slider-01 Convite para pensarmos uma questão: o alinhamento filosófico de modelos de operações e organizações de produção, existentes e muito utilizados.

Faço aqui um convite para compartilharmos o entendimento de modelos de operações e organizações

Vamos precisar de um certo tipo de atitude

um convite a baixarmos nossos pressupostos e adotarmos uma posição mais receptiva

Instaura-se uma certa Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura; modelos de operações e de organizações projetados e construídos com ela ganham arquitetura e estrutura próprias

A forma de reflexão que se instaura em nossa cultura,
e que molda o pensamento com o qual, 'queiramos ou não, pensamos'
a produção, o ensino, os modelos sociais e políticos, e o que mais pensarmos.

Aconteceram conquistas humanas no pensamento, especialmente nos dois últimos séculos e meio,
e também alinhamentos e desalinhamentos entre entendimentos filosóficos e surpreendentemente
retornos a alinhamentos a entendimentos anteriores já superados pelo pensamento

A pedra no caminho de Michel Foucault em seu trabalho no 'As palavras e as coisas':
a) uma impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação; e
b) a abertura do campo transcendental da subjetividade constituindo,
para além do objeto, os quase transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem

Michel Foucault aponta como obstáculos encontrados durante o seu trabalho no ‘As palavras e as coisas’, duas classes de problemas:

  • uma impossibilidade;

de fundar as sínteses [da representação objeto da operação de pensamento] no espaço da representação.

  • e uma obrigação

de abrir o campo transcendental da subjetividade e constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.

A pedra no caminho de Michel Foucault,
e no caminho de qualquer pessoa que busque
o entendimento de operações
em todos os domínios

Veja a animação ao lado: Foucault percebeu essa impossibilidade e essa obrigação, lá pela década de 1960.

Entretanto, essa contaminação do pensamento com o qual queiramos ou não pensamos acontece até hoje.

  1. O pensamento com o qual pensamos, o nosso pensamento, aquele com o qual projetamos modelos de operações e de organizações ainda está contaminado pela primeira classe de problemas – a impossibilidade de fundar as sínteses [da representação objeto das operações de pensamento] no espaço da representação.

     

  2. e a segunda classe de problemas, a obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida. trabalho e Linguagem, via de regra não chega a ter sua necessidade percebida.

 É possível ver isso com alguma clareza nos exemplos abaixo. A única condição é levar em conta a forma de reflexão – aquela que mostramos na animação acima, e perceber que a modelagem terá de ser feita organizada pelo par sujeito-objeto.

Exemplos de falta de alinhamento ao entendimento filosófico mais recente.

o modelo do processo de desenvolvimento de um software usado pela UML;
e uma visão do mesmo modelo agora centrado no objeto 'sistema de software'

O modelo da operação de obtenção de um sistema de software
imaginado como se fora algo sobre a estrutura Input-Output
O modelo da operação de obtenção de um sistema de sofware
agora imaginado centrado no objeto

o modelo FEPSC(SIPOC)/ Six Sigma com elemento central 'Processo';
e o modelo de operação do Kanban formulado sobre uma proposição

O modelo SIPOC (FEPSC) SixSigma
sem espaço em sua estrutura para o par sujeito-objeto
O modelo de operações no caminho do Instanciamento do objeto das operações
com espaço para o par sujeito-objeto e para a formulação da proposição

o modelo de 'atividades' da Texas Instruments, modificado e analizado quanto aos objetos;
o mapa da reengenharia simetrizado dando lugar à visão SSS

correspondência entre o pensamento de David Ricardo e o de Michael Hammer
A visão SSS - Simétrica, Simbiótica e Sinérgica
induzida a partir do Mapa da Reengenharia

slider-00 A história do nascimento do ‘As palavras e as coisas’
contada no Prefácio do livro por Michel Foucault
associada com as imagens dos modelos de operações quando pertinente

Antes de ver estas animações, veja:

A história do nascimento do 'As palavras e as coisas', contada por Foucault no Prefácio do livro

1 - A ideia que deu origem ao livro 'As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas
2 - A imagem que Michel Foucault tinha na cabeça ao escrever o livro
'As palavras e as coisas'
3 - dez (10) pontos selecionados no texto do livro e ilustrados, para contextualizar o Prefácio com o restante do livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'
5 - As duas dificuldades enfrentadas por Michel Foucault
no desenvolvimento deste livro.

slider-02 Funcionamento das operações de pensamento em cada entendimento (configuração)

Funcionamento das operações para cada configuração do pensamento
e segmento do espectro de modelos

operações simplificadas

Aquém do objeto

Operação de pensamento no período clássico, antes de 1775; simplificada

Diante do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho da Construção da representação:
'modo de ser fundamental'
sim, muda; simplificada

 Além do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação:
'modo de ser fundamental'
não muda; simplificada.

operações mais detalhadas

Aquém do objeto

Operação de pensamento no período clássico, antes de 1775;
visão mais completa

Diante do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho da Construção da representação:
'modo de ser fundamental'
sim, muda; visão mais completa.

 Além do objeto

Operação de pensamento no período moderno, depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação:
'modo de ser fundamental'
não muda; visão mais completa.

Aquém do objeto;

  • sem espaço para o homem em sua duplicidade de papéis; 
  • elemento central Processo;
  • ‘Circuito das trocas’ (mercado) é o lugar onde ocorre a operação;
  • sistema: relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si (Input-Output 
  • formulação reversível até imediatamente antes do instanciamento da representação; 
  • tempo calentário, ou tempo relativo.

Diante do objeto;

  • caminho da Construção da representação

Sistema correspondente a ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades‘ nas palavras de Foucault, 

    • com espaço para o homem em sua duplicidade de papéis; 
    • elemento central Forma de produção; 
    • ‘Lugar do nascimento do que é empírico’ é o espaço onde ocorre a operação
    • sistema absoluto com alteração no ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação entre o antes e o depois da operação;
    • inclusão do resultado da operação – a representação recém construída – no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua;
    • formulação irreversível até imediatamente antes do instanciamento da representação; 
    • tempo absoluto no sentido de não relativo. Tempo em que as coisas aconteceram no absoluto, como a isso se refere Foucault.

       

  • caminho do Instanciamento da representação

Sistema ainda correspondente a ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades, mas com uma característica importante:

    • ‘Circuito das trocas’ (mercado) é o espaço onde a operação transcorre;
    • o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto da operação de instanciamento não muda. Isso torna a operação muito semelhante à operação no pensamento clássico, podendo até ser confundida com ele.

para Além do objeto

Operações de obtenção do objeto esperado e simultaneamente, a do instrumento (laboratório, Fábrica) requerido para essa obtenção.
Desenvolvimento de uma operação
SSS - Simétrica, Simbiótica e Sinérgica

Sistema com estrutura SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica, que opera no campo das ciências humanas, e funciona pelo relacionamento dos dois sistemas, o que tem como resultado o ‘produto’, ou objeto que interessa ao Cliente, ao mesmo tempo em que considera o sistema que tem como resultado o ‘benefício’, ou o objeto que interessa ao patrocinador das operações de produção, levando em conta dessa forma, o Nexo das operações.

A animação acima é feita tendo em mente a modelagem organizada pelo par sujeito-objeto, e procurando fugir ao pensamento mágico, aquela que pensa na obtenção do objeto esperado (produto) sem pensar, ou pensando de modo não discriminativo, no objeto (instrumento) capaz de obtê-lo no ambiente.

O tempo em operações no pensamento filosófico de antes e de depois da DE-1775-1825

O tempo em modelos de operações feitos nas configurações do pensamento:
clássico (antes de 1775) e moderno (depois de 1825)

Tempo sob o pensamento clássico, o de antes de 1775;
e sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, nos caminhos da Construção e do Instanciamento da representação

Pensamento clássico, o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825:

O tempo em modelos de operações na configuração do pensamento:
clássico (o de antes de 1775)

tempo calendário, relativo
em operações feitas sob o pensamento clássico

Modo de ser fundamental de uma empiricidade objeto de operação em um dado ambiente e domínio é aquilo que permite que essa empiricidade objeto possa ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história.

formulação da representação é reversível até o desencadeamento do seu instanciamento;

tempo relativo, calendário, nas operações de instanciamento da representação sob o pensamento clássico, com o deus Chronos

Pressuposto:

A existência precede a distinção

feita na operação

todas as coisas existem desde sempre e para sempre integrando o Universo.

a operação transcorre no interior do ‘Circuito das trocas‘, também conhecido como ‘Mercado‘, e no interior do domínio do Discurso e da Representação;

e trabalha exclusivamente com propriedades
não-originais e não-constitutivas das coisas.

o conceito ‘modo de ser fundamental‘ das empiricidades (veja ao lado esse conceito segundo Foucault) não muda durante a operação.

  • pensando desse modo, todas as propriedades das coisas existem antes, – e mesmo depois de todas as operações do mesmo modo que eram antes;
  • nesse modo de pensar operações não há interesse especial nas propriedades sim-originais e sim-constitutivas do que quer que seja, já que tudo é dado como pré-existente à operação;
  • a operação de construção de representação do que quer que seja não faz parte desta maneira de pensar;
  • a formulação de representação em uma dada operação limita-se à combinação de duas outras representações pré-existentes;
  • durante a formulação, o elemento central ‘Processo‘ é configurado usando elementos, -processos, tasks – encontrados no interior da categoria da ordem arbitrária que guarda similitude com o caráter das propriedades não-originais e não-constitutivas “aparências” definidoras do pacote de coisas chamado ‘Entradas’.

Então, sobre o tempo nessa operação:

  • a formulação desse tipo de operações é reversível;
  • dada a inserção calendário do evento (i) de início da operação de instanciamento da representação (r), previamente formulada, existem todas as propriedades dessa representação antes e depois da operação;
  • com base nessas informações disponíveis a qualquer tempo, é possível calcular a inserção calendário do evento (f) sabendo-se a inserção calendário do evento (i);
  • inversamente, com a inserção do evento (f) em uma posição calendário arbitrária é possível calcular a inserção calendário de (i).

O tempo assinalado pelos eventos de processo (i) e (f) recebe o nome de tempo relativo,ou tempo calendário por essa razão. Sempre existe um fator K que permite calcular a inserção calendário de um evento (i) ou (f) dada a inserção calendário do outro evento (f) ou (i).

Pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825:

O tempo em modelos de operações na configuração do pensamento:
moderno (o de depois de 1825), no caminho da Construção da representação

Tempo absoluto na operação de construção
de representação para empiricidade objeto nova

Modo de ser fundamental de uma empiricidade objeto de operação em um dado ambiente e domínio, é aquilo que permite que essa empiricidade objeto possa ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história.

a formulação da operação de construção de representação é irreversível intrinsecamente, desde o primeiro momento após a decisão de construir representação nova para a empiricidade objeto, marcada pelo evento de objeto (i) – seta amarela para baixo na figura;

tempo absoluto – que marca aquele tempo em que as coisas aconteceram no absoluto, no dizer de Foucault;  na operação de construção de representação nova sob o pensamento moderno,com o deus Kairos.

Pressuposto:

A existência sucede a distinção

distinção feita na operação;

as coisas passam a existir tão logo o inarticulado, o indizível, o impensado, a visão o limite da estratégia, o horizonte do pensamento, ou qualquer outro nome para significar isso, ganhe suporte na experiência.

a operação transcorre no interior do
Lugar de nascimento do que é empírico‘, que nada tem a ver com o Mercado, ou Circuito onde ocorrem as trocas,

e no interior dos dois domínios:

  • do Pensamento e da Língua; e
  • do Discurso e da Representação;

e trabalha exclusivamente com propriedades sim-originais e sim-constitutivas das coisas, obtidas pelas buscas por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites.

o conceito ‘modo de ser fundamental‘ das empiricidades (veja o conceito ao lado) sim, muda durante a operação, e é a própria evidência aparente do resultado com sucesso da operação que conseguiu definir a empiricidade objeto com propriedades originais e constitutivas, e ainda, com suporte na experiência..

  • pensando desse modo, todas as propriedades das coisas – empiricidades objeto – novas não existem,  antes de todas as operações (e por óbvio, também não existem no depois delas ao tempo de seu inicio, no evento (i) seta amarela para baixo;
  • o escopo precípuo da operação é justamente obter as propriedades sim-originais e sim-constitutivas da empiricidade objeto da operação, já que sob essa visão de mundo há múltiplas realidades;
  • operação de construção de representação para a empiricidade objeto desta operação é o principal objetivo desta maneira de pensar;
  • a formulação de representação em uma dada operação implica a busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, nesse domínio e nesse ambiente, para a empiricidade objeto da operação;
  • durante a formulação da operação, o elemento central ‘Forma de produção‘ é configurado com elementos de suporte na experiência (processos, tasks), desenvolvidos especialmente como resultado das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, ou ainda, recuperados quando encontrados no Repositório existente nesse ambiente;

Então, sobre o tempo nessa operação:

  • a formulação desse tipo de operações é irreversível;
  • dada a inserção calendário do evento (i) de início da operação de construção de representação nova, todas as propriedades dessa representação antes e depois da operação, sejam elas originais e constitutivas ou não, são inexistentes porque a própria representação não existe;
  • feita a decisão de construir representação nova para determinada empiricidade objeto, existe apenas uma arquitetura básica comum a todas as representações, composta por dois espaços, um para o ‘operar’ atribuído ao objeto em representação, e outro para o suporte na experiência para esse operar;
  • com base nessas informações disponíveis (nenhuma, a menos da arquitetura) é impossível calcular – tendo como base propriedades da representação inexistente – a inserção calendário do evento (f) sabendo-se a inserção calendário do evento (i);
  • inversamente, com a inserção de (f) – e mesmo supondo que a operação de construção da representação tenha sido realizada com sucesso – também é impossível calcular a inserção calendário de (i) porque o intervalo de tempo i-f depende das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, o que é completamente independente da representação construída.

  • Nota: (i) e (f) aqui representados pelas setas amarelas voltadas para baixo na figura, são eventos de início e fim da operação de construção da representação para a empiricidade objeto; totalmente distintos dos eventos também (i) e (f) mas dos processos de suporte na experiência à Forma de produção.

O tempo assinalado pelos eventos de processo (i) e (f) recebe o nome de tempo absoluto, ou como diz Foucault, trata-se daquele tempo em que as coisas aconteceram no absoluto. Nunca existe um fator K que permite calcular a inserção calendário de um evento (i ou f) dada a inserção calendário do outro evento (f ou i). Veja por que:

Quando posicionados em (i) exatamente no início da operação no caminho da Construção da representação, não existem propriedades da representação nova, e portanto não há elementos para cálculo da posição calendário do evento (f);

Quando posicionados em (f), ao final da operação de construção da representação para a empiricidade objeto sim, já existem todas as propriedades da representação, sejam as originais e constitutivas sejam as não-originais e não-constitutivas. Essas propriedades podem então ser usadas para uma estimativa da inserção calendário do evento (i) a partir da inserção calendário do evento (f), mas o resultado coincidirá com a posição calendário desse evento (i) apenas por uma formidável coincidência, porque o intervalo de tempo entre os eventos de objeto (i) e (f) depende das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, e nada têm a ver com propriedades da representação.

O tempo em modelos de operações na configuração do pensamento:

moderno (o de depois de 1825), no caminho do Instanciamento da representação

Tempo relativo na operação de Instanciamento de representação recuperada do Repositório.

Modo de ser fundamental de uma empiricidade objeto de operação em um dado ambiente e domínio, é aquilo que permite que essa empiricidade objeto possa ser afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história.

a formulação da operação de instanciamento de representação de empiricidade objeto volta a ser reversível intrinsecamente; desde o primeiro momento após a decisão de instanciar representação pré-existente no Repositório, marcada pelo evento (i) – ícone raio na figura;

o tempo volta a ser relativo, tempo calendário – não marca mais  aquele tempo em que as coisas aconteceram no absoluto porque tudo o que havia para acontecer no tempo absoluto para essa representação em instanciamento já ocorreu antes que ela fosse acrescentada ao Repositório – na operação de instanciamento de representação recuperada do Repositório e a operação transcorre ainda sob o pensamento moderno, mas desta vez com o deus Chronos.

Pressuposto:

A existência sucede a distinção

feita na operação;

Porém durante a operação de instanciamento de representação, que pressupõe a recuperação dessa representação anteriormente construída, desde o Repositório existente nesse domínio e ambiente, não haverá qualquer alteração no ‘modo de ser fundamental’ para essa empiricidade objeto em instanciamento e a operação transcorre toda no interior do ‘Circuito das trocas‘, ou no âmbito do famoso (Mercado), 

Isso se dá no interior do domínio único 

  • do Discurso e da Representação;

e pode lidar exclusivamente com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas; ou ainda, lidar com as propriedades originais e constitutivas, caso a operação de instanciamento seja organizada com a estrutura moderna de pensamento.

o conceito ‘modo de ser fundamental‘ das empiricidades (veja o conceito ao lado) não muda durante a operação de instanciamento, e ao final da operação, a empiricidade objeto tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ que tinha ao ser incluída no Repositório, do qual foi recuperada.

  • pensando desse modo, todas as propriedades da empiricidade objeto da operação de Instanciamento sim, existem,  antes e depois da operação, porque não se alteram com esta;
  • e o escopo precípuo da operação é obter a empiricidade objeto da operação, instanciada, e disponível para tratamentos posteriores, inclusive submissão ao Mercado;
  • a formulação de operação de Instanciamento é reversível, porque é feita pela seleção da representação da empiricidade objeto a partir do Repositório;
  • durante a formulação, o elemento central ‘Forma de produção‘ é configurado com elementos de suporte na experiência (processos, tasks), desenvolvidos especialmente como resultado das operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, ou ainda, encontrados no Repositório existente nesse ambiente;

Então:

  • dada a inserção calendário do evento (i) de início da operação de construção de representação nova, existem todas as propriedades dessa representação antes e depois da operação, sejam elas originais e constitutivas ou não;
  • feita a decisão de instanciar representação para determinada empiricidade objeto, ainda existe uma arquitetura básica comum a todas as representações, composta por dois espaços, um para o ‘operar’ atribuído ao objeto, e outro para o suporte na experiência para esse operar; apenas que esses dois domínios estão preenchidos pelos elementos da representação;
  • com base nessas informações disponíveis (todas as possíveis) é novamente possível calcular – tendo como base propriedades da representação existente – a inserção calendário do evento (f) sabendo-se a inserção calendário do evento (i); (de modo semelhante ao que ocorria no pensamento clássico)
  • inversamente, com a inserção de (f) – e mesmo supondo que a operação de instanciamento da representação tenha sido realizada com sucesso – também é possível calcular a inserção calendário de (i) porque o intervalo de tempo i-f depende, agora, do funcionamento dos elementos de suporte na experiência da Forma de produção,  o que é completamente dependente das propriedades da representação em instanciamento.

O tempo assinalado pelos eventos de processo (i) e (f) recebe o nome de tempo relativo, ou tempo calendário. Sempre existe um fator K que permite calcular a inserção calendário de um evento (i ou f) dada a inserção calendário do outro evento (f ou i).

5.2 A segunda sintaxe: a que autoriza a manter juntas as palavras e as coisas

A segunda sintaxe: a que autoriza a manter juntas,
ao lado e em frente umas das outras, as palavras e as coisas

A sintaxe que organiza os objetos análogos criados pelo método Analise
e os posiciona uns em relação aos outros, em uma hierarquia, com o método Síntese.

Praticamente não existe representação para empiricidade objeto que seja representável por um único objeto análogo.

Representações são o resultado dos princípios organizadores Analogia e Sucessão utilizando os métodos Análise e Síntese. 

O objeto composto ‘Sucessão de analogias’ referido por Foucault, ilustra os efeitos dos princípios organizadores Analogia e Sucessão por meio dos métodos Análise e Síntese.

“De sorte que se vêem surgir, como princípios organizadores desse espaço de empiricidades,

  • a Analogia
  • e a Sucessão:

de uma organização a outra, o liame, com efeito, não pode mais ser a identidade de um ou vários elementos, mas a identidade da relação entre os elementos (onde a visibilidade não tem mais papel) e da função que asseguram; ademais, se porventura essas organizações se avizinham por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem localizações próximas num espaço de classificação, mas sim porque foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra no devir das sucessões. Enquanto, no pensamento clássico, a seqüência das cronologias não fazia mais que percorrer o espaço prévio e mais fundamental de um quadro que de antemão apresentava todas as suas possibilidades, doravante as semelhanças contemporâneas e observáveis simultaneamente no espaço não serão mais que as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede de analogia em analogia. A ordem clássica distribuía num espaço permanente as identidades e as diferenças não-quantitativas que separavam e uniam as coisas: era essa a ordem que reinava soberanamente, mas a cada vez segundo formas e leis ligeiramente diferentes, sobre o discurso dos homens, o quadro dos seres naturais e a troca das riquezas. A partir do século XIX, a História vai desenrolar numa série temporal as analogias que aproximam umas das outras as organizações distintas. É essa História que, progressivamente, imporá suas leis à análise da produção, à dos seres organizados, enfim, à dos grupos lingüísticos. A História dá lugar às organizações analógicas, assim como a Ordem abria o caminho das identidades e das diferenças sucessivas.

Mas vê-se bem que a História não deve ser aqui entendida como 

  • a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

ela é

  • o modo de ser fundamental das empiricidades,

aquilo a partir de que elas são afirmadas, postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.”

As palavras e as coisas:
uma arqueologia das ciências humanas;
Capítulo VII – Os limites da representação;
tópico I. A idade da história

5.1 A primeira sintaxe: a que autoriza a construção das frases

A descrição feita por Michel Foucault dessas duas possibilidades simultâneas de leitura da operação, e de posicionamento do pensamento com relação a análise de valor

a extensão e abrangência dessas leituras em termos do fenômeno modelado

Veja aqui a descrição feita por Michel Foucault de duas possibilidades de leitura abertas para o pensamento, simultaneamente, para entender operações e valor a partir da linguagem, e a primeira sintaxe mostrada a seguir.

A primeira sintaxe: a que autoriza a construção das frases

visão de conjunto da primeira sintaxe, a da construção de frases

Preposições: Enunciativa, Explicativa e Instanciativa,
no modelo de operações do pensamento moderno

no pensamento filosófico clássico, antes de 1775

A sintaxe na operação, sob o pensamento clássico

Estamos no pensamento clássico, o de antes de 1775.

Aqui, no dizer de Foucault no Prefácio do ‘As palavras e as coisas’, a linguagem encontra-se secretamente solapada.

Há aqui a suspeita de que os modelos de operações estão expostos ao perigo maior:

  • maior do que a desordem produzida pelo incongruente e pela aproximação do que não convém;
  • seria a desordem que faz cintilar um grande número de ordens possíveis na dimensão sem lei nem geometria do heteróclito.

e importa entender esta palavra ‘heteróclito’ no sentido mais próximo de sua etimologia: as coisas aí são “deitadas “, “colocadas “, “dispostas” em lugares a tal ponto diferentes, que é impossível encontrar-lhes um espaço de acolhimento, definir por baixo de umas e outras um lugar comum.

pensamento filosófico moderno, o de depois de 1825,
no caminho da Construção da representação

Efeitos da sintaxe que autoriza a construção das frases

antes do início da operação: proposição enunciativa

Proposição Enunciativa da representação em construção
antes do início da operação de construção da representação.

Estamos no pensamento moderno, o de depois de 1825, e portanto após a descontinuidade epistemológica de 1775-1825 assinalada por Michel Foucault.

Modelos sob esta configuração do pensamento são organizados sob ordem única: a das regras da linguagem tendo como bloco padrão genérico e fundamental para construção de representações a proposição.

O perfil de conceitos sob essa ordem e nessa forma de reflexão instaurada, é:

  • referencial: a utopia do pensamento ainda não articulado;
  • princípios organizadores: Analogia e sucessão;
  • métodos: Análise e Síntese.

Antes do início da operação no caminho da Construção da representação todas as propriedades originais e constitutivas da representação em construção ainda não existem.

Nessa situação a sintaxe que autoriza a construção de frases somente pode construir uma proposição enunciativa da operação, já que os elementos de suporte na experiência à Forma de produção não existem.

 

ao final com sucesso da operação: proposição explicativa

Proposição Explicativa do operar requerido pela representação em construção no caminho da Construção da representação

Com o sucesso da operação de construção da representação, depois da operação, todas as propriedades da representação construída, sejam elas as originais e constitutivas, sejam as “aparências” passam a existir.

A representação da empiricidade objeto da operação que acaba de ser construída, se aceita como boa para representá-la, é acrescentada ao Repositório de proposições explicativas da experiência, formuladas de acordo com as regras da linguagem.

A sintaxe que autoriza a construção de frases acaba de formular uma proposição explicativa do operar requerido para a empiricidade objeto.

no pensamento filosófico moderno, depois de 1825,
no caminho do Instanciamento da representação

indiferentemente, tanto antes ou depois da operação: proposição instanciativa

Proposição Instanciativa de representação previamente existente no Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua.

O pré-requisito para a operação de instanciamento de representação da empiricidade objeto é que tal representação existe no repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da linguagem.

A primeira providência então é questionar o repositório quanto a esse fato, e caso positivo, recuperar a representação adequada.

Assim que recuperada do repositório para instanciamento, a representação se apresenta com todas as suas propriedades, originais e constitutivas ou “aparências”.

Assim, essas propriedades existem imediatamente antes do ponto de início da operação de instanciamento, e nesse instante, existem também para o instante de fim da operação de instanciamento – caso esta tenha sucesso.

Não há alteração no ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto no caminho do Instanciamento da representação.

A sintaxe que autoriza a construção de frases acaba de formular uma proposição instanciativa.

Propriedades emergentes – Fluxo ou Permanência –
e elementos principais das operações em função do perfil do pensamento

Propriedades emergentes em cada modelo de operações
e elementos de imagem principais

Propriedade emergente do modelo de operações no pensamento clássico, o de antes de 1775
no interior do Circuito das trocas (Mercado)

Modelo de operação clássico sobre o sistema Input-Output
propriedade emergente Fluxo
Ideias importantes nesse modelo clássico
  • formulação da operação é reversível até o desencadeamento do evento (i):
  • domínio do Discurso e da Representação
  • tempo nessa operação é calendário, no sentido de tempo relativo:
  • operação transcorre no interior do Circuito das trocas(mercado):
  • propriedade emergente FLUXO:
  • (a) e (b) são representações pré-existentes;
  • Ordem arbitrária selecionada ou um sistema de categorias;
  • Circuito das trocas: indicado pela chave amarela;
  • (r) é uma representação combinação de (a) e (b);
  • Propriedades não-originais e não-constitutivas ou “aparências” todas existentes antes da operação.
  • não existe a noção de objeto definido por propriedades originais e constitutivas;
  • não existe a noção de sujeito uma vez que todas as coisas são pré-existentes desde sempre e para sempre.

Propriedades emergentes dos modelos de operações no pensamento moderno, o de depois de 1825

no caminho da Construção da representação,
no interior do Lugar do nascimento do que é empírico

  • formulação da operação é irreversível desde o início da operação de construção da representação:
  • domínios do Pensamento e da Língua e do Discurso e da Representação:
  • tempo nessa operação é absoluto, no sentido de não ser um tempo relativo (deus Kairós):
  • operação transcorre toda no interior do Lugar de nascimento do que é empírico:
  • propriedade emergente é PERMANÊNCIA (da representação no Repositório)
  • Pensamento não articulado, visão, 
  • Lugar de nascimento do que é empírico
  • Forma de produção e elementos de suporte
  • Coleção de analogias organizadas por Sucessão

 

  • Sujeito da operação – homem no seu 1º papel de raiz de toda positividade;
  • Objeto da operação em dois estados sucessivos
  • Propriedades originais constitutivas nos 2 estados
Modelo de operação moderno, no caminho da Construção da representação
Ideias importantes nesse modelo moderno
no caminho da Construção da representação

no caminho do Instanciamento da representação,
novamente no interior do Circuito das trocas (Mercado)

Modelo de operação moderno, no caminho
do Instanciamento da representação
Ideias importantes nesse modelo moderno
no caminho do Instanciamento da representação
  • formulação da operação de instanciamento é reversível novamente:
  • domínio do Discurso e da Representação:
  • tempo nesta operação de instanciamento volta a ser relativo, calendário:
  • operação transcorre toda no interior do Circuito das trocas:
  • propriedade emergente volta a ser FLUXO:
  • Circuito das trocas
  • Busca por origem, possibilidade, generalidade, limites
  • Propriedades originais, etc. bem como “aparências”
  • Repositório de proposições explicativas formuladas de acordo com as regras da língua com a representação objeto de instanciamento antes da operação.

Tabela de Propriedades de cada uma das duas configurações do pensamento

3. Os caminhos (e alterações de rota) de Humberto Maturana
em De Máquinas e de seres vivos

Os caminhos (e alterações de rota) de Humberto Maturana Romesin

objeções e propostas de Maturana: resposta de Varela a críticas recebidas

A pedra fundamental do pensamento de Maturana:

No final dos anos 1950, bem no início do seu trabalho, Maturana fazia:

  • objeções ao ‘fazer’ dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos 1950;
  • propostas de alterações na modelagem dos fenômenos biológicos.

Vinte anos depois,  Francisco Varela considerava procedentes algumas das críticas recebidas ao seu trabalho conjunto com Maturana, a autopoiese.

A formulação do pensamento, feita por Humberto Maturana

A Figura 2 Diagrama ontológico
ou O explicar e a experiência,
de Humberto Maurana

Esta é a Figura 2 de Maturana, que utilizamos como uma plataforma de exposição das imagens que construímos para alguns conceitos encontrados no ‘As palavras e as coisas’.

Ela está em:

  • Figura 2 – Diagrama ontológico no capítulo Reflexões epistemológicas do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana; e ainda
  • Figura 2 – O Explicar e a experiência, no capítulo Linguagem, Emoções e Ética nos afazeres políticos do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política; (conforme original de Maturana).

Vamos usar essa figura para mostrar as paletas de ideias ou elementos de imagem requeridos para modelagem das operações de um e de outro lado da figura de acordo com o entendimento adotado, ou a episteme utilizada pelo pensamento

Objeções 

Operação na Figura 2 – LE-pensamento clássico:
sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade
das coisas entre si

Objeções de Maturana ao 'fazer'
dos pesquisadores em AI
do MIT de sua época

As objeções
 feitas por Maturana,
bem no início do seu trabalho,
ao modo como os pesquisadores em IA do MIT
faziam seus modelos
– inspirados nos modelos biológicos –
pelo que eles mesmos diziam, segundo Maturana,
são fundamentadas
no modo como funciona o pensamento filosófico clássico,
o de antes da descontinuidade epistemológica
ocorrida entre 1775 e 1825
no relato de Michel Foucault.

Por favor veja isso na animação:

Propostas

Operação na Figura 2 – LD – pensamento moderno:
sistema absoluto de articulação do impensado
com um objeto análogo passível de representação.

Propostas de Maturana para correção
do que ele via como um erro de modelagem

Ao mesmo tempo,
as propostas
que ele fez nesse início do seu trabalho,
para resolver esse problema
são totalmente consistentes com o pensamento de David Ricardo, um pensador marcadamente de depois desse evento fundamental em nossa cultura.

Os dois blocos do ‘dizer’ de Maturana
na operação de Explicar com Reformular, no lado direito da figura, um para o Operar e outro para o Suporte ao operar, correspondem à mesma separação que 
David Ricardo
fez e incorporou ao seu

  Princípio Dual de Trabalho, de 1817.

 

Note que a formulação feita para Trabalho por Ricardo é claramente construtiva e também faz a separação entre dinâmica e suporte à dinâmica –
os dois blocos imaginados por Maturana.

Veja em Conceitos homônimos mas com significados diferentes

o ponto 0.0 As duas leituras do fenômeno ‘operações’ e respectivas possibilidades de análise de valor.

Verá que essa visão de Maturana que dava sustentação às propostas que fazia para alterações que ele via necessárias nos modelos de então tem sustentação na segunda leitura de ‘operações’, na qual o ponto de inserção da análise está situado antes da disponibilidade dos objetos dado e recebido na troca. 

Análise de críticas à autopoiese, feitas por Francisco J. G. Varela

críticas à autopoiese aceitas e comentadas
por Francisco J. Garcia Varela

Entretanto há algo surpreendente
no livro

‘De máquinas e de seres vivos:
Autopoiese – a Organização do vivo;

Prefácio à segunda edição;
tópico: Além da autopoiese;

sub-tópico: Enacção e cognição,
de autoria de Francisco Varela.

A surpresa está em que
entre as críticas à autopoiese que Francisco Varela
aceita como procedentes
está a que afirma que a autopoiese
tem formulação fraca,
explicando ele, que a formulação 
é dada por fraca porque é não-construtiva, problema que seria resolvido futuramente pelo desenvolvimento então em curso denominado Enacção.

Mas a formulação construtiva é requerida desde as propostas de solução dos problemas percebidos, por Maturana.

comentários

O que terá acontecido com
 
– o bloco do Operar e o bloco do Suporte ao operar 
 no interior da operação de Explicar com Reformular ;

 e,  agora na própria representação
da empiricidade objeto da modelação

o Ser vivo no caso de Maturana,

 com os dois domínios,
 
– o domínio do Operar, na representação,
correspondente ao bloco do Operar
na operação de Explicar com Reformular

– e o domínio do Suporte ao operar, na representação,
correspondente ao Bloco do Suporte ao operar
na operação de Explicar com Reformular
imaginados por Maturana?

Este é um dos modos de ver a pergunta
que este estudo pretende responder
com a ajuda de Michel Foucault.

2. Imaginação e Conceituação: relação reversível entre
textos – imagens – ocorrências no espaço-tempo.
Imagens tradicionais e técnicas, classes de abstrações
segundo Vilém Flusser em Filosofia da caixa preta

Imaginação e Conceituação: funções humanas reversíveis
no caminho [Ocorrências no espaço-tempo] - [Imagens] - [Textos]

vilem
Vilém Flusser 1920-1991

Imaginação e Conceituação são propriedades humanas reversíveis com as quais codificamos e decodificamos imagens e textos para ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t: imaginação, imagens, conceituação, textos, e as imagens técnicas (com conceituação especial), aquelas imagens produzidas por aparelhos; segundo Vilém Flusser

O circuito ida e volta possibilitado por funções
Imaginação e Conceituação reversíveis

A interpretação dos nossos textos precisa levar-nos de volta às imagens das quais provieram, e estas, as imagens, quando decodificadas, devem nos levar à ocorrência no espaço-tempo que representam.

Se isso não ocorrer, estaremos diante:

  • da idolatria

– o uso de imagens que, quando decodificadas, não mais recuperam as respectivas ocorrências espacio-temporais, e

  • da textolatria,

– o uso de textos que continuam em uso mesmo que, quando decodificados, são incapazes de reconstituir as imagens das ocorrências no espaço-tempo a que deveria corresponder.

Vamos utilizar como método as recomendações de Vilém Flusser, para – com a criação de imagens relacionadas a conceitos de Foucault encontrados no ‘As palavras e as coisas’ permitir a compreensão do conceito pela redução do alto grau de abstração que ele apresenta enquanto texto.

Você pode ver o efeito dessa medida – como exemplo – nos seguintes conceitos existentes tanto sob o pensamento clássico quanto no moderno:

  • as duas leituras do fenômeno ‘operações’ e respectivas possibilidades de análise de valor;
  • conceito para o que seja um Verbo’;
  • conceito para o que seja ‘Classificar’;
  • os dois papéis atribuídos ao homem sob o pensamento moderno, e ausência deles no clássico;
  • os dois tipos de reflexão característicos do pensamento clássico e do moderno;
  • as duas sintaxes envolvidas na construção de representações novas sob o pensamento moderno;
  • os dois conceitos para História;
  • os dois modos de carregamento de valor pela ‘proposição’, segundo as possibilidades de leitura. 

Imagens
tradicionais

As imagens tradicionais

Imagens
técnicas

As imagens técnicas

Classes
de abstrações

classes de abstrações:
Graus da abstração;
Dimensões próprias a cada caso
Seu comentário, por favor
    Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes - abrangências muito diferentes

    Exemplo de descompasso entre visão de operações
    e paleta de ideias (ou elementos de imagem)

    Modelagem orientada pelo par sujeito-objeto para
    a Fig. 7.1 Mapa da 'atividade' semicondutores da Texas Instruments

    Visão SSS - Simétrica, Simbiotica e Sinérgica
    para modelo de operações orientado pelo par sujeito-objeto

    Proposição enunciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
    designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção inexistentes; linguagem de ação ou raiz não contém a representação para essa empiricidade objeto
    Proposição explicativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
    designações primitivas ativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
    Proposição instanciativa: pensamento moderno, caminho da Construção da representação
    designações primitivas inativas; elementos de suporte da Forma de produção existentes e ativados; linguagem de ação ou raiz sim contém a representação para essa empiricidade objeto
    recuperada desde o Repositório para objeto desta operação
    ]
    Caos como um tipo de ordem instável
    em que as sequências temporais são muito complexas e revelam estruturas
    que nos permitem melhor entender o mundo que nos cerca

    Designações primitivas
    (inoperantes no Instanciamento) 

    Representação objeto do Instanciamento
    recuperada do Repositório

    Ambiente de onde são importados 
    os recursos e insumos de todos os tipos,
    consumidos durante o Instanciamento

    Circuito das trocas 
    operação inteiramente no interior do
    Domínio do Discurso e da Representação

    Circuito das trocas 
    operação inteiramente no interior do
    Domínio do Discurso e da Representação

    Representação da empiricidade 
    objeto da operação de Instanciamento
    recuperada do Repositório, antes da operação

    Representação da empiricidade   
    objeto da operação de Instanciamento
    recuperada do Repositório, depois da operação

    Propriedades da empiricidade 
    objeto da operação de Instanciamento
    idênticas às da representação recuperada do Repositório,
    antes da operação

    Propriedades da empiricidade  
    objeto da operação de Instanciamento
    idênticas às da representação recuperada do Repositório,
    depois da operação

    Operação de instanciamento de representação
    de empiricidade objeto pré-existente no Repositório
    (sem alteração no modo de ser fundamental da empiricidade)

    Processos, atividades, tasks
    suporte da Forma de produção
    desencadeados durante a operação de instanciamento

    Evento (i) de início
    da operação de instanciamento
    da representação da empiricidade objeto

    Evento (f) de fim  
    da operação de instanciamento
    da representação da empiricidade objeto

    Operação de instanciamento ocorre
    sem alteração  no modo de ser fundamental
    da empiricidade objeto

    Operação de instanciamento ocorre
    sem alteração  no modo de ser fundamental
    da empiricidade objeto

    Domínio do Discurso e da Representação
    (perfil amarelo)

    Domínio do Pensamento e da Língua
    (perfil vermelho)

    Visão, utopia,
    limite da estratégia, etc

    Homem
    na posição de sujeito

    Compromisso de obtenção 
    da representação para esta empiricidade objeto

    Operação transcorre
    com alteração do modo de ser fundamental
    da empiricidade objeto

    Empiricidade objeto
    (antes da operação)

    Propriedades da empiricidade objeto
    sim e não originais constitutivas
    (inexistentes antes da operação)

    Propriedades da empiricidade objeto
    sim e não originais constitutivas
    (existentes depois da operação) 

    Designações primitivas
    (ativas e parte da origem da linguagem)

    Repositório
    linguagem de uso

    Evento de início da operação
    de construção da representação
    para a empiricidade objeto

    Evento de fim da operação
    de construção da representação
    para a empiricidade objeto

    Empiricidade objeto 
    (depois da operação) 

    Forma de produção
    (elemento central do modelo de operação)

    Processos, atividades, tasks
    como elementos de suporte
    à Forma de produção

    Sucessão de analogias
    coleção relacionada de objetos análogos
    que compõem representação em construção

    Lugar de nascimento do que é empírico

    Lugar de nascimento do que é empírico

    Domínio do Discurso e da Representação
    (perímetro amarelo)

    Domínio do Pensamento e da Língua 
    (perímetro vermelho)

    Representação A
    (pré-existente)

    Representação B
    (pré-existente)

    Quadro ordenado
    (ordem arbitrária selecionada)

    Categoria selecionada na ordem arbitrária
    que guarda similitude com aparências

    Representação R 
    (composição de (a) e (b), pré-existentes)  

    Circuito das trocas 

    Domínio do Discurso e da Representação 

    Domínio do Discurso e da Representação

    Circuito das trocas

    Pacote de coisas
    selecionadas por "aparências" 
    Entradas

    Evento (i) de início
    do instanciamento de (r)  

    VC - Volume de controle
    espaço orientado onde ocorre a operação

    Evento (f) de final
    do instanciamento de (r)

    Propriedades "aparências" 
    não-originais e não-constitutivas das coisas
    existentes antes da operação

    Propriedades "aparências" 
    não-originais e não-constitutivas das coisas
    existentes depois da operação

    Pacote de coisas
    selecionadas por "aparências" 
    Saídas 

    Paleta de ideias ou elementos de imagem
    presentes na configuração de pensamento clássico

    Las meninas, Diego Velázquez, 1656; óleo sobre tela; Museu do Prado, Madrid, Espanha

    O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

    a proposição no pensamento clássico
    ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca
    a proposição no pensamento moderno: ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca
    ECA-moderno
    Características do pensamento moderno
    o de depois de 1825
    ECA-Clássico
    Características do pensamento clássico
    o de antes de 1775
    homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775,
    considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
    como um gênero, ou uma espécie
    os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
    no livro 'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
    caminho do Instanciamento da representação, com valor já atribuído;
    que tem início novamente no interior do Circuito das trocas
    fontes de valor para a representação em construção: a) designações primitivas; b) linguagem de ação ou taiz.

    Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    do pensamento
    funcionamento das operações no pensamento clássico
    Modelo de
    Operação de produção
    relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
    e o sistema Input-Output
    do LE da figura.
    Modelo da 
    Organização de produção
    Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
    múltiplos sistemas de categorias
    Modelo de operações
    e de organização
    Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
    Modelo de  Operação
    contábil-financeira
    O modelo de operação
    no sistema contábil-financeiro
    Modelo da  Organização
    ponto de vista financeiro
    a organização no sistema contábil-financeiro

    Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    de operação do pensamento
    O funcionamento das operações no pensamento moderno
    Modelo de
    Operação de produção
    relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e 'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'
    Modelo da 
    Organização de produção
    o modelo de organização 'Mapa da atividade semicondutores', da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
    O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
    instanciamento de representação
    O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
    do movimento Reengenharia

    O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

    Assim, estes três pares,

    • função e norma,
    • conflito e regra,
    • significação e sistema,

    cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

    Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

    • do nível da psicologia,
    • da sociologia
    • ou da análise das linguagens

    é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

    • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

    Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

    Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     III. Os três modelos
    Michel Foucault 

    O Triedro dos saberes: eixos e faces
    espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
    O interior ao Triedro dos saberes
    o espaço das Ciências humanas

    Aquém do objeto

    Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

    • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

    Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
    existem desde sempre e para sempre,
    e integram o Universo em uma visão única.

    Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

    Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

    Diante do objeto

    No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

    • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

    No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

    • Ciências da vida (Biologia):


      função-norma
      ;

    • Ciências do trabalho (Economia):


      conflito-regra;

    • Ciências da Linguagem (Filologia):

      significação-sistema.

    Além do objeto

    No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

    Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

    • da Vida-(Biologia),
    • do Trabalho-(Economia)
    • e da Linguagem-(Filologia).

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

    O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

    • Ciências da vida  (Biologia):
      função-norma;

      +
      Ciências do trabalho (Economia):

      conflito-regra;
      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      significação-sistema.

    Sob ciências humanas como:

    • economia política;
    • sociologia,
    • psicologia e psicanálise

    estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

    - Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno - caminho da Construção da representação
    - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

    O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
    lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
    O Lugar de nascimento do que é empírico
    lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
    e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
    O Circuito das trocas
    as chaves horizontais amarelas
    onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
    não se altera

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é
    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

    [veja citação 2 à esquerda]

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    3assim também a História,
    a partir do século XIX,
    define o
    lugar de nascimento
    do que é empírico,
    lugar onde,
    aquém
    de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    - Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno - caminho da Construção da representação
    - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é
    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

    [veja citação 2 à esquerda]

    assim também a História,
    a partir do século XIX,
    define o
    lugar de nascimento
    do que é empírico,
    lugar onde,
    aquém de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    Questões/Perguntas

    _thumb história do livro

    A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,
     – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

    tratamento dado ao homem em nossa cultura

    Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

    e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
    com os respectivos tratamentos dados ao homem

    homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
    como um gênero, ou uma espécie
    homem no sistema de operações do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papéis:
    1. raiz e fundamento de toda positividade
    2. elemento do que é empírico.

    “Instaura-se
    uma forma de reflexão
    bastante afastada
    do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão
    segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado,
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
    V. O cogito e o impensado
    Michel Foucault 

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    “No pensamento clássico,
    aquele para quem
    a representação existe,
    e que nela se representa a si mesmo,
    aí se reconhecendo
    por imagem ou reflexo,
    aquele que trama
    todos os fios entrecruzados
    da “representação em quadro” -,
    esse [o ser do homem]
    jamais se encontra lá presente.

    Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.

    Sem dúvida,
    as ciências naturais
    trataram do homem como 

    • de uma espécie
    • ou de um gênero

    a discussão
    sobre o problema das raças,
    no século XVIII, o testemunha.
    A gramática e a economia,
    por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
    de desejo,
    ou de memória
    e de imaginação.”

    Mas não havia
    consciência epistemológica

    do homem como tal.

    “Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.”

    “O modo de ser do homem,
    tal como se constituiu
    no pensamento moderno,
    permite-lhe desempenhar dois papéis:
    está, ao mesmo tempo,

    • no fundamento
      de todas as positividades,
    • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
      no elemento
      das coisas empíricas.

    Esse fato
    – e não se trata aí
    da essência em geral do homem,
    mas pura e simplesmente
    desse a priori histórico que,
    desde o século XIX,
    serve de solo quase evidente
    ao nosso pensamento –
    esse fato é, sem dúvida, decisivo
    para o estatuto a ser dado
    às “ciências humanas”,
    a esse corpo de conhecimentos
    (mas mesmo esta palavra
    é talvez demasiado forte:
    digamos,
    para sermos mais neutros ainda,
    a esse conjunto de discursos)
    que toma por objeto o homem
    no que ele tem de empírico.”

    É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX – O homem e seus duplos;
    II. O lugar do rei
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     I. O triedro dos saberes
    Michel Foucault 

    Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”

    Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.

    as possibilidades de leitura do fenômeno 'operações de troca' e as respectivas possibilidades de análises de valor

    O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

    As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

    Duas visões, duas leituras do fenômeno ‘operações’:
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes – duas abrangências muito diferentes

    Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

    • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
    • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

    Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

    O que não muda entre essas duas possibilidades

    A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

    A proposição é para a linguagem
    o que a representação é
    para o pensamento:
    sua forma, ao mesmo tempo
    mais geral e mais elementar,
    porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV  – Falar;
    tópico III – Teoria do verbo
    Michel Foucault 

    (…) Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O que sim muda entre essas duas possibilidades

    A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

    “Valer, para o pensamento clássico,
    é primeiramente valer alguma coisa,
    poder substituir essa coisa num processo de troca.

    A moeda só foi inventada,
    os preços só foram fixados e só se modificam
    na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples
    apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta,
    quando cada um dos dois parceiros
    reconhece um valor
    para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois,
    que as coisas permutáveis,
    com seu valor próprio,
    existam antecipadamente nas mãos de cada um,
    para que a dupla cessão e a dupla aquisição
    finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado,

    • o que cada um come e bebe,
      aquilo de que precisa para viver
      não tem valor
      enquanto não o cede;
    • e aquilo de que não tem necessidade
      é igualmente desprovido de valor
      enquanto não for usado
      para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    • (atual [troca imediata]
    • ou possível [permutabilidade]),

    isto é, no interior

    1. da troca
      [representação existente]
    2. ou da permutabilidade
      [representação possível]
      .

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca

    “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1. leitura já dadas as condições de troca;
    2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

    1 uma analisa o valor
    no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento
    entre o dado e o recebido;

    • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
      • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

    3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    2 outra analisa-o
    como anterior à troca
    e como condição primeira
    para que esta possa ocorrer.

    • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
      • designações primitivas
      • linguagem de ação ou raiz;

    4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

    fora de si mesma e como que

      • na natureza, ou nas   
      • analogias das coisas;

    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    Esta segunda leitura para ‘operações’
    – que orienta a análise de valor
    desde antes do momento da troca -,
    não é possível sem a presença do homem
    na estrutura dos modelos.

    Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
    mostrados nos modelos de operações

    Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

    a forma de reflexão que se instaura em nossa cultura

    o lugar onde ocorrem as operações de troca tais como as vemos nas leituras que fazemos

    - Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno - caminho da Construção da representação
    - Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, no caminho da Construção da representação

    O 'Circuito das trocas', ou 'Mercado'
    lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
    O Lugar de nascimento do que é empírico
    lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
    e onde se dá a articulação do pensamento do homem, com o impensado
    O Circuito das trocas
    as chaves horizontais amarelas
    onde ocorrem operações durante as quais o 'modo de ser fundamental'
    não se altera

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é
    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para ciências possíveis.

    [veja citação 2 à esquerda]

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    3assim também a História,
    a partir do século XIX,
    define o
    lugar de nascimento
    do que é empírico,
    lugar onde,
    aquém
    de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    Questões/Perguntas

    _thumb história do livro

    A intenção com este estudo é buscar no pensamento de Michel Foucault,  – com foco no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’ – subsídios para responder ao seguinte tipo de questões:

    Os dois obstáculos, as duas pedras de tropeço no caminho,
    encontradas por Foucault durante seu trabalho no livro
    ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’

    exemplos de modelos de operações e de organizações muito usados ainda hoje, mostrando esses dois obstáculos presentes entre nós atualmente.

    os dois obstáculos encontrados por Michel Foucault em seu trabalho
    no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas
    Michel Foucault
    1926-1984

    “Eis que nos adiantamos
    bem para além do acontecimento histórico
    que se impunha situar
    – bem para além das margens cronológicas dessa ruptura
    que divide, em sua profundidade,
    a epistémê do mundo ocidental
    e isola para nós o começo de certa
    maneira moderna de conhecer as empiricidades.

    É que o pensamento que nos é contemporâneo
    e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
    se acha ainda muito dominado

    1 pela impossibilidade
    trazida à luz por volta 
    do fim do século XVIII, 
    de fundar as sínteses
    no espaço da representação:

    2 e pela obrigação 
    correlativa, simultânea, 

    mas logo dividida contra si mesma, 
    de abrir o campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, 
    para além do objeto, 

    esses “quase-transcendentais” 
    que são para nós 
    Vida, o Trabalho, a Linguagem.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;

    Capítulo VIII – Trabalho, vida e linguagem;
    tópico I – As novas empiricidades

    no pensamento clássico
    aquém do objeto
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    diante do objeto
    depois de 1825

    espaço interior
    Triedro dos saberes
    para além do objeto
    reservado às
    Ciências humanas

    comparações de diferentes configurações de pensamento feitas por Michel Foucault
    A impossibilidade
    [no pensamento clássico,
    LE da figura]
    contra a sim-possibilidade
    [no pensamento moderno,
    LD da figura]
    de fundar as sínteses
    [da empiricidade objeto]
    no espaço da representação.
    o espaço interno do
    Triedro dos saberes
    – o habitat das ciências humanas –
    mostrando o modelo constituinte composto e comum a todas as Ciências Humanas

    Os obstáculos no caminho de Foucault 

    aquém do objeto

    diante do objeto

    para além do objeto

    0 Foucault havia anteriormente identificado o perfil do pensamento no período clássico, com uma configuração tal que a capacidade (ou a possibilidade – e mesmo a intenção) de fundar as sínteses – dos objetos de operações cujas representações resultassem dessas operações – no espaço da representação não era sequer cogitada:

    • em razão dos pressupostos adotados,

    e principalmente, em razão 

    • do tipo de leitura feita do fenômeno ‘operações’ das trocas, 
      • na leitura então feita, o ponto de início do fenômeno  ‘operações’, estava inserido no exato momento em que a troca tem todas as condições para acontecer; (os dois objetos da troca – o dado e o obtido –  tinham representações disponíveis e já carregadas de valor).

    1 Michel Foucault relata a seguinte situação:

    • ele havia delineado um tipo de pensamento ‘com o qual queiramos ou não pensamos’, um pensamento que segundo ele ‘tem a nossa idade e a nossa geografia’,
      • com a possibilidade de fundar as sínteses (da empiricidade objeto da operação) no espaço da representação;

    para conseguir fundar as sínteses no espaço da representação,

    • foi necessário alterar profundamente todos os pressupostos

    e a leitura feita do que seja uma operação e a análise de valor, exigiram:

    • o deslocamento do ponto de inserção da análise desde o ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
    • para um ponto antes da possibilidade da troca, quando os elementos que dão as condições de efetivação dessa troca, ainda não existissem,

    incorporando à análise, a operação de construção da representação nova. 

    E ele havia percebido que esse pensamento com o qual queiramos ou não pensamos

    • estava muito contaminadodominado, mesmo –
      • justamente pela impossibilidade de fazer isso (essa fundação das sínteses do objeto da operação no espaço da representação), sendo esta impossibilidade  uma característica do pensamento clássico.

    2 Ele percebia ainda uma obrigação a cumprir:

    • a de abrir o campo transcendental da subjetividade
      • e constituir, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida, Trabalho e Linguagem.

    Ele descobre que operações nos domínios das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem podem ser expressos completamente em cada domínio, por pares de modelos constituintes:

    • Vida(Biologia)
      • função-norma;
    • Trabalho(Economia)
      • conflito-regra;
    • Linguagem(Filologia)
      • significação sistema;

    e que os modelos constituintes das Ciências humanas são sempre compostos por uma combinação desses três pares de modelos constituintes.

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

    • Ciências da vida  (Biologia):
      [função-norma];

      +
      Ciências do trabalho (Economia):
      [conflito-regra];
      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      [significação-sistema].

    Podemos ver a atualidade dessa percepção de Foucault
    com Exemplos de modelos para operações e organizações
    construídos sobre estruturas de conceitos
    uns que não permitem, e outros que ao contrário sim permitem
    a fundação das sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação.

    Veja isso aqui.

    Os tratamentos dados ao homem em nossa cultura, no pensamento clássico e no moderno, segundo Michel Foucault; 

    e as ideias – ou elementos de imagem – requeridos para compor estruturalmente modelos de operações e modelos de organizações
    com os respectivos tratamentos dados ao homem

    homem no modelo de operações do pensamento clássico, o de antes de 1775, considerado como uma das categorias do sistema de categorias,
    como um gênero, ou uma espécie
    homem no sistema de operações do pensamento moderno, o de depois de 1825 considerado em sua duplicidade de papéis:
    1. raiz e fundamento de toda positividade
    2. elemento do que é empírico.

    “Instaura-se
    uma forma de reflexão
    bastante afastada
    do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão
    segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado,
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
    V. O cogito e o impensado
    Michel Foucault 

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    “No pensamento clássico,
    aquele para quem
    a representação existe,
    e que nela se representa a si mesmo,
    aí se reconhecendo
    por imagem ou reflexo,
    aquele que trama
    todos os fios entrecruzados
    da “representação em quadro” -,
    esse [o ser do homem]
    jamais se encontra lá presente.

    Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.

    Sem dúvida,
    as ciências naturais
    trataram do homem como 

    • de uma espécie
    • ou de um gênero

    a discussão
    sobre o problema das raças,
    no século XVIII, o testemunha.
    A gramática e a economia,
    por outro lado, utilizavam noções como as de necessidade,
    de desejo,
    ou de memória
    e de imaginação.”

    Mas não havia
    consciência epistemológica

    do homem como tal.

    “Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia.”

    “O modo de ser do homem,
    tal como se constituiu
    no pensamento moderno,
    permite-lhe desempenhar dois papéis:
    está, ao mesmo tempo,

    • no fundamento
      de todas as positividades,
    • presente, de uma forma que não se pode sequer dizer privilegiada,
      no elemento
      das coisas empíricas.

    Esse fato
    – e não se trata aí
    da essência em geral do homem,
    mas pura e simplesmente
    desse a priori histórico que,
    desde o século XIX,
    serve de solo quase evidente
    ao nosso pensamento –
    esse fato é, sem dúvida, decisivo
    para o estatuto a ser dado
    às “ciências humanas”,
    a esse corpo de conhecimentos
    (mas mesmo esta palavra
    é talvez demasiado forte:
    digamos,
    para sermos mais neutros ainda,
    a esse conjunto de discursos)
    que toma por objeto o homem
    no que ele tem de empírico.”

    É possível pensar as condições em que se dá a subjetividade de um ‘homem’ tratado como espécie, ou gênero?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX – O homem e seus duplos;
    II. O lugar do rei
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     I. O triedro dos saberes
    Michel Foucault 

    Veja o ponto “2. as possibilidades de leitura do fenômeno ‘operações de troca’ e respectivas possibilidades de análise de valor que elas nos permitem fazer”

    Parece ser a opção de leitura da ‘operação de troca’ deslocada para um ponto antes das existência dos objetos da troca o que arrasta o ser do homem e cada objeto da troca para a Forma de reflexão que se instaura em nossa cultura.

    O fenômeno ‘operações’ (em qualquer área): visões com duas abrangências muito diferentes dependendo da leitura que fazemos.

    As duas possibilidades de inserção do ponto de início da leitura do fenômeno ‘operações’ – de qualquer tipo – e a análise das diferentes origens do valor carregado pelas proposições para as representações em função da inserção do ponto de início de leitura de ‘operações’; 

    Duas visões, duas leituras do fenômeno ‘operações’:
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes – duas abrangências muito diferentes

    Note-se que as condições para a ocorrência da troca – a existência simultânea dos dois objetos de troca, o que é dado e o que é recebido – são satisfeitas em duas situações:

    • 1. no pensamento clássico pelo posicionamento do ponto de início de leitura sob essa condição, quer dizer, a existência prévia do que é dado e do que é recebido;
    • 2. no pensamento moderno, pela satisfação dessa pré-condição no início do Instanciamento da representação, porém com a condição da execução anterior da Construção da representação, também incluída no escopo da operação. 

    Nos pontos marcados por setas amarelas para baixo (1) e (2) as pré-condições para a ocorrência da troca são dadas, qualquer que seja a estrutura de pensamento – clássico ou moderno – segundo o pensamento de Michel Foucault.

    O que não muda entre essas duas possibilidades

    A proposição como bloco construtivo padrão fundamental e genérico para construção de representações e suas duas possibilidades de carregamento de valor, quanto às respectivas origens

    A proposição é para a linguagem
    o que a representação é
    para o pensamento:
    sua forma, ao mesmo tempo
    mais geral e mais elementar,
    porquanto, desde que a decomponhamos, não reencontraremos mais o discurso,
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV  – Falar;
    tópico III – Teoria do verbo
    Michel Foucault 

    (…) Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O que sim muda entre essas duas possibilidades

    A origem do valor carregado pelo veículo de carregamento de valor na representação: a proposição, sempre, porém em linguagens essencialmente diferentes e representações com origens de valor distintas.

    “Valer, para o pensamento clássico,
    é primeiramente valer alguma coisa,
    poder substituir essa coisa num processo de troca.

    A moeda só foi inventada,
    os preços só foram fixados e só se modificam
    na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples
    apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta,
    quando cada um dos dois parceiros
    reconhece um valor
    para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois,
    que as coisas permutáveis,
    com seu valor próprio,
    existam antecipadamente nas mãos de cada um,
    para que a dupla cessão e a dupla aquisição
    finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado,

    • o que cada um come e bebe,
      aquilo de que precisa para viver
      não tem valor
      enquanto não o cede;
    • e aquilo de que não tem necessidade
      é igualmente desprovido de valor
      enquanto não for usado
      para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras,
    para que, numa troca,
    uma coisa possa representar outra,
    é preciso que elas existam
    já carregadas de valor;
    e, contudo,
    o valor só existe
    no interior da representação

    • (atual [troca imediata]
    • ou possível [permutabilidade]),

    isto é, no interior

    1. da troca
      [representação existente]
    2. ou da permutabilidade
      [representação possível]
      .

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    O funcionamento da troca em cada uma das duas possibilidades de leitura do fenômeno ‘operação’: no ato mesmo da troca; ou anterior à troca, na criação das condições de troca

    “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1. leitura já dadas as condições de troca;
    2. leitura na permutabilidade, isto é na criação de condições de troca

    1 uma analisa o valor
    no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento
    entre o dado e o recebido;

    • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra
      • toda a essência da linguagem no interior da proposição;

    3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    2 outra analisa-o
    como anterior à troca
    e como condição primeira
    para que esta possa ocorrer.

    • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das
      • designações primitivas
      • linguagem de ação ou raiz;

    4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

    fora de si mesma e como que

      • na natureza, ou nas   
      • analogias das coisas;

    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    Esta segunda leitura para ‘operações’
    – que orienta a análise de valor
    desde antes do momento da troca -,
    não é possível sem a presença do homem
    na estrutura dos modelos.

    Isso fica bastante claro com a descrição da forma de reflexão que se instaura em nossa cultura depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Esses dois pontos de inserção da leitura da operação de troca
    mostrados nos modelos de operações

    Colocando o ponto de inserção de leitura do fenômeno ‘operações’ antes da existência dos objetos envolvidos na troca, ocorre uma portentosa ampliação no escopo da operação – de qualquer natureza -, incorporando toda a etapa de construção de representação nova. Veja isso aqui.

    As características das duas configurações do pensamento:

    • a do pensamento clássico, de antes de 1775;
    • e a do pensamento moderno, de depois de 1825

    características de características, ou características de segunda ordem,
    das configurações do pensamento em cada caso.

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    _Estrutura IO-transformação
    Os princípios organizadores
    sob o pensamento clássico:
    o de antes de 1775
    ‘Caráter’ e ‘Similitude’
    Características do pensamento clássico, o de antes de 1775
    Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
    o de depois de 1825
    ‘Analogia’ e ‘Sucessão’
    Características do pensamento moderno, o de depois de 1825

    “Instaura-se
    uma forma de reflexão
    bastante afastada
    do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão
    segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado,
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IX  – O homem e seus duplos;
    V. O cogito e o impensado
    Michel Foucault 

    “Assim o círculo se fecha.

    Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

    As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

    Mas que são esses sinais? 

    Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

    • que há aqui um caráter 

    no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

    Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

    • – É a semelhança

    Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

    Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

    Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

    • o signo da simpatia resida na analogia, 
    • o da analogia na emulação, 
    • o da emulação na conveniência, 

    que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

    • a marca da simpatia… 

    A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

    De sorte que se vêem surgir,
    como princípios organizadores
    desse espaço de empiricidades, 

    • a Analogia 
    • e a Sucessão

    de uma organização a outra,
    o liame, com efeito,
    não pode mais ser
    a identidade de um
    ou vários elementos,
    mas a identidade
    da relação entre os elementos
    (onde a visibilidade
    não tem mais papel)
    e da função que asseguram;
    ademais, se porventura essas organizações se avizinham
    por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
    localizações próximas
    num espaço de classificação,
    mas sim porque
    foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
    no devir das sucessões.
    Enquanto, no pensamento clássico,
    a seqüência das cronologias
    não fazia mais que percorrer
    o espaço prévio e mais fundamental
    de um quadro
    que de antemão apresentava
    todas as suas possibilidades,
    doravante
    as semelhanças contemporâneas
    e observáveis simultaneamente
    no espaço não serão mais que
    as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
    de analogia em analogia.
    A ordem clássica
    distribuía num espaço permanente
    as identidades
    e as diferenças não-quantitativas
    que separavam e uniam as coisas:
    era essa a ordem
    que reinava soberanamente,
    mas a cada vez
    segundo formas e leis
    ligeiramente diferentes,
    sobre o discurso dos homens,
    o quadro dos seres naturais
    e a troca das riquezas.

    A partir do século XIX,
    a História
    vai desenrolar
    numa série temporal
    as analogias
    que aproximam umas das outras
    as organizações distintas.

    É essa História que,
    progressivamente,
    imporá suas leis

    • à análise da produção,
    • à dos seres organizados, enfim,
    • à dos grupos linguísticos.

    A História dá lugar
    às organizações analógicas,
    assim como a Ordem
    abria o caminho
    das identidades
    e das diferenças sucessivas.

    Essa forma de reflexão surgida será decorrência da segunda leitura do que seja uma operação de troca e portanto não pode prescindir do homem e do objeto?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo II – A prosa do mundo;
    II. As assinalações
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    os lugares onde ocorrem as operações: 

    • Lugar de nascimento do que é empírico
      – operações de Construção de representações;
      • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades sim muda
    • Circuito onde ocorrem as trocas‘ ou Mercado
      – operações de Instanciamento de representações já existentes;
      • lugar onde o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.
    Lugar do nascimento do que é empírico:
    pensamento moderno – caminho da Construção da representação
    Circuito das trocas, ou Mercado: pensamento clássico, ou pensamento moderno, sempre no caminho do Instanciamento da representação objeto

    Mercado, ou Circuito das trocas: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades não muda.

    Encontra-se 

    • sob o pensamento clássico, o de antes de 1775,
    • e também ocorre no pensamento moderno, o de depois de 1825, apenas no caminho do Instanciamento da representação.

    Lugar do nascimento do que é empírico: lugar onde ocorrem operações nas quais o ‘modo de ser fundamental das empiricidade sim, muda.

    Encontra-se somente sob o pensamento moderno, o de depois de 1825, e apenas no caminho da Construção da representação

    O ‘Circuito das trocas’,
    ou ‘Mercado’
    as chaves amarelas no LE da figura, lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico
    O Lugar de nascimento do que é empírico – fora e antes do Mercado –
    lugar onde transcorre a operação de construção de representação nova
    e onde se dá a articulação
    do pensamento do homem,
    com o impensado
    O Circuito das trocas
    as chaves horizontais amarelas
    no LD da figura, onde ocorrem operações durante as quais
    o ‘modo de ser fundamental’
    não se altera; é novamente o Mercado, agora no pensamento moderno

    ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ é o conceito chave aqui.

    No pensamento clássico, o de antes de 1775, pelos pressupostos adotados, é impossível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades cuja definição escapa ao escopo destas operações.

    Estas operações transcorrem no interior do Circuito das trocas, a chave amarela horizontal, lugar onde não há alteração no modo como as coisas se apresentam à operação.

    No pensamento moderno, o de depois de 1825, pelos pressupostos adotados é sim possível definir o que seja ‘modo de ser fundamental’ de empiricidades objeto da operação de Construção da representação que, se nova nesse domínio e ambiente, é o próprio escopo destas operações.

    Operações no caminho da Construção da representação transcorrem no interior do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’, as chaves coloridas verticais, em um espaço que engloba os lugares  desde onde se fala e do falado. O sucesso dessas operações altera ‘o modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto, e com isso, faz-se História.

    No pensamento moderno, o de depois de 1825, em uma operação de Instanciamento de representação objeto cuja construção da representação foi anteriormente feita e incorporada ao Repositório, a representação objeto de Instanciamento é recuperada do Repositório.

    Assim, a operação de Instanciamento não altera o ‘modo de ser fundamental’ da empiricidade objeto de instanciamento.

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    2Assim como a Ordem
    no pensamento clássico
    não era
    a harmonia visível
    das coisas,
    seu ajustamento,
    sua regularidade
    ou sua simetria constatados,
    mas o espaço próprio de seu ser
    e aquilo que,
    antes de todo
    conhecimento efetivo,
    as estabelecia no saber,

    1″Mas vê-se bem
    que a História
    não deve ser aqui entendida
    como a coleta das sucessões de fatos, tais como se constituíram;

    ela é

    o modo de ser fundamental
    das empiricidades,

    aquilo a partir de que elas são

    • afirmadas,
    • postas,
    • dispostas
    • e repartidas no espaço do saber

    para eventuais conhecimentos
    e para ciências possíveis.

    3 assim também
    a História,
    a partir do século XIX,
    define o

    lugar de nascimento
    do que é empírico,

    lugar onde,
    aquém
    de toda cronologia estabelecida,
    ele assume o ser
    que lhe é próprio.

    A referência ao ‘Circuito das trocas’ – ou Mercado é uma quase unanimidade na literatura especializada filosófica ou técnica.

    Qual será a explicação para isso?

    Por que praticamente ninguém fala no ‘Lugar de nascimento do que é empírico’?

    Seria o caso de haver um desalinhamento filosófico no trabalho desses autores?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    os princípios organizadores dos modelos de operações que fazemos

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    _Estrutura IO-transformação
    Os princípios organizadores
    sob o pensamento clássico:
    o de antes de 1775
    ‘Caráter’ e ‘Similitude’
    Características do pensamento clássico
    o de antes de 1775

    “Assim o círculo se fecha.

    Vê-se, porém, através de qual sistema de desdobramentos. 

    As semelhanças exigem uma assinalação, pois nenhuma dentre elas poderia ser notada se não fosse legivelmente marcada. 

    Mas que são esses sinais? 

    Como reconhecer, entre todos os aspectos do mundo e tantas figuras que se entrecruzam, 

    • que há aqui um caráter 

    no qual convém se deter, porque ele indica uma secreta e essencial semelhança? 

    Que forma constitui o signo no seu singular valor de signo? 

    • – É a semelhança

    Ele significa na medida em que tem semelhança com o que indica (isto é, com uma similitude).

    Contudo, não é a homologia que ele assinala, pois seu ser distinto de assinalação se desvaneceria no semelhante de que é signo; trata-se de outra semelhança, uma similitude vizinha e de outro tipo que serve para reconhecer a primeira, mas que, por sua vez, é patenteada por uma terceira. 

    Toda semelhança recebe uma assinalação; essa assinalação, porém, é apenas uma forma intermediária da mesma semelhança. De tal sorte que o conjunto das marcas faz deslizar, sobre o círculo das similitudes, um segundo círculo que duplicaria exatamente e, ponto por ponto, o primeiro, se não fosse esse pequeno desnível que faz com que 

    • o signo da simpatia resida na analogia, 
    • o da analogia na emulação, 
    • o da emulação na conveniência, 

    que, por sua vez, para ser reconhecida, requer 

    • a marca da simpatia… 

    A assinalação e o que ela designa são exatamente da mesma natureza; apenas a lei da distribuição a que obedecem é diferente; a repartição é a mesma.”

    Os princípios organizadores desse espaço de empiricidades sob o pensamento moderno,
    o de depois de 1825
    ‘Analogia’ e ‘Sucessão’
    Características do pensamento moderno
    o de depois de 1825

    De sorte que se vêem surgir,
    como princípios organizadores
    desse espaço de empiricidades, 

    • a Analogia 
    • e a Sucessão

    de uma organização a outra,
    o liame, com efeito,
    não pode mais ser
    a identidade de um
    ou vários elementos,
    mas a identidade
    da relação entre os elementos
    (onde a visibilidade
    não tem mais papel)
    e da função que asseguram;
    ademais, se porventura essas organizações se avizinham
    por efeito de uma densidade singularmente grande de analogias, não é porque ocupem
    localizações próximas
    num espaço de classificação,
    mas sim porque
    foram formadas uma ao mesmo tempo que a outra e uma logo após a outra
    no devir das sucessões.
    Enquanto, no pensamento clássico,
    a seqüência das cronologias
    não fazia mais que percorrer
    o espaço prévio e mais fundamental
    de um quadro
    que de antemão apresentava
    todas as suas possibilidades,
    doravante
    as semelhanças contemporâneas
    e observáveis simultaneamente
    no espaço não serão mais que
    as formas depositadas e fixadas de uma sucessão que procede
    de analogia em analogia.
    A ordem clássica
    distribuía num espaço permanente
    as identidades
    e as diferenças não-quantitativas
    que separavam e uniam as coisas:
    era essa a ordem
    que reinava soberanamente,
    mas a cada vez
    segundo formas e leis
    ligeiramente diferentes,
    sobre o discurso dos homens,
    o quadro dos seres naturais
    e a troca das riquezas.

    A partir do século XIX,
    a História
    vai desenrolar
    numa série temporal
    as analogias
    que aproximam umas das outras
    as organizações distintas.

    É essa História que,
    progressivamente,
    imporá suas leis

    • à análise da produção,
    • à dos seres organizados, enfim,
    • à dos grupos linguísticos.

    A História dá lugar
    às organizações analógicas,
    assim como a Ordem
    abria o caminho
    das identidades
    e das diferenças sucessivas.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo II – A prosa do mundo;
    II. As assinalações
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    I. A idade da história
    Michel Foucault 

    os lugares contidos dentro do ‘Lugar de nascimento do que é empírico’:

    • o lugar ‘desde onde se fala
    • e o lugar ‘do falado‘;

    consistentes com os blocos do ‘operar‘ e do ‘suporte ao operar‘ de Humberto Maturana

    Esses dois lugares – o ‘desde onde se fala’ e o ‘do falado’ –
    juntos delimitam o espaço onde se dá a articulação
    do pensamento do homem com o impensado feita
    no domínio do Pensamento e da Língua
    e sua ligação com o domínio do Discurso e da Representação

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    O ‘Circuito das trocas’, ou ‘Mercado’
    lugar onde transcorre uma operação sob o pensamento clássico

    Lugar desde onde se fala

    Lugar do falado

    são sub-espaços do Lugar de nascimento do que é empírico o que implica que o pensamento está funcionando com o entendimento do pensamento moderno, o de depois de 1825, a coluna ao lado, portanto.

    • Lugar desde onde se fala não pode ser delineado sob o pensamento clássico pela falta da ideia e do elemento de imagem ‘homem’, aquele que fala, raiz e fundamento de toda positividade, e também da ideia do objeto resultado da articulação do pensamento com o impensado, feita pelo homem,;
    • e o Lugar do falado, analogamente, não pode ser delineado no LE da figura. 

    todo o espaço  corresponde, no LE da figura, ao domínio todo em que ocorrem as operações sob o pensamento clássico, a saber, o domínio do Discurso e da Representação.

    A leitura do que sejam Operações sob o entendimento no pensamento clássico pressupõe o ponto de inserção para análise no exato cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca, cuja condição de possibilidade está, desse modo, dada.

    Lugar deste onde se fala:
    ideias que formulam a proposição /
    (sujeito e predicado do sujeito);
    Lugar do falado:
    ideias que dão suporte na experiência ao instanciamento da representação
    no domínio e ambiente

    Lugar do nascimento do que é empírico: espaço ocupado por:

    • Lugar desde onde se fala;
    • Lugar do falado

    O Lugar de nascimento do que é empírico, como o nome sugere, está situado antes do circuito das trocas, e em seu interior ocorre a construção de representação nova.

    Essa visão do que sejam operações corresponde à leitura de operações, ou visão desse fenômeno como desde um ponto de inserção anterior à troca

    Lugar desde onde se fala

    As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidas na formulação da proposição estão contidas no espaço chamado de Lugar desde onde se fala:

    • sujeito: o homem na posição de raiz de toda positividade
    • predicado do sujeito
      • verbo: Forma de produção, o elemento central da operação de construção da representação;
      • atributo: a representação em construção, nas posições extremas da operação de construção.

    Esse espaço coincide com o espaço chamado por Humberto Maturana de ‘operar’, o retângulo vermelho na figura ao lado, parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas no interior do domínio do Pensamento e da Língua.

    Lugar do falado

    As ideias ou elementos de imagem que estão envolvidos na sustentação da Forma de produção na experiência estão no lugar do falado:

    • elementos de suporte na experiência à Forma de produção, onde se encontram
      • processos, atividades, tasks

    A operação de construção da representação escolhe os elementos de suporte na experiência à Forma de produção, que deve ser capaz de produzir quando implementada, uma instância da representação com o operar vislumbrado – ou o mais próximo disso possível. Humberto Maturana chama esse espaço de ‘suporte ao operar’, o retângulo amarelo na figura ao lado. 

    O Lugar do falado é parte do Lugar de nascimento do que é empírico, mas suas ideias – ou elementos de imagem – fazem parte do domínio do Discurso e da Representação.

    “É preciso, portanto,
    tratar esse verbo
    como um ser misto,

    ao mesmo tempo
    palavra entre as palavras,

    preso às mesmas regras,
    obedecendo como elas
    às leis de regência
    e de concordância;


    e depois,


    em recuo em relação a elas todas,

    numa região que

    • não é
      aquela do falado

    • mas aquela 
      donde se fala.

    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre

    • aquilo que é dito

    • e aquilo que se diz,

    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    Há correspondências que precisam ser anotadas, entre elas:

    • no princípio dual de trabalho de David Ricardo
      • aquela atividade que está na origem do valor das coisas 
      • tem suas ideias – ou seus elementos de imagem no lugar desde onde se fala
    • no LD – lado direito da figura 2 de Humberto Maturana
      • os dois blocos do ‘Explicar com Reformular’ em que Maturana divide suas explicações
        • sobre o que acontecia com o ser vivo,
        • e o modo como ele o via no seu espaço de distinções
      • correspondem apropriadamente com o que Foucault chama respectivamente de 
        • Lugar desde onde se fala e 
        • Lugar do falado.

    Processo e Mercado são os conceitos largamente utilizados;
    e ao mesmo tempo não se ouve falar 

    • em Forma de produção
    • ou em Lugar de nascimento do que é empírico,
    • e menos ainda em Nexo da produção

    como ideias – ou elementos de imagem – em modelos de operações e organizações

    no pensamento clássico
    aquém do objeto
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    diante do objeto
    depois de 1825

    espaço interior Triedro dos saberes
    para além do objeto
    reservado às Ciências humanas

    Aquém do objeto:
    Processo

    Diante do objeto:
    Forma de produção

    Além do objeto
    Nexo da operação

    o elemento central em operações
    no pensamento clássico
    Processo
    o elemento central em operações
    no pensamento moderno
    Forma de produção
    o Nexo da produção,
    o elemento central do modelo de organização no formato SSS
    • Elemento central:
      • Processo

    entendido sob o primeiro conceito de verbo explicado por Michel Foucault, como elemento gerador de um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si, que o mais que faz é indicar a coexistência de duas representações.

    • característica emergente: 
      • fluxo
    • metáfora 
      • transformação única
    • Elemento central:
      • Forma de produção

    entendida sob o segundo conceito de verbo explicado por Michel Foucault, tratado como um ser misto, inicialmente palavra entre palavras, preso às mesmas regras às mesmas regras, obedecendo como elas às mesmas leis de regência e concordância, e depois, em recuo em relação a elas todas, numa região que não é aquela do falado, mas aquela donde se fala.

    • característica emergente:
      • permanência
    • metáfora
      • conversão ou duas transformações
    • Elemento central:
      • Nexo da produção

    a formulação para além do objeto associa o sistema cujo resultado é o produto, aquilo que se quer obter, com o instrumento imprescindível para obtê-lo.

    • propriedades emergentes:
      • simetria, simbiose e sinergia

    Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais nada, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

    Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

    o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Verbo’;
    para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

    Ideias – ou elementos de imagem – centrais no LE e no LD da figura
    Processo o elemento central no pensamento clássico
    Forma de produção o elemento central no pensamento moderno, com as
    designações primitivas e a linguagem de ação ou raiz

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    Aquém do objeto

    Conceito de Verbo ‘Processo’
    na configuração de pensamento
    do período clássico, antes de 1775

    Verbo como
    Processo

    “A única coisa que o verbo afirma
    é a coexistência de duas representações:
    por exemplo, 

    • a do verde
      e da árvore,

    • a do homem
      e da existência

      ou da morte; 

    é por isso que
    o tempo dos verbos

    não indica
    aquele [tempo]

    em que as coisas existiram
    no absoluto,

    mas um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si.”

    Diante e Além do objeto

    Conceito de Verbo ‘Forma de produção’
    na configuração de pensamento
    do período moderno, depois de 1825

    Verbo como
    Forma de produção

    “É preciso, portanto,
    tratar esse verbo
    como um ser misto,

    ao mesmo tempo
    palavra entre as palavras,

    preso às mesmas regras,
    obedecendo como elas
    às leis de regência
    e de concordância;


    e depois,


    em recuo em relação a elas todas,

    • numa região que não é
      aquela do falado

    • mas aquela
      donde se fala.

    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre

    • aquilo que é dito

    • e aquilo que se diz,

    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.”

    Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, para o que seja um ‘Verbo’, e a total consistência entre o segundo conceito/tratamento e ‘Forma de produção’

    • por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    o significado/tratamento atribuído ao que seja um ‘Classificar’;
    para o antes e para o depois da descontinuidade epistemológica

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    Aquém
    do objeto

    O conceito de ‘Classificar’
    no pensamento clássico
    o de antes de 1775

    ‘Classificar’
    no pensamento clássico

    Aquém do objeto,
    isto é,
    no pensamento filosófico Classico
    o de antes de 1775

    nessa faixa do espectro de modelos
    que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

    Classificar
    é referir

    • o visível
    • a si mesmo,

    encarregando um dos elementos
    de representar os outros.”

    Diante e Além
    do objeto

    O conceito de ‘Classificar’
    no pensamento moderno
    o de depois de 1825

    ‘Classificar’
    no pensamento moderno

    Diante, e Além do objeto, 
    isto é, 
    no pesamento filosófico moderno,
    o de depois de 1825

    nessa faixa do espectro de modelos 
    que o pensamento de Michel Foucault permite desenhar

    “Em um movimento
    que faz revolver a análise

    Classificar
    é referir

    • o visível 
    • ao invisível 

    – como a sua razão profunda -, 

    e depois,
    alçar de novo
    dessa secreta arquitetura,
    em direção aos seus
    sinais manifestos,
    que são dados
    à superfície dos corpos.”

    Dadas as grandes diferenças entre esses dois conceitos e tratamentos consequentes, por que será que ‘Processo’ seja uma unanimidade nos textos sobre o assunto?

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VII – Os limites da representação; tópico III. A organização dos seres

    pares de modelos constituintes das ciências do eixo epistemológico fundamental

    • da Vida(Biologia) [função-norma],
    • do Trabalho(Economia) [conflito-regra]
    • e da Linguagem(Filologia) [significação-sistema]

    e o modelo constituinte padrão, comum a todas das ciências humanas; um modelo composto por uma combinação entre esses três pares de modelos constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem

    no pensamento clássico
    antes de 1775
    aquém do objeto

    no pensamento moderno
    depois de 1825
    diante do objeto

    no pensamento moderno
    também depois de 1825
    para além do objeto

    não há modelos constituintes sob o pensamento clássico

    O Triedro dos saberes: eixos e faces
    espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
    O interior ao Triedro dos saberes
    o espaço das Ciências humanas

    Aquém do objeto

    Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

    Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
    existem desde sempre e para sempre,
    e integram o Universo em uma visão única.

    Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

    Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

    Diante do objeto

    A modelagem em cada área do saber é feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

    No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

    • Ciências da vida (Biologia):


      [função-norma]
      ;

    • Ciências do trabalho (Economia):


      [conflito-regra];

    • Ciências da Linguagem (Filologia):

      [significação-sistema].

    Além do objeto

    No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências
    da Vida
    -(Biologia), do Trabalho-(Economia) e da Linguagem-(Filologia).

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é sempre uma combinação dos modelos constituintes das:

    • Ciências da vida  (Biologia):
      [função-norma];

      +
      Ciências do trabalho (Economia):
      [conflito-regra];

      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      [significação-sistema].

    Proposição: o bloco construtivo

    • padrão,
    • genérico
    • e fundamental

    oferecido pela gramática da língua para construção de representações.

    Esse bloco construtivo ‘proposição’ carrega valor para as representações, mas faz isso de ao menos dois modos diferentes e com duas visões distintas para o que sejam ‘operações’.

    “Valer, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que

    • a dupla cessão
    • e a dupla aquisição

    finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra,

    • é preciso que elas existam já carregadas de valor;
      • e, contudo, o valor só existe no interior da representação
        (atual ou possível), isto é,
      • no interior da troca ou da permutabilidade.

    “A proposição é
    para a linguagem
    o que a representação é
    para o pensamento
    sua forma,
    ao mesmo tempo
    mais geral
    e mais elementar
    porquanto,
    desde que a decomponhamos,
    não encontremos mais o discurso
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. IV – Falar;
    tópico: III – A teoria do verbo
    Michel Foucault

    no pensamento clássico
    antes de 1775

    no pensamento moderno
    depois de 1825

    questão/pergunta

    a proposição no pensamento clássico
    ponto de aplicação da leitura de operações no momento da troca

    a toda a essência da linguagem  encerrada – diretamente – na própria proposição;

    junto com esse ‘encerramento’ vão as ideias – ou elementos de imagem – necessários para a formulação da proposição, que assim, não participam do modelo de operações.

    a proposição no pensamento moderno ponto de aplicação da leitura de operações antes da troca

    a descoberta da essência da linguagem  fora dela mesma, linguagem; a proposição formulada no modelo por suas ideias ou elementos de imagem presentes; inicialmente vazia, apenas um enunciado, é preenchida de valor a partir de duas fontes:

    • as designações primitivas;
    • a linguagem de ação ou raiz

    ambas assinaladas na figura.

    “Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1 uma analisa o valor

    • no ato mesmo da troca,

    no ponto de cruzamento
    entre o dado e o recebido;

    • A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da
      • proposição;

    3 no primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tornando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    2 outra analisa-o

    • como anterior à troca 

    e como condição primeira
    para que esta possa ocorrer.

    • a outra, a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem
      do lado das
      • designações primitivas
      • linguagem de ação ou raiz;

    4 a outra forma de análise, a linguagem está enraizada 

    • fora de si mesma e como que
      • na natureza, ou nas   
      • analogias das coisas;

    a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor,

    • antes da troca
    • e das medidas recíprocas da necessidade.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VI – Trocar;
    V. A formação do valor
    Michel Foucault 

    Ideias – ou elementos de imagem – requeridos para a
    Formulação da proposição, e valor carregado 

    Ideias – ou elementos de imagem requeridos para formulação da proposição ausentes da estrutura do modelo de operação.

    Valor carregado diretamente na proposição.

    impossibilidade de formulação da proposição com ideias – ou elementos de imagem – requeridos, pela ausência do homem em sua duplicidade de papéis, e pela noção de objeto descrito por suas propriedades originais e constitutivas.

    Proposição formulada com ideias ou elementos de imagem pertencentes à estrutura interna do modelo de operações;

    Valor carregado pela proposição com origem fora da linguagem

    • designações primitivas

    a busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites, para a representação da empiricidade objeto no domínio e ambiente em que a operação acontece. 

    • linguagem de ação ou raiz

    todo o conteúdo do Repositório de proposições explicativas da experiência formuladas de acordo com as regras da língua, à disposição da construção de novas representações.

    Os tipos de sistemas que dão suporte a operações,
    em função da configuração do pensamento:

    • no pensamento clássico: o sistema Input-Output, ou um sistema relativo de anterioridade ou simultaneidade das coisas entre si;
    • no pensamento moderno: um sistema construído no interior do Lugar de nascimento do que é empírico, lugar onde as empiricidades objeto das operações adquirem ‘o ser que lhes é próprio’.

    no pensamento clássico
    antes de 1775
    verbo ‘Processo

    no pensamento moderno
    depois de 1825
    verbo ‘Forma de produção

    questão/pergunta

    Operação clássica sob o conceito de Verbo ‘Processo’
    na configuração de pensamento
    do período clássico, antes de 1775

    “A única coisa
    que o verbo afirma

    é a coexistência de duas representações:
    por exemplo, 

    • a do verde
      e da árvore,

    • a do homem
      e da existência

      ou da morte; 

    é por isso
    que o tempo dos verbos

    não indica
    aquele [tempo]

    em que as coisas existiram
    no absoluto,

    mas um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si.”

    Operação moderna sob o conceito de
    Verbo ‘Forma de produção’
    na configuração de pensamento
    do período moderno, depois de 1825

    “É preciso, portanto,
    tratar esse verbo
    como um ser misto,

    ao mesmo tempo
    palavra entre as palavras,

    preso às mesmas regras,
    obedecendo como elas
    às leis de regência
    e de concordância;


    e depois,


    em recuo em relação a elas todas,

    • numa região que não é
      aquela do falado

    • mas aquela
      donde se fala.

    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre

    • aquilo que é dito

    • e aquilo que se diz,

    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar;
    tópico III. A teoria do verbo
    por Michel Foucault

    O tipo de sistema

    O conceito acima é explícito em fornecer uma descrição do tipo de sistema para operações sob o pensamento clássico.

    Trata-se de 

    • um sistema relativo
      de anterioridade ou de simultaneidade
      das coisas entre si; 

    uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    asdf

    Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    O tipo de leitura

    asdf

    Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    asdf

    Trata-se de um sistema relativo de anterioridade ou de simultaneidade das coisas entre si; uma definição magistral para o que seja o sistema Input-Output.

    o tempo nas operações, em função dos sistemas
    em cada segmento do espectro de modelos

    no pensamento clássico
    antes de 1775
    aquém do objeto

    no pensamento moderno
    depois de 1825
    diante e para além do objeto

    no pensamento moderno
    também depois de 1825
    diante e para além do objeto

    formulação reversível
    e somente 
    instanciamento
    da representação;
    deus Chronos

    formulação irreversível
    e operação de construção
    da representação 
    deus Kairós

    formulação reversível
     e operação instanciamento
    da representação
    deus Chronos

    pensamento clássico, o de antes de 1775
    tempo calendário no sistema Input-Output
    operação de instanciamento de representação anteriormente formulada
    pensamento moderno, o de depois de 1825
    tempo absoluto sistema absoluto
    no caminho da Construção da representação
    pensamento moderno, o de depois de 1825
    tempo relativo, sistema relativo ou absoluto,
    no caminho do Instanciamento da representação

    Aquém do objeto

    Diante ou para além do objeto

    Nota: a existência precede as distinções feitas na operação.

    Tempo na formulação e no instanciamento da representação:

    • formulação reversível durante a formulação;
    • tempo calendário, ou tempo relativo no sentido de que
      • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f),
      • a posição calendário do outro evento (f) ou (i) pode ser calculada com as propriedades aparentes disponíveis antes e depois da operação;
    • irreversibilidades somente na etapa de instanciamento da representação

    Não há nada que possa ser afirmado, posto, disposto e repartido no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis e assim não se pode falar em ‘modo de ser fundamental’ do que quer que seja. 

    Assim, no pensamento clássico, não é possível adotar esse conceito ‘modo de ser fundamental das empiricidades’ como elemento ordenador da história, que é compreendida como sucessão de fatos assim como se sucedem.

    caminho da
    Construção da representação
    Nota: a existência se constitui com as distinções feitas na operação

    Durante essa operação, a empiricidade objeto da operação, sim, muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

    Tempo no caminho da Construção da representação, durante a formulação da representação:

    • formulação irreversível durante a formulação;
    • tempo absoluto no sentido de que a empiricidade objeto ‘assume o ser que lhe é próprio’ em decorrência da operação, e então:
      • dada a inserção calendário de um evento (i) ou (f)
      • não é possível o cálculo da inserção calendário do outro evento (f) ou (i) a partir dessa inserção calendário do evento anterior em virtude da não disponibilidade das propriedades antes/depois da operação;
    •  irreversibilidades ocorrem na formulação da operação de construção da representação.

    A empiricidade objeto da operação tem um novo ‘modo de ser fundamental’, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’.

    Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da história, durante esse tipo de operações, sim, faz-se história.

     caminho do
    Instanciamento da representação

    Nota: a existência volta a preceder as distinções feitas na operação.
     

    Durante essa operação a empiricidade objeto não muda seu ‘modo de ser fundamental’ nesse domínio e ambiente em decorrência da operação.

    Tempo  no caminho do Instanciamento da representação previamente existente no Repositório e dele recuperada para a posição de empiricidade objeto na presente operação de instanciamento:

    • formulação volta a ser reversível; (é possível descartar uma formulação de instanciamento e formular outra com novas escolhas, sem perdas;
    • tempo volta a ser tempo calendário, ou tempo relativo;
    • irreversibilidades no caminho do Instanciamento da representação ocorrem em decorrência do desencadeamento dos elementos de suporte na experiência à Forma de produção.

    A empiricidade objeto da operação tem exatamente o mesmo ‘modo de ser fundamental’ com que foi recuperada do repositório, isto é, pode ser ‘afirmada, posta, disposta e repartida no espaço do saber para eventuais conhecimentos e ciências possíveis’ exatamente da mesma forma como havia sido acrescentada ao repositório.

    Tomando o ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades como elemento ordenador da História, durante esse tipo de operações não se faz história.

    Modelagem de operações e organizações organizadas pelo par sujeito-objeto, com operações específicas e separadas para cada um desses pares, porém relacionadas:

     

    • um modelo para a operação e organização para o objeto esperado pelo Cliente (Produto);
    • e um modelo para a operação e organização  para o instrumento capaz de obter o Produto, bem como obter o objeto esperado pelo Acionista (Benefícios de toda espécie, Lucros)

    Mapa geral das operações na disposição SSS

    Modelagem para uma organização incluindo o objeto esperado de interesse do Cliente
    e o instrumento capaz de obtê-lo, e também o objeto esperado de interesse do Acionista
    identificando o nexo da produção

    Argumento: a modelagem de operações
    organizada pelo par sujeito-objeto

    Construção da estrutura de operações na disposição SSS – Simétrica, Simbiótica e Sinérgica

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    Cronologia básica da descontinuidade epistemológica ocorrida em nossa cultura ocidental entre os anos 1775-1825 segundo Michel Foucault.

    • fases e ponto de ruptura desse evento;
    • linha de tempo com as defasagens entre conquistas no pensamento e respectivo uso nas áreas técnicas;
    • alguns autores importantes de um e de outro lado desse evento;
    • ponto de entrada do homem em nossa cultura;
    • alguns autores citados como referências em modelos sociais, econômicos e políticos
    Michel Foucault
    1926-1984

    “E foi realmente necessário 
    um acontecimento fundamental
    – um dos mais radicais, sem dúvida, 1
    que ocorreram na cultura ocidental,
    para que se desfizesse a positividade do saber clássico
    e se constituísse uma positividade de que, por certo,
    não saímos inteiramente.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VII – Os limites da representação;
    tópico I. A idade da história

    Cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825;
    defasagens entre conquistas no pensamento filosófico e respectiva utilização prática

    cronologia básica da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    A descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, segundo o pensamento de Michel Foucault
    uma linha de tempo mostrando os intervalos de tempo entre o desenvolvimento de conhecimento e sua aplicação prática

    O ponto de surgimento do homem em nossa cultura

     “É somente na segunda fase que as palavras, as classes e as riquezas adquirirão um modo de ser que não é mais compatível com o da representação.

    Em contra partida, o que se modifica muito cedo, desde as análises de Adam Smith, de A.-L. de Jussieu ou de Viq d’Azyr, na época de Jones ou de Anquetil-Duperron,

    • é a configuração das positividades: a maneira como, no interior de cada uma,
      • os elementos representativos funcionam uns em relação aos outros, 
      • a maneira como asseguram seu duplo papel de designação e de articulação, 
      • como chegam, pelo jogo das comparações, a estabelecer uma ordem. “

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas
    Cap.VII – Os limites da representação
    tópico I. A idade da história

    Datas e fases da descontinuidade epistemológica ocorrida entre 1775 e 1825, e surgimento do homem no pensamento em nossa cultura segundo o pensamento de Michel Foucault.

    Alguns autores fundamentos filosóficos do liberalismo, e autores chave do pensamento moderno posicionados em relação à descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Algumas personagens importantes para entendimento da descontinuidade epistemológica de 1775-1825

    Michel Foucault ao delinear sua arqueologia das ciências humanas, propósito do ‘As palavras e as coisas’, com certeza tomou conhecimento do trabalho desses autores.

    • autores clássicos:
      • Adam Smith,
      • John Locke, 
      • David Hume, 
      • J. J. Rousseau, 
      • Jeremy Bentham, 
      • e J. M. Keynes (este, expressamente classificado por Foucault como não moderno)
    • autores modernos:
      • David Ricardo
      • Sigmund Schlomo Freud 
      • entre muitos outros.

    Michel Foucault menciona ainda em destaque, como artífices do pensamento moderno e fontes para o seu próprio pensamento:

    • Georges Cuvier, naturalista, 1769-1832
    • Franz Bopp, linguista, 1792-1867
    • David Ricardo, economista, 1772-1823

    Exemplos de modelos de operações e de organizações sem a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações no cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    do pensamento
    funcionamento das operações no pensamento clássico
    Modelo de
    Operação de produção
    relação do modelo de operações de produção de E. S. Buffa
    e o sistema Input-Output
    do LE da figura.
    Modelo da 
    Organização de produção
    Um modelo de organização sob o pensamento clássico, destacando a utilização de múltiplas ordens, ou
    múltiplos sistemas de categorias
    Modelo de operações
    e de organização
    Modelo FEPSC(SIPOC), Six Sigma
    Modelo de  Operação
    contábil-financeira
    O modelo de operação
    no sistema contábil-financeiro
    Modelo da  Organização
    ponto de vista financeiro
    a organização no sistema contábil-financeiro

    Exemplos de modelos de operações e de organizações no pensamento moderno, e assim  com a possibilidade de fundar as sínteses (do objeto das operações) no espaço da representação e com ponto de inserção da análise de operações antes do cruzamento entre o dado e o recebido na operação de troca

    Funcionamento
    de operação do pensamento
    O funcionamento das operações no pensamento moderno
    Modelo de
    Operação de produção
    relação entre o modelo descritivo da produção do Kanban e ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’
    Modelo da 
    Organização de produção
    o modelo de organização ‘Mapa da atividade semicondutores’, da Reengenharia, o modelo de operações do Kanban e o modelo moderno de operações
    O modelo descritivo da produção do Kanban operação de
    instanciamento de representação
    O mapa da atividade semicondutores da Texas Instruments: modelo de organização
    do movimento Reengenharia

    O espaço interior do Triedro dos saberes – habitat das ciências humanas, com modelos situados no espectro de modelos no segmento para além do objeto

    Assim, estes três pares,

    • função e norma,
    • conflito e regra,
    • significação e sistema,

    cobrem, por completo, o domínio inteiro do conhecimento do homem. 

    Mas, qualquer que seja a natureza da análise e o domínio a que ela se aplica, tem-se um critério formal para saber o que é

    • do nível da psicologia,
    • da sociologia
    • ou da análise das linguagens

    é a escolha do modelo fundamental e a posição dos modelos secundários que permitem saber em que momento

    • se “psicologiza” ou se “sociologiza” no estudo das literaturas e dos mitos, em que momento se faz, em psicologia, decifração de textos ou análise sociológica. 

    Mas essa superposição de modelos não é um defeito de método. 

    Só há defeito se os modelos não forem ordenados e explicitamente articulados uns com os outros.

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X  – As ciências humanas;
     III. Os três modelos
    Michel Foucault 

    O Triedro dos saberes: eixos e faces
    espaço das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem
    O interior ao Triedro dos saberes
    o espaço das Ciências humanas

    Aquém do objeto

    Não há modelos constituintes nesta faixa do espectro, já que nada é constituído na existência durante as operações;

    • o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações está no cruzamento entre o que é dado e o que é recebido na operação de troca.

    Na configuração do pensamento pressupõe-se que todas as coisas
    existem desde sempre e para sempre,
    e integram o Universo em uma visão única.

    Existem múltiplas ordens que podem ser arbitrariamente escolhidas para cada operação; e em uma mesma organização podem conviver ordens – como diz Foucault – ligeiramente diferentes. Tem-se inúmeras categorias para cada ordem escolhida, e muitas ordens possíveis de serem selecionadas.

    Nada é constituído na existência como resultado das distinções feitas durante as operações nesta faixa do espectro.

    Diante do objeto

    No eixo epistemológico fundamental – ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, a modelagem em cada área do saber pode ser feita com um modelo constituinte específico e próprio de cada uma delas:

    • em todas, o ponto de inserção na análise do fenômeno ‘operações’ está antes do cruzamento entre o dado e o recebido, e portanto antes da existência destes.

    No que Foucault chama de ‘Região epistemológica Fundamental’ os Modelos constituintes são compostos por pares constituintes, próprios a cada região do saber ou área do conhecimento em que o modelo é feito:

    • Ciências da vida (Biologia):


      função-norma
      ;

    • Ciências do trabalho (Economia):


      conflito-regra;

    • Ciências da Linguagem (Filologia):

      significação-sistema.

    Além do objeto

    No campo das ciências humanas, o modelo constituinte de qualquer uma delas se unifica. 

    Os Modelos constituintes são compostos por uma combinação dos três pares de modelos constituintes das ciências

    • da Vida-(Biologia),
    • do Trabalho-(Economia)
    • e da Linguagem-(Filologia).

    O Modelo constituinte  de cada uma das Ciências Humanas – é uma combinação – ponderada pelo projetista de modelos.

    O modelo composto é uma combinação dos três pares de modelos constituintes: 

    • Ciências da vida  (Biologia):
      função-norma;

      +
      Ciências do trabalho (Economia):

      conflito-regra;
      +
      Ciências da Linguagem (Filologia):
      significação-sistema.

    Sob ciências humanas como:

    • economia política;
    • sociologia,
    • psicologia e psicanálise

    estão modelos compostos, que são combinações ponderadas dos três pares de modelos constituintes das ciências integrantes do eixo epistemológico fundamental.

    A descrição feita por Michel Foucault de duas possibilidades
    de posicionamento do pensamento com relação a valor

    “Valor, para o pensamento clássico, é primeiramente valer alguma coisa, poder substituir essa coisa num processo de troca. A moeda só foi inventada, os preços só foram fixados e só se modificam na medida em que essa troca existe.

    Ora, a troca é um fenômeno simples apenas na aparência.

    Com efeito, só se troca numa permuta, quando cada um dos dois parceiros reconhece um valor para aquilo que o outro possui.

    Num sentido, é preciso, pois, que as coisas permutáveis, com seu valor próprio, existam antecipadamente nas mãos de cada um, para que a dupla cessão e a dupla aquisição finalmente se produzam.

    Mas, por outro lado, o que cada um come e bebe, aquilo de que precisa para viver não tem valor enquanto não o cede; e aquilo de que não tem necessidade é igualmente desprovido de valor enquanto não for usado para adquirir alguma coisa de que necessite.

    Em outras palavras, para que, numa troca, uma coisa possa representar outra, é preciso que elas existam já carregadas de valor; e, contudo, o valor só existe no interior da representação (atual ou possível), isto é, no interior da troca ou da permutabilidade.

    Daí duas possibilidades simultâneas de leitura:

    1. uma analisa o valor no ato mesmo da troca, no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido;
    2. outra analisa-o como anterior à troca e como condição primeira para que esta ossa ocorrer.

    Os dois pontos de partida distintos adotados pelo pensamento para análise de valor

    1. a primeira possibilidade de leitura

    A análise de valor no ato mesmo da troca,
    no ponto de cruzamento entre o dado e o recebido

    2. a segunda possibilidade de leitura

    A análise de valor como anterior à troca
    e como condição primeira para que esta possa ocorrer.

    A primeira dessas duas leituras corresponde a uma análise que coloca e encerra toda a essência da linguagem no interior da proposição;

    • no [neste] primeiro caso, com efeito, a linguagem encontra seu lugar de possibilidade numa atribuição assegurada pelo verbo – isto é, por esse elemento da linguagem em recuo relativamente a todas as palavras mas que as reporta umas às outras; o verbo, tomando possíveis todas as palavras da linguagem a partir de seu liame proposicional, corresponde à troca que funda, como um ato mais primitivo que os outros, o valor das coisas trocadas e o preço pelo qual são cedidas;

    a outra, [corresponde] a uma análise que descobre essa mesma essência da linguagem do lado das designações primitivas – linguagem de ação ou raiz(*);

    • na outra [nesta] forma de análise, a linguagem está enraizada fora de si mesma e como que na natureza ou nas analogias das coisas; a raiz, o primeiro grito que dera nascimento às palavras antes mesmo que a linguagem tivesse nascido, corresponde à formação imediata do valor, antes da troca e das medidas recíprocas da necessidade.

    Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho do Instanciamento da representação

    Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento clássico, antes de 1775

    Propriedades das operações e organizações modeladas com a paleta de ideias ou elementos de imagem do pensamento moderno, depois de 1825, e no caminho da Construção da representação

    III. A teoria do verbo

    Capítulo IV. Falar; tópico III. A teoria do verbo

    A proposição é para a linguagem
    o que a representação é para o pensamento: 
    sua forma, ao mesmo tempo mais geral e mais elementar,
    porquanto, desde que a decomponhamos,
    não reencontraremos mais o discurso,
    mas seus elementos
    como tantos materiais dispersos.

    Abaixo da proposição, por certo, encontram-se palavras, mas não é nelas que a linguagem se completa.

    É verdade que originariamente o homem só emitia simples gritos, mas estes somente começaram a ser linguagem no dia em que encerraram – ainda que no interior de seus monossílabos – uma relação que era da ordem da proposição.

    O urro do primitivo que se debate só se torna palavra verdadeira se não for mais a expressão lateral de seu sofrimento e se valer por um juízo ou uma declaração do tipo:

    “eu sufoco”(28).

    O que erige a palavra como palavra e a ergue acima dos gritos e dos ruídos é a proposição nela oculta. Se o selvagem de Aveyron não chegou a falar é porque as palavras permaneceram para ele como as marcas sonoras das coisas e das impressões que elas causavam em seu espírito;

    não haviam recebido valor de proposição.

    Ele poderia, decerto, pronunciar a palavra “leite” diante da tigela que se lhe oferecia:

    • isso não passava da “expressão confusa
      • desse líquido alimentar,
      • do vaso que o continha
      • e do desejo de que era o objeto”(29);
    • jamais a palavra se tornou signo representativo da coisa, pois jamais ele quis dizer
      • que o leite estava quente,
      • ou pronto,
      • ou esperado.

    É a proposição, com efeito,

    • que destaca
      • o signo sonoro
      • de seus valores imediatos de expressão
    • e o instaura soberanamente
      • na sua possibilidade linguística.

    Para o pensamento clássico, a linguagem começa onde houver

    • não expressão,
    • mas discurso.

    Quando se diz

    • “não”,

    não se traduz a recusa por um grito;
    resume-se numa palavra “uma proposição inteira:

    • … eu não sinto isso, ou
    • eu não creio nisso”(30).

    “Vamos direto à proposição, objeto essencial da gramática.”(31)

    Nela todas as funções da linguagem são reconduzidas aos três únicos elementos que são indispensáveis para formar uma proposição:

    • o sujeito,
    • o atributo
    • e seu liame.

    O sujeito e o atributo são ainda da mesma natureza, pois que a proposição afirma que um é idêntico ou pertence ao outro: eles podem, pois, sob certas condições, trocar suas funções.

    A única diferença, mas decisiva, é a que manifesta a irredutibilidade do verbo:

    “em toda proposição”, diz Hobbes(32) “há três coisas a considerar:

    • saber os dois nomes,
      • sujeito
      • e predicado
    • e o liame ou a cópula.

    Os dois nomes despertam no espírito a ideia de uma única e mesma coisa, mas a cópula fez nascer a ideia da causa pela qual estes nomes foram impostos a esta coisa”.

    O verbo é a condição indispensável a todo discurso: e onde ele não existir, ao menos de modo virtual, não é possível dizer que há linguagem.

    As proposições nominais guardam todas a presença invisível de um verbo, e Adam Smith(33) pensa que, sob sua forma primitiva, a linguagem era composta só de verbos impessoais (do tipo: “chove” ou “troveja”), e que a partir desse núcleo verbal todas as outras partes do discurso se foram destacando como outras tantas precisões derivadas e secundárias.

    O limiar da linguagem está onde surge o verbo.
    É preciso, portanto,
    tratar esse verbo como um ser misto,
    ao mesmo tempo palavra entre as palavras,
    preso às mesmas regras, obedecendo como elas
    às leis de regência e de concordância;
    e depois,
    em recuo em relação a elas todas,
    numa região que não é aquela do falado
    mas aquela donde se fala.
    Ele está na orla do discurso,
    na juntura entre
    aquilo que é dito
    e aquilo que se diz,
    exatamente lá onde os signos
    estão em via de se tornar linguagem.

    É nessa função que é preciso interrogá-lo – despojando-o daquilo que não cessou de o sobrecarregar e de o obscurecer.

    • Não se deter com Aristóteles no fato de que o verbo significa os tempos (muitas outras palavras, advérbios, adjetivos, nomes, podem carregar significações temporais).
    • Não se deter tampouco, como o fazia Scaliger, no fato de que ele exprime ações ou paixões, enquanto os nomes designam coisas, e permanentes (pois há justamente este próprio nome “ação”).
    • Não atribuir importância, como o fazia Buxtorf, às diferentes pessoas do verbo, pois certos pronomes também têm a propriedade de as designar.

    Trazer porém, de imediato, à plena luz, aquilo que o constitui:

    • o verbo afirma, isto é, indica

    “que o discurso, onde essa palavra é empregada, é o discurso de um homem que não somente concebe os nomes, mas os julga”(34).

    Há proposição – e discurso – quando se afirma entre duas coisas um liame de atribuição, quando se diz que isto é aquilo(35).

    A espécie inteira do verbo se reduz ao único que significa:

    • ser.

    Todos os outros se servem secretamente dessa função única, mas a recobriram com determinações que a ocultam:

    • acrescentaram-se-lhe atributos e, em vez de se dizer “eu sou cantante”, diz-se “eu canto”;
    • acrescentaram-se-lhe indicações de tempo e, no lugar de se dizer “outrora eu sou cantante”, diz-se “eu cantava”;
    • enfim, certas línguas integraram aos verbos o próprio sujeito e é assim que os latinos não dizem ego vivit, mas vivo.

    Tudo isso não passa de depósito e sedimentação em torno e acima de uma função verbal absolutamente tênue mas essencial,

    “há apenas o verbo ser… que se manteve nessa simplicidade”(36).

    A essência inteira da linguagem se concentra nessa palavra singular. Sem ela tudo teria permanecido silencioso, e os homens, como alguns animais, poderiam certamente fazer uso de sua voz, mas nenhum desses gritos lançados na floresta jamais teria articulado a grande cadeia da linguagem.

    Na época clássica, o ser bruto da linguagem – essa massa de signos depositados no mundo para aí exercitar nossa interrogação – desvaneceu-se, mas a linguagem estabeleceu com o ser novas relações, mais difíceis de apreender,

    • porquanto é por uma palavra que a linguagem o enuncia e o atinge;
    • do interior de si mesma, ela o afirma;
    • e, contudo, ela não poderia existir como linguagem se essa palavra, por si só, não sustentasse de antemão todo discurso possível.

    Sem uma forma de designar o ser, não há linguagem; mas sem linguagem, não há verbo ser, o qual é apenas uma parte dela. Essa simples palavra é o ser representado na linguagem; mas é também o ser representativo da linguagem – o que, permitindo-lhe afirmar o que ela diz, a toma suscetível de verdade ou de erro. Nisso é diferente de todos os signos que podem ser conformes, fiéis, ajustados ou não ao que eles designam, mas que jamais são verdadeiros ou; falsos. 

    A linguagem é toda ela discurso,
    em virtude desse singular poder de uma palavra
    que passa por sobre o sistema dos signos
    em direção ao ser daquilo que é significado.

    Mas donde vem esse poder?

    E que sentido é esse que, transbordando as palavras,
    funda a proposição?

    Os gramáticos de Port-Royal diziam que o sentido do verbo ser era afirmar. O que indicava bem em que região da linguagem estava seu privilégio absoluto, mas não em que ele consistia. Não se deve compreender que o verbo ser contém a ideia de afirmação, pois esta mesma palavra afirmação e o vocábulo sim a contêm igualmente(37); portanto, é antes a afirmação da ideia que se acha assegurada por ele.

    Mas afirmar uma ideia é enunciar sua existência? – É o que pensa Bauzée, que aí encontra uma razão para que o verbo tenha recolhido em sua forma as variações do tempo: pois a essência das coisas não muda, somente sua existência aparece e desaparece, somente ela tem um passado e um futuro(38).

    Sobre isso, observa Condillac que, se a existência pode ser retirada das coisas, é porque ela não é nada mais que um atributo e porque o verbo pode afirmar a morte tanto quanto a existência.

    A única coisa que o verbo afirma
    é a coexistência de duas representações:
    por exemplo,
    a do verde e da árvore,
    a do homem e da existência ou da morte;
    é por isso que o tempo dos verbos
    não indica aquele em que as coisas existiram no absoluto, mas um sistema relativo
    de anterioridade ou de simultaneidade
    das coisas entre si(39).

    A coexistência, com efeito, não é um atributo da própria coisa, mas também não é nada mais que uma forma de representação: dizer que o verde e a árvore coexistem é dizer que estão ligados em todas ou na maioria das impressões que recebo.

    Assim é que o verbo ser teria essencialmente por função reportar toda linguagem à representação que ele designa. O ser em direção ao qual ele transborda os signos não é nem mais nem menos que o ser do pensamento.

    Comparando a linguagem a um quadro, um gramático do fim do século XVIII define

    • os nomes como formas,
    • os adjetivos como cores
    • e o verbo como a própria tela onde elas aparecem.

    Tela invisível, inteiramente recoberta pelo brilho e o desenho das palavras, mas que fornece à linguagem o lugar onde fazer valer sua pintura;

    • o que o verbo designa é finalmente o caráter representativo da linguagem,
    • o fato de que ela tem seu lugar no pensamento
    • e de que a única palavra capaz de transpor o limite dos signos e fundá-Ios na verdade não atinge jamais senão a própria representação.

    De sorte que a função do verbo se acha identificada com o modo de existência da linguagem, que ela percorre em toda a sua extensão: falar é, ao mesmo tempo, representar por signos e conferir a signos uma forma sintética comandada pelo verbo.

    Como o diz Destutt, o verbo é a atribuição, o suporte e a forma de todos os atributos:

    “O verbo ser acha-se em todas as proposições porque não se pode dizer que uma coisa é de tal maneira sem dizer com isto que ela é… Mas esta palavra é, que está em todas as proposições, nelas faz parte sempre do atributo, delas é sempre o começo e a base, o atributo geral e comum.”(40)

    Vê-se de que modo, atingindo esse ponto de generalidade, a função do verbo não terá senão que dissociar-se, desde que venha a desaparecer o domínio unitário da gramática geral.

    Quando for liberada a dimensão do gramatical puro, a proposição não será mais que uma unidade de sintaxe.

    O verbo aí figurará em meio às outras palavras com seu sistema próprio de concordância, de flexões e de regência.

    E, no outro extremo, o poder de manifestação da linguagem reaparecerá numa questão autônoma, mais arcaica que a gramática.

    E, durante todo o século XIX, a linguagem será interrogada na sua natureza enigmática de verbo: lá onde ele está mais próximo do ser, mais capaz de nomeá-lo, de transmitir ou de fazer cintilar seu sentido fundamental, de tomá-lo absolutamente manifesto.

    De Regel a Mallarmé, esse espanto diante das relações entre o ser e a linguagem contrabalançará a reintrodução do verbo na ordem homogênea das funções gramaticais.

    II. A gramática geral

    Capítulo IV. Falar; tópico II. A gramática geral

    Uma vez elidida a existência da linguagem, subsiste na representação apenas seu funcionamento:

    • sua natureza
    • e suas virtudes de discurso.

    Este não é mais do que a própria representação, ela mesma representada por signos verbais.

    Mas qual é, pois, a particularidade desses signos, e esse estranho poder que lhes permite, melhor que todos os outros, assinalar a representação, analisá-Ia e recompô-Ia?

    Dentre todos os sistemas de signo qual é o próprio da linguagem?

    Ao primeiro exame, é possível definir as palavras por seu caráter arbitrário ou coletivo. Na sua raiz primeira, a linguagem é feita, como diz Hobbes, de um sistema de sinais que os indivíduos escolheram, primeiramente, para si próprios: por essas marcas, podem eles recordar as representações, ligá-Ias, dissociá-las e operar sobre elas. São esses sinais que uma convenção ou uma violência impuseram à coletividade(1); mas, de toda maneira, o sentido das palavras só pertence à representação de cada um e, conquanto seja aceite por todos, não tem outra existência senão no pensamento dos indivíduos tomados um a um:

    “É das ideias daquele que fala”, diz Locke, “que as palavras são signos, e ninguém as pode imediatamente aplicar como signos a outra coisa senão às ideias que ele próprio tem no espírito”(2).

    O que distingue a linguagem de todos os outros signos e lhe permite desempenhar na representação um papel decisivo não é tanto o fato de ser individual ou coletiva, natural ou arbitrária. Mas, sim, o fato de que ela analisa a representação segundo uma ordem necessariamente sucessiva:

    • os sons, com efeito, só podem ser articulados um a um;
    • a linguagem não pode representar o pensamento, de imediato, na sua totalidade;
      • precisa dispô-Io parte por parte segundo uma ordem linear.

    Ora, esta é estranha à representação.

    Certamente os pensamentos se sucedem no tempo, mas cada um forma uma unidade,

    • quer se admita com Condillac(3) que todos os elementos de uma representação são dados num instante e que somente a reflexão pode desenrolá-los um a um,
    • quer se admita com Destutt de Tracy que eles se sucedem com uma rapidez tão grande que não é praticamente possível observá-Ia nem reter sua ordem(4).

    São essas representações, assim cerradas em si mesmas, que é preciso desenrolar nas proposições:

    • para meu olhar, “o fulgor está no interior da rosa”;
    • no meu discurso, não posso evitar que a preceda ou suceda(5).

    Se o espírito tivesse poder de pronunciar as ideias “como as percebe”, não há nenhuma dúvida de que “as pronunciaria todas ao mesmo tempo”(6). Mas é isso justamente que não é possível, pois, se “o pensamento é uma operação simples”, “sua enunciação é uma operação sucessiva”(7).

    Aí reside o que é próprio da linguagem, o que a distingue, a um tempo,

    • da representação (de que, no entanto e por sua vez, ela não é senão a representação)
    • e dos sígnos (aos quais pertence sem outro privilégio singular).

    Ela não se opõe ao pensamento como o exterior ao interior, ou a expressão à reflexão; não se opõe aos outros signos – gestos, pantomimas, versões, pinturas, emblemas(8) – como o arbitrário ou o coletivo ao natural e ao singular.

    Opõe-se, porém, a tudo isso, como o sucessivo ao contemporâneo. Ela está para o pensamento e para os signos como a álgebra para a geometria:

    • substitui a comparação simultânea das partes (ou das grandezas)
    • por uma ordem cujos graus se devem percorrer uns após outros.

    É nesse sentido estrito que a linguagem é análise do pensamento:

    • não simples repartição,
    • mas instauração profunda da ordem no espaço.

    É aí que se situa esse domínio epistemológico novo que a idade clássica chamou de “gramática geral”.

    Seria contrasenso ver nela somente a pura e simples aplicação de uma lógica à teoria da linguagem. Contrasenso igualmente, porém, querer decifrá-Ia como a prefiguração de uma linguística.

    A Gramática Geral é o estudo da ordem verbal na sua relação com a simultaneidade que ela é encarregada de representar. Por objeto próprio, ela não tem, pois, nem o pensamento nem a língua: mas o discurso entendido como sequência de signos verbais.

    Essa sequência é artificial em relação à simultaneidade das representações e, nessa medida, a linguagem se opõe ao pensamento como o refletido ao imediato.

    E, contudo, essa sequência não é a mesma em todas as línguas: algumas colocam a ação no meio da frase; outras, no final; algumas nomeiam primeiro o objeto principal da representação, outras, as circunstâncias acessórias; como observa a Enciclopédia, o que torna as línguas estrangeiras opacas umas às outras e tão difíceis de traduzir, mais que a diferença de palavras, é a incompatibilidade de sua sucessão(9).

    Em relação à ordem evidente, necessária, universal, que a ciência e particularmente a álgebra introduzem na representação, a linguagem é espontânea e irrefletida; é como que natural. Conforme o ponto de vista com que a consideramos, ela é tanto uma representação já analisada, quanto uma reflexão em estado selvagem. Na verdade, é o liame concreto entre a representação e a reflexão.

    Não é tanto o instrumento de comunicação dos homens entre si, como o caminho pelo qual, necessariamente, a representação comunica com a reflexão.

    Eis por que a Gramática geral assumiu tanta importância para a filosofia no decurso do século XVIII: ela era, num só movimento, a forma espontânea da ciência, como uma lógica incontrolada do espírito(10) e a primeira decomposição refletida do pensamento: uma das mais primitivas rupturas com o imediato.

    Constituía como que uma filosofia inerente ao espírito – “qual a metafísica”, diz Adam Smith, “não foi indispensável para formar o menor dos adjetivos”(11) – e aquilo que toda filosofia devia retomar para reencontrar, através de tantas escolhas diversas, a ordem necessária e evidente da representação.

    Forma inicial de toda reflexão, tema primeiro de toda critica: assim é a linguagem. É essa coisa ambígua, tão vasta quanto o conhecimento, mas sempre interior à representação, que a Gramática geral toma por objeto.

    Mas é preciso, desde logo, tirar um certo número de consequências.

    1. A primeira é que se vê bem como se distribuem na época clássica as ciências da linguagem:

    • de um lado, a Retórica, que trata das figuras e dos tropos, isto é, da maneira como a linguagem se espacializa nos signos verbais;
    • de outro, a Gramática, que trata da articulação e da ordem, isto é, da maneira como a análise da representação se dispõe segundo uma série sucessiva.

    A Retórica define a espacialidade da representação, tal como ela nasce com a linguagem;

    a Gramática define para cada língua a ordem que reparte no tempo essa espacialidade.

    É por isso que, como se verá mais adiante, a Gramática supõe a natureza retórica das linguagens, mesmo das mais primitivas e das mais espontâneas.

    2. Por outro lado, a Gramática, como reflexão sobre a linguagem em geral, manifesta a relação que esta mantém com a universalidade.

    Essa relação pode receber duas formas, conforme se tome em consideração

    • a possibilidade de uma Língua universal
    • ou de um Discurso universal.

    Na época clássica o que se designa por língua universal não é o falar primitivo, intato e puro, capaz de restaurar, se fosse reencontrado para além dos castigos do esquecimento, o entendimento anterior a BabeI.

    Trata-se de uma língua que

    • seria suscetível de atribuir a cada representação e a cada elemento de cada representação o signo pelo qual podem ser marcados de um modo unívoco;
    • seria capaz também de indicar de que maneira os elementos se compõem numa representação e como estão ligados uns aos outros;
    • possuindo os instrumentos que permitem indicar todas as relações eventuais entre os segmentos da representação, ela teria, por isso mesmo, o poder de percorrer todas as ordens possíveis.

    Ao mesmo tempo Característica e Combinatória, a Língua universal não restabelece a ordem dos tempos antigos: ela inventa signos, uma sintaxe, uma gramática, em que toda ordem concebível deve encontrar seu lugar.

    Quanto ao Discurso universal,

    • também ele não é o Texto único que conserva no enigma de seu segredo a chave desveladora de todo saber;
    • ele é antes a possibilidade de definir a marcha natural e necessária do espírito, desde as mais simples representações até as mais finas análises ou as mais complexas combinações:
      • esse discurso é o saber colocado na ordem única que lhe prescreve sua origem.

    Ele percorre todo o campo dos conhecimentos, mas de uma forma de certo modo subterrânea, para fazer surgir sua possibilidade a partir da representação, para mostrar seu nascimento e pôr ao vivo o seu liame natural, linear e universal.

    Esse denominador comum, esse fundamento de todos os conhecimentos, essa origem manifestada em um discurso contínuo é a Ideologia, uma linguagem que reduplica em toda a sua extensão o fio espontâneo do conhecimento:

    “O homem por sua natureza tende sempre para o resultado mais próximo e mais premente. Pensa primeiramente em suas necessidades, depois em seus prazeres. Ocupa-se de agricultura, de medicina, de guerra, de política prática, depois de poesia e de artes, antes de pensar na filosofia; e quando se volta sobre si mesmo e começa a refletir, prescreve regras para seu juízo, é a lógica, para seus discursos, é a gramática, para seus desejos, é a moral. Julga-se então no cume da teoria”; mas apercebe-se de que todas essas operações têm “uma fonte comum” e que “esse centro único de todas as verdades é o conhecimento de suas faculdades intelectuais”(12).

    A Característica universal e a Ideologia opõem-se

    • como a universalidade da língua em geral (ela desdobra todas as ordens possíveis na simultaneidade de um só quadro fundamental)
    • e a universalidade de um discurso exaustivo (ele reconstitui a gênese única e válida para cada um de todos os conhecimentos possíveis em seu encadeamento).

    Mas seu projeto e sua comum possibilidade residem num poder que a idade clássica confere à linguagem: atribuir signos adequados a todas as representações, quaisquer que sejam, e estabelecer entre elas todos os liames possíveis.

    Na medida em que a linguagem pode representar todas as representações, ela é, de pleno direito, o elemento do universal.

    Deve haver uma linguagem, ao menos possível, que recolha entre suas palavras a totalidade do mundo

    e inversamente, o mundo, como totalidade do representável, deve poder tornar-se, em seu conjunto, uma Enciclopédia.

    E o grande sonho de Charles Bonnet atinge aqui o que é a linguagem em seu liame e em sua dependência relativamente à representação:

    “Apraz-me considerar a multidão inumerável dos Mundos como outros tantos livros cuja coleção compõe a imensa Biblioteca do Universo ou a verdadeira Enciclopédia universal. Concebo que a gradação maravilhosa que há entre esses diferentes mundos facilita às inteligências superiores, às quais foi dado percorrê-los, ou melhor, lê-los, a aquisição de verdades de todo gênero que aí se encerram e confere ao seu conhecimento essa ordem e esse encadeamento que constituem sua principal beleza. Mas esses enciclopedistas celestes não possuem todos no mesmo grau a Enciclopédia do Universo; uns dela só possuem alguns ramos; outros possuem um número maior, outros a apreendem mais ainda; todos, porém, têm a eternidade para crescer e aperfeiçoar seus conhecimentos e desenvolver todas as suas faculdades.”(13)

    Sobre esse fundo de uma Enciclopédia absoluta, os humanos constituem formas intermediárias de universalidade composta e limitada:

    • Enciclopédias alfabéticas que alojam a maior quantidade possível de conhecimentos na ordem arbitrária das letras;
    • pasigrafias que permitem transcrever segundo um único e mesmo sistema de figuras todas as línguas do mundo(14),
    • léxicos polivalentes que estabelecem as sinonímias entre um número mais ou menos considerável de línguas;
    • enfim, as enciclopédias racionais que pretendem “expor tanto quanto possível a ordem e o encadeamento dos conhecimentos humanos” examinando “sua genealogia e sua filiação, as causas que as fizeram nascer e os caracteres que as distinguem”(15)

    Qualquer que tenha sido o caráter parcial de todos esses projetos, quaisquer que tenham sido as circunstâncias empíricas de seu empreendimento, o fundamento de sua possibilidade na epistémê clássica está em que, se o ser da linguagem era inteiramente reduzido ao seu funcionamento na representação, esta, em contrapartida, só tinha relação com o universal por intermédio da linguagem.

    3. Conhecimento e linguagem estão estreitamente entrecruzados. Têm, na representação, mesma origem e mesmo princípio de funcionamento; apóiam-se um ao outro, completam-se e se criticam incessantemente.

    Em sua forma mais geral, conhecer e falar consistem primeiramente em analisar a simultaneidade da representação, em distinguir-lhe os elementos, em estabelecer as relações que os combinam, as sucessões possíveis segundo as quais podemos desenvolvê-los:

    • é num mesmo movimento que o espírito fala e conhece,

    “é pelos mesmos procedimentos que se aprende a falar e que se descobrem

        • ou os princípios do sistema do mundo
        • ou aqueles das operações do espírito humano,

    isto é, tudo o que há de sublime nos nossos conhecimentos”(16).

    Mas a linguagem só é conhecimento sob uma forma irrefletida;

    • impõe-se do exterior aos indivíduos que ela guia, quer queiram quer não, em direção a noções concretas ou abstratas, exatas ou pouco fundadas;
    • o conhecimento, em contrapartida, é como uma linguagem de que cada palavra tivesse sido examinada e cada relação verificada.

    Saber é falar como se deve e como o prescreve o procedimento certo do espírito;

    falar é saber como se pode e segundo o modelo que impõem aqueles com quem se partilha o nascimento.

    As ciências são línguas bem feitas na mesma medida em que as línguas são ciências incultas.

    Toda língua deve, pois, ser refeita: isto é,

    • explicada e julgada a partir dessa ordem analítica que nenhuma dentre elas segue exatamente;
    • e reajustada eventualmente para que a cadeia de conhecimentos possa aparecer com toda a clareza, sem sombra nem lacuna.

    Assim, pertence à natureza mesma da gramática ser prescritiva, não, de modo algum,

    • porque pretendesse impor as normas de uma bela linguagem, fiel às regras do gosto,
    • mas porque ela refere a possibilidade radical de falar à colocação em ordem da representação.

    Destutt de Tracy observaria um dia que os melhores tratados de Lógica, no século XVIII, foram escritos por gramáticos: é que as prescrições da gramática eram de ordem analítica, não estética. E essa dependência da língua relativamente ao saber libera todo um campo histórico que não existira nas épocas precedentes. Algo assim como uma história do conhecimento torna-se possível.

    É que,

    • se a língua é uma ciência espontânea, obscura a si mesma e inábil –
    • em contrapartida é aperfeiçoada pelos conhecimentos que não se podem depositar em suas palavras sem nelas deixar seu vestígio e como que o lugar vazio de seu conteúdo.

    As línguas, saber imperfeito, são a memória fiel de seu aperfeiçoamento. Induzem em erro, mas registram o que se aprendeu. Em sua ordem desordenada, fazem nascer falsas ideias; mas as ideias verdadeiras nelas depositam a marca indelével de uma ordem que o acaso somente não poderia dispor.

    O que nos deixam as civilizações e os povos como monumentos de seu pensamento não são tanto os textos, mas sim os vocabulários e as sintaxes, os sons de suas línguas mais que as palavras que pronunciaram, seus discursos menos que o que os tornou possíveis: a discursividade de sua linguagem.

    “A língua de um povo fornece seu vocabulário e seu vocabulário é uma bíblia bastante fiel de todos os conhecimentos desse povo; apenas a comparação do vocabulário de uma nação em diferentes tempos é suficiente para se formar uma ideia de seus progressos. Cada ciência tem seu nome, cada noção na ciência tem o seu, tudo o que é conhecido na natureza está designado, assim como tudo o que se inventa nas artes, bem como os fenômenos, as manobras e os instrumentos.”(17)

    Daí a possibilidade de fazer uma história da liberdade e da escravidão a partir das línguas(18), ou ainda uma história das opiniões, dos preconceitos, das superstições, das crenças de toda ordem cujos escritos testemunham sempre pior que as próprias palavras(19).

    Daí também o projeto de fazer uma enciclopédia “das ciências e das artes” que não seguisse o encadeamento dos próprios conhecimentos, mas se alojasse na forma da linguagem, no interior do espaço aberto nas palavras; é aí que os tempos futuros buscarão necessariamente o que soubemos ou pensamos, pois as palavras, em sua rude repartição, estão distribuídas nessa linha mediana pela qual

    • a ciência se emparelha à percepção,
    • e a reflexão às imagens.

    Nelas,

    • o que se imagina torna-se o que se sabe
    • e, em contrapartida, o que se sabe torna-se o que se representa cotidianamente.

    A velha relação com o texto, pela qual o Renascimento definia a erudição, está agora transformada:

    • tornou-se, na idade clássica, a relação com o puro elemento da língua.

    Vê-se assim aclarar-se o elemento luminoso no qual comunicam, em pleno direito,

    • linguagem e conhecimento,
    • discurso bem-feito e saber,
    • língua universal e análise do pensamento,
    • história dos homens e ciências da linguagem.

    Mesmo quando era destinado à publicação, o saber do Renascimento se dispunha segundo um espaço cerrado. A “Academia” era um círculo fechado, que projetava na superfície das configurações sociais a forma essencialmente secreta do saber.

    É que esse saber tinha por tarefa primeira fazer falar siglas mudas: visava reconhecer-lhes as formas, interpretá-Ias e retranscrevê-Ias em outros traços que, por sua vez, deviam ser decifrados; de tal sorte que nem mesmo a descoberta do segredo escapava a essa ardilosa disposição que a tornava a um tempo tão difícil e tão preciosa.

    Na idade clássica, conhecer e saber se imbricam na mesma trama: para o saber e para a linguagem, trata-se de atribuir à representação signos pelos quais seja possível desdobrá-Ia segundo uma ordem necessária e visível.

    Quando era enunciado, o saber do século XVI era um segredo, mas partilhado.

    Quando é oculto, o dos séculos XVII e XVIII é um discurso por sobre o qual se colocou um véu.

    É que é próprio à mais originária natureza da ciência entrar no sistema das comunicações verbais(20) e à da linguagem ser conhecimento desde sua primeira palavra. Falar, esclarecer e saber são, no sentido estrito do termo, da mesma ordem.

    O interesse que a idade clássica confere à ciência,

    • a publicidade de seus debates,
    • seu caráter fortemente exotérico,
    • sua abertura ao profano,
    • a astronomia fontenellizada,
    • Newton lido por Voltaire,

    tudo isso certamente não é mais que um fenômeno sociológico.

    Não provocou a menor alteração na história do pensamento, não modificou por pouco que fosse o devir do saber.

    Nada explica, salvo certamente ao nível doxográfico em que, com efeito, deve ser situado; sua condição de possibilidade, porém, está aí nesta dependência recíproca entre o saber e a linguagem.

    O século XIX, mais tarde, a desfará e lhe ocorrerá deixar em face um da outra, um saber fechado sobre si mesmo e uma pura linguagem tomada, em seu ser e sua função, enigmática – qualquer coisa a que se chama, desde essa época, Literatura. Entre os dois desenvolver-se-ão, ao infinito, as linguagens intermediárias, derivadas ou, se se quiser, decaídas, do saber assim como das obras.

    4. Porque se tomou análise e ordem, a linguagem estabelece com o tempo relações até então inéditas.

    O século XVI admitia que as línguas se sucediam na história e podiam engendrar-se umas às outras. As mais antigas eram as línguas mães. De todas a mais arcaica, pois que a língua do Eterno quando se dirigia aos homens, o hebreu passava por ter dado nascimento ao siríaco e ao árabe; depois vinha o grego, do qual saíram o copta e o egípcio; o latim tinha na sua filiação o italiano, o espanhol e o francês; enfim, do “teutônico” derivavam o alemão, o inglês e o flamengo(21).

    A partir do século XVII, a relação da linguagem com o tempo se inverte:

    • este não deposita mais as falas por etapas na história do mundo;
    • são as linguagens que desenrolam as representações e as palavras segundo uma sucessão cuja lei elas mesmas definem.

    É por essa ordem interna e pelo lugar que reserva às palavras que cada língua define sua especificidade. E não mais pelo seu lugar numa série histórica. O tempo é para a linguagem seu modo interior de análise; não seu lugar de nascimento.

    Daí o pouco interesse que a idade clássica conferiu à filiação cronológica, a ponto de negar, contra toda “evidência” – é da nossa que se trata – o parentesco do italiano ou do francês com o latim(22).

    A tais séries, que existiam no século XVI e reaparecerão no século XIX, substituem-se tipologias. E são as da ordem.

    • Há o grupo de línguas que colocam primeiro o sujeito de quem se fala; depois, a ação que é empreendida ou sofrida por ele; enfim, o agente sobre o qual ele a exerce: testemunham isso o francês, o inglês, o espanhol.
    • Do lado oposto, o grupo de línguas que fazem “preceder ora a ação, ora o objeto, ora a modificação ou a circunstância”; o latim, por exemplo, ou o “esclavão”, nos quais a função da palavra não é indicada por seu lugar mas por sua flexão.
    • Enfim, o terceiro grupo é formado pelas línguas mistas (como o grego ou o teutônico), “que têm algo dos dois outros, possuindo um artigo e casos”(23).

    Mas é preciso compreender bem que não é a presença ou a ausência de flexões que define para cada língua a ordem possível ou necessária de suas palavras. É a ordem como análise e alinhamento sucessivo das representações que constitui o elemento prévio e prescreve utilizar declinações ou artigos.

    As línguas que seguem a ordem “da imaginação e do interesse” não determinam lugar constante para as palavras: devem marcá-Ias por flexões (são as línguas “transpositivas”).

    Se, em contrapartida, seguem a ordem uniforme da reflexão, basta-lhes indicar por um artigo o número e o gênero dos substantivos; o lugar na ordenação analítica tem em si mesmo um valor funcional: são as linguagens “análogas”(24).

    As línguas se aparentam e se distinguem no quadro dos tipos possíveis de sucessão. Quadro que é simultâneo, mas que sugere quais foram as línguas mais antigas: pode-se admitir, com efeito, que a ordem mais espontânea (a das imagens e das paixões) deve ter precedido a mais reflexiva (a da lógica): a datação externa é comandada pelas formas internas da análise e da ordem.

    O tempo tornou-se interior à linguagem.

    Quanto à própria história das línguas, não é mais que erosão ou acidente, introdução, encontro e mistura de elementos diversos; não tem lei, nem movimento, nem necessidade próprios. Como a língua grega, por exemplo, se formou? “Foram mercadores da Fenícia, aventureiros da Frigia, da Macedônia e da Ilíria, gálatas, citas, bandos de exilados ou de fugitivos que carregaram a base primitiva da língua grega de tantas espécies de partículas inumeráveis e de tantos dialetos.”(25)

    Quanto ao francês, é constituído de nomes latinos e góticos, de formas de expressão e de construções gaulesas, de artigos e números árabes, de palavras tomadas de empréstimo aos ingleses e aos italianos, por ocasião de viagens, guerras ou convenções de comércio(26).

    É que as línguas evoluem por efeito das migrações, das vitórias e das derrotas, das modas, das trocas; não, porém, por força de uma historicidade que por si mesmas deteriam. Não obedecem a qualquer princípio interno de desenvolvimento; são elas que desenvolvem ao longo de uma linha as representações e seus elementos.

    Se há para as línguas um tempo que é positivo, não se deve buscá-lo no exterior, do lado da história, mas na ordenação das palavras, no âmago do discurso.

    Pode-se circunscrever agora o campo epistemológico da Gramática geral, que surgiu na segunda metade do século XVII e desvaneceu-se nos primeiros anos do século seguinte.

    Gramática geral não é gramática comparada: não toma por objeto, não utiliza como método as aproximações entre as línguas. É que sua generalidade não consiste em encontrar leis propriamente gramaticais que seriam comuns a todos os domínios linguísticos e fariam aparecer, numa unidade ideal e constringente, a estrutura de toda língua possível; se ela é geral, é na medida em que pretende fazer surgir, por sob as regras da gramática, mas ao nível do seu fundamento, a função representativa do discurso – quer seja a função vertical que designa um representado, ou a horizontal que o liga do mesmo modo que o pensamento.

    Porquanto faz aparecer a linguagem como uma representação que articula outra, ela é, de pleno direito, “geral”:

    é do desdobramento interior da representação que ela trata.

    Visto, porém, que essa articulação pode fazer-se de muitas maneiras diferentes, haverá, paradoxalmente, diversas gramáticas gerais: a do francês, do inglês, do latim, do alemão etc.(27).

    A gramática geral não visa a definir as leis de todas as línguas, mas a tratar, por etapas, cada língua particular, como um modo de articulação do pensamento sobre si mesmo. Em toda língua tomada isoladamente, a representação se provê de “caracteres”.

    • A gramática geral definirá o sistema de identidades e de diferenças que esses caracteres espontâneos supõem e utilizam.
    • Estabelecerá a taxinomia de cada língua. Isto é, aquilo que funda em cada uma delas a possibilidade de sustentar um discurso.

    Daí as duas direções que ela necessariamente assume. Visto que o discurso liga suas partes como a representação seus elementos, a gramática geral deverá estudar o funcionamento representativo das palavras umas em relação às outras:

    • o que supõe, de início, uma análise do liame que vincula as palavras conjuntamente
      • (teoria da proposição e singularmente do verbo),
    • depois uma análise dos diversos tipos de palavras e da maneira como elas determinam a representação e se distinguem entre si
      • (teoria da articulação).

    Todavia, já que o discurso não é simplesmente um conjunto representativo mas uma representação reduplicada que designa uma outra – aquela mesma que ela representa -, a gramática geral deve estudar a maneira pela qual as palavras designam o que elas dizem,

    • primeiramente no seu valor primitivo (teoria da origem e da raiz),
    • depois, na sua capacidade permanente de desvio, de extensão, de reorganização (teoria do espaço retórico e da derivação).

    I. Crítica e comentário

    Capítulo IV. Falar; tópico I. Crítica e comentário

    A existência da linguagem na idade clássica é a um tempo

    • soberana
    • e discreta.

    Soberana, pois que as palavras receberam a tarefa e o poder de “representar o pensamento”.

    Mas representar não quer dizer aqui traduzir, dar uma versão visível, fabricar um duplo material que possa, na vertente externa do corpo, reproduzir o pensamento em sua exatidão.

    Representar deve-se entender no sentido estrito:

    • a linguagem representa o pensamento
    • como o pensamento se representa a si mesmo.

    Não há, para constituir a linguagem ou para animá-Ia por dentro, um ato essencial e primitivo de significação, mas tão-somente, no coração da representação, este poder que ela detém de se representar a si mesma, isto é, de se analisar em se justapondo, parte por parte, sob o olhar da reflexão e de se delegar, ela própria, num substituto que a prolongue.

    Na idade clássica, nada é dado que não seja dado à representação; mas, por isso mesmo, nenhum signo surge, nenhuma fala se enuncia, nenhuma palavra ou nenhuma proposição jamais visa a algum conteúdo senão pelo jogo de uma representação que se põe à distância de si, se desdobra e se reflete numa outra representação que lhe é equivalente.

    As representações não se enraízam num mundo do qual tomariam emprestado seu sentido; abrem-se por si mesmas para um espaço que lhes é próprio e cuja nervura interna dá lugar ao sentido. E a linguagem está aí, nessa distância que a representação estabelece consigo mesma.

    As palavras não formam, pois, a tênue película que duplica o pensamento do lado de sua fachada; elas o lembram, o indicam, mas primeiramente em direção ao interior, em meio a todas estas representações que representam outras.

    Muito mais do que se crê, a linguagem clássica está próxima do pensamento que ela é encarregada de manifestar; não lhe é, porém, paralela; está presa na sua rede e tecida na trama mesma que ele desenvolve.

    Não é efeito exterior do pensamento, mas o próprio pensamento.

    E, desse modo, ela se faz invisível ou quase. Tornou-se, em todo o caso, tão transparente à representação que seu ser cessa de constituir problema.

    O Renascimento detinha-se diante do fato bruto de que havia linguagem: na espessura do mundo, um grafismo misturado às coisas ou correndo por sob elas; siglas depositadas nos manuscritos ou nas folhas dos livros.

    E todas essas marcas insistentes demandavam uma linguagem segunda – a do comentário, da exegese, da erudição – para fazer falar e tornar enfim móvel a linguagem que nelas dormitava; o ser da linguagem precedia, como que com muda obstinação, o que nela se podia ler e as palavras com as quais se fazia com que ele ressoasse.

    A partir do século XVII, é essa existência maciça e intrigante da linguagem que se acha elidida. Não aparece mais encoberta no enigma da marca: não aparece ainda desenvolvida na teoria da significação.

    Em última análise, poder-se-ia dizer que a linguagem clássica não existe. Mas que funciona: toda a sua existência assume lugar no seu papel representativo, a ele se limita com exatidão e acaba por nele esgotar-se.

    A linguagem não tem mais outro lugar senão a representação, nem outro valor senão em si mesma: nesse vão que ela tem poder de compor.

    Com isso, a linguagem clássica descobre certa relação consigo mesma que até então não fora nem possível nem mesmo concebível.

    Em relação a si mesma, a linguagem do século XVI estava numa postura de perpétuo comentário:

    • ora, este só pode exercer-se se houver linguagem – linguagem que pré-exista silenciosamente ao discurso pelo qual se tenta fazê-Ia falar;
    • para comentar, é preciso a antecedência absoluta do texto;
    • e inversamente, se o mundo é um entrelaçamento de marcas e de palavras, como falar dele senão sob a forma do comentário?

    A partir da idade clássica, a linguagem se desenvolve no interior da representação e nesse desdobramento de si mesma que a escava.

    Doravante, o Texto primeiro se apaga e, com ele, todo o fundo inesgotável de palavras cujo ser mudo estava inscrito nas coisas; só permanece a representação, desenrolando-se nos signos verbais que a manifestam e tornando-se assim discurso.

    O enigma de uma palavra que uma segunda linguagem deve interpretar foi substituído pela discursividade essencial da representação: possibilidade aberta, ainda neutra e indiferente, mas que o discurso terá por tarefa concluir e fixar.

    Ora, quando esse discurso se torna, por sua vez, objeto de linguagem,

    • não é interrogado como se dissesse alguma coisa sem o dizer, como se fosse uma linguagem retida em si mesma e uma palavra fechada;
    • não se busca mais desvelar o grande propósito enigmático que está oculto sob seus signos;
      • pergunta-se-lhe como ele funciona:
      • que representações ele designa,
      • que elementos recorta e recolhe,
      • como analisa e compõe,
      • que jogo de substituições lhe permite assegurar seu papel de representação.

    O comentário cedeu lugar à crítica.

    Essa relação nova que a linguagem instaura para consigo mesma não é nem simples nem unilateral.

    Aparentemente

    • a crítica se opõe ao comentário
    • como a análise de uma forma visível à descoberta de um conteúdo oculto.

    Mas como essa forma é a de uma representação, a crítica só pode analisar a linguagem em termos de verdade, de exatidão, de propriedade ou de valor expressivo.

    Daí o papel misto da crítica e a ambiguidade de que jamais pôde desfazer-se.

    • Ela interroga a linguagem como se esta fosse pura função, conjunto de mecanismos, grande jogo autônomo dos signos;
    • mas não pode, ao mesmo tempo, deixar de lhe apresentar a questão de sua verdade ou de sua mentira, de sua transparência ou de sua opacidade, portanto do modo de presença daquilo que ela diz nas palavras pelas quais o representa.

    É a partir dessa dupla necessidade fundamental que a oposição do fundo e da forma surgiu pouco a pouco e ocupou finalmente o lugar que conhecemos. Mas essa oposição, sem dúvida, só foi consolidada tardiamente, quando, no século XIX, a relação crítica, por sua vez, tornou-se frágil.

    Na época clássica, a crítica se exerce, sem dissociação e como que em bloco, sobre o papel representativo da linguagem. Ela assume, então, quatro formas distintas ainda que solidárias e articuladas uma à outra.

    • Desenvolve-se primeiro na ordem reflexiva, como uma crítica das palavras: impossibilidade de construir uma ciência ou uma filosofia com o vocabulário recebido; denúncia dos termos gerais que confundem o que é distinto na representação e dos termos abstratos que separam o que deve permanecer solidário; necessidade de constituir o tesouro de uma língua perfeitamente analítica.
    • Manifesta-se também na ordem gramatical como uma análise dos valores representativos da sintaxe, da ordem das palavras, da construção das frases: será uma língua mais aperfeiçoada quando dispõe de declinações ou de um sistema de preposições? Será preferível que a ordem das palavras seja livre ou rigorosamente determinada? Que regime dos tempos melhor exprime as relações de sucessão?
    • A crítica se dá também seu espaço no exame das formas da retórica: análise das figuras, isto é, dos tipos de discursos com o valor expressivo de cada um, análise dos tropos, isto é, das diferentes relações que as palavras podem manter com um mesmo conteúdo representativo (designação pela parte ou pelo todo, pelo essencial ou pelo acessório, pelo evento ou pela circunstância, pela própria coisa ou pelos seus análogos).
    • Enfim a crítica, perante a linguagem existente e já escrita, se dá por tarefa definir a relação que ela mantêm com o que representa: é dessa maneira que a exegese dos textos religiosos incumbiu-se, a partir do século XVII, de métodos críticos: com efeito, já não se tratava mais de redizer o que já havia sido dito neles, mas de definir através de que figuras e imagens, seguindo que ordem, para que fins expressivos e para dizer qual verdade, tal discurso fora sustentado por Deus ou pelos Profetas sob a forma que nos foi transmitida.

    Tal é, na sua diversidade, a dimensão crítica que se instaura necessariamente, quando a linguagem se interroga a si mesma a partir de sua função.

    Desde a idade clássica, comentário e crítica opõem-se profundamente.

    • Falando da linguagem em termos de representações e de verdade, a crítica a julga e a profana.
    • Mantendo a linguagem na irrupção de seu ser e questionando-a em direção de seu segredo, o comentário se detém perante o caráter íngreme do texto prévio e dá-se a tarefa impossível, sempre renovada, de repetir em si seu nascimento: sacraliza-o.

    Essas duas maneiras de a linguagem fundar uma relação consigo mesma vão entrar doravante numa rivalidade de que ainda não saímos. E que talvez se reforça dia a dia.

    É que a literatura, objeto privilegiado da crítica, não cessou, desde Mallarmé, de se aproximar daquilo que é a linguagem no seu ser mesmo e, com isso, ela solicita uma linguagem segunda que não seja mais em forma de crítica mas de comentário.

    E, com efeito, todas as linguagens críticas, desde o século XIX, se impregnaram de exegese, um pouco como as exegeses da época clássica estavam impregnadas de métodos críticos.

    Contudo, enquanto a dependência da linguagem relativamente à representação não for desfeita em nossa cultura ou ao menos contornada, todas as linguagens segundas estarão presas na alternativa da crítica ou do comentário.

    E proliferarão ao infinito na sua indecisão.

     
     

    VII. O discurso da natureza

    Capítulo V - Classificar; tópico VII. O discurso da natureza

    A teoria da história natural não é dissociável da teoria da linguagem.

    E contudo, de uma a outra, não se trata

    • de uma transferência de método.
    • Nem de uma comunicação de conceitos,
    • ou dos prestígios de um modelo que, por ter tido “sucesso” de um lado, seria tentado no domínio vizinho.

    Também não se trata

    • de uma racionalidade mais geral que imporia formas idênticas
      • à reflexão sobre a gramática
      • e à taxinomia.

    Mas sim

    • de uma disposição fundamental do saber que ordena o conhecimento dos seres segundo a possibilidade de representá-los num sistema de nomes.

    Houve, sem dúvida, nessa região a que hoje chamamos a vida, muitas outras pesquisas além dos esforços de classificação, muitas outras análises além daquelas das identidades e das diferenças.

    Todas, porém, repousavam numa espécie de a priori histórico que as autorizava em sua dispersão, em seus projetos singulares e divergentes, que tornava igualmente possíveis todos os debates de opiniões de que eles eram o lugar.

    Esse a priori não é

    • constituído por um equipamento de problemas constantes que os fenômenos concretos não cessariam de apresentar como enigmas à curiosidade dos homens;
    • tampouco é formado por um certo estado de conhecimentos, sedimentado no curso das idades precedentes e servindo de solo aos progressos mais ou menos desiguais ou rápidos da racionalidade;
    • nem mesmo é determinado, sem dúvida, pelo que se denomina a mentalidade ou os “quadros de pensamento” de uma dada época, se com isso se entender o perfil histórico dos interesses especulativos, das credulidades ou das grandes opções teóricas.

    Esse a priori é

    • aquilo que, numa dada época, recorta na experiência um campo de saber possível,
    • define o modo de ser dos objetos que aí aparecem,
    • arma o olhar cotidiano de poderes teóricos
    • e define as condições em que se pode sustentar sobre as coisas um discurso reconhecido como verdadeiro.

    O a priori histórico 

    • que, no século XVIII, fundou as pesquisas ou os debates sobre a existência dos gêneros,
    • a estabilidade das espécies,
    • a transmissão dos caracteres através das gerações,

    é a existência de uma história natural:

    • organização de um determinado visível como domínio do saber,
    • definição das quatro variáveis da descrição,
    • constituição de um espaço de vizinhanças onde todo indivíduo, qualquer que seja, pode vir localizar-se.

    A história natural, na idade clássica, não corresponde à pura e simples descoberta de um novo objeto de curiosidade; recobre uma série de operações complexas que introduzem, num conjunto de representações, a possibilidade de uma ordem constante. Constitui como descritível e ordenável ao mesmo tempo todo um domínio de empiricidade.

    O que a aparenta às teorias da linguagem a distingue do que nós entendemos, desde o século XIX, por biologia e a faz desempenhar no pensamento clássico um certo papel crítico.

    A historia natural é contemporânea da linguagem:

    • está no mesmo nível do jogo espontâneo que analisa as representações na lembrança,
    • fixa seus elementos comuns
    • estabelece signos a partir deles
    • e, finalmente, impõe nomes.

    Classificar e falar encontram seu lugar de origem nesse mesmo espaço que a representação abre no interior de si, porque ela é votada ao tempo, à memória, à reflexão, à continuidade.

    Mas a história natural só pode e só deve existir como língua independente de todas as outras, se ela for língua bem-feita. E universalmente válida.

    Na linguagem espontânea e “malfeita”, os quatro elementos (proposição, articulação, designação, derivação) deixam entre si interstícios abertos: as experiências de cada um, as necessidades ou as paixões, os hábitos, os preconceitos, uma atenção mais ou menos despertada constituíram centenas de línguas diferentes e que se distinguem somente pela forma das palavras mas, antes de tudo, pela maneira como essas palavras cortam a representação.

    A história natural só será uma língua bem-feita se o jogo for fechado:

    • se a exatidão descritiva fizer de toda proposição um recorte constante do real (se se puder sempre
      • atribuir à representação
      • o que aí se articula)
    • e se a designação de cada ser indicar, de pleno direito, o lugar que ele ocupa na disposição geral do conjunto.

    Na linguagem,

    • a função do verbo é universal e vazia;
      • prescreve somente a forma mais geral da proposição;
      • e é no interior desta que os nomes fazem atuar seu sistema de articulação;
    • a história natural reagrupa essas duas funções na unidade da estrutura, que articula umas às outras todas as variáveis que podem ser atribuídas a um ser.

    E, enquanto

    • na linguagem
      • a designação, em seu funcionamento individual, está exposta ao acaso das derivações que dão sua amplitude e sua extensão aos nomes comuns,
    • o caráter, tal como o estabelece a história natural, permite a um tempo
      • marcar o indivíduo
      • e situá-lo num espaço de generalidades que se encaixam umas nas outras.

    De sorte que, por sobre as palavras de todos os dias (e através delas, pois que realmente cumpre utilizá-las para as descrições primeiras), constrói-se o edifício de uma linguagem de segundo grau, em que reinam enfim os Nomes exatos das coisas:

    “O método, alma da ciência, designa à primeira vista qualquer corpo da natureza, de tal sorte que esse corpo enuncia o nome que lhe é próprio, e que esse nome evoca todos os conhecimentos que puderam ser adquiridos no curso do tempo acerca do corpo assim nomeado: de modo que na extrema confusão se descobre a ordem soberana da natureza.”(60)

    Mas essa nomeação essencial – essa passagem da estrutura visível ao caráter taxinômico – remete a uma exigência onerosa.

    • A linguagem espontânea, para realizar e cerrar a figura que vai
      • da função monótona do verbo ser
      • à derivação e ao percurso do espaço retórico,
    • só precisava do jogo da imaginação: isto é, das semelhanças imediatas.
    • Em contrapartida, para que a taxinomia seja possível, é necessário que a natureza seja realmente contínua e na sua plenitude mesma.

    Lá onde a linguagem requeria a similitude das impressões, a classificação requer o princípio da menor diferença possível entre as coisas.

    Ora, esse continuum que aparece assim no fundo da nomeação, na abertura deixada entre a descrição e a disposição, está suposto bem antes da linguagem e como sua condição.

    E não somente porque ele pode fundar uma linguagem bem-feita, mas porque dá conta de toda linguagem em geral.

    É a continuidade da natureza, sem dúvida, que dá à memória a ocasião de se exercer quando uma representação, por alguma identidade confusa e mal percebida, evoca uma outra e permite aplicar a ambas o signo arbitrário de um nome comum.

    O que na imaginação se oferecia como uma similitude cega não era senão o vestígio irrefletido e confuso da grande trama ininterrupta das identidades e das diferenças.

    A imaginação (aquela que, permitindo comparar, autoriza a linguagem) formava, sem que então se soubesse, o lugar ambíguo onde a continuidade da natureza, arruinada mas insistente, se reunia à continuidade vazia, mas atenta, da consciência.

    De sorte que não teria sido possível falar, não teria havido lugar para o menor nome, se no fundo das coisas, antes de toda representação, a natureza não tivesse sido continua.

    Para estabelecer o grande quadro sem falhas das espécies, dos gêneros e das classes, foi necessário que a história natural utilizasse, criticasse, classificasse e finalmente reconstituísse por sua conta uma linguagem, cuja condição de possibilidade residia justamente nesse contínuo.

    As coisas e as palavras estão muito rigorosamente entrecruzadas: a natureza só se dá através do crivo das denominações e ela que, sem tais nomes, permaneceria muda e invisível, cintila ao longe, por trás deles, continuamente presente para além desse quadriculado que, no entanto, a oferece ao saber e só a toma visível quando inteiramente atravessada pela linguagem.

    É por isso, sem dúvida, que a história natural, na época clássica, não se pode constituir como biologia.

    Com efeito, até o fim do século XVIII, a vida não existe. Apenas existem seres vivos.

    Estes formam uma, ou antes, várias classes na série de todas as coisas do mundo:

    • e se se pode falar da vida,
    • é somente como de um caráter – no sentido taxinômico da palavra – na universal distribuição dos seres.

    Tem-se o hábito de repartir as coisas da natureza em três classes:

    • os minerais, aos quais se reconhece o crescimento, mas sem movimento nem sensibilidade;
    • os vegetais, que podem crescer e que são suscetíveis de sensação;
    • os animais, que se deslocam espontaneamente(61).

    Quanto à vida e ao limiar que ela instaura, pode-se, segundo os critérios que se adotarem, fazê-los deslizar ao longo de toda essa escala.

    • Se, com Maupertuis, a definirmos pela mobilidade e pelas relações de afinidade que atraem os elementos uns para os outros e os mantêm ligados, temos de alojar a vida nas mais simples partículas da matéria. Estaremos obrigados a situá-la muito mais alto na série,
    • se a definirmos por um caráter carregado e complexo, como o fazia Lineu quando lhe fixava como critérios o nascimento (por semente ou rebento), a nutrição (por intussuscepção), o envelhecimento, o movimento exterior, a propulsão interna dos humores, as doenças, a morte, a presença de vasos, de glândulas, de epidermes e de utrículos(62). A vida não constitui um limiar manifesto a partir do qual formas inteiramente novas do saber são requeridas.

    Ela é uma categoria de classificação, relativa, como todas as outras, aos critérios que se fixarem. E, como todas as outras, submetida a certas imprecisões desde que se trate de fixar-lhe as fronteiras.

    Assim como o zoófito está na orla ambígua dos animais e das plantas, assim os fósseis, assim os metais se alojam nesse limite incerto em que não se sabe se se deve ou não falar de vida. Mas o corte entre o vivo e o não-vivo jamais é um problema decisivo(63). Como diz Lineu, o naturalista – aquele a quem ele chama Historiens naturalis –

    “distingue pela vista as partes dos corpos naturais, descreve-as convenientemente segundo o número, a figura, a posição e a proporção e as nomeia”(64).

    O naturalista é o homem do visível estruturado e da denominação característica.

    Não da vida.

    Não se deve, pois, vincular a história natural, tal como se desenrolou durante a época clássica, a uma filosofia, mesmo obscura, mesmo ainda balbuciante, da vida.

    Ela está, na realidade, entrecruzada com uma teoria das palavras. A história natural está situada ao mesmo tempo antes e depois da linguagem; desfaz a de todos os dias, mas para refazê-la e descobrir o que a tomou possível através das semelhanças cegas da imaginação; critica-a, mas para descobrir-lhe o fundamento.

    Se a retoma e a quer realizar na sua perfeição, é porque também retorna à sua origem. Passa por sobre esse vocabulário cotidiano que lhe serve de solo imediato e, aquém dele, vai buscar o que pôde constituir sua razão de ser; mas, inversamente, aloja-se por inteiro no espaço da linguagem, pois que ela é essencialmente um uso regulado dos nomes e tem por fim último dar às coisas sua verdadeira denominação.

    Entre a linguagem e a teoria da natureza, existe portanto uma relação que é de tipo crítico;

    • conhecer a natureza é, com efeito, construir, a partir da linguagem, uma linguagem verdadeira
    • que descobrirá, porém, sob que condições toda linguagem é possível e dentro de que limites pode ter ela um domínio de validade.

    A questão crítica certamente existiu no século XVIII, mas ligada à forma de um saber determinado. Por essa razão não poderia adquirir autonomia e valor de interrogação radical: não cessou de vagar numa região onde se tratava da semelhança, da força da imaginação, da natureza e da natureza humana, do valor das ideias gerais e abstratas, em suma, das relações entre a percepção da similitude e a validade do conceito.

    Na idade clássica – Locke e Lineu, Buffon e Hume o testemunham – a questão crítica é a do fundamento da semelhança e da existência do gênero.

    No fim do século XVIII, uma nova configuração aparecerá, emaranhando definitivamente para olhos modernos o velho espaço da história natural. De um lado, a crítica se oca e se destaca do solo onde nascera.

    • Enquanto Hume fazia do problema da causalidade um caso de interrogação geral sobre as semelhanças(65),
    • Kant, isolando a causalidade, inverte a questão;
      • lá onde se tratava de estabelecer as relações de identidade e de distinção sobre o fundo contínuo das similitudes,
      • ele faz surgir o problema inverso da síntese do diverso.

    No mesmo movimento, a questão crítica se acha reportada

    • do conceito ao juízo,
    • da existência do gênero (obtida pela análise das representações) à possibilidade de ligar representações entre si,
    • do direito de nomear ao fundamento da atribuição,
    • da articulação nominal à proposição mesma e ao verbo ser que a estabelece.

    Ela se acha então absolutamente generalizada.

    Em vez de valer somente a propósito das relações entre a natureza e a natureza humana, ela interroga a possibilidade mesma de todo conhecimento.

    Mas, por outro lado, na mesma época a vida assume sua autonomia em relação aos conceitos da classificação. Ela escapa a essa relação crítica que, no século XVIII, era constituída do saber da natureza. Escapa, e isso quer dizer duas coisas:

    • a vida torna-se objeto de conhecimento em meio aos outros e, a esse título, está sob a alçada de toda crítica em geral;
    • mas resiste também a essa jurisdição crítica que ela retoma por sua conta e que reporta, em seu próprio nome, a todo conhecimento possível.

    De sorte que, ao longo de todo século XIX, de Kant a Dilthey e a Bergson, os pensamentos críticos e as filosofias da vida se encontrarão numa posição de retomada e de contestação recíprocas.

    VI. Monstros e fósseis

    Capítulo V - Classificar; tópico VI. Monstros e fósseis

    Objetar-se-á que houve, muito antes de Lamarck, todo um pensamento de tipo evolucionista. Que sua importância foi grande nos meados do século XVIII e até sua suspensão pelo golpe desferido por Cuvier. Que Bonnet, Maupertuis, Diderot, Robinet, Benoit de Maillet articularam muito claramente a ideia de que

    • as formas vivas podem passar umas às outras,
    • que as espécies atuais são sem dúvida o resultado de transformações antigas
    • e que todo o mundo vivo se dirige talvez para um ponto futuro, de sorte que não se poderia assegurar, a propósito de qualquer forma viva, que está definitivamente adquirida e estabilizada para sempre.

    Na realidade, tais análises são incompatíveis com o que hoje entendemos por pensamento da evolução.

    Com efeito, elas têm como propósito o quadro das identidades e das diferenças na série dos acontecimentos sucessivos. E, para pensar a unidade desse quadro e dessa série, só têm à sua disposição dois meios.

    • Um consiste em integrar na continuidade dos seres e na sua distribuição em quadro a série das sucessões.

    Todos os seres que a taxinomia dispôs numa simultaneidade ininterrupta são então submetidos ao tempo. Não no sentido de que a série temporal faria nascer uma multiplicidade de espécies, que um olhar horizontal poderia em seguida dispor segundo um quadriculado classificador, mas no sentido de que todos os pontos da taxinomia são afetados por um índice temporal, de sorte que a “evolução” não é outra coisa senão o deslocamento solidário e geral da escala, desde o primeiro até o último de seus elementos. Esse sistema é o de Charles Bonnet. Ele implica, antes do mais, que a cadeia dos seres, dirigida por uma série inumerável de anéis para a perfeição absoluta de Deus, não a alcance atualmente(49); que a distância seja infinita entre Deus e a menos defeituosa das criaturas; e que, nessa distância talvez intransponível, toda a trama ininterrupta dos seres não cesse de avançar em direção a uma maior perfeição. Implica também que essa “evolução” mantenha intacta a relação que existe entre as diferentes espécies; se uma, em se aperfeiçoando, atinge o grau de complexidade que antes dela já possuía a do grau imediatamente superior, esta nem por isso é alcançada, pois, impelida pelo mesmo movimento, ela não pôde deixar de se aperfeiçoar numa proporção equivalente:

    “Haverá um progresso contínuo e mais ou menos lento de todas as espécies em direção a uma perfeição superior, de sorte que todos os graus da escala serão continuamente variáveis numa relação determinada e constante… O homem, transportado para uma estância mais condizente com a eminência de suas faculdades, deixará ao macaco e ao elefante esse primeiro lugar que ocupava entre os animais de nosso planeta… Haverá Newtons entre os macacos e Vaubans entre os castores. As ostras e os pólipos serão, em relação às mais elevadas espécies, o que são os pássaros e os quadrúpedes em relação ao homem.”(50)

    Esse “evolucionismo” não é uma forma de conceber o aparecimento dos seres uns a partir dos outros; é, na realidade, uma forma de generalizar o princípio de continuidade e a lei segundo a qual os seres formam uma superfície sem interrupção. Acrescenta, num estilo leibniziano(51), o contínuo do tempo ao contínuo do espaço e, à infinita multiplicidade dos seres, o infinito de seu aperfeiçoamento. Não se trata de uma hierarquização progressiva, mas do surto constante e global de uma hierarquia totalmente instaurada. O que supõe, finalmente, que o tempo, longe de ser um princípio da taxinomia, não seja mais que um de seus fatores. E que seja preestabelecido como todos os outros valores assumidos por todas as outras variáveis.

    É necessário, pois, que Bonnet seja pré-formacionista e isso, muito longe do que entendemos, desde o século XIX, por “evolucionismo”; ele é obrigado a supor que as metamorfoses ou as catástrofes do globo foram dispostas de antemão como ocasiões para que a cadeia infinita dos seres se encaminhe no sentido de um infinito melhoramento:

    “Essas evoluções foram previstas e inscritas nos germens dos animais desde o primeiro dia da criação. Pois essas evoluções estão ligadas a revoluções em todo o sistema solar, dispostas por Deus de antemão.” O mundo inteiro foi larva; ei-lo crisálida; um dia, sem dúvida, tomar-se-á borboleta(52) E todas as espécies serão arrastadas do mesmo modo por essa grande mutação.

    Vê-se que semelhante sistema não é um evolucionismo que começasse a abalar o velho dogma da fixidez; é uma taxinomia que envolve, ademais, o tempo. Uma classificação generalizada.

    • A outra forma de “evolucionismo” consiste em conferir ao tempo um papel totalmente oposto.

    Ele não serve mais para deslocar, sobre a linha finita ou infinita do aperfeiçoamento, o conjunto do quadro classificador, mas para fazer aparecer, umas após as outras, todas as porções que, juntas, formarão a rede contínua das espécies. Ele faz com que as variáveis do ser vivo assumam sucessivamente todos os valores possíveis: ele é a instância de uma caracterização que se efetua pouco a pouco e como que elementos após elementos.

    As semelhanças ou as identidades parciais que sustentam a possibilidade de uma taxinomia seriam então as marcas patenteadas no presente de um único e mesmo ser vivo, persistindo através das metamorfoses da natureza e preenchendo assim todas as possibilidades que o quadro taxinômico oferece no vazio.

    Se as aves, observa Benoit de Maillet, têm asas como os peixes têm barbatanas, é porque, na época do grande refluxo das primeiras águas, elas foram douradas ressequidas ou golfinhos transportados para sempre a uma pátria aérea.

    “O sêmen desses peixes, transportado para pântanos, pode ter dado lugar à primeira transmigração da espécie, do mar para a terra. De 100 milhões que pereceram sem ter logrado adaptar-se, bastou que dois o conseguissem para dar origem à espécie.”(53)

    Aqui, como em certas formas de evolucionismo, as mudanças nas condições de vida dos seres vivos parecem acarretar o aparecimento de espécies novas. Mas o modo de ação do ar, da água, do clima, da terra sobre os animais não é o de um meio ambiente sobre uma função e sobre os órgãos nos quais ela se realiza; os elementos exteriores só intervêm ocasionalmente para fazer aparecer o caráter: E esse aparecimento, se é cronologicamente condicionado por determinado acontecimento do globo, é tornado a priori possível pelo quadro geral das variáveis que define todas as formas eventuais do ser vivo.

    O quase-evolucionismo do século XVIII parece pressagiar

    • tanto a variação espontânea do caráter, tal como se encontrará em Darwin,
    • quanto a ação positiva do meio ambiente, tal como a descreverá Lamarck.

    Trata-se, porém, de uma ilusão retrospectiva:

    • com efeito, para essa forma de pensamento, a sequência do tempo jamais pode desenhar mais do que a linha ao longo da qual se sucedem todos os valores possíveis das variáveis preestabelecidas.
    • E, por conseguinte, é preciso definir um princípio de modificação interior ao ser vivo capaz de permitir-lhe, por ocasião de uma peripécia natural, assumir um novo caráter.

    Está-se então diante de um novo ponto de escolha:

    • ou supor no ser vivo uma aptidão espontânea para mudar de forma (ou, pelo menos, para adquirir com as gerações um caráter ligeiramente diferente daquele que fora dado originalmente, de modo que pouco a pouco acabará por tornar-se irreconhecível),
    • ou então atribuir-lhe a busca obscura de uma espécie terminal que possuiria os caracteres de todas as que a precederam, num grau porém mais alto de complexidade e de perfeição.
    O primeiro sistema é o dos erros ao infinito – tal como se encontra em Maupertuis.

    O quadro das espécies que a história natural pode estabelecer teria sido adquirido, peça por peça, pelo equilíbrio, constante na natureza, entre uma memória que garante o continuo (manutenção das espécies no tempo e semelhança de uma com outra) e um pendor para o desvio que assegura, ao mesmo tempo, a história, as diferenças e a dispersão. Maupertuis supõe que as partículas da matéria são dotadas de atividade e de memória. Atraídas umas pelas outras, as menos ativas formam as substâncias minerais; as mais
    ativas delineiam o corpo mais complexo dos animais. Essas formas, que são devidas à atração e ao acaso, desaparecem quando não podem subsistir. Aquelas que se mantêm dão nascimento a novos indivíduos, cuja memória conserva os caracteres do casal progenitor. E isso até que um desvio de partículas – um acaso – faça nascer uma nova espécie que, por sua vez, é mantida pela força obstinada da lembrança:
     
    “A força de digressões repetidas, teria surgido a diversidade infinita dos animais.”(54)
     
    Assim, cada vez mais os seres vivos adquirem, por variações sucessivas, todos os caracteres que lhes reconhecemos e, se os olharmos na dimensão do tempo, a superfície coerente e sólida que constituem não é mais que o resultado fragmentário de um continuo muito mais cerrado, muito mais fino: um contínuo que foi tecido com um número incalculável de pequenas diferenças esquecidas ou abortadas.
     
    As espécies visíveis que se oferecem à nossa análise foram talhadas sobre o fundo incessante de monstruosidades que aparecem, cintilam, caem em ruína e por vezes se mantêm.
     
    E aí está o ponto fundamental: a natureza só tem uma história na medida em que é – suscetível do contínuo.
     
    É porque ela assume, um a um, todos os caracteres possíveis (cada valor de todas as variáveis) que se apresenta sob a forma da sucessão.
     
    • Não é diferente o que ocorre com o sistema inverso do protótipo e da espécie terminal.
    Nesse caso, temos de supor, com J.-B. Robinet, que a continuidade não é garantida pela memória, mas por um projeto. Projeto de um ser complexo em direção ao qual a natureza se encaminha, partindo de elementos simples que ela compõe e organiza pouco a pouco:
     
    “Primeiro, os elementos se combinam. Um pequeno número de princípios simples serve de base para todos os corpos”;
     
    são eles que presidem exclusivamente à organização dos minerais; depois,
     
    “a magnificência da natureza” não cessa de aumentar “até os seres que vagueiam sobre a superfície do globo”; “a variação dos órgãos em número, em grandeza, em finura, em textura interna, em figura externa ocasiona espécies que se dividem e se subdividem ao infinito mediante novas combinações”55.

    E assim por diante, até a combinação mais complexa que conhecemos. De sorte que a continuidade inteira da natureza se aloja
     
    • entre um protótipo absolutamente arcaico, enterrado mais profundamente que toda a história,
    • e a extrema complicação desse modelo, tal como se pode observar, ao menos no globo terrestre, na pessoa do ser humano(56).
    Entre esses dois extremos, há todos os graus possíveis de complexidade e de combinação: como uma imensa série de tentativas, das quais algumas persistiram sob a forma de espécies constantes e outras foram dissipadas.
     
    Os monstros não são de uma “natureza” distinta da das próprias espécies:
     
    “Creiamos que as mais estranhas formas na aparência… pertencem necessária e essencialmente ao plano universal do ser; que são metamorfoses do protótipo tão naturais quanto as outras, embora nos ofereçam fenômenos diferentes e sirvam de passagem às formas vizinhas: que elas preparam e dispõem as combinações que as seguem, assim como são dispostas por aquelas que as precedem; que contribuem para a ordem das coisas, longe de perturbá-la. É talvez somente por abundância de seres que a natureza chega a produzir seres mais regulares e com uma organização mais simétrica.”(57)
     
    Em Robinet como em Maupertuis, a sucessão e a história são para a natureza apenas meios de percorrer a trama das variações infinitas de que ela é suscetível. Não é, pois, o tempo nem a duração que, através da diversidade dos meios ambientes, assegura a continuidade e a especificação dos seres vivos, mas sobre o fundo contínuo de todas as variações possíveis, o tempo desenha um percurso em que os climas e a geografia predispõem somente regiões privilegiadas e destinadas a se manterem.
     
    • O contínuo não é o sulco visível de uma história fundamental em que um mesmo princípio vivo se debateria com um meio ambiental variável.
      • Pois o contínuo precede o tempo. É sua condição.
    • E, em relação a ele, a história só pode desempenhar um papel negativo:
      • ela predispõe e faz subsistir
      • ou ela negligencia e deixa desaparecer.
    Disso, duas consequências.

    • Primeiro, a necessidade de fazer intervir os monstros – que são como que o ruído de fundo, o murmúrio ininterrupto da natureza.
    Se, com efeito é necessário que o tempo, que é limitado, percorra – já tenha talvez percorrido – todo o contínuo da natureza, deve-se admitir que um número considerável de variações possíveis tenham sido atravessadas e depois suprimidas;

    • assim como a catástrofe geológica era necessária para que se pudesse ascender do quadro taxinômico ao contínuo, através de uma experiência confusa, caótica e retalhada,
    • assim também a proliferação de monstros sem amanhã é necessária para que se possa tornar a descer do contínuo ao quadro através de uma série temporal.

    Em outros termos,

    • o que num sentido deve ser lido como drama da terra e das águas,
    • deve ser lido, num outro sentido, como aberração aparente das formas.
    O monstro garante no tempo e para nosso saber teórico uma continuidade que os dilúvios, os vulcões e os continentes desmoronados confundem no espaço para nossa experiência cotidiana.

    • A outra consequência é que, ao longo de uma tal história, os signos da continuidade são apenas da ordem da semelhança.
    Como nenhuma relação do meio ambiente com o organismo(58) define essa história, as formas vivas nela sofrerão todas as metamorfoses possíveis e só deixarão atrás de si, como marca do trajeto percorrido, os indícios das similitudes.

    Como se pode reconhecer, por exemplo, que a natureza não cessou de esboçar, a partir do protótipo primitivo, a figura, provisoriamente terminal, do homem? No fato de ter ela abandonado em seu percurso mil formas que dele desenham o modelo rudimentar.

    Quantos fósseis não são, em relação à orelha, ao crânio ou às partes sexuais do homem, como que estátuas de gesso moldadas um dia e abandonadas por uma forma mais aperfeiçoada?

    “A espécie que se assemelha ao coração humano e que se denomina, por causa disso, Antropocardite… merece uma atenção particular. Sua substância é uma rocha por dentro. A forma de um coração é tão bem imitada quanto possível. Nela se distingue o tronco da veia cava com uma porção de seus dois ramos. Vê-se também sair do ventrículo esquerdo o tronco da grande artéria com sua parte inferior descendente.”(59)

    O fóssil, com sua natureza mista de animal e de mineral, é o lugar privilegiado de uma semelhança que o historiador do contínuo exige, ao passo que o espaço da taxinomia a decompunha rigorosamente.

    O monstro e o fóssil desempenham ambos um papel muito preciso nessa configuração. A partir do poder do contínuo que a natureza detém,

    • o monstro faz aparecer a diferença: esta é ainda sem lei e sem estrutura bem definida; o monstro é o fulcro da especificação, mas não é mais que uma subespécie na obstinação lenta da história.
    • O fóssil é aquilo que deixa subsistir as semelhanças através de todos os desvios que a natureza percorreu; funciona como uma forma longínqua e aproximativa da identidade; marca um quase-caráter no mover-se do tempo.

    É que o monstro e o fóssil nada mais são que a projeção em retrospectiva dessas diferenças e dessas identidades que definem, para a taxinomia, a estrutura e depois o caráter.


    Eles formam, entre o quadro e o contínuo, a região sombria, móvel, trêmula, onde

    • o que a análise definirá como identidade não é ainda mais que muda analogia;
    • e o que ela definirá como diferença assinalável e constante não é ainda mais que livre e casual variação.

    Mas, na verdade,


    • a história da natureza é tão impossível de ser pensada pela história natural,
    • a disposição epistemológica desenhada pelo quadro e pelo contínuo é tão fundamental,
    • que o devir só pode ter lugar intermediário e medido somente pelas exigências do conjunto.
    É por isso que ele só intervém para a passagem necessária de um ao outro.

    • Quer como um conjunto de intempéries estranhas aos seres vivos e que lhes advêm unicamente do exterior.
    • Quer como um movimento incessantemente delineado, mas estancado desde seu esboço, e perceptível somente nas bordas do quadro, nas suas margens descuidadas:
    e assim, sobre o fundo do contínuo,

    • o monstro narra, como em caricatura, a gênese das diferenças
    • e o fóssil lembra, na incerteza de suas semelhanças, as primeiras obstinações da identidade.

    V. O contínuo e a catástrofe

    Capítulo V - Classificar; tópico V. O contínuo e a catástrofe

    No coração dessa língua bem-feita em que se tornou a história natural, persiste um problema.

    Poderia ocorrer que, no final das contas, a transformação da estrutura em caráter nunca fosse possível e que o nome comum jamais pudesse nascer do nome próprio.

    Quem pode garantir que as descrições não vão patentear elementos tão diversos de um indivíduo para outro e de uma espécie para outra, que toda tentativa para fundar um nome comum não seria de antemão arruinada?

    Quem pode assegurar que cada estrutura não seja rigorosamente isolada de toda outra e que não funcione como marca individual?

    Para que o mais simples caráter possa aparecer, é preciso que ao menos um elemento da estrutura primeiramente considerada se repita em outra.

    Pois a ordem geral das diferenças que permite estabelecer a disposição das espécies implica um certo jogo de similitudes.

    Esse problema é isomorfo daquele que já se encontrou a propósito da linguagem(36): para que um nome comum fosse possível, era preciso que houvesse entre as coisas esta semelhança imediata que permitisse aos elementos significantes

    • circularem ao longo das representações,
    • deslizarem à sua superfície,
    • prenderem-se às suas similitudes,
    para formarem, finalmente, designações coletivas.
     

    Mas para desenhar esse espaço retórico onde os nomes pouco a pouco assumiam seu valor geral, não era necessário determinar o estatuto dessa semelhança, nem se ela estava fundada em verdade; bastava que ela emprestasse bastante força à imaginação.

    Entretanto, para a história natural, língua bem-feita, essas analogias da imaginação não podem valer como garantias; e é preciso que a história natural encontre o meio de contornar a dúvida radical que a ameaça assim como a qualquer linguagem, dúvida essa que Hume fazia incidir sobre a necessidade da repetição na experiência.

    Deve haver continuidade na natureza. Essa exigência de uma natureza contínua não tem inteiramente a mesma forma nos sistemas e nos métodos.

    Para os partidários do sistema, a continuidade é feita apenas pela justaposição sem falha das diferentes regiões que os caracteres permitem distinguir com clareza; basta uma gradação ininterrupta dos valores que, no domínio inteiro das espécies, a estrutura escolhida como caráter pode assumir; a partir desse princípio, evidenciar-se-á que todos esses valores serão ocupados por seres reais, mesmo que ainda desconhecidos.

    “O sistema indica as plantas, até aquelas que não mencionou; coisa que jamais pode fazer a enumeração de um catálogo.”(37)

    E sobre essa continuidade de justaposição, as categorias não serão simplesmente convenções arbitrárias; poderão corresponder (se não forem estabelecidas corretamente) a regiões que existem distintamente sobre essa superfície ininterrupta da natureza; serão regiões mais vastas, mas tão reais quanto os indivíduos.

    É assim que o sistema sexual permitiu, segundo Lineu, descobrir gêneros indubitavelmente fundados:

    “Saiba que não é o caráter que constituiu o gênero, mas o gênero que constituiu o caráter, que o caráter decorre do gênero, não o gênero do caráter.”(38)

    Em contrapartida, nos métodos para os quais as semelhanças, sob sua forma maciça e evidente, são dadas de início, a continuidade da natureza

    • não será este postulado puramente negativo (ausência de espaço branco entre as categorias distintas,
    • mas uma exigência positiva: toda a natureza forma uma grande trama onde os seres se assemelham gradualmente, onde os indivíduos vizinhos são infinitamente semelhantes entre si; de sorte que todo corte que não indique a ínfima diferença do indivíduo, mas categorias mais amplas, é sempre irreal.

    Continuidade de fusão em que toda generalidade é nominal. Nossas idéias gerais, diz Buffon, “são relativas a uma escala contínua de objetos, da qual só percebemos nitidamente os núcleos e cujas extremidades fogem e escapam sempre e cada vez mais às nossas considerações… Quanto mais aumentarmos o número de divisões das produções naturais, mais nos aproximaremos da verdade, visto que não existe realmente na natureza senão indivíduos e que os gêneros, as ordens, as classes só existem na nossa imaginação”(39).

    E Bonnet dizia, no mesmo sentido, que

    “não há saltos na natureza; nela tudo é graduado, matizado. Se, entre dois seres quaisquer, existisse um vazio, qual seria a razão da passagem de um ao outro? Portanto não há ser acima e abaixo do qual não haja outros que se lhe aproximem por alguns caracteres e que dele se afastem por outros”.

    Podemos, pois, sempre descobrir “produções medianas”,

    • como o pólipo entre o vegetal e o animal,
    • o esquilo voador entre a ave e o quadrúpede,
    • o macaco entre o quadrúpede e o homem.

    Por conseguinte, nossas distribuições em espécies e em classes “são puramente nominais”; elas não representam nada mais que “meios relativos às nossas necessidades e aos limites de nossos conhecimentos”(40).

    No século XVIII, a continuidade da natureza é exigida por toda história natural, isto é, por todo esforço para instaurar na natureza uma ordem e nela descobrir categorias gerais, quer sejam elas reais e prescritas por distinções manifestas, quer cômoda e simplesmente demarcadas por nossa imaginação.

    Só o contínuo pode garantir que a natureza se repita e que a estrutura, por consequência, possa tornar-se caráter.

    Mas essa exigência logo se desdobra. Pois, se fosse dado à experiência, no seu movimento ininterrupto, percorrer exatamente, passo por passo,

    • o contínuo dos indivíduos,
    • das variedades,
    • das espécies,
    • dos gêneros,
    • das classes,
    não haveria necessidade de constituir uma ciência; as designações descritivas se generalizariam de pleno direito e a linguagem das coisas, por um movimento espontâneo, se constituiria em discurso científico.
     

    As identidades da natureza se ofereceriam como que letra por letra à imaginação e o deslizar espontâneo das palavras para dentro desse espaço retórico reproduziria em linhas cheias a identidade dos seres na sua generalidade crescente.

    A história natural tomar-se-ia inútil, ou melhor, já estaria feita pela linguagem cotidiana dos homens; a gramática geral seria ao mesmo tempo a taxinomia universal dos seres.

    Mas, se uma história natural perfeitamente distinta da análise das palavras é indispensável, é porque a experiência não nos libera o contínuo da natureza tal como ele é. Oferece-o ao mesmo tempo retalhado –

    • pois que há muitas lacunas na série dos valores efetivamente ocupados pelas variáveis (existem seres possíveis cujo valor se constata mas que jamais se teve ocasião de observar) –
    • e confuso, porque o espaço real, geográfico e terrestre onde nos encontramos nos mostra os seres imbricados uns com os outros numa ordem que, em relação à grande superfície das taxinomias, não passa de acaso, desordem ou perturbação.

    Lineu observava que, ao associar nos mesmos lugares

    • o lernea (que é um animal)
    • e a conferva (que é uma alga),
    • ou ainda a esponja e o coral,

    a natureza não reúne, como o desejaria a ordem das classificações,

    “as mais perfeitas plantas com os animais chamados muito imperfeitos, mas combina os animais imperfeitos com as plantas imperfeitas”(41).

    E Adanson constatava que a natureza

    “é uma mistura confusa de seres que o acaso parece ter aproximado: aqui, o ouro está mesclado com outro metal, com uma pedra, com uma terra; ali, a violeta cresce ao lado do carvalho. Entre essas plantas vagueiam igualmente o quadrúpede, o réptil e o inseto; os peixes se confundem, por assim dizer, com o elemento aquoso onde nadam e com as plantas que crescem no fundo das águas… Essa mistura é tão geral até e tão multiplicada que parece ser uma das leis da natureza “(42).

    Ora, essa imbricação é o resultado de uma série cronológica de acontecimentos. Estes têm seu ponto de origem e seu primeiro lugar de aplicação

    • não nas próprias espécies vivas,
    • mas no espaço onde elas se alojam.

    Produzem-se na relação entre a Terra e o Sol, no regime dos climas, nas metamorfoses da crosta terrestre; o que eles atingem primeiramente são os mares e os continentes, é a superfície do globo; os seres vivos só são afetados por contragolpe e de maneira secundária: o calor os atrai ou os repele, os vulcões os destroem; desaparecem com as terras que desmoronam.

    É possível, por exemplo, como supunha Buffon(43), que a terra tenha sido incandescente na origem, antes de arrefecer pouco a pouco; os animais, habituados a viver nas mais elevadas temperaturas, reagruparam-se na única região atualmente tórrida, enquanto as terras temperadas ou frias se povoavam de espécies que até então não tinham tido ocasião de aparecer.

    Com as revoluções na história da Terra, o espaço taxinômico (onde as vizinhanças são da ordem do Caráter e não do modo de vida) veio a ser repartido num espaço concreto que o transmutava.

    Bem mais: ele foi, sem dúvida, despedaçado, e muitas espécies, vizinhas daquelas que conhecemos ou intermediárias entre regiões taxinômicas que nos são familiares, devem ter-se extinguido, só deixando atrás de si vestígios difíceis de decifrar.

    Em todo o caso, essa série histórica de acontecimentos se ajunta à superfície dos seres: não lhe pertence propriamente; desenrola-se no espaço real do mundo, não naquele, analítico, das classificações; o que ela põe em questão é o mundo como lugar dos seres e não os seres enquanto têm a propriedade de serem vivos.

    Uma historicidade simbolizada pelas narrativas bíblicas afeta diretamente nosso sistema astronômico, indiretamente a rede taxinômica das espécies; e, além da Gênese e do Dilúvio, é bem possível que “nosso globo tenha sofrido outras revoluções que não nos foram reveladas. Ele depende de todo o sistema astronômico, e as ligações que unem este globo aos outros corpos celestes e, em particular, ao Sol e aos cometas podem ter sido a fonte de muitas revoluções, de que para nós não resta nenhum traço sensível e das quais talvez os habitantes de mundos vizinhos tenham tido algum conhecimento”(44).

    A história natural supõe, pois, para poder existir como ciência, dois conjuntos:

    • um deles é constituído pela rede contínua dos seres; essa continuidade pode tomar diversas formas espaciais; Charles Bonnet concebe-a ora sob a forma de uma grande escala linear cujas extremidades são uma muito simples, outra muito complicada, tendo ao centro uma estreita região mediana, a única a nos ser desvelada, ora sob a forma de um tronco central do qual partiriam, de um lado, um ramo (o das conchas com os caranguejos e os lagostins como ramificações suplementares)
    • e, do outro, a série dos insetos na qual entroncam insetos e rãs(45);

    Buffon define essa mesma continuidade “como uma vasta trama ou, antes, um feixe que, de intervalo em intervalo, lança ramos para o lado, a fim de se reunir a feixes de uma outra ordem”(46); Palias pensa numa figura poliédrica(47); J. Hennann queria constituir um modelo de três dimensões, composto de fios que, partindo todos de um ponto comum, se separam uns dos outros, “se expandem por um número muito grande de ramos laterais” e depois se reúnem de novo(48).

    Dessas configurações espaciais que descrevem, cada qual à sua maneira, a continuidade taxinômica,

    • se distingue a série dos acontecimentos;
      • esta é descontínua e diferente em cada um de seus episódios, mas seu conjunto só pode desenhar uma linha simples, que é a do tempo (e que não se pode conceber como reta, quebrada ou circular).

    Sob sua forma concreta e na espessura que lhe é própria, a natureza se aloja inteira

    • entre a superfície da taxinomia
    • e a linha das revoluções.

    Os “quadros” que ela forma sob os olhos dos homens e que o discurso da ciência é encarregado de percorrer são os fragmentos da grande superficie das espécies vivas, de acordo com o que foi repartido, transmutado, imobilizado, entre duas revoluções do tempo.

    Vê-se quanto é superficial opor, como duas opiniões diferentes e que se defrontassem em suas opções fundamentais

    • um “fixismo” que se contentasse em classificar os seres da natureza num quadro permanente
    • e uma espécie de “evolucionismo” que acreditasse numa história imemorial da natureza e num profundo impulso dos seres através da sua continuidade.

    A solidez sem lacunas de uma rede de espécies e de gêneros e a série dos acontecimentos que a confundiram fazem parte, e num mesmo nível, do suporte epistemológico a partir do qual um saber como a história natural foi possível na idade clássica.

    • Não se trata de duas maneiras de perceber a natureza, radicalmente opostas porque comprometidas com opções filosóficas mais antigas e mais fundamentais que qualquer ciência;
    • trata-se de duas exigências simultâneas na rede arqueológica que define, na idade clássica, o saber da natureza.

    Essas duas exigências, porém, são complementares. Portanto, irredutíveis. A série temporal não pode integrar-se na gradação dos seres. As épocas da natureza não prescrevem o tempo interior dos seres e de sua continuidade; elas ditam as intempéries que não cessaram de os dispersar, de os destruir, de os misturar, de os separar, de os entrelaçar.

    Não há nem pode haver sequer a suspeita de um evolucionismo ou de um transformismo no pensamento clássico;

    • pois o tempo jamais é concebido como princípio de desenvolvimento para os seres vivos na sua organização interna;
    • só é percebido a título de revolução possível no espaço exterior onde eles vivem.
     
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    Michel Foucault 1926-1984

    A percepção da contaminação do pensamento com o qual pensamos, pela impossibilidade de fundar as sínteses na representação

    “Eis que nos adiantamos bem para além
    do acontecimento histórico que se impunha situar
    – bem para além das margens cronológicas
    dessa ruptura que divide, em sua profundidade,
    a epistémê do mundo ocidental
    e isola para nós o começo
    de certa maneira moderna de conhecer as empiricidades.

    É que o pensamento que nos é contemporâneo
    e com o qual, queiramos ou não, pensamos,
    se acha ainda muito dominado
    pela impossibilidade,
    trazida à luz por volta do fim do século XVIII,
    de fundar as sínteses no espaço da representação
    e pela obrigação
    correlativa, simultânea,

    mas logo dividida contra si mesma,
    de abrir o campo transcendental da subjetividade
    e de constituir inversamente,
    para além do objeto,
    esses “quase-transcendentais” que são para nós
    a Vida, o Trabalho, a Linguagem.”

    A nova forma de reflexão se instaura no pensamento em nossa cultura, o motor constituinte “dessa maneira moderna de conhecer empiricidades”

    “Instaura-se um tipo de reflexão
    bastante afastado do cartesianismo
    e da análise kantiana,
    em que está em questão,
    pela primeira vez,
    o ser do homem,
    nessa dimensão segundo a qual
    o pensamento
    se dirige ao impensado
    e com ele se articula.”

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
    tópico I. As novas empiricidades

    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. IX – O homem e seus duplos ;
    tópico V – O “cogito” e o impensado.

    • a impossibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé clássica.
    • essa impossibilidade de fundar as sínteses implica na seleção da visão de ‘operações’ e análise de valor no exato ponto de cruzamento entre o dado e o recebido, e para a primeira possibilidade de análise de valor. 
    • a possibilidade de fundar as sínteses [da empiricidade objeto da operação] no espaço da representação leva o pensamento para a epistemé moderna.
    • essa possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação implica em uma visão de ‘operações’ e análise de valor antes do ponto de cruzamento acima, o que leva o modelo para a segunda possibilidade de análise de valor.
    • essa forma de reflexão que se instaura no pensamento em nossa cultura exige duas coisas: 
      • o ‘ser do homem’;
      • o impensado e sua contrapartida no espaço da representação

    a percepção  dessa contaminação, dominação mesmo,
    do pensamento com o qual ‘queiramos ou não‘ pensamos,
    – hoje em dia, e aqui e agora –
    por configurações de pensamento
    com a possibilidade, e também
    com impossibilidade
    de fundar as sínteses – da empiricidade objeto – 
    no espaço da representação
    muda completamente os domínios e os lugares onde ocorrem as operações,
     as paletas de ideias ou elementos de imagem, assim como as estruturas e os relacionamentos entre eles.

    A primeira pedra de tropeço
    no caminho de Michel Foucault
    comparações feitas por Foucault de diferentes configurações de pensamento
    Uma operação, de pensamento, de produção, etc. com a paleta de ideias e a estrutura do pensamento moderno, de depois da descontinuidade epistemológica ocorrida no período 1775-1825, segundo Michel Foucault

    Há diferentes modelos
    que formulamos para 
    visões de ocorrências 
    no espaço-tempo x, y, z e t.

    Ao suspeitar
    da contaminação do pensamento
    – do nosso, daquele com o qual queiramos ou não pensamos –
    por essa impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, ele manifesta sua percepção de que de fato isso acontece em volta de nós e conosco.

    Esses modelos,
    diferentes em seus fundamentos,
    são usados juntos
    e/ou simultaneamente
    no mesmo domínio e ambiente 
    em um pensamento
    contaminado
    por duas epistemologias,
    ou por duas maneiras
    de conhecer
    aquilo que dizemos
    que conhecemos.

    Existem modelos,
    todos em uso atualmente,
    que podem ser agrupados
    em duas famílias:

    • aqueles com a possibilidade
    • e aqueles com a impossibilidade 

     de fundar as sínteses
     – da empiricidade objeto da operação-
    no espaço da representação.

    Essa a distinção entre modelos
      com e modelos sem essa possibilidade
    de fundar as sínteses
    [da empiricidade objeto da operação]
    no espaço da representação,
    que Michel Foucault faz sugere que analisemos os modelos de operações e de organizações existentes, isto é, nos modelos que usamos hoje, em busca de características de características, ou características de segunda ordem, pelas quais podem ser associados com o pensamento antes, depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825, oferecendo os necessários elementos para identificação.

    A figura na coluna do meio acima mostra a configuração do pensamento (o clássico,  de antes de 1775), com a impossibilidade de fundar as sínteses (da(s) empiricidade(s) objeto da operação) no espaço da representação.

    Clicando nessa figura, a animação mostrará as alterações em toda a configuração do pensamento, para levantar essa impossibilidade.

    A alteração se passa no lado direito da figura. 

    A primeira coisa que muda é o tipo de reflexão que se instaura. 

    Como decorrência, muda toda a paleta de ideias, ou elementos de imagem; 

    Muda ainda o perfil do pensamento em cada configuração: 

    • o referencial
        • a ordem pela ordem
        • dá lugar à utopia do não articulado;
    • os princípios organizadores
        • que eram Caráter e Similitude
        • passam a ser Analogia e Sucessão;
    • e os métodos,
        • que eram identidade e semelhança
        • passam a ser Análise e Síntese.

    Lista de posts

    III. A teoria do verbo

    Capítulo IV. Falar; tópico III. A teoria do verbo A proposição é para a linguagem o que a representação é para o pensamento: sua forma, ao

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    Capítulo V – Classificar; tópico VII. O discurso da natureza A teoria da história natural não é dissociável da teoria da linguagem. E contudo, de

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    Capítulo V – Classificar; tópico V. O contínuo e a catástrofe No coração dessa língua bem-feita em que se tornou a história natural, persiste um

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    dez (10) pontos para contextualização entre Prefácio e texto do livro
    'As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas'

    1. A Forma de Reflexão que se instaura em nossa cultura
    2. Proposição: o bloco padrão genérico e fundamental
    para construção de representações
    3. Princípios organizadores do pensamento de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    4. O Conceito de verbo no pensamento clássico,
    o de antes da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    5. O conceito de verbo no pensamento moderno, o de depois da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    6. As duas sintaxes mencionadas por Foucault no Prefácio
    6.1 A sintaxe que autoriza a construção das frases
    6.2 A sintaxe que autoriza manter juntas
    as palavras e as coisas
    7. O princípio monolítico de trabalho de Adam Smith,
    de 1776
    8. O princípio dual de trabalho de David Ricardo,
    de 1817
    8.1 A importância de David Ricardo,

    Nosso roteiro (Michel Foucault) e nossa inspiração (Humberto Maturana)

    Influências e inspirações

    1 a influência de Vilém Flusser no livro ‘Filosofia da caixa preta’: 

    uso das funções reversíveis Imaginação e Conceituação para navegar, ida e volta, entre 

    textos ↔ imagens ↔ e ocorrências espacio-temporais; 

    e ainda, não menos importante

      • as imagens tradicionais, as imagens técnicas, as classes de abstrações que usamos cotidianamente;
    Vilém-Flusser-Portrait-008
    Vilém Flusser
    1920-1991

    2 as sugestões de Humberto Maturana nos livros: Cognição, Ciência e Vida cotidiana; Emoções e Linguagem na Educação e na Política; ‘De máquinas e de seres vivos’:

    objeções e propostas de mudança feitas por Maturana ao fazer dos pesquisadores em IA do MIT do final dos anos ’50, aceitação de algumas das críticas feitas, e aparentemente, uma alteração de rota;

    Humberto Maturana
    1928-

    3 a influência especialmente muito forte de Michel Foucault no livro ‘As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas’:

    a descoberta de duas pedras de tropeço durante seu trabalho nesse livro, a saber:

      • uma impossibilidade (ainda em nossos dias) de fundar as sínteses no espaço da representação, presente no nosso pensamento cotidiano;
      • e uma obrigação de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os quase-transcendentais Vida(Biologia), Trabalho(Economia) e Linguagem(Filologia).
    Michel Foucault
    1926-1984

     

    A Figura 2 original de Maturana

    Figura 2 – Diagrama ontológico; Reflexões epistemológicas, do livro Cognição, Ciência e Vida cotidiana;
    pi Figura 2 – O explicar e a experiência; Linguagem, Emoções e Ética nos Afazeres Politicos,
    do livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política

    Esquadrinhamento da Figura 2 de Maturana para ajustes

    A Figura 2 – Diagrama ontológico ou O explicar e a experiência, de Maturana 
    esquadrinhamento da figura com comentários e propostas de alterações
    usando o pensamento de Michel Foucault

     

    O circuito ida e volta possibilitado por funções
    Imaginação e Conceituação reversíveis

    classes de abstrações:
    Graus da abstração;
    Dimensões próprias a cada caso

    Roteiro e inspiração

     

    • Estar na linguagem segundo Humberto Maturana

      Estar na linguagem é uma coordenação de coordenações consensuais de ações

    • Pedra fundamental do pensamento de Maturana no início do seu trabalho

      A pedra fundamental do pensamento de Humberto Maturana

    HM foto 1

    Humberto Maturana Romesin
    1928 –

    • Um salto para fora do cartesianismo

      Salto para fora do cartesianismo: Vilém Flusser em Pensamento e Reflexão

    • As imagens tradicionais

    • As imagens técnicas, as construídas por aparelhos

      Imagem técnica – aquele tipo de imagem produzida por um aparelho.

    vilem

    Vilém Flusser
    1920-1991

    Fale conosco

    O sistema SIPOC/FEPSC

    O ontologia do sistema SIPOC/FEPSC

    - História, modo de ser fundamental das empiricidades,
    . o Circuito das trocas e o Lugar de nascimento do que é empírico
    . Pensamento conservador e pensamento progressista

    Posição relativa do par sujeito-objeto e o modelo de operações

    Aquém 

    história como sucessão de fatos
    tais como se sucederam

    História como sucessão de fatos tais como se sucederam

    Diante e Além

    história como alterações no ‘modo de ser fundamental’ das empiricidades

    História como mudança no 'modo de ser fundamental'

    Duas possibilidades de leitura de operações;
    duas origens de valor (interna e externa na linguagem) para representações

    Duas visões, duas leituras do fenômeno 'operações':
    sob o pensamento clássico, o de antes de 1775; (seta amarela)
    sob o pensamento moderno, o de depois de 1825 (seta vermelha)
    com duas amplitudes - duas abrangências muito diferentes

    Ciência e Tecnologia dependem da Filosofia e são funções das ferramentas de pensamento de que dispõe a configuração do pensamento utilizada em sua geração.

    Os três movimentos do pensamento segundo Vilém Flusser

    Usando o pensamento de Vilém Flusser:

    • Pensamento é um transformador do duvidoso em língua;
    • Filosofia, ou Reflexão, é texto produzido pelo pensamento ao voltar-se contra si mesmo para corrigir-se e renovar-se.
    • ciência, como o resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo, para compreendê-lo, é texto filosófico aplicado. 
    • e tecnologia, como resultado de um movimento do pensamento em direção ao mundo para modificá-lo, é texto científico aplicado; 

    Descontinuidades epistemológicas refletem conquistas humanas no pensamento e são aprimoramentos na maneira que usamos para conhecer.  Há portanto uma relação entre, de um lado, o modo como colocamos em marcha nosso desejo de transformar o duvidoso em língua a cada nível, e de outro lado, a filosofia que temos, e a Ciência que temos, ou a tecnologia de que dispomos. Filosofia, Ciência e Tecnologia são funções do como como vemos o mundo e as coisas.

    Michel Foucault (*) descreve uma descontinuidade epistemológica (uma alteração no modo como nos voltamos para o mundo para conhecer o que dizemos que conhecemos), e aponta com toda clareza diferentes jogos de ferramentas de pensamento ou estruturas conceituais, características de uma e de outra dessas epistemologias, de um e de outro lado desse evento. E aponta um período em nossa cultura ocidental, em que o pensamento esteve dominado por uma característica do período anterior.

    A solução de questões trazidas à luz por essa nova maneira de conhecer (a nova epistemologia) não poderão ser resolvidas se correspondentes ciência e tecnologia não forem desenvolvidas também.

    Pensamento conservador e progressista

    Acompanhando o trabalho arqueológico de Michel Foucault em direção a essa classe especial de saberes, a esse conjunto de discursos chamado de ciências humanas, vê-se que em certo período consolidou-se um tipo de pensamento em cuja configuração a etapa de construção de novas representações foi incorporada. Antes disso, essa etapa de construção da representação nova ficava fora do escopo do pensamento, e depois disso essa etapa permaneceu definitivamente incorporada.

    Para a configuração de pensamento que deixa fora do seu escopo a etapa de construção de novas representações a alternativa é conviver com tudo o que existe desde sempre e para sempre, tomando as coisas como pré-existentes e pertencentes ao Universo. Esse modo de pensar tem características de conservadorismo, enquanto aquela outra configuração do pensamento que inclui em seu escopo a geração de novas representações, as características de progressismo.

    Neste trabalho algumas – bastantes – características de uma e de outra dessas duas características de configurações do pensamento foram apresentadas o que de certa forma pode ser usado para qualificar com algo mais do que a qualidade ‘conservador’ um pensamento de direita; e com a qualidade ‘progressista’ um pensamento de esquerda, delineando com mais precisão uma e outra dessas configurações.

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

    Panorama visto desde meu posto de observação

    É real hoje, aqui, agora, e entre nós, a percepção – feita por Foucault – do domínio/contaminação do pensamento – ‘com o qual queiramos ou não pensamos‘ – pela impossibilidade de fundar as sínteses (do pensamento sobre a empiricidade objeto da operação) no espaço da representação(*).

    Esse tipo de pensamento dominante, aquele com a impossibilidade de fundar as sínteses, é ao mesmo tempo o tipo de pensamento que não inclui a operação de construção de novas representações. E a estrutura das operações sem essa etapa reforça essa impossibilidade. Nesse contexto modelos com e modelos sem essa impossibilidade são tratados como se variações sobre o mesmo tema fossem, e não produções do pensamento completamente diferentes.

    Estamos projetando e usando hoje, modelos para operações e organizações, de produção e outras, com o pensamento de exatos dois séculos atrás.

    Para que isso possa ser percebido pelo projetista de modelos em diversas áreas é necessário o rompimento das condições em que se dá essa contaminação e esse domínio de uma das configurações de pensamento sobre a outra, obliterando justamente aquela que corresponde a uma conquista humana no pensamento. Para que isso aconteça é necessário que seja atendido um requisito: a construção de um critério para identificação e comparação de modelos, e sua aplicação no caso presente.

    Daqui de onde vejo as coisas, é unânime a visão das coisas em termos de processo. Ninguém fala de nada além de processos: mapeia-se processos, otimiza-se processos, etc. etc. o que quer que seja, mas sempre processos. Sem que nos demos conta de como sejam as diferentes estruturas das operações em que tais ‘processos’ ocupam posição operacional. 

    Michel Foucault pode fornecer os elementos necessários para a construção desse critério. Nossa intenção aqui é destacar em Foucault o que pode ser usado para o estabelecimento de uma relação pensamento – e sua aplicação na modelagem de operações em organizações. 

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem; tópico I. As novas empiricidades

    Cronologia do evento fundador da nossa modernidade no pensamento;
    linha de tempo com os períodos de contaminação do pensamento
    por configurações diferentes.

    uma cronologia da descontinuidade epistemológica de 1775-1825
    o evento fundador da nossa modernidade no pensamento
    Linha de tempo das conquistas humanas no pensamento e respectiva utilização prática

    Acoplamentos estruturais do sistema descrito no LD - o Explicar com Reformular: os internos e aqueles com o ambiente externo

    Diante e para Além do objeto

    Acoplamento estrutural interno:
    condições de possibilidade
    Acoplamento estrutural interno:
    pontos de acoplamento
    Acoplamento estrutural externo:
    parcial quando há diferenças nas estruturas
    • os domínios do Operar – retângulo vermelho; e do Suporte ao operar – domínio amarelo, que compõem o ‘Lugar de nascimento do que é empírico’ parte do ‘Explicar com ‘Reformular’ a empiricidade objeto, durante o caminho da Construção da representação, são exemplo do primeiro acoplamento interno. Acoplamento semelhante ocorre durante o caminho do Instanciamento da representação.(*)

       

    • há ainda acoplamentos externos ‘por cima’, lateralmente, e por baixo da estrutura no LD da figura nos dois caminhos o da Construção e o do Instanciamento. O acoplamento externo ‘por cima’ depende da estrutura com a qual se dará acopamento, e pode ser parcial.

    Playground para projetistas de modelos: uma coleção de modelos de diversos tipos, para aplicação dos conceitos apresentados

    Uma coleção com mais de duas dúzias de modelos, (*) para descobrir com que tipo de pensamento foram feitos:

    • se COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; ou
    • ou se SEM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação

    (*) Proposta de metodologia para o planejamento e implantação de manufatura integrada por computador
    de Bremer, C. F. USP SC fev 1995; entre outras fontes

    Estruturas dos modelos, resultantes da utilização do referencial,dos princípios organizadores e dos métodos usados pelo pensamento, por segmento de modelos 

    Aquém do objeto

    Modelo de operações de Buffa e modelo de uma organização adaptado de Mauro Zilbovicius

    Diante do objeto

    Modelo de operações do Kanban e modelo de organização da Reengenharia

    Além do objeto

    Modelo de uma ciência humana Análise da produção como exemplo de qualquer outro modelo de ciência humana
    Estrutura matricial – Quadro de categorias clássico. Utilização de várias ordens ligeiramente diferentes em um mesmo modelo de operações.
    Estrutura hierárquica característica do objeto análogo composto substitutivo ao vislumbrado. Utilização de uma única ordem ao longo do modelo.
    Mesmas características dos modelos para o segmento Diante do objeto, mas aqui, com um modelo constituinte combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.

    O modelo 5W2H, de um lado, e de outro, o modelo de operações do Kanban
    e o modelo proposto no LD da Figura 2: usos diferentes para as mesmas ideias
    ou elementos de imagem envolvidos na formulação da proposição

    Aquém do objeto

    Diante e Além do objeto

    Modelo Provision Workbench, da Proforma
    Modelo de operações de produção do Kanban
    Modelo proposto para 'uma certa maneira de conhecer empiricidades'

    O exame dessas três figuras mostra que ideias, elementos de imagem, homônimos, podem ser usados de modo diferente em modelos feitos sob estruturas conceituais diferentes.

    No modelo 5W e 2H no lado esquerdo acima, o destaque dado pelo losango em vermelho é nosso. Não estava na figura original. A figura é organizada por um sistema de categorias composto pelas 7 perguntas 5W2H. 

    O modelo da produção do Kanban é sim-discriminativo com relação ao elemento componente do objeto da operação de produção, e é formulado como uma proposição instanciativa de um objeto previamente projetado, e portanto cuja representação foi anteriormente construída

    O modelo de operações de construção de representação para empiricidade objeto (LD da figura) é feito calcado no Princípio Dual de Trabalho de David Ricardo; está evidenciada a formulação no formato de uma proposição. A origem de valor adotada está nas designações primitivas ( conjunto de operações de busca por origem, condições de possibilidade e de generalidade dentro de limites) e da linguagem de uso (o Repositório)

    O pensamento de outros grandes pensadores:
    John Dewey e seus dois modos de ver o mundo;
    Ilya Prigogine e o conceito de caos para a ciência moderna

    Diante do objeto

    Ver [homem e experiência] e [natureza] vistos juntos
    Os conceitos de caos, na ciência moderna;
    e de Arte como a formulação com leis e eventos

    As duas animações acima – a nosso ver – apenas mostram que tanto John Dewey na sua visão [homem] [experiência] e [natureza] juntos; quanto Ilya Prigogine  na sua visão do que seja caos na ciência moderna, estão pensando com uma configuração de pensamento COM a possibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação, o que não era comum para a ciência clássica, toda reversível.

    Sistema Formulador

    Aquém do objeto

    Modelo relacional de dados do Microsoft Project 4.0

    Diante do objeto

    Módulo central do Sistema Formulador

    O Sistema Formulador:

    É um ante-projeto de um sistema para gestão de projetos com estrutura conceitual consistente com o pensamento moderno. 
    O módulo principal do sistema é uma unidade lógica que relaciona entidades envolvidas na proposição enunciadora de operações, mantidas em banco de dados, e gera sistematicamente o modelo de operações. O Microsoft Project, então, importa o modelo gerado como se fosse próprio, e a gestão continua, agora com um modelo gramaticalmente correto e criteriosamente estruturado.

    Este é um ante-projeto de um sistema de gestão COM a possibilidade de fundar as sínteses do pensamento no espaço da representação; esse sistema pode evoluir para um sistema visual de gestão e outros aplicativos.

    Destaque para dois modelos existentes:
    1) LE, o SIPOC (FEPSC) do SixSigma; 2) LD e o Visão da PHD, da PHD Brasil
    e no centro, as diferenças entre eles

    Aquém do objeto

    O diagrama FEPSC (SIPOC) mostrando a estrutura

    diferenças

    Comparação

    Diante do objeto

    A Visão da PHD

    Comparação do modelo SIPOC ou FEPSC – SixSigma(*) com o modelo Visão da PHD(**) do ponto de vista das estruturas respectivas.
    A animação central mostra o que falta – estruturalmente – ao SixSigma para ter a estrutura do modelo da direita.

    (*) Gestão integrada de processos e da tecnologia da informação; capítulo Identificação, análise e melhoria de processos críticos Figura 3.1 Representação da FEPSC, de Roberto Gilioli Rotondaro
    Coordenadores: Fernando José Barbin Laurindo e Roberto Gilioli Rotondaro, Editora Atlas, jan/2006
    (**) A Visão da PHD, da empresa PHD Brasil

    O mapa de operações de produção do Kanban;
    e o mapa da organização segundo a Reengenharia

    Diante do objeto

    Modelo de operações
    do Kanban

    Modelo de operações do Kanban

    Mapa da organização
    segundo a Reengenharia

    Mapa da Reengenharia (modificado) e comentado

    Temos à esquerda, o modelo do Kanban com a referência (*) abaixo. e á direita, a Figura 7.1 do livro Reengenharia, referência (**) abaixo. São organizados sobre a proposição, e pertencem à configuração do pensamento moderno.  Você pode certificar-se  da veracidade dessas duas afirmativas neste ponto (17).

    (*) Artigo ‘A comparison of Kanban and MRP concepts for the control of Repetitive Manufacturing Systems’ de:
    James W. Rice da Western Kentucky University e Takeo Yoshikawa da Yolohama National University
    (**) Reengenharia – revolucionando a empresa: em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência 
    de Michael Hammer e James Champy

    Exemplos de modelos existentes, e muito usados,
    nas diferentes estruturas conceituais

    Aquém do objeto

    Diante do objeto

    Modelos de: operação de produção; e organização típica
    Modelos de: operação contábil/financeira e modelo de organização
    Modelos de: operação de produção do Kanban; e modelo de organização da Reengenharia

    Exemplos de modelos muito conhecidos para operações e para as organizações

    • operação: Operações de produção, de Elwood S. Buffa;
    • organização: adaptação de Organização típica.
    • operação: operação contábil financeira débito e crédito;
    • organização: Ativo, Passivo e Resultados.
    • operação: modelo do Kanban;
    • organização: mapa da reengenharia.

    A proposição como o bloco construtivo padrão  (Lego)
    fundamental para a construção de representações

    Aquém do objeto

    Proposição ausente
    do sistema Input-Output

    Diante do objeto

    A proposição no caminho
    da Construção da representação

    Além do objeto

    A proposição no caminho
    do Instanciamento da Representação

    ‘A proposição é, para a linguagem,
    o que a representação é para o pensamento:
    sua forma ao mesmo tempo mais geral e mais elementar porquanto, desde que a decomponhamos, não encontraremos mais o discurso, mas seus elementos como tantos materiais dispersos.’(*)

    “A língua é
    a mais complexa,
    a mais milagrosa,
    a mais estranha,
    a mais gigantesca e variada
    invenção humana.” (**)

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

     


    (**) Frases de Millor Fernandes

    Os dois conceitos para o que seja um verbo:
    verbo Processo, e verbo Forma de produção

    Aquém do objeto
    verbo ‘Processo

    Verbo tratado como Processo

    Diante e Além do objeto
    verbo ‘Forma de produção’

    Verbo tratado como Forma de produção

    “A única coisa que o verbo afirma
    é a coexistência de duas representações; 
    por exemplo
    a do verde e da árvore,
    a do homem e da existência ou da morte. 

    É por isso que o tempo dos verbos
    não indica aquele em que
    as coisas aconteceram no absoluto, 
    mas um sistema relativo  
    de anterioridade
    ou simultaneidade 
    das coisas entre si.”
    (*)

    “O limiar da linguagem
    está onde surge o verbo.
    É preciso portanto 
    tratar esse verbo como um ser misto, 
    ao mesmo tempo palavra entre palavras,
    preso às mesmas regras 
    de regência
    e de concordância;
    e depois, em recuo em relação a elas todas, 
    numa região que não é aquela do falado 
    mas aquela donde se fala.
    Ele está na orla do discurso, na juntura entre 
    aquilo que é dito e aquilo que se diz; 
    exatamente lá onde os signos 
    estão em via de se tornar linguagem.
    (*)

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar; tópico III. Teoria do verbo

    Os dois conceitos para o que seja 'Classificar'

    Aquém do objeto

    Classificar como uma referência
    do visível a si mesmo

    Diante e Além do objeto

    Classificar como uma referência
    do visível ao invisível

    Classificar é referir
    o visível a si mesmo,
    encarregando um dos elementos
    de representar os outros.(*)

    Classificar é referir
    o visível ao invisível
    – como a sua razão profunda –
    e depois, alçar de novo dessa secreta arquitetura, em direção aos seus sinais manifestos, que são dados
    à superfície dos corpos.
    (*)


    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    cap. VII – Os limites da representação;
    tópico III. A organização dos seres; sub-item 3

    Os dois princípios filosóficos para o que seja de trabalho

    Aquém do objeto
    Adam Smith, de 1776(*)

    Princípio monolítico de trabalho
    de Adam Smith, de 1776

    Diante e Além do objeto
    David Ricardo, de 1817(**)

    Princípio dual de trabalho
    de David Ricardo, de 1817


    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas; 
    (*) Capítulo VII – Os limites da representação;
    tópico II. A medida do trabalho;


    As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    (**) Capítulo VIII- Trabalho, Vida e Linguagem;
    tópico II. Ricardo

    Elementos centrais em cada formulação por segmento do espectro

    Aquém do objeto
    PROCESSO

    Diante do objeto
    Forma de produção

    Além do objeto
    NEXO DA PRODUÇÃO

    Processo: elemento central
    no modelo de operação clássico
    Forma de produção: elemento central
    no modelo de operações moderno
    Nexo da produção: resultante da visão
    SSS da organização

    Em um pensamento mágico sobre a produção – nos moldes ‘varinha mágica de condão’ –  é possível desejar algo e, sem mais qualquer providência, vê-lo surgir à nossa frente depois do Plin!!! 

    Num ambiente de produção real, porém, nada é produzido sem um instrumento (laboratório piloto, fábrica) com o qual instanciar esse objeto na realidade. A estrutura SSS é isso: a modelagem das operações de produção do objeto desejado juntamente com as operações de produção do objeto – distinto deste – laboratório piloto, ou fábrica, subindo um nível estrutural e impondo como elemento central o Nexo da produção

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo IV – Falar; tópico II. Gramática geral
    Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; I. As novas empiricidades

    Espaços Gerais do Saber
    em cada segmento do espectro

    Aquém do objeto

    Diante do objeto

    Além do objeto

    Espaço Geral do Saber Clássico
    Espaço Geral do Saber no pensamento Moderno
    Espaço interior do Triedro do Saber

    As mudanças nas configurações do pensamento promoveram reposicionamentos das positividades umas em relação às outras, resultando em três espaços gerais do saber.(*)

    (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo III – Representar; tópico VI. Mathésis e Taxinomia;
    Capítulo X – As ciências humanas; tópico I – O triedro dos saberes; 
    de Michel Foucault

    O tempo em cada uma das faixas do espectro;
    e para as diferentes etapas das operações indicadas

    Aquém
    do objeto
    qualquer operação

    Diante 
    do objeto
    caminho da Construção 

    Diante 
    do objeto
    caminho da Instanciamento

    Tempo no LE, em qualquer operação no sistema Input-Output, sob o deus Chronos
    Tempo LD, operação no caminho da Construção da representação,
    sob o deus Kairós
    Tempo LD, operação no caminho do Instanciamento da representação,
    novamente sob o deus Chronos

    Tempo, em cada um dos segmentos do espectro, muda:

    • aquém do objeto, na estrutura input-output sob o pensamento clássico, temos um tempo relativo, ou um tempo calendário, cujo deus é Chronos;
    • diante do objeto mas no caminho da Construção da representação, sob o pensamento filosófico moderno, temos um tempo absoluto, um tempo não-calendário, cujo deus é Kairós;
    • e ainda diante, e também além do objeto, tempos um tempo que volta a ser relativo, calendário, e a soberania volta a ser a de Chronos.

    O espaço dado ao homem - 'naquilo que ele tem de empírico' -
    na estrutura dos modelos

    Aquém do objeto

    Diante e Além do objeto

    Sistema clássico de pensamento:
    sem espaço em sua estrutura
    para os dois papéis do homem.
    Os dois papéis do homem
    presentes e operativos na estrutura
    d'essa maneira moderna de conhecer empiricidades'

    Antes do fim do século XVIII,
    o homem não existia. (…)
    Sem dúvida,
    as ciências naturais trataram do homem
    como de uma espécie ou de um gênero.”

    As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Cap. IX – O homem e seus duplos; tópico II. O lugar do rei

    ‘Na medida, porém, em que as coisas giram sobre si mesmas, reclamando para seu devir não mais que o princípio de sua inteligibilidade e abandonando o espaço da representação, o homem, por seu turno, entra e pela primeira vez,
    no campo do saber ocidental’ (*)

    “O modo de ser do homem, tal como se constituiu no pensamento moderno, permite-lhe desempenhar dois papéis: está, ao mesmo tempo, 

    • no fundamento de todas as positividades,
    • presente, de uma forma
      que não se pode sequer dizer privilegiada,
      no elemento das coisas empíricas.” (**)

     (*) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas; 
    Prefácio

    (**) As palavras e as coisas:
    uma arqueologia das ciências humanas;  
    Capítulo X – As ciências humanas;
    I. O triedro dos saberes

    Desenvolvimento das operações
    por segmento do espectro de modelos

    Aquém do objeto

    Diante do objeto

    Além do objeto

    • no sistema Input-Output; usando uma ordem arbitrariamente escolhida;
    • e com propriedades não-originais e não-constitutivas das coisas, as chamadas ‘aparências’;
    • No sistema correspondente ao que Foucault chama de ‘essa maneira moderna de conhecer empiricidades’, que tem como elemento construtivo padrão fundamental a proposição, da qual herda as categorias de ideias ou elementos de imagem de primeiro nível;
    • e com propriedades sim-originais e sim-constitutivas daquilo que se constitui na existência em decorrência das operações.
    • No sistema formulado no campo das ciências humanas, com modelos constituintes compostos por uma combinação dos modelos constituintes das ciências que integram a região epistemológica fundamental, as ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem.
    • Nexo da operação.

    Veja mais detalhes nas animações que podem ser encontradas nas páginas de detalhe deste tópico.

    Funcionamento do pensamento
    em cada um dos segmentos desse espectro

    Antes do objeto

    Diante do objeto

    Além do objeto

    Operação no sistema Input-Output
    sobre representações pré-existentes
    Operação de construção de representação não existente no repositório
    Operação de instanciamento de representação pré-existente no repositório

    Paletas com o conjunto completo de ideias ou elementos de imagem necessários para a formulação das respectivas imagens das ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t ; incluindo relacionamentos entre esses elementos de imagem.(*)

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem;
    tópico I. As novas empiricidades, de Michel Foucault

    Estruturas de conceitos em cada ambiente de formulação identificado pela possibilidade ou pela impossibilidade de fundar as sínteses no espaço da representação

    Posição em relação ao par sujeito-objeto

    Estrutura conceitual
    para o pensamento clássico
    Estrutura conceitual
    para o pensamento moderno

    Referencial:

    • Ordem pela ordem;

    Princípios organizadores: 

    • Caráter e similitude;

    Métodos:

    • Identidade e semelhança

    Referencial:

    • Utopia;

    Princípios organizadores: 

    • Analogia e Sucessão;

    Métodos:

    • Análise e Síntese

    ‘Assim, estes três pares,
    função-norma,
    conflito-regra,
    significação-sistema,

    cobrem, por completo,
    o domínio inteiro
    do conhecimento do homem.'(*)

    São essas as ferramentas de que se arma o pensamento – em cada segmento do espectro de modelos, para produzir as imagens que servem de mapas, para orientação na construção das representações.

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

    Imaginação e Conceituação - funções humanas reversíveis:
    Imagens tradicionais e Técnicas

    Imagens tradicionais

    Imagens técnicas

    Classes de abstrações

    As imagens tradicionais
    Imagens técnicas, as imagens produzidas por aparelhos (computadores)
    Classes de abstrações
    • Imaginação e Conceituação, funções humanas reversíveis que todos temos para codificar e decodificar imagens tradicionais e textos;
      • idolatria é o uso continuado de imagens que, quando decodificadas, não mais nos levam à visão da ocorrência no espaço-tempo x, y, z e t, isto é, imagens que não mais nos servem de guias para o mundo, mas de biombos;
      • textolatria é o uso continuado de textos que, quando decodificados, não mais nos levam às imagens que fizemos para as ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t
    • e as Imagens técnicas, especiais, aquelas imagens produzidas por aparelhos (computadores em destaque); as Imagens técnicas exigem, para seu entendimento, uma Conceituação especial.(*)

    (*) Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia;
    Capítulos I – A imagem; e II – A imagem técnica,
    de Vilém Flusser 

    Modelos constituintes de modelos
    em cada uma das faixas desse espectro

    Posição relativa modelo de operações - sujeito-objeto

    Aquém

    não há modelos constituintes nesse segmento do espectro, já que, pelos pressupostos adotados (Universo, realidade única) nada é constituído na existência em decorrência das operações feitas

    Diante

    modelo constituinte composto pelo par constituinte correspondente ao campo em que o modelo é formulado, tomados isoladamente em cada área: 

    • Vida (Biologia) –
      [função-norma]; 
    • Trabalho (Economia) –
      [conflito-regra]; 
    • Linguagem (Filologia)- [significação-sistema]

    para Além

    campo das Ciências Humanas com modelos constituintes formados por uma combinação dos três pares constituintes das ciências da Vida, do Trabalho e da Linguagem, tomados todos em conjunto em cada modelo, dada ênfase a uma das áreas das ciências da região epistemológica fundamental

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas;
    Capítulo X – As ciências humanas; tópico III. Os três modelos

     

    O espectro de modelos, segundo essa possibilidade de sim-fundar, ou não-fundar, as sínteses no espaço da representação: Aquém, Diante e para Além do objeto - os segmentos do espectro de modelos de visões de ocorrências no espaço-tempo x, y, z e t

    O modo como Foucault descreve o problema que encontrou em seu trabalho pode ser mapeado em um espectro de modelos agrupados segundo os dois fatores por ele percebidos:  fator 1, com duas regiões quanto à fundação das sínteses na representação e com três regiões quanto à posição relativa ao objeto e ao sujeito: 
    Aquém, Diante e para Além do objeto. 

    Fundação das sínteses no espaço da representação

    Impossibilidade

    Possibilidade

    Aquém

    do objeto
    (e do sujeito)

    Diante

    do objeto
    (e do sujeito)

    para Além

    do objeto
    (e do sujeito)

    Fator 1 – o domínio/contaminação do pensamento com o uso simultâneo de configurações de pensamento 

    • com a  impossibilidade 
    • e também com a possibilidade,

    de fundar as sínteses da representação da empiricidade objeto, no espaço da representação’; com duas regiões em um espectro de modelos:

    Fator 2 – dar conta da obrigação correlativa (…) de abrir o campo transcendental da subjetividade constituindo, para além do objeto, os “quase-transcendentais”

    com as seguintes regiões no espectro de modelos:

     1. região do espectro: ‘Aquém do objeto’ (na impossibilidade);

     2. região do espectro: ‘Diante do objeto’ (na possibilidade)

      • da Vida, (Biologia) par constituinte função-norma
      • do Trabalho, (Economia) par conflito-regra
      • e da Linguagem. (Filologia) par significação-sistema

     3. região do espectro: ‘para Além do objeto’, (na possibilidade) e no campo das ciências humanas, no espaço interior do triedro dos saberes.

    outra região no espectro de modelos, com modelo constituinte único composto dos três pares constituintes das três regiões epistemológicas fundamentais

    - A pedra de tropeço no caminho de Michel Foucault e
    - Os caminhos (e alterações de rota) de Maturana

    Michel Foucault
    1926-1984

    “É que o pensamento que nos é contemporâneo e com o qual, queiramos ou não, pensamos, se acha ainda muito dominado 

    • pela impossibilidade, trazida à luz por volta do fim do século XVIII, de fundar as sínteses [da empiricidade objeto do pensamento] no espaço da representação;
    • e pela obrigação correlativa, simultânea, mas logo dividida contra si mesma,
      de abrir o 
      campo transcendental da subjetividade e de constituir inversamente, para além do objeto, esses “quase-transcendentais” que são para nós a Vida, o Trabalho, e a Linguagem.”  (*)
    Humberto Maturana
    1928-

    “Substituir 

    • a noção de input-output 
    • pela de acoplamento estrutural 

    foi um passo importante na boa direção por evitar a armadilha da linguagem clássica de fazer do organismo um sistema de processamento de informação.
    (…) Contudo é uma formulação fraca por não propor uma alternativa construtiva e deixar a interação na bruma de uma simples perturbação. (…) Frequentemente se tem feito a crítica de que a autopoiese leva a uma posição solipsista. (**)

    (*) As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas; capítulo VIII – Trabalho, Vida e Linguagem; tópico: I. As novas empiricidades
    (**) De máquinas e de seres vivos: autopoiese – a organização do vivo; Prefácio à segunda edição; tópico Além da autopoiese; sub-tópico: Enacção e cognição, de Francisco José Garcia Varela

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    Modelo descritivo da produção clássico

    Paleta de ideias ou elementos de imagem
    presentes na configuração de pensamento clássico

    Paleta de ideias ou elementos de imagem presentes na
    configuração de pensamento moderno caminho Construção