      no pensamento moderno
      também depois de 1825
      diante e para além do objeto

      formulação reversível
      e somente 
      instanciamento
      da representação;
      deus Chronos

      formulação irreversível
      e operação de construção
      da representação 
      deus Kairós

      formulação reversível
       e operação instanciamento
      da representação
      deus Chronos

      pensamento clássico, o de antes de 1775
      tempo calendário no sistema Input-Output
      operação de instanciamento de representação anteriormente formulada
      pensamento moderno, o de depois de 1825
      tempo absoluto sistema absoluto
      no caminho da Construção da representação
      pensamento moderno, o de depois de 1825
      tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
      no caminho do Instanciamento da representação

      Aquém do objeto

      Diante ou para além do objeto

      Nota: a existência precede as distinções feitas na operação.

      Tempo na formulação e no instanciamento da representação:

      • formulação reversível durante a formulação;
      • tempo calendário, ou tempo relativo no sentido de que
        • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f),
        • a posição calendário do outro evento (f) ou (i) pode ser calculada com as propriedades aparentes disponíveis antes e depois da operação;
      • irreversibilidades somente na etapa de instanciamento da representação

      Não há nada que possa ser afirmado, posto, disposto e repartido no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis e assim não se pode falar em ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja. 

      Assim, no pensamento clássico, não é possível adotar esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, que é compreendida como sucessão de fatos assim como se sucedem.

      caminho da
      Construção da representação
      Nota: a existência se constitui com as distinções feitas na operação

      Durante essa operação, a empiricidade objeto da operação, sim, muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

      Tempo no caminho da Construção da representação, durante a formulação da representação:

      • formulação irreversível durante a formulação;
      • tempo absoluto no sentido de que a empiricidade objeto ‘assume o ser que lhe é próprio’ em decorrência da operação, e então:
        • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f)
        • não é possível o cálculo da inserção calendário do outro evento (f) ou (i) a partir dessa inserção calendário do evento anterior em virtude da não disponibilidade das propriedades antes/depois da operação;
      •  irreversibilidades ocorrem na formulação da operação de construção da representação.

      A empiricidade objeto da operação tem um novo ‘modo de ser fundamental’, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’.

      Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operações, sim, faz-se história.

       caminho do
      Instanciamento da representação

      Nota: a existência volta a preceder as distinções feitas na operação.
       

      Durante essa operação a empiricidade objeto não muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

      Tempo  no caminho do Instanciamento da representação previamente existente no Repositório e dele recuperada para a posição de empiricidade objeto na presente operação de instanciamento:

      • formulação volta a ser reversível; (é possível descartar uma formulação de instanciamento e formular outra com novas escolhas, sem perdas;
      • tempo volta a ser tempo calendário, ou tempo relativo;
      • irreversibilidades no caminho do Instanciamento da representação ocorrem em decorrência do desencadeamento dos elementos de suporte na experiência à Forma de produção.

      A empiricidade objeto da operação tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ com que foi recuperada do repositório, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’ exatamente da mesma forma como havia sido acrescentada ao repositório.

      Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da História, durante esse tipo de operações não se faz história.

      Modelagem de operações e organizações organizadas pelo par sujeito-objeto, com operações específicas e separadas para cada um desses pares, porém relacionadas:

       

      • um modelo para a operação e organização para o objeto esperado pelo Cliente (Produto);
      • e um modelo para a operação e organização  para o instrumento capaz de obter o Produto, bem como obter o objeto esperado pelo Acionista (Benefícios de toda espécie, Lucros)

      Mapa geral das operações na disposição SSS

      Modelagem para uma organização incluindo o objeto esperado de interesse do Cliente
      e o instrumento capaz de obtê-lo, e também o objeto esperado de interesse do Acionista
      identificando o nexo da produção

      Argumento: a modelagem de operações
      organizada pelo par sujeito-objeto

      Construção da estrutura de operações na disposição SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica

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      Cronologia básica da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura ocidental entre os anos 1775-1825 segundo Michel Foucault.

      • fases e ponto de ruptura desse evento;
      • linha de tempo com as defasagens entre conquistas no pensamento e respectivo uso nas áreas técnicas;
      • alguns autores importantes de um e de outro lado desse evento;
      • ponto de entrada do homem em nossa cultura;
      • alguns autores citados como referências em modelos sociais, econômicos e políticos
      Michel Foucault
      1926-1984

      “E foi realmente necessário 
      um acontecimento fundamental
      – um dos mais radicais, sem dúvida, 1
      que ocorreram na cultura ocidental,
      para que se desfizesse a positividade do saber clássico
      e se constituísse uma positividade de que, por certo,
      não saímos inteiramente.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VII – Os limites da representação;
      tópico I. A idade da história

      Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
      defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prática

      cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
      uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prática

      O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

       “É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.

      Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,

      • é a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
        • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros, 
        • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e de articulação, 
        • como chegam, pelo jogo das comparações, a estabelecer uma ordem. “

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas
      Cap.VII – Os limites da representação
      tópico I. A idade da história

      Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

      Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

      Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

      • autores clássicos:
        • Adam Smith,
        • John Locke, 
        • David Hume, 
        • J. J. Rousseau, 
        • Jeremy Bentham, 
        • e J. M. Keynes (este, expressamente classificado por Foucault como não moderno)
      • autores modernos:
        • David Ricardo
        • Sigmund Schlomo Freud 
        • entre muitos outros.

      Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

      • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
      • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
      • David Ricardo, economista, 1772-1823

      Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

      Funcionamento
      do pensamento
      funcionamento das operações no pensamento clássico
      Modelo de
      Operação de produção
      relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
      e o sistema Input-Output
      do LE da figura.
      Modelo da 
      Organização de produção
      Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
      múltiplos sistemas de categorias
      Modelo de operações
      e de organização
      Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
      Modelo de  Operação
      contábil-financeira
      O modelo de operação
      no sistema contábil-financeiro
      Modelo da  Organização
      ponto de vista financeiro
      a organização no sistema contábil-financeiro

      Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

      Funcionamento
      de operação do pensamento
      O funcionamento das operações no pensamento moderno
      Modelo de
      Operação de produção
      relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’
      Modelo da 
      Organização de produção
      o modelo de organização ‘Mapa da atividade semicondutores’, da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
      O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
      instanciamento de representação
      O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
      do movimento Reengenharia

      O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

      Assim, estes três pares,

      • função e norma,
      • conflito e regra,
      • significação e sistema,

      cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

      Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

      • do nível da psicologia,
      • da sociologia
      • ou da análise das linguagens

      é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

      • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

      Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

      Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo X  – As ciências humanas;
       III. Os três modelos
      Michel Foucault 

      O Triedro dos saberes: eixos e faces
      espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
      O interior ao Triedro dos saberes
      o espaço das Ciências humanas

      Aquém do objeto

      Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

      • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

      Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
      existem desde sempre e para sempre,
      e integram o Universo em uma visão única.

      Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

      Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

      Diante do objeto

      No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

      • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

      No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

      • Ciências da vida (Biologia):


        função-norma
        ;

      • Ciências do trabalho (Economia):


        conflito-regra;

      • Ciências da Linguagem (Filologia):

        significação-sistema.

      Além do objeto

      No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

      Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

      • da Vida-(Biologia),
      • do Trabalho-(Economia)
      • e da Linguagem-(Filologia).

      O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

      O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

      • Ciências da vida  (Biologia):
        função-norma;

        +
        Ciências do trabalho (Economia):

        conflito-regra;
        +
        Ciências da Linguagem (Filologia):
        significação-sistema.

      Sob ciências humanas como:

      • economia política;
      • sociologia,
      • psicologia e psicanálise

      estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

      A descrição feita por Michel Foucault de duas possibilidades
      de posicionamento do pensamento com relação a valor

      “Valor, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

      Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

      Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

      Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que a dupla cessão e a dupla aquisição finalmente se produzam.

      Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

      Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra, é preciso que elas existam já carregadas de valor; e, contudo, o valor só existe no interior da representação (atual ou possível), isto é, no interior da troca ou da permutabilidade.

      Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

      1. uma analisa o valor no ato mesmo da troca, no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
      2. outra analisa-o como anterior à troca e como condição primeira para que esta ossa ocorrer.

      Os dois pontos de partida distintos adotados pelo pensamento para análise de valor

      1. a primeira possibilidade de leitura

      A análise de valor no ato mesmo da troca,
      no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido

      2. a segunda possibilidade de leitura

      A análise de valor como anterior à troca
      e como condição primeira para que esta possa ocorrer.

      A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da proposição;

      • no [neste] primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tomando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

      a outra, [corresponde] a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das designações primitivas – linguagem de ação ou raiz(*);

      • na outra [nesta] forma de análise, a linguagem está enraizada fora de si mesma e como que na natureza ou nas analogias das coisas; a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.

      Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho do Instanciamento da representação

      Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento clássico, antes de 1775

      Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho da Construção da representação

      Funcionamento de operações no pensamento moderno

      Funcionamento de operações no pensamento moderno

       

      Funcionamento Parte 1: Referencial, princípios organizadores e métodos do pensamento no LD da figura 2 de Humberto Maturana usando o pensamento de Michel Foucault

      Funcionamento Parte 2: Estratégias para aproximação da empiricidade objeto da possibilidade de representação: Lugar de nascimento do que é empírico e aplicação dos métodos Análise e Síntese

      Funcionamento Parte 3: Estratégias para aproximação da empiricidade objeto da possibilidade de representação: a geração da Sucessão de analogias, ou árvore de produto

      Funcionamento Parte 4: o surgimento da nova representação, abandono do domínio do Pensamento e da Língua e inclusão no Repositório no domínio do Discurso e da Representação

      Funcionamento Parte 5: recuperação da representação já construída do repositório; instanciamento da representação no Circuito onde ocorrem as trocas

      Nova visão das coisas

       

      Dom Quixote,
      por Salvador Dalí
      Miguel de Cervantes, 1547-1616
      Dom Quixote em sua biblioteca

      “O poeta
      faz chegar a similitude até os signos
      que a dizem,

      o louco
      carrega todos os signos com uma semelhança
      que acaba por apagá-los

      Dom Quixote é a primeira das obras modernas,

      • pois que aí se vê a razão cruel das identidades e das diferenças desdenhar infinitamente dos signos e das similitudes:
      • pois que aí a linguagem rompe seu velho parentesco com as coisas, para entrar nessa soberania solitária donde só reaparecerá, em seu ser absoluto, tornada literatura;
      • pois que aí a semelhança entra numa idade que é, para ela, a da desrazão e da imaginação.

      Uma vez desligados a similitude e os signos, 

      • duas experiências podem se constituir
      • e duas personagens aparecer face a face.

      O louco, 

      • entendido não como doente,
      • mas como desvio constituído e mantido, como função cultural indispensável, 

      tornou-se, na experiência ocidental, o homem das semelhanças selvagens.

      Essa personagem, tal como é bosquejada nos romances ou no teatro da época barroca e tal como se institucionalizou pouco a pouco até a psiquiatria do século XIX, é aquela que se alienou na analogia. 

      É o jogador desregrado do Mesmo e do Outro.

      Toma as coisas pelo que não são e as pessoas umas pelas outras; ignora seus amigos, reconhece os estranhos; crê desmascarar e impõe uma máscara. Inverte todos os valores e todas as proporções, porque acredita, a cada instante, decifrar signos: para ela, os ouropéis fazem um rei. 

      Segundo a percepção cultural que se teve do louco até o fim do século XVIII, ele só é o Diferente na medida em que não conhece a Diferença; por toda a parte vê semelhanças e sinais da semelhança; todos os signos para ele se assemelham e todas as semelhanças valem como signos.

      Na outra extremidade do espaço cultural, mas totalmente próximo por sua simetria, 

      o poeta 

      • é aquele que, por sob as diferenças nomeadas e cotidianamente previstas, reencontra os parentescos subterrâneos das coisas, suas similitudes dispersadas. 
      • Sob os signos estabelecidos e apesar deles, ouve um outro discurso, mais profundo, que lembra o tempo em que as palavras cintilavam na semelhança universal das coisas: a Soberania do Mesmo, tão difícil de enunciar, apaga na sua linhagem a distinção dos signos.

      Daí sem dúvida, na cultura ocidental moderna, o face-a-face da poesia e da loucura.

      Mas já não se trata do velho tema platônico do delírio inspirado. 

      Trata-se da marca de uma nova experiência da linguagem e das coisas.

      Às margens de um saber que separa os seres, os signos e as similitudes, e como que para limitar seu poder, o louco garante a função do homossemantismo: reúne todos os signos e os preenche com uma semelhança que não cessa de proliferar.

      O poeta garante a função inversa; sustenta o papel alegórico; sob a linguagem dos signos e sob o jogo de suas distinções bem determinadas, põe-se à escuta de “outra linguagem”, aquela, sem palavras nem discursos, da semelhança.

      O poeta faz chegar a similitude até os signos que a dizem,

      o louco carrega todos os signos com uma semelhança que acaba por apagá-los.

      Assim, na orla exterior da nossa cultura e na proximidade maior de suas divisões essenciais, estão ambos nessa situação de “limite” – postura marginal e silhueta profundamente arcaica – onde suas palavras encontram incessantemente seu poder de estranheza e o recurso de sua contestação.

      Entre eles abriu-se o espaço de um saber onde, por uma ruptura essencial no mundo ocidental,

      • a questão não será mais a das similitudes,
      • mas a das identidades e das diferenças.

      As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
      Cap. 3 – Representar;
      tópico I. Dom Quixote
      de Michel Foucault

      Uma estrutura para o conceito de Caos de Ilya Prigogine

       
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      espaço para discussão de conceitos

      icone-MFoucault-01
      Michel Foucault 1926-1984

      A percepção da contaminação do pensamento com o qual pensamos, pela impossibilidade de fundar as sínteses na representação

      “Eis que nos adiantamos bem para além
      do acontecimento histórico que se impunha situar
      – bem para além das margens cronológicas
      dessa ruptura que divide, em sua profundidade,
      a epistémê do mundo ocidental
      e isola para nós o começo
      de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.

      É que o pensamento que nos é contemporâneo
      e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
      se acha ainda muito dominado
      pela impossibilidade,
      trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
      de fundar as sínteses no espaço da representação
      e pela obrigação
      correlativa, simultânea,

      mas logo dividida contra si mesma,
      de abrir o campo transcendental da subjetividade
      e de constituir inversamente,
      para além do objeto,
      esses “quase-transcendentais” que são para nós
      a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

      A nova forma de reflexão se instaura no pensamento em nossa cultura, o motor constituinte “dessa maneira moderna de conhecer empiricidades”

      “Instaura-se um tipo de reflexão
      bastante afastado do cartesianismo
      e da análise kantiana,
      em que está em questão,
      pela primeira vez,
      o ser do homem,
      nessa dimensão segundo a qual
      o pensamento
      se dirige ao impensado
      e com ele se articula.”

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
      tópico I. As novas empiricidades

      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Cap. IX – O homem e seus duplos ;
      tópico V – O “cogito” e o impensado.

      • a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé clássica.
      • essa impossibilidade de fundar as sínteses implica na seleção da visão de ‘operações’ e análise de valor no exato ponto de cruzamento entre o dado e o recebido, e para a primeira possibilidade de análise de valor. 
      • a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé moderna.
      • essa possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação implica em uma visão de ‘operações’ e análise de valor antes do ponto de cruzamento acima, o que leva o modelo para a segunda possibilidade de análise de valor.
      • essa forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura exige duas coisas: 
        • o ‘ser do homem’;
        • o impensado e sua contrapartida no espaço da representação

      a percepção  dessa contaminação, dominação mesmo,
      do pensamento com o qual ‘queiramos ou não‘ pensamos,
      – hoje em dia, e aqui e agora –
      por configurações de pensamento
      com a possibilidade, e também
      com impossibilidade
      de fundar as sínteses – da empiricidade objeto – 
      no espaço da representação
      muda completamente os domínios e os lugares onde ocorrem as operações,
       as paletas de ideias ou elementos de imagem, assim como as estruturas e os relacionamentos entre eles.

      A primeira pedra de tropeço
      no caminho de Michel Foucault
      comparações feitas por Foucault de diferentes configurações de pensamento
      Uma operação, de pensamento, de produção, etc. com a paleta de ideias e a estrutura do pensamento moderno, de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida no período 1775-1825, segundo Michel Foucault

      Há diferentes modelos
      que formulamos para 
      visões de ocorrências 
      no espaço-tempo x, y, z e t.

      Ao suspeitar
      da contaminação do pensamento
      – do nosso, daquele com o qual queiramos ou não pensamos –
      por essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, ele manifesta sua percepção de que de fato isso acontece em volta de nós e conosco.

      Esses modelos,
      diferentes em seus fundamentos,
      são usados juntos
      e/ou simultaneamente
      no mesmo domínio e ambiente 
      em um pensamento
      contaminado
      por duas epistemologias,
      ou por duas maneiras
      de conhecer
      aquilo que dizemos
      que conhecemos.

      Existem modelos,
      todos em uso atualmente,
      que podem ser agrupados
      em duas famílias:

      • aqueles com a possibilidade
      • e aqueles com a impossibilidade 

       de fundar as sínteses
       – da empiricidade objeto da operação-
      no espaço da representação.

      Essa a distinção entre modelos
        com e modelos sem essa possibilidade
      de fundar as sínteses
      [da empiricidade objeto da operação]
      no espaço da representação,
      que Michel Foucault faz sugere que analisemos os modelos de operações e de organizações existentes, isto é, nos modelos que usamos hoje, em busca de características de características, ou características de segunda ordem, pelas quais podem ser associados com o pensamento antes, depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, oferecendo os necessários elementos para identificação.

      A figura na coluna do meio acima mostra a configuração do pensamento (o clássico,  de antes de 1775), com a impossibilidade de fundar as sínteses (da(s) empiricidade(s) objeto da operação) no espaço da representação.

      Clicando nessa figura, a animação mostrará as alterações em toda a configuração do pensamento, para levantar essa impossibilidade.

      A alteração se passa no lado direito da figura. 

      A primeira coisa que muda é o tipo de reflexão que se instaura. 

      Como decorrência, muda toda a paleta de ideias, ou elementos de imagem; 

      Muda ainda o perfil do pensamento em cada configuração: 

      • o referencial
          • a ordem pela ordem
          • dá lugar à utopia do não articulado;
      • os princípios organizadores
          • que eram Caráter e Similitude
          • passam a ser Analogia e Sucessão;
      • e os métodos,
          • que eram identidade e semelhança
          • passam a ser Análise e Síntese.

      Lista de posts

      Nova visão das coisas

       O seu versoO louco e o poetaPonto de vista novo Dom Quixote, por Salvador Dalí Miguel de Cervantes, 1547-1616 Dom Quixote em sua biblioteca “O

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      dez (10) pontos para contextualização entre Prefácio e texto do livro
      'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'

      1. A Forma de Reflexão que se instaura em nossa cultura
      2. Proposição: o bloco padrão genérico e fundamental
      para construção de representações
      3. Princípios organizadores do pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
      4. O Conceito de verbo no pensamento clássico,
      o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
      5. O conceito de verbo no pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
      6. As duas sintaxes mencionadas por Foucault no Prefácio
      6.1 A sintaxe que autoriza a construção das frases
      6.2 A sintaxe que autoriza manter juntas
      as palavras e as coisas
      7. O princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
      de 1776
      8. O princípio dual de trabalho de David Ricardo,
      de 1817
      8.1 A importância de David Ricardo,

      Nosso roteiro (Michel Foucault) e nossa inspiração (Humberto Maturana)

      Influências e inspirações

      1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’: 

      uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

      textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais; 

      e ainda, não menos importante

        • as imagens tradicionais, as imagens técnicas, as classes de abstrações que usamos cotidianamente;
      Vilém-Flusser-Portrait-008
      Vilém Flusser
      1920-1991

      2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:

      objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

      Humberto Maturana
      1928-

      3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:

      a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:

        • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sínteses no espaço da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
        • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
      Michel Foucault
      1926-1984

       

      A Figura 2 original de Maturana

      Figura 2 – Diagrama ontológico; Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana;
      pi Figura 2 – O explicar e a experiência; Linguagem, Emoções e Ética nos Afazeres Politicos,
      do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política

      Esquadrinhamento da Figura 2 de Maturana para ajustes

      A Figura 2 – Diagrama ontológico ou O explicar e a experiência, de Maturana 
      esquadrinhamento da figura com comentários e propostas de alterações
      usando o pensamento de Michel Foucault

       

      O circuito ida e volta possibilitado por funções
      Imaginação e Conceituação reversíveis

      classes de abstrações:
      Graus da abstração;
      Dimensões próprias a cada caso

      Roteiro e inspiração

       

      • Estar na linguagem segundo Humberto Maturana

        Estar na linguagem é uma coordenação de coordenações consensuais de ações

      • Pedra fundamental do pensamento de Maturana no início do seu trabalho

        A pedra fundamental do pensamento de Humberto Maturana

      HM foto 1

      Humberto Maturana Romesin
      1928 –

      • Um salto para fora do cartesianismo

        Salto para fora do cartesianismo: Vilém Flusser em Pensamento e Reflexão

      • As imagens tradicionais

      • As imagens técnicas, as construídas por aparelhos

        Imagem técnica – aquele tipo de imagem produzida por um aparelho.

      vilem

      Vilém Flusser
      1920-1991

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      O sistema SIPOC/FEPSC

      O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

      - História, modo de ser fundamental das empiricidades,
      . o Circuito das trocas e o Lugar de nascimento do que é empírico
      . Pensamento conservador e pensamento progressista

      Posição relativa do par sujeito-objeto e o modelo de operações

      Aquém 

      história como sucessão de fatos
      tais como se sucederam

      História como sucessão de fatos tais como se sucederam

      Diante e Além

      história como alterações no ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades

      História como mudança no 'modo de ser fundamental'

      Duas possibilidades de leitura de operações;
      duas origens de valor (interna e externa na linguagem) para representações

      Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
      sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
      sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
      com duas amplitudes - duas abrangências muito diferentes

      Ciência e Tecnologia dependem da Filosofia e são funções das ferramentas de pensamento de que dispõe a configuração do pensamento utilizada em sua geração.

      Os três movimentos do pensamento segundo Vilém Flusser

      Usando o pensamento de Vilém Flusser:

      • Pensamento é um transformador do duvidoso em língua;
      • Filosofia, ou Reflexão, é texto produzido pelo pensamento ao voltar-se contra si mesmo para corrigir-se e renovar-se.
      • ciência, como o resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo, para compreendê-lo, é texto filosófico aplicado. 
      • e tecnologia, como resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo para modificá-lo, é texto científico aplicado; 

      Descontinuidades epistemológicas refletem conquistas humanas no pensamento e são aprimoramentos na maneira que usamos para conhecer.  Há portanto uma relação entre, de um lado, o modo como colocamos em marcha nosso desejo de transformar o duvidoso em língua a cada nível, e de outro lado, a filosofia que temos, e a Ciência que temos, ou a tecnologia de que dispomos. Filosofia, Ciência e Tecnologia são funções do como como vemos o mundo e as coisas.

      Michel Foucault (*) descreve uma descontinuidade epistemológica (uma alteração no modo como nos voltamos para o mundo para conhecer o que dizemos que conhecemos), e aponta com toda clareza diferentes jogos de ferramentas de pensamento ou estruturas conceituais, características de uma e de outra dessas epistemologias, de um e de outro lado desse evento. E aponta um período em nossa cultura ocidental, em que o pensamento esteve dominado por uma característica do período anterior.

      A solução de questões trazidas à luz por essa nova maneira de conhecer (a nova epistemologia) não poderão ser resolvidas se correspondentes ciência e tecnologia não forem desenvolvidas também.

      Pensamento conservador e progressista

      Acompanhando o trabalho arqueológico de Michel Foucault em direção a essa classe especial de saberes, a esse conjunto de discursos chamado de ciências humanas, vê-se que em certo período consolidou-se um tipo de pensamento em cuja configuração a etapa de construção de novas representações foi incorporada. Antes disso, essa etapa de construção da representação nova ficava fora do escopo do pensamento, e depois disso essa etapa permaneceu definitivamente incorporada.

      Para a configuração de pensamento que deixa fora do seu escopo a etapa de construção de novas representações a alternativa é conviver com tudo o que existe desde sempre e para sempre, tomando as coisas como pré-existentes e pertencentes ao Universo. Esse modo de pensar tem características de conservadorismo, enquanto aquela outra configuração do pensamento que inclui em seu escopo a geração de novas representações, as características de progressismo.

      Neste trabalho algumas – bastantes – características de uma e de outra dessas duas características de configurações do pensamento foram apresentadas o que de certa forma pode ser usado para qualificar com algo mais do que a qualidade ‘conservador’ um pensamento de direita; e com a qualidade ‘progressista’ um pensamento de esquerda, delineando com mais precisão uma e outra dessas configurações.

      (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

      Panorama visto desde meu posto de observação

      É real hoje, aqui, agora, e entre nós, a percepção – feita por Foucault – do domínio/contaminação do pensamento – ‘com o qual queiramos ou não pensamos‘ – pela impossibilidade de fundar as sínteses (do pensamento sobre a empiricidade objeto da operação) no espaço da representação(*).

      Esse tipo de pensamento dominante, aquele com a impossibilidade de fundar as sínteses, é ao mesmo tempo o tipo de pensamento que não inclui a operação de construção de novas representações. E a estrutura das operações sem essa etapa reforça essa impossibilidade. Nesse contexto modelos com e modelos sem essa impossibilidade são tratados como se variações sobre o mesmo tema fossem, e não produções do pensamento completamente diferentes.

      Estamos projetando e usando hoje, modelos para operações e organizações, de produção e outras, com o pensamento de exatos dois séculos atrás.

      Para que isso possa ser percebido pelo projetista de modelos em diversas áreas é necessário o rompimento das condições em que se dá essa contaminação e esse domínio de uma das configurações de pensamento sobre a outra, obliterando justamente aquela que corresponde a uma conquista humana no pensamento. Para que isso aconteça é necessário que seja atendido um requisito: a construção de um critério para identificação e comparação de modelos, e sua aplicação no caso presente.

      Daqui de onde vejo as coisas, é unânime a visão das coisas em termos de processo. Ninguém fala de nada além de processos: mapeia-se processos, otimiza-se processos, etc. etc. o que quer que seja, mas sempre processos. Sem que nos demos conta de como sejam as diferentes estruturas das operações em que tais ‘processos’ ocupam posição operacional. 

      Michel Foucault pode fornecer os elementos necessários para a construção desse critério. Nossa intenção aqui é destacar em Foucault o que pode ser usado para o estabelecimento de uma relação pensamento – e sua aplicação na modelagem de operações em organizações. 

      (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

      Cronologia do evento fundador da nossa modernidade no pensamento;
      linha de tempo com os períodos de contaminação do pensamento
      por configurações diferentes.

      uma cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
      o evento fundador da nossa modernidade no pensamento
      Linha de tempo das conquistas humanas no pensamento e respectiva utilização prática

      Acoplamentos estruturais do sistema descrito no LD - o Explicar com Reformular: os internos e aqueles com o ambiente externo

      Diante e para Além do objeto

      Acoplamento estrutural interno:
      condições de possibilidade
      Acoplamento estrutural interno:
      pontos de acoplamento
      Acoplamento estrutural externo:
      parcial quando há diferenças nas estruturas
      • os domínios do Operar – retângulo vermelho; e do Suporte ao operar – domínio amarelo, que compõem o ‘Lugar de nascimento do que é empírico’ parte do ‘Explicar com ‘Reformular’ a empiricidade objeto, durante o caminho da Construção da representação, são exemplo do primeiro acoplamento interno. Acoplamento semelhante ocorre durante o caminho do Instanciamento da representação.(*)

         

      • há ainda acoplamentos externos ‘por cima’, lateralmente, e por baixo da estrutura no LD da figura nos dois caminhos o da Construção e o do Instanciamento. O acoplamento externo ‘por cima’ depende da estrutura com a qual se dará acopamento, e pode ser parcial.

      Playground para projetistas de modelos: uma coleção de modelos de diversos tipos, para aplicação dos conceitos apresentados

      Uma coleção com mais de duas dúzias de modelos, (*) para descobrir com que tipo de pensamento foram feitos:

      • se COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; ou
      • ou se SEM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação

      (*) Proposta de metodologia para o planejamento e implantação de manufatura integrada por computador
      de Bremer, C. F. USP SC fev 1995; entre outras fontes

      Estruturas dos modelos, resultantes da utilização do referencial,dos princípios organizadores e dos métodos usados pelo pensamento, por segmento de modelos 

      Aquém do objeto

      Modelo de operações de Buffa e modelo de uma organização adaptado de Mauro Zilbovicius

      Diante do objeto

      Modelo de operações do Kanban e modelo de organização da Reengenharia

      Além do objeto

      Modelo de uma ciência humana Análise da produção como exemplo de qualquer outro modelo de ciência humana
      Estrutura matricial – Quadro de categorias clássico. Utilização de várias ordens ligeiramente diferentes em um mesmo modelo de operações.
      Estrutura hierárquica característica do objeto análogo composto substitutivo ao vislumbrado. Utilização de uma única ordem ao longo do modelo.
      Mesmas características dos modelos para o segmento Diante do objeto, mas aqui, com um modelo constituinte combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

      O modelo 5W2H, de um lado, e de outro, o modelo de operações do Kanban
      e o modelo proposto no LD da Figura 2: usos diferentes para as mesmas ideias
      ou elementos de imagem envolvidos na formulação da proposição

      Aquém do objeto

      Diante e Além do objeto

      Modelo Provision Workbench, da Proforma
      Modelo de operações de produção do Kanban
      Modelo proposto para 'uma certa maneira de conhecer empiricidades'

      O exame dessas três figuras mostra que ideias, elementos de imagem, homônimos, podem ser usados de modo diferente em modelos feitos sob estruturas conceituais diferentes.

      No modelo 5W e 2H no lado esquerdo acima, o destaque dado pelo losango em vermelho é nosso. Não estava na figura original. A figura é organizada por um sistema de categorias composto pelas 7 perguntas 5W2H. 

      O modelo da produção do Kanban é sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto da operação de produção, e é formulado como uma proposição instanciativa de um objeto previamente projetado, e portanto cuja representação foi anteriormente construída

      O modelo de operações de construção de representação para empiricidade objeto (LD da figura) é feito calcado no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo; está evidenciada a formulação no formato de uma proposição. A origem de valor adotada está nas designações primitivas ( conjunto de operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites) e da linguagem de uso (o Repositório)

      O pensamento de outros grandes pensadores:
      John Dewey e seus dois modos de ver o mundo;
      Ilya Prigogine e o conceito de caos para a ciência moderna

      Diante do objeto

      Ver [homem e experiência] e [natureza] vistos juntos
      Os conceitos de caos, na ciência moderna;
      e de Arte como a formulação com leis e eventos

      As duas animações acima – a nosso ver – apenas mostram que tanto John Dewey na sua visão [homem] [experiência] e [natureza] juntos; quanto Ilya Prigogine  na sua visão do que seja caos na ciência moderna, estão pensando com uma configuração de pensamento COM a possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, o que não era comum para a ciência clássica, toda reversível.

      Sistema Formulador

      Aquém do objeto

      Modelo relacional de dados do Microsoft Project 4.0

      Diante do objeto

      Módulo central do Sistema Formulador

      O Sistema Formulador:

      É um ante-projeto de um sistema para gestão de projetos com estrutura conceitual consistente com o pensamento moderno. 
      O módulo principal do sistema é uma unidade lógica que relaciona entidades envolvidas na proposição enunciadora de operações, mantidas em banco de dados, e gera sistematicamente o modelo de operações. O Microsoft Project, então, importa o modelo gerado como se fosse próprio, e a gestão continua, agora com um modelo gramaticalmente correto e criteriosamente estruturado.

      Este é um ante-projeto de um sistema de gestão COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; esse sistema pode evoluir para um sistema visual de gestão e outros aplicativos.

      Destaque para dois modelos existentes:
      1) LE, o SIPOC (FEPSC) do SixSigma; 2) LD e o Visão da PHD, da PHD Brasil
      e no centro, as diferenças entre eles

      Aquém do objeto

      O diagrama FEPSC (SIPOC) mostrando a estrutura

      diferenças

      Comparação

      Diante do objeto

      A Visão da PHD

      Comparação do modelo SIPOC ou FEPSC – SixSigma(*) com o modelo Visão da PHD(**) do ponto de vista das estruturas respectivas.
      A animação central mostra o que falta – estruturalmente – ao SixSigma para ter a estrutura do modelo da direita.

      (*) Gestão integrada de processos e da tecnologia da informação; capítulo Identificação, análise e melhoria de processos críticos Figura 3.1 Representação da FEPSC, de Roberto Gilioli Rotondaro
      Coordenadores: Fernando José Barbin Laurindo e Roberto Gilioli Rotondaro, Editora Atlas, jan/2006
      (**) A Visão da PHD, da empresa PHD Brasil

      O mapa de operações de produção do Kanban;
      e o mapa da organização segundo a Reengenharia

      Diante do objeto

      Modelo de operações
      do Kanban

      Modelo de operações do Kanban

      Mapa da organização
      segundo a Reengenharia

      Mapa da Reengenharia (modificado) e comentado

      Temos à esquerda, o modelo do Kanban com a referência (*) abaixo. e á direita, a Figura 7.1 do livro Reengenharia, referência (**) abaixo. São organizados sobre a proposição, e pertencem à configuração do pensamento moderno.  Você pode certificar-se  da veracidade dessas duas afirmativas neste ponto (17).

      (*) Artigo ‘A comparison of Kanban and MRP concepts for the control of Repetitive Manufacturing Systems’ de:
      James W. Rice da Western Kentucky University e Takeo Yoshikawa da Yolohama National University
      (**) Reengenharia – revolucionando a empresa: em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência 
      de Michael Hammer e James Champy

      Exemplos de modelos existentes, e muito usados,
      nas diferentes estruturas conceituais

      Aquém do objeto

      Diante do objeto

      Modelos de: operação de produção; e organização típica
      Modelos de: operação contábil/financeira e modelo de organização
      Modelos de: operação de produção do Kanban; e modelo de organização da Reengenharia

      Exemplos de modelos muito conhecidos para operações e para as organizações

      • operação: Operações de produção, de Elwood S. Buffa;
      • organização: adaptação de Organização típica.
      • operação: operação contábil financeira débito e crédito;
      • organização: Ativo, Passivo e Resultados.
      • operação: modelo do Kanban;
      • organização: mapa da reengenharia.

      A proposição como o bloco construtivo padrão  (Lego)
      fundamental para a construção de representações

      Aquém do objeto

      Proposição ausente
      do sistema Input-Output

      Diante do objeto

      A proposição no caminho
      da Construção da representação

      Além do objeto

      A proposição no caminho
      do Instanciamento da Representação

      ‘A proposição é, para a linguagem,
      o que a representação é para o pensamento:
      sua forma ao mesmo tempo mais geral e mais elementar porquanto, desde que a decomponhamos, não encontraremos mais o discurso, mas seus elementos como tantos materiais dispersos.’(*)

      “A língua é
      a mais complexa,
      a mais milagrosa,
      a mais estranha,
      a mais gigantesca e variada
      invenção humana.” (**)

      (*) As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

       


      (**) Frases de Millor Fernandes

      Os dois conceitos para o que seja um verbo:
      verbo Processo, e verbo Forma de produção

      Aquém do objeto
      verbo ‘Processo

      Verbo tratado como Processo

      Diante e Além do objeto
      verbo ‘Forma de produção’

      Verbo tratado como Forma de produção

      “A única coisa que o verbo afirma
      é a coexistência de duas representações; 
      por exemplo
      a do verde e da árvore,
      a do homem e da existência ou da morte. 

      É por isso que o tempo dos verbos
      não indica aquele em que
      as coisas aconteceram no absoluto, 
      mas um sistema relativo  
      de anterioridade
      ou simultaneidade 
      das coisas entre si.”
      (*)

      “O limiar da linguagem
      está onde surge o verbo.
      É preciso portanto 
      tratar esse verbo como um ser misto, 
      ao mesmo tempo palavra entre palavras,
      preso às mesmas regras 
      de regência
      e de concordância;
      e depois, em recuo em relação a elas todas, 
      numa região que não é aquela do falado 
      mas aquela donde se fala.
      Ele está na orla do discurso, na juntura entre 
      aquilo que é dito e aquilo que se diz; 
      exatamente lá onde os signos 
      estão em via de se tornar linguagem.
      (*)

      (*) As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

      Os dois conceitos para o que seja 'Classificar'

      Aquém do objeto

      Classificar como uma referência
      do visível a si mesmo

      Diante e Além do objeto

      Classificar como uma referência
      do visível ao invisível

      Classificar é referir
      o visível a si mesmo,
      encarregando um dos elementos
      de representar os outros.(*)

      Classificar é referir
      o visível ao invisível
      – como a sua razão profunda –
      e depois, alçar de novo dessa secreta arquitetura, em direção aos seus sinais manifestos, que são dados
      à superfície dos corpos.
      (*)


      (*) As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      cap. VII – Os limites da representação;
      tópico III. A organização dos seres; sub-item 3

      Os dois princípios filosóficos para o que seja de trabalho

      Aquém do objeto
      Adam Smith, de 1776(*)

      Princípio monolítico de trabalho
      de Adam Smith, de 1776

      Diante e Além do objeto
      David Ricardo, de 1817(**)

      Princípio dual de trabalho
      de David Ricardo, de 1817


      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas; 
      (*) Capítulo VII – Os limites da representação;
      tópico II. A medida do trabalho;


      As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      (**) Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem;
      tópico II. Ricardo

      Elementos centrais em cada formulação por segmento do espectro

      Aquém do objeto
      PROCESSO

      Diante do objeto
      Forma de produção

      Além do objeto
      NEXO DA PRODUÇÃO

      Processo: elemento central
      no modelo de operação clássico
      Forma de produção: elemento central
      no modelo de operações moderno
      Nexo da produção: resultante da visão
      SSS da organização

      Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais qualquer providência, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

      Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento (laboratório piloto, fábrica) com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

      (*) As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo IV – Falar; tópico II. Gramática geral
      Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; I. As novas empiricidades

      Espaços Gerais do Saber
      em cada segmento do espectro

      Aquém do objeto

      Diante do objeto

      Além do objeto

      Espaço Geral do Saber Clássico
      Espaço Geral do Saber no pensamento Moderno
      Espaço interior do Triedro do Saber

      As mudanças nas configurações do pensamento promoveram reposicionamentos das positividades umas em relação às outras, resultando em três espaços gerais do saber.(*)

      (*) As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo III – Representar; tópico VI. Mathésis e Taxinomia;
      Capítulo X – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes; 
      de Michel Foucault

      O tempo em cada uma das faixas do espectro;
      e para as diferentes etapas das operações indicadas

      Aquém
      do objeto
      qualquer operação

      Diante 
      do objeto
      caminho da Construção 

      Diante 
      do objeto
      caminho da Instanciamento

      Tempo no LE, em qualquer operação no sistema Input-Output, sob o deus Chronos
      Tempo LD, operação no caminho da Construção da representação,
      sob o deus Kairós
      Tempo LD, operação no caminho do Instanciamento da representação,
      novamente sob o deus Chronos

      Tempo, em cada um dos segmentos do espectro, muda:

      • aquém do objeto, na estrutura input-output sob o pensamento clássico, temos um tempo relativo, ou um tempo calendário, cujo deus é Chronos;
      • diante do objeto mas no caminho da Construção da representação, sob o pensamento filosófico moderno, temos um tempo absoluto, um tempo não-calendário, cujo deus é Kairós;
      • e ainda diante, e também além do objeto, tempos um tempo que volta a ser relativo, calendário, e a soberania volta a ser a de Chronos.

      O espaço dado ao homem - 'naquilo que ele tem de empírico' -
      na estrutura dos modelos

      Aquém do objeto

      Diante e Além do objeto

      Sistema clássico de pensamento:
      sem espaço em sua estrutura
      para os dois papéis do homem.
      Os dois papéis do homem
      presentes e operativos na estrutura
      d'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'

      Antes do fim do século XVIII,
      o homem não existia. (…)
      Sem dúvida,
      as ciências naturais trataram do homem
      como de uma espécie ou de um gênero.”

      As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
      Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico II. O lugar do rei

      ‘Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas, reclamando para seu devir não mais que o princípio de sua inteligibilidade e abandonando o espaço da representação, o homem, por seu turno, entra e pela primeira vez,
      no campo do saber ocidental’ (*)

      “O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: está, ao mesmo tempo, 

      • no fundamento de todas as positividades,
      • presente, de uma forma
        que não se pode sequer dizer privilegiada,
        no elemento das coisas empíricas.” (**)

       (*) As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas; 
      Prefácio

      (**) As palavras e as coisas:
      uma arqueologia das ciências humanas;  
      Capítulo X – As ciências humanas;
      I. O triedro dos saberes

      Desenvolvimento das operações
      por segmento do espectro de modelos

      Aquém do objeto

      Diante do objeto

      Além do objeto

      • no sistema Input-Output; usando uma ordem arbitrariamente escolhida;
      • e com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as chamadas ‘aparências’;
      • No sistema correspondente ao que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, que tem como elemento construtivo padrão fundamental a proposição, da qual herda as categorias de ideias ou elementos de imagem de primeiro nível;
      • e com propriedades sim-originais e sim-constitutivas daquilo que se constitui na existência em decorrência das operações.
      • No sistema formulado no campo das ciências humanas, com modelos constituintes compostos por uma combinação dos modelos constituintes das ciências que integram a região epistemológica fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
      • Nexo da operação.

      Veja mais detalhes nas animações que podem ser encontradas nas páginas de detalhe deste tópico.

      Funcionamento do pensamento
      em cada um dos segmentos desse espectro

      Antes do objeto

      Diante do objeto

      Além do objeto

      Operação no sistema Input-Output
      sobre representações pré-existentes
      Operação de construção de representação não existente no repositório
      Operação de instanciamento de representação pré-existente no repositório

      Paletas com o conjunto completo de ideias ou elementos de imagem necessários para a formulação das respectivas imagens das ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t ; incluindo relacionamentos entre esses elementos de imagem.(*)

      (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
      tópico I. As novas empiricidades, de Michel Foucault

      Estruturas de conceitos em cada ambiente de formulação identificado pela possibilidade ou pela impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação

      Posição em relação ao par sujeito-objeto

      Estrutura conceitual
      para o pensamento clássico
      Estrutura conceitual
      para o pensamento moderno

      Referencial:

      • Ordem pela ordem;

      Princípios organizadores: 

      • Caráter e similitude;

      Métodos:

      • Identidade e semelhança

      Referencial:

      • Utopia;

      Princípios organizadores: 

      • Analogia e Sucessão;

      Métodos:

      • Análise e Síntese

      ‘Assim, estes três pares,
      função-norma,
      conflito-regra,
      significação-sistema,

      cobrem, por completo,
      o domínio inteiro
      do conhecimento do homem.'(*)

      São essas as ferramentas de que se arma o pensamento – em cada segmento do espectro de modelos, para produzir as imagens que servem de mapas, para orientação na construção das representações.

      (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

      Imaginação e Conceituação - funções humanas reversíveis:
      Imagens tradicionais e Técnicas

      Imagens tradicionais

      Imagens técnicas

      Classes de abstrações

      As imagens tradicionais
      Imagens técnicas, as imagens produzidas por aparelhos (computadores)
      Classes de abstrações
      • Imaginação e Conceituação, funções humanas reversíveis que todos temos para codificar e decodificar imagens tradicionais e textos;
        • idolatria é o uso continuado de imagens que, quando decodificadas, não mais nos levam à visão da ocorrência no espaço-tempo x, y, z e t, isto é, imagens que não mais nos servem de guias para o mundo, mas de biombos;
        • textolatria é o uso continuado de textos que, quando decodificados, não mais nos levam às imagens que fizemos para as ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t
      • e as Imagens técnicas, especiais, aquelas imagens produzidas por aparelhos (computadores em destaque); as Imagens técnicas exigem, para seu entendimento, uma Conceituação especial.(*)

      (*) Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia;
      Capítulos I – A imagem; e II – A imagem técnica,
      de Vilém Flusser 

      Modelos constituintes de modelos
      em cada uma das faixas desse espectro

      Posição relativa modelo de operações - sujeito-objeto

      Aquém

      não há modelos constituintes nesse segmento do espectro, já que, pelos pressupostos adotados (Universo, realidade única) nada é constituído na existência em decorrência das operações feitas

      Diante

      modelo constituinte composto pelo par constituinte correspondente ao campo em que o modelo é formulado, tomados isoladamente em cada área: 

      • Vida (Biologia) –
        [função-norma]; 
      • Trabalho (Economia) –
        [conflito-regra]; 
      • Linguagem (Filologia)- [significação-sistema]

      para Além

      campo das Ciências Humanas com modelos constituintes formados por uma combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, tomados todos em conjunto em cada modelo, dada ênfase a uma das áreas das ciências da região epistemológica fundamental

      (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
      Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

       

      O espectro de modelos, segundo essa possibilidade de sim-fundar, ou não-fundar, as sínteses no espaço da representação: Aquém, Diante e para Além do objeto - os segmentos do espectro de modelos de visões de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t

      O modo como Foucault descreve o problema que encontrou em seu trabalho pode ser mapeado em um espectro de modelos agrupados segundo os dois fatores por ele percebidos:  fator 1, com duas regiões quanto à fundação das sínteses na representação e com três regiões quanto à posição relativa ao objeto e ao sujeito: 
      Aquém, Diante e para Além do objeto. 

      Fundação das sínteses no espaço da representação

      Impossibilidade

      Possibilidade

      Aquém

      do objeto
      (e do sujeito)

      Diante

      do objeto
      (e do sujeito)

      para Além

      do objeto
      (e do sujeito)

      Fator 1 – o domínio/contaminação do pensamento com o uso simultâneo de configurações de pensamento 

      • com a  impossibilidade 
      • e também com a possibilidade,

      de fundar as sínteses da representação da empiricidade objeto, no espaço da representação’; com duas regiões em um espectro de modelos:

      Fator 2 – dar conta da obrigação correlativa (…) de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os “quase-transcendentais”

      com as seguintes regiões no espectro de modelos:

       1. região do espectro: ‘Aquém do objeto’ (na impossibilidade);

       2. região do espectro: ‘Diante do objeto’ (na possibilidade)

        • da Vida, (Biologia) par constituinte função-norma
        • do Trabalho, (Economia) par conflito-regra
        • e da Linguagem. (Filologia) par significação-sistema

       3. região do espectro: ‘para Além do objeto’, (na possibilidade) e no campo das ciências humanas, no espaço interior do triedro dos saberes.

      outra região no espectro de modelos, com modelo constituinte único composto dos três pares constituintes das três regiões epistemológicas fundamentais

      - A pedra de tropeço no caminho de Michel Foucault e
      - Os caminhos (e alterações de rota) de Maturana

      Michel Foucault
      1926-1984

      “É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado 

      • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII, de fundar as sínteses [da empiricidade objeto do pensamento] no espaço da representação;
      • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
        de abrir o 
        campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, para além do objeto, esses “quase-transcendentais” que são para nós a Vida, o Trabalho, e a Linguagem.”  (*)
      Humberto Maturana
      1928-

      “Substituir 

      • a noção de input-output 
      • pela de acoplamento estrutural 

      foi um passo importante na boa direção por evitar a armadilha da linguagem clássica de fazer do organismo um sistema de processamento de informação.
      (…) Contudo é uma formulação fraca por não propor uma alternativa construtiva e deixar a interação na bruma de uma simples perturbação. (…) Frequentemente se tem feito a crítica de que a autopoiese leva a uma posição solipsista. (**)

      (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico: I. As novas empiricidades
      (**) De máquinas e de seres vivos: autopoiese – a organização do vivo; Prefácio à segunda edição; tópico Além da autopoiese; sub-tópico: Enacção e cognição, de Francisco José Garcia Varela

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      Modelo descritivo da produção clássico

      Paleta de ideias ou elementos de imagem
      presentes na configuração de pensamento clássico

      Paleta de ideias ou elementos de imagem presentes na
      configuração de pensamento moderno caminho Construção